Capítulo 21

Entrada messiânica (Zc 9,9; Mc 11,1-11; Lc 19,29-40; Jo 12,12-19) - 1Quando já se aproximavam de Jerusalém, chegaram a Betfagé, junto ao monte das Oliveiras. Jesus enviou dois discípulos, 2dizendo-lhes:

«Ide à aldeia que está em frente de vós e logo encontrareis uma jumenta presa e com ela um jumentinho. Soltai-os e trazei-mos. 3E, se alguém vos disser alguma coisa, respondereis: ‘O Senhor precisa deles, mas logo os devolverá.’» 4Isto sucedeu para se cumprir o que fora anunciado pelo profeta:

5Dizei à filha de Sião:
Aí vem o teu Rei, ao teu encontro,
manso e montado num jumentinho,
filho de uma jumenta.

6Os discípulos foram e fizeram como Jesus lhes ordenara. 7Trouxeram a jumenta e o jumentinho, puseram as suas capas sobre eles e Jesus sentou-se em cima. 8Uma grande multidão estendia as suas capas no caminho; outros cortavam ramos das árvores e espalhavam-nos pelo chão.

9E todos, quer os que iam à sua frente, quer aqueles que o seguiam, diziam em altos brados:

Hossana ao Filho de David!
Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor!
Hossana nas alturas!

10Quando Jesus entrou em Jerusalém, toda a cidade ficou em alvoroço. «Quem é este?» - perguntavam. 11E a multidão respondia: «É Jesus, o profeta de Nazaré, da Galileia.»


Purificação do templo (Mc 11,15-19; Lc 19,45-48; Jo 2,13-18) - 12Jesus entrou no templo e expulsou dali todos os que nele vendiam e compravam. Derrubou as mesas dos cambistas e as bancas dos vendedores de pombas, dizendo-lhes: 13«Está escrito:

A minha casa há-de chamar-se casa de oração,
mas vós fazeis dela um covil de ladrões.»

14Aproximaram-se dele, no templo, cegos e coxos, e Ele curou-os. 15Perante os prodígios que realizava e as crianças que gritavam no templo: «Hossana ao Filho de David», os sumos sacerdotes e os doutores da Lei ficaram indignados 16e disseram-lhe: «Ouves o que eles dizem?» Respondeu Jesus: «Sim. Nunca lestes:

Da boca dos pequeninos
e das crianças de peito
fizeste sair o louvor perfeito?»

17Depois afastou-se deles, saiu da cidade e foi para Betânia, onde pernoitou.


A figueira estéril (Mc 11,12-14.20-26) - 18Logo de manhã cedo, ao voltar para a cidade, teve fome. 19Vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela, mas não encontrou senão folhas. Disse então: «Nunca mais nascerá fruto de ti!» E, naquele mesmo instante, a figueira secou.

20Vendo isto, os discípulos disseram admirados: «Como é que a figueira secou subitamente?» 21Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: Se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que Eu fiz a esta figueira, mas, se disserdes a este monte: ‘Tira-te daí e lança-te ao mar’, assim acontecerá. 22Tudo quanto pedirdes com fé, na oração, haveis de recebê-lo.»


Autoridade de Jesus (Mc 11,27-33; Lc 20,1-8) - 23Em seguida, entrou no templo. Quando estava a ensinar, foram ter com Ele os sumos sacerdotes e os anciãos do povo e disseram-lhe: «Com que autoridade fazes isto? E quem te deu tal poder?»

24Jesus respondeu-lhes: «Também Eu vou fazer-vos uma pergunta. Se me responderdes, digo-vos com que autoridade faço isto. 25De onde provinha o baptismo de João: do Céu ou dos homens?» Mas eles começaram a pensar entre si: «Se respondermos: ‘Do Céu’, vai dizer-nos: ‘Porque não lhe destes crédito?’ 26E, se respondermos: ‘Dos homens’, ficamos com receio da multidão, pois todos têm João por um profeta.» 27E responderam a Jesus: «Não sabemos.» Disse-lhes Ele, por seu turno: «Também Eu vos não digo com que autoridade faço isto.»


Os dois filhos - 28«Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse-lhe: ‘Filho, vai hoje trabalhar na vinha.’ 29Mas ele respondeu: ‘Não quero.’ Mais tarde, porém, arrependeu-se e foi. 30Dirigindo-se ao segundo, falou-lhe do mesmo modo e ele respondeu: ‘Vou sim, senhor.’ Mas não foi. 31Qual dos dois fez a vontade ao pai?» Responderam eles: «O primeiro.»

Jesus disse-lhes: «Em verdade vos digo: Os cobradores de impostos e as meretrizes vão preceder-vos no Reino de Deus. 32João veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não acreditastes nele; mas os cobradores de impostos e as meretrizes acreditaram nele. E vós, nem depois de verdes isto, vos arrependestes para acreditar nele.»


Parábola dos vinhateiros homicidas (Mc 12,1-12; Lc 20,9-19) - 33«Escutai outra parábola: Um chefe de família plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar, construiu uma torre, arrendou-a a uns vinhateiros e ausentou-se para longe. 34Quando chegou a época das vindimas, enviou os seus servos aos vinhateiros, para receberem os frutos que lhe pertenciam. 35Os vinhateiros, porém, apoderaram-se dos servos, bateram num, mataram outro e apedrejaram o terceiro. 36Tornou a mandar outros servos, mais numerosos do que os primeiros, e trataram-nos da mesma forma. 37Finalmente, enviou-lhes o seu próprio filho, dizendo: ‘Hão-de respeitar o meu filho.’ 38Mas os vinhateiros, vendo o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. Matemo-lo e ficaremos com a sua herança.’ 39E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e mataram-no. 40Ora bem, quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros?»

41Eles responderam-lhe: «Dará morte afrontosa aos malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros que lhe entregarão os frutos na altura devida.» 42Jesus disse-lhes: «Nunca lestes nas Escrituras:

A pedra que os construtores rejeitaram
transformou-se em pedra angular?
Isto é obra do Senhor
e é admirável aos nossos olhos?

43Por isso vos digo: O Reino de Deus ser-vos-á tirado e será confiado a um povo que produzirá os seus frutos. 44Quem cair sobre esta pedra, ficará despedaçado; aquele sobre quem ela cair, ficará esmagado.»

45Os sumos sacerdotes e os fariseus, ao ouvirem as suas parábolas, compreenderam que eram eles os visados. 46Embora procurassem meio de o prender, temeram o povo, que o considerava profeta.

Capítulo 22

Parábola do grande banquete (Lc 14,15-24) - 1Tendo Jesus recomeçado a falar em parábolas, disse-lhes: 2«O Reino do Céu é comparável a um rei que preparou um banquete nupcial para o seu filho. 3Mandou os servos chamar os convidados para as bodas, mas eles não quiseram comparecer. 4De novo mandou outros servos, ordenando-lhes: ‘Dizei aos convidados: O meu banquete está pronto; abateram-se os meus bois e as minhas reses gordas; tudo está preparado. Vinde às bodas.’ 5Mas eles, sem se importarem, foram um para o seu campo, outro para o seu negócio. 6Os restantes, apoderando-se dos servos, maltrataram-nos e mataram-nos.

7O rei ficou irado e enviou as suas tropas, que exterminaram aqueles assassinos e incendiaram a sua cidade. 8Disse, depois, aos servos: ‘O banquete das núpcias está pronto, mas os convidados não eram dignos. 9Ide, pois, às saídas dos caminhos e convidai para as bodas todos quantos encontrardes.’ 10Os servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos aqueles que encontraram, maus e bons, e a sala do banquete encheu-se de convidados.

11Quando o rei entrou para ver os convidados, viu um homem que não trazia o traje nupcial. 12E disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem o traje nupcial?’ Mas ele emudeceu. 13O rei disse, então, aos servos: ‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.’ 14Porque muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos.»


O tributo a César (Mc 12,13-17; Lc 20,20-26) - 15Então, os fariseus reuniram-se para combinar como o haviam de surpreender nas suas próprias palavras. 16Enviaram-lhe os seus discípulos, acompanhados dos partidários de Herodes, a dizer-lhe: «Mestre, sabemos que és sincero e que ensinas o caminho de Deus segundo a verdade, sem te deixares influenciar por ninguém, pois não olhas à condição das pessoas. 17Diz-nos, portanto, o teu parecer: É lícito ou não pagar o imposto a César?»

18Mas Jesus, conhecendo-lhes a malícia, retorquiu: «Porque me tentais, hipócritas? 19Mostrai-me a moeda do imposto.» Eles apresentaram-lhe um denário. 20Perguntou: «De quem é esta imagem e esta inscrição?» 21«De César» - responderam. Disse-lhes então: «Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.» 22Quando isto ouviram, ficaram maravilhados e, deixando-o, retiraram-se.


A ressurreição dos mortos (Mc 12,18-27; Lc 20,27-40) - 23Nesse mesmo dia, os saduceus, que não acreditam na ressurreição, foram ter com Ele e interrogaram-no. 24«Mestre, Moisés disse:

Se algum homem morrer sem filhos,
o seu irmão casará com a viúva,
para suscitar descendência ao irmão.

25Ora, entre nós havia sete irmãos. O primeiro casou e morreu sem descendência, deixando a mulher a seu irmão; 26sucedeu o mesmo ao segundo, depois ao terceiro, e assim até ao sétimo. 27Depois de todos eles, morreu a mulher. 28Então, na ressurreição, de qual dos sete será ela mulher, visto que o foi de todos?»

29Jesus respondeu-lhes: «Estais enganados, porque desconheceis as Escrituras e o poder de Deus. 30Na ressurreição, nem os homens terão mulheres nem as mulheres, maridos; mas serão como anjos no Céu. 31E, quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que Deus disse: 32Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob? Não dos mortos, mas dos vivos é que Ele é Deus!»

33E a multidão, ouvindo-o, maravilhava-se com a sua doutrina.


O mandamento do amor (Mc 12,28-34; Lc 10,25-28; Jo 13,33-35) - 34Constando-lhes que Jesus reduzira os saduceus ao silêncio, os fariseus reuniram-se em grupo. 35E um deles, que era legista, perguntou-lhe para o embaraçar: 36«Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?» 37Jesus disse-lhe:

Amarás ao Senhor, teu Deus,
com todo o teu coração,
com toda a tua alma
e com toda a tua mente.

38Este é o maior e o primeiro mandamento. 39O segundo é semelhante: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. 40Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.»


O Messias, Filho e Senhor de David (Mc 12,35-37; Lc 20,41-44; Jo 7,41-42) - 41Estando os fariseus reunidos, Jesus interrogou-os: 42«Que pensais vós do Messias? De quem é filho?» Responderam-lhe: «De David.» 43Disse-lhes Ele: «Como é, então, que David, sob a influência do Espírito, lhe chama Senhor, dizendo:

44Disse o Senhor ao meu Senhor:
‘Senta-te à minha direita,
até que Eu ponha os teus inimigos por estrado de teus pés’?

45Ora, se David lhe chama Senhor, como é seu filho?» 46E ninguém soube responder-lhe palavra. A partir de então, ninguém mais se atreveu a interrogá-lo.

Capítulo 23

Condenação do Farisaísmo (Mc 12,38-40; Lc 11,39-52; 20,45-47) - 1Então, Jesus falou assim à multidão e aos seus discípulos: 2 «Os doutores da Lei e os fariseus instalaram-se na cátedra de Moisés. 3Fazei, pois, e observai tudo o que eles disserem, mas não imiteis as suas obras, pois eles dizem e não fazem. 4Atam fardos pesados e insuportáveis e colocam-nos aos ombros dos outros, mas eles não põem nem um dedo para os deslocar. 5Tudo o que fazem é com o fim de se tornarem notados pelos homens. Por isso, alargam as filactérias e alongam as orlas dos seus mantos. 6Gostam de ocupar o primeiro lugar nos banquetes e os primeiros assentos nas sinagogas. 7Gostam das saudações nas praças públicas e de serem chamados ‘mestres’ pelos homens.

8Quanto a vós, não vos deixeis tratar por ‘mestres’, pois um só é o vosso Mestre, e vós sois todos irmãos. 9E, na terra, a ninguém chameis ‘Pai’, porque um só é o vosso ‘Pai’: aquele que está no Céu. 10Nem permitais que vos tratem por ‘doutores’, porque um só é o vosso ‘Doutor’: Cristo. 11O maior de entre vós será o vosso servo. 12Quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado.

13Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque fechais aos homens o Reino do Céu! Nem entrais vós nem deixais entrar os que o querem fazer.

14Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, que devorais as casas das viúvas, com o pretexto de prolongadas orações! Por isso, sereis mais rigorosamente julgados.

15Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito e, depois de o terdes seguro, fazeis dele um filho do inferno, duas vezes pior do que vós!

16Ai de vós, guias cegos, que dizeis: ‘Se alguém jura pelo santuário, isso não tem importância; mas, se jura pelo ouro do santuário, fica sujeito ao juramento.’ 17Insensatos e cegos! Que é o que vale mais? O ouro ou o santuário, que tornou o ouro sagrado? 18Dizeis ainda: ‘Se alguém jura pelo altar, isso não tem importância; mas, se jura pela oferta que está sobre o altar, fica sujeito ao juramento.’ 19Cegos! Qual é o que vale mais? A oferta ou o altar, que torna sagrada a oferta? 20Portanto, jurar pelo altar é o mesmo que jurar por ele e por tudo o que está sobre ele; 21jurar pelo santuário é jurar por ele e por aquele que nele habita; 22jurar pelo Céu é jurar pelo trono de Deus e por aquele que nele está sentado.

23Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque pagais o dízimo da hortelã, do funcho e do cominho e desprezais o mais importante da Lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade! Devíeis praticar estas coisas, sem deixar aquelas. 24Guias cegos, que filtrais um mosquito e engolis um camelo!

25Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque limpais o exterior do copo e do prato, quando por dentro estão cheios de rapina e de iniquidade! 26Fariseu cego! Limpa antes o interior do copo, para que o exterior também fique limpo.

27Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque sois semelhantes a sepulcros caiados: formosos por fora, mas, por dentro, cheios de ossos de mortos e de toda a espécie de imundície! 28Assim também vós: por fora pareceis justos aos olhos dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade.

29Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, que edificais sepulcros aos profetas e adornais os túmulos dos justos, 30dizendo: ‘Se tivéssemos vivido no tempo dos nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no sangue dos profetas!’ 31Deste modo, confessais que sois filhos dos que assassinaram os profetas. 32Acabai, então, de encher a medida dos vossos pais! 33Serpentes! Raça de víboras! Como podereis fugir à condenação da Geena?

34Por causa disto, envio-vos profetas, sábios e doutores da Lei. Matareis e crucificareis alguns deles, açoitareis outros nas vossas sinagogas e haveis de persegui-los, de cidade em cidade. 35Assim cairá sobre vós todo o sangue inocente que tem sido derramado sobre a terra, desde o sangue do justo Abel até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que matastes entre o santuário e o altar. 36Em verdade vos digo: Tudo isto cairá sobre esta geração!»


Lamentação sobre Jerusalém (Lc 13,34-35; 19,41-44) - 37«Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis reunir os teus filhos como a galinha reúne os seus pintainhos sob as asas, e tu não quiseste! 38Pois bem, a vossa casa ficará deserta. 39Eu vos digo que não voltareis a ver-me até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor.»

Capítulo 24

Anúncio da destruição do templo (Mc 13,1-2; Lc 21,5-6; Jo 2,19-22) - 1Tendo saído do templo, Jesus ia-se embora, quando os seus discípulos se aproximaram dele para lhe mostrar as construções do templo.

2Mas Ele disse-lhes: «Vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra: tudo será destruído.»


Sinais precursores (Mc 13,3-8; Lc 21,7-11) - 3Estando Jesus sentado no Monte das Oliveiras, os discípulos aproximaram-se e perguntaram-lhe em particular: «Diz-nos quando acontecerá tudo isto e qual o sinal da tua vinda e do fim do mundo.»

4Jesus respondeu-lhes: «Tomai cuidado para que ninguém vos desencaminhe. 5Porque virão muitos em meu nome, dizendo: ‘Sou eu o Messias.’ E hão-de enganar muita gente. 6Ouvireis falar de guerras e de rumores de guerras, mas não vos assusteis. Isso tem de acontecer, mas ainda não será o fim. 7Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino, e haverá fomes, pestes e terramotos em vários sítios. 8Tudo isto será apenas o princípio das dores.»


Perseguição aos discípulos (Mc 13,9-13; Lc 21,12-19) - 9«Então, irão entregar-vos à tortura e à morte e, por causa do meu nome, todos os povos irão odiar-vos. 10Nessa altura, muitos sucumbirão e hão-de trair-se e odiar-se uns aos outros. 11Surgirão muitos falsos profetas, que hão-de enganar a muitos. 12E, porque se multiplicará a iniquidade, vai resfriar o amor de muitos; 13mas aquele que se mantiver firme até ao fim será salvo. 14Este Evangelho do Reino será proclamado em todo o mundo, para se dar testemunho diante de todos os povos. E então virá o fim.»


Destruição de Jerusalém (Ez 7,15-16; Mc 13,14-20; Lc 21,20-24) - 15«Por isso, quando virdes a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, instalada no lugar santo, - o que lê, entenda - 16então, os que se encontrarem na Judeia fujam para os montes; 17aquele que estiver no terraço não desça para tirar as coisas de sua casa; 18e o que se encontrar no campo não volte atrás para buscar a capa. 19Ai das que estiverem grávidas e das que andarem amamentando nesses dias! 20Rezai para que a vossa fuga não se verifique no Inverno ou em dia de sábado, 21pois nessa altura a aflição será tão grande como nunca se viu desde o princípio do mundo até ao presente, nem jamais se verá. 22E, se não fossem abreviados esses dias, criatura alguma se poderia salvar; mas, por causa dos eleitos, esses dias serão reduzidos.»


Falsos messias (Mc 13,21-23; Lc 17,23-24) 23«Então, se vierem dizer-vos: ‘Aqui está o Messias’, ou ‘Ali está Ele’, não acrediteis; 24porque hão-de surgir falsos messias e falsos profetas, que farão grandes milagres e prodígios, a ponto de desencaminharem, se possível, até os eleitos. 25Olhai que já vos preveni. 26Por isso, se vos disserem: ‘Ele está no deserto’, não saiais; ‘Ei-lo no interior da casa’, não acrediteis. 27Porque, assim como o relâmpago sai do Oriente e brilha até ao Ocidente, assim será a vinda do Filho do Homem. 28Onde houver um cadáver, aí se juntarão os abutres.»


Vinda do Filho do Homem (Mc 13,24-27; Lc 17,22-31; 21,25-28) - 29«Logo após a aflição daqueles dias,

o Sol irá escurecer-se,
a Lua não dará a sua luz,
as estrelas cairão do céu
e os poderes dos céus serão abalados.

30Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem e todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens do céu, com grande poder e glória. 31Ele enviará os seus anjos, com uma trombeta altissonante, para reunir os seus eleitos desde os quatro ventos, de um extremo ao outro do céu.»


Sinal da figueira (Mc 13,28-32; Lc 21,29-33) - 32«Aprendei da comparação tirada da figueira: quando os seus ramos se tornam tenros e as folhas começam a despontar, sabeis que o Verão está próximo. 33Assim também, quando virdes tudo isto, ficai sabendo que Ele está próximo, à porta. 34Em verdade vos digo: Esta geração não passará sem que tudo isto aconteça. 35O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão-de passar.»


Vigilância (Mc 13,33.37; Lc 12,35-40; 17,26-27.35-36; 21,34-36) - 36«Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe: nem os anjos do Céu nem o Filho; só o Pai. 37Como foi nos dias de Noé, assim acontecerá na vinda do Filho do Homem.

38Nos dias que precederam o dilúvio, comia-se, bebia-se, os homens casavam e as mulheres eram dadas em casamento, até ao dia em que Noé entrou na Arca; 39e não deram por nada até chegar o dilúvio, que a todos arrastou. Assim será também a vinda do Filho do Homem. 40Então, estarão dois homens no campo: um será levado e outro deixado; 41duas mulheres estarão a moer no mesmo moinho: uma será levada e outra deixada.

42Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor. 43Ficai sabendo isto: Se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão, estaria vigilante e não deixaria arrombar a casa. 44Por isso, estai também preparados, porque o Filho do Homem virá na hora em que não pensais.»


Parábola do mordomo fiel (Lc 12,42-46) - 45«Quem julgais que é o servo fiel e prudente, que o senhor pôs à frente da sua família para os alimentar a seu tempo? 46Feliz esse servo a quem o senhor, ao voltar, encontrar assim ocupado. 47Em verdade vos digo: Há-de confiar-lhe todos os seus bens. 48Mas, se um mau servo disser consigo mesmo: ‘O meu senhor está a demorar’, 49e começar a bater nos seus companheiros, a comer e a beber com os ébrios, 50o senhor desse servo virá no dia em que ele não o espera e à hora que ele desconhece; 51vai afastá-lo e dar-lhe um lugar com os hipócritas. Ali haverá choro e ranger de dentes.»

Capítulo 25

Parábola das dez virgens (Lc 13,25-28) - 1«O Reino do Céu será semelhante a dez virgens que, tomando as suas candeias, saíram ao encontro do noivo. 2Ora, cinco delas eram insensatas e cinco prudentes. 3As insensatas, ao tomarem as suas candeias, não levaram azeite consigo; 4enquanto as prudentes, com as suas candeias, levaram azeite nas almotolias.

5Como o noivo demorava, começaram a dormitar e adormeceram. 6A meio da noite, ouviu-se um brado: ‘Aí vem o noivo, ide ao seu encontro!’ 7Todas aquelas virgens despertaram, então, e aprontaram as candeias.

8As insensatas disseram às prudentes: ‘Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas candeias estão a apagar-se.’ 9Mas as prudentes responderam: ‘Não, talvez não chegue para nós e para vós. Ide, antes, aos vendedores e comprai-o.’ 10Mas, enquanto foram comprá-lo, chegou o noivo; as que estavam prontas entraram com ele para a sala das núpcias, e fechou-se a porta.

11Mais tarde, chegaram as outras virgens e disseram: ‘Senhor, senhor, abre-nos a porta!’ 12Mas ele respondeu: ‘Em verdade vos digo: Não vos conheço.’

13Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora.»


Parábola dos talentos (Lc 19,12-27) - 14«Será também como um homem que, ao partir para fora, chamou os servos e confiou-lhes os seus bens. 15A um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada qual conforme a sua capacidade; e depois partiu.

16Aquele que recebeu cinco talentos negociou com eles e ganhou outros cinco. 17Da mesma forma, aquele que recebeu dois ganhou outros dois. 18Mas aquele que apenas recebeu um foi fazer um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor.

19Passado muito tempo, voltou o senhor daqueles servos e pediu-lhes contas. 20Aquele que tinha recebido cinco talentos aproximou-se e entregou-lhe outros cinco, dizendo: ‘Senhor, confiaste-me cinco talentos; aqui estão outros cinco que eu ganhei.’ 21O senhor disse-lhe: ‘Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo do teu senhor.’

22Veio, em seguida, o que tinha recebido dois talentos: ‘Senhor, disse ele, confiaste-me dois talentos; aqui estão outros dois que eu ganhei.’ 23O senhor disse-lhe: ‘Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo do teu senhor.’

24Veio, finalmente, o que tinha recebido um só talento: ‘Senhor, disse ele, sempre te conheci como homem duro, que ceifas onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. 25Por isso, com medo, fui esconder o teu talento na terra. Aqui está o que te pertence.’ 26O senhor respondeu-lhe: ‘Servo mau e preguiçoso! Sabias que eu ceifo onde não semeei e recolho onde não espalhei. 27Pois bem, devias ter levado o meu dinheiro aos banqueiros e, no meu regresso, teria levantado o meu dinheiro com juros.’ 28‘Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem dez talentos. 29Porque ao que tem será dado e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. 30A esse servo inútil, lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.’»


Juízo definitivo - 31«Quando o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado por todos os seus anjos, há-de sentar-se no seu trono de glória. 32Perante Ele, vão reunir-se todos os povos e Ele separará as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. 33À sua direita porá as ovelhas e à sua esquerda, os cabritos.

34O Rei dirá, então, aos da sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. 35Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, 36estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo.’

37Então, os justos vão responder-lhe: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? 38Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos? 39E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?’ 40E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: ‘Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.’

41Em seguida dirá aos da esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o diabo e para os seus anjos! 42Porque tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, 43era peregrino e não me recolhestes, estava nu e não me vestistes, doente e na prisão e não fostes visitar-me.’ 44Por sua vez, eles perguntarão: ‘Quando foi que te vimos com fome, ou com sede, ou peregrino, ou nu, ou doente, ou na prisão, e não te socorremos?’ 45Ele responderá, então: ‘Em verdade vos digo: Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.’

46Estes irão para o suplício eterno, e os justos, para a vida eterna.»

Capítulo 26

Conspiração dos judeus (Mc 14,1-2; Lc 22,1-2; Jo 11,45-53) - 1Tendo acabado todos estes discursos, Jesus disse aos discípulos: 2«Como sabeis, a Páscoa é daqui a dois dias, e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado.»

3Então, os sumos sacerdotes e os anciãos do povo reuniram-se no palácio do Sumo Sacerdote, que se chamava Caifás, 4 e deliberaram prender Jesus, à traição, e matá-lo. 5Diziam, porém: «Que não seja durante a festa, para não haver alvoroço entre o povo.»


Unção de Betânia (Mc 14,3-9; Lc 7,36-50; Jo 12,1-11) - 6Jesus encontrava-se em Betânia, em casa de Simão, o leproso. 7Enquanto estava à mesa, aproximou-se dele uma mulher, que trazia um frasco de alabastro com um perfume de alto preço e derramou-lho sobre a cabeça. 8Ao verem isto, os discípulos ficaram indignados e disseram: «Para quê este desperdício? 9Podia vender-se por bom preço e dar-se o dinheiro aos pobres.»

10Jesus apercebeu-se de tudo e disse: «Porque afligis esta mulher? Ela praticou uma boa acção para comigo. 11Pobres, sempre os tereis convosco; mas a mim nem sempre me tereis. 12Derramando este perfume sobre o meu corpo, ela preparou a minha sepultura. 13Em verdade vos digo: Em qualquer parte do mundo onde este Evangelho for anunciado, há-de também narrar-se, em sua memória, o que ela acaba de fazer.»


Traição de Judas (Mc 14,10-11; Lc 22,3-6; Jo 6,70-71) - 14Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes 15e disse-lhes: «Quanto me dareis, se eu vo-lo entregar?» Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata.

16E, a partir de então, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus.


Preparação da Ceia Pascal (Mc 14,12-16; Lc 22,7-13) - 17No primeiro dia da festa dos Ázimos, os discípulos foram ter com Jesus e perguntaram-lhe: «Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?» 18Ele respondeu: «Ide à cidade, a casa de um certo homem e dizei-lhe: ‘O Mestre manda dizer: O meu tempo está próximo; é em tua casa que quero celebrar a Páscoa com os meus discípulos.’» 19Os discípulos fizeram como Jesus lhes ordenara e prepararam a Páscoa.


Anúncio da traição de Judas (Mc 14,17-21; Lc 22,21-23; Jo 13,2. 21-32) - 20Ao cair da tarde, sentou-se à mesa com os Doze. 21Enquanto comiam, disse: «Em verdade vos digo: Um de vós me há-de entregar.»

22Profundamente entristecidos, começaram a perguntar-lhe, cada um por sua vez: «Porventura serei eu, Senhor?» 23Ele respondeu: «O que mete comigo a mão no prato, esse me entregará. 24O Filho do Homem segue o seu caminho, como está escrito acerca dele; mas ai daquele por quem o Filho do Homem vai ser entregue. Seria melhor para esse homem não ter nascido!» 25Judas, o traidor, tomou a palavra e perguntou: «Porventura serei eu, Mestre?» «Tu o disseste» - respondeu Jesus.


Instituição da Eucaristia (Mc 14, 22-25; Lc 22,14-20; Jo 6,51-59; 1 Cor 11,23-27) 26Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, depois de pronunciar a bênção, partiu-o e deu-o aos seus discípulos, dizendo: «Tomai, comei: Isto é o meu corpo.»

27Em seguida, tomou um cálice, deu graças e entregou-lho, dizendo: «Bebei dele todos. 28Porque este é o meu sangue, sangue da Aliança, que vai ser derramado por muitos, para perdão dos pecados.29Eu vos digo: Não beberei mais deste produto da videira, até ao dia em que beber o vinho novo convosco no Reino de meu Pai.»


Anúncio das negações de Pedro (Mc 14,26-31; Lc 22,31-34; Jo 13,36-38) - 30Depois de cantarem os salmos, saíram para o Monte das Oliveiras. 31Jesus disse-lhes, então: «Nesta mesma noite, todos ficareis perturbados por minha causa, porque está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho serão dispersas. 32Mas, depois da minha ressurreição, hei-de preceder-vos na Galileia.»

33Tomando a palavra, Pedro respondeu-lhe: «Ainda que todos fiquem perturbados por tua causa, eu nunca me perturbarei!» 34Jesus retorquiu-lhe: «Em verdade te digo: Esta mesma noite, antes de o galo cantar, vais negar-me três vezes.» 35Pedro disse-lhe: «Mesmo que tenha de morrer contigo, não te negarei!» E todos os discípulos afirmaram o mesmo.


Oração de Jesus em Getsémani (Mc 14,32-42; Lc 22,39-46; Jo 18,1-2) - 36Entretanto, Jesus com os seus discípulos chegou a um lugar chamado Getsémani e disse-lhes: «Sentai-vos aqui, enquanto Eu vou além orar.» 37E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. 38Disse-lhes, então: «A minha alma está numa tristeza de morte; ficai aqui e vigiai comigo.»

39E, adiantando-se um pouco mais, caiu com a face por terra, orando e dizendo: «Meu Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice. No entanto, não seja como Eu quero, mas como Tu queres.»

40Voltando para junto dos discípulos, encontrou-os a dormir e disse a Pedro: «Nem sequer pudeste vigiar uma hora comigo! 41Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é débil.» 42Afastou-se, pela segunda vez, e foi orar, dizendo: «Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que Eu o beba, faça-se a tua vontade!» 43Depois voltou e encontrou-os novamente a dormir, pois os seus olhos estavam pesados.

44Deixou-os e foi orar de novo pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras. 45Reunindo-se finalmente aos discípulos, disse-lhes: «Continuai a dormir e a descansar! Já se aproxima a hora, e o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. 46Levantai-vos, vamos! Já se aproxima aquele que me vai entregar.»


Prisão de Jesus (Mc 14,43-50; Lc 22,47-53; Jo 18,3-11) - 47Ainda Ele falava, quando apareceu Judas, um dos Doze, e com ele muita gente, com espadas e varapaus, enviada pelos sumos sacerdotes e pelos anciãos do povo. 48O traidor tinha-lhes dado este sinal: «Aquele que eu beijar, é esse mesmo: prendei-o.»

49Aproximou-se imediatamente de Jesus e disse: «Salve, Mestre!» E beijou-o. 50Jesus respondeu-lhe: «Amigo, a que vieste?» Então, avançaram, deitaram as mãos a Jesus e prenderam-no. 51Um dos que estavam com Jesus levou a mão à espada, desembainhou-a e feriu um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe uma orelha. 52Jesus disse-lhe: «Mete a tua espada na bainha, pois todos quantos se servirem da espada morrerão à espada. 53Julgas que não posso recorrer a meu Pai? Ele imediatamente me enviaria mais de doze legiões de anjos! 54Mas como se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve acontecer?»

55Voltando-se, depois, para a multidão, disse: «Viestes prender-me com espadas e varapaus, como se eu fosse um ladrão! Todos os dias estava sentado no templo a ensinar, e não me prendestes. 56Mas tudo isto aconteceu, para que se cumprissem as Escrituras dos profetas.» Então, todos os discípulos o abandonaram e fugiram.


Jesus no tribunal judaico (Mc 14,53-65; Lc 22,54-71; Jo 18,12-14.19-24) - 57Os que tinham prendido Jesus conduziram-no à casa do Sumo Sacerdote Caifás, onde os doutores da Lei e os anciãos do povo se tinham reunido. 58Pedro seguiu-o de longe até ao palácio do Sumo Sacerdote. Aproximando-se, entrou e sentou-se entre os servos, para ver o desfecho de tudo aquilo. 59Os sumos sacerdotes e todo o Conselho procuravam um depoimento falso contra Jesus, a fim de o condenarem à morte. 60Mas não o encontraram, embora se tivessem apresentado muitas testemunhas falsas. Apresentaram-se finalmente duas, 61que declararam: «Este homem disse: ‘Posso destruir o templo de Deus e reedificá-lo em três dias.’»

62O Sumo Sacerdote ergueu-se, então, e disse-lhe: «Não respondes nada? Que dizes aos que depõem contra ti?» 63Mas Jesus continuava calado. O Sumo Sacerdote disse-lhe: «Intimo-te, pelo Deus vivo, que nos digas se és o Messias, o Filho de Deus.» 64Jesus respondeu-lhe: «Tu o disseste. E Eu digo-vos: Vereis um dia o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu

65Então, o Sumo Sacerdote rasgou as vestes, dizendo: «Blasfemou! Que necessidade temos, ainda, de testemunhas? Acabais de ouvir a blasfémia. 66Que vos parece?» Eles responderam: «É réu de morte.» 67Depois cuspiam-lhe no rosto e batiam-lhe. Outros esbofeteavam-no, dizendo: 68«Profetiza, Messias: quem foi que te bateu?»


Três negações de Pedro (Mc 14,66-72; Lc 22,54-62; Jo 18,15-18.25-27) - 69Entretanto, Pedro estava sentado no pátio. Uma criada aproximou-se dele e disse-lhe: «Tu também estavas com Jesus, o Galileu.» 70Mas ele negou diante de todos, dizendo: «Não sei o que dizes.» 71Dirigindo-se para a porta, outra criada viu-o e disse aos que ali estavam: «Este também estava com Jesus, o Nazareno.» 72Ele negou de novo com juramento: «Não conheço esse homem.» 73Um momento depois, aproximaram-se os que ali estavam e disseram a Pedro: «Com certeza tu és dos seus, pois até a tua maneira de falar te denuncia.» 74Começou, então, a dizer imprecações e a jurar: «Não conheço esse homem!»

No mesmo instante, o galo cantou. 75E Pedro lembrou-se das palavras de Jesus: «Antes de o galo cantar, me negarás três vezes.» E, saindo para fora, chorou amargamente.

Capítulo 27

Jesus levado a Pilatos (Mc 15,1; Lc 23,1; Jo 18,28) - 1De manhã cedo, todos os sumos sacerdotes e anciãos do povo se reuniram em conselho contra Jesus, para o matarem. 2E, manietando-o, levaram-no ao governador Pilatos.


Remorso de Judas - 3Então Judas, que o entregara, vendo que Ele tinha sido condenado, foi tocado pelo remorso e devolveu as trinta moedas de prata aos sumos sacerdotes e aos anciãos, dizendo: 4«Pequei, entregando sangue inocente.» Eles replicaram: «Que nos importa? Isso é lá contigo.» 5Atirando as moedas para o santuário, ele saiu e foi enforcar-se. 6Os sumos sacerdotes, apanhando as moedas, disseram: «Não é lícito lançá-las no tesouro, pois são preço de sangue.» 7Depois de terem deliberado, compraram com elas o «Campo do Oleiro», para servir de cemitério aos estrangeiros. 8Por tal razão, aquele campo é chamado, até ao dia de hoje, «Campo de Sangue9Deste modo, cumpriu-se o que fora dito pelo profeta Jeremias:

Tomaram as trinta moedas de prata,
preço em que foi avaliado
aquele que os filhos de Israel avaliaram, e
10deram-nas pelo Campo do Oleiro,
como o Senhor havia ordenado.»


Jesus perante o tribunal romano (Mc 15,1-15; Lc 23,2-5.13-25; Jo 18,28-40) - 11Jesus foi conduzido à presença do governador, que lhe perguntou: «Tu és o Rei dos Judeus?» Jesus respondeu: «Tu o dizes.» 12Mas, ao ser acusado pelos sumos sacerdotes e anciãos, nada respondeu.

13Pilatos disse-lhe, então: «Não ouves tudo o que dizem contra ti?» 14Mas Ele não respondeu coisa alguma, de modo que o governador estava muito admirado.


Jesus e Barrabás (Mc 15,6-15; Lc 23,13-25; Jo 18,39-40) - 15Ora, por ocasião da festa, o governador costumava conceder a liberdade a um prisioneiro, à escolha do povo. 16Nessa altura havia um preso afamado, chamado Barrabás. 17Pilatos perguntou ao povo, que se encontrava reunido: «Qual quereis que vos solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo?» 18Ele sabia que o tinham entregado por inveja.

19Enquanto estava sentado no tribunal, a mulher mandou-lhe dizer: «Não te intrometas no caso desse justo, porque hoje muito sofri em sonhos por causa dele.» 20Mas os sumos sacerdotes e os anciãos persuadiram a multidão a pedir Barrabás e exigir a morte de Jesus. 21Tomando a palavra, o governador inquiriu: «Qual dos dois quereis que vos solte?» Eles responderam: «Barrabás!» 22Pilatos disse-lhes: «Que hei-de fazer, então, de Jesus chamado Cristo?» Todos responderam: «Seja crucificado!» 23Pilatos insistiu: «Que mal fez Ele?» Mas eles cada vez gritavam mais: «Seja crucificado!»

24Pilatos, vendo que nada conseguia e que o tumulto aumentava cada vez mais, mandou vir água e lavou as mãos na presença da multidão, dizendo: «Estou inocente deste sangue. Isso é convosco.» 25E todo o povo respondeu: «Que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos!» 26Então, soltou-lhes Barrabás. Quanto a Jesus, depois de o mandar flagelar, entregou-o para ser crucificado.


Coroação de espinhos (Mc 15,16-20; Jo 19,1-3) - 27Os soldados do governador conduziram Jesus para o pretório e reuniram toda a coorte à volta dele. 28Despiram-no e envolveram-no com um manto escarlate. 29Tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça, e uma cana na mão direita. Dobrando o joelho diante dele, escarneciam-no, dizendo: «Salve! Rei dos Judeus!» 30E, cuspindo-lhe no rosto, agarravam na cana e batiam-lhe na cabeça. 31Depois de o terem escarnecido, tiraram-lhe o manto, vestiram-lhe as suas roupas e levaram-no para ser crucificado.


A caminho do Calvário. Crucifixão de Jesus (Mc 15,21-32; Lc 23,26-43; Jo 19,17-24) - 32À saída, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, e obrigaram-no a levar a cruz de Jesus.

33Quando chegaram a um lugar chamado Gólgota, isto é, «Lugar do Crânio», 34deram-lhe a beber vinho misturado com fel; mas Ele, provando-o, não quis beber. 35Depois de o terem crucificado, repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte. 36Ficaram ali sentados a guardá-lo. 37Por cima da sua cabeça, colocaram um escrito, indicando a causa da sua condenação: «Este é Jesus, o rei dos Judeus.» 38Com Ele, foram crucificados dois salteadores: um à direita e outro à esquerda.

39Os que passavam injuriavam-no, meneando a cabeça e 40dizendo: «Tu, que destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz!» 41Os sumos sacerdotes com os doutores da Lei e os anciãos também zombavam dele, dizendo: 42«Salvou os outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é o rei de Israel, desça da cruz, e acreditaremos nele. 43Confiou em Deus; Ele que o livre agora, se o ama, pois disse: ‘Eu sou Filho de Deus!’» 44Até os salteadores, que estavam com Ele crucificados, o insultavam.


Morte de Jesus (Mc 15,33-41; Lc 23,44-49; Jo 19,28-30) - 45Desde o meio-dia até às três horas da tarde, as trevas envolveram toda a terra. 46Cerca das três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte: Eli, Eli, lemá sabactháni?, isto é: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?

47Alguns dos que ali se encontravam, ao ouvi-lo, disseram: «Está a chamar por Elias.» 48Um deles correu imediatamente, pegou numa esponja, embebeu-a em vinagre e, fixando-a numa cana, dava-lhe de beber. 49Mas os outros disseram: «Deixa; vejamos se Elias vem salvá-lo.» 50Jesus, clamando outra vez com voz forte, expirou.

51Então, o véu do templo rasgou-se em dois, de alto a baixo. A terra tremeu e as rochas fenderam-se. 52Abriram-se os túmulos e muitos corpos de santos, que estavam mortos, ressuscitaram; 53e, saindo dos túmulos depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos. 54O centurião e os que com ele guardavam Jesus, vendo o tremor de terra e o que estava a acontecer, ficaram apavorados e disseram: «Este era verdadeiramente o Filho de Deus!»

55Estavam ali, a observar de longe, muitas mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galileia e o serviram. 56Entre elas, estavam Maria de Magdala, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.


Sepultura de Jesus (Mc 15,42-47; Lc 23,50-56; Jo 19,38-42) - 57Ao cair da tarde, veio um homem rico de Arimateia, chamado José, que também se tornara discípulo de Jesus. 58Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos ordenou que lho entregassem.

59José tomou o corpo, envolveu-o num lençol limpo 60e depositou-o num túmulo novo, que tinha mandado talhar na rocha. Depois, rolou uma grande pedra contra a porta do túmulo e retirou-se. 61Maria de Magdala e a outra Maria estavam ali sentadas, em frente do sepulcro.


O sepulcro guardado - 62No dia seguinte, que era o dia a seguir ao da Preparação, os sumos sacerdotes e os fariseus reuniram-se com Pilatos 63e disseram-lhe: «Senhor, lembrámo-nos de que aquele impostor disse, ainda em vida: ‘Três dias depois hei-de ressuscitar.’ 64Por isso, ordena que o sepulcro seja guardado até ao terceiro dia, não venham os discípulos roubá-lo e dizer ao povo: ‘Ressuscitou dos mortos.’ E seria a última impostura pior do que a primeira.»

65Pilatos respondeu-lhes: «Tendes guardas. Ide e guardai-o como entenderdes.» 66E eles foram pôr o sepulcro em segurança, selando a pedra e confiando-o à vigilância dos guardas.

Capítulo 28

As mulheres vão ao sepulcro (Mc 16,1-8; Lc 24,1-12; Jo 20,1.11-18) - 1Terminado o sábado, ao romper do primeiro dia da semana, Maria de Magdala e a outra Maria foram visitar o sepulcro. 2Nisto, houve um grande terramoto: o anjo do Senhor, descendo do Céu, aproximou-se e removeu a pedra, sentando-se sobre ela. 3O seu aspecto era como o de um relâmpago; e a sua túnica, branca como a neve. 4Os guardas, com medo dele, puseram-se a tremer e ficaram como mortos. 5Mas o anjo tomou a palavra e disse às mulheres:

«Não tenhais medo. Sei que buscais Jesus, o crucificado; 6não está aqui, pois ressuscitou, como tinha dito. Vinde, vede o lugar onde jazia 7e ide depressa dizer aos seus discípulos: ‘Ele ressuscitou dos mortos e vai à vossa frente para a Galileia. Lá o vereis.’ Eis o que tinha para vos dizer.»

8Afastando-se rapidamente do sepulcro, cheias de temor e de grande alegria, as mulheres correram a dar a notícia aos discípulos. 9Jesus saiu ao seu encontro e disse-lhes: «Salve!» Elas aproximaram-se, estreitaram-lhe os pés e prostraram-se diante dele. 10Jesus disse-lhes: «Não temais. Ide anunciar aos meus irmãos que partam para a Galileia. Lá me verão.»


Reacção dos inimigos de Jesus - 11Enquanto elas iam a caminho, alguns dos guardas foram à cidade participar aos sumos sacerdotes tudo o que tinha acontecido! 12Eles reuniram-se com os anciãos; e, depois de terem deliberado, deram muito dinheiro aos soldados, 13recomendando-lhes: «Dizei isto: ‘De noite, enquanto dormíamos, os seus discípulos vieram e roubaram-no.’ 14E, se o caso chegar aos ouvidos do governador, nós o convenceremos e faremos com que vos deixe tranquilos.» 15Recebendo o dinheiro, eles fizeram como lhes tinham ensinado. E esta mentira divulgou-se entre os judeus até ao dia de hoje.


Aparição na Galileia. Missão universal (Act 1,6-8) - 16Os onze discípulos partiram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes tinha indicado. 17Quando o viram, adoraram-no; alguns, no entanto, ainda duvidavam. 18Aproximando-se deles, Jesus disse-lhes:

«Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra. 19Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, 20ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos.»

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