Capítulo 21

Oferta da viúva pobre (Mc 12,41-44) - 1Levantando os olhos, Jesus viu os ricos deitarem no cofre do tesouro as suas ofertas. 2Viu também uma viúva pobre deitar lá duas moedinhas 3e disse:

«Em verdade vos digo que esta viúva pobre deitou mais do que todos os outros; 4pois eles deitaram no tesouro do que lhes sobejava, enquanto ela, da sua indigência, deitou tudo o que tinha para viver.»


Anúncio da destruição do templo (Mt 24,1-2; Mc 13,1-2) - 5Como alguns falassem do templo, dizendo que estava adornado de belas pedras e de ofertas votivas, respondeu:

6«Virá o dia em que, de tudo isto que estais a contemplar, não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído.»


Sinais precursores (Mt 24,3-8; Mc 13, 3-8) - 7Perguntaram-lhe, então: «Mestre, quando sucederá isso? E qual será o sinal de que estas coisas estão para acontecer?» 8Ele respondeu: «Tende cuidado em não vos deixardes enganar, pois muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu’; e ainda: ‘O tempo está próximo.’ Não os sigais. 9Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas, não vos alarmeis; é necessário que estas coisas sucedam primeiro, mas não será logo o fim.»

10Disse-lhes depois: «Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino. 11Haverá grandes terramotos e, em vários lugares, fomes e epidemias; haverá fenómenos apavorantes e grandes sinais no céu.»


Perseguição aos discípulos (Mt 10,16-23; 24,9-14; Mc 13,9-13) - 12«Mas, antes de tudo, vão deitar-vos as mãos e perseguir-vos, entregando-vos às sinagogas e metendo-vos nas prisões; hão-de conduzir-vos perante reis e governadores, por causa do meu nome. 13Assim, tereis ocasião de dar testemunho. 14Gravai, pois, no vosso coração, que não vos deveis preocupar com a vossa defesa, 15porque Eu próprio vos darei palavras de sabedoria, a que não poderão resistir ou contradizer os vossos adversários.

16Sereis entregues até pelos pais, irmãos, parentes e amigos. Hão-de causar a morte a alguns de vós 17e sereis odiados por todos, por causa do meu nome. 18Mas não se perderá um só cabelo da vossa cabeça. 19Pela vossa constância é que sereis salvos.»


Destruição de Jerusalém (Mt 24,15-22; Mc 13,14-20) - 20«Mas, quando virdes Jerusalém sitiada por exércitos, ficai sabendo que a sua ruína está próxima. 21Então, os que estiverem na Judeia fujam para os montes; os que estiverem dentro da cidade retirem-se; e os que estiverem no campo não voltem para a cidade, 22pois esses dias serão de punição, a fim de se cumprir tudo quanto está escrito.

23Ai das que estiverem grávidas e das que estiverem a amamentar naqueles dias, porque haverá uma terrível angústia no país e um castigo contra este povo. 24Serão passados a fio de espada, serão levados cativos para todas as nações; e Jerusalém será calcada pelos gentios, até se completar o tempo dos pagãos.»


Vinda do Filho do Homem (Mt 24,29-31; Mc 13,24-27) - 25«Haverá sinais no Sol, na Lua e nas estrelas; e, na Terra, angústia entre os povos, aterrados com o bramido e a agitação do mar; 26os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vai acontecer ao universo, pois as forças celestes serão abaladas. 27Então, hão-de ver o Filho do Homem vir numa nuvem com grande poder e glória.

28Quando estas coisas começarem a acontecer, cobrai ânimo e levantai a cabeça, porque a vossa redenção está próxima.»


Sinal da figueira (Mt 24,32-35; Mc 13,28-32) - 29E disse-lhes uma comparação:

«Reparai na figueira e nas restantes árvores. 30Quando começam a deitar rebentos, ao vê-los, ficais a saber que o Verão está próximo.

31Assim também, quando virdes essas coisas, conhecereis que o Reino de Deus está próximo. 32Em verdade vos digo: Não passará esta geração sem que tudo se cumpra. 33O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão-de passar.»


Vigilância (Mt 24,36-44; 25,1-13; Mc 13,33-37) - 34«Tende cuidado convosco: que os vossos corações não se tornem pesados com a devassidão, a embriaguez e as preocupações da vida, e que esse dia não caia sobre vós subitamente, 35como um laço; pois atingirá todos os que habitam a terra inteira. 36Velai, pois, orando continuamente, a fim de terdes força para escapar a tudo o que vai acontecer e aparecerdes firmes diante do Filho do Homem.»


Últimos dias de Jesus no templo - 37Durante o dia, Jesus estava no templo a ensinar; mas saía para passar a noite no Monte das Oliveiras. 38E todo o povo, de madrugada, ia ter com Ele ao templo, para o escutar.

Capítulo 22

Conspiração dos judeus (Mt 26,1-5; Mc 14,1-2; Jo 11,45-53) - 1Entretanto, aproximava-se a festa dos Ázimos, chamada Páscoa. 2E os sumos sacerdotes e doutores da Lei procuravam maneira de fazerem desaparecer Jesus, mas temiam o povo.


Traição de Judas (Mt 26,14-16; Mc 14,10-11; Jo 12,1-11) - 3Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, que era do número dos Doze. 4Judas foi falar com os sumos sacerdotes e os oficiais do templo sobre o modo de lhes entregar Jesus. 5Eles regozijaram-se e combinaram dar-lhe dinheiro. 6Judas concordou e procurava ocasião de o entregar, sem a multidão saber.


Preparação da Ceia Pascal (Mt 26,17-19; Mc 14,12-16) - 7Chegou o dia dos Ázimos, em que devia sacrificar-se o cordeiro, 8e Jesus enviou Pedro e João, dizendo: «Ide preparar-nos o necessário para comermos a ceia pascal.» 9Perguntaram-lhe: «Onde queres que a preparemos?» 10Respondeu: «Ao entrardes na cidade, virá ao vosso encontro um homem transportando uma bilha de água. Segui-o até à casa em que entrar 11e dizei ao dono da casa: ‘O Mestre manda dizer-te: Onde é a sala, em que hei-de comer a ceia pascal com os meus discípulos?’ 12Mostrar-vos-á uma grande sala mobilada, no andar de cima. Fazei aí os preparativos.» 13Partiram, encontraram tudo como lhes tinha dito e prepararam a Páscoa.


Instituição da Eucaristia (Mt 26,26-29; Mc 14,22-25; Jo 6,51-59; 1 Cor 11,23-27) - 14Quando chegou a hora, pôs-se à mesa e os Apóstolos com Ele. 15Disse-lhes: «Tenho ardentemente desejado comer esta Páscoa convosco, antes de padecer, 16pois digo-vos que já não a voltarei a comer até ela ter pleno cumprimento no Reino de Deus.»

17Tomando uma taça, deu graças e disse: «Tomai e reparti entre vós, 18pois digo-vos que não tornarei a beber do fruto da videira, até chegar o Reino de Deus.»

19Tomou, então, o pão e, depois de dar graças, partiu-o e distribuiu-o por eles, dizendo: «Isto é o meu corpo, que vai ser entregue por vós; fazei isto em minha memória.»

20Depois da ceia, fez o mesmo com o cálice, dizendo: «Este cálice é a nova Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós.»


Anúncio da traição de Judas (Mt 26,20-25; Mc 14,17-21; Jo 13,2.18.21-32) - 21«No entanto, vede: a mão daquele que me vai entregar está comigo à mesa! 22O Filho do Homem segue o seu caminho, como está determinado; mas ai daquele por meio de quem vai ser entregue!» 23Começaram a perguntar uns aos outros qual deles iria fazer semelhante coisa.


Poder e serviço (Mt 20,20-28; Mc 10, 42-45; Jo 13,1-17) - 24Levantou-se entre eles uma discussão sobre qual deles devia ser considerado o maior.

25Jesus disse-lhes: «Os reis das nações imperam sobre elas e os que nelas exercem a autoridade são chamados benfeitores. 26Convosco, não deve ser assim; o que fôr maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar, como aquele que serve. 27Pois, quem é maior: o que está sentado à mesa, ou o que serve? Não é o que está sentado à mesa? Ora, Eu estou no meio de vós como aquele que serve.

28Vós sois os que permaneceram sempre junto de mim nas minhas provações, 29e Eu disponho do Reino a vosso favor, como meu Pai dispõe dele a meu favor, 30a fim de que comais e bebais à minha mesa, no meu Reino. E haveis de sentar-vos, em tronos, para julgar as doze tribos de Israel.»


Anúncio das negações de Pedro (Mt 26,30-35; Mc 14,26-31; Jo 13,36-38) - 31E o Senhor disse: «Simão, Simão, olha que Satanás pediu para vos joeirar como trigo. 32Mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desapareça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos.»

33Ele respondeu-lhe: «Senhor, estou pronto a ir contigo até para a prisão e para a morte.» 34Jesus disse-lhe: «Eu te digo, Pedro: o galo não cantará hoje sem que, por três vezes, tenhas negado conhecer-me.»


A hora do combate iminente - 35Depois, acrescentou: «Quando vos enviei sem bolsa, nem alforge, nem sandálias, faltou-vos alguma coisa?» Eles responderam: «Nada.»

36E Ele acrescentou: «Mas agora, quem tem uma bolsa que a tome, assim como o alforge, e quem não tem espada venda a capa e compre uma. 37Porque, digo-vo-lo Eu, deve cumprir-se em mim esta palavra da Escritura: Foi contado entre os malfeitores. Efectivamente, o que me diz respeito chega ao seu termo.» 38Disseram-lhe eles: «Senhor, aqui estão duas espadas.» Mas Ele respondeu-lhes: «Basta!»


Oração de Jesus no Monte das Oliveiras (Mt 26,36-46; Mc 14,32-42; Jo 18,1-2) - 39Saiu então e foi, como de costume, para o Monte das Oliveiras. E os discípulos seguiram também com Ele. 40Quando chegou ao local, disse-lhes: «Orai, para que não entreis em tentação.» 41Depois afastou-se deles, à distância de um tiro de pedra, aproximadamente; e, pondo-se de joelhos, começou a orar, dizendo: 42«Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua.»

43Então, vindo do Céu, apareceu-lhe um anjo que o confortava. 44Cheio de angústia, pôs-se a orar mais instantemente, e o suor tornou-se-lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra. 45Depois de orar, levantou-se e foi ter com os discípulos, encontrando-os a dormir, devido à tristeza. 46Disse-lhes: «Porque dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação.»


Prisão de Jesus (Mt 26,47-56; Mc 14,43-49; Jo 18,3-11) - 47Ainda Ele estava a falar quando surgiu uma multidão de gente. Um dos Doze, o chamado Judas, caminhava à frente e aproximou-se de Jesus para o beijar. 48Jesus disse-lhe: «Judas, é com um beijo que entregas o Filho do Homem?»

49Vendo o que ia suceder, aqueles que o cercavam perguntaram-lhe: «Senhor, ferimo-los à espada?» 50E um deles feriu um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. 51Mas Jesus interveio, dizendo: «Basta, deixai-os.» E, tocando na orelha do servo, curou-o. 52Depois, disse aos que tinham vindo contra Ele, aos sumos sacerdotes, aos oficiais do templo e aos anciãos:

«Vós saístes com espadas e varapaus, como se fôsseis ao encontro de um salteador! 53Estando Eu todos os dias convosco no templo, não me deitastes as mãos; mas esta é a vossa hora e o domínio das trevas.»


Três negações de Pedro (Mt 26,69-75; Mc 14,66-72; Jo 18,15-18.25-27) - 54Apoderando-se, então, de Jesus, levaram-no e introduziram-no em casa do Sumo Sacerdote. Pedro seguia de longe. 55Tendo acendido uma fogueira no meio do pátio, sentaram-se e Pedro sentou-se no meio deles.

56Ora, uma criada, ao vê-lo sentado ao lume, fitando-o, disse: «Este também estava com Ele.» 57Mas Pedro negou-o, dizendo: «Não o conheço, mulher.» 58Pouco depois, disse outro, ao vê-lo: «Tu também és dos tais.» Mas Pedro disse: «Homem, não sou.» 59Cerca de uma hora mais tarde, um outro afirmou com insistência: «Com certeza este estava com Ele; além disso, é galileu.» 60Pedro respondeu: «Homem, não sei o que dizes.»

E, no mesmo instante, estando ele ainda a falar, cantou um galo. 61Voltando-se, o Senhor fixou os olhos em Pedro; e Pedro recordou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse: «Hoje, antes de o galo cantar, irás negar-me três vezes.» 62E, vindo para fora, chorou amargamente.


Primeiros ultrajes (Mt 26,67-68; Mc 14,65) - 63Entretanto, os que guardavam Jesus troçavam dele e maltratavam-no. 64Cobriam-lhe o rosto e perguntavam-lhe: «Adivinha! Quem te bateu?» 65E proferiam muitos outros insultos contra Ele.


Jesus no tribunal judaico (Mt 26,59.63-65; Mc 14,55.61-64; Jo 18,19-24) - 66Quando amanheceu, reuniu-se o Conselho dos anciãos do povo, sumos sacerdotes e doutores da Lei, que o levaram ao seu tribunal. 67Disseram-lhe: «Declara-nos se Tu és o Messias.» Ele respondeu-lhes: «Se vo-lo disser, não me acreditareis 68e, se vos perguntar, não respondereis. 69Mas doravante, o Filho do Homem vai sentar-se à direita de Deus todo-poderoso.»

70Disseram todos: «Tu és, então, o Filho de Deus?» Ele respondeu-lhes: «Vós o dizeis; Eu sou.»

71Então, exclamaram: «Que necessidade temos já de testemunhas? Nós próprios o ouvimos da sua boca.»

Capítulo 23

Jesus no tribunal romano: Pilatos (Mt 27,1-2.11-14; Mc 15,1-5; Jo 18,28-38) - 1Levantando-se todos, levaram-no a Pilatos 2e começaram a acusá-lo, nestes termos: «Encontrámos este homem a sublevar o povo, a impedir que se pagasse tributo a César e a dizer-se Ele próprio o Messias-Rei.»

3Pilatos interrogou-o: «Tu és o rei dos judeus?» Jesus respondeu: «Tu o dizes.» 4Pilatos disse, então, aos sumos sacerdotes e à multidão: «Nada encontro de culpável neste homem.» 5Mas eles insistiram, dizendo: «Ele amotina o povo, ensinando por toda a Judeia, desde a Galileia até aqui.»


Jesus perante Herodes - 6Ao ouvir isto, Pilatos perguntou se o homem era galileu; 7e, ao saber que era da jurisdição de Herodes, enviou-o a Herodes, que também se encontrava em Jerusalém nesses dias. 8Ao ver Jesus, Herodes ficou extremamente satisfeito, pois havia bastante tempo que o queria ver, devido ao que ouvia dizer dele, esperando que fizesse algum milagre na sua presença. 9Fez-lhe muitas perguntas, mas Ele nada respondeu.

10Os sumos sacerdotes e os doutores da Lei, que lá estavam, acusavam-no com veemência. 11Herodes, com os seus oficiais, tratou-o com desprezo e, por troça, mandou-o cobrir com uma capa vistosa, enviando-o de novo a Pilatos. 12Nesse dia, Herodes e Pilatos ficaram amigos, pois eram inimigos um do outro.


Jesus e Barrabás (Mt 27,15-26; Mc 15,6-15; Jo 18,39-40; 19,4-16) - 13Pilatos convocou os sumos sacerdotes, os chefes e o povo, 14e disse-lhes: «Trouxestes este homem à minha presença como se andasse a revoltar o povo. Interroguei-o diante de vós e não encontrei nele nenhum dos crimes de que o acusais. 15Herodes tão-pouco, visto que no-lo mandou de novo. Como vedes, Ele nada praticou que mereça a morte. 16Vou, portanto, libertá-lo, depois de o castigar.»

17Ora, em cada festa, Pilatos era obrigado a soltar-lhes um preso. 18E todos se puseram a gritar: «A esse mata-o e solta-nos Barrabás!» 19Este último fora metido na prisão por causa de uma insurreição desencadeada na cidade, e por homicídio.

20De novo, Pilatos dirigiu-lhes a palavra, querendo libertar Jesus. 21Mas eles gritavam: «Crucifica-o! Crucifica-o!» 22Pilatos disse-lhes pela terceira vez: «Que mal fez Ele, então? Nada encontrei nele que mereça a morte. Por isso, vou libertá-lo, depois de o castigar.» 23Mas eles insistiam em altos brados, pedindo que fosse crucificado, e os seus clamores aumentavam de violência.

24Então, Pilatos decidiu que se fizesse o que eles pediam. 25Libertou o que fora preso por sedição e homicídio, que eles reclamavam, e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam.


A caminho do Calvário (Mt 27,32; Mc 15,20-21; Jo 19,16-17) - 26Quando o iam conduzindo, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que voltava do campo, e carregaram-no com a cruz, para a levar atrás de Jesus.

27Seguiam Jesus uma grande multidão de povo e umas mulheres que batiam no peito e se lamentavam por Ele. 28Jesus voltou-se para elas e disse-lhes: «Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos; 29pois virão dias em que se dirá: ‘Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram.’ 30Hão-de, então, dizer aos montes: ‘Caí sobre nós!’ E às colinas: ‘Cobri-nos!’ 31Porque, se tratam assim a árvore verde, o que não acontecerá à seca?» 32E levavam também dois malfeitores, para serem executados com Ele.


Jesus crucificado e escarnecido (Mt 27,35-44; Mc 15,23-32; Jo 19,18-24) - 33Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-no a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. 34Jesus dizia: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem.»

Depois, deitaram sortes para dividirem entre si as suas vestes. 35O povo permanecia ali, a observar; e os chefes zombavam, dizendo: «Salvou os outros; salve-se a si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito.» 36Os soldados também troçavam dele. Aproximando-se para lhe oferecerem vinagre, 37diziam: «Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!» 38E por cima dele havia uma inscrição: «Este é o rei dos judeus.»

39Ora, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-o, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-te a ti mesmo e a nós também.»

40Mas o outro, tomando a pala- vra, repreendeu-o: «Nem sequer temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? 41Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo que as nossas acções mereciam; mas Ele nada praticou de condenável.» 42E acrescentou: «Jesus, lembra-te de mim, quando estiveres no teu Reino.»

43Ele respondeu-lhe: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso.»


Morte de Jesus (Mt 27,45-56; Mc 15,33-41; Jo 19,28-30) - 44Por volta do meio-dia, as trevas cobriram toda a região até às três horas da tarde. 45O Sol tinha-se eclipsado e o véu do templo rasgou-se ao meio.

46Dando um forte grito, Jesus exclamou: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.» Dito isto, expirou.

47Ao ver o que se passava, o centurião deu glória a Deus, dizendo: «Verdadeiramente, este homem era justo!» 48E toda a multidão que se tinha aglomerado para este espectáculo, vendo o que acontecera, regressava batendo no peito. 49Todos os seus conhecidos e as mulheres que o tinham acompanhado desde a Galileia mantinham-se à distância, observando estas coisas.


Sepultura de Jesus (Mt 27,57-61; Mc 15,42-47; Jo 19,38-42) - 50Um membro do Conselho, chamado José, homem recto e justo, 51não tinha concordado com a decisão nem com o procedimento dos outros. Era natural de Arimateia, cidade da Judeia, e esperava o Reino de Deus. 52Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. 53Descendo-o da cruz, envolveu-o num lençol e depositou-o num sepulcro talhado na rocha, onde ainda ninguém tinha sido sepultado.

54Era o dia da Preparação e já começava o sábado. 55Entretanto, as mulheres que tinham vindo com Ele da Galileia acompanharam José, observaram o túmulo e viram como o corpo de Jesus fora depositado. 56Ao regressar, prepararam aromas e perfumes; e, durante o sábado, observaram o descanso, conforme o preceito.

Capítulo 24

As mulheres vão ao sepulcro (Mt 28,1-10; Mc 16,1-8; Jo 20,1-18) - 1No primeiro dia da semana, ao romper da alva, as mulheres foram ao sepulcro, levando os perfumes que haviam preparado. 2Encontraram removida a pedra da porta do sepulcro 3e, entrando, não acharam o corpo do Senhor Jesus. 4Estando elas perplexas com o caso, apareceram-lhes dois homens em trajes resplandecentes. 5Como estivessem amedrontadas e voltassem o rosto para o chão, eles disseram-lhes: «Porque buscais o Vivente entre os mortos? 6Não está aqui; ressuscitou! Lembrai-vos de como vos falou, quando ainda estava na Galileia, 7dizendo que o Filho do Homem havia de ser entregue às mãos dos pecadores, ser crucificado e ressuscitar ao terceiro dia.»

8Recordaram-se, então, das suas palavras. 9Voltando do sepulcro, foram contar tudo isto aos Onze e a todos os restantes. 10Eram elas Maria de Magdala, Joana e Maria, mãe de Tiago. Também as outras mulheres que estavam com elas diziam isto aos Apóstolos; 11mas as suas palavras pareceram-lhes um desvario, e eles não acreditaram nelas. 12Pedro, no entanto, pôs-se a caminho e correu ao sepulcro. Debruçando-se, apenas viu as ligaduras e voltou para casa, admirado com o sucedido.


No caminho de Emaús - 13Nesse mesmo dia, dois dos discípulos iam a caminho de uma aldeia chamada Emaús, que ficava a cerca de duas léguas de Jerusalém; 14e conversavam entre si sobre tudo o que acontecera. 15Enquanto conversavam e discutiam, aproximou-se deles o próprio Jesus e pôs-se com eles a caminho; 16os seus olhos, porém, estavam impedidos de o reconhecer.

17Disse-lhes Ele: «Que palavras são essas que trocais entre vós, enquanto caminhais?» Pararam entristecidos. 18E um deles, chamado Cléofas, respondeu: «Tu és o único forasteiro em Jerusalém a ignorar o que lá se passou nestes dias!» 19Perguntou-lhes Ele: «Que foi?» Responderam-lhe: «O que se refere a Jesus de Nazaré, profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; 20como os sumos sacerdotes e os nossos chefes o entregaram, para ser condenado à morte e crucificado. 21Nós esperávamos que fosse Ele o que viria redimir Israel, mas, com tudo isto, já lá vai o terceiro dia desde que se deram estas coisas. 22É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos deixaram perturbados, porque foram ao sepulcro de madrugada 23e, não achando o seu corpo, vieram dizer que lhes apareceram uns anjos, que afirmavam que Ele vivia. 24Então, alguns dos nossos foram ao sepulcro e encontraram tudo como as mulheres tinham dito. Mas, a Ele, não o viram.»

25Jesus disse-lhes, então: «Ó homens sem inteligência e lentos de espírito para crer em tudo quanto os profetas anunciaram! 26Não tinha o Messias de sofrer essas coisas para entrar na sua glória?» 27E, começando por Moisés e seguindo por todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo o que lhe dizia respeito.

28Ao chegarem perto da aldeia para onde iam, fez menção de seguir para diante. 29Os outros, porém, insistiam com Ele, dizendo: «Fica connosco, pois a noite vai caindo e o dia já está no ocaso.» Entrou para ficar com eles. 30E, quando se pôs à mesa, tomou o pão, pronunciou a bênção e, depois de o partir, entregou-lho. 31Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no; mas Ele desapareceu da sua presença. 32Disseram, então, um ao outro: «Não nos ardia o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?»

33Levantando-se, voltaram imediatamente para Jerusalém e encontraram reunidos os Onze e os seus companheiros, 34que lhes disseram: «Realmente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!» 35E eles contaram o que lhes tinha acontecido pelo caminho e como Jesus se lhes dera a conhecer, ao partir o pão.


Jesus aparece aos Onze (Mt 28,16-18; Mc 16,14; Jo 20,19-23; 1 Cor 15,3-8) - 36Enquanto isto diziam, Jesus apresentou-se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!» 37Dominados pelo espanto e cheios de temor, julgavam ver um espírito.

38Disse-lhes, então: «Porque estais perturbados e porque surgem tais dúvidas nos vossos corações? 39Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo. Tocai-me e olhai que um espírito não tem carne nem ossos, como verificais que Eu tenho.»

40Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. 41E como, na sua alegria, não queriam acreditar de assombrados que estavam, Ele perguntou-lhes: «Tendes aí alguma coisa que se coma?» 42Deram-lhe um bocado de peixe assado; 43e, tomando-o, comeu diante deles.


Últimas instruções - 44Depois, disse-lhes: «Estas foram as palavras que vos disse, quando ainda estava convosco: que era necessário que se cumprisse tudo quanto a meu respeito está escrito em Moisés, nos Profetas e nos Salmos.»

<sup45></sup>Abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as Escrituras 46e disse-lhes:

«Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e ressuscitar dentre os mortos, ao terceiro dia; 47que havia de ser anunciada, em seu nome, a conversão para o perdão dos pecados a todos os povos, começando por Jerusalém. 48Vós sois as testemunhas destas coisas. 49E Eu vou mandar sobre vós o que meu Pai prometeu. Entretanto, permanecei na cidade até serdes revestidos com a força do Alto.»


Ascensão (Mc 16,19-20; Act 1,6-11) - 50Depois, levou-os até junto de Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os.

51Enquanto os abençoava, separou-se deles e elevava-se ao Céu.

52E eles, depois de se terem prostrado diante dele, voltaram para Jerusalém com grande alegria.

53E estavam continuamente no templo a bendizer a Deus.

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