Capítulo 1

Prólogo (Act 1,1-4) - 1Visto que muitos empreenderam compor uma narração dos factos que entre nós se consumaram, 2como no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares e se tornaram "Servidores da Palavra", 3resolvi eu também, depois de tudo ter investigado cuidadosamente desde a origem, expô-los a ti por escrito e pela sua ordem, caríssimo Teófilo, 4a fim de reconheceres a solidez da doutrina em que foste instruído.


Anúncio do nascimento de João Baptista - 5No tempo de Herodes, rei da Judeia, havia um sacerdote chamado Zacarias, da classe de Abias, cuja esposa era da descendência de Aarão e se chamava Isabel. 6Ambos eram justos diante de Deus, cumprindo irrepreensivelmente todos os mandamentos e preceitos do Senhor. 7Não tinham filhos, pois Isabel era estéril, e os dois eram de idade avançada.

8Ora, estando Zacarias no exercício das funções sacerdotais diante de Deus, na ordem da sua classe, 9coube-lhe, segundo o costume sacerdotal, entrar no santuário do Senhor para queimar o incenso. 10Todo o povo estava da parte de fora em oração, à hora do incenso. 11Então, apareceu-lhe o anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do incenso. 12Ao vê-lo, Zacarias ficou perturbado e encheu-se de temor. 13Mas o anjo disse-lhe:

«Não temas, Zacarias: a tua súplica foi atendida. Isabel, tua esposa, vai dar-te um filho e tu vais chamar-lhe João. 14Será para ti motivo de regozijo e de júbilo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento. 15Pois ele será grande diante do Senhor e não beberá vinho nem bebida alcoólica; será cheio do Espírito Santo já desde o ventre da sua mãe 16e reconduzirá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. 17Irá à frente, diante do Senhor, com o espírito e o poder de Elias, para fazer voltar os corações dos pais a seus filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, a fim de proporcionar ao Senhor um povo com boas disposições

18Zacarias disse ao anjo: «Como hei-de verificar isso, se estou velho e a minha esposa é de idade avançada?» 19O anjo respondeu:

«Eu sou Gabriel, aquele que está diante de Deus, e fui enviado para te falar e anunciar esta Boa-Nova. 20Vais ficar mudo, sem poder falar, até ao dia em que tudo isto acontecer, por não teres acreditado nas minhas palavras, que se cumprirão na altura própria.»

21O povo, entretanto, aguardava Zacarias e admirava-se por ele se demorar no santuário. 22Quando saiu, não lhes podia falar e eles compreenderam que tinha tido uma visão no santuário. Fazia-lhes sinais e continuava mudo.

23Terminados os dias do seu serviço, regressou a casa. 24Passados esses dias, sua esposa Isabel concebeu e, durante cinco meses, permaneceu oculta. 25Dizia ela: «O Senhor procedeu assim para comigo, nos dias em que viu a minha ignomínia e a eliminou perante os homens.»


Anúncio do nascimento de Jesus (Mt 1,18-25) - 26Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, 27a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria.

28Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» 29Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. 30Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. 31Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. 32Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, 33reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.»

34Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» 35O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. 36Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, 37porque nada é impossível a Deus38Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.


Visita de Maria a Isabel - 39Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. 40Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. 43E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? 44Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. 45Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.»


Cântico de Maria - 46Maria disse, então:

«A minha alma glorifica o Senhor
47e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
48Porque pôs os olhos na humildade da sua serva.
De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações.
49O Todo-poderoso fez em mim maravilhas.
Santo é o seu nome.
50A sua misericórdia se estende de geração em geração
sobre aqueles que o temem.
51Manifestou o poder do seu braço
e dispersou os soberbos.
52Derrubou os poderosos de seus tronos
e exaltou os humildes.
53Aos famintos encheu de bens
e aos ricos despediu de mãos vazias.
54Acolheu a Israel, seu servo,
lembrado da sua misericórdia,
55como tinha prometido a nossos pais,
a Abraão e à sua descendência, para sempre.»

56Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois regressou a sua casa.


Nascimento e circuncisão de João Baptista - 57Entretanto, chegou o dia em que Isabel devia dar à luz e teve um filho. 58Os seus vizinhos e parentes, sabendo que o Senhor manifestara nela a sua misericórdia, rejubilaram com ela. 59Ao oitavo dia, foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias. 60Mas, tomando a palavra, a mãe disse: «Não; há-de chamar-se João.» 61Disseram-lhe: «Não há ninguém na tua família que tenha esse nome.»

62Então, por sinais, perguntaram ao pai como queria que ele se chamasse. 63Pedindo uma placa, o pai escreveu: «O seu nome é João.»

E todos se admiraram. 64Imediatamente a sua boca abriu-se, a língua desprendeu-se-lhe e começou a falar, bendizendo a Deus. 65O temor apoderou-se de todos os seus vizinhos, e por toda a montanha da Judeia se divulgaram aqueles factos. 66Quantos os ouviam retinham-nos na memória e diziam para si próprios: «Quem virá a ser este menino?» Na verdade, a mão do Senhor estava com ele.


Cântico de Zacarias - 67Então, seu pai, Zacarias, ficou cheio do Espírito Santo e profetizou com estas palavras:

68«Bendito o Senhor, Deus de Israel,
que visitou e redimiu o seu povo
69e nos deu um Salvador poderoso
na casa de David, seu servo,
70conforme prometeu pela boca dos seus santos,
os profetas dos tempos antigos;
71para nos libertar dos nossos inimigos
e das mãos de todos os que nos odeiam,
72para mostrar a sua misericórdia a favor dos nossos pais,
recordando a sua sagrada aliança;
73e o juramento que fizera a Abraão, nosso pai,
que nos havia de conceder esta graça:
74de o servirmos um dia, sem temor,
livres das mãos dos nossos inimigos,
75em santidade e justiça, na sua presença,
todos os dias da nossa vida.
76E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo,
porque irás à sua frente a preparar os seus caminhos,
77para dar a conhecer ao seu povo a salvação
pela remissão dos seus pecados,
78graças ao coração misericordioso do nosso Deus,
que das alturas nos visita como sol nascente,
79para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte
e dirigir os nossos passos no caminho da paz.»

80Entretanto, o menino crescia, o seu espírito robustecia-se, e vivia em lugares desertos, até ao dia da sua apresentação a Israel.

Capítulo 2

Nascimento de Jesus - 1Por aqueles dias, saiu um édito da parte de César Augusto para ser recenseada toda a terra. 2Este recenseamento foi o primeiro que se fez, sendo Quirino governador da Síria.

3Todos iam recensear-se, cada qual à sua própria cidade. 4Também José, deixando a cidade de Nazaré, na Galileia, subiu até à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e linhagem de David, 5a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que se encontrava grávida.

6E, quando eles ali se encontravam, completaram-se os dias de ela dar à luz 7e teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria.

8Na mesma região encontravam-se uns pastores que pernoitavam nos campos, guardando os seus rebanhos durante a noite. 9Um anjo do Senhor apareceu-lhes, e a glória do Senhor refulgiu em volta deles; e tiveram muito medo. 10O anjo disse-lhes: «Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: 11Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor. 12Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura.»

13De repente, juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste, louvando a Deus e dizendo: 14«Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do seu agrado.»

15Quando os anjos se afastaram deles em direcção ao Céu, os pastores disseram uns aos outros: «Vamos a Belém ver o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer.»

16Foram apressadamente e encontraram Maria, José e o menino deitado na manjedoura. 17Depois de terem visto, começaram a divulgar o que lhes tinham dito a respeito daquele menino. 18Todos os que ouviram se admiravam do que lhes diziam os pastores. 19Quanto a Maria, conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração. 20E os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes fora anunciado.


Circuncisão e apresentação de Jesus no templo - 21Quando se completaram os oito dias, para a circuncisão do menino, deram-lhe o nome de Jesus indicado pelo anjo antes de ter sido concebido no seio materno.

22Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, 23conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor» 24e para oferecerem em sacrifício, como se diz na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas.

25Ora, vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo estava nele. 26Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor. 27Impelido pelo Espírito, veio ao templo, quando os pais trouxeram o menino Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito.


Cântico de Simeão 28Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo:

29«Agora, Senhor, segundo a tua palavra,
deixarás ir em paz o teu servo,
30porque meus olhos viram a Salvação
31que ofereceste a todos os povos,
32Luz para se revelar às nações
e glória de Israel, teu povo.»

33Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele.

34Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; 35uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.»

36Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual era de idade muito avançada. Depois de ter vivido casada sete anos, após o seu tempo de donzela, 37ficou viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, participando no culto noite e dia, com jejuns e orações. 38Aparecendo nessa mesma ocasião, pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém.

39Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava, regressaram à Galileia, à sua cidade de Nazaré. 40Entretanto, o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele.


Jesus entre os doutores - 41Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa. 42Quando Ele chegou aos doze anos, subiram até lá, segundo o costume da festa. 43Terminados esses dias, regressaram a casa e o menino ficou em Jerusalém, sem que os pais o soubessem. 44Pensando que Ele se encontrava na caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. 45Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém, à sua procura.

46Três dias depois, encontraram-no no templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas. 47Todos quantos o ouviam, estavam estupefactos com a sua inteligência e as suas respostas.

48Ao vê-lo, ficaram assombrados e sua mãe disse-lhe: «Filho, porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura!» 49Ele respondeu-lhes: «Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?»

50Mas eles não compreenderam as palavras que lhes disse.

51Depois desceu com eles, voltou para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração. 52E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens.

Capítulo 3

Pregação de João Baptista (Mt 3,1-6; Mc 1,1-6; Jo 1,19-23) - 1No décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes, tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe, tetrarca da Itureia e da Traconítide, e Lisânias, tetrarca de Abilena, 2sob o pontificado de Anás e Caifás, a palavra de Deus foi dirigida a João, filho de Zacarias, no deserto.

3Começou a percorrer toda a região do Jordão, pregando um baptismo de penitência para remissão dos pecados, 4como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías:

«Uma voz clama no deserto:
‘Preparai o caminho do Senhor e endireitai as suas veredas.
5Toda a ravina será preenchida,
todo o monte e colina serão abatidos;
os caminhos tortuosos ficarão direitos
e os escabrosos tornar-se-ão planos.
6E toda a criatura verá a salvação de Deus.’»


Julgamento e conversão (Mt 3,7-10) - 7João dizia, então, às multidões que acorriam para serem baptizadas por ele: «Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera que está para chegar? 8Produzi frutos de sincero arrependimento e não comeceis a dizer para convosco: ‘Nós temos Abraão como pai’; pois eu vos digo que Deus pode, destas pedras, suscitar filhos a Abraão. 9O machado já se encontra à raiz das árvores; por isso, toda a árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo.»

10E as multidões perguntavam-lhe: «Que devemos, então, fazer?» 11Respondia-lhes: «Quem tem duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma, e quem tem mantimentos faça o mesmo.» 12Vieram também alguns cobradores de impostos, para serem baptizados e disseram-lhe: «Mestre, que havemos de fazer?» 13Respondeu-lhes: «Nada exijais além do que vos foi estabelecido.»

14Por sua vez, os soldados perguntavam-lhe: «E nós, que devemos fazer?» Respondeu-lhes: «Não exerçais violência sobre ninguém, não denuncieis injustamente e contentai-vos com o vosso soldo.»


Anúncio da vinda do Messias (Mt 3, 11-12; Mc 1,7-8; Jo 1,26-27) - 15Estando o povo na expectativa e pensando intimamente se ele não seria o Messias, 16João disse a todos: «Eu baptizo-vos em água, mas vai chegar alguém mais forte do que eu, a quem não sou digno de desatar a correia das sandálias. Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo e no fogo. 17Tem na mão a pá de joeirar, para limpar a sua eira e recolher o trigo no seu celeiro; mas queimará a palha num fogo inextinguível.» 18E, com estas e muitas outras exortações, anunciava a Boa-Nova ao povo.


Prisão de João Baptista (Mt 14,3-4; Mc 6,17-18) - 19Mas Herodes, o tetrarca, a quem João censurava por causa de Herodíade, mulher de seu irmão, e por todas as más acções que tinha praticado, 20acrescentou a todas as más acções, mais esta: encerrou João na prisão.


Baptismo de Jesus (Mt 3,13-17; Mc 1,9-11; Jo 1,31-34) - 21Todo o povo tinha sido baptizado; tendo Jesus sido baptizado também, e estando em oração, o Céu rasgou-se 22e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea, como uma pomba. E do Céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado; em ti pus todo o meu agrado.»


Genealogia de Jesus Cristo (Mt 1,1-17) - 23Ao iniciar o seu ministério, Jesus tinha cerca de trinta anos. Supunha-se que era filho de José; e este de Eli, 24e assim sucessivamente: de Matat, de Levi, de Melqui, de Janai, de José, 25de Matatias, de Amós, de Naum, de Esli, de Nagaí, 26de Maat, de Matatias, de Chimei, de Josec, de Jodá, 27de Joanan, de Ressa, de Zorobabel, de Salatiel, de Neri, 28de Melqui, de Adi, de Cosam, de Elmadam, de Er, 29de Jesua, de Eliézer, de Jorim, de Matat, de Levi, 30de Simeão, de Judá, de José, de Jonam, de Eliaquim, 31de Meleá, de Mená, de Matatá, de Natan, de David, 32de Jessé, de Obed, de Booz, de Salá, de Nachon, 33de Aminadab, de Admin, de Arni, de Hesron, de Peres, de Judá, 34de Jacob, de Isaac, de Abraão, de Tera, de Naor, 35de Serug, de Ragau, de Péleg, de Éber, de Chela, 36de Quenan, de Arfaxad, de Sem, de Noé, de Lamec, 37de Matusalém, de Henoc, de Jared, de Maleleel, de Quenan, 38de Enós, de Set, de Adão, de Deus.

Capítulo 4

Jesus tentado no deserto (Mt 4,1-11; Mc 1,12-13) - 1Cheio do Espírito Santo, Jesus retirou-se do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, 2onde esteve durante quarenta dias, e era tentado pelo diabo. Não comeu nada durante esses dias e, quando eles terminaram, sentiu fome. 3Disse-lhe o diabo: «Se és Filho de Deus, diz a esta pedra que se transforme em pão.» Jesus respondeu-lhe: 4«Está escrito: Nem só de pão vive o homem.»

5Levando-o a um lugar alto, o diabo mostrou-lhe, num instante, todos os reinos do universo 6e disse-lhe: «Dar-te-ei todo este poderio e a sua glória, porque me foi entregue e dou-o a quem me aprouver. 7Se te prostrares diante de mim, tudo será teu.» 8Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto.»

9Em seguida, conduziu-o a Jerusalém, colocou-o sobre o pináculo do templo e disse-lhe: «Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo, 10pois está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, a fim de que eles te guardem; 11e também: Hão-de levar-te nas suas mãos, com receio de que firas o teu pé nalguma pedra.»

12Disse-lhe Jesus: «Não tentarás ao Senhor, teu Deus.» 13Tendo esgotado toda a espécie de tentação, o diabo retirou-se de junto dele, até um certo tempo.


Início da pregação (Mt 4,12-17; Mc 1,14- 15) - 14Impelido pelo Espírito, Jesus voltou para a Galileia e a sua fama propagou-se por toda a região. 15Ensinava nas sinagogas e todos o elogiavam.


Jesus em Nazaré (Mt 13,54-58; Mc 6,1-6; Jo 4,44) - 16Veio a Nazaré, onde tinha sido criado. Segundo o seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para ler.

17Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, deparou com a passagem em que está escrito:

18«O Espírito do Senhor está sobre mim,
porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres;
enviou-me a proclamar a libertação aos cativos
e, aos cegos, a recuperação da vista;
a mandar em liberdade os oprimidos,
19a proclamar um ano favorável da parte do Senhor.»

20Depois, enrolou o livro, entregou-o ao responsável e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. 21Começou, então, a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir.» 22Todos davam testemunho em seu favor e se admiravam com as palavras repletas de graça que saíam da sua boca. Diziam: «Não é este o filho de José?»

23Disse-lhes, então: «Certamente, ides citar-me o provérbio: ‘Médico, cura-te a ti mesmo.’ Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaúm, fá-lo também aqui na tua terra.»

24Acrescentou, depois: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria. 25Posso assegurar-vos, também, que havia muitas viúvas em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a terra; 26contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas sim a uma viúva que vivia em Sarepta de Sídon. 27Havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi purificado senão o sírio Naaman.»

28Ao ouvirem estas palavras, todos, na sinagoga, se encheram de furor. 29E, erguendo-se, lançaram-no fora da cidade e levaram-no ao cimo do monte sobre o qual a cidade estava edificada, a fim de o precipitarem dali abaixo. 30Mas, passando pelo meio deles, Jesus seguiu o seu caminho.


Jesus em Cafarnaúm (Mt 7,28-29; Mc 1,21-28) - 31Desceu, depois, a Cafarnaúm, cidade da Galileia, e a todos ensinava ao sábado. 32E estavam maravilhados com o seu ensino, porque falava com autoridade.

33Encontrava-se na sinagoga um homem que tinha um espírito demoníaco, o qual se pôs a bradar em alta voz: 34«Ah! Que tens que ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem Tu és: o Santo de Deus!» 35Jesus ordenou-lhe: «Cala-te e sai desse homem!» O demónio, arremessando o homem para o meio da assistência, saiu dele sem lhe fazer mal algum.

36Dominados pelo espanto, diziam uns aos outros: «Que palavra é esta? Ordena com autoridade e poder aos espíritos malignos, e eles saem!» 37A sua fama espalhou-se por todos os lugares daquela região.


Cura da sogra de Simão e outros milagres (Mt 8,14-17; Mc 1,29-34) - 38Deixando a sinagoga, Jesus entrou em casa de Simão. A sogra de Simão estava com muita febre, e intercederam junto dele em seu favor. 39Inclinando-se sobre ela, ordenou à febre e esta deixou-a; ela erguendo-se, começou imediatamente a servi-los.

40Ao pôr do sol, todos quantos tinham doentes, com diversas enfermidades, levavam-lhos; e Ele, impondo as mãos a cada um deles, curava-os. 41Também de muitos saíam demónios, que gritavam e diziam: «Tu és o Filho de Deus!» Mas Ele repreendia-os e não os deixava falar, porque sabiam que Ele era o Messias.


Jesus deixa Cafarnaúm (Mt 4,23; Mc 1,35-39) - 42Ao romper do dia, saiu e retirou-se para um lugar solitário. As multidões procuravam-no e, ao chegarem junto dele, tentavam retê-lo, para que não se afastasse delas.

43Mas Ele disse-lhes: «Tenho de anunciar a Boa-Nova do Reino de Deus também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado.» 44E pregava nas sinagogas da Judeia.

Capítulo 5

Pesca milagrosa e chamamento dos primeiros discípulos (Mt 4,18-22; Mc 1,16-20; Jo 1,35-51; 21,1-11) - 1Encontrando-se junto do lago de Genesaré, e comprimindo-se à volta dele a multidão para escutar a palavra de Deus, 2Jesus viu dois barcos que se encontravam junto do lago. Os pescadores tinham descido deles e lavavam as redes. 3Entrou num dos barcos, que era de Simão, pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra e, sentando-se, dali se pôs a ensinar a multidão. 4Quando acabou de falar, disse a Simão: «Faz-te ao largo; e vós, lançai as redes para a pesca.» 5Simão respondeu: «Mestre, trabalhámos durante toda a noite e nada apanhámos; mas, porque Tu o dizes, lançarei as redes.»

6Assim fizeram e apanharam uma grande quantidade de peixe. As redes estavam a romper-se, 7e eles fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que os viessem ajudar. Vieram e encheram os dois barcos, a ponto de se irem afundando. 8Ao ver isto, Simão caiu aos pés de Jesus, dizendo: «Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador.» 9Ele e todos os que com ele estavam encheram-se de espanto por causa da pesca que tinham feito; o mesmo acontecera 10a Tiago e a João, filhos de Zebedeu e companheiros de Simão.

Jesus disse a Simão: «Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens.» 11E, depois de terem reconduzido os barcos para terra, deixaram tudo e seguiram Jesus.


Cura de um leproso (Mt 8,1-4; Mc 1,40-45) - 12Encontrando-se Jesus numa das cidades, apareceu um homem coberto de lepra. Ao ver Jesus, caiu com a face por terra e dirigiu-lhe esta súplica: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me.» 13Jesus estendeu a mão e tocou-lhe, dizendo: «Quero, fica purificado.» E imediatamente a lepra o deixou. 14Ordenou-lhe, então, que a ninguém o dissesse; no entanto, acrescentou: «Vai mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que Moisés ordenou, para lhe servir de prova.»

15A sua fama espalhava-se cada vez mais, juntando-se grandes multidões para o ouvirem e para que os curasse dos seus males. 16Mas Ele retirava-se para lugares solitários e aí se entregava à oração.


Cura de um paralítico (Mt 9,1-8; Mc 2,1-12; Jo 5,1-9) - 17Um dia, quando Jesus ensinava, estavam ali sentados alguns fariseus e doutores da Lei, que tinham vindo de todas as localidades da Galileia, da Judeia e de Jerusalém; e o poder do Senhor levava-o a realizar curas. 18Apareceram uns homens que traziam um paralítico num catre e procuravam fazê-lo entrar e colocá-lo diante dele. 19Não achando por onde introduzi-lo, devido à multidão, subiram ao tecto e, através das telhas, desceram-no com a enxerga, para o meio, em frente de Jesus.

20Vendo a fé daqueles homens, disse: «Homem, os teus pecados estão perdoados.» 21Os doutores da Lei e os fariseus começaram a murmurar, dizendo: «Quem é este que profere blasfémias? Quem pode perdoar pecados, a não ser Deus?» 22Mas Jesus, penetrando nos seus pensamentos, tomou a palavra e disse-lhes: «Que estais a pensar em vossos corações? 23Que é mais fácil dizer: ‘Os teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te e anda’? 24Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem, na terra, o poder de perdoar pecados, ordeno-te - disse ao paralítico: Levanta-te, pega na enxerga e vai para tua casa.»

25No mesmo instante, ergueu-se à vista deles, pegou na enxerga em que jazia e foi para a sua casa, glorificando a Deus. 26Todos ficaram estupefactos e glorificaram a Deus, dizendo cheios de temor: «Hoje vimos maravilhas!»


Chamamento de Levi (Mt 9,9-13; Mc 2,13-17) - 27Depois disto, Jesus saiu e viu um cobrador de impostos, chamado Levi, sentado no posto de cobrança. Disse-lhe: «Segue-me.» 28E ele, deixando tudo, levantou-se e seguiu-o.

29Levi ofereceu-lhe, em sua casa, um grande banquete; e encontravam-se com eles, à mesa, grande número de cobradores de impostos e de outras pessoas. 30Os fariseus e os doutores da Lei murmuravam, dizendo aos discípulos: «Porque comeis e bebeis com os cobradores de impostos e com os pecadores?»

31Jesus tomou a palavra e disse-lhes: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os que estão doentes. 32Não foram os justos que Eu vim chamar ao arrependimento, mas os pecadores.»


Discussão sobre o jejum (Mt 9,14-15; Mc 2,18-20) - 33Disseram-lhe eles: «Os discípulos de João jejuam frequentemente e recitam orações; o mesmo fazem também os dos fariseus. Os teus, porém, comem e bebem!»

34Jesus respondeu-lhes: «Podeis vós fazer jejuar os companheiros do esposo, enquanto o esposo está com eles? 35Virão dias em que o Esposo lhes será tirado; então, nesses dias, hão-de jejuar.»


O velho e o novo (Mt 9,16-17; Mc 2,21-22) - 36Disse-lhes também esta parábola: «Ninguém recorta um bocado de roupa nova para o deitar em roupa velha; aliás, irá estragar-se a roupa nova, e também à roupa velha não se ajustará bem o remendo que vem da nova. 37E ninguém deita vinho novo em odres velhos; se o fizer, o vinho novo rompe os odres e derrama-se, e os odres ficarão perdidos. 38Mas deve deitar-se vinho novo em odres novos. 39E ninguém, depois de ter bebido o velho, quer do novo, pois diz: ‘o velho é que é bom!’»

Capítulo 6

Jesus e o sábado (Mt 12,1-8; Mc 2,23-28) - 1Num dia de sábado, passando Jesus através das searas, os seus discípulos puseram-se a arrancar e a comer espigas, desfazendo-as com as mãos. 2Alguns fariseus disseram: «Porque fazeis o que não é permitido fazer ao sábado?»

3Jesus respondeu: «Não lestes o que fez David, quando teve fome, ele e os seus companheiros? 4Como entrou na casa de Deus e, tomando os pães da oferenda, comeu e deu aos seus companheiros esses pães que só aos sacerdotes era permitido comer?» 5E acrescentou: «O Filho do Homem é Senhor do sábado.»


Cura da mão paralisada (Mt 12,9-14; Mc 3,1-6) - 6Num outro sábado, entrou na sinagoga e começou a ensinar. Encontrava-se ali um homem cuja mão direita estava paralisada. 7Os doutores da Lei e os fariseus observavam-no, a ver se iria curá-lo ao sábado, para terem um motivo de acusação contra Ele.

8Conhecendo os seus pensamentos, Jesus disse ao homem da mão paralisada: «Levanta-te e põe-te de pé, aí no meio.» Ele levantou-se e ficou de pé. 9Disse-lhes Jesus: «Vou fazer-vos uma pergunta: O que é preferível, ao sábado: fazer bem ou fazer mal, salvar uma vida ou perdê-la?» 10Então, olhando-os a todos em volta, disse ao homem: «Estende a tua mão.» Ele estendeu-a, e a mão ficou sã.

11Os outros encheram-se de furor e falavam entre si do que poderiam fazer contra Jesus.


Eleição dos Doze (Mt 10,1-4; Mc 3,13-19; Jo 1,38-51; Act 1,13) -12Naqueles dias, Jesus foi para o monte fazer oração e passou a noite a orar a Deus.

13Quando nasceu o dia, convocou os discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolos: 14Simão, a quem chamou Pedro, e André, seu irmão; Tiago, João, Filipe e Bartolomeu; 15Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado o Zelote; 16Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que veio a ser o traidor.


Jesus e a multidão (Mt 4,24-25; Mc 3, 7-10) - 17Descendo com eles, deteve-se num sítio plano, juntamente com numerosos discípulos e uma grande multidão de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e de Sídon, 18que acorrera para o ouvir e ser curada dos seus males. Os que eram atormentados por espíritos malignos ficavam curados; 19e toda a multidão procurava tocar-lhe, pois emanava dele uma força que a todos curava.


Bem-aventuranças (Mt 5,1-12) - 20Erguendo os olhos para os discípulos, pôs-se a dizer:

«Felizes vós, os pobres,
porque vosso é o Reino de Deus.
21Felizes vós, os que agora tendes fome,
porque sereis saciados.
Felizes vós, os que agora chorais,
porque haveis de rir.
22Felizes sereis, quando os homens vos odiarem,
quando vos expulsarem,
vos insultarem
e rejeitarem o vosso nome como infame,
por causa do Filho do Homem.
23Alegrai-vos e exultai nesse dia,
pois a vossa recompensa será grande no Céu.
Era precisamente assim que os pais deles tratavam os profetas».

 

Imprecações
24«Mas ai de vós, os ricos,
porque recebestes a vossa consolação!
25Ai de vós, os que estais agora fartos,
porque haveis de ter fome!
Ai de vós, os que agora rides,
porque gemereis e chorareis!
26Ai de vós, quando todos disserem bem de vós!
Era precisamente assim que os pais deles tratavam os falsos profetas».


Amor aos inimigos. “Regra de ouro” (Mt 5,38-48) - 27«Digo-vos, porém, a vós que me escutais: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, 28abençoai os que vos amaldiçoam, rezai pelos que vos caluniam. 29A quem te bater numa das faces, oferece-lhe também a outra; e a quem te levar a capa, não impeças de levar também a túnica. 30Dá a todo aquele que te pede e, a quem se apoderar do que é teu, não lho reclames. 31O que quiserdes que os outros vos façam, fazei-lho vós também.

32Se amais os que vos amam, que agradecimento mereceis? Os pecadores também amam aqueles que os amam. 33Se fazeis bem aos que vos fazem bem, que agradecimento mereceis? Também os pecadores fazem o mesmo. 34E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, que agradecimento mereceis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, a fim de receberem outro tanto.

35Vós, porém, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem nada esperar em troca. Então, a vossa recompensa será grande e sereis filhos do Altíssimo, porque Ele é bom até para os ingratos e os maus. 36Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso.»


Não julgar os outros (Mt 7,1-2) - 37«Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados.

38Dai e ser-vos-á dado: uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso regaço. A medida que usardes com os outros será usada convosco.»


O verdadeiro discípulo (Mt 7,3-5) - 39Jesus disse-lhes ainda esta parábola: «Um cego pode guiar outro cego? Não cairão os dois nalguma cova? 40Não está o discípulo acima do mestre, mas o discípulo bem formado será como o mestre. 41Porque reparas no argueiro que está na vista do teu irmão, e não reparas na trave que está na tua própria vista? 42Como podes dizer ao teu irmão: ‘Irmão, deixa-me tirar o argueiro da tua vista’, tu que não vês a trave que está na tua? Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e, então, verás para tirar o argueiro da vista do teu irmão.»


A árvore e seus frutos (Mt 7,16-20; 12,33-37) - 43«Não há árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto. 44Cada árvore conhece-se pelo seu fruto; não se colhem figos dos espinhos, nem uvas dos abrolhos.

45O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o que é bom; e o mau, do mau tesouro tira o que é mau; pois a boca fala da abundância do coração.»


Edificar sobre a rocha (Mt 7,21.24-27) - 46«Porque me chamais ‘Senhor, Senhor’, e não fazeis o que Eu digo?

47Vou mostrar-vos a quem é semelhante todo aquele que vem ter comigo, escuta as minhas palavras e as põe em prática. 48É semelhante a um homem que edificou uma casa: cavou, aprofundou e assentou os alicerces sobre a rocha. Sobreveio uma inundação, a torrente arremessou-se com violência contra aquela casa mas não a abalou, por ter sido bem edificada.

49Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre a terra, sem alicerces. A torrente arremessou-se contra ela, e a casa imediatamente se desmoronou. E foi grande a sua ruína!»

Capítulo 7

Cura do servo do centurião (Mt 8,5-13; Jo 4,46-54) - 1Quando acabou de dizer todas as suas palavras ao povo, Jesus entrou em Cafarnaúm. 2Ora um centurião tinha um servo a quem dedicava muita afeição e que estava doente, quase a morrer. 3Ouvindo falar de Jesus, enviou-lhe alguns judeus de relevo para lhe pedir que viesse salvar-lhe o servo.

4Chegados junto de Jesus, suplicaram-lhe insistentemente: «Ele merece que lhe faças isso, 5pois ama o nosso povo e foi ele quem nos construiu a sinagoga.»

6Jesus acompanhou-os. Não estavam já longe da casa, quando o centurião lhe mandou dizer por uns amigos: «Não te incomodes, Senhor, pois não sou digno de que entres debaixo do meu tecto, pelo que 7nem me julguei digno de ir ter contigo. Mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. 8Porque também eu tenho os meus superiores a quem devo obediência e soldados sob as minhas ordens, e digo a um: ‘Vai’, e ele vai; e a outro: ‘Vem’, e ele vem; e ao meu servo: ‘Faz isto’, e ele faz.» 9Ouvindo estas palavras, Jesus sentiu admiração por ele e disse à multidão que o seguia: «Digo-vos: nem em Israel encontrei tão grande fé.» 10E, de regresso a casa, os enviados encontraram o servo de perfeita saúde.


Ressurreição do filho de uma viúva (1 Rs 17,17-24) - 11Em seguida, dirigiu-se a uma cidade chamada Naim, indo com Ele os seus discípulos e uma grande multidão. 12Quando estavam perto da porta da cidade, viram que levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era viúva; e, a acompanhá-la, vinha muita gente da cidade. 13Vendo-a, o Senhor compadeceu-se dela e disse-lhe: «Não chores.» 14Aproximando-se, tocou no caixão, e os que o transportavam pararam. Disse então: «Jovem, Eu te ordeno: Levanta-te!» 15O morto sentou-se e começou a falar. E Jesus entregou-o à sua mãe.

16O temor apoderou-se de todos, e davam glória a Deus, dizendo: «Surgiu entre nós um grande profeta e Deus visitou o seu povo!» 17E a fama deste milagre espalhou-se pela Judeia e por toda a região.


A pergunta de João Baptista (Mt 11,2-6) - 18Os discípulos de João informaram-no de todos estes factos. Chamando dois deles, 19João mandou-os ao Senhor com esta mensagem: «És Tu o que está para vir, ou devemos esperar outro?» 20Ao chegarem junto dele, os homens disseram: «João Baptista mandou-nos ter contigo para te perguntar: ‘És Tu o que está para vir, ou devemos esperar outro?’»

21Nessa altura, Jesus curava a muitos das suas doenças, padecimentos e espíritos malignos e concedia vista a muitos cegos. 22Tomando a palavra, disse aos enviados: «Ide contar a João o que vistes e ouvistes:

Os cegos vêem, os coxos andam,
os leprosos ficam limpos,
os surdos ouvem, os mortos ressuscitam,
a Boa-Nova é anunciada aos pobres;
23e feliz de quem não tiver em mim ocasião de queda.»


Jesus louva João Baptista (Mt 11,7-15) - 24Depois de os mensageiros de João se terem retirado, Jesus começou a dizer à multidão acerca dele: «Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? 25Que fostes ver, então? Um homem vestido com roupas finas? Os que usam trajes sumptuosos vivem regaladamente e estão nos palácios dos reis. 26Que fostes ver, então? Um profeta? Sim, Eu vo-lo digo, e mais do que um profeta. 27É aquele de quem está escrito:

‘Vou mandar à tua frente o meu mensageiro,
que preparará o caminho diante de ti.’

28Digo-vos: Entre os nascidos de mulher não há profeta maior do que João; mas, o mais pequeno do Reino de Deus é maior do que ele.»


Acolhimento do Baptista e de Jesus (Mt 11,16-19) - 29E todo o povo que o escutou, bem como os cobradores de impostos, reconheceram a justiça de Deus, recebendo o baptismo de João. 30Mas, não se deixando baptizar por ele, os fariseus e os doutores da Lei anularam os desígnios de Deus a seu respeito.

31«A quem, pois, compararei os homens desta geração? A quem são semelhantes? 32Assemelham-se a crianças que, sentadas na praça, se interpelam umas às outras, dizendo:

‘Tocámos flauta para vós,
e não dançastes!
Entoámos lamentações,
e não chorastes!’

33Veio João Baptista, que não come pão nem bebe vinho, e dizeis: ‘Está possesso do demónio!’ 34Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizeis: ‘Aí está um glutão e bebedor de vinho, amigo de cobradores de impostos e de pecadores!’ 35Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos.»


A pecadora arrependida (Mt 26,6-13; Mc 14,3-9; Jo 12,1-11) - 36Um fariseu convidou-o para comer consigo. Entrou em casa do fariseu, e pôs-se à mesa. 37Ora certa mulher, conhecida naquela cidade como pecadora, ao saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um frasco de alabastro com perfume. 38Colocando-se por detrás dele e chorando, começou a banhar-lhe os pés com lágrimas; enxugava-os com os cabelos e beijava-os, ungindo-os com perfume.

39Vendo isto, o fariseu que o convidara disse para consigo: «Se este homem fosse profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que lhe está a tocar, porque é uma pecadora!»

40Então, Jesus disse-lhe: «Simão, tenho uma coisa para te dizer.» «Fala, Mestre» - respondeu ele. 41«Um prestamista tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários e o outro cinquenta. 42Não tendo eles com que pagar, perdoou aos dois. Qual deles o amará mais?» 43Simão respondeu: «Aquele a quem perdoou mais, creio eu.» Jesus disse-lhe: «Julgaste bem.» 44E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: «Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela, porém, banhou-me os pés com as suas lágrimas e enxugou-os com os seus cabelos. 45Não me deste um ósculo; mas ela, desde que entrou, não deixou de beijar-me os pés. 46Não me ungiste a cabeça com óleo, e ela ungiu-me os pés com perfume. 47Por isso, digo-te que lhe são perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa pouco ama.» 48Depois, disse à mulher: «Os teus pecados estão perdoados.»

49Começaram, então, os convivas a dizer entre si: «Quem é este que até perdoa os pecados?» 50E Jesus disse à mulher: «A tua fé te salvou. Vai em paz.»

Capítulo 8

Mulheres servem o Senhor - 1Em seguida, Jesus ia de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, proclamando e anunciando a Boa-Nova do Reino de Deus. Acompanhavam-no os Doze 2e algumas mulheres, que tinham sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demónios; 3Joana, mulher de Cuza, administrador de Herodes; Susana e muitas outras, que os serviam com os seus bens.


Parábola do semeador (Mt 13,3-9; Mc 4,1-9) - 4Como estivesse reunida uma grande multidão, e de todas as cidades viessem ter com Ele, disse esta parábola: 5«Saiu o semeador para semear a sua semente. Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, foi pisada e as aves do céu comeram-na. 6Outra caiu sobre a rocha e, depois de ter germinado, secou por falta de humidade. 7Outra caiu no meio de espinhos, e os espinhos, crescendo com ela, sufocaram-na. 8Uma outra caiu em boa terra e, uma vez nascida, deu fruto centuplicado.»

Dizendo isto, clamava: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça!»


O porquê das parábolas (Mt 13,10-17; Mc 4,10-12) - 9Os discípulos perguntaram-lhe o significado desta parábola. 10Disse-lhes: «A vós foi dado conhecer os mistérios do Reino de Deus; mas aos outros fala-se-lhes em parábolas, a fim de que, vendo, não vejam e, ouvindo, não entendam


Explicação da parábola do semeador (Mt 13,18-23; Mc 4,13-20) - 11«O significado da parábola é este: a semente é a Palavra de Deus. 12Os que estão à beira do caminho são aqueles que ouvem, mas em seguida vem o diabo e tira-lhes a palavra do coração, para não se salvarem, acreditando. 13Os que estão sobre a rocha são os que, ao ouvirem, recebem a palavra com alegria; mas, como não têm raiz, acreditam por algum tempo e afastam-se na hora da provação. 14A que caiu entre espinhos são aqueles que ouviram, mas, indo pelo seu caminho, são sufocados pelos cuidados, pela riqueza, pelos prazeres da vida e não chegam a dar fruto. 15E a que caiu em terra boa são aqueles que, tendo ouvido a palavra, com um coração bom e virtuoso, conservam-na e dão fruto com a sua perseverança.»


A luz da Palavra (Mt 5,15; Mc 4,21-25) - 16«Ninguém acende uma candeia para a cobrir com um vaso ou para a esconder debaixo da cama; mas coloca-a no candelabro, para que vejam a luz aqueles que entram. 17Porque não há coisa oculta que não venha a manifestar-se, nem escondida que não se saiba e venha à luz.

18Vede, pois, como ouvis, porque àquele que tiver, ser-lhe-á dado; mas àquele que não tiver, ser-lhe-á tirado mesmo o que julga possuir.»


A família de Jesus (Mt 12,46-50; Mc 3,31-35; Jo 15,15) - 19Sua mãe e seus irmãos vieram ter com Ele, mas não podiam aproximar-se por causa da multidão. 20Anunciaram-lhe: «Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem ver-te.» 21Mas Ele respondeu-lhes: «Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática.»


A tempestade acalmada (Mt 8,23-27; Mc 4,35-41) - 22Certo dia, Jesus subiu com os seus discípulos para um barco e disse-lhes: «Passemos à outra margem do lago.» E fizeram-se ao largo. 23Enquanto navegavam, adormeceu. Um turbilhão de vento caiu sobre o lago, e eles ficaram inundados e em perigo. 24Aproximaram-se dele e, despertando-o, disseram: «Mestre, Mestre, estamos perdidos!»

E Ele, levantando-se, ameaçou o vento e as águas, que se acalmaram; e veio a bonança. 25Disse-lhes depois: «Onde está a vossa fé?» Cheios de medo e admirados, diziam entre eles: «Quem é este homem, que até manda nos ventos e nas águas, e eles obedecem-lhe?»


O possesso de Gerasa (Mt 8,28-34; Mc 5,1-20) - 26Abordaram à região dos gerasenos, situada defronte da Galileia. 27Quando desceu para terra, veio-lhes ao encontro um homem da cidade, possesso de vários demónios que, desde há muito, não se vestia nem vivia em casa, mas nos túmulos. 28Ao ver Jesus, prostrou-se diante dele, gritando em alta voz: «Que tens que ver comigo, Jesus, Filho de Deus Altíssimo? Peço-te que não me atormentes!» 29Jesus, efectivamente, ordenava ao espírito maligno que saísse do homem, pois apoderava-se dele com frequência. Prendiam-no com correntes e grilhões para o manterem em segurança, mas ele partia as cadeias e o demónio impelia-o para os desertos.

30Jesus perguntou-lhe: «Qual é o teu nome?» «Legião» - respondeu. Porque muitos demónios tinham entrado nele 31e suplicavam-lhe que não os mandasse ir para o abismo. 32Ora, andava ali uma grande vara de porcos a pastar no monte. Os demónios suplicaram a Jesus que os deixasse entrar neles. Ele permitiu. 33Saíram, pois, do homem, entraram nos porcos e a vara lançou-se do alto do precipício ao lago, e afogou-se. 34Ao verem o que se tinha passado, os guardas fugiram e levaram a notícia à cidade e aos campos.

35As pessoas saíram para ver o que tinha acontecido. Vieram ter com Jesus e encontraram o homem, de quem tinham saído os demónios, sentado a seus pés, vestido e em perfeito juízo. 36Os que tinham visto contaram-lhes como o possesso tinha sido salvo; 37e toda a população da região dos gerasenos pediu a Jesus que se afastasse deles, pois estavam possuídos de grande temor. Jesus subiu para o barco e afastou-se dali.

38O homem, de quem os demónios tinham saído, pediu-lhe para ficar com Ele. 39Mas Jesus despediu-o, dizendo: «Volta para a tua casa e conta o que Deus fez por ti.» E ele foi anunciando por toda a cidade tudo o que Jesus lhe fizera.


A filha de Jairo e a mulher com fluxo de sangue (Mt 9,18-26; Mc 5,21-43) - 40Quando regressou, Jesus foi recebido pela multidão, pois todos estavam à sua espera. 41Veio ao seu encontro um homem chamado Jairo, que era chefe da sinagoga. Caindo aos pés de Jesus, suplicava-lhe que entrasse em sua casa, 42porque tinha uma filha única, de uns doze anos, que estava a morrer. E, quando Ele se dirigia para lá, a multidão apertava-o, a ponto de o sufocar.

43Ora, certa mulher, que sofria de um fluxo de sangue havia doze anos, e que, tendo gasto com os médicos todos os seus haveres, não pudera ser curada por nenhum, 44aproximou-se por detrás e tocou-lhe na orla do seu manto; e, naquele mesmo instante, o fluxo de sangue parou. 45Jesus perguntou: «Quem me tocou?» Como todos o negassem, Pedro e os que estavam com Ele disseram: «Mestre, é a multidão que te aperta e empurra.» 46Jesus insistiu: «Alguém me tocou, pois senti que saiu de mim uma força.» 47Vendo que não tinha passado despercebida, a mulher aproximou-se, a tremer; e, lançando-se aos pés de Jesus, contou diante de todo o povo por que motivo lhe tinha tocado e como ficara imediatamente curada. 48Disse-lhe Jesus: «Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz.»

49Ainda Ele estava a falar, quando alguém da casa do chefe da sinagoga veio dizer: «A tua filha morreu; não continues a incomodar o Mestre.»

50Mas Jesus, que tinha ouvido tudo, respondeu: «Não tenhas receio; crê somente e ela será salva.» 51Ao chegar a casa, não deixou entrar ninguém com Ele, a não ser Pedro, João e Tiago, assim como o pai e a mãe da menina. 52Todos a choravam e pranteavam. Jesus disse: «Não choreis, porque ela não está morta, mas dorme.» 53E, por saberem que ela tinha morrido, troçavam de Jesus. 54Mas Ele, tomando-a pela mão, chamou-a, dizendo em voz alta: «Menina, levanta-te!» 55O espírito voltou-lhe, e imediatamente se levantou. Jesus mandou que lhe dessem de comer.

56Os pais ficaram estupefactos, e Ele ordenou-lhes que não dissessem a ninguém o que tinha acontecido.

Capítulo 9

Missão dos Doze (Mt 10,1.5-15; Mc 3,13-15; 6,7-13) - 1Tendo convocado os Doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demónios e para curarem doenças. 2Depois, enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar os doentes, 3e disse-lhes: «Nada leveis para o caminho: nem cajado, nem alforge, nem pão, nem dinheiro; nem tenhais duas túnicas. 4Em qualquer casa em que entrardes, ficai lá até ao vosso regresso. 5Quanto aos que vos não receberem, saí dessa cidade e sacudi o pó dos vossos pés, para servir de testemunho contra eles.»

6Eles puseram-se a caminho e foram de aldeia em aldeia, anunciando a Boa-Nova e realizando curas por toda a parte.


Herodes e Jesus (Mt 14,1-2; Mc 6,14-16) - 7O tetrarca Herodes ouviu dizer tudo o que se passava; e andava perplexo, pois alguns diziam que João ressuscitara dos mortos; outros, 8que Elias aparecera, e outros, que um dos antigos profetas ressuscitara.

9Herodes disse: «A João mandei-o eu decapitar, mas quem é este de quem oiço dizer semelhantes coisas?» E procurava vê-lo.


Jesus alimenta cinco mil pessoas (Mt 14,13-21; 15,32-38; Mc 6,34-44; 8,1-9; Jo 6,1-15) - 10Ao regressarem, os Apóstolos contaram-lhes tudo o que tinham feito. Tomando-os consigo, Jesus retirou-se para um lugar afastado na direcção de uma cidade chamada Betsaida. 11Mas as multidões, que tal souberam, seguiram-no. Jesus acolheu-as e pôs-se a falar-lhes do Reino de Deus, curando os que necessitavam. 12Ora, o dia começava a declinar.

Os Doze aproximaram-se e disseram-lhe: «Despede a multidão, para que, indo pelas aldeias e campos em redor, encontre alimento e onde pernoitar, pois aqui estamos num lugar deserto.» 13Disse-lhes Ele: «Dai-lhes vós mesmos de comer.» Retorquiram: «Só temos cinco pães e dois peixes; a não ser que vamos nós mesmos comprar comida para todo este povo!» 14Eram cerca de cinco mil homens.

Jesus disse aos discípulos: «Mandai-os sentar por grupos de cinquenta.» 15Assim procederam e mandaram-nos sentar a todos. 16Tomando, então, os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu, abençoou-os, partiu-os e deu-os aos discípulos, para que os distribuíssem à multidão. 17Todos comeram e ficaram saciados; e, do que lhes tinha sobrado, ainda recolheram doze cestos cheios.


Confissão messiânica de Pedro (Mt 16,13-20; Mc 8,27-30; Jo 6,67-71) - 18Um dia, quando orava em particular, estando com Ele apenas os discípulos, perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?» 19Responderam-lhe: «João Baptista; outros, Elias; outros, um dos antigos profetas ressuscitado.»

20Disse-lhes Ele: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Pedro tomou a palavra e respondeu: «O Messias de Deus.»


Primeiro anúncio da Paixão (Mt 16,21-23; Mc 8,31-33) - 21Ele proibiu-lhes formalmente de o dizerem fosse a quem fosse; 22e acrescentou:

«O Filho do Homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei, tem de ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar.»


Condições para seguir a Jesus (Mt 16,24-28; Mc 8,34-38; Jo 12,25-26) - 23Depois, dirigindo-se a todos, disse: «Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me. 24Pois, quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa há-de salvá-la. 25Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, perdendo-se ou condenando-se a si mesmo?

26Porque, se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, dele se envergonhará o Filho do Homem, quando vier na sua glória e na glória do Pai e dos santos anjos. 27E Eu vos asseguro: Alguns dos que estão aqui presentes não experimentarão a morte, enquanto não virem o Reino de Deus.»


Transfiguração de Jesus (Mt 17,1-9; Mc 9,2-10; 2 Pe 1,16-18) - 28Uns oito dias depois destas palavras, levando consigo Pedro, João e Tiago, Jesus subiu ao monte para orar. 29Enquanto orava, o aspecto do seu rosto modificou-se, e as suas vestes tornaram-se de uma brancura fulgurante. 30E dois homens conversavam com Ele: Moisés e Elias, 31os quais, aparecendo rodeados de glória, falavam da sua morte, que ia acontecer em Jerusalém.

32Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. 33Quando eles iam separar-se de Jesus, Pedro disse-lhe: «Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias.» Não sabia o que estava a dizer. 34Enquanto dizia isto, surgiu uma nuvem que os cobriu e, quando entraram na nuvem, ficaram atemorizados. 35E da nuvem veio uma voz que disse: «Este é o meu Filho predilecto. Escutai-o.»

36Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou só. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, nada contaram a ninguém do que tinham visto.


O jovem epiléptico (Mt 17,14-21; Mc 9,14-29) - 37No dia seguinte, ao descerem do monte, veio ao encontro de Jesus uma grande multidão. 38E, de entre a multidão, um homem gritou: «Mestre, peço-te que olhes para o meu filho, porque é o meu filho único. 39Um espírito apodera-se dele e, subitamente, começa a gritar e a sacudi-lo com violência, fazendo-o espumar. Só a custo se retira dele, deixando-o num estado miserável. 40Pedi aos teus discípulos que o expulsassem, mas eles não puderam.»

41Jesus respondeu: «Ó geração incrédula e pervertida! Até quando estarei convosco e terei de vos suportar? Traz cá o teu filho.»

42E, quando ele se aproximava, o demónio atirou-o ao chão e sacudiu-o violentamente. Jesus, porém, ameaçou o espírito maligno, curou o menino e entregou-o ao pai. 43E todos estavam maravilhados com a grandeza de Deus.


Segundo anúncio da Paixão (Mt 17,22-23; Mc 9,30-32) - Estando todos admirados com tudo o que Ele fazia, Jesus disse aos seus discípulos: 44«Prestai bem atenção ao que vou dizer-vos: o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens.»

45Eles, porém, não entendiam aquela linguagem, porque lhes estava velada, de modo que não compreendiam e tinham receio de o interrogar a esse respeito.


O maior no Reino (Mt 18,1-5; Mc 9,33-37; Jo 13,20) - 46Veio-lhes então ao pensamento qual deles seria o maior. 47Conhecendo Jesus os seus pensamentos, tomou um menino, colocou-o junto de si 48e disse-lhes:

«Quem acolher este menino em meu nome, é a mim que acolhe, e quem me acolher a mim, acolhe aquele que me enviou; pois quem for o mais pequeno entre vós, esse é que é grande.»


Tolerância do discípulo (Mc 9,38-40) - 49João tomou a palavra e disse: «Mestre, vimos alguém expulsar demónios em teu nome e impedimo-lo, porque ele não te segue juntamente connosco.» 50Jesus disse-lhe: «Não o impeçais, pois quem não é contra vós é por vós.»


Hostilidade dos samaritanos - 51Como estavam a chegar os dias de ser levado deste mundo, Jesus dirigiu-se resolutamente para Jerusalém 52e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos, a fim de lhe prepararem hospedagem. 53Mas não o receberam, porque ia a caminho de Jerusalém.

54Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram: «Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma55Mas Ele, voltando-se, repreendeu-os. 56E foram para outra povoação.


Exigências da vocação apostólica (Mt 8,19-22) - 57Enquanto iam a caminho, disse-lhe alguém: «Hei-de seguir-te para onde quer que fores.» 58Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.»

59E disse a outro: «Segue-me.» Mas ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar o meu pai.» 60Jesus disse-lhe: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos. Quanto a ti, vai anunciar o Reino de Deus.»

61Disse-lhe ainda outro: «Eu vou seguir-te, Senhor, mas primeiro permite que me despeça da minha família.» 62Jesus respondeu-lhe: «Quem olha para trás, depois de deitar a mão ao arado, não é apto para o Reino de Deus.»

Capítulo 10

Missão dos setenta e dois discípulos (9,1-6; Mt 9,37-38; 10,5-16; Mc 6,7-11) - 1Depois disto, o Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. 2Disse-lhes:

«A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe. 3Ide! Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos. 4Não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias; e não vos detenhais a saudar ninguém pelo caminho. 5Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ 6E, se lá houver um homem de paz, sobre ele repousará a vossa paz; se não, voltará para vós. 7Ficai nessa casa, comendo e bebendo do que lá houver, pois o trabalhador merece o seu salário.

Não andeis de casa em casa. 8Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei do que vos for servido, 9curai os doentes que nela houver e dizei-lhes: ‘O Reino de Deus já está próximo de vós.’ 101Mas, em qualquer cidade em que entrardes e não vos receberem, saí à praça pública e dizei: 11‘Até o pó da vossa cidade, que se pegou aos nossos pés, sacudimos, para vo-lo deixar. No entanto, ficai sabendo que o Reino de Deus já chegou.’»


Lamentação sobre as cidades do lago (Mt 10,40; 11,21-24) - 12«Digo-vos: Naquele dia haverá menos rigor para Sodoma do que para aquela cidade. 13Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sídon se tivessem operado os milagres que entre vós se realizaram, de há muito que teriam feito penitência, vestidas de saco e na cinza. 14Por isso, no dia do juízo, haverá mais tolerância para Tiro e Sídon do que para vós. 15E tu, Cafarnaúm, porventura serás exaltada até ao céu? É até ao inferno que serás precipitada.

16Quem vos ouve é a mim que ouve, e quem vos rejeita é a mim que rejeita; mas, quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou.»


Regresso dos discípulos - 17Os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria, dizendo: «Senhor, até os demónios se sujeitaram a nós, em teu nome!» 18Disse-lhes Ele:

«Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago. 19Olhai que vos dou poder para pisar aos pés serpentes e escorpiões e domínio sobre todo o poderio do inimigo; nada vos poderá causar dano. 20Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos, antes, por estarem os vossos nomes escritos no Céu.»


Revelação aos humildes (Mt 11,25-27; 13,16-17) - 21Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. 22Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho houver por bem revelar-lho.»

23Voltando-se, depois, para os discípulos, disse-lhes em particular: «Felizes os olhos que vêem o que estais a ver. 24Porque - digo-vos - muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não o ouviram!»


O mandamento do amor (Mt 22,34-40; Mc 12,28-34; Jo 13,33-35) - 25Levantou-se, então, um doutor da Lei e perguntou-lhe, para o experimentar: «Mestre, que hei-de fazer para possuir a vida eterna?» 26Disse-lhe Jesus: «Que está escrito na Lei? Como lês?»

27O outro respondeu: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.» 28Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem; faz isso e viverás.»


Parábola do bom samaritano - 29Mas ele, querendo justificar a pergunta feita, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?» 30Tomando a palavra, Jesus respondeu:

«Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto. 31Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. 32Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante.

33Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. 34Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. 35No dia seguinte, tirando dois denários, deu-os ao estalajadeiro, dizendo: ‘Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar.’ 36Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?»

37Respondeu: «O que usou de misericórdia para com ele.» Jesus retorquiu: «Vai e faz tu também o mesmo.»


Marta e Maria (Jo 11,1-3) - 38Continuando o seu caminho, Jesus entrou numa aldeia. E uma mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. 39Tinha ela uma irmã, chamada Maria, a qual, sentada aos pés do Senhor, escutava a sua palavra. 40Marta, porém, andava atarefada com muitos serviços; e, aproximando-se, disse: «Senhor, não te preocupa que a minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe, pois, que me venha ajudar.»

41O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; 42mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.»

Pesquisar no site

© 2014 Todos os direitos reservados.