Capítulo 81

A ALIANÇA ETERNA (50; Dt 29-31)

Este salmo tem o género literário de uma exortação profética. Começando por um hino (v.1-6) de convite à festa, é seguido de um oráculo divino (v.7-17) com alusões aos mandamentos e à experiência do deserto.

 

1Ao director do coro. Sobre a lira de Gat. De Asaf.
2Alegrai-vos em Deus, nossa força,
aclamai o Deus de Jacob.
3Cantai ao som do tamborim,
da cítara harmoniosa e da lira.
4Tocai a trombeta na festa da Lua-nova
e na Lua-cheia, dia da nossa festa.
5Isto é um preceito para Israel,
uma ordem do Deus de Jacob.
6Lei que Ele deu a José,
quando saiu da terra do Egipto.
Ouço uma língua desconhecida, que diz:
7«Aliviei os seus ombros do fardo,
as suas mãos livraram-se de carregar o cesto.
8Na angústia chamaste por mim e Eu salvei-te,
respondi-te escondido no trovão,
pus-te à prova junto das águas de Meribá.
9Ouve, meu povo, a minha advertência;
oxalá, Israel, me prestes ouvidos:
10‘Não terás contigo um deus estrangeiro,
nem te prostrarás diante de um deus estranho.
11Eu sou o SENHOR, teu Deus,
que te fez subir da terra do Egipto.
Abre a tua boca e Eu enchê-la-ei.’
12Mas o meu povo não quis ouvir-me;
Israel não quis obedecer.
13Por isso, entreguei-os à sua obstinação;
deixei-os seguir os seus caprichos.
14Se o meu povo me tivesse escutado!
Se Israel tivesse seguido os meus caminhos!
15Num instante, Eu humilharia os seus inimigos
e castigaria os seus adversários.
16Os inimigos do SENHOR arrastar-se-iam diante dele;
mas a sua sorte está traçada para sempre.
17Alimentaria o meu povo com a flor do trigo
e saciá-lo-ia com o mel silvestre.»

Capítulo 82

CONTRA OS MAUS JUÍZES

É um salmo colectivo de súplica, tendo em conta que termina por um pedido a Deus. Mas tem outros elementos que o tornam parecido com uma exortação profética e está assente sobre uma imagem na qual Deus preside ao julgamento do universo, chefiando uma corte divina, segundo o imaginário das culturas de Canaã.

 

1Salmo. De Asaf.
Deus preside à assembleia divina,
profere as suas sentenças no meio dos deuses:
2«Até quando julgareis injustamente
e favorecereis a causa dos ímpios?
3Defendei o oprimido e o órfão;
fazei justiça ao humilde e ao pobre.
4Libertai o oprimido e o necessitado,
e defendei-os das mãos dos pecadores.»
5Não, eles não percebem nem compreendem;
caminham nas trevas; abalam-se os fundamentos da terra.
6Eu disse: «Vós sois deuses,
todos vós sois filhos do Altíssimo.
7Mas morrereis como qualquer mortal;
caireis como qualquer príncipe.»
8Levanta-te, ó Deus, para julgar a terra,
porque todas as nações te pertencem.

Capítulo 83

O SENHOR E OS INIMIGOS DO SEU POVO (Ez 28; Zc 14,1-3)

Salmo colectivo de súplica, para que Deus proteja o povo israelita. O inimigo principal contra o qual se reza poderia ser a Assíria. O salmo parece ser anterior ao Exílio. Os argumentos e as imagens para sugerir a protecção de Deus são retirados da história dos prodígios vitoriosos do passado. Tais prodígios são recordados sobretudo pelos nomes dos protagonistas inimigos.

 

1Cântico. Salmo. De Asaf.
2Ó Deus, não fiques em silêncio;
não fiques mudo nem impassível!
3Vê como se agitam os teus inimigos
e como levantam a cabeça os que te odeiam.
4Formam planos astutos contra o teu povo,
conspiram contra os teus protegidos.
5Dizem: «Vamos exterminá-los de entre os povos,
para não voltar a mencionar-se o nome de Israel.»
6Assim decidiram de comum acordo
e estabeleceram uma aliança contra ti:
7as tendas de Edom e os ismaelitas,
Moab e os agarenos,
8Guebal, Amon e Amalec,
os filisteus com os habitantes de Tiro.
9Até os assírios se uniram a eles,
e juntaram a sua força à dos filhos de Lot.
10Trata-os como trataste Madian e Sísera,
ou como Jabin na ribeira de Quichon.
11Foram destruídos em En-Dor
e serviram de adubo para as terras.
12Trata os seus príncipes como fizeste com Oreb e Zeeb;
trata todos os seus chefes como trataste Zeba e Salmuna,
13porque eles tinham declarado:
«Tomemos para nós os campos de Deus.»
14Ó meu Deus, dispersa-os como folhas em redemoinho,
como palha levada pelo vento,
15como o fogo que devora a floresta,
como a chama que incendeia os montes.
16Persegue-os com a tua tempestade;
aterra-os com o teu turbilhão!
17Cobre-lhes a face de ignomínia,
de modo a implorarem o teu nome, SENHOR.
18Caia sobre eles a vergonha e a humilhação para sempre;
sejam confundidos e pereçam.
19Saibam que o teu nome é SENHOR.
Tu és o único Altíssimo sobre toda a terra!

Capítulo 84

SAUDADES DA CASA DE DEUS

Cântico de Sião. Nele se exprime todo o enlevo que produz sobre o peregrino o pensar no santuário do Senhor, em Sião. Repete nomes em plural, para designar o santuário, começando pela referência às “moradas” (v.2). Ora a habitação dos reis, no Oriente, costumava ter um conjunto numeroso de instalações que supõem naturalmente a metáfora do plural. E Deus é rei em Sião. O facto de no v.7 se referirem as primeiras chuvas poderia ser um indício para relacionar a origem do salmo com a festa das Tendas, no início do Outono.

 

1Ao director do coro. Sobre a lira de Gat. Dos filhos de Coré. Salmo.
2Como são amáveis as tuas moradas,
ó SENHOR do universo!
3A minha alma suspira e tem saudades
dos átrios do SENHOR;
o meu coração e a minha carne
cantam de alegria ao Deus vivo!
4Até os pássaros encontram abrigo,
e as andorinhas um ninho, para os seus filhos,
junto dos teus altares, SENHOR do universo,
meu rei e meu Deus.
5Felizes os que habitam na tua casa
e te louvam sem cessar.
6Felizes os que em ti encontram a sua força
e os que desejam peregrinar até ao monte Sião.
7Ao atravessarem o Vale do Pranto
farão dele um oásis,
que as primeiras chuvas cobrirão de dádivas.
8Eles avançam com entusiasmo crescente,
até se apresentarem em Sião diante de Deus.
9SENHOR, Deus do universo, escuta a minha oração,
presta-me ouvidos, ó Deus de Jacob.
10Ó Deus, olha para o nosso escudo,
põe os olhos no rosto do teu ungido.
11Um dia em teus átrios vale por mil;
antes quero ficar no limiar da casa do meu Deus,
do que habitar nas tendas dos maus.
12Porque o SENHOR é sol e é escudo;
Ele concede a graça e a glória;
o SENHOR não recusa os seus favores
aos que vivem com rectidão.
13Ó SENHOR do universo,
feliz o homem que em ti confia!

Capítulo 85

ORAÇÃO PELA RESTAURAÇÃO DE ISRAEL

Salmo colectivo de súplica, para que Deus trate a sua terra com benevolência. Indícios vários apontariam para a composição do salmo na época da restauração, a seguir ao Exílio. Por isso, ele insiste nos sinais de esperança e da confiança.

 

1Ao director do coro. Dos filhos de Coré. Salmo.
2SENHOR, Tu abençoaste a tua terra;
restauraste a prosperidade de Jacob.
3Perdoaste as culpas do teu povo,
esqueceste todas as suas faltas;
4acalmaste a tua indignação,
dominaste o furor da tua ira.
5Volta-te para nós, ó Deus, nosso salvador,
afasta de nós a tua indignação!
6Estarás para sempre indignado contra nós,
ou irás prolongar pelos séculos o teu furor?
7Não tornarás a dar-nos a vida,
para que o teu povo se alegre em ti?
8Mostra-nos, SENHOR, a tua misericórdia,
concede-nos a tua salvação.
9Prestarei atenção ao que diz o SENHOR Deus;
Ele promete paz para o seu povo e para os seus amigos
e para todos os que se voltam para Ele de coração.
10A salvação está perto dos que o temem
e a sua glória habitará na nossa terra.
11O amor e a fidelidade vão encontrar-se.
Vão beijar-se a justiça e a paz.
12Da terra vai brotar a verdade
e a justiça descerá do céu.
13O próprio SENHOR nos dará os seus bens
e a nossa terra produzirá os seus frutos.
14A justiça caminhará diante dele
e a paz, no rasto dos seus passos.

Capítulo 86

ORAÇÃO DO HUMILDE

Este salmo individual de súplica mostra um espírito particularmente sereno. O salmista refere algumas preocupações (v.7); mas sobretudo exprime a confiança em Deus e a esperança. De tal modo que alguns autores pensam tratar-se de um salmo tardio, para o qual se aproveitaram os temas mais comuns neste género de orações, resultando um verdadeiro modelo.

 

1Oração de David.
Inclina, SENHOR, os teus ouvidos e responde-me,
porque estou triste e necessitado.
2Protege a minha vida, porque te sou fiel;
salva o teu servo, que em ti confia.
3Senhor, tem compaixão de mim,
que a ti clamo todo o dia.
4Alegra o espírito do teu servo,
pois para ti, Senhor, elevo a minha alma.
5Porque Tu, Senhor, és bom e indulgente,
cheio de misericórdia para quantos te invocam.
6Senhor, ouve a minha oração,
atende os gritos da minha súplica.
7Por ti clamo, no dia da minha angústia,
na certeza de que me responderás.
8Não há entre os deuses quem se compare a ti, Senhor;
nada há que se compare às tuas obras.
9Todas as nações, que criaste, virão adorar-te, Senhor,
e darão glória ao teu nome.
10Porque só Tu és grande
e realizas maravilhas.
11Ensina-me, SENHOR, o teu caminho
e caminharei na verdade.
Dirige o meu coração, para que honre o teu nome.
12Senhor, meu Deus, de todo o coração hei-de louvar-te
e glorificar o teu nome para sempre.
13Pois a tua misericórdia foi grande para comigo;
livraste a minha vida das profundezas da morte.
14Ó Deus, os soberbos levantam-se contra mim,
a turba dos prepotentes atenta contra a minha vida,
sem fazer nenhum caso de ti.
15Mas Tu, Senhor, és um Deus misericordioso e compassivo,
paciente e grande em bondade e fidelidade.
16Volta-te para mim e tem compaixão;
dá a tua força ao teu servo
e salva o filho da tua serva.
17Dá-me uma prova da tua bondade,
para que os meus inimigos sejam confundidos
ao verem que Tu, SENHOR, me ajudas e confortas.

Capítulo 87

ELOGIO DE SIÃO

Este salmo tem os sinais claros de um Cântico de Sião. Sião destaca-se no salmo e aparece como centro do universo. Por verem alguma dimensão real nas referências aos vários países neste salmo, alguns autores foram levados a pensar que ele poderia ser um cântico da festa de Pentecostes, caracterizada pela presença de peregrinos de muitas partes do mundo.

 

1Dos filhos de Coré. Salmo. Cântico.
Fundada por Ele sobre o monte santo,
2o SENHOR ama a cidade de Sião
mais que todas as moradas de Jacob.
3Gloriosas coisas se dizem de ti,
ó cidade de Deus.
4Incluirei Raab e Babilónia
na lista dos que me conhecem;
a Filisteia, Tiro e a Etiópia,
uns e outros ali nasceram.
5Mas de Sião há-de dizer-se: «Todos lá nasceram;
o próprio Altíssimo a fortaleceu.»
6O SENHOR escreverá no registo dos povos,
anotando: «Este nasceu em Sião.»
7E eles dirão, cantando e dançando:
«A minha única fonte está em ti.»

Capítulo 88

ORAÇÃO DE UMA ALMA EM GRANDE TRISTEZA

Salmo individual de súplica. As queixas e angústias não são retóricas e distantes, servindo para compor um quadro de oração ou justificando a proclamação de uma atitude de confiança em Deus. A ameaça do sofrimento é aqui insistente até ao fim. Este e o Sl 39 têm alguma semelhança com o espírito de Job.

 

1Cântico. Salmo dos filhos de Coré. Ao director do coro.
Em coro. Poema. De Heman, o ezraíta.
2SENHOR, meu Deus e salvador,
eu clamo em tua presença, dia e noite.
3Chegue junto de ti a minha oração,
inclina o teu ouvido à minha súplica.
4A minha alma está saturada de males
e a minha vida chegou às portas da morte.
5Estou no rol dos que descem à sepultura,
sou um homem já sem forças.
6Estou abandonado entre os mortos,
como os defuntos que jazem no sepulcro,
de quem Tu já não te lembras,
uma vez sacudidos da tua mão.
7Lançaste-me na cova mais profunda,
na escuridão do abismo.
8Pesa sobre mim a tua indignação,
humilhas-me com tantas aflições.
9Afastaste de mim os meus amigos,
fizeste-me insuportável para eles;
estou como um preso sem poder sair.
10Os meus olhos apagaram-se de tanto sofrer:
todos os dias te invoco, SENHOR,
estendo para ti as minhas mãos.
11Acaso farás prodígios para os mortos?
Irão os defuntos levantar-se para te louvar?
12Poderá a tua bondade ser exaltada no sepulcro
ou a tua fidelidade, na mansão dos mortos?
13As tuas maravilhas serão conhecidas nas trevas
e a tua justiça, na terra do esquecimento?
14Eu, porém, SENHOR, clamo por ti;
de manhã, a ti apresento a minha oração.
15Porque me rejeitas, SENHOR,
e escondes de mim o teu rosto?
16Infeliz de mim, que agonizo desde a juventude;
já não posso mais suportar os teus castigos.
17Sobre mim passou a tua indignação
e os teus terrores aniquilaram-me.
18Como vagas, rodeiam-me todo o dia,
e todos juntos caem sobre mim.
19Afastaste de mim amigos e companheiros,
e a minha companhia são as trevas.

Capítulo 89

PROMESSAS DE DEUS AO SEU UNGIDO (44; 74; 2 Sm 7; 23,1-7)

Salmo real. O hino inicial (v.2-19) celebra o próprio Deus como rei do universo e de Israel, em particular. Depois celebra-se a antiga aliança que Deus estabelecera com a dinastia de David (2 Sm 7), prometendo que a manteria firme para sempre. Este optimismo destoa da lamentação e súplica com que o salmo termina (v.39-53). Quer dizer que a situação em que ele foi composto não era tranquila, fazendo-nos pensar numa época próxima, antes ou depois, da destruição de Jerusalém.

 

1Poema de Etan, o ezraíta.
2Hei-de cantar para sempre o amor do SENHOR;
a todas as gerações anunciarei a sua fidelidade.
3Proclamarei que o teu amor é para sempre,
e que a tua fidelidade é eterna como o céu.
4«Fiz uma aliança com o meu eleito,
jurei a David, meu servo:
5‘Estabelecerei a tua descendência para sempre
e o teu trono há-de manter-se eternamente’.»
6Os céus celebram as tuas maravilhas, SENHOR,
e a assembleia dos santos, a tua fidelidade.
7Quem, nos céus, poderá comparar-se ao SENHOR?
Quem, entre os deuses, se lhe poderá igualar?
8Deus é temível na assembleia dos santos,
maior e mais temível que todos os que o rodeiam.
9Ó SENHOR, Deus do universo, quem é como Tu?
Estás rodeado de firmeza e fidelidade.
10Tu dominas a fúria dos mares
e amainas as suas ondas embravecidas.
11Esmagaste Raab como um cadáver,
dispersaste os inimigos com o teu braço poderoso.
12O céu é teu, e tua é a terra;
formaste o mundo e tudo o que ele contém.
13Tu criaste o Norte e o Sul;
o Tabor e o Hermon cantam o teu nome.
14O teu braço é poderoso; a tua mão, robusta;
excelsa é a tua mão direita.
15A rectidão e a justiça são a base do teu trono;
o amor e a fidelidade caminham à tua frente.
16Feliz da nação que sabe louvar-te, SENHOR,
que sabe caminhar na luz do teu rosto.
17Em teu nome rejubila a toda a hora
e se gloria com a tua justiça.
18Na verdade, Tu és a nossa honra e a nossa força;
com o teu favor alcançaremos a vitória.
19O nosso escudo é o SENHOR;
o nosso rei é o Santo de Israel!
20Outrora declaraste, em visão, aos teus fiéis:
«Impus o meu diadema a um herói;
escolhi um eleito de entre o povo.
21Encontrei David, meu servo,
e ungi-o com óleo santo.
22A minha mão estará sempre com ele
e o meu braço há-de torná-lo forte.
23O inimigo não o há-de surpreender,
nem o homem perverso há-de humilhá-lo.
24Derrubarei diante dele os seus opressores
e destruirei os que o odeiam.
25A minha fidelidade e o meu amor estarão com ele;
pelo meu nome crescerá o seu poder.
26Estenderei o seu poder sobre os mares,
e sobre os rios, o seu domínio.
27Ele me invocará, dizendo: ‘Tu és meu pai,
és o meu Deus e o rochedo da minha salvação!’
28E Eu farei dele o primogénito,
o maior entre os reis da terra.
29Hei-de assegurar-lhe para sempre o meu favor
e a minha aliança com ele há-de manter-se firme.
30Estabelecerei para sempre a sua descendência
e o seu trono terá a duração dos céus.
31Se os seus filhos abandonarem a minha lei
e não seguirem os meus preceitos;
32se violarem as minhas ordens
e não guardarem os meus mandamentos,
33então hei-de castigar severamente as suas rebeldias
e fazê-los sofrer pelas suas maldades.
34Mas não lhes retirarei o meu favor
nem faltarei à minha promessa.
35Não quebrarei a minha aliança
nem mudarei a palavra dos meus lábios.
36Jurei uma vez pela minha santidade;
de forma alguma enganarei David!
37A sua descendência permanecerá para sempre
e o seu trono será como o Sol, na minha presença;
38estará firme para sempre como a Lua,
testemunha fiel no firmamento.»
39No entanto, ó Deus, Tu rejeitaste e abandonaste o teu ungido
e te aborreceste com ele.
40Renegaste a aliança com o teu servo,
deitaste por terra a sua coroa.
41Derrubaste todos os seus muros,
reduziste a escombros as suas fortalezas.
42Todos os transeuntes o saquearam;
escarneceram dele os seus vizinhos.
43Ergueste a mão dos seus inimigos,
encheste de alegria todos os seus adversários.
44Mas a ele embotaste-lhe o fio da espada
e não o auxiliaste na batalha.
45Fizeste cessar o seu esplendor,
deitaste por terra o seu trono.
46Abreviaste os dias da sua juventude
e cobriste-o de vergonha.
47Até quando, SENHOR, continuarás escondido?
Até quando arderá a tua ira como fogo?
48Lembra-te que é breve a minha existência!
Foi para isto que criaste os seres humanos?
49Quem poderá viver sem ver a morte?
Quem se poderá livrar das garras do abismo?
50Onde estão, Senhor, os teus favores de outrora,
que juraste a David pela tua fidelidade?
51Lembra-te, Senhor, das ofensas contra o teu servo;
levo no peito os ultrajes de todas as nações,
52com que os teus inimigos nos ofendem, SENHOR,
e insultam a cada passo o teu ungido!
53Bendito seja o SENHOR para sempre!
Ámen! Ámen!

Capítulo 90

BREVIDADE DA VIDA HUMANA

Salmo colectivo de súplica. No entanto, está elaborado com um espírito e um gosto marcadamente sapienciais. De facto, vários temas apontam para o horizonte da meditação sapiencial. E há pouca concretização de problemas urgentes que levem a uma oração de súplica. Esta desenvolve-se, tendo como base temas genéricos da experiência humana. Parece ser uma súplica em tempo de paz. O seu ar antológico dar-lhe-ia um aspecto recente. Mas há quem veja nele argumentos para uma composição em época antiga.

 

1Oração de Moisés, o homem de Deus.
Senhor, Tu foste o nosso refúgio
de geração em geração.
2Antes de surgirem as montanhas,
antes de nascerem a terra e o mundo,
desde sempre e para sempre Tu és Deus.
3Tu podes reduzir o homem ao pó,
dizendo apenas: «Voltai ao pó, seres humanos!»
4Mil anos, diante de ti,
são como o dia de ontem, que passou,
ou como uma vigília da noite.
5Tu os arrebatas como um sonho,
ou como a erva que de manhã verdeja,
6como a erva que de manhã brota vicejante,
mas à tarde está murcha e seca.
7Na verdade, somos consumidos pela tua ira,
ficamos angustiados pelo teu furor!
8Colocaste as nossas culpas diante de ti,
os nossos pecados ocultos, à luz da tua face.
9Todos os nossos dias se esvanecem pela tua indignação;
os nossos anos dissipam-se como um suspiro.
10A duração da nossa vida poderá ser de setenta anos
e, para os mais fortes, de oitenta;
mas a maior parte deles é trabalho e miséria,
passam depressa e nós desaparecemos.
11Mesmo temendo-te e respeitando-te,
quem poderá compreender a tua ira e indignação?
12Ensina-nos a contar assim os nossos dias,
para podermos chegar ao coração da sabedoria.
13Volta, SENHOR! Até quando...?
Tem compaixão dos teus servos.
14Sacia-nos pela manhã com os teus favores,
para podermos cantar e exultar todos os dias.
15Alegra-nos pelos dias em que nos afligiste
e pelos anos em que sofremos a desgraça.
16Manifesta aos teus servos a tua obra,
e aos filhos deles, o teu esplendor.
17Venham sobre nós as graças do Senhor, nosso Deus!
Confirma em nosso favor a obra das nossas mãos;
faz prosperar a obra das nossas mãos.

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