Capítulo 71
PRECE DE UM ANCIÃO PERSEGUIDO (91)
Salmo individual de súplica. Apresenta-nos alguém que, sujeito a dolorosas perseguições, mantém e reafirma a sua confiança em Deus. A mesma confiança manifesta-se no facto de este salmo não fazer os habituais ataques e ameaças contra os seus inimigos.
-
1Em ti, SENHOR, me refugio,
- jamais serei confundido.
-
2Pela tua justiça, livra-me e protege-me;
- inclina para mim os teus ouvidos e salva-me.
-
3Sê a minha protecção e o refúgio onde me acolho.
- Tu prometeste salvar-me,
- pois és o meu rochedo e a minha fortaleza.
-
4Meu Deus, livra-me das mãos do ímpio,
- das mãos do opressor e do violento.
-
5Tu és a minha esperança, ó Senhor DEUS,
- e a minha confiança desde a juventude.
-
6Em ti me apoio desde o seio materno,
- desde o ventre materno és o meu protector;
- és o objecto contínuo do meu louvor.
-
7Sou motivo de admiração para muitos,
- mas Tu és o meu refúgio.
-
8A minha boca está cheia do teu louvor;
- todo o dia proclamo a tua glória.
-
9Não me rejeites no tempo da velhice,
- não me abandones, quando já não tiver forças.
-
10Os meus inimigos falam contra mim,
- e os que espiam os meus passos conspiram.
-
11E dizem: «Deus abandonou-o; persigam-no,
- prendam-no, pois não há quem o salve!»
-
12Ó Deus, não te afastes de mim!
- Meu Deus, vem depressa socorrer-me!
-
13Sejam confundidos e destruídos
- os que atentam contra a minha vida;
-
cubram-se de opróbrio e vergonha
- os que procuram a minha desgraça.
-
14Eu, porém, esperarei continuamente
- e, dia após dia, mais te louvarei.
-
15A minha boca proclamará a tua justiça,
- e todo o dia anunciarei a tua salvação,
- sabendo bem que ela é inenarrável.
-
16Narrarei esses prodígios, Senhor, DEUS,
- recordarei a tua justiça sem igual.
-
17Instruíste-me, ó Deus, desde a minha juventude
- e até hoje anunciei sempre as tuas maravilhas.
-
18Agora, na velhice e de cabelos brancos,
- não me abandones, ó Deus,
-
para que anuncie a esta geração o teu poder
- e às gerações futuras, a tua força.
-
19Ó Deus, a tua generosidade chega até aos céus,
- pois fizeste grandes coisas:
- quem como Tu, ó Deus?
-
20Fizeste-me sofrer grandes males e aflições mortais;
- mas de novo me darás a vida;
- das profundezas da terra me levantarás outra vez.
-
21Aumentarás a minha dignidade,
- aproximando-te para me confortar.
-
22Por isso, quero louvar-te ao som da harpa,
- louvar a tua fidelidade, ó meu Deus;
- quero cantar-te ao som da cítara, ó Santo de Israel.
-
23Ao cantar-te salmos, os meus lábios vibrarão de alegria,
- e também todo o meu ser, que Tu salvaste.
-
24A minha língua cantará, dia a dia, a tua justiça,
- pois ficaram confundidos e cheios de vergonha
- os que procuravam a minha desgraça.
Capítulo 72
ORAÇÃO PELO REI IDEAL (2 Sm 23,1-7)
Salmo real e atribuído a Salomão (ver 127). Daí ser frequentemente utilizado em contexto messiânico. É provável que tenha sido composto antes do Exílio, no tempo em que existiam ainda reis em Israel. No entanto, a descrição que faz do reino pode ter traços bastante idealizados.
- 1De Salomão.
-
Ó Deus, concede ao rei a tua rectidão
- e a tua justiça ao filho do rei,
-
2para que julgue o teu povo com justiça
- e os teus pobres com equidade.
-
3Que os montes tragam a paz ao povo,
- e as colinas, a justiça.
-
4Que o rei proteja os humildes do povo,
- ajude os necessitados e esmague os opressores!
-
5Que ele possa contemplar-te como o Sol
- e como a Lua, de geração em geração.
-
6Que o rei seja como a chuva sobre os campos,
- como os aguaceiros que regam a terra.
-
7Em seus dias florescerá a justiça
- e uma grande paz até ao fim dos tempos.
-
8Dominará de um ao outro mar,
- do grande rio até aos confins da terra.
-
9Diante dele se curvarão os inimigos
- e os seus adversários hão-de prostrar-se por terra.
-
10Os reis de Társis e das ilhas oferecerão tributos;
- os reis de Sabá e de Seba trarão suas ofertas.
-
11Todos os reis se prostrarão diante dele;
- todas as nações o servirão.
-
12Ele socorrerá o pobre que o invoca
- e o indigente que não tem quem o ajude.
-
13Terá compaixão do humilde e do pobre
- e salvará a vida dos oprimidos.
-
14Há-de livrá-los da opressão e da violência,
- porque o seu sangue é precioso a seus olhos.
-
15Enquanto viver, ser-lhe-á dado ouro de Sabá!
- Por ele hão-de rezar sempre
- e todos os dias será abençoado.
- 16Haverá nos campos fartura de trigo,
-
ondulando pelo cimo dos montes;
- tudo se cobrirá de frutos, como o Líbano;
- as cidades florescerão como a erva dos prados.
-
17O seu nome permanecerá pelos séculos
- e durará enquanto o Sol brilhar;
-
todos nele se sentirão abençoados;
- todos os povos o hão-de bendizer!
-
18Bendito seja o SENHOR, Deus de Israel,
- o único que realiza maravilhas.
-
19Bendito seja para sempre o seu nome glorioso
- e a terra inteira se encha da sua glória!
- Ámen! Ámen!
- 20Terminaram as orações de David, filho de Jessé.
Capítulo 73
O PROBLEMA DA RETRIBUIÇÃO
Este salmo pode considerar-se uma meditação sapiencial. Enfrenta a questão do bom ou mau comportamento humano e do prémio e castigo, que nem sempre parecem ser aplicados com toda a justiça. E acentua o optimismo e a confiança em Deus como solução (Jr 12,1-6; Hab 1,13; Ml 3,15), tomando uma posição mais confiante do que aquela que se exprime no livro de Job.
- 1Salmo. De Asaf.
-
Como Deus é bom para Israel,
- para os que têm coração puro!
-
2Ai de mim! Os meus pés estavam quase a resvalar,
- por um triz não escorreguei,
-
3ao sentir inveja dos ímpios,
- ao ver a prosperidade dos maus.
-
4Para eles não há aflições mortais,
- os seus corpos são robustos e sadios.
-
5Não sofrem as contrariedades da vida,
- nem são atormentados como os outros homens.
-
6Por isso, enchem-se de orgulho
- e ataviam-se com o manto da violência.
-
7A maldade brota-lhes do coração;
- do seu coração transbordam más intenções.
-
8Zombam e falam com malícia;
- falam com altivez e oprimem.
-
9Com a boca protestam contra o céu
- e a sua língua percorre a terra.
-
10Por isso, os seus seguidores se voltam para eles
- e bebem tudo como se fosse água.
-
11Eles dizem: «Deus não sabe disto;
- o Altíssimo não é conhecedor de nada.»
-
12São assim os pecadores:
- sempre tranquilos e a amontoar riquezas!
-
13De nada me serve ter um coração puro
- e conservar inocentes as minhas mãos!
-
14Sou posto à prova a toda a hora;
- todas as manhãs sou castigado.
-
15Se eu pensasse: «Vou falar como eles»,
- atraiçoaria a geração dos teus filhos.
-
16Reflecti sobre estas coisas para as entender,
- mas foi muito penoso para mim.
-
17Só quando entrei no santuário de Deus,
- compreendi o fim que os espera.
-
18Na verdade, Tu os colocas em plano escorregadio
- e os empurras para a desgraça.
-
19Num momento, ficarão destruídos!
- Acabarão transidos de pavor!
-
20Como quando alguém desperta de um sonho,
- quando te levantares, Senhor, desprezarás a sua imagem.
-
21Outrora, o meu coração exasperava-se
- e consumiam-se as minhas entranhas.
-
22Eu era um louco, sem entendimento,
- como um animal na tua presença.
-
23No entanto, estive sempre contigo,
- e Tu me conduziste pela mão;
-
24guiaste-me com o teu conselho
- e, por fim, me receberás na tua glória.
-
25Quem mais tenho eu no céu?
- Na terra só desejo estar contigo.
-
26Ainda que o meu corpo e o meu coração desfaleçam,
- Deus será sempre o meu refúgio e a minha herança.
-
27Hão-de perder-se os que se afastam de ti;
- Tu exterminas os que te renegam.
-
28Para mim, a felicidade é estar perto de Deus.
- Em ti, Senhor DEUS, pus a minha confiança,
- para proclamar todas as tuas obras.
Capítulo 74
LAMENTAÇÃO SOBRE AS RUÍNAS DO TEMPLO (44; 102; Sir 36,1-17; Lm 2)
Salmo colectivo de súplica, na qual se lamenta uma ofensa de alguns inimigos contra o santuário do Senhor. Para inspirar a confiança, lembra os prodígios realizados por Deus no tempo da saída do Egipto e da entrada na terra de Canaã. Quanto aos acontecimentos a que o salmo faria alusão, as opiniões divergem, apontando-se a conquista por Nabucodonosor em 587 a.C., ou a de Antíoco IV em 170 a.C., ou ainda outro ataque menos importante que estes.
- 1Poema. De Asaf.
-
Ó Deus, porque nos rejeitas para sempre?
- Porque se inflama a tua ira
- contra o rebanho do qual és pastor?
-
2Lembra-te do teu povo,
- que adquiriste noutros tempos,
-
como tribo que te pertence
- e resgataste do monte Sião,
- onde tens a tua morada.
-
3Dirige os teus passos para estas ruínas sem fim;
- o inimigo tudo destruiu no santuário!
-
4Os teus adversários rugiram no lugar das tuas assembleias,
- hastearam nelas, como troféus, as suas bandeiras.
-
5Pareciam lenhadores a brandir o machado
- numa floresta espessa.
-
6Destruíram os seus madeiramentos
- a golpes de malhos e martelos.
-
7Deitaram fogo ao teu santuário,
- profanaram e arrasaram a morada do teu nome.
-
8Disseram no seu coração: «Destruamos tudo!»;
- e incendiaram neste país todos os lugares de culto.
- 9Já não vemos os nossos sinais,
-
já não existem mais profetas,
- e ninguém sabe até quando isto durará!
-
10Até quando, ó Deus, irá ultrajar-nos o opressor?
- Até quando irá o inimigo desprezar o teu nome?
-
11Porque retiras a tua mão
- e escondes a tua direita?
-
12Pois Tu, ó Deus, desde sempre foste o meu rei,
- aquele que realiza libertações pela terra.
-
13Dividiste o mar com o teu poder,
- esmagaste as cabeças aos monstros marinhos.
-
14Quebraste as cabeças do Leviatan
- e deste-o a comer aos monstros do mar.
-
15Fizeste brotar fontes e torrentes
- e secaste rios caudalosos.
-
16Teu é o dia, tua é a noite;
- Tu criaste a Lua e o Sol.
-
17Fixaste os limites à terra inteira,
- fizeste o Verão e o Inverno.
-
18Lembra-te, SENHOR, de que o inimigo te insultou
- e um povo insensato desprezou o teu nome.
-
19Não entregues às feras a vida dos teus fiéis;
- não esqueças para sempre a vida dos teus pobres.
-
20Olha para a tua aliança,
- pois os recantos do país estão cheios de violência.
-
21Que os humildes não voltem confundidos;
- que o pobre e o indigente possam louvar o teu nome.
-
22Ergue-te, ó Deus, defende a tua causa;
- lembra-te das ofensas contínuas dos insensatos.
-
23Não te esqueças dos gritos dos teus inimigos,
- da vozearia sempre crescente dos teus adversários.
Capítulo 75
O SENHOR É JUIZ
Este salmo tem todo o sabor de uma exortação profética. Fala do julgamento que Deus prepara para realizar sobre o mundo, num tempo bem definido e que parece sentir-se já próximo. Os adversários, condenados nesta sentença, são aqueles que não reconhecem a justiça de Deus como o critério que deve governar o mundo.
-
1Ao director do coro. Segundo «Não destruas».
- Salmo. De Asaf. Cântico.
-
2Nós te louvamos, ó Deus; nós te louvamos!
- Tu estás perto; proclamamos as tuas maravilhas.
-
3«No momento em que Eu decidir,
- Eu vou julgar com rectidão.
-
4Mesmo que tremam a terra e os seus habitantes,
- sou Eu quem sustenta os seus pilares.
-
5Digo aos arrogantes: ‘Não sejais insensatos!’
- E aos ímpios: ‘Não sejais altivos!
-
6Não levanteis tão alto a cabeça;
- não pronuncieis palavras insolentes’.»
-
7Não é do Oriente nem do Ocidente,
- nem do deserto que vem o julgamento.
-
8Deus é que é o juiz:
- a uns condena, a outros absolve.
-
9Na mão do SENHOR há uma taça
- cheia de vinho forte a espumar.
-
Dela dá a beber aos malvados da terra;
- e eles sorvem-na até ao fim.
-
10Eu, porém, louvarei o Deus eterno,
- entoarei salmos ao Deus de Jacob.
-
11Ele destrói a altivez dos ímpios,
- mas o poder dos justos será exaltado.
Capítulo 76
CÂNTICO TRIUNFAL
Este salmo é um hino que se integra nos Cânticos de Sião. Descreve, de facto, o esplendor que se manifesta por uma vitória obtida pelos israelitas, possivelmente contra os filisteus, nas proximidades de Jerusalém (2 Sm 5,17-24 nota). Mas o passado é visto numa dimensão simbólica que o transforma numa categoria do futuro. A associação deste salmo com o ataque de Senaquerib, em 701 a.C., é igualmente uma hipótese possível (2 Rs 18,13-19,36; 2 Mac 8,19; Sir 48,21).
-
1Ao director do coro. Com instrumentos de corda.
- Salmo. De Asaf.
-
2Deus deu-se a conhecer em Judá,
- grande é o seu nome em Israel.
-
3Em Jerusalém fixou o seu santuário
- e a sua morada em Sião.
-
4Ali quebrou as flechas do arco,
- os escudos, as espadas e as armas de guerra.
-
5Tu resplandeces glorioso
- sobre as montanhas dos despojos.
- 6Os mais valentes foram espoliados,
-
quando dormiam o seu sono;
- os guerreiros não puderam valer-se
- do vigor dos seus braços.
-
7Diante das tuas ameaças, ó Deus de Jacob,
- os carros e os cavalos ficaram imóveis.
-
8Tu, sim! Tu és temível!
- Quem poderá resistir na tua presença,
- quando se inflama a tua ira?
-
9Do alto do céu proclamas a sentença,
- e a terra treme e fica silenciosa,
-
10quando Deus se levanta para o julgamento,
- para salvar os humildes da terra.
-
11Até o homem irado te há-de louvar,
- e os sobreviventes hão-de fazer festa em teu nome.
-
12Fazei promessas ao SENHOR, vosso Deus, e cumpri-as;
- ofereçam presentes ao Deus temível quantos o rodeiam!
-
13Ele corta o alento aos governantes
- e é temido pelos reis da terra.
Capítulo 77
MEDITAÇÃO SOBRE O PASSADO DE ISRAEL
Salmo colectivo de súplica. O tema está muito subtilmente elaborado. Enuncia-se, de início, como uma súplica e continua com queixas sobre o abandono a que Deus parece ter votado o seu povo. Lamenta-se que Deus pareça não tratar os israelitas como o fazia outrora, quando realizava prodígios sem conta.
- 1Ao director do coro. Para Jedutun. Salmo de Asaf.
-
2Suba até Deus a minha voz e clame;
- suba até Deus a minha voz: Ele há-de ouvir-me.
-
3No dia da angústia, procuro o Senhor;
- à noite, sem descanso, ergo as mãos em oração,
- mas a minha alma não encontra conforto.
-
4Quando penso em Deus, suspiro;
- quando medito, sinto o meu espírito desfalecer.
-
5Não deixei que as minhas pálpebras se fechassem;
- fiquei perturbado, sem nada dizer!
-
6Recordo-me dos dias passados,
- lembro-me dos tempos antigos.
-
7Passo a noite a reflectir em meu coração,
- e o meu espírito medita e procura:
-
8«Porventura, irá o Senhor abandonar-nos para sempre?
- Não voltará mais a ser-nos favorável?
-
9Acaso se esgotou por completo o seu amor
- e revogou a sua promessa às gerações?
-
10Ter-se-á Deus esquecido da sua compaixão,
- ou terá fechado com ira o seu coração?»
-
11E eu respondo: «O que mais me faz sofrer
- é que a mão do Altíssimo nos trate de modo diferente.»
-
12Tenho na memória os teus feitos, SENHOR,
- lembro-me das tuas maravilhas de outrora.
-
13Penso em todas as tuas obras,
- medito nos teus prodígios.
-
14Ó Deus, os teus caminhos são santos.
- Que Deus haverá tão grande como Tu?
-
15Tu és o Deus que realiza maravilhas,
- manifestaste entre as nações o teu poder.
-
16Com a força do teu braço resgataste o teu povo,
- os descendentes de Jacob e de José.
-
17Viram-te as águas, ó Deus,
- viram-te as águas e tremeram,
- e até os abismos se agitaram.
-
18As nuvens transformaram-se em chuva;
- os trovões fizeram ouvir a sua voz,
- e as tuas setas surgiam de todos os lados.
-
19O ruído do teu trovão ecoou nos ares
- e os relâmpagos iluminaram o mundo;
- a terra agitou-se e tremeu.
-
20O mar foi para ti um caminho;
- caminhaste por entre águas caudalosas
- e ninguém descobriu as tuas pegadas.
-
21Conduziste o teu povo como um rebanho,
- pela mão de Moisés e de Aarão.
Capítulo 78
AS LIÇÕES DA HISTÓRIA (105; 106)
Salmo histórico: faz uma meditação e propõe uma interpretação sobre o significado da História. De início, aparece uma chamada de atenção muito ao gosto da literatura sapiencial. O ritmo que o salmo vê acontecer no passado de Israel é o da oscilação do pêndulo entre a rebelião do povo e o castigo recebido da parte de Deus. A tribo de Judá aparece claramente como preferida, em contraposição com as tribos do Norte. Há aqui uma espécie de súmula de Teologia e História e notam-se várias analogias entre este salmo e o Deuteronómio.
- 1Poema. De Asaf.
-
Escuta, meu povo, os meus ensinamentos;
- presta atenção às minhas palavras.
-
2Vou abrir a minha boca em parábolas
- e revelar os enigmas de outros tempos.
-
3O que ouvimos e aprendemos
- e os nossos antepassados nos transmitiram,
-
4não o ocultaremos aos seus descendentes;
- tudo contaremos às gerações vindouras:
-
as glórias do SENHOR e o seu poder,
- e as maravilhas que Ele fez.
-
5Ele estabeleceu um preceito em Jacob,
- instituiu uma lei em Israel.
-
E ordenou aos nossos pais
- que a ensinassem aos seus filhos,
-
6para que as gerações futuras a conhecessem
- e os filhos que haviam de nascer
- a contassem aos seus próprios filhos;
-
7para que pusessem em Deus a sua confiança
- e não esquecessem as suas obras,
- mas obedecessem aos seus mandamentos.
-
8Para que não fossem como os seus pais,
- uma geração rebelde e desobediente,
-
uma raça de coração inconstante
- e de espírito infiel ao seu Deus.
-
9Os filhos de Efraim, archeiros equipados,
- puseram-se em fuga no dia do combate.
-
10Não guardaram a aliança de Deus,
- recusaram-se a cumprir a sua lei;
-
11esqueceram-se das suas obras,
- das maravilhas que Ele lhes mostrou.
-
12Diante de seus pais, Deus fez maravilhas,
- na terra do Egipto, nos campos de Soan.
-
13Abriu o mar para os fazer passar,
- conteve as águas como um dique.
-
14Conduziu-os, de dia, com uma nuvem,
- e, de noite, com o seu clarão de fogo.
-
15Fendeu os rochedos no deserto
- e deu-lhes a beber águas abundantes.
-
16Deus fez brotar rios das pedras,
- fez correr águas caudalosas.
-
17Mas eles continuaram a pecar,
- revoltando-se contra o Altíssimo no deserto.
-
18Provocaram a Deus em seus corações,
- reclamando manjares, segundo os seus apetites.
-
19Murmuraram contra Ele, dizendo:
- «Será Deus capaz de nos preparar a mesa no deserto?
-
20Ele feriu a rocha e logo brotaram as águas
- e correram torrentes abundantes;
-
mas, poderá também dar pão
- e preparar carne para o seu povo?»
-
21O SENHOR ouviu e indignou-se,
- ateou-se nele um fogo contra Jacob
- e a sua ira cresceu contra Israel,
-
22porque não tiveram fé em Deus,
- nem confiaram no seu auxílio.
-
23Deus ordenou às nuvens
- e abriu as portas do céu.
-
24Fez chover o maná para eles comerem
- e deu-lhes o pão do céu.
-
25Comeram todos o pão dos fortes;
- enviou-lhes comida em abundância.
-
26Fez soprar dos céus o vento leste
- e, com o seu poder, fez vir o vento sul.
-
27Fez chover do céu carne como grãos de poeira,
- e aves tão numerosas como as areias do mar.
-
28Fê-las cair no meio do acampamento,
- ao redor das suas tendas.
-
29Comeram até se saciarem:
- e assim Deus satisfez os seus desejos.
-
30Ainda não tinham o seu apetite saciado,
- ainda a comida estava na sua boca,
-
31quando a ira de Deus caiu sobre eles:
- semeou a morte entre os mais fortes
- e abateu os jovens de Israel.
-
32Apesar de tudo isto, persistiram no pecado,
- não acreditaram nas suas maravilhas.
-
33Por isso, Deus extinguiu os seus dias como um sopro,
- e os seus anos, como uma ilusão.
-
34Quando os castigava, eles procuravam-no,
- convertiam-se e voltavam-se para Deus.
-
35Recordavam-se então que Deus era o seu protector,
- que o Altíssimo era o seu libertador.
-
36Mas logo o enganavam com a boca
- e lhe mentiam com a língua.
-
37Os seus corações não eram leais com Ele,
- nem fiéis à sua aliança.
-
38Mas Deus, que é misericordioso,
- perdoava-lhes os pecados e não os destruía.
-
Muitas vezes conteve a sua ira,
- e não deixou que o seu furor se avivasse.
-
39Lembrou-se de que eles eram humanos,
- um sopro que passa e não volta mais!
-
40Quantas vezes o provocaram no deserto
- e o contristaram na estepe!
-
41Voltaram constantemente a pôr Deus à prova,
- a ofender o Santo de Israel.
-
42Esqueceram a obra das suas mãos,
- no dia em que os libertou da opressão,
-
43quando no Egipto realizou os seus prodígios
- e as suas maravilhas nas planícies de Soan;
-
44quando converteu em sangue os seus rios e canais,
- para que os egípcios não pudessem beber.
-
45Mandou-lhes moscas venenosas, que os devoravam,
- e rãs que os destruíam.
-
46Entregou as suas colheitas aos insectos
- e o fruto do seu esforço aos gafanhotos.
-
47Destruiu as suas vinhas com a saraiva
- e os seus sicómoros com a geada.
-
48Feriu os seus gados com granizo
- e os seus rebanhos com os raios.
- 49Descarregou contra eles a sua ira,
-
a indignação, o furor e a aflição,
- como uma legião de mensageiros da desgraça.
-
50Deu livre curso à sua ira; não os livrou da morte!
- Entregou as suas vidas à peste!
-
51Feriu os primogénitos do Egipto,
- as primícias da sua raça, nas tendas de Cam.
-
52Fez sair o seu povo como um rebanho,
- como manada os conduziu pelo deserto.
-
53Guiou-os com segurança e não tiveram medo,
- enquanto afundava no mar os seus inimigos.
-
54Introduziu-os na sua terra santa,
- na montanha que a sua direita conquistou.
-
55Diante deles expulsou as nações,
- distribuiu entre eles aquela terra como herança
- e instalou nas suas tendas as tribos de Israel.
-
56Mas eles puseram à prova e ofenderam o Altíssimo
- e não observaram os seus preceitos.
-
57Transviaram-se e apostataram como seus pais,
- desviaram-se como a seta de um arco frouxo.
-
58Irritaram-no nos lugares altos,
- provocaram os seus ciúmes com o culto dos ídolos.
-
59Deus ouviu isto e indignou-se,
- e repudiou Israel com veemência.
-
60Abandonou o santuário de Silo,
- a tenda onde morava entre os homens.
-
61Entregou ao cativeiro a sua fortaleza
- e o seu esplendor na mão dos inimigos.
-
62Entregou o seu povo à espada,
- irritou-se contra a sua herança.
-
63Os seus jovens foram devorados pelo fogo,
- e as suas virgens ficaram por casar.
-
64Os seus sacerdotes foram passados à espada,
- e as suas viúvas não choraram os maridos.
-
65Mas o Senhor despertou, como que estremunhado,
- qual guerreiro vencido pelo vinho.
-
66E feriu os seus inimigos pelas costas;
- infligiu-lhes eterna humilhação.
-
67Assim rejeitou as tendas de José
- e não escolheu a tribo de Efraim;
-
68escolheu antes a tribo de Judá
- e o monte de Sião, seu preferido.
-
69Construiu o seu santuário, alto como o céu
- e firme para sempre, como a terra.
-
70Escolheu o seu servo David,
- tomando-o do aprisco das ovelhas.
-
71Retirou-o de andar atrás dos rebanhos,
- para que apascentasse a Jacob, seu povo,
- e a Israel, sua herança.
-
72David apascentou-os com um coração recto
- e conduziu-os com mão prudente.
Capítulo 79
LAMENTAÇÃO NACIONAL (44; 74; 102)
Esta lamentação é um salmo colectivo de súplica. A situação histórica parece ser a de uma invasão e devastação de Jerusalém, e as súplicas vão no sentido que Deus vingue todos os males cometidos contra Israel pelos inimigos e vizinhos. Faz lembrar 2 Rs 24-25; Ez 36,5.
- 1Salmo. De Asaf.
-
Ó Deus, os pagãos invadiram a tua herança,
- profanaram o teu santo templo
- e reduziram Jerusalém a um montão de ruínas.
- 2Deram os cadáveres dos teus servos
-
em alimento às aves do céu
- e os corpos dos teus fiéis, às feras selvagens.
-
3Derramaram o seu sangue como água, em torno de Jerusalém,
- e ninguém lhes deu sepultura.
-
4Tornámo-nos motivo de escárnio para os vizinhos,
- de irrisão e opróbrio para os que nos rodeiam.
-
5Até quando, SENHOR, estarás ainda irritado?
- Será a tua indignação como um fogo abrasador?
-
6Descarrega a tua ira sobre os pagãos,
- que não te conhecem nem invocam o teu nome.
-
7Porque eles devoraram o povo de Jacob
- e destruíram a sua morada.
-
8Não recordes contra nós as faltas dos nossos antepassados;
- venha depressa ao nosso encontro a tua misericórdia,
- porque chegámos ao fim das nossas forças.
- 9Socorre-nos, ó Deus, nosso salvador,
-
para glória do teu nome;
- livra-nos e perdoa-nos pelo amor do teu nome.
-
10Porque hão-de perguntar os pagãos:
- «Onde está o seu Deus?»
-
Mostra a essa gente, diante dos nossos olhos,
- a vingança do sangue derramado dos teus servos.
-
11Chegue junto de ti o gemido dos cativos
- e, pela grande força do teu braço,
- salva da morte os que estão condenados.
-
12Retribui aos nossos vizinhos sete vezes mais
- as ofensas com que eles te ultrajaram, Senhor.
-
13Nós, que somos o teu povo e ovelhas do teu rebanho,
- glorificar-te-emos para sempre;
- de geração em geração cantaremos os teus louvores.
Capítulo 80
ORAÇÃO PELA RESTAURAÇÃO DE ISRAEL (Is 5,1-7)
Salmo colectivo de súplica. A situação parece ser a de alguma ameaça contra o Reino do Norte. O v.3 concentra a atenção sobre as três tribos principais daquele reino – Efraim, Benjamim e Manassés. O salmo poderá ter sido composto próximo da invasão assíria, que marcou o fim do reino da Samaria, em 721.
-
1Ao director do coro.
- Segundo a melodia «Os lírios são testemunho».
- De Asaf. Salmo.
-
2Ó pastor de Israel, escuta,
- Tu que conduzes José como um rebanho,
- Tu que tens o teu trono sobre os querubins!
- 3Mostra a tua grandeza às tribos
-
de Efraim, Benjamim e Manassés!
- Desperta o teu poder e vem salvar-nos!
-
4Ó Deus, volta-te para nós!
- Mostra-nos o teu rosto e seremos salvos!
-
5SENHOR, Deus do universo,
- até quando te mostrarás indignado,
- apesar das súplicas do teu povo?
-
6Deste-nos a comer o pão das lágrimas
- e a beber copioso pranto.
-
7Tornaste-nos presa disputada pelas nações vizinhas,
- e os nossos inimigos escarnecem de nós.
-
8Ó Deus do universo, volta-te para nós!
- Mostra-nos o teu rosto e seremos salvos!
-
9Arrancaste uma videira do Egipto,
- expulsaste outros povos para a plantar.
-
10Preparaste-lhe o terreno; ela foi deitando raízes
- e acabou por encher toda a terra.
-
11As montanhas cobriram-se com a sua sombra,
- e os seus ramos ultrapassaram os altos cedros.
-
12As suas ramagens estenderam-se até ao mar
- e os seus rebentos, até ao rio.
-
13Porque derrubaste os seus muros,
- deixando que a vindimem quantos passam no caminho?
-
14É devastada pelo javali da selva,
- serve de pasto aos animais dos campos.
-
15Ó Deus do universo, volta, por favor,
- olha lá do céu e vê:
- cuida desta vinha!
-
16Trata da cepa que a tua mão direita plantou,
- dos rebentos que fizeste crescer para nós.
-
17Aqueles que a queimaram e devastaram
- pereçam diante do furor do teu rosto.
-
18Mas estende a tua mão sobre o teu escolhido,
- sobre o homem que para ti fortaleceste.
-
19E nunca mais nos afastaremos de ti;
- conserva-nos a vida e invocaremos o teu nome.
-
20SENHOR do universo, volta-te para nós!
- Mostra-nos o teu rosto e seremos salvos!