Capítulo 71

PRECE DE UM ANCIÃO PERSEGUIDO (91)

Salmo individual de súplica. Apresenta-nos alguém que, sujeito a dolorosas perseguições, mantém e reafirma a sua confiança em Deus. A mesma confiança manifesta-se no facto de este salmo não fazer os habituais ataques e ameaças contra os seus inimigos.

 

1Em ti, SENHOR, me refugio,
jamais serei confundido.
2Pela tua justiça, livra-me e protege-me;
inclina para mim os teus ouvidos e salva-me.
3Sê a minha protecção e o refúgio onde me acolho.
Tu prometeste salvar-me,
pois és o meu rochedo e a minha fortaleza.
4Meu Deus, livra-me das mãos do ímpio,
das mãos do opressor e do violento.
5Tu és a minha esperança, ó Senhor DEUS,
e a minha confiança desde a juventude.
6Em ti me apoio desde o seio materno,
desde o ventre materno és o meu protector;
és o objecto contínuo do meu louvor.
7Sou motivo de admiração para muitos,
mas Tu és o meu refúgio.
8A minha boca está cheia do teu louvor;
todo o dia proclamo a tua glória.
9Não me rejeites no tempo da velhice,
não me abandones, quando já não tiver forças.
10Os meus inimigos falam contra mim,
e os que espiam os meus passos conspiram.
11E dizem: «Deus abandonou-o; persigam-no,
prendam-no, pois não há quem o salve!»
12Ó Deus, não te afastes de mim!
Meu Deus, vem depressa socorrer-me!
13Sejam confundidos e destruídos
os que atentam contra a minha vida;
cubram-se de opróbrio e vergonha
os que procuram a minha desgraça.
14Eu, porém, esperarei continuamente
e, dia após dia, mais te louvarei.
15A minha boca proclamará a tua justiça,
e todo o dia anunciarei a tua salvação,
sabendo bem que ela é inenarrável.
16Narrarei esses prodígios, Senhor, DEUS,
recordarei a tua justiça sem igual.
17Instruíste-me, ó Deus, desde a minha juventude
e até hoje anunciei sempre as tuas maravilhas.
18Agora, na velhice e de cabelos brancos,
não me abandones, ó Deus,
para que anuncie a esta geração o teu poder
e às gerações futuras, a tua força.
19Ó Deus, a tua generosidade chega até aos céus,
pois fizeste grandes coisas:
quem como Tu, ó Deus?
20Fizeste-me sofrer grandes males e aflições mortais;
mas de novo me darás a vida;
das profundezas da terra me levantarás outra vez.
21Aumentarás a minha dignidade,
aproximando-te para me confortar.
22Por isso, quero louvar-te ao som da harpa,
louvar a tua fidelidade, ó meu Deus;
quero cantar-te ao som da cítara, ó Santo de Israel.
23Ao cantar-te salmos, os meus lábios vibrarão de alegria,
e também todo o meu ser, que Tu salvaste.
24A minha língua cantará, dia a dia, a tua justiça,
pois ficaram confundidos e cheios de vergonha
os que procuravam a minha desgraça.

Capítulo 72

ORAÇÃO PELO REI IDEAL (2 Sm 23,1-7)

Salmo real e atribuído a Salomão (ver 127). Daí ser frequentemente utilizado em contexto messiânico. É provável que tenha sido composto antes do Exílio, no tempo em que existiam ainda reis em Israel. No entanto, a descrição que faz do reino pode ter traços bastante idealizados.

 

1De Salomão.
Ó Deus, concede ao rei a tua rectidão
e a tua justiça ao filho do rei,
2para que julgue o teu povo com justiça
e os teus pobres com equidade.
3Que os montes tragam a paz ao povo,
e as colinas, a justiça.
4Que o rei proteja os humildes do povo,
ajude os necessitados e esmague os opressores!
5Que ele possa contemplar-te como o Sol
e como a Lua, de geração em geração.
6Que o rei seja como a chuva sobre os campos,
como os aguaceiros que regam a terra.
7Em seus dias florescerá a justiça
e uma grande paz até ao fim dos tempos.
8Dominará de um ao outro mar,
do grande rio até aos confins da terra.
9Diante dele se curvarão os inimigos
e os seus adversários hão-de prostrar-se por terra.
10Os reis de Társis e das ilhas oferecerão tributos;
os reis de Sabá e de Seba trarão suas ofertas.
11Todos os reis se prostrarão diante dele;
todas as nações o servirão.
12Ele socorrerá o pobre que o invoca
e o indigente que não tem quem o ajude.
13Terá compaixão do humilde e do pobre
e salvará a vida dos oprimidos.
14Há-de livrá-los da opressão e da violência,
porque o seu sangue é precioso a seus olhos.
15Enquanto viver, ser-lhe-á dado ouro de Sabá!
Por ele hão-de rezar sempre
e todos os dias será abençoado.
16Haverá nos campos fartura de trigo,
ondulando pelo cimo dos montes;
tudo se cobrirá de frutos, como o Líbano;
as cidades florescerão como a erva dos prados.
17O seu nome permanecerá pelos séculos
e durará enquanto o Sol brilhar;
todos nele se sentirão abençoados;
todos os povos o hão-de bendizer!
18Bendito seja o SENHOR, Deus de Israel,
o único que realiza maravilhas.
19Bendito seja para sempre o seu nome glorioso
e a terra inteira se encha da sua glória!
Ámen! Ámen!
20Terminaram as orações de David, filho de Jessé.

Capítulo 73

O PROBLEMA DA RETRIBUIÇÃO

Este salmo pode considerar-se uma meditação sapiencial. Enfrenta a questão do bom ou mau comportamento humano e do prémio e castigo, que nem sempre parecem ser aplicados com toda a justiça. E acentua o optimismo e a confiança em Deus como solução (Jr 12,1-6; Hab 1,13; Ml 3,15), tomando uma posição mais confiante do que aquela que se exprime no livro de Job.

 

1Salmo. De Asaf.
Como Deus é bom para Israel,
para os que têm coração puro!
2Ai de mim! Os meus pés estavam quase a resvalar,
por um triz não escorreguei,
3ao sentir inveja dos ímpios,
ao ver a prosperidade dos maus.
4Para eles não há aflições mortais,
os seus corpos são robustos e sadios.
5Não sofrem as contrariedades da vida,
nem são atormentados como os outros homens.
6Por isso, enchem-se de orgulho
e ataviam-se com o manto da violência.
7A maldade brota-lhes do coração;
do seu coração transbordam más intenções.
8Zombam e falam com malícia;
falam com altivez e oprimem.
9Com a boca protestam contra o céu
e a sua língua percorre a terra.
10Por isso, os seus seguidores se voltam para eles
e bebem tudo como se fosse água.
11Eles dizem: «Deus não sabe disto;
o Altíssimo não é conhecedor de nada.»
12São assim os pecadores:
sempre tranquilos e a amontoar riquezas!
13De nada me serve ter um coração puro
e conservar inocentes as minhas mãos!
14Sou posto à prova a toda a hora;
todas as manhãs sou castigado.
15Se eu pensasse: «Vou falar como eles»,
atraiçoaria a geração dos teus filhos.
16Reflecti sobre estas coisas para as entender,
mas foi muito penoso para mim.
17Só quando entrei no santuário de Deus,
compreendi o fim que os espera.
18Na verdade, Tu os colocas em plano escorregadio
e os empurras para a desgraça.
19Num momento, ficarão destruídos!
Acabarão transidos de pavor!
20Como quando alguém desperta de um sonho,
quando te levantares, Senhor, desprezarás a sua imagem.
21Outrora, o meu coração exasperava-se
e consumiam-se as minhas entranhas.
22Eu era um louco, sem entendimento,
como um animal na tua presença.
23No entanto, estive sempre contigo,
e Tu me conduziste pela mão;
24guiaste-me com o teu conselho
e, por fim, me receberás na tua glória.
25Quem mais tenho eu no céu?
Na terra só desejo estar contigo.
26Ainda que o meu corpo e o meu coração desfaleçam,
Deus será sempre o meu refúgio e a minha herança.
27Hão-de perder-se os que se afastam de ti;
Tu exterminas os que te renegam.
28Para mim, a felicidade é estar perto de Deus.
Em ti, Senhor DEUS, pus a minha confiança,
para proclamar todas as tuas obras.

Capítulo 74

LAMENTAÇÃO SOBRE AS RUÍNAS DO TEMPLO (44; 102; Sir 36,1-17; Lm 2)

Salmo colectivo de súplica, na qual se lamenta uma ofensa de alguns inimigos contra o santuário do Senhor. Para inspirar a confiança, lembra os prodígios realizados por Deus no tempo da saída do Egipto e da entrada na terra de Canaã. Quanto aos acontecimentos a que o salmo faria alusão, as opiniões divergem, apontando-se a conquista por Nabucodonosor em 587 a.C., ou a de Antíoco IV em 170 a.C., ou ainda outro ataque menos importante que estes.

 

1Poema. De Asaf.
Ó Deus, porque nos rejeitas para sempre?
Porque se inflama a tua ira
contra o rebanho do qual és pastor?
2Lembra-te do teu povo,
que adquiriste noutros tempos,
como tribo que te pertence
e resgataste do monte Sião,
onde tens a tua morada.
3Dirige os teus passos para estas ruínas sem fim;
o inimigo tudo destruiu no santuário!
4Os teus adversários rugiram no lugar das tuas assembleias,
hastearam nelas, como troféus, as suas bandeiras.
5Pareciam lenhadores a brandir o machado
numa floresta espessa.
6Destruíram os seus madeiramentos
a golpes de malhos e martelos.
7Deitaram fogo ao teu santuário,
profanaram e arrasaram a morada do teu nome.
8Disseram no seu coração: «Destruamos tudo!»;
e incendiaram neste país todos os lugares de culto.
9Já não vemos os nossos sinais,
já não existem mais profetas,
e ninguém sabe até quando isto durará!
10Até quando, ó Deus, irá ultrajar-nos o opressor?
Até quando irá o inimigo desprezar o teu nome?
11Porque retiras a tua mão
e escondes a tua direita?
12Pois Tu, ó Deus, desde sempre foste o meu rei,
aquele que realiza libertações pela terra.
13Dividiste o mar com o teu poder,
esmagaste as cabeças aos monstros marinhos.
14Quebraste as cabeças do Leviatan
e deste-o a comer aos monstros do mar.
15Fizeste brotar fontes e torrentes
e secaste rios caudalosos.
16Teu é o dia, tua é a noite;
Tu criaste a Lua e o Sol.
17Fixaste os limites à terra inteira,
fizeste o Verão e o Inverno.
18Lembra-te, SENHOR, de que o inimigo te insultou
e um povo insensato desprezou o teu nome.
19Não entregues às feras a vida dos teus fiéis;
não esqueças para sempre a vida dos teus pobres.
20Olha para a tua aliança,
pois os recantos do país estão cheios de violência.
21Que os humildes não voltem confundidos;
que o pobre e o indigente possam louvar o teu nome.
22Ergue-te, ó Deus, defende a tua causa;
lembra-te das ofensas contínuas dos insensatos.
23Não te esqueças dos gritos dos teus inimigos,
da vozearia sempre crescente dos teus adversários.

Capítulo 75

O SENHOR É JUIZ

Este salmo tem todo o sabor de uma exortação profética. Fala do julgamento que Deus prepara para realizar sobre o mundo, num tempo bem definido e que parece sentir-se já próximo. Os adversários, condenados nesta sentença, são aqueles que não reconhecem a justiça de Deus como o critério que deve governar o mundo.

 

1Ao director do coro. Segundo «Não destruas».
Salmo. De Asaf. Cântico.
2Nós te louvamos, ó Deus; nós te louvamos!
Tu estás perto; proclamamos as tuas maravilhas.
3«No momento em que Eu decidir,
Eu vou julgar com rectidão.
4Mesmo que tremam a terra e os seus habitantes,
sou Eu quem sustenta os seus pilares.
5Digo aos arrogantes: ‘Não sejais insensatos!’
E aos ímpios: ‘Não sejais altivos!
6Não levanteis tão alto a cabeça;
não pronuncieis palavras insolentes’.»
7Não é do Oriente nem do Ocidente,
nem do deserto que vem o julgamento.
8Deus é que é o juiz:
a uns condena, a outros absolve.
9Na mão do SENHOR há uma taça
cheia de vinho forte a espumar.
Dela dá a beber aos malvados da terra;
e eles sorvem-na até ao fim.
10Eu, porém, louvarei o Deus eterno,
entoarei salmos ao Deus de Jacob.
11Ele destrói a altivez dos ímpios,
mas o poder dos justos será exaltado.

Capítulo 76

CÂNTICO TRIUNFAL

Este salmo é um hino que se integra nos Cânticos de Sião. Descreve, de facto, o esplendor que se manifesta por uma vitória obtida pelos israelitas, possivelmente contra os filisteus, nas proximidades de Jerusalém (2 Sm 5,17-24 nota). Mas o passado é visto numa dimensão simbólica que o transforma numa categoria do futuro. A associação deste salmo com o ataque de Senaquerib, em 701 a.C., é igualmente uma hipótese possível (2 Rs 18,13-19,36; 2 Mac 8,19; Sir 48,21).

 

1Ao director do coro. Com instrumentos de corda.
Salmo. De Asaf.
2Deus deu-se a conhecer em Judá,
grande é o seu nome em Israel.
3Em Jerusalém fixou o seu santuário
e a sua morada em Sião.
4Ali quebrou as flechas do arco,
os escudos, as espadas e as armas de guerra.
5Tu resplandeces glorioso
sobre as montanhas dos despojos.
6Os mais valentes foram espoliados,
quando dormiam o seu sono;
os guerreiros não puderam valer-se
do vigor dos seus braços.
7Diante das tuas ameaças, ó Deus de Jacob,
os carros e os cavalos ficaram imóveis.
8Tu, sim! Tu és temível!
Quem poderá resistir na tua presença,
quando se inflama a tua ira?
9Do alto do céu proclamas a sentença,
e a terra treme e fica silenciosa,
10quando Deus se levanta para o julgamento,
para salvar os humildes da terra.
11Até o homem irado te há-de louvar,
e os sobreviventes hão-de fazer festa em teu nome.
12Fazei promessas ao SENHOR, vosso Deus, e cumpri-as;
ofereçam presentes ao Deus temível quantos o rodeiam!
13Ele corta o alento aos governantes
e é temido pelos reis da terra.

Capítulo 77

MEDITAÇÃO SOBRE O PASSADO DE ISRAEL

Salmo colectivo de súplica. O tema está muito subtilmente elaborado. Enuncia-se, de início, como uma súplica e continua com queixas sobre o abandono a que Deus parece ter votado o seu povo. Lamenta-se que Deus pareça não tratar os israelitas como o fazia outrora, quando realizava prodígios sem conta.

 

1Ao director do coro. Para Jedutun. Salmo de Asaf.
2Suba até Deus a minha voz e clame;
suba até Deus a minha voz: Ele há-de ouvir-me.
3No dia da angústia, procuro o Senhor;
à noite, sem descanso, ergo as mãos em oração,
mas a minha alma não encontra conforto.
4Quando penso em Deus, suspiro;
quando medito, sinto o meu espírito desfalecer.
5Não deixei que as minhas pálpebras se fechassem;
fiquei perturbado, sem nada dizer!
6Recordo-me dos dias passados,
lembro-me dos tempos antigos.
7Passo a noite a reflectir em meu coração,
e o meu espírito medita e procura:
8«Porventura, irá o Senhor abandonar-nos para sempre?
Não voltará mais a ser-nos favorável?
9Acaso se esgotou por completo o seu amor
e revogou a sua promessa às gerações?
10Ter-se-á Deus esquecido da sua compaixão,
ou terá fechado com ira o seu coração?»
11E eu respondo: «O que mais me faz sofrer
é que a mão do Altíssimo nos trate de modo diferente.»
12Tenho na memória os teus feitos, SENHOR,
lembro-me das tuas maravilhas de outrora.
13Penso em todas as tuas obras,
medito nos teus prodígios.
14Ó Deus, os teus caminhos são santos.
Que Deus haverá tão grande como Tu?
15Tu és o Deus que realiza maravilhas,
manifestaste entre as nações o teu poder.
16Com a força do teu braço resgataste o teu povo,
os descendentes de Jacob e de José.
17Viram-te as águas, ó Deus,
viram-te as águas e tremeram,
e até os abismos se agitaram.
18As nuvens transformaram-se em chuva;
os trovões fizeram ouvir a sua voz,
e as tuas setas surgiam de todos os lados.
19O ruído do teu trovão ecoou nos ares
e os relâmpagos iluminaram o mundo;
a terra agitou-se e tremeu.
20O mar foi para ti um caminho;
caminhaste por entre águas caudalosas
e ninguém descobriu as tuas pegadas.
21Conduziste o teu povo como um rebanho,
pela mão de Moisés e de Aarão.

Capítulo 78

AS LIÇÕES DA HISTÓRIA (105; 106)

Salmo histórico: faz uma meditação e propõe uma interpretação sobre o significado da História. De início, aparece uma chamada de atenção muito ao gosto da literatura sapiencial. O ritmo que o salmo vê acontecer no passado de Israel é o da oscilação do pêndulo entre a rebelião do povo e o castigo recebido da parte de Deus. A tribo de Judá aparece claramente como preferida, em contraposição com as tribos do Norte. Há aqui uma espécie de súmula de Teologia e História e notam-se várias analogias entre este salmo e o Deuteronómio.

 

1Poema. De Asaf.
Escuta, meu povo, os meus ensinamentos;
presta atenção às minhas palavras.
2Vou abrir a minha boca em parábolas
e revelar os enigmas de outros tempos.
3O que ouvimos e aprendemos
e os nossos antepassados nos transmitiram,
4não o ocultaremos aos seus descendentes;
tudo contaremos às gerações vindouras:
as glórias do SENHOR e o seu poder,
e as maravilhas que Ele fez.
5Ele estabeleceu um preceito em Jacob,
instituiu uma lei em Israel.
E ordenou aos nossos pais
que a ensinassem aos seus filhos,
6para que as gerações futuras a conhecessem
e os filhos que haviam de nascer
a contassem aos seus próprios filhos;
7para que pusessem em Deus a sua confiança
e não esquecessem as suas obras,
mas obedecessem aos seus mandamentos.
8Para que não fossem como os seus pais,
uma geração rebelde e desobediente,
uma raça de coração inconstante
e de espírito infiel ao seu Deus.
9Os filhos de Efraim, archeiros equipados,
puseram-se em fuga no dia do combate.
10Não guardaram a aliança de Deus,
recusaram-se a cumprir a sua lei;
11esqueceram-se das suas obras,
das maravilhas que Ele lhes mostrou.
12Diante de seus pais, Deus fez maravilhas,
na terra do Egipto, nos campos de Soan.
13Abriu o mar para os fazer passar,
conteve as águas como um dique.
14Conduziu-os, de dia, com uma nuvem,
e, de noite, com o seu clarão de fogo.
15Fendeu os rochedos no deserto
e deu-lhes a beber águas abundantes.
16Deus fez brotar rios das pedras,
fez correr águas caudalosas.
17Mas eles continuaram a pecar,
revoltando-se contra o Altíssimo no deserto.
18Provocaram a Deus em seus corações,
reclamando manjares, segundo os seus apetites.
19Murmuraram contra Ele, dizendo:
«Será Deus capaz de nos preparar a mesa no deserto?
20Ele feriu a rocha e logo brotaram as águas
e correram torrentes abundantes;
mas, poderá também dar pão
e preparar carne para o seu povo?»
21O SENHOR ouviu e indignou-se,
ateou-se nele um fogo contra Jacob
e a sua ira cresceu contra Israel,
22porque não tiveram fé em Deus,
nem confiaram no seu auxílio.
23Deus ordenou às nuvens
e abriu as portas do céu.
24Fez chover o maná para eles comerem
e deu-lhes o pão do céu.
25Comeram todos o pão dos fortes;
enviou-lhes comida em abundância.
26Fez soprar dos céus o vento leste
e, com o seu poder, fez vir o vento sul.
27Fez chover do céu carne como grãos de poeira,
e aves tão numerosas como as areias do mar.
28Fê-las cair no meio do acampamento,
ao redor das suas tendas.
29Comeram até se saciarem:
e assim Deus satisfez os seus desejos.
30Ainda não tinham o seu apetite saciado,
ainda a comida estava na sua boca,
31quando a ira de Deus caiu sobre eles:
semeou a morte entre os mais fortes
e abateu os jovens de Israel.
32Apesar de tudo isto, persistiram no pecado,
não acreditaram nas suas maravilhas.
33Por isso, Deus extinguiu os seus dias como um sopro,
e os seus anos, como uma ilusão.
34Quando os castigava, eles procuravam-no,
convertiam-se e voltavam-se para Deus.
35Recordavam-se então que Deus era o seu protector,
que o Altíssimo era o seu libertador.
36Mas logo o enganavam com a boca
e lhe mentiam com a língua.
37Os seus corações não eram leais com Ele,
nem fiéis à sua aliança.
38Mas Deus, que é misericordioso,
perdoava-lhes os pecados e não os destruía.
Muitas vezes conteve a sua ira,
e não deixou que o seu furor se avivasse.
39Lembrou-se de que eles eram humanos,
um sopro que passa e não volta mais!
40Quantas vezes o provocaram no deserto
e o contristaram na estepe!
41Voltaram constantemente a pôr Deus à prova,
a ofender o Santo de Israel.
42Esqueceram a obra das suas mãos,
no dia em que os libertou da opressão,
43quando no Egipto realizou os seus prodígios
e as suas maravilhas nas planícies de Soan;
44quando converteu em sangue os seus rios e canais,
para que os egípcios não pudessem beber.
45Mandou-lhes moscas venenosas, que os devoravam,
e rãs que os destruíam.
46Entregou as suas colheitas aos insectos
e o fruto do seu esforço aos gafanhotos.
47Destruiu as suas vinhas com a saraiva
e os seus sicómoros com a geada.
48Feriu os seus gados com granizo
e os seus rebanhos com os raios.
49Descarregou contra eles a sua ira,
a indignação, o furor e a aflição,
como uma legião de mensageiros da desgraça.
50Deu livre curso à sua ira; não os livrou da morte!
Entregou as suas vidas à peste!
51Feriu os primogénitos do Egipto,
as primícias da sua raça, nas tendas de Cam.
52Fez sair o seu povo como um rebanho,
como manada os conduziu pelo deserto.
53Guiou-os com segurança e não tiveram medo,
enquanto afundava no mar os seus inimigos.
54Introduziu-os na sua terra santa,
na montanha que a sua direita conquistou.
55Diante deles expulsou as nações,
distribuiu entre eles aquela terra como herança
e instalou nas suas tendas as tribos de Israel.
56Mas eles puseram à prova e ofenderam o Altíssimo
e não observaram os seus preceitos.
57Transviaram-se e apostataram como seus pais,
desviaram-se como a seta de um arco frouxo.
58Irritaram-no nos lugares altos,
provocaram os seus ciúmes com o culto dos ídolos.
59Deus ouviu isto e indignou-se,
e repudiou Israel com veemência.
60Abandonou o santuário de Silo,
a tenda onde morava entre os homens.
61Entregou ao cativeiro a sua fortaleza
e o seu esplendor na mão dos inimigos.
62Entregou o seu povo à espada,
irritou-se contra a sua herança.
63Os seus jovens foram devorados pelo fogo,
e as suas virgens ficaram por casar.
64Os seus sacerdotes foram passados à espada,
e as suas viúvas não choraram os maridos.
65Mas o Senhor despertou, como que estremunhado,
qual guerreiro vencido pelo vinho.
66E feriu os seus inimigos pelas costas;
infligiu-lhes eterna humilhação.
67Assim rejeitou as tendas de José
e não escolheu a tribo de Efraim;
68escolheu antes a tribo de Judá
e o monte de Sião, seu preferido.
69Construiu o seu santuário, alto como o céu
e firme para sempre, como a terra.
70Escolheu o seu servo David,
tomando-o do aprisco das ovelhas.
71Retirou-o de andar atrás dos rebanhos,
para que apascentasse a Jacob, seu povo,
e a Israel, sua herança.
72David apascentou-os com um coração recto
e conduziu-os com mão prudente.

Capítulo 79

LAMENTAÇÃO NACIONAL (44; 74; 102)

Esta lamentação é um salmo colectivo de súplica. A situação histórica parece ser a de uma invasão e devastação de Jerusalém, e as súplicas vão no sentido que Deus vingue todos os males cometidos contra Israel pelos inimigos e vizinhos. Faz lembrar 2 Rs 24-25; Ez 36,5.

 

1Salmo. De Asaf.
Ó Deus, os pagãos invadiram a tua herança,
profanaram o teu santo templo
e reduziram Jerusalém a um montão de ruínas.
2Deram os cadáveres dos teus servos
em alimento às aves do céu
e os corpos dos teus fiéis, às feras selvagens.
3Derramaram o seu sangue como água, em torno de Jerusalém,
e ninguém lhes deu sepultura.
4Tornámo-nos motivo de escárnio para os vizinhos,
de irrisão e opróbrio para os que nos rodeiam.
5Até quando, SENHOR, estarás ainda irritado?
Será a tua indignação como um fogo abrasador?
6Descarrega a tua ira sobre os pagãos,
que não te conhecem nem invocam o teu nome.
7Porque eles devoraram o povo de Jacob
e destruíram a sua morada.
8Não recordes contra nós as faltas dos nossos antepassados;
venha depressa ao nosso encontro a tua misericórdia,
porque chegámos ao fim das nossas forças.
9Socorre-nos, ó Deus, nosso salvador,
para glória do teu nome;
livra-nos e perdoa-nos pelo amor do teu nome.
10Porque hão-de perguntar os pagãos:
«Onde está o seu Deus?»
Mostra a essa gente, diante dos nossos olhos,
a vingança do sangue derramado dos teus servos.
11Chegue junto de ti o gemido dos cativos
e, pela grande força do teu braço,
salva da morte os que estão condenados.
12Retribui aos nossos vizinhos sete vezes mais
as ofensas com que eles te ultrajaram, Senhor.
13Nós, que somos o teu povo e ovelhas do teu rebanho,
glorificar-te-emos para sempre;
de geração em geração cantaremos os teus louvores.

Capítulo 80

ORAÇÃO PELA RESTAURAÇÃO DE ISRAEL (Is 5,1-7)

Salmo colectivo de súplica. A situação parece ser a de alguma ameaça contra o Reino do Norte. O v.3 concentra a atenção sobre as três tribos principais daquele reino – Efraim, Benjamim e Manassés. O salmo poderá ter sido composto próximo da invasão assíria, que marcou o fim do reino da Samaria, em 721.

 

1Ao director do coro.
Segundo a melodia «Os lírios são testemunho».
De Asaf. Salmo.
2Ó pastor de Israel, escuta,
Tu que conduzes José como um rebanho,
Tu que tens o teu trono sobre os querubins!
3Mostra a tua grandeza às tribos
de Efraim, Benjamim e Manassés!
Desperta o teu poder e vem salvar-nos!
4Ó Deus, volta-te para nós!
Mostra-nos o teu rosto e seremos salvos!
5SENHOR, Deus do universo,
até quando te mostrarás indignado,
apesar das súplicas do teu povo?
6Deste-nos a comer o pão das lágrimas
e a beber copioso pranto.
7Tornaste-nos presa disputada pelas nações vizinhas,
e os nossos inimigos escarnecem de nós.
8Ó Deus do universo, volta-te para nós!
Mostra-nos o teu rosto e seremos salvos!
9Arrancaste uma videira do Egipto,
expulsaste outros povos para a plantar.
10Preparaste-lhe o terreno; ela foi deitando raízes
e acabou por encher toda a terra.
11As montanhas cobriram-se com a sua sombra,
e os seus ramos ultrapassaram os altos cedros.
12As suas ramagens estenderam-se até ao mar
e os seus rebentos, até ao rio.
13Porque derrubaste os seus muros,
deixando que a vindimem quantos passam no caminho?
14É devastada pelo javali da selva,
serve de pasto aos animais dos campos.
15Ó Deus do universo, volta, por favor,
olha lá do céu e vê:
cuida desta vinha!
16Trata da cepa que a tua mão direita plantou,
dos rebentos que fizeste crescer para nós.
17Aqueles que a queimaram e devastaram
pereçam diante do furor do teu rosto.
18Mas estende a tua mão sobre o teu escolhido,
sobre o homem que para ti fortaleceste.
19E nunca mais nos afastaremos de ti;
conserva-nos a vida e invocaremos o teu nome.
20SENHOR do universo, volta-te para nós!
Mostra-nos o teu rosto e seremos salvos!

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