Capítulo 31

ORAÇÃO NA HORA DA PROVAÇÃO

Salmo individual. Contém vários elementos específicos, nomeadamente de súplica, de confiança e de acção de graças, concluindo com um hino de louvor. No fim encontra-se o tema da comunidade. O texto percorre vários matizes que definem uma atitude de oração modelo.

 

1Ao director do coro. Salmo de David.
2Em ti, SENHOR, me refugio;
que eu nunca seja confundido.
Salva-me pela tua justiça.
3Inclina para mim os teus ouvidos;
apressa-te a libertar-me.
Sê para mim uma rocha de refúgio,
uma fortaleza que me salve.
4Tu és o meu rochedo e a minha fortaleza;
por amor do teu nome, guia-me e conduz-me.
5Livra-me da cilada que me armaram,
porque Tu és o meu refúgio.
6Nas tuas mãos entrego o meu espírito;
SENHOR, Deus fiel, salva-me.
7Detesto os que adoram ídolos falsos;
eu, por mim, confio no SENHOR.
8Hei-de alegrar-me e regozijar-me com a tua misericórdia,
pois viste a minha miséria
e conheceste a angústia da minha alma.
9Não me entregaste nas mãos do inimigo,
mas deste aos meus pés um caminho espaçoso.
10Tem compaixão de mim, SENHOR, que vivo atribulado;
os meus olhos consomem-se de tristeza,
a minha alma e o meu corpo definham.
11A minha vida mirrou-se na amargura,
e os meus anos, em gemidos.
A aflição acabou com as minhas forças;
os meus ossos consumiram-se.
12Tornei-me objecto de escárnio para os meus inimigos,
de desprezo para os meus vizinhos
e de terror para os meus conhecidos.
Os que me vêem na rua fogem de mim.
13Votaram-me ao esquecimento como se tivesse morrido;
sou como um vaso desfeito.
14Na verdade, ouvi os gritos da multidão;
o terror envolveu-me, porque conspiraram contra mim
e decidiram tirar-me a vida.
15Mas eu confio em ti, SENHOR;
e digo: «Tu és o meu Deus.
16O meu destino está nas tuas mãos;
livra-me dos meus inimigos e perseguidores.
17Brilhe sobre o teu servo a luz da tua face;
salva-me pela tua misericórdia.»
18SENHOR, que eu não seja confundido,
pois te invoquei;
sejam, antes, confundidos os pecadores
e reduzidos ao silêncio no sepulcro.
19Calem-se os lábios mentirosos,
que proferem insolências contra o justo
com orgulho e desprezo.
20Como é grande, SENHOR, a bondade
que reservas para os que te são fiéis!
Tu a concedes, à vista de todos,
àqueles que em ti confiam.
21Ao abrigo da tua face,
Tu os guardas das intrigas dos homens;
na tua tenda os defendes
contra as línguas maldizentes.
22Bendito seja o SENHOR,
que, pelo seu amor, fez maravilhas por mim
na cidade fortificada.
23Na minha ansiedade, eu dizia:
«Fui banido da tua presença.»
Tu, porém, ouviste o brado da minha súplica,
quando eu te invoquei.
24Amai o SENHOR, todos vós, que sois seus amigos!
O SENHOR protege os seus fiéis,
mas castiga com rigor os orgulhosos.
25Tende coragem e fortalecei o vosso coração,
todos vós, que esperais no SENHOR!

Capítulo 32

A FELICIDADE DO PERDÃO

Este salmo individual de acção de graças tem algo a ver com os salmos penitenciais. Não é, porém, um acto de penitência; é mais uma meditação sobre o valor e a felicidade que existe em saber arrepender-se. Neste sentido, é uma lição sobre o arrependimento, sendo assim adequado o título de “maskil”, que lhe é atribuído em hebraico e se poderá traduzir por “poema didáctico”.

 

1De David. Poema.
Feliz aquele a quem é perdoada a culpa
e absolvido o pecado.
2Feliz o homem a quem o SENHOR não acusa de iniquidade
e em cujo espírito não há engano.
3Enquanto me calei, os meus ossos definhavam
no meu gemido de todos os dias,
4pois a tua mão pesava sobre mim dia e noite;
o meu vigor consumia-se com o calor do Verão.
5Confessei-te o meu pecado e não escondi a minha culpa;
disse: «Confessarei ao SENHOR a minha falta;»
e Tu me perdoaste a culpa do pecado.
6Por isso, todo o fiel te invoca
no tempo da angústia.
E, mesmo que transbordem águas caudalosas,
jamais o hão-de atingir.
7Tu és o meu refúgio: livras-me da angústia
e me envolves em cânticos de libertação.
8«Vou ensinar-te e mostrar-te
o caminho que deves seguir;
de olhos postos em ti, serei o teu conselheiro.
9Não sejas irracional
como um cavalo ou um jumento,
cujo ímpeto só é dominado com freio e cabresto,
para os aproximares de ti.»
10Muitos são os sofrimentos do ímpio;
mas, a quem confia no SENHOR, o seu amor o envolve.
11Alegrai-vos, justos, e regozijai-vos no SENHOR;
exultai todos vós, que sois rectos de coração!

Capítulo 33

HINO À PALAVRA CRIADORA E PROVIDENTE

Pertence ao género literário dos hinos e o seu tema – a celebração da obra de Deus na criação, a organização e manutenção do universo – sugere grande solenidade. Apesar disso, aparece-nos sem indicar uma colecção própria e sobretudo sem nenhuma indicação de acompanhamento musical, dados tão frequentes no título dos salmos. Mas deveria, certamente, ser cantado nalguma festa litúrgica. Está composto como uma antologia de temas literários e teológicos clássicos, o que aponta para uma composição mais tardia.

 

1Exultai, ó justos, no SENHOR;
louvai-o, rectos de coração.
2Louvai o SENHOR com a cítara;
cantai-lhe salmos com a harpa de dez cordas.
3Cantai-lhe um cântico novo,
tocai com arte por entre aclamações.
4As palavras do SENHOR são verdadeiras,
as suas obras nascem da fidelidade.
5Ele ama a rectidão e a justiça;
a terra está cheia da sua bondade.
6A palavra do SENHOR criou os céus,
e o sopro da sua boca, todos os astros.
7Ele juntou as águas do mar como numa represa
e guardou as torrentes do Abismo nos seus depósitos.
8A terra inteira tema o SENHOR,
tremam diante dele os habitantes do mundo.
9Porque Ele disse e tudo foi feito,
Ele ordenou e tudo foi criado.
10O SENHOR desfez os planos das nações,
frustrou os projectos dos povos.
11Só o plano do SENHOR permanece para sempre,
e os desígnios do seu coração, por todas as idades.
12Feliz a nação cujo Deus é o SENHOR,
o povo que Ele escolheu para sua herança.
13Do céu, o SENHOR contempla
e vê toda a humanidade;
14do trono em que está sentado,
observa todos os habitantes da terra.
15Ele formou o coração de cada homem
e discerne todas as suas obras.
16A vitória do rei não está num grande exército,
nem o guerreiro se salva pela sua força.
17A garantia da vitória não está no cavalo;
não é ele que salva pela sua grande força.
18Os olhos do SENHOR velam pelos seus fiéis,
por aqueles que esperam na sua bondade,
19para os libertar da morte
e os manter vivos no tempo da fome.
20A nossa alma espera no SENHOR;
Ele é o nosso amparo e o nosso escudo.
21Nele se alegra o nosso coração
e em seu nome santo confiamos.
22Venha sobre nós, SENHOR, o teu amor,
pois depositamos em ti a nossa confiança.

Capítulo 34

DEUS VELA PELOS JUSTOS

Este poema pode ser classificado como um salmo individual de acção de graças. Fundamenta-se, de facto, na experiência individual, para dar graças a Deus. No entanto, o género literário encontra-se algo modificado, por se tratar de uma composição de modelo literário fixo. Os vinte e um versículos do texto começam cada um por uma das letras do alfabeto hebraico, pela sua ordem. É pois, um “Salmo alfabético” (ver 9). No final, já fora da ordem alfabética, acrescenta-se um refrão, tal como acontece no Sl 25, que segue o mesmo esquema alfabético. O conteúdo tem algum sabor a antologia de temas clássicos da Bíblia.

 

1De David, quando se fingiu louco na presença
de Abimélec; expulso por ele, partiu.
2Em todo o tempo, bendirei o SENHOR;
o seu louvor estará sempre nos meus lábios.
3A minha alma gloria-se no SENHOR!
Que os humildes saibam e se alegrem.
4Enaltecei comigo o SENHOR;
exaltemos juntos o seu nome.
5Procurei o SENHOR e Ele respondeu-me,
livrou-me de todos os meus temores.
6Aqueles que o contemplam ficam radiantes,
não ficarão de semblante abatido.
7Quando um pobre invoca o SENHOR, Ele atende-o
e liberta-o das suas angústias.
8O anjo do SENHOR protege os que o temem
e livra-os do perigo.
9Saboreai e vede como o SENHOR é bom;
feliz o homem que nele confia!
10Temei o SENHOR, vós que lhe estais consagrados,
pois nada falta aos que o temem.
11Os ricos empobrecem e passam fome,
mas aos que procuram o SENHOR nenhum bem há-de faltar.
12Vinde, meus filhos, escutai-me:
vou ensinar-vos o temor do SENHOR.
13Qual é o homem que não ama a vida
e não deseja longos dias de prosperidade?
14Nesse caso, guarda a tua língua do mal
e os teus lábios das palavras mentirosas.
15Desvia-te do mal e faz o bem,
procura a paz e segue-a.
16Os olhos do SENHOR estão voltados para os justos
e os seus ouvidos estão atentos ao seu clamor.
17A ira do SENHOR volta-se contra os malfeitores,
para apagar da terra a sua memória.
18Os justos clamaram e o SENHOR atendeu-os
e livrou-os das suas angústias.
19O SENHOR está perto dos corações contritos
e salva os espíritos abatidos.
20Muitas são as tribulações do justo,
mas o SENHOR o livra de todas elas.
21Ele guarda todos os seus ossos,
nem um só será quebrado.
22O ímpio há-de perecer na sua maldade;
os que odeiam o justo serão castigados.
23O SENHOR resgata a vida dos seus servos;
os que nele confiam não serão condenados.

Capítulo 35

ORAÇÃO DE UM JUSTO EM PROVAÇÃO

Salmo individual de súplica. O salmista lamenta-se, porque aqueles que se diziam seus amigos o andam a perseguir. Por isso pede ajuda, descreve as maldades e a ingratidão com que o tratam e conclui pedindo de novo a Deus que o socorra. Entretanto, faz também apelo ao carácter mútuo do amor. Na verdade, ele mesmo já dera exemplo de altruísmo, quando outros se encontravam em necessidade. Praticar o bem sugere e pede recompensa; praticar o mal exige castigo.

 

1De David.
Julga, SENHOR, aqueles que me acusam,
combate os que me combatem.
2Toma a armadura e o escudo
e vem em meu auxílio.
3Empunha a lança e a espada
contra os que me perseguem.
Diz à minha alma: «Eu sou a tua salvação.»
4Sejam confundidos e envergonhados
os que procuram tirar-me a vida;
fujam, humilhados,
os que premeditam a minha desgraça.
5Sejam como a palha levada pelo vento,
quando o anjo do SENHOR os expulsar.
6Seja tenebroso e escorregadio o seu caminho,
quando o anjo do SENHOR os perseguir.
7Porque, sem motivo, puseram armadilhas contra mim;
sem razão, cavaram um fosso para eu nele cair.
8Venha sobre eles uma ruína imprevista!
Sejam apanhados na rede que me prepararam
e caiam no fosso que me abriram!
9Então, a minha alma exultará no SENHOR
e se alegrará com a sua salvação.
10Com todo o meu ser, eu direi:
«Quem pode como Tu, SENHOR,
livrar o desvalido do prepotente,
o miserável e o pobre, de quem os explora?»
11Levantaram-se contra mim falsas testemunhas
e pediram-me contas de coisas que eu ignorava.
12Pagaram-me o bem com o mal.
Fiquei desamparado!
13Eu, porém, quando eles adoeciam,
vestia-me como um penitente,
humilhava a minha alma com jejuns
e a minha oração era contínua.
14Comportava-me como se fosse um amigo ou um irmão,
andava triste e deprimido
como quem chora a morte da mãe.
15Mas eles alegravam-se da minha desgraça;
reuniam-se em conluios contra mim;
agredindo-me à traição,
dilaceravam-me sem parar.
16Rodeavam-me e escarneciam;
rangiam os dentes contra mim.
17Senhor, até quando contemplarás tudo isto?
Livra-me das feras;
resgata a minha vida das garras desses leões.
18Eu te darei graças na solene assembleia,
e te louvarei no meio da multidão.
19Não se riam da minha desgraça
os meus inimigos mentirosos,
nem troquem olhares de escárnio
os que me odeiam sem motivo.
20Eles não falam de paz;
até contra gente pacífica maquinam calúnias
21e dizem à boca cheia contra mim:
«Ah! Nós bem vimos o que fizeste!»
22Tu, SENHOR, também viste. Não fiques calado!
Senhor, não te afastes de mim!
23Desperta e levanta-te para me defenderes,
meu Deus e meu Senhor! Defende a minha causa.
24SENHOR, meu Deus, julga-me segundo a tua justiça.
Não deixes que se riam à minha custa.
25Que não digam para si mesmos: «Estamos satisfeitos.»
Nem possam dizer: «Afinal, devorámo-lo.»
26Sejam confundidos e envergonhados
todos os que se alegram com o meu mal;
cubram-se de confusão e de ignomínia
os que são arrogantes para comigo.
27Mas alegrem-se e exultem
os que desejam que se me faça justiça,
e digam sem cessar: «O SENHOR é grande.
Ele quer o bem-estar do seu servo.»
28Então, a minha língua proclamará a tua justiça;
todos os dias cantará os teus louvores.

Capítulo 36

A JUSTIÇA E A GRAÇA

Salmo individual de súplica. Compõe-se de uma parte sapiencial (1-5), onde se medita sobre a maneira como a maldade domina o homem mau e se instala no seu coração, e uma outra (6-12) em que o salmista exprime a sua fé em Deus como forma de vencer o mal.

 

1Ao director do coro. Do servo do SENHOR. De David.
2O ímpio tem a lei do pecado no coração.
Para ele não há temor de Deus.
3Ilude-se a si próprio,
para não descobrir nem odiar o seu pecado.
4As palavras da sua boca são falsas e mentirosas,
deixou de ser honesto e de fazer o bem.
5No seu leito maquina a iniquidade;
anda pelo mau caminho
e não quer renunciar ao mal.
6Mas a tua bondade, SENHOR, chega até aos céus,
e a tua fidelidade, até às nuvens.
7A tua justiça é como os montes altíssimos,
os teus juízos são como o abismo profundo.
Tu, SENHOR, salvas os homens e os animais.
8Ó Deus, que maravilhosa é a tua bondade!
Os humanos refugiam-se debaixo das tuas asas.
9Podem saciar-se da abundância da tua casa;
Tu os inebrias no rio das tuas delícias.
10Em ti está a fonte da vida
e é na tua luz que vemos a luz.
11Concede os teus favores aos que te amam
e a tua justiça aos que são rectos de coração.
12Não permitas que me pisem os pés dos orgulhosos
nem me afugente a mão do ímpio.
13Eis como caem por terra os malfeitores,
abatidos, para não mais se levantarem.

Capítulo 37

A SORTE DO JUSTO E DO ÍMPIO

Este salmo obedece ao esquema alfabético da composição; e a escolha do tema implica alguma liberdade literária. É um salmo sapiencial, em que se propõe a meditação sobre a prática do bem e do mal e sobre a maneira como Deus se posiciona relativamente a essas duas atitudes opostas. Declara que a retribuição pelo comportamento moral está nas mãos de Deus. O tom sapiencial nota-se também no estilo dialogal com que o mestre se dirige directamente a um discípulo.

 

1De David.
Não te irrites por causa dos malfeitores
nem invejes os que praticam a injustiça.
2Eles vão secar depressa como o feno
e murchar como a erva verde.
3Confia no SENHOR e faz o bem;
habitarás a terra e viverás tranquilo.
4Procura no SENHOR a tua felicidade,
e Ele satisfará os desejos do teu coração.
5Confia ao SENHOR o teu destino,
confia nele e Ele há-de ajudar-te.
6Fará brilhar, como luz, a tua justiça,
e, como sol do meio-dia, os teus direitos.
7Confia no SENHOR, põe nele a tua esperança;
não invejes os que prosperam
nem os que vivem de intrigas.
8Foge da ira e deixa a indignação;
não te impacientes, pois isso conduz ao mal.
9Pois os maus serão exterminados,
mas, os que esperam no SENHOR, possuirão a terra.
10Ainda um pouco, e já não verás o ímpio;
mesmo que o procures, não vais encontrá-lo.
11Porém, os pobres possuirão a terra
e terão felicidade e grande paz.
12Os ímpios conspiram contra o justo
e rangem os dentes contra ele.
13Mas o Senhor ri-se deles,
pois sabe que os seus dias estão contados.
14Os maus desembainham a espada e retesam o arco,
para abaterem o pobre e o desvalido,
para matar os que seguem o bom caminho.
15Mas a sua espada vai trespassar-lhes o coração
e o seu arco será quebrado.
16Vale mais o pouco para o homem justo,
do que toda a fortuna do ímpio.
17Porque os braços do ímpio serão quebrados,
mas o SENHOR sustenta os que praticam o bem.
18O SENHOR conhece os dias do homem honesto
e a herança dele será para sempre.
19Não se envergonhará no tempo da adversidade
e nos dias da fome será saciado.
20Os ímpios, porém, hão-de perecer,
e os inimigos do SENHOR
irão definhar como a erva dos campos
e dissipar-se como fumo.
21O ímpio pede emprestado e não paga,
enquanto o justo se compadece e empresta.
22Os que o SENHOR abençoar possuirão a terra,
mas os que Ele amaldiçoar serão exterminados.
23O SENHOR assegura os passos do homem
e compraz-se nos seus caminhos.
24Se cair, não ficará por terra,
porque o SENHOR há-de estender-lhe a mão.
25Fui jovem e agora sou velho;
mas nunca vi o justo abandonado
nem os seus filhos a mendigar pão.
26Sempre o vi compassivo e generoso;
por isso, a sua descendência será abençoada.
27Afasta-te do mal e pratica o bem,
e então viverás para sempre,
28porque o SENHOR ama a rectidão
e não abandona os seus fiéis.
Os ímpios serão dizimados
e a sua descendência será destruída.
29Os justos possuirão a terra,
e nela viverão para sempre.
30A boca do justo profere a sabedoria
e a sua língua fala sempre com rectidão.
31Ele traz no coração a lei do seu Deus;
por isso os seus passos não vacilam.
32O ímpio espia o homem justo
e procura a maneira de o matar.
33Mas o SENHOR não há-de abandoná-lo nas mãos dos maus,
nem deixará que o condenem em tribunal.
34Confia no SENHOR e segue os seus caminhos;
Ele te honrará com a posse da terra
e então verás o extermínio do ímpio.
35Vi um ímpio encher-se de soberba,
expandir-se como uma árvore frondosa.
36Tornei a passar e já não existia;
procurei e não consegui encontrá-lo.
37Observa o homem honrado, repara no homem justo,
porque o homem de paz terá descendência.
38Mas os pecadores serão todos exterminados;
a descendência dos maus será destruída.
39A salvação dos justos vem do SENHOR;
Ele é o seu refúgio na hora da angústia.
40O SENHOR os ajuda e liberta,
defende-os dos ímpios e salva-os,
porque nele se refugiam.

Capítulo 38

ORAÇÃO DE UM SALMISTA DOENTE

Salmo individual de súplica, profundamente imbuído de espírito penitencial. De facto, pertence à lista dos salmos penitenciais. A doença grave de que o salmista sofre é por ele suportada com paciência. Talvez este salmo fosse recitado durante o sacrifício memorial de que se fala em Lv 2,2-9; 24,7-8 e como se diz no título (v.1).

 

1Salmo de David. Em memorial.
2SENHOR, não me repreendas com a tua ira,
nem me castigues com a tua indignação.
3Em mim penetraram as tuas setas,
caiu sobre mim a tua mão.
4No meu corpo nada ficou são,
por causa da tua ira;
nada há de são nos meus ossos,
por causa do meu pecado.
5Os meus pecados pesam sobre a minha cabeça
e como um fardo excessivo me oprimem.
6As minhas chagas são fétidas e purulentas,
por causa da minha loucura.
7Ando cabisbaixo e profundamente abatido,
caminho todo o dia na tristeza.
8As minhas entranhas ardem de febre;
nada de são há no meu corpo.
9Estou fraco e muito alquebrado;
elevam-se bem alto os gemidos do meu coração.
10Senhor, diante de ti estão os meus desejos,
e não desconheces o meu lamento.
11O meu coração palpita, faltam-me as forças,
e até já me falta a luz dos olhos.
12Os meus amigos e companheiros
afastam-se da minha desgraça;
os meus parentes ficam ao longe.
13Preparam ciladas os que atentam contra a minha vida;
insultam-me os que me querem mal
e passam o dia a maquinar traições.
14Eu, porém, sou como um surdo, que não dá ouvidos;
ou como um mudo, que não abre a boca.
15Tornei-me como um homem que não ouve
e não tem réplica na sua boca.
16Pois confio em ti, SENHOR,
e Tu me respondes, Senhor, meu Deus.
17Eu disse: «Não se riam à minha custa,
nem se alegrem, se o meu pé resvalar.»
18Sim, estou prestes a cair,
a minha dor está sempre presente.
19Por isso, confesso a minha culpa,
estou inquieto por causa do meu pecado.
20Os meus inimigos são poderosos;
multiplicam-se os que me odeiam sem razão.
21Os que me pagam o bem com o mal
perseguem-me, porque procuro fazer o bem.
22SENHOR, não me desampares!
Meu Deus, não te afastes de mim!
23Vem depressa socorrer-me,
Senhor, minha salvação!

Capítulo 39

BREVIDADE DA VIDA

Salmo individual de súplica, onde o salmista não só descreve uma situação de sofrimento, mas também exprime a consciência de que a sua vida se tornou passageira. Mesmo assim, a sua fé leva-o a não dar largas ao desespero. Pelo título (v.1), o salmo era destinado a Jedutun, tal como os Sl 62 e 77. Tratava-se de um grupo de levitas encarregados do canto e de guardar as portas do templo (1 Cr 16,38-42). Este Sl tem semelhança com o Livro de Job.

 

1Ao director do coro. Para Jedutun. Salmo de David.
2Eu disse a mim próprio: «Vigiarei sobre a minha conduta,
para não pecar com a língua;
refrearei a minha boca,
enquanto o ímpio estiver diante de mim.»
3Fiquei calado e em silêncio, mas sem proveito,
porque se agravou a minha dor.
4O coração ardia-me no peito;
de tanto pensar nisto, esse fogo avivava-se
e deixei a minha língua dizer:
5«SENHOR, dá-me a conhecer o meu fim
e o número dos meus dias,
para que veja como sou efémero.
6De poucos palmos fizeste os meus dias;
diante de ti a minha existência é como nada;
o homem não é mais do que um sopro!
7Ele passa como simples sombra!
É em vão que se agita:
amontoa riquezas e não sabe para quem ficam.
8Agora, Senhor, que posso eu esperar?
A minha esperança está em ti.
9Livra-me de todas as minhas faltas;
não deixes que o insensato se ria de mim.
10Fiquei calado, sem abrir a boca,
porque és Tu quem intervém.
11Afasta de mim os teus castigos;
desfaleço ao peso da tua mão.
12Tu corriges o homem, castigando a sua culpa,
e, como a traça, destróis o que ele mais estima.
Na verdade, o homem é apenas um sopro.
13SENHOR, ouve a minha oração,
escuta o meu lamento;
não fiques insensível às minhas lágrimas.
Diante de ti sou como um estrangeiro,
um hóspede, como os meus antepassados.
14Desvia de mim os olhos, para que eu possa respirar,
antes que tenha de partir, e acabe a minha existência.»

Capítulo 40

ACÇÃO DE GRAÇAS SEGUIDA DE PRECE (70)

Acima de tudo, é um salmo individual de acção de graças. Mas a certeza com que o salmista agradece os benefícios do passado (v.2-12) permite-lhe também pedir ajuda para problemas novos com que se debate (v.13-18). Esta última parte é retomada de forma semelhante no Sl 70. No seu conjunto, este salmo tem várias analogias com os poemas do Servo do Senhor em Isaías. Em vários passos do NT, este salmo foi aproveitado com sentido cristológico.

 

1Ao director do coro. Salmo de David.
2Invoquei o SENHOR com toda a confiança;
Ele inclinou-se para mim e ouviu o meu clamor.
3Tirou-me dum poço fatal, dum charco de lodo;
assentou os meus pés sobre a rocha
e deu firmeza aos meus passos.
4Ele pôs nos meus lábios um cântico novo,
um hino de louvor ao nosso Deus.
Muitos, ao verem isto, hão-de comover-se,
hão-de pôr a sua confiança no SENHOR.
5Feliz o homem que confia no SENHOR
e não se volta para os idólatras,
para os que seguem a mentira.
6Grandes coisas fizeste por nós, SENHOR, meu Deus;
não há ninguém igual a ti!
Quantas maravilhas e desígnios em nosso favor!
Quisera anunciá-los e proclamá-los,
mas são tantos que não se podem contar.
7Não quiseste sacrifícios nem oblações,
mas abriste-me os ouvidos para escutar;
não pediste holocaustos nem vítimas.
8Então eu disse: «Aqui estou!
No livro da Lei está escrito
aquilo que devo fazer.»
9Esse é o meu desejo, ó meu Deus;
a tua lei está dentro do meu coração.
10Anunciei a tua justiça na grande assembleia;
Tu bem sabes, SENHOR, que não fechei os meus lábios.
11Não escondi a tua justiça no fundo do coração;
proclamei a tua fidelidade e a tua salvação.
Não ocultei à grande assembleia
a tua bondade e a tua verdade.
12SENHOR, não me recuses a tua ternura;
que a tua graça e a tua verdade me protejam sempre!
13Males sem conta me cercam;
as minhas iniquidades caem sobre mim, sem que as possa ver!
São mais numerosas que os cabelos da minha cabeça;
por isso, o meu ânimo desfalece.
14SENHOR, vem em meu auxílio,
vem depressa socorrer-me!
15Fiquem confundidos e cobertos de vergonha
os que procuram tirar-me a vida.
Retrocedam e corem de vergonha
os que desejam a minha desgraça.
16Fiquem atónitos e cheios de vergonha
os que troçam de mim.
17Mas alegrem-se e exultem em ti todos os que te procuram.
Digam sem cessar os que desejam a tua salvação:
«O SENHOR é grande!»
18Eu, porém, sou pobre e miserável:
ó Deus, cuida de mim.
Tu és o meu auxílio e o meu libertador:
ó meu Deus, não tardes!

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