Capítulo 131
CONFIANÇA FILIAL
Salmo individual de confiança. Exprime a serenidade essencial de quem se sente invadido pelo Senhor (v.3). Próximo da “infância espiritual”.
- 1Cântico das peregrinações. De David.
-
SENHOR, o meu coração não é orgulhoso,
- nem os meus olhos são altivos;
-
não corro atrás de grandezas
- ou de coisas superiores a mim.
-
2Pelo contrário, estou sossegado e tranquilo,
- como criança saciada ao colo da mãe;
- a minha alma é como uma criança saciada!
-
3Israel, espera no Senhor,
- desde agora e para sempre!
Capítulo 132
PROMESSA DE DEUS A DAVID (2 Sm 6-7)
Este salmo é incluído nos salmos reais. De facto, David é aqui figura central: porque procura um lugar para santuário do Senhor, e porque Deus fez a promessa de lhe garantir em Sião uma dinastia perene de descendentes. A simbologia da realeza e seus agentes, do culto e seus ministros, anda aqui ligada com as conotações de aliança entre Deus e o povo.
- 1Cântico das peregrinações.
-
SENHOR, lembra-te de David
- e dos seus múltiplos trabalhos;
-
2do juramento que fez ao SENHOR
- e do voto que fez ao Deus de Jacob:
-
3«Não entrarei na minha tenda
- nem me deitarei no meu leito de descanso,
-
4não deixarei dormir os meus olhos
- nem descansar as minhas pálpebras,
-
5enquanto não encontrar um lugar para o SENHOR,
- uma morada para o Deus poderoso de Jacob.»
-
6Ouvimos dizer que a Arca estava em Efrata;
- fomos encontrá-la nos campos de Jaar.
-
7Entremos na morada do SENHOR!
- Prostremo-nos diante do estrado de seus pés!
-
8Levanta-te, SENHOR, e entra no teu repouso,
- Tu e a Arca do teu poder!
-
9Revistam-se de justiça os teus sacerdotes
- e os teus fiéis exultem de alegria.
-
10Por amor de David, teu servo,
- não desvies o teu rosto do teu ungido.
-
11O SENHOR fez um juramento a David,
- uma promessa a que não faltará:
-
«Hei-de colocar no teu trono
- um descendente da tua família.
-
12Se os teus filhos guardarem a minha aliança
- e os preceitos que lhes hei-de ensinar,
-
também os filhos deles se hão-de sentar
- para sempre no teu trono.»
-
13O SENHOR escolheu Sião,
- preferiu-a para sua morada:
-
14«Este será para sempre o meu lugar de repouso,
- aqui habitarei, porque o escolhi.
-
15Abençoarei com abundância os seus celeiros,
- saciarei de pão os seus pobres;
-
16revestirei de esplendor os seus sacerdotes
- e os seus fiéis hão-de gritar de alegria.
-
17Ali farei surgir descendência para David
- e farei brilhar a luz do meu ungido.
-
18Cobrirei de vergonha os seus inimigos,
- mas sobre ele farei brilhar o seu diadema.»
Capítulo 133
A UNIDADE FRATERNA
Meditação sapiencial. Parece contemplar a vida da comunidade de Israel como uma grande família de irmãos. As imagens do óleo e do orvalho sugerem a necessária fertilidade da terra (Gn 27,28).
- 1Cântico das peregrinações. De David.
-
Vede como é bom e agradável
- que os irmãos vivam unidos!
-
2É como óleo perfumado derramado sobre a cabeça,
- a escorrer pela barba, a barba de Aarão,
- a escorrer até à orla das suas vestes.
-
3É como o orvalho do monte Hermon,
- que escorre sobre as montanhas de Sião.
-
É ali que o SENHOR dá a sua bênção,
- a vida para sempre.
Capítulo 134
BENDIZEI O SENHOR
Este salmo é uma espécie de convite litúrgico ao louvor a Deus. Parece ser um refrão do serviço religioso nocturno no templo.
- 1Cântico das peregrinações.
-
Bendizei o SENHOR, todos os servos do SENHOR,
- que estais no seu santuário todas as noites!
-
2Elevai as vossas mãos em oração
- e bendizei o SENHOR!
-
3De Sião te abençoe o SENHOR,
- que fez o céu e a terra.
Capítulo 135
CÂNTICO DOS ELEITOS (115)
Este salmo é um hino construído com temas clássicos da piedade e da fé bíblicas. O seu tema central é o Deus que mora em Sião. Deste Deus único, o hino celebra a supremacia sobre a criação (v.5-7) e a defesa do seu povo ao longo da História (8-14). Os outros deuses não existem. É o monoteísmo assumido.
- 1Aleluia!
-
Louvai o nome do SENHOR;
- servos do SENHOR, louvai-o,
-
2vós que estais no templo do SENHOR,
- nos átrios da casa do nosso Deus.
-
3Louvai o SENHOR, porque Ele é bom;
- cantai ao seu nome, porque é amável.
-
4O SENHOR escolheu para si Jacob,
- e Israel, para seu domínio preferido.
-
5Eu sei que o SENHOR é grande;
- o nosso Deus é maior que todos os deuses.
-
6Pois tudo o que o SENHOR quer, Ele o faz:
- no céu e na terra, nos mares e nos abismos.
-
7Faz subir as nuvens das extremidades da terra,
- com os relâmpagos faz cair a chuva
- e retira os ventos dos seus reservatórios.
-
8Foi Ele que feriu os primogénitos do Egipto,
- tanto dos homens como dos animais.
-
9Fez maravilhas e prodígios no meio de ti, ó Egipto,
- para castigar o Faraó e todos os seus servos.
-
10Foi Ele que derrotou as grandes nações
- e matou reis poderosos:
-
11Seon, rei dos amorreus, e Og, rei de Basan,
- e todos os reis de Canaã.
-
12E entregou a terra deles como herança,
- como herança a Israel, seu povo.
-
13O teu nome, SENHOR, permanece para sempre;
- a tua lembrança, por todas as gerações.
-
14O SENHOR defende a causa do seu povo
- e terá compaixão dos seus servos.
-
15Os ídolos dos gentios não passam de ouro e prata;
- são obra das mãos do homem.
-
16Têm boca, mas não falam;
- têm olhos, mas não vêem;
-
17têm ouvidos, mas não ouvem;
- nem sequer há respiração na sua boca.
-
18Sejam iguais a eles, os que os fazem
- e todos os que neles confiam.
-
19Casa de Israel, bendizei o SENHOR!
- Casa de Aarão, bendizei o SENHOR!
-
20Casa de Levi, bendizei o SENHOR!
- Vós, que temeis o SENHOR, bendizei o SENHOR!
-
21Bendito seja o SENHOR, Deus de Sião,
- Ele que habita em Jerusalém!
- Aleluia!
Capítulo 136
HINO DE ACÇÃO DE GRAÇAS (Dn 3,52-90)
Hino de louvor a Deus, com características litúrgicas. O motivo de louvor é seguido de um refrão que também se encontra noutros salmos (106; 107; 118; 2 Cr 7,3; Esd 3,11). Os temas vão da saída do Egipto à entrada em Canaã, tema clássico da teologia bíblica e dos salmos (135,10-14). Na liturgia judaica, este salmo é o chamado grande “Hallel” (hino de louvor), recitado na festa da Páscoa.
-
1Louvai o SENHOR, porque Ele é bom,
- porque o seu amor é eterno!
-
2Louvai o Deus dos deuses,
- porque o seu amor é eterno!
-
3Louvai o Senhor dos senhores,
- porque o seu amor é eterno!
-
4Só Ele faz grandes maravilhas,
- porque o seu amor é eterno!
-
5Fez os céus com sabedoria,
- porque o seu amor é eterno!
-
6Estendeu a terra sobre as águas,
- porque o seu amor é eterno!
-
7Criou os grandes luzeiros,
- porque o seu amor é eterno!
-
8O Sol para presidir ao dia,
- porque o seu amor é eterno!
-
9A Lua e as estrelas para presidirem à noite,
- porque o seu amor é eterno!
-
10Feriu os primogénitos dos egípcios,
- porque o seu amor é eterno!
-
11Fez sair Israel do meio deles,
- porque o seu amor é eterno!
-
12Com a sua mão forte e o seu braço estendido,
- porque o seu amor é eterno!
-
13Dividiu ao meio o Mar dos Juncos,
- porque o seu amor é eterno!
-
14Fez passar Israel através dele,
- porque o seu amor é eterno!
-
15Afundou o Faraó e o seu exército,
- porque o seu amor é eterno!
-
16Conduziu o seu povo pelo deserto,
- porque o seu amor é eterno!
-
17Feriu grandes reis,
- porque o seu amor é eterno!
-
18Matou reis poderosos,
- porque o seu amor é eterno!
-
19Seon, rei dos amorreus,
- porque o seu amor é eterno!
-
20E Og, rei de Basan,
- porque o seu amor é eterno!
-
21Deu a terra deles como herança,
- porque o seu amor é eterno!
-
22Como herança a Israel, seu servo,
- porque o seu amor é eterno!
-
23Não se esqueceu de nós, na nossa humilhação,
- porque o seu amor é eterno!
-
24E livrou-nos dos nossos opressores,
- porque o seu amor é eterno!
-
25Ele dá alimento a todo o ser vivo,
- porque o seu amor é eterno!
-
26Louvai o Deus do céu,
- porque o seu amor é eterno!
Capítulo 137
«JUNTO DOS RIOS DA BABILÓNIA»
Salmo colectivo de súplica, no âmbito do exílio da Babilónia. Descreve a dor dos exilados, por terem sido afastados de Jerusalém, e a sua incapacidade de manter na terra estrangeira as expressões de alegria que só em Sião faziam sentido. Um bom comentário ao espírito deste salmo são os primeiros capítulos de Ezequiel, que transmitem esta mesma experiência, pois aquele profeta foi levado para o Exílio na primeira deportação, em 597 a.C..
-
1Junto aos rios da Babilónia nos sentámos a chorar,
- recordando-nos de Sião.
-
2Nos salgueiros das suas margens
- pendurámos as nossas harpas.
-
3Os que nos levaram para ali cativos
- pediam-nos um cântico;
-
e os nossos opressores, uma canção de alegria:
- «Cantai-nos um cântico de Sião.»
-
4Como poderíamos nós cantar um cântico do SENHOR,
- estando numa terra estranha?
-
5Se me esquecer de ti, Jerusalém,
- fique ressequida a minha mão direita!
-
6Pegue-se-me a língua ao paladar,
- se eu não me lembrar de ti,
-
se não fizer de Jerusalém
- a minha suprema alegria!
-
7Lembra-te, SENHOR, do que fizeram os filhos de Edom,
- no dia de Jerusalém, quando gritavam:
- «Arrasai-a! Arrasai-a até aos alicerces!»
-
8Cidade da Babilónia devastadora,
- feliz de quem te retribuir
- com o mesmo mal que nos fizeste!
-
9Feliz de quem agarrar nas tuas crianças
- e as esmagar contra as rochas!
Capítulo 138
HINO DE ACÇÃO DE GRAÇAS
Salmo individual de acção de graças. Por detrás dele, alguns autores crêem descobrir a figura de um rei; no entanto, as referências aos reis da terra e aos inimigos são dados frequentes nos salmos, mesmo nos de súplica individual.
- 1De David.
-
Dou-te graças, SENHOR, de todo o coração,
- na presença dos poderosos te hei-de louvar.
-
2Inclino-me voltado para o teu santo templo
- e louvarei o teu nome,
-
pela tua bondade e pela tua fidelidade,
- porque foste mais além das tuas promessas.
-
3Quando te invoquei, atendeste-me
- e aumentaste as forças da minha alma.
-
4Todos os reis da terra te louvarão, SENHOR,
- ao ouvirem as palavras da tua boca.
-
5Celebrarão os caminhos do SENHOR,
- pois grande é a sua glória.
-
6O SENHOR é excelso, mas repara no humilde
- e reconhece de longe o soberbo.
-
7Quando estou em angústia, conservas-me a vida;
- estendes a mão contra a ira dos meus inimigos,
- e a tua mão direita me salva.
-
8O SENHOR tudo fará por mim!
- Ó SENHOR, o teu amor é eterno!
- Não abandones a obra das tuas mãos!
Capítulo 139
O DEUS OMNIPOTENTE
Este salmo contém em si a experiência dolorosa e os pedidos que normalmente integram os salmos de súplica. No entanto, desenvolve-se com as características de uma meditação sapiencial sobre o papel de Deus na condução da vida humana e sobre os profundos e insondáveis caminhos por onde Ele a conduz. A atitude sugerida é a de uma entrega total a essa sabedoria.
- 1Ao director do coro. Salmo de David.
- SENHOR, Tu examinaste-me e conheces-me,
-
2sabes quando me sento e quando me levanto;
- à distância conheces os meus pensamentos.
-
3Vês-me quando caminho e quando descanso;
- estás atento a todos os meus passos.
-
4Ainda a palavra me não chegou à boca,
- já Tu, SENHOR, a conheces perfeitamente.
-
5Tu me envolves por todo o lado
- e sobre mim colocas a tua mão.
-
6É uma sabedoria profunda, que não posso compreender;
- tão sublime, que a não posso atingir!
-
7Onde é que eu poderia ocultar-me do teu espírito?
- Para onde poderia fugir da tua presença?
-
8Se subir aos céus, Tu lá estás;
- se descer ao mundo dos mortos, ali te encontras.
-
9Se voar nas asas da aurora
- ou for morar nos confins do mar
-
10mesmo aí a tua mão há-de guiar-me
- e a tua direita me sustentará.
-
11Se disser: «Talvez as trevas me possam esconder,
- ou a luz se transforme em noite à minha volta»,
-
12nem as trevas me ocultariam de ti
- e a noite seria, para ti, brilhante como o dia.
- A luz e as trevas seriam a mesma coisa!
-
13Tu modelaste as entranhas do meu ser
- e formaste-me no seio de minha mãe.
-
14Dou-te graças por tão espantosas maravilhas;
- admiráveis são as tuas obras.
-
15Quando os meus ossos estavam a ser formados,
- e eu, em segredo, me desenvolvia,
- tecido nas profundezas da terra,
- nada disso te era oculto.
-
16Os teus olhos viram-me em embrião.
- Tudo isso estava escrito no teu livro.
-
Todos os meus dias estavam modelados,
- ainda antes que um só deles existisse.
-
17Como são insondáveis, ó Deus, os teus pensamentos!
- Como é incalculável o seu número!
-
18Se os quisesse contar, seriam mais do que a areia;
- e, se pudesse chegar ao fim, estaria ainda contigo.
-
19Ó Deus, faz com que os ímpios desapareçam;
- afasta de mim os homens sanguinários.
-
20Aqueles que maldosamente se revoltam,
- em vão se levantam contra ti.
-
21Não hei-de eu, SENHOR, odiar os que te odeiam?
- Não hei-de aborrecer os que se voltam contra ti?
-
22Odeio-os com toda a minha alma.
- Considero-os como meus inimigos.
-
23Examina-me, SENHOR, e vê o meu coração;
- põe-me à prova para saber os meus pensamentos.
-
24Vê se é errado o meu caminho
- e guia-me pelo caminho eterno.
Capítulo 140
ORAÇÃO CONTRA OS MAUS
Salmo individual de súplica. O salmista pede para ser libertado dos caluniadores venenosos (v.2-4) e dos inimigos emboscados (v.5-6); invoca o Senhor (v.7-9), faz pedidos de castigo para os inimigos (v.10-12) e exprime a sua esperança de que Deus conduzirá os justos pela mão (v.13-14).
- 1Ao director do coro. Salmo de David.
-
2Livra-me, SENHOR, do homem mau;
- defende-me do homem violento:
-
3dos que planeiam o mal em seu coração
- e todos os dias promovem discórdias.
-
4Afiam a sua língua como serpentes
- e escondem nos lábios veneno de víboras.
-
5Protege-me, SENHOR, das mãos do ímpio;
- defende-me dos homens violentos,
- que preparam tropeços para os meus pés.
-
6Os insolentes escondem armadilhas contra mim;
- estenderam uma rede à beira do caminho;
- armaram laços para eu cair.
-
7Disse ao SENHOR: «Tu és o meu Deus!»
- Escuta, SENHOR, a voz da minha súplica.
-
8SENHOR, meu Deus, meu poderoso defensor,
- protege a minha cabeça no dia do combate.
-
9Não escutes, SENHOR, os desejos do ímpio;
- não permitas que se realizem os seus planos.
-
10Não mais levantem a cabeça os que me cercam;
- caia sobre eles a malícia dos seus lábios.
-
11Chovam sobre eles carvões acesos;
- sejam atirados para covas donde não mais se levantem.
-
12Que os caluniadores não estejam firmes na terra;
- que a desgraça persiga os homens violentos.
-
13SENHOR, eu sei que defendes a causa do indigente
- e fazes justiça ao pobre.
-
14Por isso, os justos louvarão o teu nome
- e os homens rectos viverão na tua presença.