Capítulo 1

OS DOIS CAMINHOS (Pr 4,10-19; Jr 17,5-8)

Este salmo pertence ao género sapiencial e constitui uma espécie de meditação introdutória a todo o livro. Esta meditação, com claras conotações éticas, mostra que o livro, para além de ser uma antologia de orações pessoais e litúrgicas, é também um espelho de vida e de moral. Por isso, é sublinhada a simples divisão de caminhos ou comportamentos, que representam dois modos de vida com resultados diferentes (Dt 30,15-18).

 

1Feliz o homem que não segue o conselho dos ímpios,
nem se detém no caminho dos pecadores,
nem toma parte na reunião dos libertinos;
2antes põe o seu enlevo na lei do SENHOR
e nela medita dia e noite.
3É como a árvore plantada à beira da água corrente:
dá fruto na estação própria
e a sua folhagem não murcha;
em tudo o que faz é bem sucedido.
4Mas os ímpios não são assim!
São como a palha que o vento leva.
5Por isso, os ímpios não resistirão no julgamento,
nem os pecadores, na assembleia dos justos.
6O SENHOR conhece o caminho dos justos,
mas o caminho dos ímpios conduz à perdição.

Capítulo 2

DEUS E O SEU UNGIDO (110)

Podendo ter alguma articulação com o Sl 1, e talvez com algumas das colecções seguintes que integram o Livro dos Salmos, o Sl 2 pertence ao conjunto dos “salmos reais” e tem bastantes semelhanças com o Sl 110. Canta o domínio universal de Deus e acolhe as conotações messiânicas que a tradição lhe foi dando (Act 4,25; 13,33; Heb 1,5; 5,5). Tem o aspecto de uma fórmula de entronização real, com expressões que, para um simples rei de Israel, poderiam ser excessivas, dada a modéstia de um tal reino. Mas tais fórmulas traduzem a importância da função real no Médio Oriente Antigo.

 

1Porque se amotinam as nações
e os povos fazem planos insensatos?
2Revoltam-se os reis da terra
e os príncipes conspiram juntos
contra o SENHOR e contra o seu ungido:
3«Quebremos as algemas
e atiremos para longe de nós o seu jugo!»
4Aquele que habita nos céus sorri;
o Senhor escarnece deles.
5Depois, atemoriza-os com a sua ira
e com a sua cólera confunde-os:
6«Fui Eu que consagrei o meu rei
sobre o meu monte santo de Sião!»
7Vou anunciar o decreto do SENHOR.
Ele disse-me: «Tu és meu filho,
Eu hoje te gerei.
8Pede-me e Eu te darei povos como herança
e os confins da terra por domínio.
9Hás-de governá-los com ceptro de ferro
e destruí-los como um vaso de barro.»
10E agora, prestai atenção, ó reis!
Deixai-vos instruir, juízes da terra!
11Servi o SENHOR com temor,
prestai-lhe homenagem com tremor,
12para que não se irrite e não pereçais no caminho,
pois a sua ira irrompe num instante.
Felizes os que nele confiam!

Capítulo 3

A CERTEZA DO SOCORRO

Salmo individual de confiança. A condizer com a pequena nota do título que liga este salmo a David, em ocasião de perigo (v.1), também as expressões utilizadas supõem, para um rei que apresenta a Deus, os perigos a que se encontra sujeito. Daí a insistência nos inimigos que o cercam e na coragem que Deus lhe incute para os enfrentar (2 Sm 15-18).

 

1Salmo de David. Quando fugiu de seu filho Absalão.
2SENHOR, são tantos os meus adversários!
São tantos os que se levantam contra mim!
3Muitos dizem a meu respeito:
«Nem Deus o poderá salvar!»
4Mas Tu, SENHOR, és o meu escudo protector,
és a minha glória e quem me faz levantar a cabeça.
5Em alta voz invoco o SENHOR
e Ele responde-me da sua montanha santa.
6Deito-me, adormeço e acordo,
porque o SENHOR é o meu sustentáculo.
7Não temo as grandes multidões
que de todos os lados me cercam.
8Levanta-te, SENHOR! Salva-me, ó meu Deus!
Bate na face dos meus inimigos
e quebra os dentes dos ímpios.
9De ti, SENHOR, vem a salvação.
Desça a tua bênção sobre o teu povo.

Capítulo 4

EXORTAÇÃO À CONFIANÇA EM DEUS

Salmo individual de confiança em Deus. Nele transparece alguma tensão entre o crente e outras pessoas a respeito das vantagens de se ter confiança em Deus, constituindo uma exortação pública sobre este assunto. Daí o intenso diálogo entre vários intervenientes, a propósito de experiências nesse campo.

 

1Ao director do coro. Salmo de David.
''Com instrumentos de corda.
2Quando te invocar, escuta-me, ó Deus, minha justiça!
Já que na angústia me libertaste,
tem compaixão de mim e ouve a minha oração.
3Homens, até quando desprezareis a minha glória?
Porque amais a ilusão e buscais a mentira?
4Sabei que o SENHOR faz maravilhas pelo seu amigo
e há-de escutar-me quando o invocar.
5Tremei de medo e não pequeis mais;
meditai nos vossos leitos, em silêncio.
6Oferecei sacrifícios de justiça
e confiai no SENHOR.
7Muitos dizem: «Quem nos dará a felicidade?»
Resplandeça sobre nós, SENHOR, a luz da tua face!
8Pois Tu dás uma alegria maior ao meu coração
do que a daqueles que têm trigo e vinho em abundância.
9Deito-me em paz e logo adormeço,
porque só Tu, SENHOR, me fazes viver em segurança.

Capítulo 5

ORAÇÃO DA MANHÃ CONTRA OS INIMIGOS

Salmo individual de súplica, feita por ocasião das orações da manhã. Os pedidos incidem sobre as condições exigidas para que alguém se possa aproximar condignamente de Deus, no seu templo. Define a vida moral, suplicando a graça de pôr em prática o bem e solicitando que o mal praticado pelos inimigos seja castigado. A oração litúrgica é aqui sobretudo um espaço de reflexão sobre o agir humano.

 

1Ao Director do coro. Para instrumentos de corda.
Salmo de David.
2Ouve, SENHOR, as minhas palavras
e atende a minha súplica.
3Escuta a voz do meu clamor,
ó meu Rei e meu Deus,
pois eu elevo a ti a minha oração.
4Pela manhã, SENHOR, escuta a minha voz.
Mal o Sol nasce, exponho diante de ti o meu pedido
e fico à espera, confiante.
5Tu não és um Deus que se agrade do mal;
os maus não podem viver a teu lado.
6Os arrogantes não poderão subsistir na tua presença,
pois detestas os que praticam a iniquidade.
7Exterminas os mentirosos.
O homem sanguinário e fraudulento é detestado pelo SENHOR.
8Mas eu, pela grandeza do teu amor,
entrarei na tua casa
para te adorar, com reverência, no teu santo templo.
9Guia-me, SENHOR, pelos caminhos da tua justiça;
defende-me contra os que me perseguem;
aplana diante de mim o teu caminho.
10Na boca deles não há sinceridade;
no seu coração só há malícia.
A sua garganta é um sepulcro aberto
e com a língua tentam seduzir os outros.
11Castiga-os, ó Deus,
frustra os seus desígnios;
expulsa-os pelos seus numerosos crimes,
porque se revoltaram contra ti.
12Mas alegrem-se e rejubilem para sempre
todos os que em ti confiam.
Tu proteges e alegras
os que amam o teu nome.
13Porque Tu, SENHOR, abençoas o justo
e o envolves num escudo de graça.

Capítulo 6

SÚPLICA DE UM JUSTO EM PROVAÇÃO

Este salmo individual de súplica tem alguns tons penitenciais. O orante mostra o seu sentimento de penitência, não tanto pela confissão dos pecados e pelo pedido de perdão, mas pela meditação, aceitando com fé a doença que o acometeu e que pode ser uma forma de expiar o seu pecado. Ao mesmo tempo, manifesta propósitos de se manter afastado do mal.

 

1Ao director do coro. Para instrumentos de oito cordas.
Salmo de David.
2SENHOR, não me repreendas na tua ira
nem me castigues com o teu furor.
3Tem compaixão de mim, SENHOR,
porque desfaleço;
cura-me, SENHOR, porque me sinto abalado.
4A minha alma está muito perturbada,
mas Tu, SENHOR, até quando...?
5Vem, SENHOR, salva a minha vida;
livra-me, pela tua misericórdia.
6No sepulcro, ninguém se lembrará de ti;
na mansão dos mortos, quem te louvará?
7Estou cansado de tanto gemer.
Todas as noites choro na minha cama
e encho de lágrimas o meu leito.
8Os meus olhos vão-se consumindo de tristeza;
envelheci por causa dos meus adversários.
9Afastai-vos de mim, vós que praticais o mal,
porque o SENHOR ouviu a voz dos meus soluços.
10O Senhor escutou a minha súplica
e atendeu a minha oração.
11Os meus inimigos hão-de ser envergonhados
e retroceder, confusos, num instante.

Capítulo 7

ORAÇÃO DE UM JUSTO PERSEGUIDO

Salmo individual de súplica. Retrata um crente assediado por um inimigo e que, no templo, faz o seu juramento de inocência. Com esse juramento, e através dos rituais correspondentes, espera ver-se liberto desse inimigo e ver castigados os malfeitores em geral. A designação hebraica do título (v.1) só se encontra aqui e em Hab 3,1; parece designar uma lamentação. Desconhece-se o acontecimento histórico ali referido.

 

1Lamentação que David dirigiu ao Senhor,
a propósito de Cuche, o benjaminita.
2SENHOR, meu Deus, a ti me confio;
livra-me de todos os que me perseguem e salva-me.
3Que não me arrebatem como o leão
e me dilacerem, sem que ninguém me valha.
4SENHOR, meu Deus, se fiz algum mal,
se há injustiça nas minhas mãos,
5se atraiçoei o meu amigo,
se poupei o agressor injusto –
6então, que o inimigo me persiga e me apanhe;
que ele pise no chão a minha vida
e a minha glória tenha de morar no pó.
7Levanta-te, SENHOR, na tua ira,
e faz frente à fúria dos meus inimigos.
Desperta, ó meu Deus, e decreta a sentença.
8Junta em redor de ti a assembleia dos povos,
vem presidir a ela do alto do teu trono.
9O SENHOR julga os povos;
julga-me, então, SENHOR, segundo o meu direito
e segundo a minha inocência.
10Peço-te: acaba com a malícia dos ímpios;
fortalece os que são justos,
Tu, que perscrutas o íntimo dos corações,
ó Deus de justiça!
11A minha protecção está em Deus,
que salva os de coração sincero.
12Deus é um justo juiz,
que, a todo o momento, pode castigar.
13Se o ímpio não se converter,
pode afiar de novo a sua espada,
retesar o arco e apontar a seta:
14contra si prepara armas de morte,
das suas flechas faz tições ardentes.
15Pode conceber a maldade,
gerar a iniquidade e dar à luz a mentira.
16Abre um fosso profundo para os outros,
mas cai na cova que ele mesmo fez.
17A sua malícia recairá sobre a sua cabeça,
e a sua violência, sobre a sua fronte.
18Louvarei o SENHOR pela sua justiça
e cantarei o nome do Deus Altíssimo.

Capítulo 8

HINO AO CRIADOR DO HOMEM (Sl 104; Sir 17,1-14; Heb 2,5-8)

Magnífico exemplo de um hino, que celebra simultaneamente a grandeza de Deus e do universo e, em especial, a elevada dignidade do ser humano. A unidade literária, com o mesmo refrão no princípio e no fim (v. 2.10), é uma imagem clara do mundo harmonioso e optimista em que o salmista se move.

 

1Ao director do coro. Sobre a lira de Gat. Salmo de David.
2Ó SENHOR, nosso Deus,
como é admirável o teu nome em toda a terra!
Adorarei a tua majestade, mais alta que os céus.
3Da boca das crianças e dos pequeninos
fizeste uma fortaleza contra os teus inimigos,
para fazer calar os adversários rebeldes.
4Quando contemplo os céus, obra das tuas mãos,
a Lua e as estrelas que Tu criaste:
5que é o homem para te lembrares dele,
o filho do homem para com ele te preocupares?
6Quase fizeste dele um ser divino;
de glória e de honra o coroaste.
7Deste-lhe domínio sobre as obras das tuas mãos,
tudo submeteste a seus pés:
8rebanhos e gado, sem excepção,
e até mesmo os animais bravios;
9as aves do céu e os peixes do mar,
tudo o que percorre os caminhos do oceano.
10Ó SENHOR, nosso Deus,
como é admirável o teu nome em toda a terra!

Capítulo 9

DEUS, PROTECTOR DOS HUMILDES

Como se pode ver pela numeração da tradução grega dos Setenta e das traduções latinas e portuguesas antigas, os Salmos 9 e 10 devem ter constituído inicialmente um só. Por esta razão, a numeração de origem grega deixa de acompanhar a de origem hebraica, desde o Sl 9 até ao Sl 147, apresentando um número acima na contagem dos respectivos salmos (ver esquema na Introdução). Ambos parecem constituir um salmo individual de acção de graças. O agradecimento é dirigido a Deus, apresentado como protector do salmista pobre e oprimido. A justiça de Deus dá-lhe coragem para enfrentar o mundo. Neste salmo, houve a preocupação de ordenar os versos consoante as letras do alfabeto hebraico, tal como acontece com os Sl 25; 34; 37; 111; 112; 119 e 145. São os chamados “Salmos alfabéticos”.

 

1Ao director do coro. Com voz de soprano.
Salmo de David.
2Quero louvar-te, SENHOR, com todo o coração,
e narrar todas as tuas maravilhas.
3Em ti exultarei de alegria
e cantarei salmos ao teu nome, ó Altíssimo.
4Os meus inimigos batem em retirada,
tropeçam e caem mortos diante de ti.
5Tu defendes o meu direito e a minha justiça,
sentando-te no tribunal como justo juiz.
6Ameaçaste os pagãos, exterminaste os ímpios,
apagaste o seu nome para sempre.
7A ruína dos inimigos é completa e definitiva;
destruíste as suas cidades, a memória deles desapareceu.
8Mas o SENHOR é rei pelos séculos.
Ele preparou o seu trono para o julgamento.
9E assim julgará o mundo com justiça,
governará as nações com equidade.
10O SENHOR é o refúgio do oprimido;
a sua defesa, no tempo de angústia.
11Os que conhecem o teu nome, SENHOR, confiam em ti,
pois nunca abandonaste quem te procura.
12Cantai ao SENHOR, que habita em Sião;
anunciai as suas obras entre as nações.
13Ele persegue os assassinos, lembra-se deles,
não esquece o clamor dos infelizes.
14Tem piedade de mim, SENHOR,
vê a minha aflição diante dos inimigos;
livra-me das portas da morte.
15Assim, poderei cantar-te louvores às portas de Sião
e celebrar a tua protecção com alegria.
16Os pagãos caíram no fosso que fizeram;
os seus pés ficaram presos na rede que esconderam.
17O SENHOR manifestou-se e fez justiça
e o ímpio caiu nas próprias malhas.
18Retirem-se os ímpios para a mansão dos mortos,
e todos os pagãos que rejeitam a Deus.
19Mas o pobre não será esquecido eternamente,
nem para sempre se há-de perder a esperança dos infelizes.
20Levanta-te, SENHOR! Que o homem não prevaleça!
Julga as nações na tua presença.
21Faz com que os povos temam, ó Deus;
faz-lhes saber que são simples mortais.

Capítulo 10

ORAÇÃO PELOS OPRIMIDOS

Como foi dito na nota inicial ao salmo anterior, este é igualmente individual de acção de graças, dando continuidade ao tema da protecção divina para os desprotegidos. Essa protecção é estendida aos indefesos, infelizes, inocentes, miseráveis, vítimas de toda a espécie de prepotências.

 

1SENHOR, porque te conservas à distância
e te escondes nos tempos de angústia?
2No seu orgulho, o ímpio persegue o infeliz;
que ele seja apanhado na cilada que armou.
3O pecador vangloria-se da sua ambição;
o ganancioso blasfema e despreza o SENHOR.
4O ímpio diz, na sua arrogância:
«Ele não me castigará! Deus não existe!»
É só nisto que ele pensa.
5Julga que os seus caminhos hão-de prosperar sempre,
mas os teus juízos estão muito acima dele;
ele despreza todos os seus adversários.
6Diz em seu coração: «Jamais serei abalado;
não hei-de cair na desgraça.»
7A sua boca está cheia de maldição e mentira;
na sua língua só há malícia e maldade.
8Põe-se de emboscada junto aos povoados
e esconde-se para matar o inocente;
os seus olhos espiam o infeliz.
9Escondido como o leão no seu covil,
arma ciladas para assaltar o indefeso
e, quando o apanha, arrasta-o na sua rede.
10Abaixa-se, deita-se por terra
e as suas garras caem em cima dos infelizes.
11Depois, diz em seu coração: «Deus esquece-se
e desvia o rosto para não ter de ver mais.»
12Levanta-te, SENHOR! Ó Deus, ergue a tua mão
e não te esqueças dos miseráveis.
13Porque há-de o ímpio desprezar a Deus
e dizer no seu coração que Tu não castigas?
14Mas Tu vês a angústia e o pesar,
observas tudo e tomas essa causa nas tuas mãos.
A ti se abandona confiadamente o pobre;
Tu és o amparo do órfão.
15Quebra o braço dos ímpios e dos pecadores;
castiga a sua maldade, para que ela desapareça.
16O SENHOR é rei para sempre;
desapareçam os pagãos, da terra que lhe pertence.
17Ouve, SENHOR, o grito dos humildes;
atende-os e conforta-os no seu coração.
18Faz justiça aos órfãos e oprimidos;
e que ninguém, neste país,
volte a espalhar o terror.

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