Capítulo 21
1O coração do rei é como água corrente nas mãos do Senhor,
Ele o dirigirá para onde quiser.
2Os caminhos do homem parecem-lhe sempre rectos,
mas é o Senhor quem pesa os corações.
3A prática da justiça e da equidade
é mais agradável ao Senhor que os sacrifícios.
4Olhares altivos, coração soberbo:
a lâmpada dos ímpios é o pecado.
5Os projectos do homem diligente têm êxito,
mas quem se precipita cai certamente na ruína.
6Os tesouros adquiridos pela mentira
são vaidade passageira e laço de morte.
7A violência arrasta os ímpios para a ruína,
porque recusam praticar a justiça.
8O caminho do perverso é tortuoso e desviado,
mas é recta a conduta do justo.
9É melhor habitar num canto do terraço
do que em casa ampla com mulher intriguista.
10A alma do ímpio deseja o mal;
não terá compaixão do seu próximo.
11Com o castigo do insolente, o ingénuo ficará mais sábio;
quando se adverte o sábio, ele adquire mais saber.
12O justo está atento à família do ímpio,
e precipita os maus na desventura.
13Aquele que se faz surdo ao clamor do pobre,
também um dia clamará e não será ouvido.
14A dádiva feita em segredo extingue a ira,
e um presente oferecido às ocultas acalma o furor violento.
15O justo encontra a sua alegria na prática da justiça,
mas aqueles que praticam a iniquidade viverão assustados.
16O homem que se extravia do caminho da prudência
irá repousar na companhia dos mortos.
17Aquele que gosta de banquetes ficará na miséria;
o que gosta de vinho e de perfumes, não enriquecerá.
18O ímpio serve de resgate para o justo,
e o iníquo, para os homens rectos.
19É melhor habitar num deserto
do que com uma mulher intriguista e colérica.
20Na casa do sábio há tesouros preciosos e óleo perfumado,
mas o insensato esbanja tudo.
21Aquele que procura a justiça e a misericórdia
conquistará a vida, a justiça e a glória.
22O sábio apodera-se da cidade dos heróis
e destrói a fortaleza em que ela confiava.
23Aquele que vigia a sua boca e a sua língua
preserva a sua alma das angústias.
24Soberbo e presunçoso, é isso um insolente;
ele age no ardor da sua arrogância.
25A cobiça mata o preguiçoso,
porque as suas mãos não querem trabalhar.
26Passa todo o dia a arder em desejos,
mas o justo dá tudo sem nada reservar.
27O sacrifício dos ímpios é abominável,
sobretudo se o oferecem com má intenção.
28A testemunha mentirosa perecerá,
mas o homem que escuta, poderá sempre falar.
29O ímpio descarado jamais desiste do seu intento,
porém o homem recto vigia o seu caminho.
30Não há sabedoria, nem inteligência,
nem conselho que prevaleçam contra o Senhor.
31Prepara-se o cavalo para o dia da batalha,
mas o Senhor é quem dá a vitória.
Capítulo 22
1Vale mais o bom nome que grandes riquezas;
a estima é melhor do que a prata e o oiro.
2O rico e o pobre encontram-se;
quem os fez a ambos foi o Senhor.
3O homem prudente vê o perigo e furta-se a ele,
mas os ingénuos passam e sofrem o prejuízo.
4O prémio da humildade é o temor do Senhor,
a riqueza, a glória e a vida.
5Espinhos e laços estão no caminho do perverso,
mas aquele que acautela a sua vida afasta-se deles.
6Ensina ao jovem o caminho que deve seguir;
mesmo quando envelhecer, não se desviará dele.
7O rico domina os pobres
e o devedor torna-se escravo do seu credor.
8Aquele que semeia o mal, recolhe a desgraça;
a vara da sua ira o há-de ferir.
9O homem de olhar generoso será abençoado,
porque dá do seu pão ao pobre.
10Expulsa o insolente e acabará a discórdia,
cessarão os litígios e os ultrajes.
11Aquele que ama a pureza de coração,
pelo encanto das suas palavras se tornará amigo do rei.
12Os olhos do Senhor protegem o sábio,
mas Ele confunde os planos do perverso.
13O preguiçoso diz: «Anda leão à solta;
vou ser morto no meio da rua.»
14As palavras da desavergonhada são fosso profundo;
nele cairá aquele a quem o Senhor reprovar.
15A insensatez apega-se ao coração da criança,
mas a vara da disciplina a afugentará.
16Quem oprime o pobre, enriquece-o,
quem dá ao rico, empobrece-o.
Palavras dos sábios
17Inclina o teu ouvido e ouve as palavras dos sábios,
aplica o teu coração à minha doutrina,
18porque te será agradável guardá-la no teu íntimo
e tê-la sempre presente nos teus lábios.
19Para que ponhas no Senhor a tua confiança,
quero hoje instruir-te.
20Não te escrevi eu já trinta capítulos
de conselhos e instruções,
21para te ensinar a verdade das coisas certas,
para que possas trazer resposta àquele que te enviar?
22Não roubes o pobre, porque é pobre,
nem oprimas o fraco no julgamento,
23porque o Senhor defenderá a sua causa
e tirará a vida aos que o despojarem.
24Não faças amizade com um homem colérico,
nem vás a casa do violento,
25para não te habituares aos seus costumes
e armares um laço contra a tua vida.
26Não sejas dos que apertam a mão
e se fazem fiadores das dívidas de outrem.
27Se não tiveres com que pagar,
até te hão-de tirar a cama em que dormes.
28Não mudes os marcos antigos
postos pelos teus pais.
29Viste o homem hábil nos seus trabalhos:
este terá lugar junto dos reis,
e não ficará entre gente obscura.
Capítulo 23
1Quando te sentares à mesa com uma autoridade,
considera com atenção quem está diante de ti;
2põe uma faca na tua garganta,
se sentires muito apetite.
3Não cobices os seus manjares,
porque são alimentos enganadores.
4Não te afadigues para enriquecer,
tira daí os teus pensamentos.
5Se pões os teus olhos nas riquezas, elas desaparecem;
tomam asas como as da águia
e voam pelos céus.
6Não comas o pão do homem invejoso,
nem cobices os seus manjares,
7pois é como alguém que tem uma decisão oculta:
Dir-te-á: «Come e bebe», mas o seu coração não está contigo.
8Vomitarás o bocado que comeste
e desperdiçarás as tuas palavras amáveis.
9Não fales aos ouvidos do insensato,
porque ele desprezará a sabedoria das tuas palavras.
10Não mudes os marcos antigos,
nem entres na terra dos órfãos,
11porque o seu vingador é poderoso
e defenderá a causa deles contra ti.
12Aplica o teu coração à instrução,
e os teus ouvidos, às palavras de conhecimento.
13Não poupes a correcção ao teu filho;
se o castigares com a vara, não morrerá.
14Castigando-o com a vara,
livrarás a sua alma da morada dos mortos.
Conselhos práticos de um pai
15Meu filho, se o teu coração for sábio,
alegrar-se-á também o meu coração.
16As minhas entranhas exultarão
quando os teus lábios proferirem palavras rectas.
17O teu coração não inveje os pecadores,
mas permaneça sempre no temor do Senhor,
18porque haverá certamente um futuro
e a tua esperança não será frustrada.
19Ouve, meu filho, e sê sábio,
dirige o teu coração pelo bom caminho.
20Não te juntes com bebedores de vinho,
ou com aqueles que devoram carne,
21porque o ébrio e o glutão se empobrecem
e a indolência os vestirá de andrajos.
22Ouve o pai, que te gerou,
e não desprezes a tua mãe, quando for velha.
23Adquire a verdade e não a vendas,
adquire sabedoria, instrução e inteligência.
24O pai do justo exultará de alegria,
e quem gerou um sábio, nele se há-de alegrar.
25Alegrem-se o teu pai e a tua mãe,
exulte aquela que te deu à luz.
26Meu filho, dá-me o teu coração,
e os teus olhos se comprazam nos meus caminhos;
27olha que a meretriz é um fosso profundo
e a mulher estranha, um poço estreito.
28Ela põe-se de emboscada como um salteador
e, entre os homens, multiplica os prevaricadores.
Retrato da embriaguez
29Para quem os «ais»? Para quem os «uis»?
Para quem as contendas? Para quem as queixas?
Para quem as feridas, sem motivo?
Para quem os olhos avermelhados?
30É para os que se deixam arrastar pelo vinho,
e para os que vão saborear bebidas misturadas.
31Não repares muito no vinho, como é vermelho,
como brilha no copo e escorre suavemente!
32No fim, morde como uma serpente
e pica como uma víbora.
33Os teus olhos verão coisas estranhas,
e o teu coração dirá palavras incoerentes.
34E tu serás como um homem a dormir no alto mar,
ou adormecido no cimo dum mastro.
35«Espancaram-me e não me doeu;
bateram-me, mas não senti nada.
Quando é que vou acordar?
Vou procurar mais vinho.»
Capítulo 24
Máximas de vida prática
1Não invejes os homens maus nem desejes estar junto deles,
2porque o seu coração só pensa em violência
e os seus lábios só falam em crimes.
3É com a sabedoria que se edifica a casa
e consolida-se com a inteligência.
4Pela ciência, enchem-se os celeiros
de tudo o que é bom e agradável.
5Um sábio é forte,
e o homem experiente está cheio de coragem.
6É com prudência que se empreende a guerra,
e a vitória está no grande número de conselheiros.
7A sabedoria é demasiado sublime para o insensato;
ele não abrirá a boca no julgamento.
8Aquele que só pensa no mal
será chamado homem de intrigas.
9O projecto do insensato é o pecado,
e o insolente é a abominação dos homens.
10Se te deixas abater no dia da adversidade,
muito débil será a tua força.
11Livra os que são condenados à morte,
e salva os que são arrastados ao suplício.
12Se disseres: «Eu não sabia”,
não o saberá aquele que sonda os corações?
Aquele que vela pela tua vida, bem o sabe;
Ele retribuirá a cada um segundo as suas obras.
13Meu filho, come mel, porque é bom;
o favo de mel é doce ao teu paladar.
14Assim adquires a sabedoria que te dá a vida.
Se a adquirires, terás um bom futuro
e a tua esperança não será frustrada.
15Não conspires, ó ímpio, contra a casa do justo,
não destruas a sua habitação!
16Pois sete vezes cai o justo e se levanta,
mas os ímpios desfalecerão na desgraça.
17Não te alegres com a ruína do teu inimigo
nem rejubile o teu coração com a sua queda,
18não suceda que o Senhor, ao ver isso, se desagrade
e retire de cima dele a sua ira.
19Não te irrites com os perversos
nem invejes os ímpios.
20Porque para os maus não há futuro
e a lâmpada dos ímpios se apagará.
21Meu filho, teme o Senhor e o rei,
não te mistures com os agitadores,
22porque, de repente, surgirá a sua desgraça.
Quem conhece os suplícios que vão sofrer?
23Também estas são sentenças dos sábios:
Não é bom fazer acepção de pessoas nos julgamentos.
24Aquele que diz ao ímpio: «Tu és inocente»,
será amaldiçoado pelos povos
e abominado pelas nações.
25Aqueles que o repreendem serão louvados,
e sobre eles virá uma bênção de felicidade.
26Dá um beijo nos lábios
aquele que responde com sinceridade.
27Arruma as tuas tarefas no exterior,
trata cuidadosamente do teu campo;
depois poderás edificar a tua habitação.
28Não sejas testemunha falsa contra o teu próximo.
Acaso, quererás enganar com as tuas palavras?
29Não digas: «Far-lhe-ei como ele me fez a mim;
pagar-lhe-ei segundo as suas obras!»
30Passei pelo campo do preguiçoso
e pela vinha do insensato,
31e vi que tudo estava cheio de urtigas,
que as silvas cobriam o chão,
e que o muro de pedra estava por terra.
32Ao ver isto, comecei a reflectir;
vi e tirei uma lição.
33Um pouco dormirás, outro pouco dormitarás,
outro pouco cruzarás as mãos para descansar,
34e a indigência virá sobre ti como um salteador,
e a miséria, como um homem armado.
Capítulo 25
1Também estas são sentenças de Salomão,
recolhidas pelos homens de Ezequias, rei de Judá:
2A glória de Deus é deixar as coisas encobertas,
e a glória dos reis é investigar tudo.
3Assim como a altura dos céus
e a profundidade da terra são impenetráveis,
assim também o coração dos reis.
4Tira as escórias à prata,
e terás um vaso puríssimo.
5Tira o iníquo da presença do rei,
e o seu trono se firmará na justiça.
6Não te louves na presença do rei,
nem te ponhas no lugar dos grandes.
7É melhor que te digam: «Sobe para aqui»
do que seres humilhado diante de um príncipe.
O que os teus olhos viram,
8não o descubras com precipitação numa contenda,
pois que farás, no fim,
quando o teu próximo te tiver ofendido?
9Defende a tua causa contra o teu próximo,
mas não reveles o segredo de outrem,
10não suceda que te envergonhe quem te ouvir,
e não se apague a tua ignomínia.
11Maçãs douradas em bandeja de prata,
assim são as palavras oportunas.
12Anel de ouro e uma jóia de ouro fino,
assim é a repreensão de um sábio a um ouvido atento.
13Como frescura de neve em tempo de colheita,
assim é o mensageiro fiel para quem o envia:
ele reconforta a alma do seu senhor.
14Tal como as nuvens e o vento que não dão chuva,
é o homem que se gaba da sua falsa liberalidade.
15O juiz deixa-se aplacar pela paciência,
a língua branda pode até quebrar ossos.
16Achaste mel? Come só o que te for suficiente,
não suceda que, comendo demais, o vomites.
17Põe raramente o pé na casa do vizinho,
para que ele, enfastiado de ti, não venha a detestar-te.
18Como um dardo, uma espada ou uma flecha penetrante,
tal é o homem que diz um falso testemunho
contra o seu próximo.
19Como um dente estragado e um pé que resvala,
tal é a confiança do ímpio no dia da desventura.
20Cantar canções a um coração atribulado
é como tirar-lhe a capa num dia de frio
e derramar-lhe vinagre sobre uma ferida.
21Se o teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer;
se tem sede, dá-lhe de beber,
22porque assim o farás corar de vergonha
e o Senhor te recompensará.
23O vento norte traz a chuva
e um rosto enfurecido traz palavras enganadoras.
24É melhor habitar num canto do terraço
do que viver em casa ampla com mulher intriguista.
25Água fresca para boca sedenta,
assim é uma boa nova vinda de terra longínqua.
26Fonte turvada e manancial contaminado,
assim é o justo que vacila diante do ímpio.
27Não faz bem comer mel em demasia,
nem procurar glória após glória.
28Cidade desmantelada, sem muralhas,
assim é o homem que não é senhor de si.
Capítulo 26
O insensato
1Como a neve no Estio e a chuva no tempo da ceifa,
assim é imprópria a glória para um insensato.
2Como pássaro que foge, como andorinha que voa,
assim a maldição injustificada fica sem efeito.
3O chicote é para o cavalo, o freio é para o jumento;
e a vara, para as costas do insensato.
4Não respondas ao insensato segundo a sua loucura,
para não seres semelhante a ele.
5Responde ao insensato segundo a sua loucura,
para que ele não se julgue sábio.
6Corta os pés e bebe aflições
aquele que confia mensagens a um insensato.
7As pernas dum coxo não têm força,
assim também as sentenças na boca do insensato.
8É como atar uma pedra na funda,
o prestar homenagem a um insensato.
9Como um ramo de espinheiro na mão de um bêbado,
assim é uma sentença na boca dos insensatos.
10Como seta que fere a quem quer que passa,
assim é o que emprega um insensato ou um bêbado.
11Como o cão que volta ao seu vómito,
assim é o insensato que repete as suas loucuras.
12Viste alguém que se julgue sábio?
Há mais a esperar do insensato do que daquele.
13O preguiçoso diz:
«Anda uma fera no caminho, um leão na estrada!»
14Como a porta gira sobre os seus gonzos,
assim o preguiçoso no seu leito.
15O preguiçoso mete a mão no prato,
mas cansa-se de a levar à boca.
16O preguiçoso julga-se mais sábio
do que sete homens que respondem com bom senso.
17É apanhar um cão pelas orelhas
o intrometer-se em questões alheias.
18Como um louco furioso
que lança setas e dardos mortíferos,
19assim é o homem que engana o seu próximo
e, depois, diz: «Eu fazia isto por brincadeira.»
20Sem lenha, o fogo apaga-se;
assim, faltando o delator, acaba-se a questão.
21Como o carvão para as brasas e a lenha para o fogo,
assim é o intriguista para atear uma contenda.
22As palavras do delator são como guloseimas:
penetram até ao fundo das entranhas.
23Prata não purificada, aplicada sobre barro,
assim são os lábios ardentes e um coração perverso.
24O homem que odeia, fala com dissimulação,
mas, no coração, está maquinando enganos.
25Quando ele te falar com amabilidade, não te fies nele,
porque tem sete abominações no seu coração.
26Aquele que dissimula o seu ódio, sob aparências fingidas,
verá a sua malícia descoberta na assembleia.
27Quem abre uma cova, há-de cair nela;
e a pedra cairá sobre aquele que a rolou.
28A língua mentirosa causa muitos males,
e a boca aduladora conduz à ruína.
Capítulo 27
1Não te vanglories do dia de amanhã,
porque não sabes o que te vai trazer o de hoje.
2Seja outro a louvar-te e não a tua própria boca;
seja um estranho, não os teus próprios lábios.
3Pesada é a pedra e pesada é a areia,
mas ainda mais pesada é a ira do insensato.
4Cruel é a ira, furiosa é a cólera,
mas quem poderá suportar o ciúme?
5Melhor é a correcção franca
do que uma amizade não declarada.
6Os golpes do amigo são leais,
mas os beijos de um inimigo são enganadores.
7O apetite saciado calcará aos pés o favo de mel,
mas, para o faminto, até o amargo lhe sabe a doce.
8Como a ave que anda longe do seu ninho,
assim é o homem que vive longe da sua terra.
9O perfume e o incenso alegram o coração,
e os conselhos de um amigo deleitam a alma.
10Não abandones o teu amigo, nem o amigo de teu pai,
e não vás a casa de teu irmão no dia da tua desgraça.
Vale mais o vizinho que está perto,
do que o irmão que está longe.
11Sê sábio, meu filho, alegra o meu coração
e, assim, poderei responder a quem me ultrajar.
12O homem prudente vê o perigo e desvia-se;
os ingénuos passam e sofrem os danos.
13Tira a veste àquele que ficou por fiador de outrem,
toma o penhor que ele deve aos estranhos.
14Saudar um vizinho aos gritos, de manhã cedo,
pode ser considerado por ele como uma maldição.
15Goteira a pingar em dia de chuva,
e mulher intriguista, tudo é a mesma coisa.
16Aquele que a pretende conter,
é como se quisesse parar o vento ou reter o azeite na mão.
17O ferro com o ferro se aguça,
e o homem afina-se no contacto com os outros.
18Aquele que cuida da figueira, comerá do seu fruto,
e o que vela pelo seu senhor será honrado.
19Assim como o rosto se reflecte na água,
assim o coração do homem se reflecte noutro homem.
20A morada dos mortos e o abismo nunca se enchem;
assim os olhos do homem são insaciáveis.
21O crisol é para a prata e o forno para o ouro,
assim é para o homem a boca de quem o louva.
22Ainda que pisasses o insensato no almofariz,
como se pisam os grãos com o pilão,
não separarias dele a sua loucura.
Economia rural
23Certifica-te bem do estado das tuas ovelhas,
presta atenção aos teus rebanhos,
24porque a riqueza não dura sempre,
nem a coroa passa de geração em geração.
25Corta-se o feno, brotam os prados,
recolhem-se as ervas dos montes,
26e ainda tens os cordeiros para te vestir
e os bodes para comprares um campo,
27leite de cabra suficiente para o teu sustento,
para o sustento da tua casa
e subsistência das tuas servas.
Capítulo 28
1O ímpio foge sem que ninguém o persiga,
mas o justo sente-se seguro como um leão.
2Pelos pecados de um país, multiplicam-se os chefes,
mas com um homem sensato e sábio perdura a ordem.
3O homem perverso a oprimir os pobres
é semelhante a uma chuva torrencial, que causa a fome.
4Aqueles que abandonam a lei, louvam o ímpio,
e os que a observam, fazem-lhe guerra.
5Os homens maus não compreendem o que é justo,
mas entendem tudo aqueles que buscam o Senhor.
6Mais vale um pobre que caminha na integridade,
do que um rico de conduta perversa.
7Aquele que guarda a lei é um filho inteligente,
mas o que convive com libertinos é a vergonha do seu pai.
8Aquele que aumenta a fortuna pela usura e juros injustos,
junta-a para aquele que tem piedade dos pobres.
9Aquele que tapa os ouvidos, para não ouvir a lei,
até a sua oração será abominável.
10Aquele que seduz os justos para o mau caminho,
cairá no fosso que ele mesmo cavou;
os íntegros, porém, herdarão a felicidade.
11O rico julga-se muito sábio,
mas o pobre inteligente conhece-o bem.
12Quando os justos triunfam, há muita alegria,
mas, quando se levantam os ímpios, todos se escondem.
13Aquele que dissimula as suas faltas, não prosperará;
mas quem as confessa e se emenda terá misericórdia.
14Feliz daquele que vive sempre com temor;
mas o que endurece o seu coração cairá na desventura.
15Leão a rugir e urso esfaimado,
assim é o ímpio que reina sobre um povo pobre.
16Um príncipe sem inteligência multiplica as opressões,
mas o que odeia a avareza viverá longos dias.
17O homem que derramou sangue inocente
correrá para o sepulcro: ninguém o detenha!
18Aquele que caminha na integridade será salvo;
mas o que se mete em dois caminhos, acabará por cair num deles.
19Aquele que cultiva a sua terra, terá fartura de pão,
mas o que vai atrás de quimeras, fartar-se-á de miséria.
20O homem fiel será cumulado de bênçãos,
mas o que depressa se enriquece, não ficará impune.
21Não é bom fazer acepção de pessoas;
mas peca-se até por um pedaço de pão.
22O homem avarento precipita-se atrás das riquezas,
mas não sabe que vai cair sobre ele a indigência.
23Quem corrige alguém encontra, depois, mais gratidão
do que aquele que lisonjeia com palavras.
24Quem furta a seu pai ou à sua mãe, dizendo: «Isto não é pecado»,
associa-se ao salteador.
25O homem ganancioso provoca contendas,
mas quem confia no Senhor prosperará.
26O que confia no seu bom senso é um insensato;
porém, o que caminha na sabedoria sobreviverá.
27Aquele que dá ao pobre não padecerá necessidade,
mas aquele que o despreza, ficará cheio de maldições.
28Quando os ímpios são exaltados, todos se escondem;
quando eles desaparecem, crescem os justos.
Capítulo 29
1O homem que, ao ser admoestado, endurece a cerviz,
será logo irremediavelmente arruinado.
2Sob o governo dos justos, alegra-se o povo;
quando governam os ímpios, o povo geme.
3Aquele que ama a sabedoria alegra o seu pai,
mas o que alimenta meretrizes, dissipa a sua fortuna.
4O rei faz prosperar o país pela justiça,
mas aquele que é ávido de impostos arruína-o.
5O homem que lisonjeia o seu próximo,
arma uma rede aos seus pés.
6O crime do ímpio é uma armadilha,
mas o justo canta alegremente.
7O justo conhece a causa dos pobres,
porém, o ímpio não o compreende.
8Os corrompidos sublevam a cidade,
mas os sábios acalmam a sua ira.
9Se um sábio discute com um insensato,
quer ele se agaste, quer se ria, não terá paz.
10Os homens sanguinários odeiam o íntegro,
mas os homens rectos procuram conservar-lhe a vida.
11O insensato desafoga toda a sua ira,
mas o sábio acaba por dominá-la.
12O príncipe que presta atenção às mentiras,
só os ímpios terá por ministros.
13Encontram-se o pobre e o opressor;
o Senhor é quem ilumina os olhos de ambos.
14O rei que faz justiça aos humildes,
terá o seu trono firmado para sempre.
15A vara e a correcção dão sabedoria;
mas o jovem abandonado à sua vontade,
é a vergonha de sua mãe.
16Quando se multiplicam os ímpios, aumenta o crime,
mas os justos verão a sua ruína.
17Corrige o teu filho e ele te dará descanso,
e fará as delícias da tua vida.
18Sem profecia, o povo vive na corrupção;
bem-aventurado o que observa a lei.
19Não é com palavras que se corrige um escravo,
porque, embora compreenda, não obedece.
20Viste um homem precipitado no falar?
Há mais a esperar dum insensato do que dele.
21Se alguém amimalha o seu criado desde a infância,
este acabará por se tornar insolente.
22O homem irascível arma contendas,
e o colérico acumula os crimes.
23O orgulho de um homem leva-o à humilhação,
mas o humilde de espírito será glorificado.
24Aquele que encobre o ladrão, a si mesmo se odeia;
ele ouve a maldição e não o denuncia.
25O medo do homem é uma cilada,
mas quem confia no Senhor está em segurança.
26Muitos buscam o favor de quem manda,
mas é do Senhor que depende a justiça.
27O homem iníquo é abominado pelo justo;
o ímpio abomina aquele que anda no caminho recto.
Capítulo 30
1Palavras de Agur, filho de Jaqué, de Massá.
Disse aquele varão a Itiel e a Ucal:
2«Sou o mais insensato dos homens
e não tenho a inteligência de homem.
3Não aprendi a sabedoria
e não tenho o conhecimento do Santo.
4Quem subiu ao céu e dele desceu?
Quem reteve o vento nas suas mãos?
Quem recolheu as águas no seu manto?
Quem fixou as extremidades da terra?
Qual é o seu nome, e qual é o nome do seu filho,
se é que o sabes?
5Toda a palavra de Deus é provada ao fogo,
é um escudo para aqueles que confiam nele.
6Nada acrescentes às suas palavras,
para que não te repreenda e sejas achado mentiroso.
7Peço-te duas coisas,
não mas negues antes da minha morte:
8afasta de mim a falsidade e a mentira,
não me dês pobreza nem riqueza,
concede-me o pão que me é necessário,
9para que, saciado, não te renegue,
e não diga: «Quem é o Senhor?»
Ou, empobrecido, não roube
e não profane o nome do meu Deus.
10Não calunies o escravo diante do seu senhor,
para que não te amaldiçoe e sofras o castigo.
11Ai da geração que amaldiçoa o seu pai
e não abençoa a sua mãe!
12Ai da geração que se julga pura
e não se lava da sua imundície!
13Ai da geração cujos olhos são altivos,
e cujas pálpebras são levantadas!
14Ai da geração cujos dentes são espadas e os maxilares são facas,
para devorar os fracos da terra, e os pobres de entre os homens!
15A sanguessuga tem duas filhas,
que se chamam: «Dá-me, dá-me!»
Há três coisas que são insaciáveis,
e quatro que nunca dizem: «Basta»:
16a habitação dos mortos, o seio estéril,
a terra que nunca se sacia de água
e o fogo que nunca diz: «Basta!»
17O olho que escarnece do pai
e recusa obedecer à sua mãe,
será arrancado pelos corvos,
e as águias o devorarão.
18Há três coisas que são um mistério para mim,
e uma quarta que não compreendo:
19o voo da águia nos céus,
o rasto da cobra sobre a rocha,
o rumo de um navio em pleno mar,
e a atitude do homem para com a donzela.
20Assim procede a mulher adúltera,
a qual, depois de comer, limpa a boca, e diz:
«Eu não fiz mal nenhum.»
21Três coisas fazem tremer a terra,
e uma quarta que ela não pode suportar:
22um escravo que se torna rei,
um insensato que se farta de pão,
23uma mulher de má índole que se casa
e uma criada que se torna herdeira da sua senhora.
24Quatro são os seres mais pequenos da terra,
que, entretanto, são sábios entre os sábios:
25as formigas, seres sem força,
que, durante o Verão, preparam as suas provisões;
26os gerbos, animais sem poder,
que fazem a sua habitação nos rochedos;
27os gafanhotos, que não têm rei,
e que saem todos ordenados em esquadrões;
28o lagarto, que se pode apanhar à mão,
mas que entra no palácio dos reis.
29Há três coisas que têm bela aparência
e mesmo quatro, que andam garbosamente:
30o leão, o mais forte dos animais,
que não recua diante de nada;
31o galo muito senhor de si, e o bode,
e o rei, à frente do seu exército.
32Se te louvaste nesciamente, reflecte,
e, depois, tapa a tua boca com a mão,
33porque quem bate o leite, tira dele a manteiga,
quem aperta o nariz, faz jorrar sangue,
quem provoca a ira, causa discórdias.
Capítulo 31
1Palavras de Lemuel, rei de Massá,
que lhe ensinou sua mãe:
2«Que te direi eu, meu filho?
Que te direi, filho das minhas entranhas!
Que te direi, filho das minhas promessas!
3Não dês às mulheres a tua força
nem o teu vigor àquelas que perdem os reis.»
4Não convém aos reis, Lemuel,
não convém aos reis beber vinho,
nem a quem governa sorver bebidas fortes,
5para que não suceda, que se esqueçam da lei
e atraiçoem a causa de todos os infelizes.
6Dai bebida forte àqueles que desfalecem,
e vinho aos que têm o coração amargurado,
7para que eles bebam e se esqueçam da sua miséria
e não se lembrem mais das suas mágoas.
8Abre a tua boca a favor do mudo
e em prol dos desventurados.
9Abre a boca para pronunciar sentenças justas
e faz justiça ao pobre e ao miserável.
10Uma mulher de valor, quem a poderá encontrar?
O seu preço é muito superior ao das pérolas.
11O coração do marido nela confia
e jamais lhe falta coisa alguma.
12Ela proporciona-lhe o bem e nunca o mal,
em todos os dias da sua vida.
13Ela procura lã e linho
e trabalha de boa vontade com as suas mãos.
14É semelhante ao navio do mercador,
que traz os seus víveres de longe.
15Levanta-se, ainda de noite,
distribui o alimento pelos da sua casa
e as tarefas pelas suas servas.
16Ela pensa num campo e adquire-o,
planta uma vinha com o ganho das suas mãos.
17Cinge fortemente os seus rins,
e os seus braços têm sempre força.
18Ela sente que o seu negócio prospera,
a sua lâmpada não se apaga durante a noite.
19A sua mão pega na roca,
e os seus dedos fazem girar o fuso.
20Estende os braços ao infeliz,
e abre a mão ao indigente.
21Não teme a neve para os seus familiares,
porque todos eles têm roupa a dobrar.
22Faz para si belas cobertas,
e os seus vestidos são de linho e púrpura.
23Seu marido é considerado nas portas da cidade,
quando toma assento com os anciãos da terra.
24Fabrica roupa de linho e vende-a,
e fornece cintos ao mercador.
25Fortaleza e graça são os seus adornos;
sorri perante o dia de amanhã.
26Abre a boca com sabedoria,
tem na língua instruções de bondade.
27Vigia o andamento da casa
e não come o pão da ociosidade.
28Os filhos levantam-se a felicitá-la,
e o marido ergue-se para a elogiar.
29Muitas mulheres tiveram valor,
mas tu excede-las a todas.
30A graça é enganadora e a beleza é vã:
a mulher que teme o Senhor, essa será louvada.
31Dai-lhe do fruto das suas mãos,
e que as suas obras a louvem às portas da cidade.