Capítulo 21

Fugir do pecado

1Filho, pecaste? Não tornes a pecar,

e implora o perdão das tuas culpas passadas.

2Foge do pecado como se foge de uma serpente,

porque, se te aproximas, ela te morderá.

Os seus dentes são dentes de leão,

que tiram a vida aos homens.

3Toda a transgressão é como uma espada de dois gumes;

a ferida que produz é incurável.

4A intimidação e a violência destroem as riquezas;

assim será arruinada a casa do orgulhoso.

5A oração que sai da boca do pobre eleva-se até aos ouvidos de Deus,

e prontamente lhe será feita justiça.

6Aquele que odeia a correcção segue os passos do pecador;

aquele que teme o Senhor, converter-se-á de coração.

7O homem de língua insolente dá-se a conhecer de longe,

mas o homem sábio conhece as suas fraquezas.

8Aquele que edifica a sua casa à custa alheia

é semelhante ao que amontoa pedras para o Inverno.

9A assembleia dos pecadores é como um montão de estopa;

o seu fim será arder na fogueira.

10O caminho dos pecadores é calcetado de pedras bem unidas,

mas finalmente conduz ao abismo do Hades.


O sábio e o insensato

11Aquele que guarda a Lei domina os seus pensamentos;

a sabedoria é a consumação do temor de Deus.

12Aquele que não tem habilidade nunca será instruído,

mas há uma habilidade que está cheia de amargura.

13O saber do sábio derrama-se como água que transborda,

e o seu conselho permanece como fonte de vida.

14O coração do insensato é como um vaso rachado,

não conserva nenhum conhecimento.

15O homem sensato, ouvindo palavras sábias,

aprecia-as e acrescenta-lhes alguma coisa;

porém, se as ouve o voluptuoso,

não lhe agradam, e deita-as para trás das costas.

16O discurso do insensato é como um fardo de viagem,

mas nos lábios do homem sensato encontra-se a graça.

17O parecer do homem prudente é procurado na assembleia;

e as suas palavras serão meditadas no coração.

18A sabedoria é para o insensato como uma casa arruinada;

a ciência do inconsciente reduz-se a palavras incoerentes.

19A instrução é para o insensato como grilhões nos pés

e como algemas na mão direita.

20O insensato, quando ri, levanta a voz,

mas o homem sábio sorri discretamente.

21Para o homem prudente, a educação é ornamento de ouro,

como uma bracelete no seu braço direito.

22O pé do insensato apressa para entrar em casa;

mas o homem experiente apresenta-se com respeito.

23O insensato, da porta, olha para o interior da casa;

o homem bem educado mantém-se de fora.

24É má educação escutar a uma porta;

o homem educado envergonha-se de o fazer.

25Os lábios dos faladores repetem as palavras de outros;

mas as palavras do sábio são pesadas na balança.

26Na boca dos insensatos está o seu coração,

mas o coração dos sábios é a sua boca.

27Quando o ímpio amaldiçoa a Satanás,

amaldiçoa-se a si mesmo.

28O mexeriqueiro macula-se a si próprio

e é aborrecido no seu meio.

Capítulo 22

Como proceder com o insensato

1O preguiçoso é semelhante a uma pedra cheia de lodo;

todos assobiam por causa da sua infâmia.

2O preguiçoso é semelhante a um punhado de esterco;

todo o que lhe tocar sacudirá as mãos.

3O filho mal educado é a vergonha de seu pai;

e o nascimento de uma filha será um prejuízo.

4A filha sensata encontrará um marido;

mas a desavergonhada será a desonra de seu pai.

5A imprudente cobre de vergonha seu pai e seu marido;

ambos a desprezarão.

6Palavra inoportuna é como música em dia de luto,

mas castigos e disciplina são sempre sabedoria.

7Filhos que levam uma vida honesta, sem falta de nada,

fazem esquecer a origem obscura de seus pais.

8Filhos insolentes, mal educados,

desonram a nobreza da família.

9Aquele que ensina o insensato é como quem quer reunir os cacos de um vaso quebrado;

é como aquele que desperta o adormecido de um sono profundo.

10Falar com um insensato é conversar com alguém que está adormecido;

no fim da conversa, dirá: «O que foi?»

11Chora pelo morto, pois ele perdeu a luz; chora sobre o insensato, porque lhe falta o juízo.

Chora pouco sobre o morto, porque ele encontrou repouso; porém, a vida do insensato é pior que a morte.

12O luto por um morto dura sete dias,

mas por um insensato e por um ímpio, todos os dias da sua vida.

13Não fales muito com o insensato, não convivas com o inconsciente, pois insensível como é, desprezará tudo o que é teu.

Guarda-te dele, e não terás aborrecimentos; e não serás contaminado com a sua insensatez.

Afasta-te dele, e encontrarás repouso, e não serás molestado pela sua loucura.

14Que coisa haverá mais pesada do que o chumbo?

E que outro nome dar-lhe a não ser o de insensato?

15Areia, sal ou uma bola de ferro são mais fáceis de carregar do que o homem sem juízo.

16A madeira de uma construção, bem travada, num tremor de terra não se desconjunta;

assim o coração firmado por uma decisão bem amadurecida, em momentos difíceis, não sucumbe.

17Um coração apoiado em raciocínios inteligentes, é como um ornamento de estuque sobre uma parede polida.

18Paliçada colocada no alto não resiste ao vento; assim o coração tímido, devido a pensamentos insensatos, não resistirá perante qualquer temor.

 

Como proceder com os amigos

19Aquele que fere o olho, faz sair dele lágrimas;

o que fere o coração irrita os sentimentos.

20Aquele que atira uma pedra aos pássaros, fá-los fugir;

assim também aquele que insulta o seu amigo, desfaz a amizade.

21Ainda que tenhas desembainhado a espada contra o teu amigo,

não desesperes, porque o regresso é possível.

22Ainda que tenhas dito contra ele palavras desagradáveis, não temas, porque a reconciliação é possível,

excepto se se tratar de injúrias e afrontas, revelação de segredo e golpes de traição; em todos estes casos, qualquer amigo fugirá de ti.

23Ganha a confiança do próximo na sua pobreza, a fim de te alegrares com ele na sua prosperidade;

fica a seu lado nos momentos de provação para que possas compartilhar também da sua herança.

Pois não se deve sempre desprezar a aparência nem admirar um rico desprovido de sensatez.

24O vapor e o fumo precedem o fogo na chaminé;

assim também as injúrias precedem o derramamento de sangue.

25Não me envergonharei de defender um amigo,

nem me esconderei da sua presença,

26e se dele me vier algum mal,

quem o souber acautelar-se-á dele.

27Quem me dera ter um guarda à minha boca, e um selo inviolável sobre os meus lábios,

para que eu não caia por sua causa, e para que a minha língua não me perca!

Capítulo 23

Oração contra o pecado

1Senhor, Pai soberano da minha vida, não me abandones ao conselho dos meus lábios,

nem permitas que eles me façam sucumbir.

2Quem aplicará o açoite aos meus pensamentos, e ao meu coração uma sábia correcção,

para que sejam severos com os meus erros, e eu não tolere as suas faltas?

3Para que não se multipliquem os meus erros, e não aumentem os meus delitos, e eu não caia diante dos meus adversários, e se ria de mim o meu inimigo,

pois dele está longe a esperança da tua misericórdia.

4Senhor, Pai e Deus da minha vida, não me dês olhos altivos,

5e afasta de mim a concupiscência.

6Não se apodere de mim o apetite sensual e a luxúria,

e não me entregues à mercê do desejo impudico.

 

Dominar as palavras

7Ouvi, filhos, as instruções que vos dou:

aquele que as guardar não cairá no erro.

8O pecador será colhido pelos seus lábios,

o maldizente e o orgulhoso tropeçarão por causa deles.

9Não acostumes a tua boca ao juramento;

não te habitues a proferir o Nome santo.

10Pois, assim como um escravo, vigiado constantemente, não se livrará das vergastadas,

assim não será isento de pecado quem, por tudo e por nada, jura pelo nome de Deus.

11O homem que jura com frequência será cheio de iniquidade e o flagelo não se afastará da sua casa.

Se cai em falta, o seu pecado recairá sobre ele; se dissimular, pecará duplamente.

Se jurar em vão, não terá justificação, e a sua casa será cheia de castigos.

12Há uma maneira de falar que leva à morte, e não deve ser ouvida entre a descendência de Jacob;

pois deve estar longe dos piedosos, que não serão envoltos em tais crimes.

13Não acostumes a tua boca a uma linguagem grosseira,

porque nela há ocasião de pecado.

14Lembra-te do teu pai e da tua mãe, quando te sentares no meio dos poderosos;

não aconteça que te vás esquecer deles, na sua presença,

e, levado pelo hábito da sua familiaridade, faças tolices, e chegues a desejar não ter nascido, e a amaldiçoar o dia do teu nascimento.

15O homem, acostumado a dizer impropérios, nunca se corrigirá em toda a sua vida.

 

Contra a concupiscência

16Duas espécies de pessoas multiplicam os pecados, e uma terceira atrai sobre si a cólera.

17Uma paixão ardente como fogo aceso, não se acalma até que se tenha consumado;

o homem que abusa do seu próprio corpo, não terá sossego enquanto o fogo não o consumir;

para o homem impudico todo o pão é doce, e não se acalmará até morrer.

18O homem que desonra o seu leito conjugal, diz no seu coração: «Quem me vê?

As trevas cercam-me, as paredes escondem-me, ninguém me vê. A quem temerei?

O Altíssimo não se lembrará dos meus pecados.»

19Só teme os olhos dos homens, e não sabe que os olhos do Senhor são milhares de vezes mais luminosos do que o Sol,

que vêem todos os caminhos dos homens e penetram os lugares mais recônditos.

20Porque, assim como Deus conhecia todas as coisas, antes de as ter criado,

assim também agora as vê todas, depois que as criou.

21Este homem será castigado nas praças públicas da cidade,

e será apanhado onde menos o esperava.

22Assim também perecerá toda a mulher que deixa o seu marido,

e lhe dá como herdeiro um filho adulterino.

23Primeiramente, ela foi desobediente à lei do Altíssimo;

em segundo lugar, pecou contra o seu marido;

e, em terceiro lugar, cometeu um adultério, e teve filhos de outro homem.

24Essa mulher será conduzida à assembleia do povo,

e sobre os seus filhos será aberto um inquérito.

25Os seus filhos não lançarão raízes,

os seus ramos não darão fruto.

26Deixará uma memória de maldição,

e jamais se apagará a sua infâmia.

27E todos aqueles que lhe sobreviverem reconhecerão que não há coisa melhor do que o temor de Deus,

que nada há mais doce do que observar os seus preceitos.

28É glória imensa seguir o Senhor.

É vida longa para ti ser acolhido por Ele.

Capítulo 24

Origem e importância da sabedoria

1A sabedoria faz o seu próprio elogio, e gloria-se no meio do seu povo.

2Abre a boca na assembleia do Altíssimo, gloria-se diante dos exércitos do Senhor:

3«Saí da boca do Altíssimo; e como uma nuvem cobri a terra.

4Habitei nos lugares mais altos, e o meu trono está sobre uma coluna de nuvens.

5Sozinha percorri a abóbada celeste, penetrei nas profundezas dos abismos.

6Sobre as ondas do mar e sobre toda a terra, sobre todos os povos e nações eu reinava.

7Entre todas estas coisas busquei um lugar de repouso, e herança onde pudesse habitar.

8Então o Criador do universo deu- me as suas ordens, e aquele que me criou assentou a minha tenda. E disse-me: “Habita em Jacob, e toma Israel como tua herança”.

9Ele criou-me desde o princípio, antes de todos os séculos, e não deixarei de existir até ao fim dos séculos.

10Exerci diante dele o meu ministério no tabernáculo santo, e assim me estabeleci em Sião.

11Na cidade amada Ele me fez repousar, e em Jerusalém está o meu poder.

12Deitei raízes no meio de um povo glorioso, na porção do Senhor, no meio da sua herança.

13Elevei-me qual cedro do Líbano, como cipreste nos montes do Hermon.

14Cresci como a palmeira de En- Guédi, como as roseiras de Jericó, como uma formosa oliveira na planície, cresci como plátano.

15Espalhei um perfume de cinamomo e de bálsamo odorífero, e exalei um perfume suave como mirra escolhida, como o gálbano, o ónix e a mirra, e como o vapor do incenso, no Tabernáculo.

16Estendi os meus ramos como o terebinto; os meus ramos têm graça e majestade.

17Eu, como a videira, fiz germinar graciosos sarmentos, e as minhas flores dão frutos de glória e de riqueza.

18Sou a mãe do puro amor, do temor, do conhecimento e da digna esperança. Sou concedida aos meus filhos desde sempre, aos que foram designados por Ele.»   Frutos e dons da sabedoria

19«Vinde a mim todos os que me desejais e saciai-vos dos meus frutos,

20porque pensar em mim é mais doce do que o mel, e possuir-me é mais suave do que o favo de mel.

21Aqueles que me comem, terão ainda fome, e aqueles que me bebem, terão ainda sede.

22Aquele que me ouve, não será confundido, e os que agem por mim não pecarão.» 

23Tudo isto é o resumo do livro da Aliança do Deus Altíssimo, é a Lei que nos deu Moisés, herança para as comunidades de Jacob.

24Não cesseis de vos mostrar fortes no Senhor, apegai-vos a Ele para que Ele vos fortaleça. O Senhor todo poderoso é o único Deus e não há outro salvador fora dele.

25A Lei transborda de sabedoria como o Pichon, e como o Tigre, na época dos frutos novos;

26ela transborda de inteligência como o Eufrates, e como o Jordão, no tempo da colheita.

27É ela que derrama a ciência como o Nilo, como o Guion, no tempo da vindima.

28Nem o primeiro a conheceu perfeitamente, nem o último, de igual modo, a descobriu.

29Os seus pensamentos são mais vastos que o mar, e os seus desígnios mais profundos do que o grande abismo.

30Eu, como um canal derivado dum rio, e como um aqueduto que se dirige para um jardim,

31disse: “Regarei as plantas do meu jardim e saciarei de água os meus canteiros.” E eis que o meu curso de água se tornou um rio, e o meu rio se tornou um mar.

32Irradiarei a ciência como a aurora, farei que ela brilhe bem longe.

33Continuarei a espalhar a minha doutrina como uma profecia, e transmiti-la-ei às gerações vindouras.

34Vêde que não trabalhei só para mim, mas para todos aqueles que buscam a sabedoria.»

Capítulo 25

Três coisas agradáveis e três coisas detestáveis

1Em três coisas se compraz o meu espírito, e são agradáveis a Deus e aos homens: a concórdia entre os irmãos, a amizade entre os vizinhos, e a boa harmonia entre marido e mulher.

2Há três espécies de pessoas que a minha alma detesta, e cuja vida me é insuportável: um pobre orgulhoso, um rico mentiroso e um ancião adúltero e insensato.

3Como acharás na velhice aquilo que não juntaste na juventude?

4Quão belo é para a velhice o saber julgar, e para os anciãos o saber aconselhar!

5Quão bela é a sabedoria, nas pessoas de idade avançada, e a reflexão e o conselho, nos que gozam de honras.

6A experiência consumada é coroa dos anciãos, e o temor do Senhor é a sua glória.

7Nove coisas tenho por felizes no meu coração, e a décima a anunciarei pelas minhas palavras: um homem que encontra a sua alegria nos filhos, o que vive bastante para ver a ruína dos seus inimigos.

8Feliz do que vive com uma mulher sensata, que não se deixa descair com a língua, e que não tem de servir alguém indigno dele.

9Feliz o que encontrou a prudência, e o que a expõe aos ouvidos que a escutam.

10Como é grande aquele que encontrou a sabedoria! Mas ninguém se avantaja àquele que teme o Senhor.

11O temor de Deus eleva-se sobre tudo: com quem se comparará aquele que o possui?

12O temor do Senhor é começo do seu amor, mas é pela fé que se começa a aderir a Ele. A mulher má

13Qualquer ferida, menos a ferida do coração! Qualquer maldade, mas não a maldade da mulher!

14Qualquer aflição, mas não a aflição causada pelo ódio! Qualquer vingança, mas não a vingança do inimigo!

15Não há veneno pior que o da serpente, e não há cólera pior do que dum inimigo!

16Será preferível viver com um leão ou com um dragão, do que viver com uma mulher perversa.

17A malícia da mulher transforma-lhe as feições, torna-lhe o rosto como o de um urso.

18No meio dos seus vizinhos, senta- -se o seu marido, e, ouvindo-os, suspira amargamente.

19Toda a malícia é leve, comparada com a malícia da mulher; que a sorte dos pecadores caia sobre ela!

20O que é uma encosta arenosa para os pés de um ancião, assim é uma mulher linguareira para um marido pacato.

21Não olhes para a formosura de uma mulher, e não cobices uma mulher.

22Escravidão, ignomínia e vergonha, quando uma mulher sustenta o marido.

23Coração abatido, semblante triste, e chaga no coração, eis o que produz uma mulher perversa. Mãos lânguidas, joelhos vacilantes, eis o que causa uma mulher que não faz a felicidade do seu marido.

24Foi pela mulher que começou o pecado, e é por causa dela que todos morremos.

25Não dês saída à água, nem à mulher perversa a liberdade de falar.

26Se ela não andar sob a direcção da tua mão, aparta-a da tua pessoa.

Capítulo 26

Mulher má e mulher virtuosa

1Feliz o homem que tem uma mulher virtuosa, porque será dobrado o número dos seus anos.

2A mulher forte é a alegria do marido; derramará paz nos anos da sua vida.

3Uma mulher virtuosa é uma sorte excelente, é o prémio dos que temem o Senhor.

4Rico ou pobre, o seu coração será feliz, e o seu rosto ver-se-á sempre alegre.

5Três coisas teme o meu coração, e uma quarta me espanta: a calúnia numa cidade, a sedição de um povo, a falsa acusação; coisas estas mais temíveis que a morte; 6mas aflição do coração e amargura é uma mulher ciumenta de uma outra, e o flagelo de uma língua que atinge a todos.

7Uma mulher perversa é como o jugo dos bois desajustado; possuí-la é possuir um escorpião.

8A mulher dada ao vinho é motivo de grande vergonha, e a sua infâmia não ficará oculta.

9A leviandade de uma mulher revela-se na desvergonha do seu olhar, e no pestanejar das pálpebras.

10Vigia redobradamente a filha descarada, não aconteça que ela se aproveite do teu descuido.

11Guarda-te bem da desavergonhada no olhar, e não te admires se ela pecar contra ti.

12Como um viajante sedento abre a boca, e bebe de toda a água que encontra, assim a impudica vai ao encontro da fornicação e oferece o seu corpo à impureza.

13A graça de uma mulher deleita o marido, e seu bom proceder revigora-lhe os ossos.

14É dom do Senhor uma mulher silenciosa; nada é comparável a uma mulher bem educada.

15A mulher honesta é uma graça inestimável; não há preço comparável a uma alma casta.

16Como o Sol se eleva nas alturas do Senhor, assim a beleza de uma mulher virtuosa é ornamento da sua casa.

17Lâmpada que brilha no candelabro sagrado, assim é a beleza do rosto num corpo bem feito.

18Colunas de ouro sobre alicerces de prata, assim as pernas formosas sobre calcanhares firmes.

19Meu filho, conserva sadia a flor da tua idade e não entregues a tua força a estrangeiros.

20Depois de teres procurado o campo mais fértil do país, semeia aí o teu próprio grão, confiando na nobreza da tua raça.

21Assim, os rebentos que deixares depois de ti, seguros da sua nobreza, se orgulharão.

22A mulher que se vende não vale um escarro; a mulher legítima é sólida como uma torre.

23A mulher ímpia será dada ao pecador; a mulher piedosa, àquele que teme o Senhor.

24A mulher desavergonhada não se compraz senão na desonra; a mulher pudica é delicada, mesmo com o seu marido.

25A mulher ousada não é mais respeitada que um cão; mas a que é modesta teme o Senhor.

26A mulher que honra o seu esposo é tida por sábia aos olhos de todos; mas a que o desonra é considerada ímpia no seu orgulho. Feliz o marido que tem uma boa esposa; o número dos seus anos será duplicado.

27A mulher gritadeira e tagarela é uma trombeta de guerra, afugentando o inimigo; todo o homem, nessas condições, passa a vida no tumulto da batalha.

Três coisas tristes 28Duas coisas entristecem o meu coração, e uma terceira irrita-me: um guerreiro que perece na indigência, homens sábios reduzidos ao desprezo; aquele que passa da virtude ao pecado; o Senhor o destinará à espada.

Perigos do comércio 29O negociante dificilmente evitará a tentação, e o taberneiro não está isento de pecado.

Capítulo 27

1Muitos pecam por amor ao dinheiro; aquele que procura enriquecer faz todas as falcatruas.

2Como se finca um pau entre as junturas das pedras, assim penetra o pecado entre a compra e a venda.

3Se não te mantiveres firmemente no temor do Senhor, a tua casa em breve será arruinada.

A palavra dá a conhecer o homem 4Quando se abana o crivo, apenas ficam as alimpas; do mesmo modo, os defeitos do homem aparecem nas suas palavras.

5A fornalha prova as jarras do oleiro, e a prova do homem são os seus pensamentos.

6O cuidado com uma árvore mostra-se no fruto; assim, a palavra manifesta o que vai no coração do homem.

7Não louves um homem antes de ele falar, porque é assim que ele se dá a conhecer.

Procura a justiça 8Se procurares a justiça, encontrá- la-ás e dela te revestirás como de um manto de glória.

9As aves chegam-se aos seus semelhantes; assim a verdade volta para aqueles que a praticam.

10O leão está à espreita da presa; da mesma forma, o pecado, para os que praticam a iniquidade.

A conversa do insensato 11A conversa do homem piedoso é sempre sabedoria, mas o insensato é inconstante como a Lua.

12No meio dos insensatos, guarda as tuas palavras para outra ocasião, mas, no meio de pessoas ponderadas, prolonga a tua presença.

13A conversa dos pecadores é odiosa; eles alegram-se nas delícias do pecado.

14A linguagem do que multiplica os palavrões faz eriçar os cabelos, e a sua disputa faz tapar os ouvidos.

15A contenda entre orgulhosos faz correr sangue, e as suas injúrias não se podem ouvir.

A indiscrição destrói a amizade 16Aquele que revela o segredo de um amigo perde o crédito, e não encontrará amigos segundo o seu coração.

17Ama o amigo e sê-lhe leal, mas, se revelaste os seus segredos, não vás mais atrás dele.

18Como se perde um morto, assim tu perdeste a amizade do teu próximo.

19Como um pássaro que tu soltaste da tua mão, assim deixaste ir o teu amigo, e não o encontrarás mais.

20Não o persigas, porque já está muito longe; fugiu da armadilha como uma gazela.

21Uma ferida pode ser curada, e uma injúria, ser reparada, mas aquele que revelou segredos perdeu toda a esperança.  

A hipocrisia 22Aquele que pisca os olhos tem maus desígnios, e ninguém o poderá afastar disso.

23Na tua presença fala com doçura, admira tudo o que disseres, mas, depois, muda de linguagem e serve-se das tuas palavras, para te prejudicar.

24Aborreço muitas coisas, porém nada tanto como a este; o Senhor também o detesta.

O mau prejudica-se a si próprio 25Aquele que lança uma pedra ao ar, há-de vê-la cair sobre a sua cabeça; assim, a ofensa feita à traição atingirá também o traidor. 26O que abre uma cova, cairá nela; o que arma uma cilada a outrem, nela perecerá.

27O desígnio perverso voltar-se-á contra quem o forja, sem que saiba donde lhe vem.

28O escárnio e o ultraje são próprios dos orgulhosos, mas a vingança, como um leão, apanhá-los-á de surpresa.

29Aqueles que se alegram com a queda dos piedosos, perecerão no laço, e a dor os consumirá ainda vivos. 30A ira e o furor são duas coisas detestáveis; só o homem pecador os nutre no coração.

Capítulo 28

A vingança 1Aquele que se vinga, sofrerá a vingança do Senhor, que lhe pedirá contas rigorosas dos seus pecados. 2Perdoa ao teu próximo o mal que te fez, e os teus pecados, se o pedires na tua oração, serão perdoados. 3Um homem guarda rancor contra outro homem, e pede a Deus que o cure? 4Não tem compaixão do seu semelhante, e pede o perdão dos seus pecados? 5Ele, que é um simples mortal, guarda rancor; quem lhe alcançará o perdão dos seus pecados? 6Lembra-te do teu fim, e deixa-te de inimizades; pensa na corrupção e na morte, e guarda os mandamentos. 7Lembra-te dos mandamentos e não te ires contra o próximo; lembra-te da aliança com o Altíssimo e não faças caso do erro do teu próximo. As discórdias 8Abstém-te de litígios e diminuirás os pecados, porque o homem irascível provoca contendas, 9e o pecador suscita discórdias entre os seus amigos e semeia a inimizade no meio dos que vivem em paz.

10O fogo ateia-se na proporção do combustível; a ira do homem inflama-se na medida da sua obstinação. Ira-se um homem, na medida do seu poder, e aumenta a sua cólera, em proporção da sua riqueza. 11O litígio repentino acende o fogo; a demanda irreflectida faz derramar sangue. 12Se soprares a uma faúlha, ela inflama-se; se cuspires sobre ela, ela apaga- se; ambas as coisas saem da tua boca.  

A maledicência 13O murmurador e o homem de duas línguas são malditos, porque foram a perdição de muitos que viviam em paz. 14A língua de um terceiro abalou a muitos e dispersou-os, de povo em povo; destruiu cidades fortes e arrasou as casas dos poderosos. 15A língua de um terceiro fez repudiar mulheres virtuosas, e privou-as do fruto dos seus trabalhos. 16Aquele que lhe dá ouvidos, não terá descanso, nem encontrará paz na sua casa.

17O golpe de um açoite faz pisaduras, mas o golpe da língua quebra os ossos. 18Muitos homens morreram, passados ao fio da espada, mas muitos mais pereceram pela própria língua. 19Feliz aquele que está a coberto da língua perversa, que não passou pela ira dela, que não atraiu sobre si o seu jugo, e que não foi atado pelas suas cadeias; 20porque o seu jugo é um jugo de ferro, e as suas cadeias, cadeias de bronze.

21A morte que ela causa é uma morte desgraçada, e a sepultura é-lhe preferível. 22Ela não tem poder sobre os piedosos, que não serão devorados pelas suas chamas. 23Os que abandonam o Senhor cairão no poder dela, que os consumirá sem se extinguir: lançar-se-á sobre eles como um leão e os despedaçará como um leopardo. 24Se proteges o teu terreno com sebe de espinhos, e aferrolhas a tua prata e o teu ouro, 25faz também uma balança e um peso para as tuas palavras, e para a tua boca, uma porta e um ferrolho. 26Cuida de não pecares pela língua, para não caíres na presença dos inimigos que te espreitam.

Capítulo 29

Os empréstimos 1Aquele que é misericordioso empresta ao seu próximo; aquele que lhe estende a mão guarda os mandamentos. 2Empresta ao teu próximo, no tempo da sua necessidade, mas paga-lhe também o que lhe deves, no tempo marcado. 3Cumpre a tua palavra e procede lealmente com ele, e em todo o tempo acharás o que te é necessário. 4Muitos consideram, como um achado, o que se lhe emprestou, e causam desgosto àqueles que os ajudaram. 5Enquanto não apanham o dinheiro, beijam a mão de quem lhes empresta, e com voz humilde solicitam o empréstimo; porém, no momento da restituição pedem espera, dão vãs escusas e desculpam-se com o tempo. 6Ainda que possam pagar, põem dificuldades; restituem apenas metade da dívida e fazem de conta que aquilo é um achado. Se não têm meios para pagar, privam o credor do seu dinheiro e, sem causa alguma, ficam a tê- lo por inimigo; pagam-lhe com ofensas e maldições e, em paga do benefício, devolvem ultrajes. 7Por causa disto, muitos deixam de emprestar, pois temem ser injustamente defraudados. 8Todavia, sê generoso para com o miserável, e não o faças esperar pela esmola.

Compaixão com os pobres 9Por causa do mandamento, socorre o pobre; e não o deixes ir com as mãos vazias, na sua indigência. 10Perde o teu dinheiro, em favor do teu irmão e do teu amigo, e não o escondas debaixo de uma pedra, para ficar perdido. 11Emprega o teu tesouro, segundo os preceitos do Altíssimo, e isto te aproveitará mais do que o ouro. 12Encerra a tua esmola nos teus celeiros, e ela te livrará de todo o mal. 13Mais do que um forte escudo e uma lança poderosa, ela pelejará por ti, contra o teu inimigo.

A fiança 14O homem de bem afiança o seu próximo, mas o que tiver perdido a vergonha abandona-o à sua sorte. 15Não esqueças o benefício daquele que te afiançou, porque ele arriscou a vida para te amparar. 16O pecador apodera-se dos bens do fiador, e o ingrato abandona aquele que o salvou. 17A fiança arruinou a muitos que prosperavam e agitou-os como as ondas do mar. 18Exilou muitos homens poderosos da sua casa e fê-los peregrinar por terras estrangeiras. 19O pecador que se oferece para afiançar, vendo que pode lucrar, cairá nas mãos da justiça. 20Ajuda o próximo conforme as tuas posses, mas acautela-te, não caias tu também.

A hospitalidade 21O essencial da vida do homem é a água, o pão, o vestuário e uma casa para ocultar a própria nudez. 22É melhor viver pobre sob um tecto de tábuas, do que ter magníficos banquetes em casas alheias. 23Contenta-te com o pouco ou muito que tiveres, e evitarás a censura de seres um intruso. 24É uma vida miserável a daquele que se hospeda de casa em casa; onde és hóspede, não poderás abrir a boca. 25Receberás, constrangido, hospedagem e bebida, e, depois disto, ouvirás palavras amargas: 26«Vem cá, forasteiro, põe a mesa; se tens alguma coisa, dá-me de comer.» 27«Retira-te, forasteiro, cede lugar a alguém mais digno! Preciso da minha casa para nela receber o meu irmão.» 28Estas coisas são duras para um homem sensato: as censuras do dono da casa e a injúria do credor.

Capítulo 30

A correcção dos filhos 1Aquele que ama o seu filho, castiga-o com frequência, para que se alegre com isso mais tarde. 2Aquele que educa o seu filho será louvado, e, entre os conhecidos, se gloriará dele. 3Aquele que instrui o filho, causará inveja ao seu inimigo, e, entre os amigos, exultará por causa dele. 4O pai morre, e é como se não morresse, porque deixa depois de si um seu semelhante. 5Durante a vida, viu o filho e nele se alegrou; e ao morrer, não ficará afIito. 6Deixou em sua casa um defensor contra os inimigos, e alguém que retribuirá os benefícios aos seus amigos. 7Aquele que amimalha os seus filhos, terá que lhe tratar as feridas, e, a qualquer dos seus gritos, se comoverão as suas entranhas. 8Um cavalo por amansar torna-se intratável, e um filho, entregue a si mesmo, torna-se insolente. 9Lisonjeia o teu filho e ele te causará problemas; brinca com ele, e ele te entristecerá. 10Não te ponhas a rir com ele, para que não venhas a sofrer por isso, e para que não tenhas que ranger os dentes. 11Não lhe dês largas, na sua juventude, e não feches os olhos às suas extravagâncias. Obriga-o a curvar a cabeça, na mocidade, 12castiga-o nas costas enquanto é menino, não suceda que se endureça e se torne desobediente, e venha a ser a dor da tua alma. 13Educa o teu filho, esforça-te por formá-lo, para que não te aborreças com a sua vida vergonhosa.

A saúde 14Mais vale um pobre sadio e vigoroso, que um rico enfraquecido e atormentado de doenças. 15A saúde e o vigor valem mais do que todo o ouro do mundo, e um corpo vigoroso, mais do que uma fortuna imensa. 16Não há maior riqueza que a saúde do corpo, nem bem maior do que a alegria do coração. 17É melhor a morte que uma vida amargurada, e o repouso eterno, que um definhamento sem fim. 18Abundantes iguarias colocadas diante de uma boca fechada são como oferendas de alimentos colocados sobre um túmulo. 19De que serve ao ídolo a oferenda que lhe fazem? Ele não a poderá comer nem lhe tomará o aroma. Assim acontece àquele que o Senhor repele. 20Ele vê com os olhos e geme, como um eunuco que abraça uma virgem e suspira. Assim é também o que pretende estabelecer a justiça, pela força.  

A alegria 21Não abandones a tua alma à tristeza, não te atormentes a ti mesmo nos teus pensamentos. 22A alegria do coração é a vida do homem, e a alegria do homem aumenta a sua longevidade. 23Anima a tua alma e consola o teu coração e afasta a tristeza para longe de ti, porque a tristeza faz morrer a muitos, e nela não há nenhuma utilidade. 24A inveja e a ira abreviam os dias, e a inquietação faz chegar à velhice antes do tempo. 25Um coração bondoso está num contínuo festim, ele cuida da sua alimentação.

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