Capítulo 11

Não se fiar nas aparências

1A sabedoria do humilde faz com que ele levante a cabeça

e possa sentar-se no meio dos grandes.

2Não louves um homem pela sua bela aparência,

nem desprezes ninguém pelo seu aspecto.

3Pequena é a abelha, comparada com as aves,

mas o seu produto é o primeiro na doçura.

4Não te glories nunca da roupa que vestes,

nem te engrandeças, no dia em que fores honrado,

porque as obras do Senhor são admiráveis,

mas são misteriosas para os homens.

5Muitos príncipes se sentaram no chão

e um desconhecido cingiu o diadema.

6Muitos poderosos foram grandemente humilhados,

e homens ilustres foram entregues nas mãos de outros.


Prudência nas palavras

7Não censures ninguém antes de te teres informado;

reflecte primeiro e depois repreende.

8Nada respondas antes de teres escutado;

e enquanto outro fala, não o interrompas.

9Não te metas em coisas que não te dizem respeito,

nem tomes assento nas contendas dos pecadores.


Ordem na actividade

10Meu filho, não te metas em muitos negócios;

se os multiplicares, não ficarás isento de culpa.

Se empreenderes muitos negócios, não poderás abrangê-los,

e, por mais diligência que faças,

não poderás escapar, fugindo.

11Há quem trabalhe, e se apresse

e quem se aflija, e fique para trás.

12Há quem seja fraco e necessitado de amparo,

carecido de tudo, rico só em pobreza;

mas o Senhor olha-o com benevolência,

e levanta-o da sua humilhação.

13Faz com que ele possa levantar a cabeça

e muitos ficam admirados diante dele.


Pobreza e riqueza

14Os bens e os males, a vida e a morte,

a pobreza e a riqueza, tudo isto vem do Senhor.

15Sabedoria, conhecimento e ciência da Lei vêm do Senhor;

dele vêm a caridade e as boas obras.

16Erro e trevas foram criados com os pecadores;

os que se comprazem no mal, no mal envelhecerão.

17O dom do Senhor permanece com os piedosos,

e a sua benevolência os guiará para sempre.

18Há quem enriqueça à custa de afãs e avareza,

e esta é a recompensa que lhe cabe;

19mas, quando ele declara:

«Agora vou descansar e comer sozinho dos meus bens»,

não sabe quando virá o tempo de os deixar a outros e morrer.

20Persevera no cumprimento do teu dever,

consagra-te a ele, e envelhece na sua realização.

21Não admires as obras do pecador,

mas põe a tua confiança no Senhor,

e persevera no teu trabalho,

pois é fácil aos olhos do Senhor

o pobre enriquecer repentinamente.

22A bênção do Senhor é a recompensa dos piedosos,

e Ele, num instante, faz florescer a sua bênção.

23Não digas: «De que preciso eu?

Que bens poderei esperar no futuro?»

24Não digas: «Tenho suficiente para mim mesmo.

Que mal posso temer a partir de agora?»

25No dia da felicidade esquece-se da desgraça;

no dia da desgraça, ninguém se lembra da felicidade.

26Porque, no dia da morte,

é fácil a Deus dar a cada um segundo as suas obras.

27A aflição de um instante faz esquecer o bem-estar,

na morte do homem serão descobertas as suas obras.

28Não louves nenhum homem antes da morte,

porque um homem conhece-se pelo seu fim.


Prudência na hospitalidade

29Não metas um qualquer em tua casa,

porque são numerosas as armadilhas do homem astuto.

30Como pássaro na gaiola,

assim é o coração do orgulhoso;

como um espião, ele observa a tua queda.

31Convertendo o bem em mal, arma-te ciladas,

e nas coisas mais puras põe mácula.

32Uma centelha basta para acender uma grande fogueira;

assim um homem perverso prepara ciladas para derramar sangue.

33Guarda-te do malfeitor, que trama a iniquidade,

para que não te cubra de perpétua infâmia.

34Alberga o estranho e logo ele transtornará a tua vida,

e te separará dos teus.

Capítulo 12

Regras sobre beneficência

1Se fizeres o bem, procura saber a quem o fazes,

e receberás gratidão pelos teus benefícios.

2Faz o bem a um homem piedoso,

e terás recompensa,

se não dele, pelo menos do Altíssimo.

3Não irão bem as coisas para quem persevera no mal,

e se recusa a dar esmolas.

4Dá ao homem piedoso,

mas não ampares o pecador.

5Faz bem ao humilde, e nada dês ao ímpio;

recusa-lhe o pão, não lho dês,

a fim de que não se torne mais forte que tu;

pois terás mal a dobrar por todos os bens que lhe fizeres.

6Também o Altíssimo detesta os pecadores,

e aos ímpios infligirá o castigo.

7Dá ao homem bom,

mas não ajudes o pecador.


Desconfiar dos inimigos

8Não é na prosperidade que o amigo se conhece,

e o inimigo não ficará encoberto na adversidade.

9Quando um homem é feliz, os seus inimigos estão tristes;

mas, na sua adversidade, até o amigo desaparece.

10Não confies nunca no teu inimigo,

pois a sua malícia é como o verdete

que sempre ataca o bronze.

11Mesmo que ele se humilhe e ande submisso,

põe-te alerta e guarda-te dele.

Comporta-te com ele como o polidor de espelhos

e ficarás a saber que não resiste muito tempo.

12Não o ponhas junto de ti,

não suceda que te derrube e tome o teu lugar.

Não o sentes à tua direita,

não suceda que vá ocupar o teu lugar,

e tenhas que reconhecer as minhas palavras,

tarde demais, e gemer,

por não teres seguido as minhas advertências.

13Quem se compadecerá do encantador,

a quem a serpente morde,

e dos que se aproximam das feras?

14O mesmo acontece a quem vive com o pecador,

e se deixa envolver nos seus pecados.

15Por uma hora ele ficará contigo,

mas se vieres a fraquejar não te deita a mão.

16O inimigo tem a doçura nos lábios,

mas no coração arma laços para te fazer cair numa cova.

O inimigo tem lágrimas nos olhos,

mas, se tiver oportunidade, será insaciável de sangue.

17Se a desgraça te ferir, lá estará ele;

fingindo socorrer-te, far-te-á tropeçar.

18Abanará a cabeça, baterá palmas,

e, murmurando muito, mudará de semblante.

Capítulo 13

As más companhias

1O que toca no pez ficará manchado,

o que trata com o orgulhoso tornar-se-á como ele.

2Não carregues com um peso grande demais para ti,

nem convivas com alguém mais forte e rico do que tu.

Que ligação pode haver entre uma panela de barro e outra de ferro?

Quando entrarem em choque, aquela ficará quebrada.

3O rico comete injustiças e, ainda por cima, ameaça;

o pobre é ofendido, e ainda pede desculpa.

4Enquanto lhe fores útil, utiliza os teus serviços;

quando nada mais tiveres, abandona-te.

5Se tens haveres, ele convive contigo,

e há-de despojar-te sem compaixão.

6Se lhe fores necessário, há-de enganar-te;

com um sorriso há-de dar-te esperanças;

e, com belas palavras te dirá: «De que necessitas?»

7Deslumbra-te com os seus banquetes,

até que te tenha despojado em duas ou três vezes;

e, por fim, zomba de ti e abandona-te,

e abana a cabeça, escarnecendo de ti.

8Tem cuidado em não te deixares seduzir,

para não seres humilhado por causa da tua loucura.

9Quando um poderoso te chamar, retira-te,

e ele, com maior insistência, te chamará.

10Não sejas importuno, para não seres afastado,

mas não te afastes muito para não seres esquecido.

11Não trates com ele, de igual para igual,

nem te fies nas suas muitas palavras,

porque, com o seu muito falar, ele te experimentará,

e, sorrindo, te sondará.

12É implacável aquele que não guarda para si as palavras,

e não te poupará aos maus tratos, nem à prisão.

13Cuida de ti e presta bem atenção aos teus ouvidos,

porque caminhas com a tua própria ruína.

14Ao ouvires isso, desperta do teu sono;

ama a Deus durante toda a tua vida

e pede-lhe pela tua salvação.


Simpatias e antipatias

15Todo o ser vivo ama o seu semelhante,

e todo o homem ama o seu próximo.

16Todo o animal se une aos da sua espécie,

e todo o homem se associa ao seu semelhante.

17Que sociedade pode fazer o lobo com o cordeiro?

Assim acontece com o pecador e o homem piedoso.

18Que relações pode ter a hiena e o cão?

Ou que união pode ter um rico com um pobre?

19O asno selvagem é a presa do leão, no deserto;

assim também os pobres servem de pasto aos ricos.

20Tal como a humildade é a abominação do orgulhoso,

assim também o pobre causa horror ao rico.

21Um rico que vacila é apoiado pelos amigos,

mas o humilde, quando cai, até pelos amigos será repelido.

22O rico que erra tem numerosos defensores,

e se diz disparates, justificam-no.

Mas, se o humilde vacila, censuram-no;

se falar com sabedoria, não fazem caso dele.

23Se fala o rico, todos se calam

e exaltam até às nuvens as suas palavras.

Se fala o pobre, dizem: «Quem é este?»

E, se ele tropeçar, fazem-no cair.


Bom uso das riquezas

24A riqueza é boa quando isenta de pecado,

e é má a pobreza, na boca do ímpio.

25O coração do homem modifica o seu rosto,

quer para bem, quer para mal.

26O sinal de um coração feliz é um rosto satisfeito;

mas a invenção de máximas exige penosa reflexão.

Capítulo 14

1Feliz o homem que não transgrediu por palavras da sua boca,

e que não foi atormentado pelo remorso dos pecados.

2Feliz aquele cuja consciência não o acusa

e que não se desiludiu da sua esperança.

3Para um homem mesquinho, a riqueza não é um bem;

ao homem invejoso, de que servem muitos bens?

4Quem junta, privando-se a si mesmo, para outros acumula;

virá um estranho e se regalará com os seus bens.

5Para quem será bom aquele que é mau para si mesmo?

Ele nem sequer gozará das suas riquezas.

6Não há pior do que aquele que é avaro para si mesmo;

nisto está o verdadeiro salário da sua maldade.

7Se faz algum bem, é só inconscientemente e sem querer,

mas, por fim, dará a conhecer a sua maldade.

8É mau o de olhar invejoso,

o que desvia o rosto e despreza a vida dos outros.

9O olho do avarento não se sacia com o seu quinhão;

a cupidez consome-lhe a alma.

10O olhar do maldoso é invejoso de pão;

e estará faminto à sua própria mesa.

11Meu filho, se tens com quê, trata-te bem,

e oferece a Deus oblações dignas.

12Lembra-te de que a morte não tarda,

e que a lei do sepulcro não te foi revelada.

13Antes de morrer, faz bem ao teu amigo,

sê generoso e dá-lhe segundo as tuas posses.

14Não te prives da felicidade presente,

e não deixes perder nenhuma parcela dum legítimo desejo.

15Não vês que deixarás a outros o fruto dos teus esforços,

e que os teus bens serão repartidos por sortes?

16Dá e recebe, e satisfaz os teus desejos;

porque, na sepultura, não se vai procurar a alegria.

17Toda a carne, como a roupa, se deteriora,

pois esta é a lei desde sempre: «Tu tens de morrer.»

18Como a folhagem em árvore frondosa,

tanto cai como rebenta,

assim as gerações humanas,

umas morrem, outras nascem.

19Toda a obra corruptível desaparece,

e o autor morrerá com a sua própria obra.


Elogio da sabedoria (24,19-22; Pr 8,32-35; Sb 8,10-15)

20Feliz o homem que se aplica à sabedoria

e discorre com a sua inteligência;

21que medita em seu coração nos caminhos da sabedoria

e penetra no conhecimento dos seus segredos;

22vai atrás dela como quem lhe segue o rasto

e permanece nos seus caminhos;

23olha pela janela a sabedoria

e escuta às suas portas;

24detém-se junto da sua morada

e fixa um prego nas suas paredes;

25levanta a sua tenda junto dela

e estabelece ali agradável morada;

26coloca os filhos debaixo da protecção da sabedoria

e ele mesmo morará debaixo dos seus ramos;

27à sua sombra estará defendido do calor,

e repousará na sua glória.

Capítulo 15

Quem teme a Deus é feliz

1Assim faz aquele que teme o Senhor;

o que se dedica à Lei possuirá a sabedoria.

2Ela virá ao seu encontro como uma mãe,

e o acolherá como uma esposa virgem;

3com o pão da inteligência, há-de alimentá-lo

e, com a água da sabedoria, há-de matar-lhe a sede.

4Há-de apoiar-se nela e não vacilará,

há-de confiar nela e não ficará desiludido.

5Ela o exaltará acima dos seus companheiros,

abrir-lhe-á a boca no meio da assembleia.

6Encontrará alegria e uma coroa de júbilo,

e lhe será dado em herança um renome eterno.

7Mas os homens insensatos não a alcançarão,

e os pecadores não a verão.

8Ela está longe dos orgulhosos,

e os mentirosos não se recordam dela.

9O louvor não fica bem na boca do pecador,

porque não lhe foi concedido pelo Senhor.

10O louvor exprime-se em sabedoria,

é o Senhor quem a concede.


Os pecados são do homem e não de Deus

11Não digas: «Foi o Senhor que me fez pecar»,

porque Ele não faz aquilo que detesta.

12Não digas: «Foi Ele quem me seduziu»,

porque Ele não necessita dos pecadores.

13O Senhor aborrece toda a abominação,

e os que o temem não se entregam a tais coisas.

14Desde o princípio, Ele criou o homem,

e entregou-o ao seu próprio juízo.

15Se quiseres, observarás os mandamentos;

ser-lhes fiel será questão da tua boa vontade.

16Ele pôs diante de ti o fogo e a água;

estende a mão para o que quiseres.

17Diante do homem estão a vida e a morte;

o que ele escolher, isso lhe será dado,

18pois é grande a sabedoria do Senhor.

Ele é forte e poderoso e vê todas as coisas.

19Os olhos do Senhor estão sobre os que o temem,

Ele conhece as acções de cada homem.

20A ninguém Ele deu ordem para fazer o mal,

e a ninguém deu permissão de pecar.

Capítulo 16

O insensato é infeliz

1Não desejes ter filhos numerosos e inúteis,

nem te alegres com filhos ímpios.

2Mesmo numerosos, não te vanglories deles,

se neles faltar o temor do Senhor.

3Não confies na duração da vida deles,

nem contes com o seu grande número;

pois gemerás com um luto prematuro

e, de repente, terás conhecimento do seu fim;

melhor é um só do que mil,

é melhor morrer sem filhos do que ter filhos ímpios.

4Por um só homem inteligente povoa-se a cidade,

mas a tribo dos ímpios será despovoada.

5Vi com os meus olhos muitos exemplos destes,

e com os meus ouvidos, ouvi outros ainda mais graves.

6O fogo acendeu-se na assembleia dos pecadores,

e a ira inflamou-se contra um povo incrédulo.

7O Senhor não perdoou aos gigantes de outrora,

aos que se revoltaram, orgulhosos da sua força.

8Deus não poupou a terra onde vivia Lot

e detestou os seus habitantes,

por causa da sua insolência.

9Não teve compaixão do povo maldito,

que foi exterminado por causa dos seus pecados.

Tudo isso Ele o fez a povos de coração duro

e não foi aplacado pelo número dos seus santos.

10Assim aconteceu aos seiscentos mil homens

que se tinham amotinado na dureza do seu coração.

Flagelando-os, compadecendo-se, ferindo, curando;

na misericórdia e na disciplina, o Senhor os guardou.

11Ainda que houvesse um só de dura cerviz,

seria inaudito que ficasse impune,

porque a misericórdia e a ira vêm do Senhor,

que é grandioso no perdão, mas espalha a sua cólera.

12Os seus castigos equiparam-se à sua misericórdia.

Ele julga o homem segundo as suas obras.

13O pecador não escapará com as suas rapinas,

e não será frustrada a paciência de quem é piedoso.

14Ele recompensará cada acto de misericórdia,

cada qual será tratado segundo as suas obras.

15Deus endureceu o coração do faraó para que não o reconhecesse,

a fim de tornar conhecidas as suas obras debaixo do céu.

16A toda a criação a sua piedade se manifesta;

Ele distribuiu a sua luz e a sua sombra entre os homens.


Ninguém pode fugir de Deus

17Não digas: «Esconder-me-ei do Senhor;

quem se lembrará de mim lá no alto dos céus?

Não serei reconhecido no meio da multidão,

pois, quem sou eu no meio da criação imensa?»

18Eis que o céu e o céu dos céus,

o abismo e a terra inteira tremerão quando Ele aparecer.

Todo o universo foi criado

e existe pela sua vontade.

19Também os montes e os fundamentos da terra,

quando Ele os olha, tremem de terror.

20Mas o coração não reflecte nestas realidades;

quem presta atenção aos seus caminhos?

21Como a tempestade não é vista pelo homem,

assim a maioria das suas obras permanece escondida.

22«As obras da sua justiça quem as anuncia?

Quem as espera? A aliança está muito longe,

e só no fim vem a investigação de todas as coisas.»

23Assim pensa o que não tem entendimento,

o insensato e desvairado só pensa loucuras.


Sabedoria de Deus na criação

24Ouve-me, filho, aprende a sabedoria

e aplica o teu coração às minhas palavras.

25Dar-te-ei instruções muito acertadas

e manifestar-te-ei a ciência com exactidão.

26Quando o Senhor, desde o princípio, criou as suas obras,

logo que as fez, atribuiu um lugar a cada uma.

27Ordenou as suas obras para sempre,

desde a origem até ao futuro distante;

elas não sentiram fome, nem fadiga,

e nunca interromperam o seu trabalho.

28Nunca nenhuma delas embaraçou a outra,

e nunca desobedecem à sua palavra.

29Depois disto, o Senhor olhou para a terra,

e encheu-a dos seus benefícios.

30Cobriu a superfície da terra de animais de toda a espécie,

que à terra hão-de voltar.

Capítulo 17

Criação do homem e bondade de Deus (Sl 8)

1O Senhor criou os homens a partir da terra,

e a ela de novo os faz voltar.

2Determinou-lhes um tempo e um número de dias,

e deu-lhes domínio sobre tudo o que há na terra.

3Revestiu-os de força como a si mesmo

e fê-los à sua própria imagem.

4Fê-los temidos de todo o ser vivo,

e impôs o seu domínio sobre os animais e as aves.

5Eles receberam o uso dos cinco poderes do Senhor;

como sexto foi-lhes dada a participação da inteligência,

e como sétimo, a razão, intérprete dos seus poderes.

6Dotou-os de inteligência, língua e olhos,

de ouvidos e dum coração para pensar.

7Encheu-os de saber e de inteligência,

e mostrou-lhes o bem e o mal.

8Pôs o seu olhar sobre os seus corações,

a fim de lhes mostrar a grandeza das suas obras.

9E lhes concedeu que celebrassem

eternamente as suas maravilhas.

10Louvarão o nome de Deus Santo,

publicando a magnificência das suas obras.

11Concedeu-lhes a ciência,

e deu-lhes em herança a lei da vida.

12Concluiu com eles uma Aliança eterna,

e revelou-lhes os seus decretos.

13Viram com os próprios olhos a grandeza da sua glória,

os seus ouvidos escutaram a majestade da sua voz.

14Disse-lhes: «Guardai-vos de toda a iniquidade»,

e impôs a cada um deveres para com o próximo.


Deus vê as acções dos homens

15Os seus caminhos estão sempre diante dele,

não poderão ficar ocultos aos seus olhos.

16Desde a infância o seu caminho os leva para o mal

e não puderam mudar o seu coração de pedra num coração de carne,

pois, na divisão dos povos de toda a terra,

17deu a cada nação um chefe,

mas a porção do Senhor é Israel,

18seu primogénito, que Ele alimenta de disciplina,

ao qual concede a luz do seu amor, sem o abandonar.

19Todas as suas obras estão diante dele como o Sol,

e os olhos do Senhor observam continuamente o seu proceder.

20As iniquidades deles não lhe são ocultas,

e todos os seus pecados estão diante do Senhor.

21Mas o Senhor é bom e conhece as suas criaturas,

não as destrói nem as abandona, mas poupa-as.

22A esmola do homem é para Ele como um selo,

e Ele conserva os benefícios realizados, como a pupila dos olhos.

Concedendo a seus filhos e filhas o arrependimento.

23Então, levantar-se-á e há-de recompensá-los,

e retribuirá a cada um segundo o seu procedimento.

24Aos que se arrependem, porém, Ele deixa-os recomeçar,

e conforta os que perderam a perseverança.


Convite à virtude

25Converte-te ao Senhor, deixa os teus pecados,

suplica diante dele e evita as ocasiões de pecado.

26Volta-te para o Altíssimo, afasta-te da injustiça,

– pois Ele próprio te conduzirá,

das trevas à claridade da salvação –

e detesta profundamente o que é abominável.

27Quem louvará o Altíssimo no Hades,

em lugar dos vivos, quem o poderá louvar?

28O morto, como quem não existe, já não pode louvar;

o homem vivo e com saúde é que louvará o Senhor.

29Como é grande a misericórdia do Senhor,

e o seu perdão para com todos os que a Ele se convertem!

30De facto, não se pode encontrar tudo nos homens,

porque os homens não são imortais.

31Que coisa há mais luminosa do que o Sol?

E, entretanto, ele tem eclipses.

Assim o homem de carne e sangue, planeia a maldade!

32Deus passa em revista os astros do céu,

mas os homens são apenas terra e cinza.

Capítulo 18

A grandeza de Deus

1Aquele que vive eternamente

criou todas as coisas por igual.

2Só o Senhor será proclamado justo

e não há outro além dele.

3Ele governa o mundo com um gesto da sua mão,

tudo obedece à sua vontade;

pois Ele é o rei de todas as coisas

e pelo seu poder separa as coisas sagradas das profanas.

4A ninguém é concedido anunciar as suas obras;

quem será capaz de descobrir as suas grandezas?

5Quem poderá calcular todo o poder da sua grandeza?

Quem consegue narrar as suas misericórdias?

6Nada se lhes pode tirar nem acrescentar,

nem descobrir as maravilhas do Senhor.

7Quando o homem tiver acabado, estará no começo;

e quando cessar, ficará perplexo.


O nada do homem

8Que é o homem, e para que serve?

Qual é o seu bem e qual é o seu mal?

9A duração da vida do homem,

quando muito, é de cem anos;

para cada um é imprevisível o tempo do sono da morte.

10Mas, como uma gota de água do mar ou como um grão de areia,

assim são os seus anos ante um dia da eternidade.

11Por isso, é que o Senhor é paciente com os homens,

e derrama sobre eles a sua misericórdia.

12Ele vê e reconhece que o seu fim é lamentável;

por isso é que Ele multiplica o seu perdão.

13A compaixão do homem tem por objecto o próximo,

mas a misericórdia divina estende-se a todo o ser vivo:

repreende, corrige, ensina,

e reconduz, como pastor, o seu rebanho.

14Ele se compadece daqueles que recebem os seus ensinamentos,

e dos que se apressam a cumprir os seus preceitos.


Beneficência, prudência e temperança

15Meu filho, não mistures a repreensão com o benefício,

nem acrescentes palavras duras às tuas dádivas.

16Porventura, o orvalho não refresca o calor ardente?

Assim, uma palavra pode valer mais do que a dádiva.

17Não vale uma palavra mais que um rico presente?

Mas uma e outra coisa se encontram no homem benfazejo.

18O insensato censura com aspereza;

a dádiva do invejoso faz arder os olhos.

19Antes de falares, procura instruir-te;

antes da doença, cuida de ti.

20Antes do juízo, examina-te a ti mesmo

e encontrarás misericórdia na hora de prestar contas.

21Antes da doença, humilha-te,

e quando pecares, mostra-te arrependido.

22Nada te impeça de cumprir a seu tempo o teu voto,

e não esperes até à morte para te desobrigares.

23Antes de fazer um voto, prepara-te,

e não sejas como um homem que tenta o Senhor.

24Lembra-te da ira do último dia,

do tempo em que Deus castigará, desviando o seu rosto.

25No tempo da abundância, lembra-te do tempo da fome,

no dia da riqueza, lembra-te da indigência e da miséria.

26Assim como o tempo muda desde a manhã até à tarde,

assim também tudo é efémero diante do Senhor.

27O homem sábio está sempre alerta,

e no dia da tentação resistirá ao pecado.

28Todo o homem consciente reconhece a sabedoria,

e dá louvor àquele que a encontrou.

29Os homens de linguagem sensata

procedem também com sabedoria,

e derramam, como chuva, provérbios subtis.

É melhor a confiança no único Senhor

do que, com o coração morto, apegar-se a um morto.

30Não te deixes levar pelas tuas más inclinações

e refreia os teus apetites.

31Se satisfizeres os desejos da tua paixão,

esta fará de ti a alegria dos teus inimigos.

32Não te comprazas na abundância das comodidades,

nem te obrigues a pagar-lhes os custos.

33Não te empobreças em festins, com dinheiro emprestado,

quando nada tens na algibeira.

Seria armar um laço para si mesmo.

Capítulo 19

Os vícios

1O trabalhador dado ao vinho não enriquecerá;

aquele que não cuida do pouco que tem, aos poucos, cairá na miséria.

2O vinho e as mulheres fazem sucumbir os próprios sábios,

e aquele que se junta com prostitutas perderá toda a vergonha.

3Esse será presa da podridão e dos vermes;

o homem temerário depressa desaparece.

4Aquele que rapidamente confia tem um coração leviano;

e o que peca, a si mesmo se prejudica.

5Aquele que se regozija com a iniquidade será condenado,

mas quem resiste aos prazeres coroa a sua vida.

6Quem domina a língua viverá sem contendas,

quem odeia a loquacidade diminui o mal,

7Não repitas nunca o boato,

e não serás prejudicado.

8Não contes nada, nem do amigo nem do inimigo

e, se não incorreres em culpa, nada reveles;

9de contrário, aquele que te ouvir, há-de precaver-se de ti,

e, chegado o momento, há-de odiar-te.

10Ouviste alguma palavra? Sepulta-a dentro de ti.

Tranquiliza-te; não te fará rebentar.

11O insensato padece dores de parto, por causa de uma palavra,

como a mulher que geme para dar à luz uma criança.

12Como seta cravada na carne da coxa,

assim é a palavra na barriga do insensato.


Correcção fraterna

13Avisa o teu amigo para que não pratique o mal,

ou, se o fez, para que não o torne a fazer.

14Avisa o teu próximo,

para que não diga palavras impensadas,

ou, se as disse, para que não as torne a dizer.

15Avisa o teu amigo, pois muitas vezes se dizem calúnias;

não acredites em tudo o que dizem.

16Há quem deslize, mas impensadamente.

Quem há que não tenha pecado pela língua?

17Avisa o teu próximo antes de o ameaçares,

e dá lugar à lei do Altíssimo.

18O temor do Senhor é princípio da sua benevolência;

e a sabedoria ganha a sua afeição.

19O conhecimento dos mandamentos do Senhor é a disciplina da vida;

os que fazem o que lhe agrada colherão o fruto da árvore da imortalidade.


Verdadeira e falsa sabedoria

20Toda a sabedoria consiste no temor de Deus,

e em toda a sabedoria está o cumprimento da Lei

e o conhecimento da sua omnipotência.

21O servo que diz ao seu senhor: «Não farei o que te agrada»,

mesmo que depois o faça, irrita aquele que o sustenta.

22A habilidade de fazer o mal não é sabedoria,

nem o conselho dos pecadores é prudência.

23Há uma malícia habilidosa que é detestável,

e é insensato aquele a quem falta a sabedoria.

24Vale mais o homem de pouca sabedoria, mas temente a Deus,

do que o homem que possui grande inteligência,

mas que transgride a Lei.

25Há uma habilidade que é sagaz mas injusta,

e há quem saiba manobrar as coisas

procurando para si uma sentença favorável.

O sábio, porém, é justo no julgamento.

26Há quem se humilhe sob o peso da dor,

mas o seu interior está cheio de malícia.

27Esconde o rosto e faz-se passar por surdo;

quando não for descoberto, dominar-te-á.

28Se, por falta de forças, deixa de pecar,

logo que tiver ocasião, praticará o mal.

29Pelo semblante se conhece um homem,

pelo aspecto do rosto se reconhece o sábio.

30A maneira como um homem se veste e como sorri,

e a sua maneira de andar revelam aquilo que ele é.

Capítulo 20

Discernimento no falar

1Há reprimendas inoportunas

e há quem se cale porque é sábio.

2É melhor admoestar do que recalcar a irritação;

3e aquele que reconhece a sua falta livra-se do castigo.

4Como o eunuco que anseia por violentar uma donzela,

assim é o que pretende fazer justiça pela força.

5Há quem se cale e é tido por sábio,

e há quem se torne odioso por falar demais.

6Há quem se cale, por não saber responder,

e há quem se cale, porque conhece o momento propício.

7O sábio guarda silêncio até um tempo oportuno,

mas o leviano e o imprudente não esperam pela ocasião.

8Aquele que muito fala é detestado,

e o que não é comedido no falar torna-se odioso.

Como é belo que manifeste arrependimento quem foi censurado;

pois, assim, há-de evitar uma falta voluntária.

9Há males que ao homem vêm por bem,

e há prosperidades que são uma perdição.

10Há dom que não é útil,

e há dom que é duplamente recompensado.

11Há quem encontre a sua ruína na própria glória,

e há quem, da humilhação, levante a cabeça.

12Há quem compre muitas coisas por preço módico,

e há quem as pague sete vezes mais que o seu valor.

13O sábio torna-se amável pelas suas palavras,

mas as graças dos insensatos são repelidas.

14O donativo do insensato não te será proveitoso,

porque ele tem sete olhos abertos sobre ti.

15Ele dará pouco e censurará muitas vezes;

abre a sua boca como um pregoeiro;

empresta hoje e reclama-o amanhã:

tal homem torna-se odioso.

16O insensato diz: «Não tenho amigos,

e ninguém me agradece os meus favores.»

17Os que comem do seu pão têm língua falsa.

Quantas e quantas vezes escarnecerão dele!

Pois o que ele tem não o recebeu com recto sentimento,

e o facto de não ter lhe é indiferente.

18É melhor tropeçar no chão do que com a língua;

assim a ruína dos maus virá de repente.

19O homem grosseiro é como uma história inoportuna,

anda continuamente na boca das pessoas mal educadas.

20É mal recebida a máxima que sai da boca de um insensato,

porque não a diz no tempo apropriado.


Máximas diversas

21Há quem não peque por ser pobre demais;

no seu repouso não terá remorsos.

22Há quem se perca por causa do respeito humano;

perde-se, cedendo a um insensato.

23Há quem, por vergonha, faça uma promessa a um amigo,

e arranje assim gratuitamente um inimigo.

24A mentira é no homem uma vergonhosa mancha;

encontra-se habitualmente na boca das pessoas mal educadas.

25Melhor é um ladrão do que um mentiroso impenitente,

mas ambos terão a ruína como herança.

26O hábito da mentira é aviltante para o homem,

a vergonha do mentiroso acompanha-o sempre.

27O sábio progride na vida com as suas palavras,

e o homem prudente agrada aos poderosos.

28Aquele que cultiva a sua terra aumentará o seu celeiro,

e o que agrada aos poderosos é perdoado da injustiça.

29Os presentes e as dádivas cegam os olhos dos sábios;

são como mordaça na sua boca, que retém as repreensões.

30Sabedoria escondida e tesouro invisível,

para que servem ambas estas coisas?

31Melhor é o homem que dissimula a sua ignorância,

do que aquele que esconde a sua sabedoria.

32É melhor a perseverança inquebrantável na busca do Senhor,

do que, sem mestre, levar por diante a própria vida.

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