Capítulo 1
Origem da sabedoria (24,3-18; Jb 28,12-23; Pr 8,22-31)
1Toda a sabedoria vem do Senhor
e permanece junto dele para sempre.
2A areia dos mares, as gotas da chuva,
os dias da eternidade, quem os poderá contar?
3A altura do céu, a extensão da terra,
o abismo e a sabedoria, quem os poderá medir?
4A sabedoria foi criada antes de todas as coisas,
e a luz da inteligência, desde a eternidade.
5A fonte da sabedoria é a palavra de Deus nos céus;
os seus caminhos são os mandamentos eternos.
6A quem foi revelada a raiz da sabedoria,
e quem pode discernir os seus planos?
7A quem foi manifestada a ciência da sabedoria?
E quem pode compreender a riqueza dos seus caminhos?
8Só há um sábio, sumamente temível:
o que está sentado no seu trono.
9Foi o Senhor quem a criou,
quem a viu e a mediu,
e a difundiu sobre todas as suas obras,
10e por todos os homens, segundo a sua liberalidade,
e a comunicou àqueles que o amam.
O amor do Senhor é uma sabedoria gloriosa.
Ele a comunica àqueles a quem se revela, para que o vejam.
Temor de Deus, princípio da sabedoria
11O temor do Senhor é glória e honra,
alegria e coroa de regozijo.
12O temor do Senhor alegra o coração,
dá alegria, felicidade e longa vida.
O temor do Senhor é um dom que dele vem
e que se encontra nas veredas do amor.
13Para quem teme o Senhor, tudo acabará bem;
no dia da sua morte será abençoado.
14O princípio da sabedoria é o temor do Senhor.
É criada com os fiéis desde o seio materno.
15Estabeleceu-se entre os homens com fundamentos eternos,
e permanecerá sempre com a sua descendência.
16A plenitude da sabedoria é ter o temor do Senhor;
e com os seus frutos ela delicia os homens.
17Encherá a casa deles com tudo o que desejam,
e os celeiros, com os seus produtos.
18A coroa da sabedoria é o temor do Senhor,
que faz florescer a paz e a boa saúde;
uma e outra são dons de Deus para a paz,
fazendo crescer a glória daqueles que o amam.
19O Senhor viu-a e a enumerou,
derrama a chuva da ciência e do sábio conhecimento,
e eleva a glória de quantos a possuem.
20A raiz da sabedoria é o temor do Senhor.
Os seus ramos são uma longa vida.
21O temor do Senhor apaga os pecados,
aquele que persevera afasta a cólera.
22Uma irritação injusta não poderá justificar-se,
porque o ímpeto de um colérico é a sua ruína.
23O homem paciente esperará até ao momento certo,
e, depois, lhe será restituída a alegria.
24Ele guarda as suas palavras para o momento certo,
e os lábios de muitos proclamarão a sua inteligência.
25Nos tesouros da sabedoria estão os provérbios da ciência,
mas, para o pecador, a piedade é coisa abominável.
26Se desejas a sabedoria, observa os mandamentos,
e o Senhor ta concederá,
27porque o temor do Senhor é sabedoria e instrução,
e objecto do seu agrado é a fé e a mansidão.
28Não sejas rebelde ao temor do Senhor,
nem te aproximes dele com um coração fingido.
29Não sejas hipócrita diante dos homens,
mas toma cuidado com os teus lábios.
30Não te exaltes a ti próprio para não caíres
nem atraíres sobre ti a vergonha;
porque o Senhor revelará os teus segredos,
e te humilhará no meio da assembleia,
pois não te aproximaste do temor do Senhor
e o teu coração está cheio de falsidade.
Capítulo 2
Constância na provação
1Meu filho, se entrares para o serviço de Deus,
prepara a tua alma para a provação.
2Endireita o teu coração e sê constante,
não te perturbes no tempo do infortúnio.
3Conserva-te unido a Ele e não te separes,
para teres bom êxito no teu momento derradeiro.
4Aceita tudo o que te acontecer
e tem paciência nas vicissitudes da tua humilhação,
5porque no fogo se prova o ouro
e os eleitos de Deus, no cadinho da humilhação.
Nas doenças e na pobreza, confia nele.
6Confia em Deus e Ele te salvará,
endireita os teus caminhos e espera nele.
Confiança no Senhor
7Vós que temeis o Senhor,
esperai na sua misericórdia,
e não vos afasteis, para não cairdes.
8Vós que temeis o Senhor, confiai nele,
a vossa recompensa não vos faltará.
9Vós, que temeis o Senhor,
contai com a prosperidade,
a alegria eterna e a misericórdia,
pois a sua recompensa é um dom eterno e jubiloso.
10Considerai as gerações antigas e vede:
quem confiou no Senhor e foi confundido?
Quem perseverou no temor do Senhor e foi abandonado?
Quem o invocou e se sentiu desprezado?
11Porque o Senhor é compassivo e misericordioso,
perdoa os pecados e salva no tempo da aflição.
12Ai do coração débil, e das mãos desfalecidas,
e do pecador que segue dois caminhos!
13Ai do coração fraco, pois não acredita;
por isso não terá protecção!
14Ai de vós que perdestes a perseverança:
que fareis, quando o Senhor vos pedir contas?
15Os que temem o Senhor
não desobedecem às suas palavras,
e os que o amam permanecem no seu caminho.
16Os que temem o Senhor
procuram agradar-lhe,
e os que o amam saciam-se com a sua Lei.
17Os que temem o Senhor
preparam os seus corações,
e humilham-se na sua presença e dizem:
18«Lancemo-nos nas mãos do Senhor
e não nas mãos dos homens,
pois a sua misericórdia é igual à sua grandeza.»
Capítulo 3
Deveres para com os pais
1Ouvi, filhos, os conselhos do vosso pai,
procedei em conformidade, para serdes salvos.
2Porque o Senhor glorifica o pai acima dos filhos
e estabelece sobre eles a autoridade da mãe.
3O que honra o pai
alcança o perdão dos pecados,
4e quem honra a sua mãe
é semelhante ao que acumula tesouros.
5Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos
e será ouvido no dia da sua oração.
6Quem glorifica o pai gozará de longa vida
e quem obedece ao Senhor consolará a sua mãe.
7Quem teme o Senhor honrará seu pai
e servirá, como a seus senhores,
aqueles que lhe deram a vida.
8Honra teu pai com palavras e acções,
para que desça sobre ti a sua bênção.
9A bênção do pai fortalece a casa dos filhos,
e a maldição da mãe arrasa-a até aos alicerces.
10Não te glories com a desonra de teu pai,
pois a sua desonra não poderia ser glória para ti.
11A glória de um homem vem da honra de seu pai,
e é vergonha para os filhos uma mãe desonrada.
12Filho, ampara o teu pai na velhice,
não o desgostes durante a sua vida;
13mesmo se ele vier a perder a razão, sê indulgente,
não o desprezes, tu que estás na plenitude das tuas forças.
14A caridade que exerceres com o teu pai não será esquecida,
e ser-te-á considerada, em reparação de teus pecados.
15No dia da aflição, o Senhor há-de lembrar-se de ti,
os teus pecados hão-de dissolver-se como o gelo em pleno sol.
16É um blasfemador o que desampara o seu pai,
e é amaldiçoado pelo Senhor aquele que irrita a sua mãe.
Mansidão e humildade
17Filho, pratica as tuas obras com doçura,
e serás mais amado do que o homem generoso.
18Quanto maior fores, mais te deverás humilhar,
e encontrarás benevolência diante de Deus.
19Muitos são os homens altivos e soberbos,
mas é aos humildes que Deus revela os seus segredos.
20Pois é grande o poder do Senhor,
mas é pelos humildes que Ele é glorificado.
Contra a vã curiosidade
21Não procures o que excede a tua capacidade,
nem tentes compreender o que está acima das tuas forças.
22Aplica-te àquilo que te for ordenado,
e não te ocupes em coisas impenetráveis.
23Não te obstines em busca daquilo que te ultrapassa,
pois já te foi mostrado mais do que o espírito humano pode compreender.
24Porque o preconceito extraviou a muitos
e as suposições perversas desviaram os seus pensamentos.
25Sem a pupila, falta-te a luz;
se te falta a ciência, não procures persuadir.
Coração mau e coração bom
26Um coração duro acabará na desdita.
Aquele que ama o perigo nele perecerá.
27Um coração perverso será oprimido com dores,
e o pecador amontoará pecado sobre pecado.
28Não há cura para a infelicidade dos soberbos,
porque a planta do pecado neles ganhou raízes.
29O coração do sábio medita nos provérbios,
e um ouvido atento eis o que o sábio deseja.
30A água apaga o fogo ardente,
e a esmola expia o pecado.
31Quem retribui com favores prepara o seu futuro;
achará amparo, no dia da sua infelicidade.
Capítulo 4
As obras de misericórdia
1Filho, não tires a vida ao pobre,
não faças esperar os olhos dos indigentes.
2Não desprezes aquele que tem fome,
nem irrites o pobre na sua necessidade.
3Não aflijas o coração do infeliz,
nem recuses a esmola àquele que está na miséria.
4Não rejeites o pedinte em aflição,
nem voltes a cara ao pobre.
5Não afastes os teus olhos do indigente,
nem dês ocasião a ninguém para te amaldiçoar.
6Porque se te amaldiçoa na amargura da sua alma,
aquele que o criou ouvirá a sua oração.
7Mostra-te afável na assembleia;
diante de um grande, curva a tua cabeça.
8Presta ouvidos ao pobre, de boa vontade,
responde-lhe com mansidão e afabilidade.
9Livra o oprimido da mão do opressor,
não sejas fraco quando fizeres justiça.
10Sê para os órfãos como um pai,
e como um marido, para as suas mães;
e serás como um filho do Altíssimo,
que te quererá mais do que a tua própria mãe.
Vantagens da sabedoria
11A sabedoria engrandece os seus filhos,
toma sob a sua protecção aqueles que a buscam.
12Aquele que a ama, ama a vida,
e os que madrugam por ela ficarão cheios de alegria.
13Aquele que a possuir terá a glória por herança,
e o Senhor abençoará o lugar onde ele entrar.
14Os que a servem prestam culto ao Santo,
e os que a amam são amados pelo Senhor.
15Aquele que a ouve julgará as nações,
e o que lhe presta atenção permanecerá em segurança.
16O que nela confia há-de recebê-la em herança,
e a sua posteridade beneficiará da sua posse.
17Ao princípio, ela poderá conduzi-lo por caminhos sinuosos;
incutir-lhe-á temor e tremor,
atormentá-lo-á com a sua disciplina;
antes de confiar nele, pô-lo-á à prova com os seus preceitos.
18Então, virá a ele pelo caminho direito,
fá-lo-á feliz, e desvendar-lhe-á os seus segredos.
19Porém, se ele se transviar, ela há-de abandoná-lo,
e entregá-lo-á nas mãos da desgraça.
Franqueza no falar
20Está atento às ocasiões, evita o mal,
e não te envergonhes de ti mesmo.
21Pois há uma vergonha que conduz ao pecado,
e uma vergonha que é glória e graça.
22Não sejas parcial em teu prejuízo,
nem tenhas hesitações que te ponham em perigo.
23Não retenhas a palavra, quando ela é necessária,
nem escondas a tua sabedoria, por vanglória.
24Pois é pelo discurso que se reconhece a sabedoria,
e pela palavra a instrução.
25Não contradigas a verdade,
mas reflecte sobre a tua ignorância.
26Não te envergonhes de confessar os teus pecados,
e não te oponhas à corrente de um rio.
27Não te submetas a um insensato,
nem sejas parcial a favor do poderoso.
28Combate pela verdade até à morte,
e o Senhor Deus combaterá por ti.
29Não sejas arrogante no falar,
preguiçoso e negligente nas tuas acções.
30Não sejas como um leão na tua casa,
caprichoso e cruel com os teus servos.
31Que a tua mão não esteja aberta para receber
e fechada para dar aos outros.
Capítulo 5
Não abusar da misericórdia de Deus
1Não te fies nas tuas riquezas,
e não digas: «Tenho suficiente para mim.»
2Não sigas os teus desejos e a tua força,
indo atrás das paixões do coração.
3Não digas: «Quem terá poder sobre mim?»,
porque o Senhor te punirá certamente.
4Não digas: «Pequei, e que me aconteceu de mal?»,
porque o Senhor é lento em castigar.
5Não vivas confiado no perdão,
acumulando pecado sobre pecado.
6Não digas: «A misericórdia do Senhor é grande,
Ele terá compaixão da multidão dos meus pecados!»,
porque nele a misericórdia e a ira caminham juntas;
e o seu furor cairá sobre os pecadores.
7Não tardes em te converter ao Senhor,
não adies, de dia para dia,
porque a ira do Senhor virá de repente,
e Ele te fará perecer no dia do castigo.
8Não confies em riquezas injustas,
pois de nada te servirão no dia da desventura.
Sabedoria no falar
9Não te voltes a todos os ventos,
e não andes por todos os caminhos;
assim se comporta o pecador de linguagem dúplice.
10Sê firme nas tuas convicções,
e uma só seja a tua palavra.
11Sê atento no escutar,
e lento no responder.
12Se tu possuis a ciência, responde ao teu próximo,
se não a possuis, põe a mão sobre a boca.
13Tanto a glória como a desonra estão na conversa,
e a língua do homem é a sua ruína.
14Não te mostres intriguista,
nem calunies com a tua língua,
porque, se para o ladrão existe a desonra,
para o simulador, uma pesada condenação.
15Evita as faltas, tanto nas coisas grandes como nas pequenas,
e, de amigo, não te convertas em inimigo.
Capítulo 6
Perigos de orgulho
1Pois a má reputação produz vergonha e ignomínia;
assim acontece com o pecador de palavra dúplice.
2Não te entregues ao excesso da tua paixão,
não suceda que a tua força vital se abata como um touro.
3Devorarias as tuas folhas e destruirias os teus frutos,
para depois ficares como uma árvore seca.
4Uma paixão má perde aquele que a possui;
torna-o motivo de alegria para os seus inimigos.
A verdadeira amizade
5Palavras amáveis multiplicam os amigos,
a linguagem afável atrai muitas respostas agradáveis.
6Procura estar de bem com muitos,
mas escolhe para conselheiro um entre mil.
7Se queres ter um amigo, põe-no primeiro à prova,
não confies nele muito depressa.
8Com efeito, há amigos de ocasião,
que não são fiéis no dia da tribulação.
9Há amigo que se torna inimigo,
que desvendará as tuas fraquezas, para tua vergonha.
10Há amigo que só o é para a mesa,
e que deixará de o ser no dia da desgraça;
11na tua prosperidade mostra-se igual a ti,
dirigindo-se com à vontade aos teus servos;
12mas, se te colhe o infortúnio, volta-se contra ti,
e oculta-se da tua presença.
13Afasta-te daqueles que são teus inimigos,
e está alerta com os teus amigos.
O verdadeiro amigo é um tesouro
14Um amigo fiel é uma poderosa protecção;
quem o encontrou, descobriu um tesouro.
15Nada se pode comparar a um amigo fiel,
e nada se iguala ao seu valor.
16Um amigo fiel é um bálsamo de vida;
os que temem o Senhor acharão tal amigo.
17O que teme o Senhor terá também boas amizades,
porque o seu amigo será semelhante a ele.
Para adquirir a sabedoria
18Filho, recebe a instrução desde a tua juventude,
e adquirirás uma sabedoria que durará até à velhice.
19Vai ao encontro da sabedoria como quem lavra e semeia,
e espera pacientemente os seus bons frutos,
porque terás um pouco de fadiga em seu cultivo,
mas em breve comerás dos seus produtos.
20Como é áspera e austera para os ignorantes!
O insensato não permanecerá junto dela.
21Ela ser-lhe-á pesada como uma pedra de provação,
e não tardará em desfazer-se dela.
22A sabedoria é fiel ao seu nome,
não é a um grande número que ela se manifesta.
23Ouve, filho, aceita o meu parecer,
não rejeites a minha advertência.
24Mete os teus pés nos seus grilhões,
e o teu pescoço nas suas correntes.
25Inclina o teu ombro e carrega-a,
não te aborreças com as suas cadeias.
26Aproxima-te dela com todo o teu coração,
guarda os seus caminhos com todas as tuas forças.
27Segue-lhe os passos, procura-a
e ela se dará a conhecer;
possuindo-a, não a deixes mais,
28pois acharás nela, finalmente, o teu repouso,
e transformar-se-á para ti em alegria.
29Então, os seus grilhões serão para ti robusta protecção,
e as suas cadeias, um manto de glória.
30O seu jugo será um ornamento de ouro,
e os seus laços, cordões de púrpura.
31Hás-de revestir-te dela como de um manto de glória,
como luzente diadema a cingirás.
32Filho, se quiseres, serás instruído;
se aplicares o teu espírito, tornar-te-ás hábil.
33Se a ouvires de boa vontade, receberás a doutrina,
se prestares atenção, serás sábio.
34Frequenta a assembleia dos anciãos;
se encontrares algum sábio, faz-te amigo dele.
35Ouve de bom grado toda a palavra que vem de Deus,
e não te escapem as máximas sensatas.
36Se vires alguém sensato, madruga e vai ter com ele,
e desgastem os teus pés o limiar da sua porta.
37Fixa a tua atenção nos preceitos de Deus,
medita continuamente os seus mandamentos.
Ele mesmo fortificará o teu coração,
e ser-te-á concedida a sabedoria que desejas.
Capítulo 7
Contra a ambição e a mentira
1Não pratiques o mal,
e o mal não se apoderará de ti.
2Afasta-te da injustiça,
e ela se desviará de ti.
3Filho, não semeies nos sulcos da injustiça,
para não colheres sete vezes mais injustiça.
4Não peças ao Senhor o poder,
nem ao rei um lugar de destaque.
5Não pretendas passar por justo diante do Senhor,
nem por sábio diante do rei.
6Não procures ser juiz,
se não consegues extirpar a injustiça,
sem te atemorizares diante de um homem poderoso,
e te expores a pecar contra a equidade.
7Não ofendas a população de uma cidade inteira,
e não te rebaixes diante da multidão.
8Não acrescentes um segundo pecado,
porque, nem por causa de um só, ficarás impune.
9Não digas: «Deus há-de olhar à quantidade das minhas ofertas,
e quando eu oferecer dádivas ao Deus Altíssimo, Ele as aceitará».
10Não sejas fraco na oração,
nem mesquinho ao dar esmola.
11Não escarneças do homem que está na aflição,
porque há alguém que humilha e exalta.
12Não inventes mentiras contra o teu irmão,
nem o faças contra o teu amigo.
13Cuida em não dizeres mentira alguma,
pois o costume de mentir é coisa má.
14Não sejas falador na assembleia dos anciãos,
nem repitas as palavras na tua petição.
15Não aborreças as tarefas penosas,
nem o trabalho do campo, instituído pelo Altíssimo.
16Não te alistes no número dos pecadores;
lembra-te de que a ira não tardará.
17Humilha profundamente o teu espírito,
porque o fogo e o verme serão o castigo do ímpio.
18Não troques um amigo por dinheiro,
nem um irmão verdadeiro pelo ouro de Ofir.
Deveres do pai de família
19Não te afastes da mulher sensata e virtuosa,
pois a graça da sua modéstia vale mais que o ouro.
20Não maltrates o servo que trabalha honestamente,
nem o operário que se empenha totalmente.
21Ama o servo inteligente,
não lhe recuses a liberdade.
22Tens rebanhos? Cuida deles;
se te forem úteis, conserva-os.
23Tens filhos? Educa-os,
acostuma-os à obediência, desde a infância.
24Tens filhas? Cuida do seu aspecto
e não lhes mostres um rosto demasiado jovial.
25Casa a tua filha, e terás concluído uma boa tarefa,
dando-a a um homem sensato.
26Tens uma mulher segundo o teu coração?
Não a repudies. E não confies na que é detestável.
27Honra o teu pai de todo o teu coração,
não esqueças os gemidos da tua mãe.
28Lembra-te de que foram eles que te geraram.
Como lhes retribuirás o que por ti fizeram?
Deveres para com os sacerdotes
29Teme ao Senhor com toda a tua alma,
e venera os seus sacerdotes.
30Ama com todas as tuas forças aquele que te criou,
e não abandones os seus ministros.
31Teme ao Senhor e honra o sacerdote,
dá-lhe a sua parte como te foi prescrito:
as primícias, o sacrifício de reparação, o dom das espáduas,
o sacrifício de santificação e as primícias das coisas santas.
Deveres para com os pobres
32Estende a tua mão ao pobre,
a fim de que a tua bênção seja perfeita.
33Dá de boa vontade a todos os vivos,
e não recuses o teu benefício a um morto.
34Não fujas dos que choram,
e faz companhia aos que estão aflitos.
35Não sejas preguiçoso em visitar um doente,
porque é assim que lhe cativarás o afecto.
36Em todas as tuas obras, lembra-te do teu fim,
e jamais haverás de pecar.
Capítulo 8
Regras sociais
1Não litigues com um homem poderoso,
não suceda que lhe caias nas mãos.
2Não contendas com um homem rico,
para que ele não ponha contra ti o seu peso;
de facto, o ouro tem perdido a muitos
e seduzido o coração de reis.
3Não litigues com o palrador,
e não meterás mais lenha na sua fogueira.
4Não convivas com um homem mal educado,
não aconteça que fale mal dos teus antepassados.
5Não desprezes o homem que se arrepende do seu erro,
lembra-te de que todos merecemos castigo.
6Não desprezes uma pessoa idosa,
porque também nós envelheceremos.
7Não te alegres com a morte de alguém;
lembra-te de que todos morreremos.
8Não desprezes as sugestões dos sábios,
mas dedica-te ao estudo das suas sentenças;
porque é deles que receberás a educação
e aprenderás a arte de bem servir os poderosos.
9Não desprezes os ensinamentos dos mais velhos,
pois eles os aprenderam dos seus pais,
e é deles que adquirirás a doutrina
e a arte de responder oportunamente.
10Não acendas os carvões dos pecadores,
para não seres queimado no fogo das suas chamas.
11Não te exaltes diante de um insolente,
não aconteça que ele arme ciladas às tuas palavras.
12Não emprestes dinheiro a quem é mais poderoso do que tu,
e, se lho emprestares, faz de conta que o perdeste.
13Não fiques por fiador em mais do que podem as tuas posses.
Se o fizeres, considera-te obrigado a pagar.
14Não litigues contra um juiz,
porque serás julgado conforme a sua posição.
15Em viagem, não te metas com um homem temerário,
não aconteça que ele faça recair sobre ti os seus delitos,
pois ele só age segundo o seu capricho,
e perecerás com ele por causa da sua loucura.
16Não tenhas rixas com um homem irascível,
nem caminhes com ele por lugares desertos,
porque para ele de nada vale o sangue,
e matar-te-á, quando te achares sem socorro.
17Não te aconselhes com loucos,
porque não sabem guardar segredo.
18Diante dum estranho,
não faças nada que deva ficar em segredo,
porque não sabes o que ele poderá imaginar.
19Não abras o teu coração a qualquer pessoa,
e não procures obter o seu beneplácito.
Capítulo 9
Prudência com as mulheres
1Não tenhas ciúmes da mulher que amas,
para não a instruíres a agir mal contra ti.
2Não te entregues a uma mulher,
a ponto de ela vir a dominar-te.
3Não vás ao encontro de uma mulher leviana,
para não caíres nas suas ciladas.
4Não andes muito com uma bailarina,
para não seres seduzido por suas artimanhas.
5Não detenhas o teu olhar sobre uma donzela,
para não vires a ser punido com ela.
6Nunca te entregues às prostitutas,
para não perderes o teu património.
7Não deixes errar os olhos pelas ruas da cidade,
nem vagueies por seus lugares solitários.
8Afasta os teus olhos de uma mulher elegante,
e não olhes com insistência para a formosura alheia;
muitos pereceram por causa da beleza feminina,
e por ela se acende o fogo do desejo.
9Não te sentes nunca com uma mulher casada,
nem bebas com ela bebidas inebriantes,
não aconteça que o teu coração se apaixone por ela,
e que, na tua paixão, resvales para a perdição.
Com os amigos
10Não abandones um velho amigo,
porque o novo não será como ele.
Vinho novo, amigo novo;
se o deixares envelhecer, bebê-lo-ás com prazer.
11Não invejes o êxito do pecador,
pois não sabes qual será a sua ruína.
12Não te alegres com a satisfação dos ímpios;
lembra-te de que serão punidos
antes de irem para a morada dos mortos.
13Afasta-te do homem que tem o poder de matar
e assim não saberás o que é temer a morte.
Mas, se te aproximares dele, não cometas falta,
não aconteça que ele te tire a vida.
Fica sabendo que caminhas entre armadilhas,
e andas no alto das muralhas da cidade.
14Tanto quanto possível, procura o teu próximo,
e aconselha-te com os sábios.
15A tua conversação seja com os sensatos,
e todo o teu discurso seja conforme à lei do Altíssimo.
16Homens virtuosos sejam os teus comensais,
e a tua glória, o temor do Senhor.
17O artista é louvado pela obra das suas mãos,
o príncipe do povo, pela sabedoria dos seus discursos.
18É coisa terrível na cidade o homem linguareiro,
e o homem precipitado no falar torna-se odioso.
Capítulo 10
Os governantes
1O juiz sábio educa o seu povo,
e o governo do homem sensato será estável.
2Tal o chefe do povo, tais os seus ministros;
tal o governador da cidade, tais os seus habitantes.
3O rei imprudente será a ruína do seu povo,
e a cidade será construída graças à inteligência dos governantes.
4O governo do mundo está nas mãos do Senhor.
Ele suscitará, no tempo oportuno, o homem que convém.
5O sucesso de um homem está nas mãos do Senhor.
É Ele que confere ao legislador a sua glória.
O orgulho
6Esquece as injúrias recebidas do teu próximo,
e nada faças num movimento de violência.
7A soberba é abominável ao Senhor e aos homens,
e um e outros têm horror à injustiça.
8Um reino é transferido de um povo para outro,
por causa das injustiças, da violência e das riquezas,
pois nada é mais iníquo que o avarento,
que é capaz de vender até a própria alma.
9Porque se ensoberbece quem é terra e cinza,
quem, ainda vivo, tem os intestinos cheios de podridão?
10A doença prolongada ri-se do médico;
assim, o que hoje é rei, amanhã morrerá.
11Quando o homem morrer,
terá por herança répteis, feras e vermes.
12O princípio do orgulho do homem é afastar-se do Senhor,
e ter o seu coração longe do Criador;
13porque o princípio do orgulho é o pecado,
e aquele que o possui difunde abominação.
Por isso é que o Senhor lhe infligiu tremendos golpes,
e o destruiu completamente.
14O Senhor derruba os tronos dos poderosos
e no seu lugar faz sentar os modestos.
15O Senhor arranca as raízes das nações
e planta os humildes em lugar deles.
16O Senhor destruiu o território das nações,
e arruinou-as até aos alicerces.
17Ele as extirpou e as destruiu,
e apagou a sua memória da face da terra.
18O orgulho não foi criado para os homens,
nem a ira para os nascidos de mulher.
O temor de Deus é a verdadeira glória
19Raça honrada, qual é?
– A raça humana.
Qual é a raça honrada?
– A dos que temem o Senhor.
20Raça desprezível, qual é?
– A raça humana.
Qual é a raça desprezível?
– A dos transgressores da Lei.
21O temor do Senhor é o princípio de um bom acolhimento,
a teimosia e o orgulho são o princípio da rejeição de Deus.
22Rico, considerado ou pobre,
a sua glória está no temor do Senhor.
23Não é justo desprezar um pobre inteligente,
nem convém enaltecer o pecador.
24O grande, o magistrado e o poderoso são enaltecidos,
mas ninguém é tão grande como aquele que teme o Senhor.
A glória do pobre e do rico
25Os homens livres sujeitar-se-ão a um servo sábio,
e o homem conhecedor não se queixa disso.
26Não te gabes de ser sábio, ao fazeres o teu trabalho,
nem te exaltes no tempo da adversidade.
27Vale mais o que trabalha e possui abundância de bens,
do que o exibicionista que não tem pão.
28Filho, podes enaltecer-te mas com modéstia,
e não queiras mais honras do que mereces.
29Quem justificará o que peca contra si próprio?
E quem honrará o que a si mesmo se desonra?
30O pobre é honrado pelo seu saber,
e o rico é honrado pelas suas riquezas.
31Aquele que é honrado na pobreza, mais o será na riqueza,
e o que é desprezado na riqueza, mais o será na pobreza.