Jonas

Sabemos, por 2 Rs 14,25, da existên­cia de um profeta chamado Jonas, «filho de Amitai», que terá exercido a sua missão no tempo de Jero­boão II (séc. VIII a.C.). O nome e a filiação coincidem, de facto, com o protagonista deste livro. Mas não foi esse profeta quem escre­veu, como poderemos verificar pela data em que ele deve ter sido escrito. Entre­tanto, a sua leitura mostra-nos que o autor, além de ser hábil artista, possuía uma larga formação bíblica. São claras, na sua obra, influên­­cias de alguns Sal­mos, de Jeremias, Ezequiel, Joel e outros.


LIVRO E DATA

Jonas é um caso único na literatura pro­fé­tica: nunca uti­liza o substantivo “nabi” (profeta), nem o verbo “profetizar”, nem a fór­mula do mensageiro; e toda a pregação do profeta se resume em 3,4: «Dentro de quarenta dias Nínive será destruída.»

Este livro faz parte do género literário chamado midráshico, que per­mi­tia tomar um dado bíblico como tema de desenvolvimento redaccional com uma intenção didáctica, sem pretender narrar acontecimentos histó­ricos. A base histórica é muito reduzida: apenas o nome do profeta do tempo de Jero­boão II, como já dissemos, e que, na altura, apoiou as ideias nacio­na­listas do rei, atitude à qual se opõe o livro. O segundo elemento de aparência histó­rica é a cidade de Nínive. Mas não há qualquer testemunho que fale ou supo­nha uma tal missão profética e a correspondente conversão sensa­cional.

A data da composição não pode ser deduzida senão a partir das suas características literárias e da sua teologia. O estilo, o vocabulário e cer­tos ara­maísmos (1,5.6.7; 3,7; 4,11) apontam para um período posterior ao re­gresso do Exílio (séc. V), como pensa a maioria dos críticos.


DIVISÃO E CONTEÚDO

Este livro divide-se em duas partes:

I. Jonas opõe-se à vontade de Deus e foge para Társis. É en­golido pelo peixe e vomitado na praia (1,1-2,11).
II. Jonas prega em Nínive, que se converte (3,1-4,11).


TEOLOGIA

O autor reage contra o particularismo sócio-religioso muito aceite na época de Neemias e Esdras, mostrando os desígnios de salvação que Deus tem para com os pagãos, mesmo que sejam inimigos de Israel, ao enviar-lhes um pregador. Rompendo assim com esse particularismo, no livro toda a gente é simpática: os marinheiros pagãos no momento do nau­frágio, o rei, os habitantes e até os animais de Nínive; todos, excepto o único israe­lita que aparece em cena – o profeta.

Deus, por seu lado, compadece-se do seu profeta e de todos, porque a sua misericórdia é universal. Para conseguir tais intentos, o narrador serve-se de um profeta de que se conhecia pouco mais que o nome, fazendo uma com­posição cheia de hipérboles e de humor, fácil de fixar. De facto, a aventura de Jonas no ventre do «grande peixe» (2,1) ficou na imaginação popular e tocou a fantasia dos artistas de diversas épocas. Não esqueçamos, porém, que a mensagem fundamental deste livro é a do amor universal de Deus.

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