Isaías

O livro de Isaías apresenta como título «Vi­são de Isaías, filho de Amós» (1,1) e apa­rece como o primeiro dos “Profetas posteriores”, em relação aos “Profetas anteriores” (Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis). É uma obra de 66 capítulos, com três partes muito dis­tin­tas na época, na temática, na inspiração literária e nos autores: Primeiro Isaías: 1-39; Se­gundo Isaías: 40-55; Ter­ceiro Isaías: 56-66. Apresentaremos uma breve intro­dução antes de cada um desses blocos, partindo do pres­su­posto de que se trata de três profetas diferentes, cujos escritos foram reco­lhidos sob o nome comum do profeta Isaías, do séc. VIII a.C..


CONTEXTO HISTÓRICO

Para com­­­­preendermos o contexto destes três pro­fetas, será útil não esquecer os se­guin­tes factos históricos da sua época: 740: morte de Ozias; Jotam, rei de Judá; vo­cação de Isaías. 736: Acaz, rei de Judá (736-716). 734: guerra Siro-efraimita. 732: a Síria é anexada pela Assíria. 721: queda da Samaria e fim do Reino do Norte. 716: Ezequias, rei de Judá (716-687). 703: embaixada de Merodac-Baladan. 701: invasão de Senaque­rib. 587: queda de Jerusalém. 539: queda da Babilónia. 538: édito de Ciro. 520-515: reconstrução do Templo. 445-423: Neemias em Jerusalém. 397: Esdras em Jerusalém.


TEOLOGIA E LEITURA CRISTÃ

Isaías prega a política da fé («se não acre­ditardes, não subsistireis»: 7,9) e da confiança em Deus, razão por que a sua profecia está eivada de te­mas messiânicos ligados à dinastia, se­gundo as promessas fei­tas por Deus a David (2 Sm 7,13-16).

O messia­nismo de Isaías arranca deste chão dinástico, que vai in­fluen­ciar deci­si­vamente as correntes mes­siâ­nicas posteriores e o messianismo de Jesus Cristo, tão bem expresso nos evan­ge­lhos da infância de Mateus e Lucas. Ligado ao tema da fé, está o tema central da santidade de Deus (1,4 nota; 6,3-4) e o tema do “resto” (1,9 nota; 4,3 nota; 6,13; 10,20-22).

 

 

PRIMEIRO ISAÍAS (1,1-39,7)


É um profeta ligado à corte, mas não dos profetas áulicos dependentes dos reis, pois manifesta-se sempre livre e independente, pronto para criticar os pecados dos reis, dos nobres e do povo em geral. A sua personalidade foi de tal modo forte, que a tradição funde na sua pessoa as três partes do livro que leva o nome de Isaías.


DIVISÃO E CONTEÚDO

O Primeiro Isaías é uma das grandes obras da literatura universal. O autor é um grande poeta que usa a lei das asso­nâncias e sabe tirar partido dos sinais dos tempos. É um grande teólogo da História, que fala através de símbolos e metáforas com uma carga emotiva e apela­tiva muito profunda. O estilo é clássico e nobre.

O livro é formado por colecções de oráculos (mensagens), cânticos, apoca­lipses, agrupadas mais segundo os temas do que segundo a ordem crono­lógica. Deste modo, temos:

I. Oráculos sobre Judá e Jerusalém (1,1-6,13).
II. Livro da Consolação (7,1-12,6), que corresponde ao tempo da guerra siro-efraimita. Também é chamado “Livro do Emanuel”.
III. Oráculos contra as nações estrangeiras (13,1-23,18).
IV. Apocalipses (24,1-27,13 e 34,1-35,10), que anunciam a renovação futura (escatologia) e são de um autor pós-exílico.
V. Oráculos de salvação de Israel e Judá (28,1-33,24).
VI. Apêndice Histórico, relacionado com o reinado de Ezequias (36,1-39,8).

 

 

SEGUNDO ISAÍAS (40,1-55,13)


Os capítulos 40-55 constituem a segunda parte do livro de Isaías, por isso, chamado Segundo Isaías ou Dêutero-Isaías. A história destes poemas narrativos tem a ver com o regresso dos judeus depois do cati­veiro da Babilónia. A primeira deportação dos judeus para a Babilónia deu-se em 597; em 586 é a conquista de Jerusalém e a segunda deportação.


AUTOR

O profeta a quem chamamos Segundo Isaías exerce o seu mi-nistério profético durante a última parte do exílio babilónico, exortando os judeus a não desanimarem. Para isso, apresenta o Deus-Javé, criador do céu e da terra, Senhor da vida e da História, como o único Deus; diante dele, todos os deuses babilónicos, a começar por Marduc, nada são e nada valem.


DIVISÃO E CONTEÚDO

Este livro divide-se em duas partes: Deus Liber­tador (40,1-48,22) e Restauração de Sião (49,1-55,13).


TEOLOGIA

Em 539, o rei Ciro da Pérsia derrota o rei babilónico Nabó­ni­des, cruza o Tigre e conquista a Babilónia. No mesmo ano, Ciro publica um édito sobre a libertação dos judeus. O Segundo Isaías continua a sua doutri­nação, cujos conteúdos perfazem os nossos capítulos 40-55: descreve o segundo êxodo como superior e mais glorioso que o primeiro, o de Moisés; da História con­creta passa à Teologia do Deus criador e salvador, de modo que a Teologia comanda a História, pois tudo depende do mistério da vontade divina inscrito no centro da mesma História.

É o primeiro evangelista da História da Salvação, que anuncia a Boa-Nova da salvação-libertação com imagens e símbolos que ultrapassam qual­quer história. Destacam-se nele os famosos Cânticos do Servo (cap. 42; 49; 50,4-9; 52,13-53,12), que se integram nas duas partes deste livro: 40-48 e 49-55.

O autor é mais poeta e teólogo que historiador. De facto, o estilo do Segundo Isaías é muito diferente do Primeiro, pois quem impera e tudo comanda no Segundo é a retórica ao serviço da Teologia e da Fé.

 

 

TERCEIRO ISAÍAS (56,1-66,24)


Tal como nada sabemos do chamado Dêutero-Isaías, também nada sabemos do chamado Trito-Isaías, para além deste texto bíblico. Tam­bém se refere a si próprio (61,1-3; 62,1.6), um pouco à maneira do pro­feta anterior. O estilo assemelha-se ao do Dêutero-Isaías, na riqueza das imagens.


CONTEXTO

O contexto histórico destes capítulos situa-se em Judá, depois do regresso dos exilados da Babilónia.


TEOLOGIA

Predomina a visão escatológica, através dos opostos:julga­mento dos inimigos e salvação dos israelitas, oposição entre povo fiel e infiel. O profeta pretende inspirar confiança e fé ao povo, no meio das dificul­da­des, do desânimo e da pobreza.

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