Capítulo 1
1Palavra do Senhor dirigida a Joel, filho de Petuel.
Lamentações. O país devastado (Ex 10,1-20; Dt 28,38-42)
2Ouvi isto, anciãos!
Prestai ouvidos, vós todos os habitantes do país!
Aconteceu tal coisa em vossos dias
ou nos dias dos vossos pais?
3Contai-o a vossos filhos,
e vossos filhos contem-no a seus filhos,
e os seus filhos, à geração vindoura.
4O que o gafanhoto deixou, o saltão devorou;
o que o saltão deixou, a larva devorou;
o que a larva deixou, a crisálida devorou!
5Despertai, ó ébrios, e chorai!
Vós, bebedores de vinho, lamentai-vos
porque o mosto vos foi tirado da boca.
6O meu país foi invadido por uma multidão
forte e inumerável,
os seus dentes são como dentes de leão,
e as mandíbulas, como de leoa.
7Devastou a minha vinha,
destruiu a minha figueira,
tirou-lhe a casca e deitou-a fora.
Os seus ramos tornaram-se brancos.
8Chorai como chora uma donzela, vestida de saco,
o marido da sua juventude.
9Deixou de haver oferendas e libações
no templo do Senhor.
Estão de luto os sacerdotes,
os ministros do Senhor.
10Os campos estão devastados,
a terra enlutada
porque o trigo foi destruído,
o vinho, perdido
e o azeite, estragado.
11Os lavradores estão desiludidos,
os vinhateiros lamentam-se,
por causa do trigo e da cevada,
pois a colheita perdeu-se.
12A vinha secou,
a figueira murchou,
a romãzeira, a palmeira, a macieira,
todas as árvores do campo estão secas.
E secou, até, a alegria
dos filhos dos homens.
Exortação ao arrependimento
13Cingi-vos, sacerdotes, e chorai.
Lamentai-vos, ministros do altar.
Vinde, passai a noite vestidos de saco,
ministros do meu Deus.
Porque, da casa do vosso Deus, desapareceram
as ofertas e libações.
14Ordenai um jejum,
proclamai uma reunião sagrada.
Reuni, anciãos, todos os habitantes do país
na casa do Senhor, vosso Deus,
e clamai ao Senhor.
15Ai que Dia!
Pois o Dia do Senhor está próximo.
E virá como a devastação
da parte do devastador.
16Acaso não desapareceu o alimento
sob os nossos olhos
como da casa do nosso Deus,
a alegria e o regozijo?
17As sementes apodreceram
debaixo das leivas,
os celeiros estão vazios,
os armazéns arruinados,
pois o trigo secou.
18Como gemem os animais!
As manadas de bois andam errantes
porque não há pasto para elas.
Até os rebanhos de ovelhas perecem!
19Clamo por ti, Senhor!
Pois o fogo devora
toda a verdura da estepe.
A chama queimou
todas as árvores do campo.
20Os próprios animais selvagens
suspiram por ti,
pois secaram
as correntes de água,
e o fogo devorou
toda a verdura da estepe.
Capítulo 2
Os gafanhotos e o Dia do Senhor
1Tocai a trombeta em Sião,
elevai um clamor sobre o meu monte santo!
Estremeçam todos os habitantes da terra
porque se aproxima o Dia do Senhor!
Ele está próximo!
2Dia de trevas e escuridão,
dia de nuvens e sombras.
Como a luz da aurora sobre os montes,
assim se difunde um povo numeroso e forte,
como nunca houve semelhante
desde o princípio
nem depois haverá outro,
no decorrer dos séculos!
3Diante dele, um fogo devorador,
atrás dele, uma chama abrasadora.
Diante dele, a terra é um paraíso do Éden,
atrás dele, a desolação do deserto.
Nada lhe consegue sobreviver.
4O seu aspecto é como o aspecto de cavalos;
correm como corcéis.
5Dir-se-ia semelhante ao estrondo de carros
saltando sobre o cume dos montes,
ao crepitar da chama de fogo
que devora a palha seca,
a um poderoso exército,
disposto em ordem de batalha.
6Diante dele tremem os povos,
todos os rostos empalidecem.
7Correm como valentes
e escalam as muralhas como guerreiros;
cada um segue o seu caminho
sem confundir as suas sendas.
8 Não se embaraçam uns aos outros;
cada um marcha pela sua estrada.
Abrem caminho por entre as setas,
sem romper as suas fileiras.
9Assaltam a cidade,
correm por cima dos muros,
invadem as casas,
pelas janelas,
entram como ladrões.
10A terra treme diante deles,
os céus ficam abalados,
o Sol e a Lua obscurecem-se,
as estrelas perdem o seu brilho.
11À frente do seu exército, o Senhor faz ouvir a sua voz.
São inúmeros os seus batalhões,
poderoso, o executor da sua palavra.
O Dia do Senhor é grandioso e terrível.
Quem o poderá suportar?!
Apelo à conversão
12Mas agora, diz o Senhor,
convertei-vos a mim de todo o vosso coração
com jejuns, com lágrimas, com gemidos.
13Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes,
convertei-vos ao Senhor, vosso Deus,
porque Ele é clemente e compassivo,
paciente e rico em misericórdia.
14Quem sabe? Talvez Ele mude de ideia e volte atrás,
deixando, ao passar, alguma bênção,
para oferenda e libação
ao Senhor vosso Deus!
15Tocai a trombeta em Sião,
ordenai um jejum, proclamai uma reunião sagrada.
16Reuni o povo, purificai a assembleia,
juntai os anciãos, congregai os pequeninos
e os meninos de peito.
Saia o esposo dos seus aposentos
e a esposa do seu leito nupcial.
17Entre o pórtico e o altar
chorem os sacerdotes,
e digam os ministros do Senhor:
«Tem piedade do teu povo, Senhor,
não transformes em ignomínia a tua herança,
para que ela não se torne o escárnio dos povos!
Porque diriam: ‘Onde está o seu Deus?’»
Deus tem compaixão do povo (Dt 28,11-12)
18O Senhor encheu-se de zelo pelo seu país
e teve compaixão do seu povo.
19O Senhor respondeu ao seu povo, dizendo:
«Vou enviar-vos trigo, vinho e azeite,
e deles sereis saciados.
E nunca mais farei de vós
uma ignomínia entre os povos.
20Afastarei de vós
aquele que vem do Norte
e dispersá-lo-ei por uma terra
árida e desolada;
a sua vanguarda, para o mar oriental,
e a sua retaguarda, para o mar ocidental.
Há-de exalar-se dali um cheiro infecto,
um cheiro de podridão
porque tentou fazer grandes coisas.
21Não temas, ó terra!
Exulta e alegra-te
porque o Senhor faz grandes coisas!
22Não temais, animais dos campos,
porque as pastagens do deserto reverdecerão,
as árvores darão o seu fruto,
a figueira e a vinha produzirão abundantemente.
23Exultai, filhos de Sião,
alegrai-vos no Senhor, vosso Deus,
porque Ele há-de mandar-vos
as chuvas do Outono no devido tempo
e fará cair sobre vós chuvas copiosas,
as chuvas do Outono e da Primavera,
como no princípio.
24As eiras se encherão de trigo,
e os lagares transbordarão de vinho e azeite.
25Eu restituí-vos as colheitas
devoradas pelo saltão e pela larva,
pela crisálida e pelos gafanhotos,
meu poderoso exército,
que mandei contra vós.
26Comereis com abundância
e louvareis o nome do Senhor, vosso Deus,
que fez maravilhas em vosso favor.
E o meu povo jamais será confundido.
27Sabereis, então, que estou no meio de Israel,
Eu que sou o Senhor, vosso Deus, e que não há outro.
E o meu povo jamais será confundido.»
Capítulo 3
Efusão do espírito de Deus
1«Depois disto, derramarei o meu espírito
sobre toda a humanidade.
Os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão,
os vossos anciãos terão sonhos
e os vossos jovens terão visões.
2Também sobre servos e servas,
naqueles dias,
derramarei o meu espírito.
3Farei aparecer prodígios no céu e na terra:
sangue, fogo e nuvens de fumo.
4O Sol converter-se-á em trevas,
e a Lua, em sangue,
ao aproximar-se o Dia do Senhor, grandioso e terrível.
5Então, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo
pois sobre o monte de Sião e em Jerusalém
ficará um resto salvo,
como disse o Senhor.
E entre os sobreviventes estarão
os que o Senhor tiver chamado.»
Capítulo 4
Julgamento das nações pagãs
1«Eis, pois, que naqueles dias e no momento
em que mudar completamente o destino
de Judá e Jerusalém,
2reunirei todas as nações
e as farei descer ao Vale de Josafat.
Aí entrarei em juízo com elas,
por causa de Israel, meu povo e minha herança,
pois dispersaram-no entre as nações
e repartiram o meu país entre si.
3Deitaram sortes sobre o meu povo:
deram um menino por uma prostituta,
venderam uma donzela por vinho para beber.
4E vós, também, Tiro e Sídon
e todas as províncias da Filisteia,
que quereis de mim?
Quereis vingar-vos?
Se quereis vingar-vos, farei cair sobre vós mesmos
a vossa própria vingança.
5Pois roubastes a minha prata e o meu ouro,
levastes para os vossos templos as minhas jóias mais preciosas;
6vendestes os filhos de Judá e os filhos de Jerusalém
aos filhos de Javan,
para que os levassem para longe da sua pátria.
7Eis que os tirarei do lugar para onde os vendestes
e farei recair sobre vós a maldade cometida:
8venderei os vossos filhos e as vossas filhas aos habitantes de Judá
e estes os venderão aos sabeus,
um povo longínquo,
pois assim falou o Senhor.
9Publicai-o entre as nações!
Declarai a guerra!
Incentivai os heróis!
Aproximem-se e subam
todos os homens de guerra.
10Forjai espadas das relhas dos vossos arados,
e lanças, das vossas foices.
Diga o fraco: ‘Eu sou um herói’.
11Depressa! Nações, vinde todas,
de toda a parte, reuni-vos aqui.
Senhor, faz descer ali os teus heróis.
12Nações, levantai-vos e vinde
ao Vale de Josafat;
aí me sentarei para julgar
as nações vindas de toda a parte.
13Metei a foice
porque a messe está madura,
vinde pisar
porque o lagar está cheio,
as cubas transbordam
porque a malícia deles é muito grande.
14Multidões e multidões,
no Vale do Julgamento,
porque o Dia do Senhor está perto,
no Vale do Julgamento.
15O Sol e a Lua obscurecem-se,
as estrelas perdem o seu brilho.»
Restauração de Israel
16«O Senhor rugirá de Sião!
Trovejará de Jerusalém!
Então os céus e a terra serão abalados.
Mas para o seu povo, o Senhor será um refúgio,
uma fortaleza para os filhos de Israel!
17Sabereis então que Eu sou o Senhor, vosso Deus,
que habito em Sião, minha montanha santa.
Jerusalém será um lugar sagrado,
onde os estrangeiros não tornarão mais a passar.
18Acontecerá naquele dia
que os montes destilarão vinho novo,
o leite manará das colinas,
as águas jorrarão em todas as ribeiras de Judá.
Uma fonte sairá do templo do Senhor
para irrigar o Vale das Acácias.
19O Egipto será a desolação
e Edom será um deserto desolado
pois trataram com crueldade os filhos de Judá
e derramaram, no seu país, o sangue inocente.
20Mas Judá será habitada para sempre
e Jerusalém, de geração em geração.
21Eu vingarei o seu sangue, não os deixarei impunes.
E o Senhor habitará em Sião.»