Capítulo 31
A nova aliança (Ez 24) – 1«Naquele tempo, Eu serei o Deus de todas as tribos de Israel, e elas serão o meu povo» – oráculo do Senhor.
2Assim fala o Senhor: «Encontrou graça no deserto o povo que tinha escapado à espada. Israel caminha para o seu repouso. 3De longe, o Senhor se lhe manifestou: Amei-te com um amor eterno. Por isso, dilatei a misericórdia para contigo. 4Hei-de reconstruir-te, e serás restaurada, ó donzela de Israel! Ainda te hás-de adornar dos teus tamborins e participar em alegres danças. 5De novo plantarás vinhas nas colinas da Samaria, e os cultivadores recolherão os frutos, 6porque há-de chegar o dia em que as sentinelas gritarão sobre os montes de Efraim: ‘Levantai-vos! Subamos a Sião, ao Senhor, nosso Deus.’»
7Porque isto diz o Senhor: «Soltai gritos de júbilo por Jacob. Aclamai a primeira das nações! Fazei ressoar louvores, exclamando: ‘Ó Senhor salva o teu povo, o resto de Israel’. 8Eis que os trarei do país do Norte e os congregarei dos confins da terra. O cego e o coxo, a mulher grávida e a que deu à luz, virão entre eles. Hão-de voltar em grande multidão. 9Entre lágrimas partiram, mas fá-los-ei voltar em grande consolação; conduzi-los-ei às torrentes de água, por caminhos direitos em que não tropeçarão; porque sou para Israel como um pai, e Efraim é o meu primogénito.
10Povos, escutai a palavra do Senhor! Levai a notícia às ilhas longínquas e dizei: ‘Aquele que dispersou Israel vai reuni-lo e guardá-lo como o pastor ao seu rebanho.’ 11Porque o Senhor resgatou Jacob e libertou-o das mãos de um mais forte. 12Regressarão jubilosos às alturas de Sião e afluirão aos bens do Senhor: ao trigo, ao vinho e ao azeite, às crias de ovelhas e de vacas. A sua alma será como um jardim bem regado, e não voltarão a desfalecer.
13Então, a jovem alegrar-se-á, bailando; jovens e velhos partilharão do seu júbilo. Converterei o seu pranto em exultação, hei-de consolá-los, e aliviá-los das suas penas. 14Alimentarei os sacerdotes com saborosos manjares, e o meu povo há-de saciar-se dos meus bens» – oráculo do Senhor.
15Assim fala o Senhor: «Ouvem-se, em Ramá, lamentações e amargos gemidos. É Raquel que chora, inconsolável, os seus filhos que já não existem.» 16Isto diz o Senhor: «Cessa de gemer, enxuga as tuas lágrimas! Pois haverá recompensa para as tuas penas – oráculo do Senhor. Eles voltarão do país inimigo. 17Tens ainda uma esperança de futuro – oráculo do Senhor. Os teus filhos voltarão à pátria. 18Sim, ouço os gemidos de Efraim: ‘Tu corrigiste-me e eu aceitei a correcção, como um novilho indomável. Converte-me e eu deixar-me-ei converter, porque Tu és o Senhor, meu Deus. 19Porque me afastei, depois arrependi-me, e ao compreender, castiguei o meu corpo. Sinto-me envergonhado e confundido, pois carrego a desonra da minha juventude.’ 20Sim, Efraim é o meu filho querido, o meu menino muito amado. Quanto mais o repreendo, mais me recordo dele. Por isso, as minhas entranhas se comovem e Eu terei compaixão dele» – oráculo do Senhor.
21«Levanta sinais, põe postes indicadores, presta atenção ao caminho, à senda que percorres. Volta, donzela de Israel, volta às tuas cidades. 22Até quando andarás vagabunda, ó filha rebelde? Eis que o Senhor criou algo de novo sobre a terra: é a esposa que seduzirá o esposo.»
Reconstrução e nova aliança – 23Assim fala o Senhor do universo, Deus de Israel:
«Quando Eu tiver mudado a vossa sorte, voltarão a dizer na terra de Judá e nas suas cidades: ‘Que o Senhor te abençoe, mansão de justiça, montanha santa!’ 24Em Judá e nas suas cidades habitarão juntamente os lavradores e os que se deslocam com o rebanho, 25pois saciarei os fatigados e matarei a fome aos desfalecidos. 26Então, despertei e reparei quão doce tinha sido o meu sono!
27Dias virão em que semearei em Israel e em Judá semente de homens e semente de animais – oráculo do Senhor. 28E, assim como vigiei sobre eles para arrancar e demolir, para destruir, arruinar e afligir, do mesmo modo vigiarei sobre eles para construir e plantar – oráculo do Senhor. 29Nesses dias, não mais se dirá:
‘Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que ficaram embotados.’
30Pois, cada um morrerá por causa do seu próprio pecado e, se alguém comer uvas verdes, esse terá a dor de dentes.
31Dias virão em que firmarei uma nova aliança com a casa de Israel e a casa de Judá – oráculo do Senhor. 32Não será como a Aliança que estabeleci com seus pais, quando os tomei pela mão para os fazer sair da terra do Egipto, aliança que eles não cumpriram, embora Eu fosse o seu Deus – oráculo do Senhor. 33Esta será a aliança que estabelecerei, depois desses dias, com a casa de Israel – oráculo do Senhor: imprimirei a minha lei no seu íntimo e gravá-la-ei no seu coração. Serei o seu Deus e eles serão o meu povo. 34Ninguém ensinará mais o seu próximo ou o seu irmão, dizendo: ‘Aprende a conhecer o Senhor!’ Pois todos me conhecerão, desde o maior ao mais pequeno, porque a todos perdoarei as suas faltas, e não mais lembrarei os seus pecados» – oráculo do Senhor.
35Assim fala o Senhor, que estabelece o Sol para iluminar o dia; que manda à Lua e às estrelas que iluminem a noite; que agita o mar e as suas ondas rugem. O seu nome é Senhor do universo: 36«Se algum dia deixarem de subsistir estas leis diante de mim, então também a linhagem de Israel deixará de ser diante de mim um povo» – oráculo do Senhor. 37Isto diz o Senhor: «Se se podem medir os céus nas alturas e perscrutar os fundamentos da terra em profundidade, então também Eu rejeitarei toda a descendência de Israel, por causa de tudo o que fizeram» – oráculo do Senhor.
38Dias virão em que será reedificada a cidade do Senhor, desde a torre de Hananiel até à porta do Ângulo – oráculo do Senhor. 39O cordel de medir será estendido até à colina de Gareb e dará volta a Goá.
40Todo o vale dos cadáveres e das cinzas, e todos os campos até à torrente do Cédron e até ao ângulo da porta dos Cavalos, a oriente, tudo isto será consagrado ao Senhor; não será devastado, nem jamais destruído.
Capítulo 32
A compra de um campo (Rt 3-4) – 1Palavra que foi dirigida a Jeremias, pelo Senhor, no décimo ano do reinado de Sedecias, rei de Judá, que corresponde ao décimo oitavo ano de Nabucodonosor. 2Nessa altura, o exército do rei da Babilónia sitiava Jerusalém, e o profeta Jeremias estava detido no átrio da prisão que existia no palácio real. 3Sedecias, rei de Judá, mandara-o prender, dizendo-lhe:
«Porque profetizas desta forma: Assim fala o Senhor: ‘Vou entregar esta cidade ao rei da Babilónia, que se apoderará dela’? 4Porque afirmas que Sedecias, rei de Judá, não se livrará das mãos dos caldeus, mas cairá sob o poder do rei da Babilónia e falará com ele cara a cara, e os seus olhos verão os dele? 5Dizes ainda, da parte de Deus: ‘Sedecias será levado para a Babilónia e ali permanecerá até que Eu me ocupe dele. Se entrardes em guerra com os caldeus, nada conseguireis.’»
6Jeremias respondeu: «Eu recebi a palavra do Senhor: 7‘Eis que virá Hanamiel, filho do teu tio Chalum, a fim de te propor a compra do campo em Anatot, porque a ti pertence o direito de resgate para o comprar.’ 8E Hanamiel, meu primo, veio visitar- -me no cárcere, tal como tinha anunciado o Senhor. E disse-me: ‘Compra o meu campo de Anatot, na terra de Benjamim, porque compete-te a ti, por direito, resgatá-lo e adquiri-lo. Compra-o’.
Compreendi que isto era vontade do Senhor. 9Comprei, então, o campo de Anatot a meu primo, Hanamiel, pagando-lhe dezassete siclos de prata. 10Escrevi, então, o contrato, selei-o, chamei testemunhas e pesei o dinheiro na balança. 11A seguir, tomei a escritura de venda selada, de acordo com as normas legais, e sua cópia aberta. 12Entreguei o contrato de venda a Baruc, filho de Néria, filho de Masseias, em presença de Hanamiel, meu primo, das testemunhas signatárias do contrato de venda e de todos os judeus que estavam no átrio da prisão. 13E dei esta ordem a Baruc, diante deles, dizendo: 14‘Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: Toma estes documentos, esta escritura de venda selada e esta cópia aberta, e mete-os numa vasilha de barro, a fim de que se conservem por muito tempo. 15Porque, eis o que diz o Senhor do universo, o Deus de Israel: Ainda se hão-de comprar casas, campos e vinhas nesta terra.’» 16Depois de entregar a Baruc, filho de Néria, o contrato de venda, dirigi ao Senhor esta oração:
Oração de Jeremias – 17«Ah! Senhor Deus, foste Tu que fizeste o céu e a terra com o teu grande poder e o teu braço estendido! Para ti nada é impossível! 18Praticas a misericórdia por mil gerações, mas castigas o pecado dos pais nos filhos que lhes sucedem, Deus grande e poderoso, cujo nome é Senhor do universo! 19Grande nos desígnios e poderoso nas realizações, os teus olhos estão atentos à conduta dos homens, para retribuíres a cada um segundo os seus actos e os frutos do seu proceder. 20Tu realizaste sinais e prodígios na terra do Egipto, e depois, até ao dia de hoje, em Israel e em todos os homens; e conquistaste para ti um nome glorioso que permanece ainda hoje.
21Tu fizeste sair do Egipto o teu povo, Israel, com prodígios e milagres, com mão forte e braço estendido e com grande terror! 22Tu deste-lhes esta terra, tal como tinhas prometido aos seus antepassados, terra que mana leite e mel! 23Eles entraram e tomaram posse dela; mas não escutaram a tua voz, nem observaram a tua lei; não cumpriram nada do que lhes impuseste. Por isso, caíram sobre eles todas estas calamidades!
24Eis que as máquinas de guerra se aproximam da cidade para a assaltarem. E a cidade vai ser entregue nas mãos dos caldeus, que a atacam com a espada, a fome e a peste. O que predisseste está a acontecer. E eis que Tu o vês! 25Não obstante, Tu, Senhor Deus, dizes-me: ‘Compra o campo a peso de dinheiro, perante testemunhas, enquanto a cidade está prestes a cair nas mãos dos caldeus!’»
O Senhor responde a Jeremias: destruição de Jerusalém – 26A palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos: 27«Eu sou, na verdade, o Senhor, o Deus de todas as criaturas. Haverá, pois, algo impossível para mim? 28Por isso, isto diz o Senhor: Vou entregar esta cidade nas mãos dos caldeus e na mão de Nabucodonosor, rei da Babilónia que a tomará. 29Os caldeus, que estão a combater contra a cidade, entrarão nela, pôr-lhe-ão fogo e incendiarão as casas em cujos terraços foram feitos sacrifícios a Baal e libações a deuses estranhos, para me provocarem.
30Porque os filhos de Israel e os de Judá só praticaram, desde a sua juventude, o mal diante dos meus olhos; pois os israelitas irritaram-me com as obras das suas mãos – oráculo do Senhor. 31Esta cidade, desde o dia em que foi construída até hoje, tem provocado a minha ira e a minha indignação, de modo que a afasto da minha presença, 32por causa de todo o mal cometido pelos filhos de Israel e de Judá, para me irritarem, eles, os seus reis, os seus príncipes, os seus sacerdotes, e os homens de Judá e os habitantes de Jerusalém. 33Eles voltaram-me as costas e não o rosto.
Repreendi-os constantemente, mas eles não escutaram os meus avisos. 34E colocaram os seus ídolos no templo onde é invocado o meu nome, profanando-o. 35E construíram altares a Baal no vale de Ben-Hinom, para aí imolarem os filhos e as filhas em honra de Moloc, coisa que nunca lhes mandei nem me passou pela mente cometer semelhantes abominações, levando Judá a pecar.
36Agora, por causa disto, assim diz o Senhor, Deus de Israel, a esta cidade, da qual vós dizeis que será entregue nas mãos do rei da Babilónia, pela espada, pela fome e pela peste: 37‘Eis que vou reuni-los de todas as terras, para onde os exilei no meu furor, na minha ira, na minha grande indignação; hei-de conduzi-los a este lugar para que nele habitem em segurança. 38Eles serão o meu povo, e Eu serei o seu Deus.
39Dar-lhes-ei um só coração e um comportamento íntegro, para que sempre me reverenciem, para felicidade deles e dos seus descendentes. 40Farei com eles uma aliança eterna, e não deixarei de lhes fazer bem; infundirei no seu coração o meu temor para que não se afastem de mim. 41A minha alegria será fazer-lhes bem; estabelecê-los-ei solidamente nesta terra, com todo o meu coração e com toda a minha alma.’»
42Porque isto diz o Senhor: «Assim como fiz descer sobre este povo esta grande calamidade, também farei vir sobre ele todo o bem que lhe prometo. 43Serão comprados campos nesta terra, da qual dizeis ser um deserto sem homens, nem animais, entregue nas mãos dos caldeus. 44Serão comprados por dinheiro e registados em contratos, selados perante testemunhas, no território de Benjamim, nos arredores de Jerusalém, nas cidades de Judá, nas cidades da montanha e nas cidades da planície e nas do Négueb, porque Eu mudarei a sua sorte» – oráculo do Senhor.
Capítulo 33
Restauração messiânica (30-31) – 1A palavra do Senhor foi dirigida, pela segunda vez, a Jeremias, quando ainda estava detido no átrio da prisão: 2«Assim fala o Senhor que criou a terra, que a modelou e consolidou, cujo nome é o Senhor: 3‘Invoca-me, e Eu te responderei e te revelarei coisas grandes e misteriosas, que não conheces.’»
4Porque isto diz o Senhor, Deus de Israel, acerca das casas desta cidade e dos palácios dos reis de Judá, que foram demolidos pelas fortificações e pelas armas: 5«Agora vêm os caldeus lutar contra ela, enchendo- -a com os cadáveres dos homens que feri na minha ira e na minha cólera, e por cuja maldade desviei a minha face desta cidade.
6Eu mesmo vou restabelecê-la e curá-la, e proporcionar-lhe abundância de paz e fidelidade. 7Mudarei a sorte de Judá e de Israel, e restabelecê-los-ei como no princípio. 8Purificá-los-ei de todos os pecados que cometeram contra mim e vou perdoar-lhes todas as suas faltas que cometeram contra mim e com as quais me ofenderam. 9E isto será para mim motivo de alegria, de louvor e de glória para todas as nações da terra, que ouvirão contar todos os bens que Eu lhes fiz. Ficarão possuídas de temor e de admiração, ao verem o bem e a prosperidade de que os vou cumular.»
10Assim fala o Senhor: «Neste lugar – que vós dizeis ser um deserto sem homens nem animais – nas cidades de Judá e nas ruas desoladas de Jerusalém, sem homens e sem animais, ouvir-se-ão novamente 11gritos de alegria, cânticos de júbilo, a voz do esposo e da esposa, aclamações dos que dirão, ao entrar no templo do Senhor, em acção de graças:
‘Louvai o Senhor do universo, porque Ele é bom, e o seu amor é eterno’, pois Eu restituirei esta terra ao seu anterior estado» – oráculo do Senhor.
12Eis o que diz o Senhor do universo: «Neste lugar, que é deserto, sem homens e sem animais, e em todas as suas cidades, haverá de novo pastagens para os pastores apascentarem os seus rebanhos. 13Nas cidades da montanha, da planície e do Négueb, no território de Benjamim, nos arredores de Jerusalém e nas cidades de Judá, ainda hão-de passar rebanhos ao alcance da mão de quem os conta» – oráculo do Senhor.
Apelo à esperança
14«Eis que virão dias em que cumprirei a promessa favorável que fiz à casa de Israel e à casa de Judá – oráculo do Senhor. 15Nesses dias e nesse tempo, suscitarei de David um rebento de justiça, que praticará o direito e a equidade no país. 16Nesses dias, Judá será salvo e Jerusalém viverá em segurança. Este é o nome com o qual será chamada: ‘Senhor – nossa justiça.’»
17Porque isto diz o Senhor: «Não faltará a David um sucessor que se sente no trono da casa de Israel. 18E dos descendentes dos sacerdotes e dos levitas, não faltará jamais um homem que me ofereça holocaustos, incense as oferendas e celebre o sacrifício quotidiano.»
19Depois, foi dirigida a palavra do Senhor a Jeremias, dizendo: 20«Assim fala o Senhor: Se puderdes quebrar a minha aliança com o dia e com a noite, de modo que não surja o dia e a noite no seu devido tempo, 21também poderá ser quebrada a aliança que fiz com David, meu servo, de modo que não terá um filho que se sente no seu trono, e a que fiz com os sacerdotes e levitas, meus ministros. 22Tal como as estrelas do céu não se podem enumerar, nem a areia do mar se pode calcular, assim multiplicarei a descendência de David, meu servo, e os levitas que me servem.»
23A palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos: 24«Não reparaste no que diz este povo? Dizem que as duas famílias que o Senhor tinha escolhido, foram por Ele rejeitadas! É assim que eles desprezam o meu povo, de forma que já não o consideram como nação.»
25Isto diz o Senhor: «Só se Eu não mantivesse aliança com o dia e com a noite e não regulasse as leis do céu e da terra, 26é que Eu poderia rejeitar a descendência de Jacob e de David, meu servo, e não escolher da sua descendência chefes da estirpe de Abraão, de Isaac e de Jacob! Com efeito, farei voltar os seus exilados e terei compaixão deles.»
Capítulo 34
Assalto à cidade – 1Palavra que foi dirigida pelo Senhor a Jeremias, enquanto Nabucodonosor, rei da Babilónia, com todo o seu exército e todos os reinos da terra, que lhe estavam submetidos, e com todos os povos, combatiam contra Jerusalém e todas as suas cidades:
2«Assim fala o Senhor, Deus de Israel: Vai procurar Sedecias, rei de Judá, e diz-lhe: Assim fala o Senhor: ‘Eis que vou entregar esta cidade nas mãos do rei da Babilónia, que a incendiará. 3Nem tu lhe poderás escapar; serás preso e entregue nas suas mãos. Verás o rei da Babilónia, face a face, que de viva voz te falará, e serás levado para a Babilónia.’ 4Apesar de tudo, escuta, Sedecias, rei de Judá, a palavra do Senhor! Assim fala o Senhor a teu respeito: Não morrerás à espada. 5Morrerás em paz e, assim como foram queimados perfumes em honra dos teus pais, os reis que te precederam, assim também queimarão perfumes em tua honra e te chorarão, dizendo: ‘Ai, senhor!’ Sou Eu que o declaro» – oráculo do Senhor.
6Tudo isto transmitiu Jeremias a Sedecias, rei de Judá, em Jerusalém, 7enquanto o exército do rei da Babilónia sitiava Jerusalém e todas as restantes cidades de Judá, assim como Láquis e Azeca, últimas fortalezas de Judá que ainda resistiam.
Injustiças para com os escravos (Lv 25,39-43; Dt 15,12-18) – 8Palavra que foi dirigida pelo Senhor a Jeremias, depois que o rei Sedecias fez um pacto com o povo de Jerusalém, para proclamar a liberdade, 9a fim de cada um libertar o seu escravo ou escrava hebreus, para que nenhum judeu fosse escravo do seu irmão. 10Todos os chefes e todo o povo aceitaram este acordo para conceder a liberdade aos seus escravos e escravas e a não mais exercer domínio sobre eles. Obedeceram e puseram-nos em liberdade. 11Mais tarde, porém, arrependeram-se e retomaram os seus escravos e escravas, que tinham libertado, reduzindo-os de novo ao estado de escravidão.
12Então, a palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nos seguintes termos: 13«Isto diz o Senhor, Deus de Israel: No dia em que fiz sair os vossos pais da terra do Egipto, da casa da escravidão, estabeleci com eles uma aliança, dizendo-lhes: 14‘Ao fim de sete anos, cada um emancipará o seu irmão hebreu que lhe tiver sido vendido. Servir-te-á durante seis anos, e depois conceder-lhe-ás a liberdade.’ Porém, os vossos pais não me ouviram nem prestaram atenção. 15Agora, fizestes o que é agradável aos meus olhos, proclamando a liberdade cada um para o seu próximo, como conclusão da aliança que fizestes na minha presença, no templo, em que é invocado o meu nome. 16Mas depois voltastes atrás, profanastes o meu nome, tornando a tomar cada um o seu escravo e a sua escrava que tínheis deixado ir livres, para de novo os reduzirdes à escravidão.»
17Por isso, assim fala o Senhor: «Vós não me obedecestes no que respeita à proclamação da liberdade dos vossos irmãos. Eis que Eu vou proclamar a libertação pela espada, pela peste e pela fome, transformando-vos em objecto de horror para todos os reinos da terra – oráculo do Senhor. 18Os homens que violaram a minha aliança, e não observaram as cláusulas do pacto celebrado na minha presença, tratá-los-ei como o novilho que é cortado em duas partes, para passar pelo meio das suas metades. 19Os chefes de Judá e de Jerusalém, os eunucos e os sacerdotes, e todo o povo da terra, que passaram pelo meio das duas metades do novilho, 20entregá-los-ei nas mãos dos seus inimigos e nas dos que procuram tirar-lhes a vida. E entregarei os seus cadáveres como pasto às aves do céu e aos animais da terra.
21Quanto a Sedecias, rei de Judá, entregá-lo-ei, juntamente com os seus príncipes, nas mãos dos seus inimigos e nas mãos dos que procuram tirar-lhes a vida, nas mãos do exército do rei da Babilónia, que acaba de se retirar. 22Vou dar ordens para que voltem a esta cidade – oráculo do Senhor. Hão-de sitiá-la e incendiá-la, tomando-a de assalto. E transformarei as cidades de Judá em lugar deserto, sem habitantes!»
Capítulo 35
Os recabitas – 1Palavra que foi dirigida pelo Senhor a Jeremias, no tempo de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá: 2«Vai procurar a família dos recabitas. Fala-lhes e leva-os a uma das salas do templo do Senhor e dá-lhes vinho a beber.»
3Então, tomei Jazanias, filho de Jeremias, filho de Habacenias, seus irmãos e todos os seus filhos e toda a família dos recabitas. 4Levei-os ao templo, à sala dos filhos de Hanan, filho de Jigdalias, homem de Deus, junto da sala dos chefes, por cima da de Masseias, filho de Chalum, o porteiro. 5Pus diante dos filhos da família dos recabitas canecas cheias de vinho e copos, e disse-lhes: «Bebei vinho!» 6Eles, porém, responderam: «Não bebemos vinho, porque Jonadab, filho de Recab, nosso pai, assim nos ordenou:
‘Jamais bebereis vinho, vós e os vossos filhos. 7Não construireis casa, não semeareis, não plantareis nem possuireis vinhas, mas habitareis sempre em tendas, a fim de que, por muito tempo, possais viver numa terra, na qual permaneceis como estrangeiros.’
8Temos, pois, obedecido à voz de Jonadab, filho de Recab, nosso pai, em todas as coisas que nos mandou. Não bebemos vinho em toda a nossa vida, nós, as nossas esposas, os nossos filhos e filhas; 9não construímos casas para habitar nelas, não temos vinhas, nem campos de sementeiras; 10mas moramos em tendas e temos obedecido em tudo o que o nosso pai Jonadab nos mandou. 11Porém, quando Nabucodonosor, rei da Babilónia, invadiu o país, dissemos: ‘Entremos em Jerusalém para fugir dos exércitos dos caldeus e dos arameus.’ É por isso que habitamos em Jerusalém.»
12Então, foi dirigida a palavra do Senhor a Jeremias: 13«Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: Vai e diz ao povo de Judá e aos habitantes de Jerusalém: ‘Não recebereis vós a minha repreensão e não obedecereis à minha palavra?’ – Oráculo do Senhor. 14Cumpram-se as determinações de Jonadab, filho de Recab, que proibiu os seus filhos de beberem vinho. E eles não bebem até hoje, porque obedecem às ordens do seu pai. Quanto a mim, que não cesso de vos falar, não me obedeceis. 15Enviei-vos, desde o princípio, os profetas, meus servos, para insistentemente vos dizer: ‘Desviai-vos do mau caminho, reformai a vossa vida. Não sigais atrás de deuses estrangeiros para os adorar. Assim, habitareis na terra que vos dei, a vós e a vossos pais. Porém, vós não me destes ouvidos, nem me quisestes escutar. 16Realmente, os filhos de Jonadab, filho de Recab, respeitaram as ordens de seu pai, mas este povo não me obedeceu!’
17Por isso, assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: ‘Eis que farei vir sobre Judá e sobre os habitantes de Jerusalém os flagelos com que os ameacei, porquanto lhes falei e não me ouviram e, quando os chamei, não me responderam.’»
18Então, Jeremias disse à família dos recabitas: «Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: ‘Já que obedecestes à ordem de Jonadab, vosso pai, e observastes tudo o que ele vos prescreveu e fazeis tudo de acordo com as suas ordens, 19por isso, assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: Não faltarão descendentes de Jonadab, filho de Recab, que estejam sempre na minha presença.’»
Capítulo 36
O rolo de Jeremias (2 Rs 22,11-13) – 1No quarto ano de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, a palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos:
2«Toma um rolo do livro e escreve nele todos os oráculos que Eu te disse acerca de Israel e de Judá, e de todas as nações, desde o dia em que te falei, no tempo de Josias, até ao dia de hoje. 3Quando o povo de Judá compreender todo o mal que lhe pretendo fazer, talvez cada um se afaste do seu perverso caminho, de modo que Eu lhes possa perdoar as suas iniquidades e os seus pecados.»
4Então, Jeremias chamou Baruc, filho de Néria, e Baruc escreveu, da parte de Jeremias, no rolo do livro, todas as palavras que o Senhor lhe tinha dito. 5Em seguida, Jeremias deu esta ordem a Baruc: «Estou impossibilitado de me dirigir ao templo do Senhor. 6Vai, pois, tu, num dia de jejum, e lê o rolo em que escreveste as palavras do Senhor, que te ditei, diante do povo e da gente de Judá, vinda das suas cidades ao templo do Senhor. 7Talvez eles dirijam súplicas ao Senhor e se convertam dos seus maus caminhos, porque grande é a indignação e grande o furor com que o Senhor ameaça este povo.»
8Baruc, filho de Néria, executou pontualmente a ordem do profeta Jeremias, lendo no templo os oráculos do Senhor escritos no rolo.
9No quinto ano do reinado de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, no nono mês, foi decretado um jejum em honra do Senhor para toda a população de Jerusalém e para todos os que se dirigiam das cidades de Judá a Jerusalém. 10Então, Baruc leu no livro as palavras de Jeremias, no templo do Senhor, na sala do escriba Guemarias, filho de Chafan, sala situada no vestíbulo superior, à entrada da Porta Nova do templo, na presença de todo o povo.
11Quando Miqueias, filho de Guemarias, filho de Chafan, ouviu a leitura do livro de todos os oráculos do Senhor, 12foi ao palácio real, à câmara do secretário, onde estavam reunidos todos os dignitários: o secretário Elichamá, Delaías, filho de Chemaías, Elnatan, filho de Acbor, Guemarias, filho de Chafan, Sedecias, filho de Hananias, e todos os notáveis. 13Miqueias referiu-lhes tudo o que ouvira ler a Baruc do livro, diante do povo. 14Os chefes enviaram, então, Judi, filho de Natanias, filho de Chelemias, filho de Cuchi, para dizer a Baruc: «Toma o livro, pelo qual leste diante do povo, e vem ter connosco.»
Baruc, filho de Néria, tomou o livro na mão e foi ter com eles. 15Disseram-lhe: «Senta-te e lê esse livro para nós.» E Baruc leu na presença deles. 16Ao ouvirem estes oráculos, entreolharam-se, atónitos, e disseram a Baruc: «Devemos comunicar todas estas coisas ao rei.»
17Depois interrogaram Baruc: «Declara-nos como escreveste todos estes oráculos.» 18Baruc respondeu-lhes: «Ele ditava-me todas estas palavras, e eu escrevia-as com tinta neste rolo.» 19Então, os dignitários disseram a Baruc: «Vai e esconde-te com Jeremias, e que ninguém saiba onde estais.»
20Em seguida, deixando guardado o rolo no gabinete do secretário Elichamá, foram ter com o rei, ao átrio do palácio, e transmitiram-lhe todos os oráculos. 21O rei mandou Judi buscar o livro; levando-o da sala do secretário Elichamá, Judi leu-o na presença do rei e de todos os dignitários que estavam ao serviço do rei. 22O rei estava sentado no palácio de Inverno – era o nono mês – e tinha um braseiro aceso na sua frente. 23À medida que Judi lia três ou quatro colunas, o rei cortava-as com o canivete do escriba e atirava-as às chamas do braseiro, até que todo o rolo se queimou no fogo do braseiro.
24Nem o rei nem os seus dignitários, ao ouvirem todas estas palavras, temeram ou rasgaram as suas vestes. 25E, embora Elnatan, Delaías e Guemarias suplicassem ao rei para não queimar o livro, ele não os quis ouvir. 26Depois, o rei ordenou ao príncipe real Jeramiel, a Seraías, filho de Azeriel, e a Chelemias, filho de Abdiel, que prendessem o escriba Baruc e o profeta Jeremias. Mas o Senhor escondeu-os.
27Depois que o rei queimou o rolo com os oráculos escritos por Baruc e ditados por Jeremias, o Senhor dirigiu a palavra a Jeremias, nestes termos: 28«Toma outro rolo e escreve nele todos os oráculos contidos no primeiro, que foi queimado por Joaquim, rei de Judá. 29E dirás a Joaquim, rei de Judá: Eis o que diz o Senhor: Queimaste aquele rolo, dizendo: ‘Porque escreveste nele a ameaça de que o rei da Babilónia virá arruinar este país, exterminar os seus homens e os animais?’
30Pois bem, isto diz o Senhor contra Joaquim, rei de Judá: ‘Ele não terá descendente que se sente no trono de David, e o seu cadáver ficará exposto ao calor do dia e ao frio da noite. 31Castigá-lo-ei pelas suas iniquidades, a ele, à sua descendência e aos seus servos. Farei cair sobre eles, sobre os habitantes de Jerusalém e sobre o povo de Judá, todos os flagelos com que os ameacei, sem que me tenham ouvido.’»
32Jeremias tomou outro rolo e entregou-o a Baruc, filho de Néria, o escriba, para que escrevesse nele, a ditado de Jeremias, todos os oráculos contidos no rolo lançado ao fogo por Joaquim, rei de Judá. Além disso, foram acrescentados muitos oráculos semelhantes.
Capítulo 37
Sedecias e o profeta – 1O rei Sedecias, filho de Josias, sucedeu a Jeconias, filho de Joaquim, tendo sido proclamado rei do país de Judá por Nabucodonosor, rei da Babilónia. 2Mas nem ele, nem os seus ministros, nem a população do país escutaram os oráculos que lhe transmitira o Senhor, por intermédio do profeta Jeremias.
3O rei Sedecias enviou Jucal, filho de Chelemias, e o sacerdote Sofonias, filho de Masseias, ao profeta Jeremias para lhe dizer: «Intercedei por nós junto do Senhor, nosso Deus.» 4Jeremias andava livremente no meio do povo, pois ainda não o tinham metido na prisão. 5Entretanto, o exército do faraó saiu do Egipto e quando os caldeus – que sitiavam Jerusalém – ouviram a notícia levantaram o cerco à cidade.
6Então, a palavra do Senhor foi dirigida ao profeta Jeremias nos seguintes termos: 7«Isto diz o Senhor Deus de Israel: Assim responderás ao rei de Judá que te enviou a consultar-me: ‘Olha que o exército do Faraó, que saiu para vos socorrer, vai regressar à sua terra, o Egipto. 8Os caldeus voltarão a atacar esta cidade, tomá-la-ão e irão lançar-lhe fogo.’
9Oráculo do Senhor: Não queirais enganar-vos, julgando que os caldeus levantarão o cerco; eles não se irão embora. 10Mas ainda que derrotásseis todo o exército dos caldeus que combate contra vós, e ficassem deles somente alguns feridos, levantar-se-iam, cada um da sua tenda, e lançariam fogo a esta cidade.»
Prisão de Jeremias – 11Quando o exército dos caldeus levantou o cerco a Jerusalém, por causa da aproximação do exército egípcio, 12Jeremias tentou sair de Jerusalém para ir ao território de Benjamim, a fim de escapar dali no meio do povo.
13Ao chegar à porta de Benjamim, encontrava-se lá o chefe da guarda, chamado Jerias, filho de Chelemias, filho de Hananias, e prendeu o profeta Jeremias, dizendo: «Então, tu passas para o lado dos caldeus!» 14Jeremias respondeu: «É mentira! Eu não me passo para os caldeus.» Jerias, porém, não o quis ouvir e, prendendo o profeta, levou-o à presença dos chefes.
15As autoridades irritaram-se contra Jeremias e, depois de o açoitarem, prenderam-no na casa do escriba Jónatas, transformada em prisão. 16E assim entrou Jeremias num calaboiço subterrâneo, onde esteve durante muitos dias.
Encontro de Sedecias com Jeremias – 17O rei Sedecias mandou-o buscar, a fim de o interrogar secretamente no seu palácio. Perguntou-lhe: «Tens, porventura, algum oráculo do Senhor?» Jeremias respondeu-lhe: «Sim, tenho. Serás entregue nas mãos do rei da Babilónia.» 18Jeremias disse ainda ao rei Sedecias: «Que delito cometi contra ti, contra os teus ministros e contra este povo, para me meterdes na prisão? 19Onde estão os vossos profetas que vos profetizam, dizendo: ‘O rei da Babilónia não virá contra vós e contra esta terra’? 20Agora, escute-me, majestade; que o rei acolha favoravelmente a minha súplica e não me faça voltar para a casa do escriba Jónatas, para que não morra lá.» 21Então, o rei Sedecias ordenou que Jeremias fosse retido no pátio da guarda e que lhe dessem todos os dias uma torta de pão, trazido da rua dos padeiros, enquanto houvesse pão na cidade. Assim, Jeremias ficou no pátio da guarda.
Capítulo 38
Jeremias lançado na cisterna – 1Chefatias, filho de Matan, e Godolias, filho de Pachiur, e Jucal, filho de Chelemias, e Pachiur, filho de Malquias, ouviram as palavras que Jeremias dirigira a todo o povo: 2«Assim fala o Senhor: ‘Aquele que ficar nesta cidade morrerá pela espada, pela fome e pela peste; e aquele que sair para se entregar aos caldeus será tomado como despojo, mas terá a vida salva.’ 3Oráculo do Senhor: ‘A cidade será entregue nas mãos do exército do rei da Babilónia, para que a conquiste.’»
4Então, os dignitários disseram ao rei: «Este homem deve ser morto, porque desanima os homens de guerra que ficaram na cidade e todo o povo, proferindo semelhantes palavras. Este homem não busca o bem-estar do povo, mas a sua desgraça.» 5O rei Sedecias respondeu-lhes: «Aí o tendes nas vossas mãos, pois o rei nada vos pode recusar.»
6Tomaram, então, Jeremias e, por meio de cordas, fizeram-no descer à cisterna do príncipe Malquias, que fica no pátio da guarda. Não havia água na cisterna, mas apenas lodo; e Jeremias ficou atolado no lodo.
7Entretanto, um dos criados do rei, um eunuco etíope que vivia no palácio real, soube que tinham lançado Jeremias na cisterna. O rei estava sentado à porta de Benjamim; 8o criado do rei saiu do palácio real e falou ao rei, dizendo: 9«Ó rei, meu senhor, estes homens procederam mal contra o profeta Jeremias, metendo-o na cisterna. Ele vai certamente morrer de fome, porque já não há mais pão na cidade.» 10Então o rei respondeu-lhe: «Leva daqui contigo trinta homens e faz com que retirem o profeta Jeremias da cisterna, antes que morra.»
11O criado do rei tomou consigo os homens, entrou no vestiário do palácio real e dali tirou pedaços de pano e trapos. E, tomando uma corda, deitou-os abaixo, à cisterna, onde estava Jeremias. 12O criado do rei, o etíope, disse a Jeremias: «Mete estes pedaços de pano e os trapos debaixo dos teus braços, por baixo das cordas.» E assim fez Jeremias. 13Então, puxaram Jeremias por meio das cordas e tiraram-no para fora da cisterna. E Jeremias ficou no pátio da guarda.
Jeremias de novo com o rei – 14O rei Sedecias ordenou que lhe trouxessem o profeta Jeremias e o conduzissem à terceira entrada do templo. Ali, o rei disse a Jeremias: «Tenho uma coisa a perguntar-te; não me ocultes nada!» 15Jeremias disse a Sedecias: «Se eu te responder, certamente me matarás; e se te der um conselho, certamente não me ouvirás.» 16Então, o rei Sedecias fez, em segredo, a Jeremias este juramento: «Pelo Deus vivo, Senhor que nos deu a vida, não te matarei nem te entregarei nas mãos dos que desejam a tua morte!»
17Então, Jeremias disse a Sedecias: «Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: ‘Se te entregares aos oficiais do rei da Babilónia, terás a vida salva e a cidade não será queimada; viverás tu e a tua família. 18Mas, se não te entregares aos oficiais do rei da Babilónia, esta cidade cairá nas mãos dos caldeus, que a incendiarão, e tu não escaparás das suas mãos.’»
19O rei Sedecias disse a Jeremias: «Tenho medo dos judeus que se passaram para o lado dos caldeus; temo que me entreguem nas mãos deles e me maltratem.» 20Respondeu-lhe Jeremias: «Não te entregarão. Ouve, portanto, a voz do Senhor, que eu te anuncio: Nada te acontecerá e terás a vida salva. 21Mas, se recusares entregar-te, eis o que o Senhor me revelou: 22Todas as mulheres que ficarem no palácio do rei de Judá serão entregues aos oficiais do rei da Babilónia. E elas dirão:
‘Enganaram-te, iludiram-te os teus bons amigos; os teus pés atolaram-se na lama e eles foram-se embora!’
23Todas as tuas mulheres e os teus filhos serão entregues nas mãos dos caldeus, e tu não escaparás das suas mãos, mas serás preso pelo rei da Babilónia e a cidade será incendiada!»
24Então, Sedecias disse a Jeremias: «Que ninguém saiba do que falámos e não morrerás. 25Se os dignitários souberem que falei contigo e te vierem procurar, dizendo-te: ‘Conta-nos o que disseste ao rei e o que o rei te disse; nada nos ocultes, pois não te mataremos’, 26dir-lhes-ás: ‘Fui pedir ao rei para que não me fizesse voltar para a casa de Jonatan, para lá morrer.’»
27De facto, todos os dignitários foram ter com Jeremias e interrogaram-no, mas ele respondeu-lhes exactamente como lhe ordenara o rei. Deixaram-no, então, tranquilo, porque nada se tinha divulgado. 28Jeremias permaneceu no pátio da guarda, até ao dia em que Jerusalém foi tomada.
Capítulo 39
Queda de Jerusalém (52,4-27; 2 Rs 25,1-21) – 1No nono ano do reinado de Sedecias, rei de Judá, no décimo mês, Nabucodonosor, rei da Babilónia, chegou a Jerusalém, à frente de todo o seu exército, para a cercar. 2No décimo primeiro ano do reinado de Sedecias, no nono dia do quarto mês, foi aberta uma brecha na cidade. 3Então, entraram todos os oficiais do rei da Babilónia e tomaram posição junto à porta central. Eram eles Nergal-Sarécer, Samegar-Nebo, Sarsequim, chefe oficial, e Nergal-Sarécer, chefe dos eunucos, e todos os outros oficiais do rei da Babilónia.
4Quando Sedecias, rei de Judá, e todos os seus guerreiros os viram, puseram-se em fuga, saindo da cidade, durante a noite, pelo caminho do jardim real e pela porta que estava entre os dois muros, e seguiram o caminho do deserto. 5Porém o exército dos caldeus perseguiu-os e alcançou Sedecias nas planícies de Jericó. Prenderam-no e conduziram-no à presença de Nabucodonosor, rei da Babilónia, em Ribla, na terra de Hamat e ali decretou contra ele a sua sentença. 6O rei da Babilónia mandou, ali mesmo em Ribla, decapitar os filhos de Sedecias, à sua vista, e mandou também matar todos os nobres de Judá. 7Em seguida, mandou arrancar os olhos de Sedecias e algemou-o para o levar a Babilónia.
8Então, os caldeus incendiaram o palácio real e as casas particulares, e derrubaram as muralhas de Jerusalém. 9Nebuzaradan, chefe dos guardas, deportou para a Babilónia o que restava da população da cidade, os que se tinham rendido e o resto do povo. 10À gente pobre que nada possuía, Nebuzaradan, chefe dos guardas, deixou-os na terra de Judá e distribuiu-lhes, nesse dia, vinhas e campos.
Jeremias é libertado – 11Nabucodonosor, rei da Babilónia, tinha dado esta ordem a Nebuzaradan, chefe dos guardas, a respeito de Jeremias: 12«Toma-o e põe sobre ele os teus olhos. Não lhe faças mal nenhum, mas concede-lhe tudo o que ele desejar.»
13Por este motivo, Nebuzaradan, chefe dos guardas, Nebuchazeban, chefe dos eunucos e Nergal-Sarécer, chefe oficial, e todos os oficiais do rei da Babilónia 14mandaram retirar Jeremias do pátio da guarda e entregaram-no a Godolias, filho de Aicam, filho de Chafan, para que o levasse para a sua casa e pudesse habitar no meio do povo.
15Estando ainda Jeremias detido no pátio da guarda, foi-lhe dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: 16«Vai e diz a Ébed-Mélec, o etíope: Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: Eis que vou executar contra esta cidade as predições que fiz para seu mal e não para seu bem. E cumprir-se-ão nesse dia, à tua vista. 17Porém, nesse dia Eu te salvarei e não serás entregue nas mãos dos homens que temes – oráculo do Senhor. 18Com certeza te livrarei, e não cairás morto à espada. Salvarás a tua vida, porque confiaste em mim» – oráculo do Senhor.
Capítulo 40
Godolias, governador (41,1-18; 2 Rs 25,22-26) – 1Palavra que foi dirigida pelo Senhor a Jeremias, depois que Nebuzaradan, chefe dos guardas, o libertou em Ramá, onde ele estava acorrentado entre os exilados de Jerusalém e de Judá que iam desterrados para a Babilónia.
2O chefe dos guardas mandou que lhe levassem Jeremias e disse-lhe:
«O Senhor, teu Deus, anunciou esta calamidade que caiu sobre este lugar. 3O Senhor cumpriu e executou, como tinha anunciado, pois vós pecastes contra o Senhor e não ouvistes a sua voz. Por isso, vos aconteceu tudo isto. 4Mas agora vou tirar as cadeias que tens nas tuas mãos. Se te agradar, vem comigo para a Babilónia, e eu cuidarei de ti. Mas, se preferes ficar, toda a terra fica à tua disposição, podes ir para onde melhor te parecer. 5Se preferes, regressa para a companhia de Godolias, filho de Aicam, filho de Chafan, a quem o rei da Babilónia constituiu governador das cidades de Judá; habita, pois, com ele no meio do povo, ou onde melhor te aprouver.»
O chefe dos guardas deu-lhe víveres e presentes e deixou-o livre. 6Partiu, pois, Jeremias para casa de Godolias, filho de Aicam, em Mispá, e habitou com ele no meio do povo que tinha ficado no país.
Os judeus e Godolias – 7Todos os chefes das guarnições que estavam fora da cidade e os seus homens souberam que o rei da Babilónia tinha nomeado Godolias, filho de Aicam, governador do país e lhe confiara os homens, as mulheres, as crianças e a gente humilde da terra que não tinham sido deportados para a Babilónia.
8Foram ter com Godolias, em Mispá: Ismael, filho de Natanias, Joanan e Jónatas, filhos de Caré, Seraías, filho de Tanumet, os filhos de Efai, de Netofa, e Jazanias, filho de Maacat, eles e os seus homens. 9Godolias, filho de Aicam, filho de Chafan, jurou-lhes a eles e aos seus homens, dizendo: «Não tenhais receio em servir os caldeus. Ficai no país e servi o rei da Babilónia, e tudo vos correrá bem. 10Eu ficarei em Mispá para executar as ordens dos caldeus que nos forem enviadas. Mas vós, fazei a colheita do vinho, das frutas e do azeite e armazenai-os e permanecei nas cidades que ocupais.»
11Todos os judeus que habitavam em Moab, entre os filhos de Amon, na Idumeia e em todas as demais regiões, souberam também que o rei da Babilónia deixara um resto em Judá e que tinha nomeado para seu governador a Godolias, filho de Aicam, filho de Chafan. 12Voltaram, então, todos os judeus desses lugares por onde andavam dispersos e chegaram à terra de Judá, junto de Godolias, em Mispá. E tiveram uma grande colheita de vinho e frutos.
13Joanan, filho de Caré, e todos os chefes do exército que estavam fora da cidade foram procurar Godolias a Mispá. 14Disseram-lhe: «Sabes que Baalis, rei dos filhos de Amon, encarregou Ismael, filho de Natanias, de te tirar a vida?» Porém, Godolias, filho de Aicam, não lhes deu crédito.
15Então, Joanan, filho de Caré, tomou à parte Godolias, em Mispá, e disse-lhe: «Irei e matarei Ismael, filho de Natanias, sem que ninguém o saiba, para evitar que ele te tire a vida, que sejam dispersos todos os judeus que se juntaram a ti e pereça o resto de Judá.» 16Mas Godolias, filho de Aicam, disse a Joanan, filho de Caré: «Não faças tal coisa. É mentira o que dizes de Ismael.»