Capítulo 11
As condições da aliança (31, 31-34; 33,19-22) – 1Palavra que o SENHOR dirigiu a Jeremias, dizendo: 2«Escuta as palavras desta aliança e transmite-as aos homens de Judá e aos habitantes de Jerusalém. 3Diz-lhes: Assim fala o SENHOR, Deus de Israel: Maldito o homem que não obedecer às prescrições desta aliança, 4a qual dei a vossos pais, no dia em que os fiz sair do Egipto, daquele crisol de ferro, dizendo: ‘Escutai a minha voz e fazei todas as coisas que vos mando. Então sereis o meu povo, e Eu serei o vosso Deus. 5Então, ratificarei o juramento que fiz a vossos pais, de lhes entregar uma terra onde corre leite e mel, como hoje se vê.’» E eu respondi: ‘Assim seja, SENHOR.’
6O SENHOR disse-me: «Anuncia todas estas palavras nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém, dizendo-lhes: “Escutai as palavras desta aliança e ponde-as em prática. 7Desde o dia em que os fiz subir do Egipto até hoje, avisei com insistência os vossos pais, falando-lhes assim: ‘Escutai a minha voz!’ 8Eles, porém, não a escutaram, não atenderam, seguindo obstinadamente as más inclinações dos seus corações. Então executei contra eles todas as ameaças contidas nesta aliança, que lhes tinha mandado observar e que não observaram.”»
9O SENHOR disse-me: «Descobriu-se uma conjuração entre os habitantes de Judá e de Jerusalém. 10Eles tornaram às iniquidades dos seus antepassados, que se recusaram a escutar as minhas palavras; estes também servem e seguem deuses estrangeiros. A casa de Israel e a casa de Judá violaram a aliança que Eu firmara com os seus pais.»
11Por isso, assim fala o SENHOR: «Descarregarei sobre eles calamidades, às quais não poderão escapar. E, quando gritarem por mim, Eu não os atenderei. 12Então, as cidades de Judá e os habitantes de Jerusalém irão clamar aos deuses a quem ofereceram incenso. Esses deuses, porém, não os salvarão no momento da catástrofe. 13Os teus deuses, ó Judá, são tantos quantas as tuas cidades! Tantos como as ruas que tens em Jerusalém são os altares levantados à ignomínia para neles oferecerem incenso a Baal.
14Tu, pois, não intercedas por este povo, não rogues, não supliques por ele, porque no tempo da sua desgraça, quando clamarem por mim, Eu não os ouvirei.»
Israel, oliveira do Senhor
15«O que faz a minha amada na minha casa? Ela está a tecer intrigas. Acaso os teus sacrifícios e as carnes imoladas afastarão de ti as tuas desgraças, para que te glories? 16Verdejante oliveira de belos frutos, eis o nome que te dera o SENHOR. Porém, ao tumulto de um grande ruído, ateou-se-lhe fogo e queimaram-se os seus ramos.
17O SENHOR do universo, que te plantara, decretou calamidades contra ti por causa dos crimes cometidos pela casa de Israel e pela casa de Judá; irritando-me, queimaram incenso em honra de Baal.»
Confissões de Jeremias – 18O SENHOR instruiu-me e eu entendi. E então vi com clareza o seu proceder para comigo. 19E eu, como manso cordeiro conduzido ao matadouro, ignorava as maquinações tramadas contra mim, dizendo: «Destruamos a árvore no seu vigor; arranquemo-la da terra dos vivos, que o seu nome caia no esquecimento.»
20Mas o SENHOR do universo, justo juiz, sonda os rins e o coração. Que eu seja testemunha da tua vingança sobre eles, pois a ti confio a minha causa.
21Por isso, assim fala o SENHOR contra os homens de Anatot, que conspiram contra a minha vida, dizendo: «Cessa de proclamar oráculos em nome do SENHOR, se não queres morrer às nossas mãos.»
22Por tal motivo, isto diz o SENHOR do universo: «Vou castigá-los. Os jovens morrerão à espada, os seus filhos e filhas perecerão de fome. 23Ninguém escapará, porque, quando chegar o tempo do castigo, mandarei a desgraça sobre os habitantes de Anatot.»
Capítulo 12
Porque progridem os maus? (Sl 73)
1Senhor, Tu és demasiado justo para eu me queixar de ti. Mas, desejaria debater contigo sobre a justiça: Porque alcançam os maus tanto sucesso, e os pérfidos vivem tranquilos na sua malvadez? 2Tu os plantaste, e eles lançam raízes, crescem e frutificam. Estás próximo dos seus lábios, mas longe dos seus corações. 3Mas Tu, Senhor, vês-me e me conheces, examinaste os meus sentimentos a teu respeito. Arrasta esses homens como gado para o matadouro e destina-os para o dia da matança. 4Até quando permanecerá a terra de luto, e secará a erva dos campos? Por causa da maldade dos seus habitantes, perecem animais e aves. Pois eles dizem: «Não verá o que nos espera. 5Se te cansas, correndo com os que andam a pé, como poderás competir com os que vão a cavalo? Tu sentes-te em segurança numa terra tranquila, mas que farás na floresta do Jordão? 6Os teus próprios irmãos e a tua família até esses são desleais para contigo; também eles te caluniam pelas costas. Não te fies neles, mesmo que te dirijam palavras amigas.»
Deus não abandona o seu povo
7«Deixei a minha casa, abandonei a minha herança, entreguei o que me era mais querido a mãos inimigas. 8A minha herança tornou-se para mim como um leão na floresta; ela levanta contra mim a sua voz. Por isso, Eu a detestei. 9Será a minha herança como um pássaro multicolor cercado de aves de rapina? Vinde, congregai-vos, animais selvagens; vinde e devorai-a. 10Numerosos pastores destruíram a minha vinha, pisaram a minha propriedade e transformaram a minha porção mais querida num horrível deserto. 11Tornaram-na uma desolação e apresentaram-na diante de mim, enlutada e devastada. Desolada ficou toda a terra, por não haver ninguém que reconsidere no seu coração. 12De todos os cantos do deserto chegam os devastadores. A espada do Senhor dizima a terra, desde um extremo ao outro, e não há paz para nenhum vivente. 13Semearam trigo e só recolheram espinhos; fatigaram-se, mas em vão. A colheita foi decepcionante, por causa da grande cólera do Senhor.»
Os maus vizinhos de Israel – 14Isto diz o Senhor contra todos os seus maus vizinhos: «Eles usurpam a herança que reparti pelo meu povo Israel. Vou arrancá-los das suas terras, e arrancar a casa de Judá do meio deles. 15Quando, porém, os tiver arrancado, terei piedade deles e devolverei a cada um a sua herança e a sua terra.
16Se aprenderem a seguir a religião do meu povo e se jurarem ‘Pela vida do Senhor!’, tal como ensinaram o meu povo a jurar ‘Por Baal!’, então, habitarão prosperamente no meio do meu povo. 17Porém, se não me ouvirem, arrancá-los-ei pela raiz e exterminá-los-ei» – oráculo do Senhor.
Capítulo 13
A faixa de Jeremias – 1O Senhor ordenou-me: «Vai comprar uma faixa de linho e cinge com ela a tua cintura, mas não a metas na água.» 2E eu comprei a faixa, de acordo com a palavra do Senhor, e com ela me cingi.
3Foi-me dirigida, pela segunda vez, a palavra do Senhor: 4«Toma a faixa que compraste e que trazes contigo; encaminha-te para as margens do Eufrates e esconde-a ali na fenda de uma rocha.» 5Fui e escondi-a, junto do Eufrates, como o Senhor me tinha ordenado.
6Passados muitos dias, disse-me o Senhor: «Põe-te a caminho, em demanda das margens do Eufrates, a fim de buscar a faixa que, conforme as minhas ordens, ali escondeste.»
7Dirigi-me, então, ao rio e, tendo cavado, retirei a faixa do lugar onde a escondera. Vi, porém, que a faixa apodrecera e para nada mais servia.
8Então, o Senhor falou-me nestes termos: 9«Isto diz o Senhor: ‘Da mesma forma, farei apodrecer a soberba de Judá e o grande orgulho de Jerusalém. 10Este povo perverso, que recusa ouvir as minhas ordens, que segue a obstinação do seu coração e vai atrás de deuses estranhos para os servir e adorar, tornar-se-á semelhante a esta faixa, que para nada serve. 11Assim como uma faixa se liga à cintura de um homem, assim Eu uni a mim toda a casa de Israel e a casa de Judá para que fossem o meu povo, a minha honra, a minha glória e o meu orgulho. Eles, porém, não me escutaram’» –oráculo do Senhor.
O símbolo da embriaguez – 12«Vai, pois, e diz-lhes: Assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘A vasilha deve encher-se de vinho!’ Se eles te responderem: ‘Bem sabemos que toda a vasilha se deve encher de vinho!’, 13tu lhes dirás:
Isto diz o Senhor: ‘Vou encher de embriaguez todos os habitantes desta terra, os reis que se sentam no trono de David, os sacerdotes, os profetas e todos os habitantes de Jerusalém. 14Despedaçá-los-ei uns contra os outros, os pais contra os filhos. Não terei compaixão, nem piedade, nem clemência para deixar de os destruir’» –oráculo do Senhor.
A visão do exílio
15Escutai, ouvi, não vos enchais de orgulho, porque o Senhor falou. 16Dai glória ao Senhor vosso Deus, antes que surjam as trevas, e tropecem os vossos pés, nos montes cobertos de sombras. Vós esperais a luz, mas Ele transforma-a em trevas e converte-a em noite profunda. 17Se não ouvirdes isto, eu chorarei em segredo por causa do vosso orgulho, e os meus olhos chorarão amargamente por causa do rebanho do Senhor. 18Dizei ao rei e à rainha-mãe: «Humilhai-vos, sentai-vos no chão, porque caiu da vossa cabeça a coroa da vossa glória.» 19As cidades do Négueb estão fechadas, ninguém as pode abrir. Judá inteira foi deportada, e a deportação é completa.
Maldição de Jerusalém
20Levantai os olhos e vede os que chegam do Norte! Onde está o rebanho que te fora confiado, e as ovelhas de que te gloriavas? 21Que dirás, quando puserem à tua frente, para te governar, aqueles que consideravas amigos? Acaso não sentirás dores como as da mulher que vai dar à luz? 22Se disseres no teu coração: «Porque me aconteceram estas coisas?» Por causa das tuas faltas, foram levantadas as tuas vestes e maltratados os teus calcanhares. 23Pode um etíope mudar a sua própria cor, ou um leopardo as pintas da sua pele? E vós, como podereis praticar o bem, se fostes instruídos na maldade? 24Por isso, vos espalharei como a palha que o vento do deserto arrebata. 25Tal é a tua sorte, a parte que Eu te reservo porque te esqueceste de mim, e confiaste apenas na mentira – oráculo do Senhor. 26Por isso, também Eu levantarei as tuas vestes até à altura da face, e ver-se-á a tua vergonha! 27Os teus adultérios, os teus gritos de prazer, a tua luxúria infame! Nas colinas e nos campos, vi as tuas abominações. Ai de ti, Jerusalém, que não te purificas! Até quando vai isto continuar assim?
Capítulo 14
O flagelo da seca – 1A palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias acerca da seca:
2«Judá chora e as suas portas estão desoladas, inclinadas para a terra. E Jerusalém clama angustiada. 3Os seus chefes enviaram os servos à procura de água. Estes foram às cisternas, porém, não encontraram água e voltaram com os recipientes vazios; cheios de vergonha, cobrem a cabeça. 4Como o solo está ressequido e não cai chuva sobre a terra, os agricultores desesperam e cobrem o rosto de tristeza. 5Até a gazela, depois de dar à luz no campo, abandona a sua cria, porque não há verdura. 6Os asnos selvagens param nos montes e aspiram o ar, como chacais. Os seus olhos perderam o brilho, por falta de erva.»
7Ó Senhor, se as nossas iniquidades dão testemunho contra nós, age de acordo com a honra do teu nome. Na verdade, são numerosas as nossas infidelidades; pecámos contra ti. 8Esperança de Israel, seu salvador no tempo da desgraça! Porque hás-de comportar-te nesta terra como um estrangeiro, como hóspede que fica só uma noite? 9Por que razão procedeis como um homem desamparado, como um guerreiro que não pode salvar? Mas, Tu, Senhor, permaneces entre nós, e sobre nós foi invocado o teu Nome; não nos abandones!
10Isto diz o Senhor acerca deste povo: «Gostam de vaguear de um lado para o outro, não dão repouso aos seus pés.» Por isso, o Senhor não lhes tem nenhum amor. Lembrando-se das suas iniquidades, vai castigá-los por causa dos seus pecados.
Oração do povo (7,16-20;23,9-32;28;Ez 13) – 11E o Senhor disse-me: «Não intercedas em favor desse povo. 12Se jejuarem, não ouvirei os seus gemidos; se oferecerem holocaustos e oblações, não os aceitarei! Quero destruí-los pela espada, pela fome e pela peste.» 13Eu, porém, respondi: «Ah! Senhor meu Deus! Os profetas dizem-lhes: ‘A espada não vos atingirá, não passareis fome; antes, dar-vos-ei paz e segurança neste lugar.’»
14Mas o Senhor replicou: «Esses profetas falsamente vaticinam em meu nome: não os enviei, não lhes dei ordens, não lhes falei. Visões mentirosas, oráculos vãos, fantasias e enganos do seu coração, eis o que profetizam!»
15Portanto, assim fala o Senhor: «Os profetas que profetizam em meu nome, sem que Eu os tenha enviado, e que proclamam: ‘Não haverá espada nem fome nesta terra’, tais profetas perecerão pela espada e pela fome! 16E as pessoas a quem profetizaram serão lançadas nas ruas de Jerusalém, vítimas da espada e da fome. Não haverá quem os sepulte, a eles, às suas mulheres e aos seus filhos e filhas; farei recair sobre eles as suas próprias maldades.»
17Tu lhes dirás a seguinte mensagem:
«Derramem os meus olhos lágrimas noite e dia, sem descanso, porque a jovem, filha do meu povo, foi ferida com um golpe terrível, e sua chaga não tem cura!» 18Se saio aos campos, eis os mortos à espada; se regresso à cidade, eis os dizimados pela fome. Até profetas e sacerdotes vagueiam pelo país, sem nada compreenderem. 19Acaso, rejeitaste inteiramente Judá? Porventura, sentes nojo de Sião? Porque nos feriste sem esperança de cura? Esperávamos a paz, mas nada há de bom; esperávamos a hora do alívio, mas só vemos angústia!
20Senhor! Conhecemos a nossa culpa e a iniquidade dos nossos pais. Pecámos realmente contra ti. 21Mas, por amor do teu nome, não nos abandones nem desonres o trono da tua glória. Lembra-te de nós, não anules a tua aliança connosco. 22Será que algum dos ídolos dos pagãos, traz a chuva? Ou é o céu que proporciona as chuvas? Não és Tu, Senhor, o nosso Deus? Nós esperamos em ti, pois és Tu quem faz todas estas coisas.
Capítulo 15
1O SENHOR disse-me: «Ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de mim, o meu coração não se comoveria por este povo. Afasta-o para longe da minha presença! Que se retire. 2Se te perguntarem: ‘Para onde iremos?’ Responder-lhes-ás: ‘Isto diz o SENHOR:
Para a morte, os que estão destinados à morte!
Para a espada, os que estão destinados à espada!
Para a fome, os que estão destinados à fome!
Para o cativeiro, os que devem ir para o cativeiro!’
3Enviarei sobre eles quatro flagelos: a espada para os degolar, os cães para os despedaçarem, as aves do céu e as feras da terra para os devorarem e consumirem – oráculo do SENHOR. 4Farei deles um objecto de horror para todos os reinos da terra, por culpa de Manassés, filho de Ezequias, rei de Judá, por tudo o que ele fez em Jerusalém.
5Quem se compadecerá de ti, ó Jerusalém? Quem te consolará? Quem se desviará do seu caminho para perguntar por ti? 6Abandonaste-me, voltaste-me as costas. Por isso, estendi a mão sobre ti para te perder, porque estou cansado de te perdoar – oráculo do SENHOR. 7Eu hei-de joeirá-los com o crivo às portas do país; hei-de privá-los de filhos e destruirei o meu povo, por causa da sua impenitência. 8Serão mais numerosas as suas viúvas do que as areias do mar. Enviarei contra a mãe dos guerreiros um exterminador em pleno meio-dia. Farei cair sobre eles, de súbito, a angústia e o terror. 9A mãe que tinha sete filhos encheu-se de tristeza e desfaleceu; antes que findasse o dia, o Sol pôs-se para ela; ficou coberta de vergonha e consternação. Os sobreviventes, entregá-los-ei à espada, diante dos seus inimigos» – oráculo do SENHOR.
Confissões de Jeremias (11,18-23;17; 18; 20)
10Ai de mim, ó mãe, porque me deste à luz! Sou um homem de discórdia e de polémica para toda a terra! Nunca emprestei e ninguém me emprestou; no entanto, todos me maldizem. 11Na verdade, SENHOR, não te servi com fidelidade? Não intercedi em favor do inimigo junto de ti, no dia da desgraça e da aflição? 12Será possível quebrar o ferro, o ferro do Norte e o bronze? 13As tuas riquezas e os teus tesouros entregá-los-ei à pilhagem, não por interesse de uma venda, mas por causa de todos os teus pecados, em todo o país. 14Far-te-ei escravo dos teus inimigos numa terra desconhecida, porque o fogo da minha ira se acendeu e será ateado contra vós. 15Tu, SENHOR, que sabes tudo, lembra-te de mim, ampara-me, e vinga-me dos que me perseguem; que eu não seja apanhado por eles, por causa da tua paciência. Lembra-te como suporto os insultos por tua causa. 16Eu devoro as tuas palavras, onde as encontro; a tua palavra é a minha alegria, e as delícias do meu coração, porque o teu Nome, foi invocado sobre mim, ó SENHOR, Deus do universo! 17Nunca me sentei entre os escarnecedores, para com eles me divertir. Forçado pela tua mão, sentei-me solitário, porque me possuía a tua indignação. 18Porque se tornou perpétua a minha dor, e não cicatriza a minha chaga, rebelde ao tratamento? Ai! Serás para mim como um riacho enganador de água inconstante? 19Por esta razão, o SENHOR diz-me: «Se te reconciliares comigo, receber-te-ei novamente e poderás estar na minha presença. Se conseguires retirar o precioso do vil, serás como a minha boca. Serão eles, então, que virão a ti e não tu que irás a eles. 20Tornar-te-ei, para este povo, como sólida muralha de bronze. Combaterão contra ti, mas não conseguirão vencer-te, porque Eu estarei a teu lado para te proteger e salvar – oráculo do SENHOR. 21Livrar-te-ei das garras dos maus, resgatar-te-ei do poder dos opressores.»
Capítulo 16
Uma vida profética (Ez 24,15-27) –1Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos:
2«Não tomarás mulher, nem terás filhos nem filhas nesta terra; 3porque isto diz o Senhor, a respeito dos filhos e das filhas que nasceram neste lugar, das mães que os conceberam e dos pais que os geraram, nesta terra: 4‘Hão-de morrer de morte cruel, não serão lamentados nem sepultados, permanecendo como esterco sobre a face da terra; serão confundidos pela espada e pela fome, e os seus cadáveres servirão de pasto às aves do céu e aos animais da terra.’»
5Disse, ainda, o Senhor: «Não entres na casa onde haja luto, para chorar com os seus moradores, porque Eu retirei deste povo a minha paz, a minha protecção e a minha misericórdia – oráculo do Senhor. 6Morrerão nesta terra os grandes e os pequenos; não serão sepultados nem chorados; não se farão por eles incisões nem se raparão os cabelos. 7Não participarão no banquete para consolar o que chora por um defunto, nem lhes será dada a beber a taça da consolação pela morte dos seus pais. 8Não entrarás, igualmente, na casa em que houver uma festa para te sentares à mesa com os convivas, 9porque assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: ‘Eis que abafarei neste lugar, à vossa vista e em vossos dias, os gritos de alegria, os cânticos de júbilo, o canto do noivo e da noiva.’
10Se, quando anunciares ao meu povo esta mensagem, te perguntarem: ‘Porque decretou o Senhor contra nós todos estes flagelos? Que pecado ou que crime cometemos contra o Senhor, nosso Deus?’ – 11responder-lhes-ás: ‘É porque os vossos pais me abandonaram e foram atrás de deuses estranhos, para os servir e adorar, abandonando-me, e não guardaram a minha lei – oráculo do Senhor. 12Mas vós ainda fizestes pior que os vossos pais; cada um, sem me escutar, segue os maus desejos do seu coração. 13Expulsar-vos-ei deste país para uma terra que não conheceis, nem vós nem vossos pais. Ali, dia e noite, servireis aos deuses estrangeiros, porque Eu não terei compaixão de vós.’»
Libertação (23,7-8) – 14«Dias virão –oráculo do Senhor – em que não mais se dirá: ‘Pela vida do Senhor, que fez sair do Egipto os filhos de Israel!’, 15mas sim: ‘Pela vida do Senhor, que fez regressar os filhos de Israel do Norte e de todos os países por onde os tinha dispersado.’ Vou fazê-los regressar à terra que dei a seus pais. 16Vou mandar pescadores em grande número que os hão-de pescar – oráculo do Senhor. Depois disto, enviarei numerosos caçadores, que os hão-de caçar pelas montanhas e colinas e nas cavidades dos rochedos.
17Com efeito, os meus olhos estão postos sobre os seus caminhos, que não me são ocultos, nem as suas iniquidades escapam à minha vista. 18Primeiramente, pagarei a dobrar o salário das suas iniquidades e dos seus pecados, porque profanaram a minha terra e com os restos imundos dos seus ídolos encheram a minha herança de abominações.»
A conversão das nações
19Senhor, minha força, meu amparo, e meu refúgio no dia da desgraça, a ti virão nações dos confins do mundo, e exclamarão: «Realmente, os nossos pais herdaram uma mentira, uma inutilidade sem proveito.» 20Poderá o homem fabricar deuses para si? Mas, então, não são deuses! 21«Por isso, desta vez, Eu lhes mostrarei, lhes farei ver a força do meu braço, e eles saberão que o meu nome é ‘Senhor.’»
Capítulo 17
Pecado e castigo
1«O pecado de Judá está escrito com um estilete de ferro, gravado com uma ponta de diamante sobre a tábua do seu coração, e nas hastes dos seus altares. 2A lembrá-lo aos seus filhos estão os seus altares e os símbolos da deusa Achera junto das árvores verdejantes, sobre as colinas elevadas, 3e no alto dos montes; entregarei à pilhagem os teus bens, os teus tesouros e os lugares altos, por causa dos pecados que cometeste em todo o país. 4Terás que renunciar à herança que Eu te havia dado, e far-te-ei escravo dos teus inimigos numa terra que desconheces, porquanto ateaste o fogo da minha cólera, que arderá para sempre. 5Isto diz o SENHOR: Maldito aquele que confia no homem e conta somente com a força humana, afastando o seu coração do SENHOR. 6Assemelha-se ao cardo do deserto; mesmo que lhe venha algum bem, não o sente, pois habita na secura do deserto, numa terra salobra, onde ninguém mora. 7Bendito o homem que confia no SENHOR, que tem no SENHOR a sua esperança. 8É como a árvore plantada perto da água, a qual estende as raízes para a corrente; não teme quando vem o calor, e a sua folhagem fica sempre verdejante. Não a inquieta a seca de um ano e não deixará de dar fruto. 9Nada mais enganador que o coração, tantas vezes perverso: quem o pode conhecer? 10Eu, o SENHOR, penetro os corações e sondo as entranhas, a fim de recompensar cada um pela sua conduta e pelos frutos das suas acções. 11Como a perdiz que choca os ovos que não pôs, assim é o que junta riquezas fraudulentas. No meio dos seus dias terá de as deixar, e o seu fim será o de um insensato.» 12Trono sublime de glória desde princípio é o nosso santuário. 13Tu, SENHOR, és a esperança de Israel, todos os que te abandonam serão confundidos. Os que de ti se afastam serão escritos na terra dos mortos, porque deixaram o SENHOR, fonte das águas vivas.
Confissão de Jeremias (11;15;18; 20)
14Cura-me, SENHOR, e ficarei curado; salva-me e serei salvo, porque Tu és a minha glória. 15Ei-los que me interpelam: «Onde está a palavra do SENHOR? Que ela se realize agora!» 16Eu, porém, jamais te incitei a enviar-lhes a desgraça e não desejei o dia da catástrofe. Bem conheces as palavras que me saíram da boca, porque elas estão na tua presença. 17Não sejas para mim objecto de espanto, Tu que és o meu refúgio, no dia da desgraça. 18Sejam confundidos os meus inimigos mas não eu! Temam eles, e não eu! Faz recair sobre eles o dia da amargura, e esmaga-os com dupla desgraça.
Santificação do Sábado (Ne 13,15-21;Is 58,13-14) – 19Isto me disse o SENHOR: «Vai e põe-te à porta principal, por onde entram e saem os reis de Judá, e a todas as portas de Jerusalém. 20Dir-lhes-ás:
‘Escutai a palavra do SENHOR, reis de Judá, povo de Judá, e vós todos, habitantes de Jerusalém que entrais por estas portas. 21Assim fala o SENHOR: Evitai, pela vossa vida, transportar cargas no dia de sábado e introduzi-las pelas portas de Jerusalém. 22Abstende-vos de tirar cargas para fora das vossas casas no dia de sábado, nem façais trabalho servil. Mas santificai o dia de sábado, como ordenei a vossos pais. 23Eles, porém, não prestaram ouvidos, mas endureceram a sua cerviz para não me escutarem nem receberem a instrução.
24Se verdadeiramente me ouvirdes – oráculo do SENHOR – de modo que não deixeis passar nenhuma carga pelas portas da cidade, no dia de sábado, santificando este dia, sem fazer nele qualquer trabalho servil, 25então, pelas portas da cidade, continuarão a entrar, montados em carros e cavalos, reis e príncipes para ocupar o trono de David, e seus oficiais, a gente de Judá e os habitantes de Jerusalém; e esta cidade será povoada para sempre. 26Outros virão das cidades de Judá, dos arredores de Jerusalém, das terras de Benjamim, da planície, das montanhas e do Négueb para oferecer holocaustos, sacrifícios, oblações e incenso de acção de graças no templo do SENHOR.
27Mas, se não observardes os meus preceitos sobre a santificação do sábado, de não transportar cargas, de não as introduzir pelas portas da cidade no dia de sábado, porei fogo a essas portas, e ele consumirá os palácios de Jerusalém e nunca mais se apagará.’»
Capítulo 18
Jeremias e o oleiro – 1Palavra que o SENHOR dirigiu a Jeremias, nestes termos: 2«Vai, desce à casa do oleiro, e ali escutarás a minha palavra.» 3Fui, então, à casa do oleiro, e encontrei-o a trabalhar ao torno. 4Quando o vaso que estava a modelar não lhe saía bem, retomava o barro com as mãos e fazia outro, como bem lhe parecia.
5Então, foi-me dirigida a palavra do SENHOR, dizendo: 6«Casa de Israel, não poderei fazer de vós o que faz este oleiro? Como o barro nas suas mãos, assim sois vós nas minhas, casa de Israel –oráculo do SENHOR.
7Em dado momento, anuncio a uma nação ou a um reino que o vou arrancar e destruir. 8Mas, se esta nação, contra a qual me pronunciei, se afastar do mal que cometeu, também Eu me arrependerei do mal com que resolvi castigá-la. 9Igualmente decido, de repente, edificar e plantar um povo ou um reino. 10Porém, se esse povo proceder mal diante de mim e não escutar a minha palavra, hei-de arrepender-me também do bem que decidira fazer-lhe.
11Agora, pois, dirige-te à gente de Judá e aos habitantes de Jerusalém e diz-lhes: ‘Isto diz o SENHOR: Eu, o oleiro, estou a preparar uma desgraça contra vós, meditando projectos contra vós. Voltai, portanto, dos vossos maus caminhos, emendai o vosso proceder e as vossas obras.’ 12Mas eles responderão: ‘É inútil! Seguiremos os nossos pensamentos, cada um de nós agirá segundo as más inclinações do seu coração obstinado’.
13Portanto, assim fala o SENHOR: Interrogai as nações pagãs: Quem jamais ouviu semelhante coisa? Foi horrível o crime que cometeu a jovem de Israel! 14Acaso desaparecerá dos rochedos a neve do Líbano? Ou hão-de esgotar-se as águas das correntes, que deslizam frescas? 15Ora, o meu povo esqueceu-se de mim e ofereceu incenso aos ídolos que o fazem tropeçar nos seus caminhos, nos caminhos de sempre; preferem andar por atalhos, que não são estrada firme. 16Tornam a sua terra num deserto, objecto de perpétuo escárnio; quem por ela passar, estupefacto, abanará a cabeça. 17Como o vento do Oriente, Eu o dispersarei diante do inimigo; voltar-lhe-ei as costas, e não a face, no dia da desgraça.»
Confissão do profeta (11; 15; 17; 20) – 18Eles disseram: «Vinde e tramemos uma conspiração contra Jeremias, porque não nos faltará a lei se faltar um sacerdote, nem o conselho se faltar um sábio, nem a palavra divina por falta de um profeta! Vinde, vamos difamá-lo e não prestemos atenção às suas palavras!»
19SENHOR, ouve-me! Escuta o que dizem os meus adversários. 20É assim que se paga o bem com o mal? Abriram uma cova para me tirarem a vida. Lembra-te de que me apresentei diante de ti, a fim de interceder por eles e afastar deles a tua cólera. 21Por isso, entrega os seus filhos à fome, e a eles próprios, ao fio da espada. Fiquem as suas mulheres viúvas e sem filhos; que os seus maridos sejam mortos pela peste, e os seus jovens feridos à espada no combate. 22Que todos ouçam os clamores, vindos das suas casas, quando, de repente, lançares sobre eles os salteadores! Porque abriram uma cova para me prender, e armaram laços ocultos para os meus pés. 23Mas Tu, SENHOR, que conheces todos os seus planos de morte contra mim, não lhes perdoes esta iniquidade. Que o seu pecado permaneça indelével a teus olhos; caiam eles de repente na tua presença. Castiga-os no dia da tua ira.
Capítulo 19
A bilha quebrada – 1Assim fala o Senhor: «Vai e compra uma bilha de barro, leva contigo alguns anciãos do povo e anciãos dos sacerdotes, 2e dirige-te ao vale de Ben-Hinom, diante da porta da olaria, e pronuncia ali o oráculo que te vou dizer. 3Dirás então:
‘Escutai a palavra do Senhor, reis de Judá e habitantes de Jerusalém. Isto diz o Senhor do universo, Deus de Israel: Vou mandar sobre este lugar uma grande catástrofe que fará retinir os ouvidos a quem dela ouvir falar. 4Com efeito, abandonaram-me, profanaram este lugar e ofereceram incenso a outros deuses que não conheceram, nem eles, nem seus pais, nem os reis de Judá. Encheram este lugar com sangue de inocentes, 5e levantaram o lugar alto a Baal, para, em honra dele, queimarem os seus filhos em holocaustos, coisa que jamais prescrevi, nem falei, nem me veio ao pensamento.
6Por tudo isto, dias virão em que este lugar não mais se chamará Tofet, nem vale de Ben-Hinom mas sim vale de Massacre – oráculo do Senhor. 7Farei fracassar neste lugar os desígnios de Judá e de Jerusalém, exterminarei os seus habitantes com a espada dos inimigos e pela mão dos que procuram tirar-lhes a vida. Entregarei os seus cadáveres, como pasto, às aves do céu e aos animais da terra. 8Farei desta cidade objecto de pasmo e de ludíbrio, de modo que todo o que passar por ela ficará pasmado e se rirá da sua destruição. 9Dar-lhes-ei a comer a carne dos seus filhos e das suas filhas; devorar-se-ão uns aos outros nas angústias do cerco e da fome a que serão reduzidos pelos seus inimigos, pelos que buscam tirar-lhes a vida.’
10Então, na presença dos que forem contigo, quebrarás a bilha, 11exclamando: Assim fala o Senhor do universo: ‘Quebrarei este povo e a cidade como se parte um vaso de barro, que não pode mais refazer-se. E, por falta de outro lugar, serão sepultados em Tofet. 12Isto farei a este lugar e aos seus habitantes, tornando esta cidade semelhante a Tofet – oráculo do Senhor. 13As casas de Jerusalém e os palácios dos reis de Judá ficarão imundos como a terra de Tofet. Todas essas casas, em cujos terraços ofereceram incenso aos astros do céu e libações a deuses estranhos.’»
14Jeremias regressou, então, de Tofet, onde o Senhor o enviara a profetizar. De pé, no átrio do templo do Senhor, exclamou à multidão:
15«Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: Vou fazer descer sobre esta cidade e sobre todas as cidades dela dependentes, os flagelos com que as ameacei, porque endureceram a cerviz, para não escutar as minhas palavras.»
Capítulo 20
Prisão do profeta – 1Ora, o sacerdote Pachiur, filho de Émer, superintendente do templo do Senhor, ouviu o profeta Jeremias pronunciar este oráculo. 2Pachiur mandou espancar o profeta e pô-lo no cepo da prisão, que estava na porta superior de Benjamim, junto do templo do Senhor. 3No dia seguinte, quando Pachiur o mandou libertar, Jeremias disse-lhe: «O Senhor não mais te chama Pachiur, mas sim ‘Terror’ em toda a parte. 4Porque isto diz o Senhor: ‘Vou converter-te em terror para ti mesmo e para todos os teus amigos que, diante dos teus próprios olhos, perecerão à espada dos seus inimigos. E entregarei todos os de Judá nas mãos do rei da Babilónia, que os deportará para a Babilónia e os ferirá à espada. 5E entregarei todas as riquezas desta cidade, todo o fruto do seu trabalho, as suas reservas preciosas e todos os tesouros dos reis de Judá nas mãos dos seus inimigos, os quais os saquearão, tomarão e levarão para a Babilónia.
6E tu, Pachiur, serás levado com a tua família para o cativeiro. Irás à Babilónia, ali morrerás e serás enterrado, tu e todos os teus amigos, aos quais profetizaste mentiras!’»
Nova confissão de Jeremias
7Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir! Tu me dominaste e venceste. Sou objecto de contínua irrisão, e todos escarnecem de mim. 8Todas as vezes que falo é para proclamar: «Violência! Opressão!» A palavra do Senhor tornou-se para mim motivo de insultos e escárnios, dia após dia. 9A mim mesmo dizia: «Não pensarei nele mais! Não falarei mais em seu nome!» Mas, no meu coração, a sua palavra era um fogo devorador, encerrado nos meus ossos. Esforçava-me por contê-lo, mas não podia. 10Ouvia invectivas da multidão: «Cerco de terror! Denunciai-o! Vamos denunciá-lo!» Os que eram meus amigos espiam agora os meus passos: «Se o enganarmos, triunfaremos dele, e dele nos vingaremos.» 11O Senhor, porém, está comigo, como poderoso guerreiro. Por isso, os meus perseguidores serão esmagados e cobertos de confusão, porque não hão-de prevalecer. A sua ignomínia nunca se apagará da memória. 12Mas Tu, Senhor do universo, examinas o justo, sondas os rins e os corações. Que eu possa contemplar a tua vingança contra eles, pois a ti confiei a minha causa! 13Cantai ao Senhor, glorificai o Senhor, porque salvou a vida do pobre da mão dos malvados. 14Maldito seja o dia em que eu nasci! Não seja abençoado o dia em que minha mãe me deu à luz! 15Maldito seja o homem que anunciou a meu pai: «Nasceu-te um menino; alegra-te por ele!» 16Seja este homem como as cidades que o Senhor aniquilou sem piedade. Ouça gritos de manhã e o fragor da batalha ao meio-dia. 17Porque não me deu Ele a morte no ventre materno? Então, minha mãe teria sido o meu túmulo e o seu ventre permaneceria grávido para sempre! 18Porque saí do seu seio? Somente para contemplar tormentos e misérias, e consumir os meus dias na confusão?