Capítulo 1
1Palavras de Jeremias, filho de Hilquias, um dos sacerdotes que viviam em Anatot, terra de Benjamim, 2a quem foi dirigida a palavra do SENHOR no tempo de Josias, filho de Amon, rei de Judá, no décimo terceiro ano do seu reinado; 3e também no tempo de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, até ao fim do décimo primeiro ano do reinado de Sedecias, filho de Josias, rei de Judá, aquando da deportação dos habitantes de Jerusalém, no quinto mês.
Vocação de Jeremias (Jz 6,11-24; 13,1-25; 1 Sm 3; Is 6,1-13; Ez 2)
4A palavra do SENHOR foi-me dirigida nestes termos: 5«Antes de te haver formado no ventre materno, Eu já te conhecia; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei e te constituí profeta das nações.» 6E eu respondi: «Ah! Senhor DEUS, eu não sei falar, pois ainda sou um jovem.» 7Mas o SENHOR replicou-me: «Não digas: ‘Sou um jovem’. Pois irás aonde Eu te enviar e dirás tudo o que Eu te mandar. 8Não terás medo diante deles, pois Eu estou contigo para te livrar» – oráculo do SENHOR.
9Em seguida, o SENHOR estendeu a sua mão, tocou-me nos lábios e disse-me: «Eis que ponho as minhas palavras na tua boca; 10a partir de hoje, dou-te poder sobre os povos e sobre os reinos, para arrancares e demolires, para arruinares e destruíres, para edificares e plantares.»
11Depois foi-me dirigida a palavra do SENHOR nestes termos: «Que vês, Jeremias?» E eu respondi: «Vejo um ramo de amendoeira.» 12«Viste bem – disse-me o SENHOR – porque Eu vigiarei sobre a minha palavra para a fazer cumprir.»
13Foi-me dirigida, de novo, a palavra do SENHOR: «Que estás a ver?» Respondi: «Vejo uma panela a ferver, cuja fervura se volta para o lado Norte.» 14E o SENHOR retorquiu-me:
«Do Norte virá a desgraça sobre todos os habitantes do país. 15Eis que vou convocar todas as famílias dos reinos do Norte – oráculo do SENHOR. Eles virão colocar cada um o seu trono junto das portas de Jerusalém, em torno das suas muralhas e contra todas as povoações de Judá. 16Então julgá-las-ei em razão das suas maldades: por me terem abandonado para oferecer incenso a outros deuses, adorando a obra das suas próprias mãos. 17Tu, porém, cinge os teus rins, levanta-te e diz-lhes tudo o que Eu te ordenar. Não temas diante deles; se não, serei Eu a fazer-te temer na sua presença. 18E eis que hoje te estabeleço como cidade fortificada, como coluna de ferro e muralha de bronze, diante de todo este país, dos reis de Judá e de seus chefes, dos sacerdotes e do povo da terra. 19Far-te-ão guerra, mas não hão-de vencer, porque Eu estou contigo para te salvar» – oráculo do SENHOR.
Capítulo 2
Infidelidade de Israel (Is 59; Os 2)
1A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: 2«Vai e grita aos ouvidos de Jerusalém, dizendo: Assim fala o Senhor:
‘Recordo-me da tua fidelidade no tempo da tua juventude, dos amores do tempo do teu noivado, quando me seguias no deserto, na terra em que não se semeia. 3Israel era, então, propriedade sagrada do Senhor, primícias da sua colheita. Todos os que ousavam comer dela, pagavam, e sobrevinha-lhes a desgraça’ – oráculo do Senhor. 4Escutai a palavra do Senhor, casa de Jacob e todas as famílias da casa de Israel. 5Assim fala o Senhor: ‘Que injustiça encontraram em mim os vossos pais para me abandonarem, indo atrás da nulidade dos ídolos? Eles próprios se tornaram nulidade.’ 6Não se interrogaram: ‘Onde está o Senhor, que nos fez subir do Egipto, que nos conduziu através do deserto, terra de desolação e abismos, terra de aridez e de escuridão, terra por onde ninguém passa e onde ninguém habita?’ 7Introduziu-vos numa terra fértil, para comerdes os seus saborosos frutos. Mas, tendo entrado, profanastes a minha terra e fizestes abominável a minha herança. 8Os sacerdotes não se interrogaram: «Onde está o Senhor?» Os doutores da Lei não me reconheceram, os pastores revoltaram-se contra mim, e os profetas profetizaram em nome de Baal e seguiram deuses inúteis. 9Por isso, entro hoje em juízo contra vós e contra os filhos dos vossos filhos – oráculo do Senhor. 10Passai, portanto, às ilhas dos Kitim e vede; enviai gente a Quedar e informai- vos bem e vede se lá aconteceu algo de semelhante. 11Acaso troca uma nação os seus deuses? E, no entanto, aqueles não são deuses. Mas o meu povo trocou a sua glória por aquilo que não vale. 12Pasmai, ó céus, acerca disto! Tremei de espanto e de horror! – Oráculo do Senhor. 13Porque o meu povo cometeu um duplo crime: abandonou-me, a mim, nascente de águas vivas, e construiu cisternas para si, cisternas rotas, que não podem reter as águas.»
Israel abandonou o Senhor
14«Acaso Israel é um escravo nascido na própria casa? Por que razão se tornou uma presa? 15Contra ele rugiram os leões enfurecidos e reduziram a sua terra a um deserto; deixaram as suas cidades incendiadas e sem habitantes. 16Até os habitantes de Mênfis e de Taapanés te raparam a cabeça. 17Não te aconteceu tudo isto porque abandonaste o Senhor, teu Deus, quando te guiava pelo caminho? 18E agora, de que te vale correres para o Egipto, para beber água do Nilo? E de que te vale correres para a Assíria, para beber água do Eufrates? 19Sirvam-te de castigo as tuas perversidades, e de punição as tuas infidelidades. Portanto, aprende e vê quão funesto e amargo é o resultado de teres abandonado o Senhor, teu Deus, e teres perdido o meu temor» – oráculo do Senhor Deus do universo.
Israel, esposa infiel
20Desde há muito, quebraste o teu jugo, rompeste as tuas cadeias e disseste: «Não servirei.» E sobre todas as colinas elevadas, e sob todas as árvores verdejantes te reclinaste e te prostituíste. 21E Eu te plantei como vinha escolhida, planta de boa qualidade. Como degeneraste em sarmento bastardo, ó videira estranha? 22Ainda que te laves com lixívia e empregues muito sabão, as tuas culpas estarão sempre diante de mim – oráculo do Senhor deus. 23Como podes dizer: «Não me profanei, não andei atrás de Baal!» Vê teu rasto no vale, reconhece o que fizeste. És como dromedária leviana que corre sem rumo; 24jumenta selvagem acostumada ao deserto, que aspira o vento no calor da paixão. Quem a deterá nos seus ardores? Os que a buscam não se afadigarão; facilmente a encontrarão no tempo do cio. 25Cuidado para que o teu pé não se descalce e a tua garganta se não resseque. Mas tu respondeste-me: «Não vale a pena! Pois estou enamorado dos estrangeiros e quero segui-los.» 26Tal como o ladrão fica surpreendido, assim fica confundida a casa de Israel com seus reis, príncipes, sacerdotes e profetas. 27Eles dizem a um lenho: «Meu pai és tu», e a uma pedra: «Tu me geraste.» Voltaram-me as costas e não a face. Mas, no tempo da angústia, dizem: «Levanta-te e salva-nos.» 28E onde estão os deuses que fabricaste para ti próprio? Levantem-se, se te podem salvar no tempo da tua desgraça; pois os teus deuses, ó Judá, são tantos como as tuas cidades. 29Porque quereis entrar em contenda contra mim? Todos vós me fostes infiéis – oráculo do Senhor. 30Em vão castiguei os vossos filhos. Não prestaram atenção à reprimenda. A vossa própria espada dizimou os vossos profetas, qual leão devastador. 31Assim é a vossa geração! Considerai a palavra do Senhor: «Acaso tenho sido Eu um deserto para Israel, ou terra de trevas?» Por que razão diz o meu povo: «Fugimos, não mais voltaremos para ti?» 32Acaso esquece a jovem as suas jóias, e a noiva a sua cinta? Mas o meu povo esqueceu-se de mim, durante dias sem fim. 33Com que habilidade preparas o teu caminho à procura do amor! De facto, também com maldades aprendeste os teus caminhos. 34Até na orla das tuas vestes se encontrou sangue de pobres e inocentes, que, entretanto, não tinhas surpreendido em falta. Tal atitude tornar-se-á para ti em maldição. 35E ainda dizes: «Estou inocente; a sua cólera não me atingirá.» Pois bem, Eu te julgarei, por teres dito:«Não pequei!» 36Com que ligeireza mudas o teu procedimento! Envergonhar-te-ás por causa do Egipto, tal como foste envergonhada por causa da Assíria. 37Também daí sairás com as tuas mãos sobre a cabeça, já que o Senhor rejeita aqueles em quem confias e neles não terás êxito.
Capítulo 3
Início da conversão (Dt 24,1-4; Os 3)
1Diz-se: «Se um homem repudiar a sua esposa e ela, separando-se dele, tomar um outro, será que ele voltará a recebê-la? Não ficará essa terra impura e contaminada?» E tu, que te tens prostituído a inúmeros amantes, poderás voltar para mim? – Oráculo do Senhor. 2Levanta os teus olhos para os lugares altos e vê. Em qual deles te não prostituíste? Nas bermas dos caminhos te sentavas à espera deles, tal como um nómada no deserto. E profanaste a terra com os teus vícios e devassidão. 3Por causa disso, faltaram as águas e não houve as chuvas da Primavera, mas tu, prostituta descarada, nem vergonha tiveste. 4E agora mesmo clamas: ‘Meu pai, tu és o amigo da minha juventude! 5Porventura, vais conservar a tua ira para sempre?’ Tu disseste isso, mas continuaste tranquilamente, a fazer o mal.
As duas irmãs: Judá e Israel – 6No tempo do rei Josias, o Senhor disse-me: «Viste o que fez a rebelde Israel? Andou pelos altos montes para ali se prostituir sob as árvores verdejantes. 7E, depois de ter praticado tudo isto, Eu disse para comigo: ‘Há-de voltar para mim’. Mas não voltou. Judá, sua pérfida irmã, viu isto.
8E viu também que, por causa das suas infidelidades, Eu repudiei a rebelde Israel, dando-lhe o documento de repúdio. Contudo, a pérfida Judá, sua irmã, não teve temor e também ela se entregou à prostituição. 9E, com a sua luxúria, contaminou a terra e cometeu adultério, entregando-se a divindades de pedra e de madeira.
10E, não obstante tudo isto, a sua pérfida irmã, Judá, não voltou para mim com sinceridade de coração, mas apenas com perfídia» – oráculo do Senhor.
11Disse-me o Senhor: «A rebelde Israel parece uma inocente, em comparação com a pérfida Judá.»
Voltai, filhos rebeldes! (Os 14,2-9)
12«Vai e proclama, na direcção do Norte, estas palavras e diz: ‘Volta, rebelde Israel, não mais te mostrarei um semblante enfurecido – oráculo do Senhor; porque sou misericordioso, a minha ira não é eterna – oráculo do Senhor. 13Reconhece somente a tua falta, pois foste infiel ao Senhor, teu Deus, e te prostituíste com deuses estrangeiros, debaixo de toda a árvore verdejante, e não escutaste a minha voz’ – oráculo do Senhor.
14Voltai, filhos rebeldes, porque Eu sou vosso dono – oráculo do Senhor. Tomar-vos-ei um de uma cidade, e dois de uma família e hei-de reconduzir-vos a Sião. 15Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos conduzirão com inteligência e sabedoria. 16E, quando vos multiplicardes e vos tornardes numerosos na terra, então – oráculo do Senhor – não se falará mais na Arca da aliança do Senhor; não lhes virá ao pensamento, não se lembrarão nem sentirão necessidade dela e não se fará outra.
17Naquele tempo, chamarão a Jerusalém ‘Trono do Senhor’ e hão-de juntar-se a ela, a Jerusalém, em nome do Senhor, todas as nações, e não voltarão a ir atrás da maldade dos seus corações perversos.
18Naqueles dias, a casa de Judá reunir-se-á à casa de Israel e virão juntamente das regiões do Norte para a terra que dei em herança aos vossos pais.
19E Eu tinha dito: ‘Como poderei contar-te entre os meus filhos e dar-te uma terra esplêndida, uma magnífica herança, a jóia de todas as nações?’ E acrescentei: ‘Chamar-me-ás ‘Meu Pai’, e não te afastarás de mim. 20Mas, tal como a mulher infiel ao seu marido, assim tu me foste infiel, casa de Israel – oráculo do Senhor. 21Um clamor ressoa sobre as colinas: Suspiros de súplica dos filhos de Israel, porque seguiram caminhos tortuosos, esquecendo-se do Senhor, seu Deus. 22Convertei-vos, filhos rebeldes, e Eu vos curarei da vossa rebeldia.’»
Voltámos para ti (Esd 9,5-15; Ne 9,6-37; Br 1,15-3,8)
«Eis-nos: voltamos para ti, pois Tu és o Senhor, nosso Deus. 23Na verdade, são mentira os lugares altos, o clamor dos montes. Só no Senhor, nosso Deus, está a salvação de Israel. 24A ignomínia devora, desde a nossa juventude, o fruto do trabalho dos nossos pais: os seus gados e rebanhos, os seus filhos e as suas filhas. 25Dormiremos na nossa vergonha e a nossa ignomínia nos cobrirá, porque pecámos contra o Senhor, nosso Deus, nós e os nossos pais, desde a nossa juventude até hoje e não demos ouvidos à voz do Senhor, nosso Deus.»
Capítulo 4
O perdão de Deus
1«Se te queres converter, Israel, volta para mim; – oráculo do Senhor. Se afastares da minha face as tuas abominações, não andarás errante. 2Então, jurarás ‘pela vida do Senhor’, se andares na verdade, no direito e na justiça; em ti serão abençoadas as nações e em ti se gloriarão. 3Pois, assim fala o Senhor aos habitantes de Judá e Jerusalém: Cultivai o vosso campo e não semeeis entre espinhos. 4Circuncidai-vos para o Senhor, cortai a maldade dos vossos corações, homens de Judá e habitantes de Jerusalém, para que não se converta em fogo a minha cólera e arda e não haja quem o apague, por causa da perversidade das vossas obras.»
Grito de alarme em Judá
5«Anunciai em Judá, proclamai em Jerusalém, mandai tocar a trombeta pelo país; gritai em alta voz e dizei: ‘Reuni-vos e retirai-vos para as cidades fortificadas!’ 6Levantai o estandarte em direcção a Sião! Fugi apressadamente, porque vou fazer que venha do Norte uma desgraça, uma grande calamidade. 7O leão levantou-se do seu covil, o destruidor das nações pôs-se em marcha; saiu do seu refúgio, para transformar a tua terra num deserto; as tuas cidades serão destruídas e ficarão sem habitantes. 8Por isso, vesti-vos de luto, chorai e lamentai-vos, porque o ardente furor do Senhor não se afastou de nós. 9Pois, naquele dia, o coração do rei e o vigor dos chefes desfalecerá – oráculo do Senhor. Os sacerdotes serão possuídos de terror e os profetas de espanto.» 10Eu disse: «Na verdade, ó Senhor Deus, Tu enganaste este povo e Jerusalém, prometendo-lhes a paz, quando a espada nos penetrou até ao mais íntimo.»
Os invasores
11«Naquele tempo, um vento abrasador soprará dos lados do deserto em direcção à filha do meu povo, vento que não joeira nem limpa. 12Será como um furacão enviado por mim; agora vou também Eu pronunciar a minha sentença contra eles. 13Eis que se levantará como nuvem tempestuosa; os carros são como um furacão, e os seus cavalos, mais rápidos que as águias. ‘Ai de nós! Estamos perdidos!’ 14Jerusalém, purifica o teu coração da maldade, para alcançares a salvação. Por quanto tempo te manterás apegada aos teus planos de maldade? 15Eis que já se ouve uma voz vinda de Dan, a notícia da calamidade vem da montanha de Efraim. 16Proclamai-a às nações. Ei-la! Anunciai-a a Jerusalém. Os inimigos vêm de terras longínquas e lançam seus gritos de guerra contra as cidades de Judá. 17Cercam-na como guardas de campo, porque se revoltou contra mim – oráculo do Senhor. 18O teu proceder e as tuas obras te trouxeram estas desgraças. Este é o resultado da tua maldade: a amargura fere o teu coração.»
Grito de guerra
19«Ai, as minhas entranhas e o meu peito! O meu coração está em sobressalto! Não consigo estar tranquilo. Pois já ouço o som da trombeta e o alarido da guerra. 20Anunciam-se desastres sobre desastres, pois toda a terra foi devastada. De improviso, foram destruídas as minhas tendas, num instante, caíram os meus pavilhões. 21Até quando verei o estandarte e ouvirei a voz da trombeta? 22O meu povo está louco, não me conhece. São filhos insensatos, desprovidos de inteligência; são hábeis para o mal, mas incapazes de fazer o bem!» 23Olhei para a terra, e eis que tudo é um caos; e para os céus, e falta a sua luz. 24Olhei para os montes, e eis que vacilavam, todas as colinas estremeciam. 25Olhei: não havia nenhum ser humano e todas as aves do céu tinham fugido. 26Olhei de novo: a terra fértil tornara-se um deserto, todas as suas cidades tinham sido destruídas. Foi o Senhor, ao sopro da sua cólera!
Grito de Sião
27Eis, pois, o que diz o Senhor: «Toda a terra será devastada, mas não a exterminarei completamente. 28Por isso, a terra cobrir-se-á de luto e os céus serão trevas, porque assim o decretei e não me arrependerei, resolvi e não voltarei atrás.» 29Ao grito dos cavaleiros e dos arqueiros a cidade ficou desabitada; embrenharam-se nas selvas e sobem os rochedos; toda a cidade ficou abandonada, sem qualquer habitante. 30E tu, desolada, que farás agora? Ainda que te vistas de púrpura, te adornes com ornamentos de ouro e alargues os olhos com pinturas, em vão te embelezarás: os teus amantes desprezam-te, só querem tirar-te a vida. 31Ouço gritos como os da mulher, ao dar à luz, soluços como os do primeiro parto. São os clamores da filha de Sião, que geme e ergue as mãos: «Ai, ai de mim! A minha alma desfalece às mãos dos assassinos!»
Capítulo 5
Motivos da invasão (9,1-10;Is 9,7-20)
1Percorrei as ruas de Jerusalém, olhai e informai-vos; procurai nas praças, vede se nelas encontrais alguém que pratique a justiça, que busque a verdade; e Eu perdoarei à cidade. 2Mesmo quando exclamam: «Pela vida do SENHOR!», juram falso. 3Será que os teus olhos, SENHOR, não exigem a fidelidade? Tu os feriste e eles não sentiram a dor; Tu os abalaste, mas eles recusaram aceitar a correcção! A sua cabeça é mais dura do que a pedra; e recusam converter-se.
Monólogo de Jeremias
4E eu dizia para comigo: «Talvez seja somente a gente baixa e ignorante, porque não conhecem o caminho do SENHOR, a lei do seu Deus!» 5Irei procurar os grandes para lhes falar, porque estes conhecem o caminho do SENHOR, a lei do seu Deus. Mas também todos estes quebraram o jugo, e romperam os laços. 6Por isso, o leão da floresta os ferirá, o lobo do deserto os dizimará, e o leopardo os espreitará nas suas cidades; todo aquele que sair será despedaçado, porque numerosos são os seus delitos, e grande a sua rebeldia.»
Fala o Senhor
7«Como poderei perdoar-te? Os teus filhos abandonaram-me; juraram por aquele que não é de Deus. Cumulei-os de dons e eles cometeram adultério, indo, em tropel, às casas da prostituição. 8Eram garanhões bem nutridos e lascivos; cada um arde em cobiça diante da mulher do seu próximo. 9E não os punirei por estes crimes? – Oráculo do SENHOR. Não hei-de querer vingança de uma tal gente? 10Escalai os seus muros e arrasai-os, sem os destruir completamente; arrancai os seus sarmentos porque já não são do SENHOR. 11Como traidores, rebelaram-se contra mim, a casa de Israel e a casa de Judá» – oráculo do SENHOR.
Fala Jeremias
12«Renegaram o SENHOR, disseram bem alto: «Ele não vale nada; nenhum mal nos advirá, não cairão sobre nós nem a espada nem a fome. 13Os profetas são apenas vento, e a Palavra de Deus não está com eles.»
Fala o Senhor
14Por isso, assim fala o SENHOR, Deus do universo: «Por terdes dito tudo isto, Eu farei com que a minha Palavra seja fogo, na tua boca, que consumirá este povo como lenha. 15Ó casa de Israel, farei vir contra ti uma nação de longe, uma nação antiga e duradoira, uma nação cuja língua desconheces, cujas palavras não entendes – oráculo do SENHOR. 16A sua boca é como um sepulcro aberto e todos são valentes. 17Devorará as tuas searas e o teu pão, os teus filhos e as tuas filhas, os teus rebanhos e o teu gado, as tuas vinhas e as tuas figueiras; destruirá à espada as tuas cidades fortes, nas quais depositas a tua confiança.
18Contudo, mesmo nesses dias, não vos exterminarei totalmente – oráculo do SENHOR. 19Quando vos perguntardes: ‘Porque nos tratou deste modo o SENHOR, nosso Deus?’, já podereis responder: ‘Assim como me abandonastes e servistes os deuses estrangeiros, na vossa própria terra, assim também servireis os estrangeiros numa terra que não é vossa.’
20Anunciai isso à casa de Jacob, fazei-o ouvir em Judá! 21Ouve, povo ignorante e insensato! Vós que tendes olhos e não vedes, ouvidos e não ouvis, 22não temeis a minha face? – Oráculo do SENHOR. Não estremecereis diante de mim, que fixei a areia por limite do mar, fronteira eterna que não poderá ultrapassar? Por mais que se agitem as ondas, não a poderão transpor; rugirão mas não a ultrapassarão. 23Porém, este povo tem um coração indócil e rebelde; afastou-se de mim e desertou. 24Não disseram no seu coração: ‘Respeitemos o SENHOR, nosso Deus, que no tempo devido nos dá a chuva do Outono e da Primavera, e nos assegura semanas de boas colheitas.’ 25As vossas iniquidades alteram esta ordem, e os vossos pecados privaram-vos destes bens. 26Porque há perversos no meio do meu povo, que lançam armadilhas como caçadores de aves, e estendem as suas redes para apanhar os homens. 27Como gaiola cheia de aves, assim as suas casas estão cheias de rapina. Por isso, tornam-se ricos e poderosos; 28apresentam-se nédios e bem nutridos. Ultrapassam mesmo os limites do mal. Não procedem de acordo com o direito, não defendem a causa do órfão e não fazem justiça em favor dos pobres! 29Como não hei-de punir tais crimes e não me hei-de vingar de um povo como este? – Oráculo do SENHOR. 30Uma coisa horrível e espantosa ocorreu nesta terra: 31Os profetas profetizaram com mentira, os sacerdotes aplaudiam, batendo as palmas, e o meu povo mostrava-se feliz! Que acontecerá, pois, quando chegar o fim?»
Capítulo 6
Cerco de Jerusalém (Mt 24,15-22)
1Fugi, filhos de Benjamim, para longe de Jerusalém! Fazei soar as trombetas em Técua, levantai o estandarte no alto de Bet-Hacárem, porque dos lados do Norte surgiu uma desgraça, uma grande ruína. 2A filha de Sião bela e agradável, ficou reduzida ao silêncio. 3Para ela caminham pastores e seus rebanhos, e ao redor levantam as suas tendas; cada um apascenta ali a sua manada. 4Declarai-lhe a guerra santa! De pé! Vamos assaltá-la ao meio-dia! Ai de nós, porque o dia declina; porque se alargam as sombras da tarde. 5Levantemo-nos! Vamos de noite ao assalto, destruamos os seus palácios! 6Porque, assim fala o Senhor do universo: «Cortai as suas árvores, fazei delas plataformas contra Jerusalém! Esta cidade foi exterminada. Tudo nela é opressão. 7Como brota a água da nascente, assim dela brota a maldade. Violência e ruína se ouvem ali; diante de mim só há chagas e feridas. 8Emenda-te, Jerusalém, para que o meu espírito não se aparte de ti e te reduza a ruínas, a uma terra desabidade.»
O povo não quer escutar 9 Eis o que diz o Senhor do universo: «Busca, rebusca como nas vinhas, resto de Israel. Torna a passar a tua mão, como vindimador entre os sarmentos.»
10A quem falarei? A quem conjurarei para que me escute? Eles têm ouvidos incapazes de ouvir! A palavra do Senhor é-lhes maçadora, não sentem gosto por ela. 11Por isso, estou possuído da ira do Senhor, já não a posso conter. Ela derrama-se sobre o menino que vagueia pela rua, e também sobre todos os jovens. Todos serão presos: o homem e a mulher, o ancião e o idoso. 12Passarão para a posse de estranhos as suas casas, os campos e as mulheres. Pois Eu estenderei a minha mão sobre os habitantes deste país – oráculo do Senhor. 13Na verdade, desde o maior ao mais pequeno, todos se entregam à ganância desonesta; desde o profeta ao sacerdote, todos praticam a fraude. 14Tratam com negligência as feridas do meu povo, exclamando: ‘Paz! Paz!’ Mas não há paz. 15Deveriam envergonhar-se pelo seu proceder abominável, mas eles não se envergonham, nem sabem corar. Por isso, cairão, entre as vítimas; perecerão quando Eu os castigar – diz o Senhor.
16Isto diz o Senhor: «Parai no vosso caminho e vede; informai-vos sobre os caminhos de outrora e sobre o caminho da felicidade; segui por ele e encontrareis repouso. Mas eles responderam: ‘Não o seguiremos!’ 17Coloquei sentinelas junto de vós; prestai atenção ao som da trombeta. Mas eles responderam: ‘Não queremos ouvir.’ 18Portanto, ouvi, ó nações! E escuta, ó assembleia, o que lhes vai acontecer. 19Ouve, ó terra: eis que mandarei sobre este povo uma desgraça, fruto das suas más obras, porque não ouviu as minhas palavras e desprezou a minha lei. 20Que me interessa o incenso de Sabá e a canela aromática de longínquas terras? Não me agradam os vossos holocaustos, nem me comprazem os vossos sacrifícios. 21Por isso, assim diz o Senhor: Porei obstáculos a este povo, nos quais hão-de tropeçar pais e filhos; vizinhos e amigos perecerão neles. 22Assim fala o Senhor: Eis que vem do Norte um povo, uma grande nação levanta-se dos confins da terra. 23Manejam o arco e o dardo, são cruéis e sem piedade. O seu ruído assemelha-se ao bramido das ondas; montam em cavalos, estão bem organizados para combater contra ti, ó filha de Sião. 24Ao ouvir a sua fama, os nossos braços desfalecem, oprime-nos a angústia, e sentimos dores como as da mulher que está de parto. 25Não saiais para o campo, nem andeis pelos caminhos, porquanto o inimigo empunha a espada, e por toda a parte reina o pavor. 26Ó filha do meu povo, veste-te de luto, revolve-te nas cinzas. Cobre-te de luto como por um filho único; faz ouvir os teus amargos gemidos, pois de repente virá sobre nós o devastador. 27Nomeio-te como examinador sagaz do meu povo para que conheças e examines o seu proceder. 28Todos são rebeldes e caluniadores, depravados e duros, como o cobre e o ferro. 29O fole sopra, e o chumbo consumiu-se pelo fogo. Em vão fundiram e refundiram; as escórias, porém, não se desprenderam. 30Este povo será chamado ‘Prata de refugo’, porque o Senhor o rejeitou.»
Capítulo 7
Oráculo sobre o templo (26,1-24) 1A palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos: 2«Coloca-te à porta do templo do Senhor e proclama aí este discurso: “Escutai a palavra do Senhor, habitantes de Judá, que entrais por estas portas para adorar o Senhor. 3Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel:
Endireitai os vossos caminhos e emendai as vossas obras e Eu habitarei convosco neste lugar. 4Não vos fieis em palavras de mentira, dizendo: ‘Templo do Senhor, templo do Senhor! Este é o templo do Senhor’.
5Mas, se endireitardes os vossos caminhos e emendardes as vossas obras, se verdadeiramente praticardes a justiça uns com os outros, 6se não oprimirdes o estrangeiro, o órfão e a viúva, nem derramardes neste lugar o sangue inocente, se não seguirdes, para vossa desgraça, deuses estrangeiros, 7então, Eu permanecerei convosco neste lugar, nesta terra que dei desde sempre e para sempre a vossos pais.
8Contudo, eis que vos enganais a vós mesmos, confiando em palavras vãs, que de nada vos servirão.
9Roubais, matais, cometeis adultérios, jurais falso, ofereceis incenso a Baal e procurais deuses que vos são desconhecidos; 10e depois, vindes apresentar-vos diante de mim, neste templo, onde o meu nome é invocado, e exclamais: ‘Estamos salvos!’ Mas seguidamente voltais a cometer todas essas abominações. 11Porventura, este templo, onde o meu nome é invocado, é a vossos olhos, um covil de ladrões? Ficai sabendo que Eu vi todas estas coisas – oráculo do Senhor.
12Ide, portanto, ao meu templo que está em Silo onde fiz, ao princípio, morar o meu nome e vede o que lhe fiz, por causa da maldade do meu povo de Israel. 13E agora, por terdes praticado tais acções – oráculo do Senhor – porque vos falei repetidas vezes e não me escutastes, porque vos chamei e não me respondestes, 14Eu farei da casa em que é invocado o meu nome e na qual depositais a vossa confiança, deste lugar que vos dei, a vós e aos vossos pais, o mesmo que fiz de Silo: 15lançar-vos-ei para longe da minha presença, como lancei todos os vossos irmãos, toda a linhagem de Efraim.»
Deus não escuta o povo – 16«Tu, porém, não intercedas por este povo, não faças súplicas nem orações em favor deles, não insistas comigo, porque não te escutarei. 17Não vês o que eles fazem nas cidades de Judá e nas praças de Jerusalém? 18Os filhos recolhem a lenha, os pais acendem o fogo e as mulheres preparam a massa, a fim de fazerem tortas em honra da ‘Rainha do céu’; e, para irritar-me, fazem libações a deuses estrangeiros. 19Acaso é a mim que eles irritam? – Oráculo do Senhor. Não é antes a si mesmos, para sua maior vergonha?»
20Portanto, assim fala o Senhor Deus: «Eis que o furor da minha ira vai derramar-se sobre este lugar, sobre os homens e os animais, sobre as árvores dos campos e os frutos da terra. Inflamar-se-á e não se extinguirá.»
O povo não escuta o seu Deus – 21Eis o que diz o Senhor do universo, o Deus de Israel: «Acrescentai os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios. E comei a carne das vítimas; 22pois não falei aos vossos pais e nada lhes prescrevi no dia em que os fiz sair da terra do Egipto, a respeito de holocaustos e sacrifícios.
23A única ordem que lhes dei foi esta: ‘Ouvi a minha voz e Eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo; segui sempre a senda que vos indicar, a fim de que sejais felizes.’ 24Eles, porém, não me ouviram, não prestaram atenção, seguiram os maus conselhos dos seus corações empedernidos; viraram-me as costas em vez de se voltarem para mim. 25Desde o dia em que os vossos pais saíram do Egipto até hoje, Eu vos enviei todos os meus servos, os profetas, dia após dia. 26Eles, porém, não me ouviram, não me prestaram atenção; endureceram a sua cerviz e agiram pior que os seus pais.
27Tudo isto lhes transmitirás, mas não te escutarão. Chamá-los-ás e não te responderão. 28Então dir-lhes-ás: ‘Esta é a nação que não ouviu a voz do Senhor, seu Deus, não aceitou as suas advertências. A sua lealdade desapareceu, foi banida da sua boca.’
29Corta os teus cabelos de nazireu e lança-os fora. Entoa, sobre as colinas, as tuas lamentações, porque o Senhor rejeitou e abandonou esta geração, merecedora da sua ira. 30Porque os filhos de Judá praticaram o mal diante de mim – oráculo do Senhor. Colocaram ídolos abomináveis no templo em que é invocado o meu nome, profanando-o. 31Levantaram o lugar alto de Tofet, no vale de Ben-Hinom, para lá oferecerem em sacrifício os seus filhos e as suas filhas, coisa que não mandei nem me passou pela mente.
32Por isso, dias virão em que não se chamará mais Tofet, nem vale de Ben-Hinom, mas ‘Vale do Massacre’. Por falta de lugar, serão enterrados os mortos, em Tofet – oráculo do Senhor. 33Os cadáveres deste povo servirão de pasto às aves do céu e aos animais da terra, sem aparecer quem os enxote. 34Farei que não se ouça nas cidades de Judá e nas praças de Jerusalém a voz dos cânticos de alegria e de júbilo, o cantar do noivo e o cantar da noiva, porque a terra será um deserto.»
Capítulo 8
Obstinação de Judá – 1Naquele tempo, serão retirados dos seus sepulcros os ossos dos reis de Judá, os ossos dos seus príncipes e os ossos dos sacerdotes, os ossos dos profetas e os ossos dos habitantes de Jerusalém – oráculo do Senhor. 2Serão expostos ao Sol, à Lua e a todos os astros celestes, que eles tanto amaram e serviram, atrás de quem andaram, a quem consultaram e adoraram. Estes ossos não serão recolhidos, nem enterrados; permanecerão como esterco à superfície da terra.
3Os sobreviventes desta raça perversa hão-de preferir a morte à vida, em todos os lugares para onde os dispersei – oráculo do Senhor do universo.
Rebeldia de Jerusalém
4Diz-lhes: «Assim fala o Senhor: Se alguém cai, não se poderá levantar? Não poderá voltar aquele que se desviou? 5Então porque se revolta este povo, e Jerusalém persiste na rebeldia? Obstinam-se na má fé e recusam converter-se. 6Atentamente os ouvi: Não falam, porém, com sinceridade. Nenhum deles se arrepende da sua maldade, dizendo: ‘Que fiz eu?’ Retomam todos a sua corrida à semelhança do cavalo que se lança em combate. 7Até a cegonha nos ares conhece os seus tempos; a rola, a andorinha e o grou pressentem o tempo da sua migração. O meu povo, porém, não conhece a Lei do Senhor.»
Falta de sabedoria
8«Como podeis dizer: ‘Somos sábios, a Lei do Senhor está connosco’, se a pena mentirosa dos doutores da Lei transformou a Lei em mentira? 9Os sábios serão confundidos, ficarão consternados e cobertos de vergonha, por terem rejeitado a palavra do Senhor. Afinal, que sabedoria é a deles? 10Eis porque as suas mulheres serão dadas a outros, e os seus campos, aos conquistadores: porque desde o mais pequeno ao maior, todos se entregam a lucros desonestos; desde o profeta ao sacerdote, todos praticam a mentira. 11Tratam, à toa, as feridas do meu povo, dizendo: ‘Paz! Paz!’ Mas não há paz. 12Deveriam envergonhar-se pelo seu proceder abominável, mas eles não se envergonham, nem sequer sabem corar. Por isso, cairão entre as vítimas, perecerão, quando Eu os castigar – diz o Senhor. 13Vou reuni-los todos e arrebatá-los – oráculo do Senhor. Não ficará uma só uva na vinha, nem um só figo na figueira. Todas as folhas murcharão. Entregá-los-ei a quem os despoje. 14Porque estamos aqui parados? Reuni-vos, vamos para as praças fortes, para aí perecermos. Porque o Senhor, nosso Deus, decidiu que pereçamos. Faz-nos beber água envenenada, porque pecámos contra o Senhor. 15Esperávamos a paz, e nenhum bem encontrámos; um tempo de exaltação, e eis que só há terror. 16Desde Dan, ouve-se já o relinchar dos seus cavalos; toda a terra estremece com o estrépito dos seus corcéis. Chegam, destroem o país e as suas riquezas, a cidade e os seus habitantes. 17Enviarei serpentes contra vós, víboras insensíveis aos encantamentos, que vos morderão» –oráculo do Senhor.
Pranto do profeta (16,5-7)
18A minha dor é sem remédio, e o meu coração desfalece. 19Eis os gritos de angústia do meu povo, vindos de uma terra longínqua: «Porventura não está o Senhor em Sião? Não habita nela o seu rei? Por que razão me irritaram com os seus ídolos, com divindades de outros países? 20Passou a ceifa, terminou a colheita, e nós não fomos salvos.» 21Sofro com as feridas do meu povo; tudo me parece tenebroso; apoderou-se de mim a desolação. 22Porventura não haverá bálsamo em Guilead? Não se poderá encontrar lá nenhum médico? Porque não cicatriza a ferida do meu povo? 23Oh! Tivesse eu na minha cabeça um manancial, e nos meus olhos uma fonte de lágrimas! Dia e noite choraria as chagas do meu povo.
Capítulo 9
Corrupção moral de Judá (5; Ez 22)
1Quem me dera ter no deserto um albergue de viajantes! Abandonaria o meu povo e afastar-me-ia para longe dele, pois são todos uma legião de adúlteros, um bando de traidores. 2Retesam a língua como um arco, dominam o país com a mentira e não com a verdade. Vão de mal a pior; e a mim já não me conhecem – oráculo do Senhor. 3Cada um de vós guarde-se do seu amigo. Nem mesmo no irmão vos deveis fiar, porque todo o irmão procura suplantar o irmão, e todo o amigo calunia o seu amigo. 4Enganam-se uns aos outros; não há verdade nas suas palavras; habituaram a língua à mentira. É gente corrompida, incapaz de converter-se. 5Fraude e mais fraude, falsidade e mais falsidade! Recusam conhecer-me – oráculo do Senhor. 6Por isso, eis o que diz o Senhor do universo: «Vou fundi-los no crisol para os provar. Que outra coisa poderei fazer com o meu povo? 7As suas línguas são setas mortíferas, só há maldade nas palavras da sua boca. Todos falam de paz ao seu próximo, mas no íntimo armam-lhe ciladas. 8Não deverei castigá-los por causa disto? Não me hei-de vingar de semelhante nação?» – Oráculo do Senhor.
Lamentação sobre Sião
9«Chorareis e gemereis sobre os montes, entoareis cânticos fúnebres sobre as pastagens do deserto; porque o fogo devorou estes lugares e já ninguém passa por eles; não se ouve mais o balir dos rebanhos; desde as aves do céu e até aos animais tudo fugiu e desapareceu. 10Reduzirei Jerusalém a um montão de pedras, a um covil de chacais; as cidades de Judá, a um deserto, onde mais ninguém habitará. 11Quem é o homem sábio que entende estas coisas, a quem se dirige a palavra do Senhor, que pode explicar porque é que foi destruído este país, queimado como um deserto, por onde ninguém passa?»
12O Senhor disse: «Porque abandonaram a lei que lhes dei, não ouviram a minha voz, nem a seguiram; 13foram atrás da obstinação do seu coração, atrás dos ídolos de Baal, que os seus pais lhes deram a conhecer.»
14Por isso, diz o Senhor do universo, o Deus de Israel: «Hei-de alimentá-los com absinto e dar-lhes-ei a beber água envenenada. 15Dispersá-los-ei entre as nações, que nem eles nem os seus pais conheceram, e enviarei contra eles uma espada que os abaterá até ao extermínio.» 16Assim fala o Senhor do universo:
«Procurai chamar carpideiras. Que venham! Mandai buscar as mais hábeis! Que compareçam! 17Não tardem e entoem sobre nós as suas lamentações. Derramem lágrimas os nossos olhos, vertam pranto as nossas pálpebras. 18Porque de Sião ouve-se um grito de dor. Que desolação! Que vergonha! Expulsam-nos das nossas terras, lançam-nos fora das nossas casas! 19Ouvi, pois, mulheres, a palavra do Senhor; compreendam os vossos ouvidos a palavra da sua boca! Ensinai às vossas filhas esta lamentação; cada uma ensine à sua companheira este canto fúnebre: 20‘A morte subiu pelas nossas janelas, introduziu-se nos nossos palácios. Exterminou as crianças nas ruas e os jovens, nas praças públicas!’» 21Proclama assim o oráculo do Senhor: «Os cadáveres dos homens caíram como esterco sobre os campos, como feixes atrás do ceifeiro, e ninguém os recolhe.»
A verdadeira sabedoria
22Assim fala o Senhor: «Não se envaideça o sábio do seu saber, nem o forte da sua força, nem se glorie o rico da sua riqueza! 23Aquele, porém, que se quiser gloriar, glorie-se nisto: em ter entendimento e conhecer-me a mim, que Eu sou o Senhor, que exerço a misericórdia, o direito e a justiça sobre a terra. Nisto me comprazo – oráculo do Senhor. 24Dias virão em que Eu pedirei contas a todos os circuncidados – oráculo do Senhor. 25Ao Egipto, a Judá, a Edom, aos filhos de Amon, a Moab e a todos os que habitam no deserto e rapam os cabelos. Todos estes povos são incircuncisos, mas os israelitas são incircuncisos de coração.»
Capítulo 10
O Senhor e os ídolos (Sl 115; Is 44,9-20; Br 6)
1Ouvi, ó casa de Israel, a palavra que o Senhor vos dirige. 2Assim fala o Senhor: «Não imiteis o procedimento dos pagãos, nem temais os sinais celestes, como temem os pagãos. 3De facto, a religião desses povos não é nada. É apenas madeira cortada na floresta, obra trabalhada pelo cinzel do artista, 4adornada com prata e com ouro; fixam-nos com pregos e a golpes de martelo para que não se movam. 5Estes deuses assemelham-se a espantalhos num campo de pepinos. Devem ser conduzidos, pois não caminham. Não os temais, pois não podem fazer mal, nem podem fazer bem.» 6Ninguém há semelhante a ti, Senhor! Tu és grande! Grande é o teu nome e o teu poder. 7Quem não te temerá, rei dos povos? A ti é devido todo o respeito, porque entre os sábios dos povos pagãos e nos seus reinos, ninguém se assemelha a ti. 8Eles são néscios e insensatos e os seus ensinamentos não passam de um pedaço de madeira; 9prata batida, importada de Társis, ouro de Ufaz, trabalho de escultor e de ourives, revestido de púrpura e de jacinto: tudo isto é obra de artistas. 10O Senhor, porém, é verdadeiramente Deus, Deus vivo, rei eterno. A terra treme diante da sua cólera, e os povos pagãos não podem suportar a sua ira. 11Dizei-lhes, portanto: «Os deuses que não fizeram o céu e a terra desaparecerão da terra e de debaixo dos céus. 12Só Ele criou a terra pelo seu poder, consolidou o mundo pela sua sabedoria e estendeu os céus pela sua inteligência. 13Ao som da sua voz, reúnem-se as águas nos céus e as nuvens elevam-se dos confins da terra; faz que apareçam relâmpagos no meio das chuvas, solta os ventos dos seus reservatórios. 14Então, todo o homem se tem por néscio e imbecil, todo o artista tem vergonha do ídolo que concebeu, porque fundiu apenas falsidade, desprovida de vida. 15São apenas nada, obras ridículas, que perecerão no dia do castigo. 16Quão diferente deles é o Deus de Jacob, pois foi Ele quem tudo criou; Israel é a tribo de sua propriedade. O seu nome é ‘Senhor do universo.’»
O povo será disperso (23,1-8; Ez 34)
17Apanha da terra o teu fardo, tu que habitas na cidade sitiada! 18Porque assim falou o Senhor: «Desta vez, atirarei para longe os habitantes desta terra e os atribularei para que me encontrem.»
19Ai de mim, por causa da minha ferida! É incurável a minha chaga! Mas eu disse: «Este é o meu castigo, devo suportá-lo. 20A minha tenda foi devastada, todas as suas cordas se quebraram. Os meus filhos abandonaram-me, já não existem; não tenho ninguém para me levantar a tenda, nem para estender os meus panos. 21Na verdade, os pastores foram insensatos, não buscaram o Senhor. Por isso, não prosperaram e os seus rebanhos dispersaram-se. 22Eis que já se ouve um grande rumor, e se avizinha o eco de um imenso tumulto que vem da direcção do Norte, para reduzir as cidades de Judá a um deserto e a um covil de chacais. 23Bem sei, Senhor, que o homem não é dono do seu destino, e o caminhante não pode dirigir os seus passos. 24Castiga-me, Senhor, mas com equidade, não na tua ira, para que não seja reduzido a nada. 25Derrama o teu furor sobre as nações que te desconhecem, sobre as tribos que não invocam o teu nome, porque devoraram Jacob, consumiram-no e devastaram os seus campos.»