Capítulo 41

A vocação de Ciro (45,1-8)

1Povos das ilhas, guardai si­lên­cio perante mim; povos das nações, enchei-vos de coragem! Aproximai-vos e falai, vamos comparecer juntos em tri­bunal. 2Quem é que o suscitou do Oriente e lhe concede a vitória, a cada passo? Quem lhe entrega as nações e lhe submete os reis? A sua espada redu-los a pó, e o seu arco dispersa-os como palha. 3Persegue-os e avança seguro, sem pisar os caminhos com os seus pés. 4Quem, portanto, realizou tudo isto? É aquele que anuncia o futuro de antemão. Sou Eu mesmo, o Senhor, que sou o primeiro, e estou também com os últimos. 5Povos das ilhas, vede-o e tremei; povos dos confins da terra, estre­mecei! 6Um ajuda o outro e cada qual diz ao seu companheiro: «Coragem!» 7O cinzelador estimula o ourives, o que trabalha com o martelo encoraja o que está à bigorna. Dizem da soldadura: «Bom tra­ba­lho!» Depois seguram o ídolo com rebi­tes para que não se mova.


Deus está com Israel

8Quanto a ti, Israel, meu servo, Ja­cob, meu eleito, linhagem de Abraão, meu amigo, 9fui buscar-te aos confins da terra, chamei-te das regiões remotas. Eu disse-te: Tu é que és o meu servo. Foi a ti que Eu escolhi e não te re­jeitarei. 10Nada temas, porque Eu estou con­tigo; não te angusties, porque Eu sou o teu Deus. Eu fortaleço-te e auxilio-te; e amparo-te com a minha mão direita e vitoriosa.


Os inimigos são aniquilados

11Olha: serão confundidos e derro­tados os que se enfurecem contra ti; serão aniquilados e destruídos os que lutam contra ti. 12Buscarás, mas não encontrarás os que lutam contra ti. Serão destruídos e reduzidos a nada os que te combatem. 13Porque Eu, o Senhor, teu Deus, tomo-te pela mão, e digo-te: ‘Não tenhas medo, Eu mesmo te ajudarei!’ 14Não tenhas medo, pobre verme­zinho de Jacob, mísero insecto de Israel. Eu próprio te ajudarei – oráculo do Senhor. O teu redentor é o Santo de Is­rael. 15Farei de ti uma grade aguçada, nova e armada de dentes; trilharás as montanhas e as tri­tu­rarás. Reduzirás a palha as colinas. 16Tu as joeirarás e levá-las-á o vento, e o vendaval as espalhará. Exultarás, então, no Senhor, gloriar-te-ás no Santo de Israel.


Descrição do novo Êxodo

17Os pobres e os necessitados bus­cam água e não a encontram. Têm a língua ressequida pela sede. Mas Eu, o Senhor, os atenderei; Eu, o Deus de Israel, não os aban­donarei. 18Farei brotar rios nos morros escalvados e fontes do fundo dos vales. Transformarei o deserto num re­servatório e a terra árida em arroios de água. 19Plantarei no deserto cedros e acá­cias, murtas e oliveiras. Farei crescer na terra seca o ci­preste, ao lado do ulmeiro e do buxo, 20para que vejam e saibam, considerem e compreendam, de uma vez por todas, que é a mão do Senhor que faz estas coisas, que o Santo de Israel as realizou.


Desafio aos falsos deuses

21Vinde e preparai a vossa defesa, diz o Senhor; alegai os vossos argumentos, diz o rei de Jacob. 22Aproximai-vos e anunciai-nos o que vai acontecer. Narrai-nos as vossas predições do passado para que prestemos atenção; anunciai-nos o futuro, dizei-nos o que vai acontecer. 23Anunciai os acontecimentos fu­tu­­ros, e saberemos que sois deuses. Fazei qualquer coisa de bom ou de mau, para que possamos ajuizar e ver. 24Olhai, nada sois; as vossas obras nada são; é abominável escolher-vos. 25Eu fi-lo surgir do Norte, e ele já vem. Chamei-o pelo seu nome, no Orien­te; ele calcará aos pés os governan­tes, como se calca o barro, como o oleiro, quando amassa a argila. 26Quem, antes, o predisse para que se soubesse? Quem o preanunciou, para que se diga: «É exacto?» Ninguém o anuncia, ninguém o comenta, ninguém ouve os vossos discursos. 27Eu fui o primeiro a anunciá-lo em Sião e enviei a Jerusalém um arauto com a boa-nova. 28Procurei, mas não encontrei nin­guém entre eles, nenhum conselheiro a quem per­guntar para me informar. 29Todos juntos nada são, as suas obras são uma nulidade, e os seus ídolos são ar e vento.

Capítulo 42

Primeiro cântico do Servo (42,1-4; ver 49,1-6; 50,4-11; 52,13-53,12)

1«Eis o meu servo, que Eu am­­paro, o meu eleito, que Eu preferi. Fiz repousar sobre ele o meu es­pírito, para que leve às nações a ver­da­deira justiça. 2Ele não gritará, não levantará a voz, não clamará nas ruas. 3Não quebrará a cana rachada, não apagará a mecha que ainda fumega. Anunciará com toda a fidelidade a verdadeira justiça. 4Não desanimará, nem desfale­cerá, até estabelecer na terra o direito, as leis que os povos das ilhas es­peram dele. 5Eis o que diz o Senhor Deus, que criou os céus e os estendeu, que consolidou a terra com a sua vegetação, que deu vida aos seus habitan­tes, e o alento aos que andam por ela. 6Eu, o Senhor, chamei-te por cau­sa da justiça, segurei-te pela mão; formei-te e designei-te como alian­ça de um povo e luz das nações; 7para abrires os olhos aos cegos, para tirares do cárcere os prisio­neiros, e da prisão, os que vivem nas tre­vas. 8Eu sou o Senhor, este é o meu nome, a ninguém cedo a minha glória, nem aos ídolos a honra que me é devida. 9Os primeiros acontecimentos já se cumpriram. Agora anuncio algo de novo e comunico-o a vós antes que acon­teça.»


Cântico de libertação (Sl 96; 98)

10Cantai ao Senhor um cântico novo, louvai-o desde os confins da terra. Que o mar o cante e tudo o que ele contém, as ilhas com os seus habitantes! 11Alegre-se o deserto com as suas tendas, os acampamentos dos que habi­tam em Quedar! Clamem com alegria os povos de Petra; soltem gritos de alegria do alto das montanhas. 12Dêem glória ao Senhor, anunciem nas ilhas distantes o seu louvor. 13O Senhor avança como um he­rói, como um guerreiro acende o seu ardor; lança o grito de guerra, caminha com valentia contra os seus inimigos. 14Desde há muito tempo que guar­do silêncio, que permaneço calado e me con­tenho. Agora grito como a parturiente, estou ofegante e oprimido. 15Vou devastar montanhas e coli­nas, secar toda a sua verdura, transformar os rios em terras ári­­­das e secar os lagos. 16Vou levar os cegos por um cami­nho que não conhecem, e guiá-los por carreiros que igno­ram. Mudarei diante deles as trevas em luz, e os caminhos pedregosos, em pla­­nos. É isto o que penso fazer e não deixarei de o fazer. 17Retrocederão, depois, cheios de ver­­­gonha, os que põem a confiança nos ído­los e que dizem às estátuas: «Vós sois os nossos deuses!»


Cegueira de Israel

18Surdos, ouvi! Cegos, olhai e vede! 19Quem é cego, senão o meu servo? E quem é surdo, senão o meu men­sageiro? Quem é cego como o meu enviado? Quem é surdo como o servo do Se­nhor? 20Tu vias muitas coisas, mas sem as entenderes, tinhas os ouvidos abertos, mas não as compreendias. 21O Senhor, por amor ao seu plano, queria glorificar e engrandecer a sua lei. 22Mas são um povo saqueado e des­­pojado. Todos os seus valentes foram acor­rentados e encerrados nos cárceres. Eram saqueados e ninguém os libertava, eram despojados e ninguém di­zia: «Restitui!» 23Quem de vós prestará atenção a estas coisas? Quem está atento para pers­cru­tar o futuro? 24Quem entregou Jacob aos sa­quea­­dores, e Israel aos devastadores? Não foi o Senhor contra quem pe­cámos? Pois não quiseram seguir os seus caminhos, nem respeitar as suas leis. 25Por isso, descarregou sobre eles a sua cólera e a violência da guerra; rodeou-o de chamas, mas ele não compreendeu, incendiou-o, mas ele não fez caso.

Capítulo 43

Deus quer resgatar Israel

1E agora, eis o que diz o Se­nhor, o que te criou, ó Jacob, o que te formou, ó Israel: «Nada temas, porque Eu te res­gatei, e te chamei pelo teu nome; tu és meu. 2Se tiveres de atravessar as águas, estarei contigo, e os rios não te submergirão. Se caminhares pelo fogo, não te queimarás, e as chamas não te consumirão. 3Porque Eu, o Senhor, sou o teu Deus; Eu, o Santo de Israel, sou o teu salvador. Entrego o Egipto por teu resgate, a Etiópia e Seba em troca de ti. 4Visto que és precioso aos meus olhos, que te estimo e te amo, entrego reinos em teu lugar, e nações, em vez da tua pessoa. 5Não tenhas medo, que Eu estou contigo. Trarei do Oriente os teus filhos e congregarei do Ocidente os que te pertencem. 6Direi ao Norte: ‘Devolve-os!’ E ao Sul: ‘Não os retenhas!’ Tragam-me os meus filhos lá de longe e as minhas filhas dos confins da terra. 7São todos aqueles que têm o meu nome, que Eu criei para a minha glória, que Eu fiz e formei.»


Vós sois minhas testemunhas

8«Fazei comparecer este povo ce­go, apesar de ter olhos, e surdo, apesar de ter ouvidos. 9Juntem-se todas as nações e reúnam-se os povos. Quem, de entre eles, anunciou es­tas coisas, e quem predisse o que ia acon­tecer? Apresentem testemunhas para se justificarem, e, ouvindo-as, se possa dizer: ‘É verdade!’ 10Vós é que sois as minhas teste­munhas – oráculo do Senhor. Vós é que sois os meus servos, os que Eu escolhi, para reconhecerem, acreditarem e compreenderem que Eu é que sou Deus. Antes de mim, não havia deus ne­nhum, e depois de mim também não ha­verá. 11Eu e só Eu é que sou o Senhor. Não há outro salvador além de mim. 12Eu é que predisse e salvei. Eu é que anunciei, e não há nenhum outro no meio de vós. Vós sois as minhas testemunhas – oráculo do Senhor. Eu é que sou Deus. 13Eu sou esse Deus desde sempre, e não há nada que possa subtrair ninguém da minha mão; o que faço, quem o poderá des­fazer?»


Salvação de Israel e ruína da Babilónia

14Eis o que diz o Senhor, aquele que vos liberta, o Santo de Israel: «Por vossa causa, mandei uma ex­­pedição à Babilónia, fiz cair os ferrolhos dos cárceres, e os caldeus lamentam-se em al­tos brados. 15Eu sou o Senhor, o vosso Deus Santo, o criador de Israel, o vosso rei.» 16Assim fala o Senhor, que outrora abriu um caminho através do mar, uma estrada nas torrentes das águas; 17que pôs em campanha carros e cavalos, tropa de soldados e chefes; caíram para nunca mais se le­vantarem, extinguiram-se como um pavio que se apaga: 18«Não vos lembreis dos aconteci­mentos de outrora, não penseis mais no passado, 19pois vou realizar algo de novo, que já está a aparecer: não o no­tais? Vou abrir um caminho no de­serto e fazer correr rios na estepe. 20Glorificar-me-ão os animais sel­va­gens, os chacais e as avestruzes, porque hei-de fazer brotar água no deserto e rios na terra árida, para dar de beber ao meu povo, o meu eleito, 21o povo que Eu formei para mim, e assim hão-de proclamar os meus louvores.»


Processo contra Israel

22«Mas tu, Jacob, não era a mim que invocavas, não era por mim que te esfor­ça­vas, Israel. 23Não me oferecias ovelhas em ho­locausto, nem me honravas com os teus sacrifícios. Também não exigi de ti ofertas nem te importunei, pedindo-te in­­censo. 24Não me compravas canela com di­nheiro nem me satisfazias com a gordu­ra das tuas vítimas, antes, me atormentavas com os teus pecados e me cansavas com as tuas ini­qui­dades. 25Eu, porém, é que apagava as tuas faltas, por mim, não me lembrava dos teus pecados. 26Recorda-me o que tens contra mim e discutiremos, conta-mo para ver se tens razão. 27Já o teu primeiro pai pecou, e os teus chefes ofenderam-me. 28Por isso, tornei profanos prínci­pes consagrados, entreguei Jacob ao extermínio e Israel aos insultos.»

Capítulo 44

Deus consola Israel

1«Mas agora ouve-me, Ja­cob, meu servo, Israel a quem escolhi: 2Eis o que diz o Senhor que te criou, que te formou desde o seio ma­terno e te socorre: «Nada temas, Jacob, meu servo, e Jechurun, que Eu escolhi. 3Vou derramar água sobre o que tem sede e fazer correr rios sobre a terra árida. Vou derramar o meu espírito so­bre a tua posteridade e a minha bênção sobre os teus descendentes. 4Crescerão como erva junto das fontes, como salgueiros junto das águas correntes. 5Um dirá: ‘Eu sou do Senhor’; outro reclamará para si o nome de Jacob; outro se tatuará no braço: ‘Pertenço ao Senhor’, e receberá o sobrenome de Israel.»


Só o Senhor é Deus

6Eis o que diz o Senhor, rei de Israel, o seu redentor, o Senhor do uni­verso: «Eu sou o primeiro e o último. Não há outro Deus além de mim. 7Quem há semelhante a mim? Que se apresente e fale! Que explique e me exponha quem é que desde sempre anun­ciou o futuro e predisse o que deve ainda acon­tecer. 8Não temais, não vos perturbeis! Não vo-lo anunciei e predisse há muito tempo? Vós sois testemunhas: acaso há outro Deus além de mim? Não há outro Rochedo, que Eu saiba.»


Sátira contra os ídolos (Sb 13-15;Jr 10,1-16)

9Os fabricantes de ídolos nada são, as suas imagens preciosas nada valem. Os seus devotos nada vêem e nada compreendem; por isso ficam confundidos. 10Porquê modelar um deus ou fazer uma imagem, se não serve para nada? 11Olhai! Todos os seus fiéis serão confundidos, pois os artistas que os fabricam são apenas homens. Que se congreguem e compare­çam todos! Ficarão assustados e confundidos. 12O ferreiro trabalha-o na bi­gorna, vai-o modelando com o martelo e trabalha-o com braços robus­tos. Passa fome, cansa-se, não bebe e fica esgotado. 13Quanto ao que trabalha com a madeira, toma as medidas, faz o esboço a lápis, desbasta a madeira com o formão, modela-a com a lima e dá-lhe figura de homem e be­leza humana, para a pôr a habitar num templo. 14Escolhe-se um cedro para cortar, ou uma azinheira ou um carvalho, que se deixam crescer entre as árvores da floresta; ou planta-se um cipreste que cresce com a chuva. 15As pessoas usam essa madeira para o lume, para se aquecerem ou cozerem o pão para matar a fome. Porém ele faz um deus e adora-o, fabrica uma imagem e prostra-se diante dela. 16Queima no fogo metade desta ma­deira, assa a carne sobre as brasas e come-a até se saciar. Depois, aquece-se e diz: «Bom! Estou quente e tenho luz!» 17Do resto faz a imagem de um ídolo, adora-o e dirige-lhe esta oração: «Salva-me, porque tu és o meu deus!» 18Eles não compreendem, nem per­cebem; têm olhos para ver e não vêem; têm mente, mas não entendem; 19não reflectem, não têm bom senso nem inteligência para dizer: «Queimei metade no fogo, cozi pão sobre as brasas, assei carne e comi-a. Vou agora fazer do resto uma coisa abominável e prostrar-me diante de um pe­daço de madeira?» 20Esta gente alimenta-se de cinzas, e o seu coração, extraviado, de­sen­caminha-os. Não consegue salvar-se, dizendo: «Não será um puro engano o que tenho na minha mão di­reita?»


Convite à conversão

21Lembra-te destas coisas, Jacob, porque tu és o meu servo, ó Is­rael. Formei-te, como meu servo, ó Is­rael; não serás esquecido por mim. 22Dissipei as tuas revoltas como uma névoa e os teus pecados como uma nu­vem. Volta para mim, porque Eu te res­gatei. 23Cantai, ó céus, a obra do Se­nhor! Exultai de alegria, ó profundezas da terra! Saltai de júbilo, vós, montanhas, e tu, bosque, com todas as tuas ár­vores, porque o Senhor resgatou Jacob, manifestou a sua glória em Is­rael.


O poder de Deus

24Eis o que diz o Senhor, o teu redentor, que te formou no ventre materno: «Eu sou o Senhor que fiz todas as coisas, sozinho estendi os céus e firmei a terra. Quem me ajudava? 25Eu anulo os presságios dos magos, ponho a ridículo os adivinhos, faço retratar os sábios, demonstro que a sua sabedoria é ignorância. 26Mas realizo a palavra dos meus servos, faço cumprir o que predizem os meus enviados. Digo a Jerusalém: ‘Serás habi­tada!’ E às cidades de Judá: ‘Sereis reedificadas!’ Hei-de levantar as suas ruínas. 27Digo ao abismo do mar: ‘Seca-te! Vou secar as tuas tor­rentes!’ 28Digo a Ciro: ‘És o meu pastor’; e ele cumprirá em tudo a minha von­tade. Digo a Jerusalém: ‘Serás reedi­fi­cada!’ E ao templo: ‘Serás reconstruído!’»

Capítulo 45

Investidura de Ciro (41,1-5; 48,12-19)

1Eis o que diz o Senhor a Ciro, seu ungido, a quem tomei pela mão direita: «Vou derrubar as nações diante de ti, desatar o cinturão dos reis, abrir-te as portas da cidade, sem que nenhuma te seja fechada. 2Irei diante de ti para te aplanar os caminhos pedregosos, despedaçarei as portas de bronze, quebrarei as portas de ferro. 3Dar-te-ei tesouros enterrados e riquezas escondidas; para que saibas que Eu sou o Se­nhor, o Deus de Israel, que te chama pelo nome. 4Por amor do meu servo Jacob e de Israel que escolhi, chamei-te pelo teu nome e dei-te um título, embora não me conhecesses. 5Eu sou o Senhor e não há outro, não existe outro Deus além de mim. Concedo-te a insígnia do poder, embora não me conheças. 6Assim saberão, do Oriente ao Ocidente, que não há outro fora de mim. Eu é que sou o Senhor. Não há outro. 7Formo a luz e crio as trevas, dou a felicidade e mando a in­fe­licidade. Eu sou o Senhor, que faço todas estas coisas. 8Destilai, ó céus, lá das alturas o orvalho, e que as nuvens façam chover a justiça. Abra-se a terra para que floresça a salvação e germine igualmente a justiça. Eu sou o Senhor, que criou tudo isto.»


O barro e o oleiro (Jr 18,1-17)

9Ai do simples vaso de argila que discute com o seu artífice! Acaso o barro diz para o oleiro: «Que estás tu a fazer?» Ou: «A tua vasilha não tem asas?» 10Ai do que diz a um pai: «Porque geraste?» E a uma mãe: «Porque deste à luz?» 11Eis o que diz o Senhor, que é o Santo de Israel e aquele que formou o seu povo: «Pretendeis pedir-me contas acer­ca dos meus filhos e dar-me ordens acerca da obra das minhas mãos? 12Eu é que fiz a terra e criei nela os homens. Foram as minhas mãos que esten­deram os céus, e sou Eu que comando todo o seu exército. 13Eu é que o suscitei para a jus­tiça e aplanarei todos os seus cami­nhos. Ele reconstruirá a minha cidade e libertará os meus desterrados, sem nada exigir como recompensa ou suborno.» É o Senhor do universo que o declara.


Conversão dos pagãos

14Eis o que diz o Senhor: «Os trabalhadores do Egipto, os comerciantes da Etiópia, e os sabeus de grande estatura, passarão para a tua terra e serão teus. Desfilarão atrás de ti acorren­ta­dos, prostrar-se-ão diante de ti e te suplicarão: ‘Não há outro Deus senão o teu; os outros não são nada.’»


O Deus escondido

15Na verdade vós sois um Deus es­condido, o Deus de Israel, o salvador. 16Os fabricantes de ídolos retiram-se cheios de vergonha, confundidos e cobertos de igno­mí­nia. 17Mas Israel será salvo pelo Se­nhor com uma salvação eterna, para que não se envergonhe, nem seja confundido até ao fim dos tempos. 18Eis o que diz o Senhor, criador dos céus, o Deus que formou a terra e a consolidou, que não a criou em caos, mas pronta para ser habitada: «Eu é que sou o Senhor e não há outro.» 19Não te falei às ocultas num país tenebroso. Não disse à linhagem de Jacob: «Procurai-me no vazio.» Eu sou o Senhor, que pronuncio a sentença justa, e anuncio o que é recto. 20Congregai-vos, vinde, aproximai-vos todos juntos, sobreviventes no meio das nações! Nada disto compreendem os que trazem o seu ídolo de ma­deira, e oram a um Deus incapaz de os salvar. 21Declarai, apresentai provas, consultai-vos uns aos outros. Quem anunciou estas coisas há muito tempo? Quem o revelou desde então? Não fui Eu, o Senhor? Não há outro Deus além de mim. Eu sou um Deus justo e salvador, e não há nenhum outro. 22Voltai-vos para mim e sereis sal­vos, vós que habitais nos confins da terra, porque Eu sou Deus e não há ne­nhum outro. 23Juro por mim mesmo, e o que digo é verdadeiro, é uma palavra irrevogável: «Todo o joelho se dobrará diante de mim, toda a língua jurará por mim.» 24Dirão: «Só no Senhor residem a justiça e a força.» Até Ele hão-de acorrer envergo­nhados todos os que contra Ele se tinham levantado. 25No Senhor triunfará e se gloriará toda a descendência de Israel.

Capítulo 46

Queda dos ídolos da Babi­lónia (Dn 14)

1O deus Bel curva-se e Nebo é aba­tido. As suas imagens são postas so­bre animais e bestas de carga, e as estátuas que levais deixam os animais esgotados. 2Os deuses curvam-se e abatem-se, incapazes de salvar os que os car­regam. Até eles próprios vão para o cati­veiro. 3Ouvi-me, casa de Jacob, e vós todos, sobreviventes da casa de Israel, vós a quem Eu trouxe ao colo des­de o vosso nascimento, desde que a vossa mãe vos deu à luz. 4Até à vossa velhice Eu serei o mesmo, sustentar-vos-ei até virem as cãs. Como já fiz, continuarei a fazê-lo. Cuidarei de vós e hei-de livrar-vos. 5A quem podereis comparar-me ou igualar-me? Quem poderá assemelhar-se a mim ou comparar-se comigo? 6Há os que tiram o ouro das suas bolsas e pesam a prata na balança, depois ajustam com o ourives para que lhes façam um deus, diante do qual se prostram e até o adoram. 7Levam-no às costas e transpor­tam-no. Onde o colocam, ali fica sem se mexer do lugar. Por mais que lhe gritem, não res­ponde, não os salva do perigo.


A libertação está próxima

8Lembrai-vos disto e meditai, reflecti, ó prevaricadores. 9Recordai os tempos passados que Eu predisse. Eu sou Deus e não há outro. Não há nenhum deus semelhante a mim. 10Eu anuncio o futuro de ante­mão. Muito antes que suceda, já o pre­vejo. Digo: «O meu plano realizar-se-á; executarei a minha vontade.» 11Chamo o abutre do Oriente, e do país longínquo o homem dos meus desígnios. Disse-o e cumpri-lo-ei. O que planeei será executado. 12Escutai-me vós os desanimados, que julgais estar longe da jus­tiça. 13Não demorará a justiça que pro­meti. A libertação que predisse não tar­­dará. Porei em Sião a salvação. A minha glória será para Israel.

Capítulo 47

Queda da Babilónia (Jr 50-51; Ap 18)

1Desce do teu trono, senta-te no pó, jovem cidade da Babilónia. Senta-te na terra, sem trono, ca­pi­­­tal dos caldeus! Nunca mais serás chamada deli­cada e refinada. 2Pega nas duas pedras do moinho e faz a farinha, tira o véu e arregaça o vestido, descobre as tuas pernas para pas­sares os rios. 3Apareça a tua nudez, veja-se o que cobres com vergo­nha. Vou exercer implacável vingança. 4Eis o que diz o nosso redentor, que tem por nome Senhor do uni­verso, o Santo de Israel: 5Senta-te em silêncio, mergulha na escuridão, capital dos caldeus, porque já não te chamarão mais: «Senhora dos impérios.» 6Irritado contra o meu povo, profanei a minha herança, entregando-a nas tuas mãos. Mas não usaste de piedade para com eles, pois esmagaste os anciãos com o peso do teu jugo. 7Tu dizias: «Serei a dominadora do mundo para sempre.» E não reflectiste, não pensaste no que te poderia vir a acontecer. 8Agora, portanto, ouve isto, ó vo­luptuosa, que reinavas, confiante, e dizias a ti mesma: «Eu e mais ninguém! Nunca ficarei viúva, nunca perderei os meus filhos.» 9Ambas as desgraças caíram de repente sobre ti num só dia: vais ficar, ao mesmo tempo, sem filhos e viúva, apesar de todas as tuas bruxa­rias e dos teus poderosos sortilégios. 10Punhas a tua confiança nas tuas maldades e dizias: «Ninguém me vê!» A tua sabedoria e a tua ciência transtornaram-te, e por isso dizias: «Eu e mais nin­guém!» 11Mas virá sobre ti uma desgraça que não saberás conjurar, desabará sobre ti uma catástrofe que não poderás evitar; cairá sobre ti de repente um de­sastre que nunca imaginaste. 12Corre, portanto, aos teus encan­ta­mentos e à multidão das tuas bruxarias, a que te entregaste desde a ju­ventude! Vê lá se podem servir para es­con­jurares a desgraça. 13Cansaste-te com os teus nume­rosos conselheiros. Apresentem-se agora e salvem-te os que conjuram o céu, os que observam os astros e os que prognosticam cada mês o que vai acontecer. 14Tornaram-se como a palha: o fogo os consome; não poderão escapar às inves­ti­das das chamas. Não são como brasas na lareira, onde nos sentamos para aquecer. 15Deste modo, terminaram os teus adivinhos, com quem traficavas desde a ju­ventude. Cada qual foge para onde pode, e nenhum deles te salva.

Capítulo 48

Deus exorta os exilados

1Ouvi, gente de Jacob, vós que vos orgulhais do nome de Israel, de serdes descendentes de Judá, que jurais pelo nome do Senhor, e invocais o Deus de Israel, mas sem verdade nem rectidão. 2Tendes orgulho em pertencer à cidade santa, e vos apoiardes no Deus de Israel, cujo nome é «Senhor do universo.» 3O passado já o predisse de ante­mão, saiu da minha boca e anunciei-o: de repente actuei e as coisas acon­­teceram. 4Como sei que sois um povo obsti­­nado, que a vossa cerviz é como um ten­dão de ferro e a vossa cabeça dura como bronze, 5predisse-vos os acontecimentos com muita antecedência. Informei-vos antes que aconte­cesse, para que não dissésseis: «Foi o meu ídolo que fez isso, foi o meu deus de madeira ou de bronze que o ordenou.» 6Do que Eu predisse vedes a reali­zação. Não o quereis atestar? A partir de agora, revelo-vos coi­sas novas, que estavam ocultas e que des­conhecíeis; 7vão ser criadas agora e não o fo­ram antes. Nem ouvistes falar delas antes de hoje mesmo, para que não pudésseis dizer: «Já o sabia.» 8Não, tu nada sabias, de nada sus­peitavas, nem os vossos ouvidos estavam abertos para tal, porque Eu sabia como sois in­fiéis, e que desde o ventre materno vos chamam rebeldes. 9Por amor ao meu nome, conte­nho a minha cólera, domino-a, pela minha honra, para não vos aniquilar. 10Passei-vos pelo cadinho da pro­va como a prata, provei-vos no crisol da tribula­ção. 11E é só por mim que o faço, porque não quero que meu nome seja escarnecido, e não cedo a minha glória a nin­guém.


Missão de Ciro (41,1-5; 45,1-8)

12Ouve-me, Jacob e Israel, a quem te chamei: Eu é que sou o primeiro e tam­bém o último. 13Foi a minha mão que fundou a terra e a minha direita estendeu os céus; quando os chamo comparecem juntos. 14Reuni-vos todos e ouvi: Quem de entre eles predisse es­tes acontecimentos? O meu predilecto cumprirá a mi­nha vontade contra a Babilónia e contra a raça dos caldeus. 15Eu próprio é que lhe falei e o cha­mei; fiz que ele viesse e tivesse êxito no seu empreendimento. 16Aproximai-vos de mim e ouvi isto: não faço previsões em segredo; quando se realiza estou presente. E agora, o Senhor Deus enviou-me com o seu espírito. 17Eis o que diz o Senhor, teu re­dentor, o Santo de Israel: «Eu sou o Senhor teu Deus, que te dou lições para teu bem, que te guio pelo caminho que de­ves seguir. 18Ah! Se tivesses atendido ao que Eu mandava! O teu bem-estar seria como um rio, a tua felicidade como as ondas do mar. 19A tua posteridade seria como a areia, como os seus grãos, os frutos do teu ventre. O teu nome não seria aniquilado, nem destruído diante de mim.»


Saída da Babilónia (52,11-12; 55,12-13)

20Saí da Babilónia, fugi da Cal­deia! Anunciai esta nova com gritos de alegria, publicai-a até às extremidades da terra. Dizei: «O Senhor resgatou o seu servo Jacob.» 21Não passaram sede quando os guiou pelo deserto porque lhe fez brotar água de um rochedo, fendeu a rocha para que a água jorrasse. 22Mas não há paz para os maus, diz o Senhor.

Capítulo 49

A Mis­são

1«Ouvi-me, habitantes das ilhas, prestai atenção, povos de longe. Quando ainda estava no ventre materno, o Senhor chamou-me, quando ainda estava no seio da minha mãe, pronunciou o meu nome. 2Fez da minha palavra uma es­pada afiada, escondeu-me na concha da sua mão. Fez da minha mensagem uma seta penetrante, guardou-me na sua aljava. 3Disse-me: «Israel, tu és o meu servo, em ti serei glorificado.» 4Eu dizia a mim mesmo: «Em vão me cansei, em vento e em nada gastei as mi­nhas forças.» Porém, o meu direito está nas mãos do Senhor, e no meu Deus a minha recom­pensa. 5E agora o Senhor declara-me que me formou desde o ventre ma­­terno, para ser o seu servo, para lhe reconduzir Jacob e para lhe congregar Israel. Assim me honrou o Senhor. O meu Deus tornou-se a minha força. 6Disse-me: «Não basta que sejas meu servo, só para restaurares as tribos de Jacob e reunires os sobreviventes de Israel. Vou fazer de ti luz das nações, para que a minha salvação che­gue até aos confins da terra.»


Regresso dos exilados

7Eis o que diz o Senhor, o redentor e Deus santo de Is­rael, ao desprezado e abandonado pe­las gentes, ao escravo dos tiranos: «Os reis hão-de levantar-se ao ver-te, os príncipes se prostrarão, porque o Senhor é fiel, porque o Santo de Israel te esco­lheu.» 8Eis o que diz o Senhor: «Eu respondi-te no tempo da graça e socorri-te no dia da salvação. Defendi-te e designei-te como aliança do povo, para restaurares o país e repartires as heranças devas­tadas, 9para dizeres aos prisioneiros: ‘Saí da prisão!’ E aos que estão nas trevas: ‘Vin­de à luz!’ Ao longo dos caminhos encon­tra­rão que comer, e em todas as dunas arranjarão alimento. 10Não padecerão fome nem sede, e não os molestará o vento quen­te nem o sol, porque o que tem compaixão de­les os guiará, e os conduzirá em direcção às fon­tes. 11Transformarei os meus montes em caminhos planos, e as minhas estradas serão al­teadas. 12Vede como eles chegam de longe! Uns vêm do Norte e do Poente, e outros, da terra de Siene.» 13Cantai, ó céus! Exulta de alegria, ó terra! Rompei em exclamações, ó mon­tes! Na verdade, o Senhor consola o seu povo e se compadece dos desam­pa­ra­dos.


Restauração de Sião

(54; 66,7-14; Br 4,30-5,9) 14Sião dizia: «O Senhor abandonou-me, o meu dono esqueceu-se de mim.» 15Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria. 16Eis que Eu gravei a tua ima­gem na palma das minhas mãos. As tuas muralhas estão sempre diante dos meus olhos. 17Os que te vão reconstruir an­dam mais rápidos que os que destroem. Os que te devastam fogem de ti. 18Levanta os olhos à tua volta e vê como todos se reuniram para vir a ti. Juro pela minha vida – diz o Se­nhor – todos serão para ti como um ves­tido precioso, ou como o teu adorno de noiva. 19As tuas ruínas e devastações e o teu território saqueado serão estreitos para os teus ha­bitantes, e serão afugentados para longe os que te devoravam. 20Hás-de ouvir dizer aos filhos que julgavas perdidos: «Este lugar é demasiado estreito; chega-te para aí, para eu poder habitar.» 21E tu perguntarás: «Quem me deu à luz estes filhos? Eu não tinha filhos, era estéril, quem os criou? Estava desamparada e só; donde vieram estes?» 22Isto diz o Senhor Deus: «Olha como Eu com a minha mão faço um sinal às nações, levanto o meu estandarte para os povos: trarão os teus filhos nos braços e as tuas filhas aos ombros. 23Os seus reis serão os teus protec­tores, as suas princesas as tuas amas; prostrando-se diante de ti, com o rosto por terra, lamberão o pó dos teus pés. Então reconhecerás que Eu sou o Senhor, e que não serão confundidos os que confiam em mim. 24Acaso pode tirar-se ao guerreiro o despojo conquistado ou arrancar o prisioneiro ao ven­cedor?» 25Porém, o Senhor diz: «Mesmo que se possa tirar ao guer­­­­reiro o despojo conquis­tado e ao vencedor o prisioneiro, Eu sempre defenderei a tua causa e salvarei os teus filhos. 26Farei comer aos teus opressores as suas próprias carnes. Que se embriaguem com o seu próprio sangue, como se fosse vinho. Então toda a gente saberá que Eu, o Senhor, teu salvador e teu redentor sou o herói de Jacob.»

Capítulo 50

Processo de Deus com o seu povo

1Eis o que diz o Senhor: «Onde está o documento de re­pú­dio com que despedi a vossa mãe, ou a qual dos meus credores Eu vos vendi como escravos? Por causa das vossas culpas é que fostes vendidos, e por causa dos vossos crimes é que a vossa mãe foi repudiada. 2Porque é que não encontro nin­guém quando venho? Porque é que ninguém responde quando chamo? Porventura encurtou-se a minha mão para vos resgatar? Não tenho Eu poder bastante para vos salvar? Olhai: com uma simples ameaça seco o mar, transformo os rios em deserto, por falta de água apodrecem os seus peixes, mortos de sede. 3Visto o céu de negro e cubro-o com uma veste de luto.»


Sofrimento e confiança

4«O Senhor Deus ensinou-me o que devo dizer, para saber dar palavras de alento aos desanimados. Cada manhã desperta os meus ouvidos, para que eu aprenda como os dis­cípulos. 5O Senhor Deus abriu-me os ou­vidos, e eu não resisti, nem recusei. 6Aos que me batiam apresentei as espáduas, e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me ultrajavam e cuspiam. 7Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio; por isso não sentia os ultrajes. Endureci o meu rosto como uma pedra, pois sabia que não ficaria enver­gonhado. 8O meu defensor está junto de mim. Quem ousará levantar-me um pro­­­­­cesso? Compareçamos juntos diante do juiz! Apresente-se quem tiver qualquer coisa contra mim. 9O Senhor Deus vem em meu au­xílio; quem ousará condenar-me? Cairão todos esfrangalhados, como roupa velha, roída pela traça.»


Obediência ao Servo do Senhor

10Quem de entre vós teme o Se­nhor e escuta a voz do seu servo? Mesmo que caminhe nas trevas, privado de luz, confie no nome do Senhor e firme-se sobre o seu Deus. 11Mas quanto a vós, que ateais o fogo, que preparais setas incendiárias, caireis nas chamas do vosso pró­prio fogo, por entre as setas que inflamas­tes. Assim vos tratará a minha mão, e haveis de jazer nos vossos tor­mentos.

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