Capítulo 31
Contra o pacto com o Egipto (19,1-15; 30,1-5)
1Ai dos que descem ao Egipto a pedir socorro e põem a sua confiança na cavalaria! Confiam nos carros, porque são muitos, e nos cavaleiros porque são fortes. Não olham para o Santo de Israel, nem consultam o Senhor. 2Mas Ele é sábio para provocar a desgraça e não deixa de cumprir a sua palavra. Levantar-se-á contra o bando dos maus e contra o auxílio dos que cometem iniquidade. 3Os egípcios são homens e não deuses, os seus cavalos têm a fraqueza da carne e não a força do espírito. O Senhor estenderá a sua mão; o protector tropeçará e o protegido cairá; e ambos perecerão igualmente.
Protecção divina
4O Senhor disse-me isto: «Assim como o leão e as suas crias rugem sobre a presa, e, ainda que venha contra eles um tropel de pastores, não se deixam intimidar pelos gritos, nem alarmar diante do tumulto, assim o Senhor do universo descerá para pelejar sobre o monte Sião, sobre a sua colina. 5Como aves que estendem as asas, assim o Senhor do universo defenderá Jerusalém: será a sua protecção libertadora e o seu resgate salvador.»
Conversão de Judá e fim da Assíria
6Convertei-vos, filhos de Israel, àquele de quem tão profundamente vos separastes. 7Naquele dia, cada um lançará fora os seus ídolos de prata e os ídolos de ouro, obras das vossas mãos pecadoras. 8A Assíria cairá ao fio de uma espada não humana, a espada de alguém imortal a devorará. Os seus jovens guerreiros fugirão desta espada, mas serão submetidos à servidão. 9A sua valentia desfalecerá de terror, e os seus chefes, espavoridos, abandonarão o estandarte. Este é o oráculo do Senhor, que tem um fogo em Sião e uma fornalha em Jerusalém.
Capítulo 32
Reino da justiça
1Olhai: virá um rei que reinará segundo a justiça, e os príncipes governarão com equidade. 2Serão como um refúgio contra o vento, como um abrigo contra a tempestade, como regos de água em terra ressequida e como a sombra de um grande penhasco, em terra árida. 3Os olhos dos que vêem não estarão fechados, e os ouvidos dos que ouvem estarão atentos. 4Os espíritos insensatos aprenderão a compreender, os gagos exprimir-se-ão com prontidão e clareza. 5Já não se chamará nobre ao insensato, nem gente boa ao fraudulento. 6Com efeito, o insensato só diz loucuras, e o seu coração só pensa fazer o mal: cometer a impiedade e escarnecer do Senhor, deixar o faminto sem nada para comer e tirar a água ao que tem sede. 7As armas do fraudulento são desleais, planeia desígnios criminosos para prejudicar os pobres com mentiras, e o desvalido, que reclama pelos seus direitos. 8O nobre, porém, só tem pensamentos nobres, e é nobre o seu proceder.
Contra as mulheres frívolas (3,16-24; Am 4,1-3)
9Mulheres despreocupadas, levantai-vos e escutai a minha voz; damas altivas, ouvi as minhas palavras: 10Dentro de um ano e alguns dias, ó altivas, haveis de tremer, porque a vindima está perdida e a colheita frustrada. 11Tremei, ó despreocupadas, estremecei, ó altivas. Despi-vos, até ficardes nuas, deixando apenas a cintura sobre os rins. 12Batei no peito em sinal de luto, pelos campos férteis e pelas vinhas abundantes, 13pela terra do meu povo, onde só crescem silvas, pela alegria das casas e pela cidade divertida. 14O palácio está abandonado, a cidade tumultuosa está deserta, a fortaleza de Ofel e a torre de vigia estão transformadas para sempre em cavernas, para delícia dos asnos selvagens e pastagem dos rebanhos.
Restauração final
15Uma vez mais virá sobre nós o espírito do alto. Então o deserto se converterá em pomar, e o pomar será como uma floresta. 16Na terra, agora deserta, habitará o direito, e a justiça no pomar. 17A paz será obra da justiça, e o fruto da justiça será a tranquilidade e a segurança para sempre. 18O povo de Deus repousará numa mansão serena, em moradas seguras e em lugares tranquilos. 19A floresta será abatida e a cidade humilhada. 20Bem-aventurados vós, que semeais à beira da água, e deixais o boi e o asno em liberdade.
Capítulo 33
Salmo de esperança
1Ai de ti, devastador, que ainda não foste devastado, traidor, que ainda não foste traído! Quando acabares de devastar, serás devastado; quando acabares de trair, serás atraiçoado. 2Senhor, tem piedade de nós, porque confiamos em ti. Sê o nosso auxílio todas as manhãs e o nosso socorro no tempo da tribulação. 3À tua voz poderosa fogem os povos; quando te levantas, as nações dispersam-se. 4Recolhem os despojos como se apanham os gafanhotos e lançam-se sobre eles como os saltões. 5O Senhor é grande, porque habita no alto; encherá Sião de rectidão e de justiça. 6A fidelidade será o adorno de Sião, a sabedoria e o conhecimento serão o seu refúgio salvador, e o temor do Senhor será o seu tesouro.
Lamentação
7Vede! Os arautos gemem nas ruas, os mensageiros de paz choram amargamente. 8Os caminhos estão desertos, ninguém passa pelas estradas; violou a aliança, desprezou as testemunhas e não respeitou os homens. 9A terra está de luto, entristecida. O Líbano perdeu as cores, está mirrado. Saron tornou-se um deserto. Basan e o Carmelo estão escalvados.
Intervenção de Deus
10O Senhor diz: «Agora vou intervir. Agora vou erguer-me e levantar-me. 11Concebereis palha e dareis à luz restolho. O meu sopro será fogo que vos consumirá. 12Os povos serão reduzidos a cinzas, como cardos cortados, lançados ao fogo. 13Vós, os que estais longe, ouvi o que Eu fiz! Vós, os que estais perto, reconhecei o meu poder!» 14Em Sião, os pecadores estão cheios de medo e os ímpios tremem: «Qual de nós poderá permanecer neste fogo devorador? Qual de nós poderá habitar nesta fogueira sem fim?» 15Aquele que anda na justiça e fala a verdade, que recusa benefícios extorquidos pela violência, cuja mão rejeita o suborno, que fecha os ouvidos a propostas assassinas e fecha os olhos para não ver o mal. 16Esse habitará nas alturas, terá o seu refúgio em rochas elevadas, terá pão e água em abundância.
Restauração de Jerusalém
17Os teus olhos contemplarão um rei no seu esplendor e contemplarão um país imenso. 18Recordarás os terrores passados: «Onde está o cobrador? Onde está o fiscal? Onde está o que inspeccionava as fortificações?» 19Já não verás mais este povo insolente, povo de fala ininteligível, de língua estranha que ninguém compreende. 20Contempla Sião, cidade das nossas festas: os teus olhos verão Jerusalém, habitação tranquila, tenda bem segura, cujas estacas não serão arrancadas, nem as cordas partidas. 21Ali o Senhor é magnífico para nós, num lugar de rios e canais larguíssimos, por onde não passará embarcação a remo, nem atravessará nenhum grande navio. 22Porque o Senhor é o nosso juiz, o Senhor é o nosso legislador, o Senhor é o nosso rei, Ele é a nossa salvação. 23Os teus cordames cederam: nem seguram o mastro nem permitem içar o estandarte. Então a presa a repartir será enorme, e até os coxos tomarão parte na pilhagem. 24Nenhum habitante de Jerusalém dirá: «Estou doente»; porque o povo que lá habitar terá o perdão das suas culpas.
Capítulo 34
Julgamento dos pagãos
1Aproximai-vos, nações, e ouvi; povos, estai atentos; ouça a terra e tudo o que ela contém, o mundo inteiro e tudo o que ele produz! 2Porque o Senhor está irado contra todas as nações, enfurecido contra todos os seus exércitos. Destina-os ao anátema, entrega-os ao extermínio. 3Os seus mortos ficam sem sepultura, e os seus cadáveres exalam mau cheiro, os montes são banhados no sangue deles. 4O exército das estrelas desfalece, os céus enrolam-se como um pergaminho, os seus exércitos extinguem-se e caem como folhas mortas de vinha ou de figueira.
Castigo de Edom (Jr 49,7-22)
5Porque a espada do Senhor aparece nos céus cheia de sangue: vede como se precipita sobre Edom, sobre o povo que Ele destinou ao extermínio. 6A espada do Senhor está cheia de sangue, impregnada de gordura, como do sangue dos cordeiros e dos bodes, como a gordura das entranhas dos carneiros. É que o Senhor faz carnificina em Bosra, grande matança na terra de Edom. 7Caem juntos os búfalos com os touros e novilhos. A sua terra embriaga-se de sangue, e o chão está coberto de gordura, 8porque é o dia da vingança do Senhor, ano de desforra para a causa de Sião. 9As torrentes de Edom converter-se-ão em pez, e o seu chão em enxofre. A sua terra tornar-se-á pez ardente, 10que não se apaga nem de dia nem de noite, como fumo a subir continuamente. Edom ficará desolada para sempre, de geração em geração ninguém passará por ela. 11Apoderam-se dela as gralhas e os ouriços, e habitam-na a coruja e o corvo. O Senhor estende sobre ela a corda da destruição, e o fio-de-prumo da desolação. 12Não fica lá ninguém para se poder considerar um reino, e todos os seus príncipes desaparecerão. 13Os espinhos crescem nos seus palácios, as urtigas e os cardos nas suas fortalezas. Converte-se em covil de chacais e em morada para as crias das avestruzes. 14Nela se reúnem hienas e gatos bravos, e os bodes chamarão uns pelos outros. Até o fantasma Lilit ali habita e encontra o seu repouso. 15A serpente faz ali o ninho e põe os ovos, choca-os e saem os filhos. É lá também que se reúnem os abutres e se acasalam. 16Investigai no livro do Senhor e vereis que nenhuma destas coisas lá faltará, porque foi o Senhor quem as mandou, o seu espírito quem as juntou. 17Foi Ele quem lhes designou a sua porção, foi a sua mão que lhes mediu a terra com um cordel. Eles a possuirão para sempre, e de geração em geração habitarão nela.
Capítulo 35
Regresso a Sião
1O deserto e a terra árida vão alegrar-se, a estepe exultará e dará flores belas como narcisos. 2Vai cobrir-se de flores e transbordar de júbilo e de alegria. Tem a glória do Líbano, a formosura do monte Carmelo e da planície de Saron. Verão a glória do Senhor e o esplendor do nosso Deus. 3Fortalecei as mãos débeis, robustecei os joelhos vacilantes. 4Dizei aos que têm o coração indeciso: «Tomai ânimo, não temais!» Eis o vosso Deus, que vem para vos vingar. Deus vem em pessoa retribuir-vos e salvar-vos. 5Então se abrirão os olhos do cego, os ouvidos do surdo ficarão a ouvir, 6o coxo saltará como um veado, e a língua do mudo dará gritos de alegria; porque as águas jorraram no deserto e as torrentes na estepe. 7A terra queimada mudar-se-á em lago, e as fontes brotarão da terra seca. No covil onde repousavam os chacais, crescerão canas e juncos. 8Haverá ali uma estrada e um caminho que se chamará Via Sagrada. Nenhum impuro passará por ele; é para aqueles que por ele devem andar e os menos espertos não se perderão. 9Ali não haverá leões, e nenhum animal feroz por ali passará. Apenas passarão os remidos. 10Os que o Senhor libertar é que passarão por ela. Chegarão a Sião entre cânticos de júbilo com a alegria estampada nos seus rostos, transbordando de gozo e de alegria; nos seus corações, não haverá mais tristeza nem aflição.
Capítulo 36
A invasão de Senaquerib (2 Rs 18,13-37; 2 Cr 32,1-19) – 1No décimo quarto ano do reinado de Ezequias, Senaquerib, rei da Assíria, atacou as cidades fortificadas de Judá, e apoderou-se delas. 2Desde Láquis, o rei dos assírios enviou o copeiro-mor a Jerusalém, contra o rei Ezequias, com um poderoso contingente de tropas. O copeiro-mor tomou posição ao pé do canal da piscina superior, na calçada que leva ao campo do Lavadouro. 3Eliaquim, filho de Hilquias, chefe do palácio real, foi ter com ele, acompanhado do secretário Chebna e do chanceler Joá, filho de Asaf.
4O copeiro-mor disse-lhes: «Dizei a Ezequias: “Assim fala o grande rei, o rei da Assíria: Donde te vem essa tua confiança? 5Tu pensas que a estratégia e a valentia militares são palavras vãs? Em quem confias para te revoltares contra mim? 6Confias no Egipto, que não passa de uma cana rachada? Se alguém confiar nela, espeta-se-lhe na mão e dá cabo dela. Assim é o faraó para os que confiam nele.
7Se me respondes: ‘É no Senhor, nosso Deus, que nós confiamos’, porventura não é esse aquele mesmo Deus de quem Ezequias mandou destruir os lugares sagrados e os altares, ordenando a Judá e a Jerusalém: ‘Somente diante do altar de Jerusalém vos prostrareis?’ 8Portanto, faz um acordo com o meu soberano, o rei da Assíria, e dar-te-ei dois mil cavalos, se é que tens cavaleiros para tantos cavalos. 9Como te atreves a repelir um oficial do meu soberano, mesmo que seja um dos menores, confiando no Egipto para te arranjar carros e cavaleiros? 10Além disso, pensas que foi sem o consentimento do Senhor, que invadi esta terra para a destruir? O próprio Senhor é que me disse: Entra nessa terra e devasta-a.”»
11Então Eliaquim, Chebna e Joá disseram ao copeiro-mor: «Por favor, fala-nos em aramaico, porque nós entendemo-lo. Mas não nos fales em hebraico, porque os que estão sobre a muralha podem ouvir-nos.» 12Mas o copeiro-mor respondeu-lhes: «Porventura é ao teu senhor e a ti que o meu soberano me encarregou de transmitir esta mensagem? Não é antes aos homens que estão sobre a muralha e que vão ser condenados, como vós, a comer os seus excrementos e a beber a sua urina?»
13Então o copeiro-mor levantou-se e gritou na língua judaica: «Ouvi o que diz o grande rei, o rei da Assíria: 14 “Não vos deixeis enganar por Ezequias, porque ele não vos poderá livrar! 15E não vos leve Ezequias a confiar no Senhor, dizendo: ‘O Senhor certamente nos livrará e esta cidade não cairá nas mãos do rei da Assíria!’ 16Não escuteis o rei Ezequias, porque eis o que diz o rei da Assíria: ‘Fazei a paz comigo, rendei-vos, e cada um de vós poderá comer o fruto da sua vinha e da sua figueira e beber a água do seu poço, 17até que eu venha e vos leve para uma terra, semelhante à vossa, terra de trigo e de vinho, terra de cereais e de vinhas’.
18Não vos iluda Ezequias, dizendo: ‘O Senhor nos livrará’. Porventura, os deuses das outras nações livraram os seus países da mão do rei da Assíria? 19Onde estão os deuses de Hamat e de Arpad? Onde estão os deuses de Sefarvaim? Quem livrou a Samaria do meu poder? 20Entre todos estes deuses, algum pode livrar o seu país da minha mão? Como é que o Senhor pode salvar Jerusalém da minha mão?”»
21Eles calaram-se e não lhe responderam nada, porque o rei lhes proibira que respondessem. 22Então Eliaquim, filho de Hilquias, prefeito do palácio, Chebna, o secretário, e o chanceler Joá, filho de Asaf, foram ter com Ezequias, com as vestes rasgadas, e referiram-lhe tudo o que o copeiro-mor lhes tinha dito.
Capítulo 37
Ezequias consulta o profeta Isaías (2 Rs 19,1-7) – 1Tendo ouvido isto, Ezequias rasgou as vestes, vestiu-se de roupas grosseiras e dirigiu-se ao templo do Senhor. 2E enviou Eliaquim, chefe do palácio real, Chebna, o secretário e os sacerdotes mais idosos, também vestidos de roupas grosseiras, para irem ter com o profeta Isaías, filho de Amós, 3os quais lhe disseram:
«Eis o que diz Ezequias: ‘Este é um dia de aflição, castigo e humilhação. Como se costuma dizer: os filhos estão prestes a nascer, mas a mãe não tem força para os dar à luz. 4O rei da Assíria mandou o seu copeiro-mor para insultar o Deus vivo. Oxalá o Senhor, teu Deus, tenha ouvido semelhantes insultos e o castigue pelas palavras que pronunciou. Intercede, pois, junto do Senhor, em favor do que resta do seu povo.’»
5Os servos do rei Ezequias apresentaram-se a Isaías. 6Este respondeu-lhes: «Direis ao vosso soberano o seguinte: Eis o que diz o Senhor: ‘Não te assustes com as palavras que ouviste, com os ultrajes que proferiram contra mim os oficiais do rei da Assíria. 7Vou insuflar-lhe um tal espírito que, ao receber uma certa notícia, voltará para a sua terra, onde morrerá assassinado.’»
Segunda embaixada assíria (10,5-16; 2 Rs 19,8-13) – 8O copeiro-mor do rei da Assíria soube, entretanto, que o rei tinha deixado Láquis, para ir combater contra Libna e foi lá ter com ele. 9É que o rei da Assíria tinha sabido que Tiraca, o rei da Etiópia, o vinha atacar. Senaquerib enviou, então, mensageiros a Israel com esta mensagem:
10«Isto direis a Ezequias, rei de Judá: ‘Não te deixes enganar pelo Deus em quem confias, pensando que Jerusalém não será entregue nas minhas mãos. 11Não ouviste contar como é que os reis da Assíria trataram todos os países que devastaram? E poderás tu salvar-te? 12Porventura foram salvos pelos seus deuses as nações que os meus antepassados aniquilaram: Gozan, Haran, Récef e os habitantes de Éden que estavam em Telassar? 13Onde está o rei de Hamat, de Arpad, de Lair, de Sefarvaim, de Hena e de Ava?’»
Oração de Ezequias (2 Rs 19,14-19; 2 Cr 32,20-23) – 14Ezequias tomou a carta da mão dos mensageiros e leu-a. Depois subiu ao templo, abriu-a diante do Senhor, 15 e suplicou-lhe, dizendo:
16«Senhor do universo, Deus de Israel, sentado sobre os querubins: Tu és o único Deus de todos os reinos da terra, Tu que fizeste os céus e a terra. 17Presta atenção, Senhor, e escuta! Abre os olhos e vê! Repara na mensagem que me dirige Senaquerib, para ultrajar o Deus vivo. 18É verdade, Senhor! Os reis da Assíria destruiram todas as nações. 19Queimaram todos os seus deuses, porque não são Deus, mas apenas estátuas de madeira e de pedra feitas pelos homens. 20Agora, Senhor, nosso Deus, livra-nos das mãos de Senaquerib, e todos os povos da terra conhecerão que só Tu, Senhor, és Deus.»
Resposta de Isaías (2 Rs 19,20-34) – 21Então, Isaías, filho de Amós, mandou dizer a Ezequias: «Eis o que diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Ouvi a tua súplica por causa de Senaquerib, rei da Assíria’. 22É esta a sentença que o Senhor pronuncia contra ele:
A donzela de Sião escarnece de ti. A donzela de Jerusalém meneia a cabeça nas tuas costas. 23A quem é que insultaste e ultrajaste? Contra quem levantaste a tua voz, e o teu olhar soberbo? Foi contra o Santo de Israel! 24Por meio dos teus embaixadores ultrajaste o Senhor, dizendo: ‘Com a multidão dos meus carros, subi ao cimo dos montes, aos cumes do Líbano. Cortei os seus cedros mais altos e os seus ciprestes mais belos. Cheguei até ao cimo mais alto e entrei nos lugares mais densos do seu bosque. 25Eu cavei poços e bebi a água dos outros povos. Com a planta dos meus pés, sequei todos os canais do Egipto.’ 26Porventura não percebeste que, desde há muito, fui Eu quem preparei este plano, e que, desde tempos remotos, fiz este projecto que agora estou a realizar? Por isso, reduziste a ruínas as cidades fortificadas. 27Os seus habitantes, sem força nos braços, estão cheios de vergonha e humilhados. São como a vegetação dos campos e o verde dos prados; como as ervas dos telhados, que murcham antes de crescer. 28Eu sei quando te levantas e quando te sentas, quando sais e quando entras e quando te enfureces contra mim. 29Os meus ouvidos percebem quando te enfureces contra mim e quando te acalmas. Colocarei a minha argola no teu nariz e o meu freio nos teus lábios, e far-te-ei voltar pelo caminho por onde vieste.
Um sinal para Ezequias
30Isto te servirá de sinal: este ano comereis o trigo do restolho; no próximo ano, o que crescer sem sementeira; no terceiro ano, porém, já semeareis e ceifareis, plantareis vinhas e comereis os seus frutos. 31Os sobreviventes do reino de Judá serão como a árvore que lança as raízes para baixo, e se cobre de frutos por cima. 32É que de Jerusalém sairá um resto, os sobreviventes do monte de Sião.» O zelo do Senhor do universo isto mesmo realizará. 33Eis o que diz o Senhor a respeito do rei da Assíria: «Ele não entrará nesta cidade, não lançará setas contra ela, nem virá para ela empunhando o seu escudo, nem a rodeará de trincheiras. 34Regressará pelo caminho por onde veio, mas não entrará nesta cidade – oráculo do Senhor. 35Protegerei esta cidade para a salvar, por minha honra e pela de David, meu servo.»
Morte de Senaquerib (2 Rs 19,35-37) 36Naquela mesma noite, veio o anjo do Senhor e matou no campo dos assírios cento e oitenta mil homens. No dia seguinte, de manhã, ao despertar, não se via senão cadáveres. 37Senaquerib, rei da Assíria, levantou o acampamento, regressou a Nínive e ali ficou.
38Certo dia, enquanto ele orava no templo de Nisseroc, seu deus, os seus filhos Adramélec e Sarécer, assassinaram-no à espada e fugiram para a terra de Ararat. Sucedeu-lhe no trono seu filho Assaradon.
Capítulo 38
Doença e cura de Ezequias (2 Rs 20,1-11; 2 Cr 32,24-29) – 1Por este tempo, o rei Ezequias adoeceu de uma enfermidade mortal. O profeta Isaías, filho de Amós, veio visitá-lo e disse-lhe: «Eis o que diz o Senhor: Faz o testamento, porque vais morrer muito brevemente.» 2Ezequias voltou o rosto para a parede e fez ao Senhor esta oração:
3«Senhor, lembra-te
que tenho andado fielmente diante de ti,
com um coração sincero e íntegro,
pois fiz sempre a tua vontade.»
E começou a chorar, derramando lágrimas abundantes. 4Então, a palavra do Senhor foi dirigida a Isaías nestes termos: 5«Vai e diz a Ezequias: ‘Eis o que diz o Senhor, o Deus de teu pai David: Ouvi a tua oração e vi as tuas lágrimas; vou acrescentar à tua vida mais quinze anos. 6Hei-de livrar-te, a ti e a esta cidade, das mãos do rei da Assíria e protegê-la-ei.’» 7Isaías disse-lhe: «É este o sinal, da parte do Senhor, para que saibas que Ele cumprirá a promessa: 8No relógio de sol de Acaz farei retroceder a sombra dez graus, tantos quantos tinha avançado.» E o sol retrocedeu os dez graus que já tinha avançado.
Cântico de Ezequias (Sl 30; 88) – 9Poema que Ezequias, rei de Judá, compôs por ter sido curado da sua doença:
10 «Eu pensei: ‘A meio dos meus dias vou ter de descer às portas do Abismo, privado do resto dos meus anos’. 11Eu pensei: ‘Não mais verei o Senhor na terra dos vivos. Não mais verei os homens entre os habitantes do mundo. 12A minha morada é levada para longe de mim, como uma tenda de pastor; enrolei a minha vida como um tecelão, mas acabou-se-me por falta de fio. Dia e noite, Senhor, me estais consumindo, 13e soluço até ao amanhecer. Como um leão, Ele me quebrou todos os ossos, dia e noite me estais consumindo. 14Pio como a andorinha, arrulho como a pomba. Os meus olhos cansam-se de olhar para o alto. Senhor, estou em agonia, confortai-me!’ 15Mas que poderei dizer-lhe para que me responda, se é Ele quem faz isto? Hei-de aguentar todos os meus anos, com esta amargura na alma? 16Aqueles que o Senhor protege vivem, e entre eles viverei também eu. Tu me curaste, ó Deus, e me conservaste a vida. 17A minha amargura converteu-se em paz, quando preservaste a minha vida do túmulo vazio; lançaste para trás de ti todos os meus pecados. 18 O abismo dos mortos não te louvará, nem a morte te celebrará, nem esperam na tua fidelidade os que descem à sepultura. 19Apenas os vivos te podem louvar como eu te louvo agora. O pai dará a conhecer aos seus filhos a tua fidelidade. 20Senhor, salva-me e tocaremos as nossas harpas todos os dias da nossa vida, na casa do Senhor.» 21Depois, Isaías deu esta ordem: «Tragam um emplastro de figos e apliquem-no na parte doente e ficará curado.» 22E Ezequias perguntou: «Qual é o sinal que me garanta que ainda poderei ir ao templo do Senhor?»
Capítulo 39
Embaixada de Merodac-Baladan (2 Rs 20,12-19) – 1Por este tempo, o rei da Babilónia Merodac-Baladan, filho de Baladan, rei da Babilónia, enviou a Ezequias embaixadores com uma carta e presentes, porque tivera notícia da sua doença e do restabelecimento.
2Ezequias sentiu-se lisonjeado e mostrou aos embaixadores os tesouros do seu palácio: a porta, o ouro, os perfumes, os unguentos preciosos, o seu arsenal de guerra e tudo o que se encontrava nos seus depósitos. Não houve nada, nem no seu palácio nem em todas as suas dependências, que Ezequias não mostrasse. 3Então o profeta Isaías foi ter com o rei Ezequias e disse-lhe: «Que é que te disseram estes homens, e de onde vieram eles para te visitar?» Ezequias respondeu: «Vieram ver-me, de longe, da terra da Babilónia.» Replicou Isaías: 4«E que viram eles no teu palácio?». Ezequias respondeu: «Eles viram tudo o que se encontra no meu palácio. Mostrei-lhes tudo o que se encontrava nos meus tesouros.»
5Então Isaías disse a Ezequias: «Ouve com atenção a palavra do Senhor do universo: 6«Eis que virá tempo em que tudo aquilo que há no teu palácio e tudo o que os teus pais acumularam será levado para a Babilónia. Não ficará nada, diz o Senhor. 7Tomarão até alguns dos teus próprios filhos, para fazerem deles eunucos no palácio do rei da Babilónia.» 8Ezequias respondeu a Isaías: «A palavra do Senhor, que acabas de proferir, é favorável.» E dizia para consigo: «Ao menos assim haverá paz e segurança durante a minha vida.»
Capítulo 40
Promessa do novo Êxodo
1Consolai, consolai o meu povo, é o vosso Deus quem o diz. 2Falai ao coração de Jerusalém e gritai-lhe: «Terminou a vossa servidão, estão perdoados os vossos crimes, pois já recebeu da mão do Senhor o dobro do castigo por todos os seus pecados.» 3Uma voz grita: «Preparai no deserto o caminho do Senhor, aplanai na estepe uma estrada para o nosso Deus. 4Todo o vale seja levantado, e todas as colinas e montanhas sejam abaixadas, todos os cumes sejam aplanados, e todos os terrenos escarpados sejam nivelados!» 5Então a glória do Senhor manifestar-se-á, e toda a gente a há-de ver ao mesmo tempo. É o Senhor quem o declara. 6Diz uma voz: «Proclama!» Respondo: «Que hei-de proclamar?» «Proclama que toda a gente é como a erva e toda a sua beleza como a flor dos campos! 7A erva seca e a flor murcha, quando o sopro do Senhor passa sobre elas. Verdadeiramente o povo é semelhante à erva. 8A erva seca e a flor murcha, mas a palavra do nosso Deus permanece eternamente.» 9Sobe a um alto monte, arauto de Sião. Grita com voz forte, arauto de Jerusalém; levanta a voz, sem receio, e diz às cidades de Judá: «Aí está o vosso Deus! 10Olhai, o Senhor Deus vem com a força do seu braço dominador; olhai, vem com o preço da sua vitória, e com a recompensa antecipada. 11É como um pastor que apascenta o rebanho, reúne-o com o cajado na mão, leva os cordeiros ao colo e faz repousar as ovelhas que têm crias.»
Polémica contra os ídolos (41,21-29; 44,6-8; Sb 13-15; Br 6)
12Quem mediu as águas do mar com a sua mão, e quem mediu o céu a palmo, ou o pó da terra com o alqueire? Quem pesou as montanhas na báscula e as colinas na balança? 13Quem mediu o espírito do Senhor? Quem lhe mostrou o seu projecto? 14De quem recebeu Ele conselho para julgar, para lhe indicar o caminho certo? Quem lhe ensinou a ciência e lhe sugeriu o caminho da prudência? 15As nações são como uma gota de água num balde, como um grão de poeira no prato de uma balança; e as ilhas não pesam mais do que o pó mais fino. 16As florestas do Líbano não chegam para a lenha, nem os seus animais para os holocaustos. 17Diante dele, todos os povos são como se não existissem; para Ele contam menos que nada. 18 A quem, pois, ireis comparar Deus? Com que imagem o podeis confrontar? 19Um ídolo, é um artista que o modela, o ourives reveste-o de ouro e junta-lhe alguns retoques de prata. 20Quem tem pouco para oferecer escolhe uma madeira que não apodreça, procura um artista hábil, para lhe fazer um ídolo duradouro.
21Porventura não o sabíeis nem aprendestes? Não vo-lo disseram de antemão? Não chegou ao vosso conhecimento como se fundou a terra? 22Ele está sentado sobre a cúpula da terra; os seus habitantes são como gafanhotos. Foi Ele quem estendeu os céus como um toldo e os desdobrou como uma tenda para habitar. 23Ele reduz a nada os poderosos, e converte em nada os governantes. 24Logo que estejam plantados ou semeados, mal tenham criado raízes na terra, sopra sobre eles e secam imediatamente; e depois são levados como palha por um vendaval. 25«A quem, pois, me comparareis, que seja igual a mim?» – pergunta o Deus Santo. 26Levantai os olhos ao céu e vede! Quem criou todos estes astros? Aquele que os conta e os faz marchar como um exército. A todos Ele chama pelos seus nomes. É tão grande o seu poder e tão robusta a sua força, que nem um só falta à chamada.
Polémica de Deus com o povo
27Porque andas falando, Jacob, e murmurando, Israel: «O Senhor não compreende o meu destino, o meu Deus ignora a minha causa!» 28Porventura não sabes? Será que não ouviste? O Senhor é um Deus eterno, que criou os confins da terra. Não se cansa nem perde as forças.
Deus, superior aos poderosos da Terra
É insondável a sua sabedoria. 29Ele dá forças ao cansado e enche de vigor o fraco. 30Até os adolescentes se cansam e se fatigam, e os jovens tropeçam e vacilam. 31Mas aqueles que confiam no Senhor renovam as suas forças. Têm asas como a águia, correm sem se cansar, marcham sem desfalecer.