Capítulo 1

1Visão de Isaías, filho de Amós, acerca dos habitantes de Judá e Jerusalém no tempo de Uzias, de Jotam, de Acaz e de Ezequias, reis de Judá.


Acusação de Deus (Am 4,6-13)

2Ouvi, ó céus, e escuta, ó terra,

porque é o Senhor quem te fala:

«Criei filhos e fi-los crescer,

mas eles revoltaram-se contra mim.

3O boi conhece o seu dono,

e o jumento, o estábulo do seu senhor;

mas Israel, meu povo, nada en­tende.»

4Ai de vós, nação pecadora,

povo carregado de iniquidades,

raça de malfeitores,

filhos malvados!

Abandonaram o Senhor,

renegaram o Santo de Israel,

voltaram-lhe as costas.

5Onde podereis ser castigados de novo,

já que persistis na rebeldia?

A vossa cabeça é uma chaga,

o vosso coração está totalmente abatido.

6Desde a planta dos pés até ao alto da cabeça,

não há nada de são em vós.

Tudo são feridas, contusões, cha­gas vivas,

que não foram curadas nem liga­das,

nem suavizadas com azeite.

7A vossa terra está deserta,

as vossas cidades incendiadas.

Os estrangeiros devastam diante de vós

os vossos campos.

É a desolação e a destruição pro­vocada pelos inimigos.

8Ficou apenas Sião, como ca­bana numa vinha,

como choça num pepinal,

como cidade sitiada.

9Se o Senhor do universo

não nos tivesse conservado um pe­queno resto,

teríamos sido como Sodoma,

seríamos agora como Gomorra.


Segunda acusação de Deus (58; Sl 50)

10Ouvi a palavra do Senhor,

ó príncipes de Sodoma;

escutai a lição do nosso Deus,

povo de Gomorra:

11«De que me serve a mim a mul­ti­dão das vossas vítimas?

– diz o Senhor.

Estou farto de holocaustos de car­neiros,

de gordura de bezerros.

Não me agrada o sangue de vi­telos,

de cordeiros nem de bodes.

12Quando me viestes prestar culto,

quem reclamou de vós semelhan­tes dons,

ao pisardes o meu santuário?

13Não me ofereçais mais dons inú­teis:

o incenso é-me abominável;

as celebrações lunares, os sábados,

as reuniões de culto,

as festas e as solenidades são-me insuportáveis.

14Abomino as vossas celebrações lu­nares

e as vossas festas;

estou cansado delas,

não as suporto mais.

15Quando levantais as vossas mãos,

afasto de vós os meus olhos;

podeis multiplicar as vossas pre­ces,

que Eu não as atendo.

É que as vossas mãos estão cheias de sangue.

16Lavai-vos, purificai-vos,

tirai da frente dos meus olhos

a malícia das vossas acções.

Cessai de fazer o mal,

17aprendei a fazer o bem;

procurai o que é justo,

socorrei os oprimidos,

fazei justiça aos órfãos,

defendei as viúvas.

18Vinde agora, entendamo-nos – diz o Senhor.

Mesmo que os vossos pecados

sejam como escarlate,

tornar-se-ão brancos como a neve.

Mesmo que sejam vermelhos como a púrpura,

ficarão brancos como a lã.

19Se fordes dóceis e obedientes,

comereis os bens da terra;

20se recusardes, se vos revoltar­des,

sereis devorados pela espada.

É o Senhor quem o declara.»


A cidade infiel (Jr 23; Ez 16; Os 2)

21Como se tornou numa prostituta a cidade fiel!

Outrora, cheia de direito,

nela morava a justiça,

mas agora são assassinos.

22Eras como a prata,

que agora se converteu em es­có­ria;

eras como bom vinho,

que agora se misturou com água.

23Os teus governantes são rebel­des,

companheiros de ladrões;

andam todos à procura de rega­lias e de recompensas.

Não defendem o direito dos ór­fãos

nem se interessam pela questão das viúvas.

24Por este motivo, ó Israel,

– oráculo do Senhor Deus do uni­verso:

«Pedirei satisfações aos meus adver­­sários,

hei-de vingar-me dos meus ini­mi­gos.

25Voltarei a minha mão contra ti,

purificar-te-ei no crisol,

eliminarei de ti todas as escórias.

26Restabelecerei os teus juízes como eram outrora,

e os teus conselheiros como eram antigamente.

Então serás chamada ‘Cidade jus­ta’, ‘Cidade fiel.’»


Contra os cultos idólatras (17,9-11)

27Sião será redimida pela recti­dão,

e os seus exilados, resgatados pela justiça.

28Mas os malvados e os pecadores serão destruídos,

todos juntos, e os que abando­nam o Senhor, perecerão.

29Então, tereis vergonha dos tere­­bintos que tanto apreciastes

e dos jardins sagrados que esco­lhestes.

30Sereis como um terebinto, com folhagem seca,

como um jardim que não tem água.

31O homem forte será como es­topa,

e as suas más obras como faúlha;

ambas arderão ao mesmo tempo,

sem que ninguém as possa apa­gar.

Capítulo 2

Sião centro do reino final de Deus (66,18-24; Sl 87; Mq 4,1-3; Zc 8,20-23)


1Visão profética de Isaías, filho de Amós,

sobre Judá e Jerusalém:

2No fim dos tempos

o monte do templo do Senhor estará firme,

será o mais alto de todos,

e dominará sobre as colinas.

Acorrerão a ele todas as gentes,

3virão muitos povos e dirão:

«Vinde, subamos à montanha do Senhor,

à casa do Deus de Jacob.

Ele nos ensinará os seus cami­nhos,

e nós andaremos pelas suas vere­das;

porque de Sião sairá a lei,

e de Jerusalém, a palavra do Se­nhor.

4Ele julgará as nações

e dará as suas leis a muitos po­vos,

os quais transformarão as suas espadas em relhas de arados,

e as suas lanças, em foices.

Uma nação não levantará a es­pada contra outra,

e não se adestrarão mais para a guerra.

5Vinde, Casa de Jacob!

Caminhemos à luz do Senhor.»


O Dia do Senhor

6Tu, ó Deus, rejeitaste o teu povo,

a casa de Jacob,

porque está cheia de magos,

de agoureiros como os filisteus,

e pactuam com os estrangeiros.

7A sua terra está cheia de prata e de ouro,

e os seus tesouros não têm fim.

A sua terra está cheia de cavalos,

e são inumeráveis os seus carros.

8É uma terra cheia de ídolos;

prostram-se diante da obra de suas mãos,

que os seus dedos fabricaram.

9Todos estes homens serão aba­ti­dos e humilhados;

não lhes perdoarás de maneira nenhuma.

10Israelitas, refugiai-vos entre as ro­chas,

escondei-vos, debaixo da terra,

da presença aterradora do Se­nhor,

e do esplendor da sua majestade.

11Então, a soberba dos homens será abatida,

e a arrogância humana será hu­mi­lhada;

só o Senhor será exaltado na­quele dia.

12Porque será o Dia do Senhor do universo,

contra todos os arrogantes,

contra todos os soberbos e pre­sun­çosos,

13contra todos os cedros do Lí­bano,

contra todos os carvalhos de Ba­san,

14contra todas as altas monta­nhas,

contra todos os outeiros elevados,

15contra todas as torres altas,

contra todas as muralhas forti­fi­cadas,

16contra todas as naus de Társis,

contra todos os navios opulentos.

17A soberba dos mortais será aba­tida,

a arrogância dos homens será hu­milhada;

só o Senhor será exaltado na­quele dia.

18Todos os ídolos serão derrubados.

19Refugiai-vos na caverna dos ro­chedos

e nos antros da terra,

para escapardes à vista terrível do Senhor,

ao esplendor da sua majestade,

quando Ele se levantar para aba­lar a terra.

20Naquele dia o homem lançará aos ratos e aos morcegos

os ídolos de prata e de ouro,

que para si tinha feito,

a fim de os adorar;

21refugiar-se-á nas cavernas dos rochedos,

e nas aberturas das pedreiras,

para escapar à vista terrível do Senhor,

ao esplendor da sua majestade,

quando Ele se levantar para aba­lar a terra.

22Cessai, pois, de confiar no ho­mem,

cuja vida é um sopro.

Que estima podeis ter dele?

Capítulo 3

Anarquia em Jerusalém (59,9-15; Ez 22)


1Eis que o Senhor Deus do uni­verso

tirará de Jerusalém e de Judá todo o sustento:

todo o sustento de pão,

todo o sustento de água;

2o capitão e o soldado,

o juiz e o profeta,

o adivinho e o ancião,

3o oficial e o nobre,

o conselheiro e o artesão,

e o entendido em feitiçaria;

4em vez de príncipes dar-lhes-ei meninos,

e serão governados por crianças.

5Os homens hão-de maltratar-se uns aos outros,

cada um contra o seu próximo;

o jovem insultará o idoso,

e o plebeu, o nobre.

6Assim falará um irmão a outro irmão na casa paterna:

«Já que tens pelo menos um manto,

serás tu o nosso chefe,

para governares esta ruína.»

7Quando chegar aquele dia,

o outro lhe protestará:

«Eu não sou médico,

e na minha casa não há pão

nem tenho manto;

não me façais chefe do povo.»

8Jerusalém, com efeito, ameaça ruína,

e Judá vai caindo,

porque as suas palavras

e as suas acções são contra o Senhor.

Insultam a glória de Deus.

9O seu ar insolente depõe contra eles;

ostentam publicamente, como So­­doma, os seus pecados.

Ai deles, porque são causa da sua própria ruína.

10Feliz o justo, porque terá o bem,

comerá o fruto das suas obras.

11Ai do ímpio, porque terá o mal,

será tratado segundo as suas obras.

12Povo meu, és oprimido por crian­ças,

dominado por mulheres;

povo meu, os que te guiam desen­caminham-te,

destroem o caminho que deves seguir.

13O Senhor levanta-se para acu­sar,

e ergue-se para julgar o seu povo.

14O Senhor entrará em juízo

contra os anciãos e os chefes do seu povo:

«Vós devorastes a minha vinha,

e os despojos dos pobres enchem as vossas casas.

15Por que razão calcais aos pés o meu povo,

e macerais o rosto dos pobres?»

– Oráculo do Senhor Deus do uni­­verso.


Contra o luxo das mulheres (32,9-14; Am 4,1-3)

16O Senhor disse:

«Já que são tão orgulhosas as mu­lheres de Sião:

andam com a cabeça emproada,

lançam olhares desavergonha­dos,

caminham com passo afectado,

fazem soar as argolas dos seus pés»,

17o Senhor tornará calvas as suas cabeças,

o Senhor desnudá-las-á.

18Naquele dia, o Senhor lhes tirará todos os seus adornos:

os anéis, os colares, as lúnulas,

19os brincos, as braceletes e os véus,

20os lenços da cabeça, as argolas dos pés e os cintos,

os frascos de perfumes e os amu­letos,

21os anéis dos dedos e argolas do nariz,

22os vestidos de festa, os mantos,

os xailes e as bolsas,

23os espelhos e as musselinas,

os turbantes e as mantilhas.

24Então, em lugar de perfume ha­verá mau cheiro;

em vez de cinto, uma corda;

em vez de cabelos entrançados, a calvície;

em vez de vestidos sumptuosos, um saco;

em vez da beleza, a vergonha.

25Os teus homens cairão mortos à espada,

e os teus soldados tombarão no combate,

26hão-de entristecer-se e gemer as tuas portas;

e, desolada, sentar-te-ás por terra.

Capítulo 4

1Naquele dia, sete mulheres lan­çarão mão de um só homem,

dizendo-lhe:

«Comeremos do nosso pão

e vestir-nos-emos com a nossa roupa;

deixa-nos apenas usar o teu nome

e retira de nós a desonra.»


A restauração2Naquele dia, o rebento do Senhor tornar-se-á orna­mento e glória, e o fruto da terra será grandeza e honra para os sobre­vi­ventes de Israel. 3Os que restarem em Sião, os sobreviventes de Jeru­sa­lém, serão chamados santos: todos serão inscritos em Jeru­salém, entre os vivos.

4Quando o Senhor tiver purificado a imundície das filhas de Sião, e la­vado em Jeru­salém as manchas de sangue pelo vento da justiça e pelo vento da de­vastação, 5o Senhor cria­rá, sobre todo o monte de Sião e na sua assem­bleia, uma nuvem de dia e um fumo como fogo ardente de noite. Por cima de tudo, a glória do Se­nhor, como um baldaquino, 6será uma tenda que dá sombra contra o calor do dia, e um abrigo e refúgio contra a chuva e a tempestade.

Capítulo 5

Cântico da vinha (Sl 80;Os 10,1-4)

1Vou cantar em nome do meu amigo

o cântico do seu amor pela sua vi­nha:

Sobre uma fértil colina,

o meu ami­go possuía uma vinha.

2Cavou-a, tirou-lhe as pedras

e plantou-a de bacelo escolhido.

Edificou-lhe uma torre de vigia

e nela construiu um lagar.

Depois esperou que lhe desse boas uvas,

mas ela só produziu agraços.

3«Agora, pois, habitantes de Jeru­sa­lém,

e vós, homens de Judá,

sede juízes, por favor, entre mim e a minha vinha.

4Que mais poderia Eu fazer pela minha vinha,

que não tenha feito?

Porque é que, esperando Eu que desse boas uvas,

apenas produziu agraços?

5Agora, pois, mostrar-vos-ei o que hei-de fazer à minha vinha:

destruirei a vedação para que sirva de pasto,

e derrubar-lhe-ei a sebe para que seja pisada.

6Deixá-la-ei deserta, não será po­dada nem cavada;

crescerão nela os espinhos e os abrolhos;

mandarei às nuvens que não der­ramem chuva sobre ela.»

7A vinha do Senhor do universo é a casa de Israel;

os homens de Judá são a sua cepa predilecta.

Esperou deles a justiça,

e eis que só há injustiça;

esperou a rectidão,

e eis que só há lamentações.


Maldições contra os ambiciosos (Am 5,7-17; 6,1-11; Hab 2)

8Ai de vós os que juntais casas e mais casas

e que acrescentais campos e mais campos,

até que não haja mais terreno,

e até que fiqueis os únicos pro­prietários em todo o país!

9Aos meus ouvidos chegou este ju­ramento do Senhor do uni­verso:

«As suas muitas casas serão ar­rasadas,

os seus palácios magníficos fica­rão desabitados;

10três hectares de vinha produ­zi­rão apenas um cântaro,

e dez medidas de semente não darão mais que um alqueire.»

11Ai dos que madrugam para pro­curarem a embriaguez

e se retardam pela noite embria­gados pelo vinho!

12Tudo são cítaras e harpas,

pandeiretas e flautas e muito vi­nho nos seus banquetes;

e não reparam nas obras do Se­nhor,

nem consideram a obra das suas mãos.

13Por isso, o meu povo será des­ter­rado sem de nada se dar conta.

Os seus grandes serão consumi­dos pela fome,

e a plebe mirrará de sede.

14Por isso, a habitação dos mortos alargará o seu seio

e abrirá a sua boca, sem medida;

a ela descerão os nobres e a plebe,

com o barulho dos seus festejos.

15Todo o ser mortal se terá de cur­var,

todo o homem será humilhado,

e os olhos altivos serão abatidos.

16E o Senhor do universo será exal­tado na sua sentença,

o Deus santo mostrará a sua san­tidade pelo julgamento.

17Os cordeiros pastarão nas ruínas, como em suas pastagens

e aí se alimentarão os cabritos.

18Ai dos que arrastam culpas como bois atrelados,

e pecados atados com cordas de carro!

19Vós dizeis: «Que Ele se apresse,

que faça sem demora a sua obra,

para que a gente a veja;

que o plano do Santo de Israel se execute,

para que o conheçamos!»

20Ai dos que ao mal chamam bem,

e ao bem, mal,

que têm as trevas por luz

e a luz por trevas,

que têm o amargo por doce

e o doce por amargo!

21Ai dos que se têm por sábios e que se julgam espertos!

22Ai dos que são valentes para be­ber vinho

e fortes para misturar licores!

23Ai dos que, por suborno, absol­vem o culpado

e negam justiça ao inocente!

24Por isso, assim como a língua do fogo devora a palha,

e a erva seca se consome na cha­ma,

a raiz deles há-de desfazer-se em podridão

e a sua flor dissipar-se-á como o pó,

porque rejeitaram a lei do Senhor do universo

e desprezaram a palavra do Santo de Israel.

25Por isso, o furor do Senhor se in­flamou contra o seu povo

e estende a sua mão para o cas­tigar.

Tremem os montes,

e os seus cadáveres jazem no meio das ruas como esterco.

Mas com tudo isto, não se apla­cou a sua cólera,

e a sua mão está ainda levantada.


Invasão da Assíria (8,5-8; 10,28-32)

26Ele levantará um estandarte para chamar as nações longínquas,

e dará assobios para as atrair dos confins da terra;

ei-las que chegam depressa e ve­lo­zes.

27Ninguém de entre eles se sente can­sado ou vacilante,

ninguém repousa nem dormita;

ninguém desata o cinto dos seus rins,

nem desaperta a correia das san­dálias.

28As suas flechas estão aguçadas,

os seus arcos estão retesados.

Os cascos dos seus cavalos são como pederneira,

e as rodas dos seus carros asse­melham-se ao furacão.

29O seu rugido é de leão,

rosna como um leãozinho.

Ele brame, agarra a sua presa,

leva-a, sem haver quem lha arre­bate.

30Naquele dia, tal exército bra­mirá contra Israel

como o bramido do mar.

Olhai a terra envolta em trevas espessas

e em nuvens que cobrem a luz.

Capítulo 6

Vocação de Isaías (Jz 6,12-24; Jr 1,4-19; Ez 2) – 1No ano em que morreu o rei Uzias, vi o Senhor sen­tado num trono alto e elevado; as franjas do seu manto enchiam o tem­plo. 2Os sera­fins estavam diante dele e cada um ti­nha seis asas: com duas asas co­briam o rosto, com duas asas co­briam o cor­po, com duas asas voa­vam. 3 E clamavam uns para os outros:

«Santo, santo, santo, o Senhor do universo!

Toda a terra está cheia da sua glória!»

4E tremiam os gonzos das portas ao clamor da sua voz,

e o templo encheu-se de fumo.

5Então disse: «Ai de mim, estou perdido,

porque sou um homem de lábios impuros,

que habita no meio de um povo de lábios impuros,

e vi com os meus olhos o Rei, Se­nhor do universo!»

6Um dos serafins voou na minha direcção;

trazia na mão uma brasa viva,

que tinha tomado do altar com uma tenaz.

7Tocou na minha boca e disse:

«Repara bem, isto tocou os teus lábios;

foi afastada a tua culpa

e apagado o teu pecado!»

8Então, ouvi a voz do Senhor que dizia:

«Quem enviarei?

Quem será o nosso mensageiro?»

Então eu disse: «Eis-me aqui, envia-me.»

9O Senhor replicou:

«Vai, pois, e diz a esse povo:

ouvi, tornai a ouvir, mas não com­preendereis.

Vede, tornai a ver, mas não per­ce­bereis.

10Endurece o coração deste povo,

ensurdece-lhe os ouvidos,

fecha-lhe os olhos.

Que os seus olhos não vejam,

que os seus ouvidos não ouçam,

que o seu coração não entenda,

que não se converta e Eu o cure.»

11Perguntei:

«Até quando, Senhor?»

Ele respondeu:

«Até que as cidades fiquem de­vastadas e sem habitantes,

as casas sem gente e os campos desertos.

12Expulsarei os homens para longe,

haverá grande desolação no país.

13Se restar um décimo da popu­la­ção,

esse será também cortado.

Mas acontecerá como ao tere­binto e ao carvalho,

que uma vez cortados,

deixam um rebento.

Esse rebento será uma semente santa.»

Capítulo 7

Primeiro aviso a Acaz1Em Judá, reinava Acaz, filho de Jo­tam e neto de Uzias. Acon­teceu que Recin, rei de Damasco e Pecá, filho de Remalias, rei de Is­rael, mar­cha­ram contra Jerusalém para a com­ba­­ter, mas não puderam apoderar-se dela. 2Chegou a notícia ao herdeiro de David:


«Os sírios acampam em Efraim.»

Ao ouvir isto, agitou-se o coração do rei e do seu povo,

como se agitam as árvores das florestas impelidas pelo vento.

3Então o Senhor disse a Isaías:

«Sai ao encontro de Acaz com o teu filho

Chear-Yachub,

na extremidade do aqueduto da piscina superior,

junto à Calçada do Bataneiro,

4e diz-lhe:

‘Tranquiliza-te, tem calma, não temas

nem te acobardes diante do furor de Recin, rei da Síria,

e de Pecá, filho de Remalias:

não passam de dois tições fume­gantes.

5De facto, a Síria, Efraim e o filho de Remalias

decidiram a tua ruína dizendo:

6Vamos contra Judá e sitiemo-la,

e proclamaremos rei o filho de Tabiel.’»

7Assim diz o Senhor Deus:

«Tal não acontecerá nem se rea­lizará.

8Assim como é verdade que a ca­pi­tal da Síria é Damasco,

e que o chefe de Damasco é Re­cin;

9que a capital de Efraim é Sa­ma­ria,

e que o chefe da Samaria é o filho de Remalias;

também é verdade que daqui a cinco ou seis anos

Efraim será destruída, deixará de ser povo.

Se não o acreditardes, não subsis­tireis.»


Segundo aviso: sinal do Ema­nuel

10O Senhor mandou dizer de novo a Acaz:

11«Pede ao Senhor teu Deus um sinal,

quer no fundo dos abismos, quer lá no alto dos céus.»

12Acaz respondeu:

«Não pedirei tal coisa, não ten­tarei o Senhor.»

13Isaías respondeu:

«Escuta, pois, casa de David:

Não vos basta já ser molestos para os homens,

senão que também ousais sê-lo para o meu Deus?

14Por isso, o Senhor, por sua con­­ta e risco,

vos dará um sinal. Olhai:

a jovem está grávida e vai dar à luz um filho,

e há-de pôr-lhe o nome de Ema­nuel.

15Ele será alimentado com requei­jão e mel

até que saiba rejeitar o mal e es­colher o bem.

16Porque antes que o menino sai­ba rejeitar o mal e escolher o bem,

a terra, cujos dois reis tu temes, será devastada.»


Invasão devastadora (5,26-30)

17O Senhor fará vir sobre ti,

so­bre o teu povo e a tua dinastia,

dias tais como ainda não foram vistos,

desde que Efraim se separou de Judá.

Ele mandará o rei da Assíria.

18Naquele dia o Senhor assobia­rá aos moscardos,

que vivem nos mais afastados ca­nais do Egipto,

e às abelhas que vivem no país da Assíria.

19Virão todos e pousarão nos vales e nas torrentes,

nas cavernas dos rochedos,

em todos os matos e em todas as pastagens.

20Naquele dia, o Senhor mandará vir o rei da Assíria,

do outro lado do rio Eufrates,

rapar-vos a cabeça, o pêlo do cor­po e a barba.

21Naquele dia cada um criará uma vaca

e duas ovelhas;

22e, pela grande abundância do leite,

comerão requeijão e mel

todos os que ficarem na terra.

23Naquele dia, um terreno de mil ce­pas no valor de mil peças de prata,

produzirá apenas abrolhos e espi­nhos.

24Ali não se entrará senão com arco e setas,

porque toda a terra estará co­berta de abrolhos e espinhos.

25Não entrarás agora, em todas as colinas cultivadas à enxada,

pelo temor dos abrolhos e dos es­pinhos;

apenas servirão para pasto dos bois e para serem pisadas pe­las ove­lhas.»

Capítulo 8

O nascimento de um filho1O Senhor disse-me: «Pega nu­ma tábua grande e escreve nela em caracteres legíveis: Maher-Cha­lal-Hach-Baz.» 2Tomei depois duas tes­te­munhas fidedignas: o sacer­dote Urias e Zacarias, filho de Bara­quias.

3Juntei-me à minha mu­lher, a pro­fetisa, que ficou grávida e deu à luz um filho. E o Senhor disse-me: «Cha­ma-lhe: Pronto-para-o-saque-veloz-para-a-presa, 4por­que antes que o menino saiba dizer ‘papá’, ‘mamã’, as riquezas de Da­masco e os despojos da Samaria serão levados à pre­sença do rei da Assíria.»


Invasão (5,26-30; Jr 1,13-16)

5O Senhor disse-me de novo:

6«Este meu povo

rejeitou as minhas águas de Si­loé,

que correm tranquilas,

mas tremeu diante de Recin e do filho de Remalias.

7Por isso farei cair sobre eles as águas abundantes e impe­tuo­sas do Eufrates, isto é,

o rei da Assíria com todo o seu exér­cito;

sobem acima das margens,

transbordam das ribeiras,

8invadem Judá,

inundam e submergem,

chegam até ao pescoço.

As suas margens estender-se-ão

até cobrirem a vastidão da tua terra, ó Emanuel!»


A libertação (14,24-27)

9Sabei, ó povos, que sereis esma­gados!

Ouvi com atenção, vós, nações lon­­gínquas!

Tomai as vossas armas e sereis destruídas!

Repito: pegai nas vossas armas, que sereis destruídas.

10Traçai planos, que serão frus­tra­dos;

ordenai ameaças, que não serão executadas,

pois temos o Emanuel: «Deus-con­nosco.»


O Senhor é pedra de tropeço

11Assim me falou o Senhor,

quando me agarrou com a sua mão

para me afastar do caminho des­te povo:

12«Não chameis conspiração ao que este povo chama cons­piração;

não temais o que ele teme, nem vos assusteis.

13Só ao Senhor do universo é que deveis chamar santo.

Ele é o único que deveis temer e respeitar.

14Ele será um santuário,

mas também a pedra de tropeço,

a rocha de precipício para as duas casas de Israel:

será laço e cilada para os habi­tan­tes de Jerusalém.

15Muitos tropeçarão nela,

cairão e serão despedaçados,

serão enredados no laço e ficarão presos.»


Isaías dirige-se aos discí­pulos (30,8-9)

16Guardo o testemunho, selo esta instrução,

que só revelo aos meus discí­pu­los.

17Terei confiança no Senhor,

que esconde a sua face à casa de Jacob,

mas eu ponho nele a minha espe­rança.

18Eis que eu e os filhos que o Se­nhor me deu

somos em Israel sinal e presságio

da parte do Senhor do universo,

que habita no monte Sião.

19Hão-de dizer-vos: «Consultai os espíritos dos mortos e os adivi­nhos que murmuram e predizem o fu­turo. Porventura não deve o povo consul­tar os seus deuses e consultar os mor­tos em benefício dos vivos?»

20Quando vos falarem assim, res­pon­dei: «Só de­vemos dar ouvidos às instruções do Senhor.» Quem não actuar assim não verá a aurora.


Profecia messiânica

21O povo andará errante pela terra,

oprimido e esfomeado.

Agastado pela fome,

amaldiçoará o seu rei e o seu Deus.

Levantará os seus olhos para o alto,

22depois olhará para a terra

e não verá senão angústia, tre­vas, aflição e espessa escuridão.

23Não haverá senão obscuridade e angústia nesta terra.

No tempo passado, o Senhor hu­milhou a terra de Zabulão

e o país de Neftali;

no futuro cobrirá de glória o cami­nho do mar,

do outro lado do Jordão, a Ga­li­leia dos gentios.

Capítulo 9

1O povo que andava nas trevas viu uma grande luz;

habitavam numa terra de som­bras,

mas uma luz brilhou sobre eles.

2Multiplicaste a alegria,

aumentaste o júbilo;

alegram-se diante de ti

como os que se alegram no tempo da colheita,

como se regozijam os que repar­tem os despojos.

3Pois Tu quebraste o seu jugo pe­sado,

a vara que lhe feria o ombro

e o bastão do seu capataz,

como na jornada de Madian.

4Porque a bota que pisa o solo com arrogância

e a capa empapada em sangue

serão queimadas e serão pasto das chamas.

5Porquanto um menino nasceu para nós,

um filho nos foi dado;

tem a soberania sobre os seus om­­bros,

e o seu nome é:

Conselheiro-Admirável, Deus he­rói,

Pai-Eterno, Príncipe da paz.

6Dilatará o seu domínio com uma paz sem limites,

sobre o trono de David e sobre o seu reino.

Ele o estabelecerá e o conso­li­da­rá com o direito e com a jus­tiça,

desde agora e para sempre.

Assim fará o amor ardente do Se­nhor do universo.


Vingança do Senhor (Jr 5; Am 4,6-12)

7O Senhor proferiu uma ameaça contra Jacob,

e ela caiu sobre Israel.

8Chegará ao conhecimento de todo o povo,

de Efraim e dos habitantes da Sa­maria,

os quais, na sua soberba e dureza de coração, exclamam:

9«Os tijolos caíram, mas nós edifi­caremos com pedras lavradas;

as traves de madeira dos sicó­mo­ros foram abatidas,

mas nós as substituiremos por ma­deira de cedros.»

10O Senhor lançará contra eles os inimigos

e estimulará os seus adversários:

11a oriente, Damasco; a ocidente, os filisteus;

estes devorarão Israel à boca cheia.

Apesar de tudo isto,

não se aplaca a sua ira;

antes, a sua mão continuará a cas­­­tigar.

12Porém, o povo não se voltou para quem o feria,

não procurou o Senhor do uni­verso.

13O Senhor cortará a cabeça e a cauda de Israel,

a palma e o junco num só dia.

14O ancião e o nobre são a cabeça,

o profeta que ensina a mentira é a cauda.

15Os que dirigem este povo desen­caminham-no,

e os dirigidos perdem-se.

16Por isso, o Senhor não se com­pa­dece dos jovens

e não tem piedade dos orfãos e das viúvas.

Todos eles são ímpios e maus,

toda a gente só profere loucuras.

Apesar de tudo isto não se aplaca a sua ira;

antes, a sua mão continuará a cas­tigar.

17A iniquidade está ardendo como um fogo

que devora os abrolhos e os espi­nhos

e ateia um incêndio na floresta,

levantando para o alto turbilhões de fumo.

18A cólera do Senhor do universo faz arder o país

e o povo é pasto das chamas:

ninguém poupa a ninguém, nem aos irmãos.

19Corta-se à direita e fica-se com fome,

devora-se à esquerda e ninguém se sacia.

20Manassés contra Efraim,

Efraim contra Manassés,

e os dois juntos contra Judá.

Apesar de tudo isto, não se apla­ca a sua ira;

antes, a sua mão continuará a cas­tigar.

Capítulo 10

Maldições contra os legis­lado­res injustos (5,8-23)

1Ai dos que decretam leis in­jus­tas,

e dos que redigem prescrições opres­­­soras,

2dos que afastam os pobres do tri­bunal

e zombam dos direitos dos fracos do meu povo,

fazendo das viúvas a sua presa

e roubando os bens dos órfãos!

3Que fareis vós no dia do ajuste de contas,

quando o furacão vier de longe?

A quem acudireis em busca de auxílio

e onde escondereis as vossas ri­quezas?

4Só vos resta dobrar a cerviz en­tre os cativos

e cair entre os mortos.

Apesar de tudo isto, não se aplaca a sua ira;

antes, a sua mão continuará a cas­tigar.


Maldições contra os assírios

5Ai da Assíria, vara da minha có­lera,

o bastão das suas mãos é o bas­tão do meu furor!

6Eu o atirei contra uma nação ím­pia

e o lancei contra o povo, objecto do meu furor,

para o saquear e despojar e para o calcar aos pés como lama das ruas.

7Mas ele não entendeu assim,

nem eram estes os planos do seu coração.

O seu propósito era

destruir e exterminar muitas na­ções.

8Dizia, com efeito:

«Porventura não são todos reis os meus oficiais?

9Não aconteceu à cidade de Cal­nó como à de Carquémis,

à cidade de Hamat como à de Ar­pad,

à cidade de Samaria como à de Damasco?

10Como a minha mão se apoderou daqueles reinos de ídolos,

com imagens mais ricas que os de Jerusalém e Samaria,

11como tratei Samaria e os seus ídolos,

não hei-de fazer o mesmo

a Jerusalém e aos seus ídolos?»

12Mas quando o Senhor tiver ter­mi­nado toda a sua obra

no Monte Sião e em Jerusalém,

irá castigar também o rei da As­síria

pelo orgulho do seu coração

e pela sua arrogância insolente.

13Realmente ele afirma:

«Foi pela força da minha mão que fiz isto,

com a minha sabedoria, porque sou inteligente.

Mudei as fronteiras dos povos,

saqueei os seus tesouros,

como um herói derrubei toda aque­la gente.

14Apanhei com a minha mão a ri­queza dos povos,

como quem recolhe os ovos dei­xados num ninho.

Juntei a terra inteira

e ninguém bateu as asas,

nem abriu a boca para piar.»

15Acaso gloriar-se-á o machado con­tra quem o maneja?

Ou levantar-se-á a serra contra o serrador?

Um bastão não pode comandar um homem,

é o homem que faz mover o bas­tão.

16Por isso, o Senhor Deus do uni­verso

enfraquecerá com a doença aque­les guerreiros;

debaixo do fígado acender-lhes-á uma febre

como um fogo de incêndio.


O resto de Israel

17A luz de Israel será como um fogo,

e o Deus santo, como uma chama

que abrasará e devorará os seus abrolhos

e os seus espinhos, num só dia.

18O esplendor do seu bosque e do seu jardim

será aniquilado no corpo e na alma,

como um doente que definha e morre.

19As árvores que ficarem nos seus bosques serão tão poucas

que até um menino as poderá contar.

20Naquele dia, o resto de Israel e os sobreviventes de Jacob já não voltarão a apoiar-se no seu agres­sor, mas apoiar-se-ão com confiança no Senhor, o Santo de Israel. 21Um resto voltará, um resto de Jacob, para o Deus forte. 22Ainda que o teu povo, ó Israel, fosse tão numeroso como a areia do mar, só um resto dele vol­tará. A destruição decretada é mais do que justa. 23O Senhor Deus do uni­verso vai cumprir em toda a terra este decreto de destrui­ção.


Oráculo24Por isso, o Senhor Deus do universo diz: «Povo meu, que ha­bitas em Sião, não temas a Assíria que te fere com a vara, que levanta o seu bastão contra ti, como outrora os egípcios. 25Porque, dentro de muito pouco tempo, a minha indignação irá destruí-los, a minha cólera, aniquilá-los. 26Eu, o Senhor do universo, le­van­tarei o açoite contra eles, como quando feri Madian no penhasco de Oreb, como quando levantei o meu bastão contra o mar, no caminho do Egipto.» 27Naquele dia, será reti­rada a carga que ele impôs sobre os teus ombros e desaparecerá o jugo que ele colocou no teu pescoço. É o jugo confrontado com a abundância.


O invasor assírio (5,26-30; Mq 1,10-16)

28O inimigo chegou à cidade de Aiat;

passou por Migron

e revistou as tropas em Micmás.

29Passaram o desfiladeiro.

Durante a noite acamparam em Gueba.

O povo de Ramá está aterrori­zado,

e o de Guibeá de Saul está em fuga.

30Grita forte, povo de Bat-Galim,

escuta, gente de Laissa,

responde povo de Anatot.

31Os de Madmena e os de Guebim

põem-se em fuga.

32Mais um dia, para descansar em Nob,

e já levanta a sua mão contra o monte Sião,

contra a colina de Jerusalém.

33Olhai, o Senhor Deus do universo quebrará o inimigo

como se quebram os ramos com um só golpe,

como se cortam as grandes árvo­res

e se abatem os ramos altos;

34abaterá o inimigo

como se abate a madeira do bos­que com a machada,

como se deita por terra o Líbano

com o seu esplendor.

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