Capítulo 1
1Visão de Isaías, filho de Amós, acerca dos habitantes de Judá e Jerusalém no tempo de Uzias, de Jotam, de Acaz e de Ezequias, reis de Judá.
Acusação de Deus (Am 4,6-13)
2Ouvi, ó céus, e escuta, ó terra,
porque é o Senhor quem te fala:
«Criei filhos e fi-los crescer,
mas eles revoltaram-se contra mim.
3O boi conhece o seu dono,
e o jumento, o estábulo do seu senhor;
mas Israel, meu povo, nada entende.»
4Ai de vós, nação pecadora,
povo carregado de iniquidades,
raça de malfeitores,
filhos malvados!
Abandonaram o Senhor,
renegaram o Santo de Israel,
voltaram-lhe as costas.
5Onde podereis ser castigados de novo,
já que persistis na rebeldia?
A vossa cabeça é uma chaga,
o vosso coração está totalmente abatido.
6Desde a planta dos pés até ao alto da cabeça,
não há nada de são em vós.
Tudo são feridas, contusões, chagas vivas,
que não foram curadas nem ligadas,
nem suavizadas com azeite.
7A vossa terra está deserta,
as vossas cidades incendiadas.
Os estrangeiros devastam diante de vós
os vossos campos.
É a desolação e a destruição provocada pelos inimigos.
8Ficou apenas Sião, como cabana numa vinha,
como choça num pepinal,
como cidade sitiada.
9Se o Senhor do universo
não nos tivesse conservado um pequeno resto,
teríamos sido como Sodoma,
seríamos agora como Gomorra.
Segunda acusação de Deus (58; Sl 50)
10Ouvi a palavra do Senhor,
ó príncipes de Sodoma;
escutai a lição do nosso Deus,
povo de Gomorra:
11«De que me serve a mim a multidão das vossas vítimas?
– diz o Senhor.
Estou farto de holocaustos de carneiros,
de gordura de bezerros.
Não me agrada o sangue de vitelos,
de cordeiros nem de bodes.
12Quando me viestes prestar culto,
quem reclamou de vós semelhantes dons,
ao pisardes o meu santuário?
13Não me ofereçais mais dons inúteis:
o incenso é-me abominável;
as celebrações lunares, os sábados,
as reuniões de culto,
as festas e as solenidades são-me insuportáveis.
14Abomino as vossas celebrações lunares
e as vossas festas;
estou cansado delas,
não as suporto mais.
15Quando levantais as vossas mãos,
afasto de vós os meus olhos;
podeis multiplicar as vossas preces,
que Eu não as atendo.
É que as vossas mãos estão cheias de sangue.
16Lavai-vos, purificai-vos,
tirai da frente dos meus olhos
a malícia das vossas acções.
Cessai de fazer o mal,
17aprendei a fazer o bem;
procurai o que é justo,
socorrei os oprimidos,
fazei justiça aos órfãos,
defendei as viúvas.
18Vinde agora, entendamo-nos – diz o Senhor.
Mesmo que os vossos pecados
sejam como escarlate,
tornar-se-ão brancos como a neve.
Mesmo que sejam vermelhos como a púrpura,
ficarão brancos como a lã.
19Se fordes dóceis e obedientes,
comereis os bens da terra;
20se recusardes, se vos revoltardes,
sereis devorados pela espada.
É o Senhor quem o declara.»
A cidade infiel (Jr 23; Ez 16; Os 2)
21Como se tornou numa prostituta a cidade fiel!
Outrora, cheia de direito,
nela morava a justiça,
mas agora são assassinos.
22Eras como a prata,
que agora se converteu em escória;
eras como bom vinho,
que agora se misturou com água.
23Os teus governantes são rebeldes,
companheiros de ladrões;
andam todos à procura de regalias e de recompensas.
Não defendem o direito dos órfãos
nem se interessam pela questão das viúvas.
24Por este motivo, ó Israel,
– oráculo do Senhor Deus do universo:
«Pedirei satisfações aos meus adversários,
hei-de vingar-me dos meus inimigos.
25Voltarei a minha mão contra ti,
purificar-te-ei no crisol,
eliminarei de ti todas as escórias.
26Restabelecerei os teus juízes como eram outrora,
e os teus conselheiros como eram antigamente.
Então serás chamada ‘Cidade justa’, ‘Cidade fiel.’»
Contra os cultos idólatras (17,9-11)
27Sião será redimida pela rectidão,
e os seus exilados, resgatados pela justiça.
28Mas os malvados e os pecadores serão destruídos,
todos juntos, e os que abandonam o Senhor, perecerão.
29Então, tereis vergonha dos terebintos que tanto apreciastes
e dos jardins sagrados que escolhestes.
30Sereis como um terebinto, com folhagem seca,
como um jardim que não tem água.
31O homem forte será como estopa,
e as suas más obras como faúlha;
ambas arderão ao mesmo tempo,
sem que ninguém as possa apagar.
Capítulo 2
Sião centro do reino final de Deus (66,18-24; Sl 87; Mq 4,1-3; Zc 8,20-23)
1Visão profética de Isaías, filho de Amós,
sobre Judá e Jerusalém:
2No fim dos tempos
o monte do templo do Senhor estará firme,
será o mais alto de todos,
e dominará sobre as colinas.
Acorrerão a ele todas as gentes,
3virão muitos povos e dirão:
«Vinde, subamos à montanha do Senhor,
à casa do Deus de Jacob.
Ele nos ensinará os seus caminhos,
e nós andaremos pelas suas veredas;
porque de Sião sairá a lei,
e de Jerusalém, a palavra do Senhor.
4Ele julgará as nações
e dará as suas leis a muitos povos,
os quais transformarão as suas espadas em relhas de arados,
e as suas lanças, em foices.
Uma nação não levantará a espada contra outra,
e não se adestrarão mais para a guerra.
5Vinde, Casa de Jacob!
Caminhemos à luz do Senhor.»
O Dia do Senhor
6Tu, ó Deus, rejeitaste o teu povo,
a casa de Jacob,
porque está cheia de magos,
de agoureiros como os filisteus,
e pactuam com os estrangeiros.
7A sua terra está cheia de prata e de ouro,
e os seus tesouros não têm fim.
A sua terra está cheia de cavalos,
e são inumeráveis os seus carros.
8É uma terra cheia de ídolos;
prostram-se diante da obra de suas mãos,
que os seus dedos fabricaram.
9Todos estes homens serão abatidos e humilhados;
não lhes perdoarás de maneira nenhuma.
10Israelitas, refugiai-vos entre as rochas,
escondei-vos, debaixo da terra,
da presença aterradora do Senhor,
e do esplendor da sua majestade.
11Então, a soberba dos homens será abatida,
e a arrogância humana será humilhada;
só o Senhor será exaltado naquele dia.
12Porque será o Dia do Senhor do universo,
contra todos os arrogantes,
contra todos os soberbos e presunçosos,
13contra todos os cedros do Líbano,
contra todos os carvalhos de Basan,
14contra todas as altas montanhas,
contra todos os outeiros elevados,
15contra todas as torres altas,
contra todas as muralhas fortificadas,
16contra todas as naus de Társis,
contra todos os navios opulentos.
17A soberba dos mortais será abatida,
a arrogância dos homens será humilhada;
só o Senhor será exaltado naquele dia.
18Todos os ídolos serão derrubados.
19Refugiai-vos na caverna dos rochedos
e nos antros da terra,
para escapardes à vista terrível do Senhor,
ao esplendor da sua majestade,
quando Ele se levantar para abalar a terra.
20Naquele dia o homem lançará aos ratos e aos morcegos
os ídolos de prata e de ouro,
que para si tinha feito,
a fim de os adorar;
21refugiar-se-á nas cavernas dos rochedos,
e nas aberturas das pedreiras,
para escapar à vista terrível do Senhor,
ao esplendor da sua majestade,
quando Ele se levantar para abalar a terra.
22Cessai, pois, de confiar no homem,
cuja vida é um sopro.
Que estima podeis ter dele?
Capítulo 3
Anarquia em Jerusalém (59,9-15; Ez 22)
1Eis que o Senhor Deus do universo
tirará de Jerusalém e de Judá todo o sustento:
todo o sustento de pão,
todo o sustento de água;
2o capitão e o soldado,
o juiz e o profeta,
o adivinho e o ancião,
3o oficial e o nobre,
o conselheiro e o artesão,
e o entendido em feitiçaria;
4em vez de príncipes dar-lhes-ei meninos,
e serão governados por crianças.
5Os homens hão-de maltratar-se uns aos outros,
cada um contra o seu próximo;
o jovem insultará o idoso,
e o plebeu, o nobre.
6Assim falará um irmão a outro irmão na casa paterna:
«Já que tens pelo menos um manto,
serás tu o nosso chefe,
para governares esta ruína.»
7Quando chegar aquele dia,
o outro lhe protestará:
«Eu não sou médico,
e na minha casa não há pão
nem tenho manto;
não me façais chefe do povo.»
8Jerusalém, com efeito, ameaça ruína,
e Judá vai caindo,
porque as suas palavras
e as suas acções são contra o Senhor.
Insultam a glória de Deus.
9O seu ar insolente depõe contra eles;
ostentam publicamente, como Sodoma, os seus pecados.
Ai deles, porque são causa da sua própria ruína.
10Feliz o justo, porque terá o bem,
comerá o fruto das suas obras.
11Ai do ímpio, porque terá o mal,
será tratado segundo as suas obras.
12Povo meu, és oprimido por crianças,
dominado por mulheres;
povo meu, os que te guiam desencaminham-te,
destroem o caminho que deves seguir.
13O Senhor levanta-se para acusar,
e ergue-se para julgar o seu povo.
14O Senhor entrará em juízo
contra os anciãos e os chefes do seu povo:
«Vós devorastes a minha vinha,
e os despojos dos pobres enchem as vossas casas.
15Por que razão calcais aos pés o meu povo,
e macerais o rosto dos pobres?»
– Oráculo do Senhor Deus do universo.
Contra o luxo das mulheres (32,9-14; Am 4,1-3)
16O Senhor disse:
«Já que são tão orgulhosas as mulheres de Sião:
andam com a cabeça emproada,
lançam olhares desavergonhados,
caminham com passo afectado,
fazem soar as argolas dos seus pés»,
17o Senhor tornará calvas as suas cabeças,
o Senhor desnudá-las-á.
18Naquele dia, o Senhor lhes tirará todos os seus adornos:
os anéis, os colares, as lúnulas,
19os brincos, as braceletes e os véus,
20os lenços da cabeça, as argolas dos pés e os cintos,
os frascos de perfumes e os amuletos,
21os anéis dos dedos e argolas do nariz,
22os vestidos de festa, os mantos,
os xailes e as bolsas,
23os espelhos e as musselinas,
os turbantes e as mantilhas.
24Então, em lugar de perfume haverá mau cheiro;
em vez de cinto, uma corda;
em vez de cabelos entrançados, a calvície;
em vez de vestidos sumptuosos, um saco;
em vez da beleza, a vergonha.
25Os teus homens cairão mortos à espada,
e os teus soldados tombarão no combate,
26hão-de entristecer-se e gemer as tuas portas;
e, desolada, sentar-te-ás por terra.
Capítulo 4
1Naquele dia, sete mulheres lançarão mão de um só homem,
dizendo-lhe:
«Comeremos do nosso pão
e vestir-nos-emos com a nossa roupa;
deixa-nos apenas usar o teu nome
e retira de nós a desonra.»
A restauração – 2Naquele dia, o rebento do Senhor tornar-se-á ornamento e glória, e o fruto da terra será grandeza e honra para os sobreviventes de Israel. 3Os que restarem em Sião, os sobreviventes de Jerusalém, serão chamados santos: todos serão inscritos em Jerusalém, entre os vivos.
4Quando o Senhor tiver purificado a imundície das filhas de Sião, e lavado em Jerusalém as manchas de sangue pelo vento da justiça e pelo vento da devastação, 5o Senhor criará, sobre todo o monte de Sião e na sua assembleia, uma nuvem de dia e um fumo como fogo ardente de noite. Por cima de tudo, a glória do Senhor, como um baldaquino, 6será uma tenda que dá sombra contra o calor do dia, e um abrigo e refúgio contra a chuva e a tempestade.
Capítulo 5
Cântico da vinha (Sl 80;Os 10,1-4)
1Vou cantar em nome do meu amigo
o cântico do seu amor pela sua vinha:
Sobre uma fértil colina,
o meu amigo possuía uma vinha.
2Cavou-a, tirou-lhe as pedras
e plantou-a de bacelo escolhido.
Edificou-lhe uma torre de vigia
e nela construiu um lagar.
Depois esperou que lhe desse boas uvas,
mas ela só produziu agraços.
3«Agora, pois, habitantes de Jerusalém,
e vós, homens de Judá,
sede juízes, por favor, entre mim e a minha vinha.
4Que mais poderia Eu fazer pela minha vinha,
que não tenha feito?
Porque é que, esperando Eu que desse boas uvas,
apenas produziu agraços?
5Agora, pois, mostrar-vos-ei o que hei-de fazer à minha vinha:
destruirei a vedação para que sirva de pasto,
e derrubar-lhe-ei a sebe para que seja pisada.
6Deixá-la-ei deserta, não será podada nem cavada;
crescerão nela os espinhos e os abrolhos;
mandarei às nuvens que não derramem chuva sobre ela.»
7A vinha do Senhor do universo é a casa de Israel;
os homens de Judá são a sua cepa predilecta.
Esperou deles a justiça,
e eis que só há injustiça;
esperou a rectidão,
e eis que só há lamentações.
Maldições contra os ambiciosos (Am 5,7-17; 6,1-11; Hab 2)
8Ai de vós os que juntais casas e mais casas
e que acrescentais campos e mais campos,
até que não haja mais terreno,
e até que fiqueis os únicos proprietários em todo o país!
9Aos meus ouvidos chegou este juramento do Senhor do universo:
«As suas muitas casas serão arrasadas,
os seus palácios magníficos ficarão desabitados;
10três hectares de vinha produzirão apenas um cântaro,
e dez medidas de semente não darão mais que um alqueire.»
11Ai dos que madrugam para procurarem a embriaguez
e se retardam pela noite embriagados pelo vinho!
12Tudo são cítaras e harpas,
pandeiretas e flautas e muito vinho nos seus banquetes;
e não reparam nas obras do Senhor,
nem consideram a obra das suas mãos.
13Por isso, o meu povo será desterrado sem de nada se dar conta.
Os seus grandes serão consumidos pela fome,
e a plebe mirrará de sede.
14Por isso, a habitação dos mortos alargará o seu seio
e abrirá a sua boca, sem medida;
a ela descerão os nobres e a plebe,
com o barulho dos seus festejos.
15Todo o ser mortal se terá de curvar,
todo o homem será humilhado,
e os olhos altivos serão abatidos.
16E o Senhor do universo será exaltado na sua sentença,
o Deus santo mostrará a sua santidade pelo julgamento.
17Os cordeiros pastarão nas ruínas, como em suas pastagens
e aí se alimentarão os cabritos.
18Ai dos que arrastam culpas como bois atrelados,
e pecados atados com cordas de carro!
19Vós dizeis: «Que Ele se apresse,
que faça sem demora a sua obra,
para que a gente a veja;
que o plano do Santo de Israel se execute,
para que o conheçamos!»
20Ai dos que ao mal chamam bem,
e ao bem, mal,
que têm as trevas por luz
e a luz por trevas,
que têm o amargo por doce
e o doce por amargo!
21Ai dos que se têm por sábios e que se julgam espertos!
22Ai dos que são valentes para beber vinho
e fortes para misturar licores!
23Ai dos que, por suborno, absolvem o culpado
e negam justiça ao inocente!
24Por isso, assim como a língua do fogo devora a palha,
e a erva seca se consome na chama,
a raiz deles há-de desfazer-se em podridão
e a sua flor dissipar-se-á como o pó,
porque rejeitaram a lei do Senhor do universo
e desprezaram a palavra do Santo de Israel.
25Por isso, o furor do Senhor se inflamou contra o seu povo
e estende a sua mão para o castigar.
Tremem os montes,
e os seus cadáveres jazem no meio das ruas como esterco.
Mas com tudo isto, não se aplacou a sua cólera,
e a sua mão está ainda levantada.
Invasão da Assíria (8,5-8; 10,28-32)
26Ele levantará um estandarte para chamar as nações longínquas,
e dará assobios para as atrair dos confins da terra;
ei-las que chegam depressa e velozes.
27Ninguém de entre eles se sente cansado ou vacilante,
ninguém repousa nem dormita;
ninguém desata o cinto dos seus rins,
nem desaperta a correia das sandálias.
28As suas flechas estão aguçadas,
os seus arcos estão retesados.
Os cascos dos seus cavalos são como pederneira,
e as rodas dos seus carros assemelham-se ao furacão.
29O seu rugido é de leão,
rosna como um leãozinho.
Ele brame, agarra a sua presa,
leva-a, sem haver quem lha arrebate.
30Naquele dia, tal exército bramirá contra Israel
como o bramido do mar.
Olhai a terra envolta em trevas espessas
e em nuvens que cobrem a luz.
Capítulo 6
Vocação de Isaías (Jz 6,12-24; Jr 1,4-19; Ez 2) – 1No ano em que morreu o rei Uzias, vi o Senhor sentado num trono alto e elevado; as franjas do seu manto enchiam o templo. 2Os serafins estavam diante dele e cada um tinha seis asas: com duas asas cobriam o rosto, com duas asas cobriam o corpo, com duas asas voavam. 3 E clamavam uns para os outros:
«Santo, santo, santo, o Senhor do universo!
Toda a terra está cheia da sua glória!»
4E tremiam os gonzos das portas ao clamor da sua voz,
e o templo encheu-se de fumo.
5Então disse: «Ai de mim, estou perdido,
porque sou um homem de lábios impuros,
que habita no meio de um povo de lábios impuros,
e vi com os meus olhos o Rei, Senhor do universo!»
6Um dos serafins voou na minha direcção;
trazia na mão uma brasa viva,
que tinha tomado do altar com uma tenaz.
7Tocou na minha boca e disse:
«Repara bem, isto tocou os teus lábios;
foi afastada a tua culpa
e apagado o teu pecado!»
8Então, ouvi a voz do Senhor que dizia:
«Quem enviarei?
Quem será o nosso mensageiro?»
Então eu disse: «Eis-me aqui, envia-me.»
9O Senhor replicou:
«Vai, pois, e diz a esse povo:
ouvi, tornai a ouvir, mas não compreendereis.
Vede, tornai a ver, mas não percebereis.
10Endurece o coração deste povo,
ensurdece-lhe os ouvidos,
fecha-lhe os olhos.
Que os seus olhos não vejam,
que os seus ouvidos não ouçam,
que o seu coração não entenda,
que não se converta e Eu o cure.»
11Perguntei:
«Até quando, Senhor?»
Ele respondeu:
«Até que as cidades fiquem devastadas e sem habitantes,
as casas sem gente e os campos desertos.
12Expulsarei os homens para longe,
haverá grande desolação no país.
13Se restar um décimo da população,
esse será também cortado.
Mas acontecerá como ao terebinto e ao carvalho,
que uma vez cortados,
deixam um rebento.
Esse rebento será uma semente santa.»
Capítulo 7
Primeiro aviso a Acaz – 1Em Judá, reinava Acaz, filho de Jotam e neto de Uzias. Aconteceu que Recin, rei de Damasco e Pecá, filho de Remalias, rei de Israel, marcharam contra Jerusalém para a combater, mas não puderam apoderar-se dela. 2Chegou a notícia ao herdeiro de David:
«Os sírios acampam em Efraim.»
Ao ouvir isto, agitou-se o coração do rei e do seu povo,
como se agitam as árvores das florestas impelidas pelo vento.
3Então o Senhor disse a Isaías:
«Sai ao encontro de Acaz com o teu filho
Chear-Yachub,
na extremidade do aqueduto da piscina superior,
junto à Calçada do Bataneiro,
4e diz-lhe:
‘Tranquiliza-te, tem calma, não temas
nem te acobardes diante do furor de Recin, rei da Síria,
e de Pecá, filho de Remalias:
não passam de dois tições fumegantes.
5De facto, a Síria, Efraim e o filho de Remalias
decidiram a tua ruína dizendo:
6Vamos contra Judá e sitiemo-la,
e proclamaremos rei o filho de Tabiel.’»
7Assim diz o Senhor Deus:
«Tal não acontecerá nem se realizará.
8Assim como é verdade que a capital da Síria é Damasco,
e que o chefe de Damasco é Recin;
9que a capital de Efraim é Samaria,
e que o chefe da Samaria é o filho de Remalias;
também é verdade que daqui a cinco ou seis anos
Efraim será destruída, deixará de ser povo.
Se não o acreditardes, não subsistireis.»
Segundo aviso: sinal do Emanuel
10O Senhor mandou dizer de novo a Acaz:
11«Pede ao Senhor teu Deus um sinal,
quer no fundo dos abismos, quer lá no alto dos céus.»
12Acaz respondeu:
«Não pedirei tal coisa, não tentarei o Senhor.»
13Isaías respondeu:
«Escuta, pois, casa de David:
Não vos basta já ser molestos para os homens,
senão que também ousais sê-lo para o meu Deus?
14Por isso, o Senhor, por sua conta e risco,
vos dará um sinal. Olhai:
a jovem está grávida e vai dar à luz um filho,
e há-de pôr-lhe o nome de Emanuel.
15Ele será alimentado com requeijão e mel
até que saiba rejeitar o mal e escolher o bem.
16Porque antes que o menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem,
a terra, cujos dois reis tu temes, será devastada.»
Invasão devastadora (5,26-30)
17O Senhor fará vir sobre ti,
sobre o teu povo e a tua dinastia,
dias tais como ainda não foram vistos,
desde que Efraim se separou de Judá.
Ele mandará o rei da Assíria.
18Naquele dia o Senhor assobiará aos moscardos,
que vivem nos mais afastados canais do Egipto,
e às abelhas que vivem no país da Assíria.
19Virão todos e pousarão nos vales e nas torrentes,
nas cavernas dos rochedos,
em todos os matos e em todas as pastagens.
20Naquele dia, o Senhor mandará vir o rei da Assíria,
do outro lado do rio Eufrates,
rapar-vos a cabeça, o pêlo do corpo e a barba.
21Naquele dia cada um criará uma vaca
e duas ovelhas;
22e, pela grande abundância do leite,
comerão requeijão e mel
todos os que ficarem na terra.
23Naquele dia, um terreno de mil cepas no valor de mil peças de prata,
produzirá apenas abrolhos e espinhos.
24Ali não se entrará senão com arco e setas,
porque toda a terra estará coberta de abrolhos e espinhos.
25Não entrarás agora, em todas as colinas cultivadas à enxada,
pelo temor dos abrolhos e dos espinhos;
apenas servirão para pasto dos bois e para serem pisadas pelas ovelhas.»
Capítulo 8
O nascimento de um filho – 1O Senhor disse-me: «Pega numa tábua grande e escreve nela em caracteres legíveis: Maher-Chalal-Hach-Baz.» 2Tomei depois duas testemunhas fidedignas: o sacerdote Urias e Zacarias, filho de Baraquias.
3Juntei-me à minha mulher, a profetisa, que ficou grávida e deu à luz um filho. E o Senhor disse-me: «Chama-lhe: Pronto-para-o-saque-veloz-para-a-presa, 4porque antes que o menino saiba dizer ‘papá’, ‘mamã’, as riquezas de Damasco e os despojos da Samaria serão levados à presença do rei da Assíria.»
Invasão (5,26-30; Jr 1,13-16)
5O Senhor disse-me de novo:
6«Este meu povo
rejeitou as minhas águas de Siloé,
que correm tranquilas,
mas tremeu diante de Recin e do filho de Remalias.
7Por isso farei cair sobre eles as águas abundantes e impetuosas do Eufrates, isto é,
o rei da Assíria com todo o seu exército;
sobem acima das margens,
transbordam das ribeiras,
8invadem Judá,
inundam e submergem,
chegam até ao pescoço.
As suas margens estender-se-ão
até cobrirem a vastidão da tua terra, ó Emanuel!»
A libertação (14,24-27)
9Sabei, ó povos, que sereis esmagados!
Ouvi com atenção, vós, nações longínquas!
Tomai as vossas armas e sereis destruídas!
Repito: pegai nas vossas armas, que sereis destruídas.
10Traçai planos, que serão frustrados;
ordenai ameaças, que não serão executadas,
pois temos o Emanuel: «Deus-connosco.»
O Senhor é pedra de tropeço
11Assim me falou o Senhor,
quando me agarrou com a sua mão
para me afastar do caminho deste povo:
12«Não chameis conspiração ao que este povo chama conspiração;
não temais o que ele teme, nem vos assusteis.
13Só ao Senhor do universo é que deveis chamar santo.
Ele é o único que deveis temer e respeitar.
14Ele será um santuário,
mas também a pedra de tropeço,
a rocha de precipício para as duas casas de Israel:
será laço e cilada para os habitantes de Jerusalém.
15Muitos tropeçarão nela,
cairão e serão despedaçados,
serão enredados no laço e ficarão presos.»
Isaías dirige-se aos discípulos (30,8-9)
16Guardo o testemunho, selo esta instrução,
que só revelo aos meus discípulos.
17Terei confiança no Senhor,
que esconde a sua face à casa de Jacob,
mas eu ponho nele a minha esperança.
18Eis que eu e os filhos que o Senhor me deu
somos em Israel sinal e presságio
da parte do Senhor do universo,
que habita no monte Sião.
19Hão-de dizer-vos: «Consultai os espíritos dos mortos e os adivinhos que murmuram e predizem o futuro. Porventura não deve o povo consultar os seus deuses e consultar os mortos em benefício dos vivos?»
20Quando vos falarem assim, respondei: «Só devemos dar ouvidos às instruções do Senhor.» Quem não actuar assim não verá a aurora.
Profecia messiânica
21O povo andará errante pela terra,
oprimido e esfomeado.
Agastado pela fome,
amaldiçoará o seu rei e o seu Deus.
Levantará os seus olhos para o alto,
22depois olhará para a terra
e não verá senão angústia, trevas, aflição e espessa escuridão.
23Não haverá senão obscuridade e angústia nesta terra.
No tempo passado, o Senhor humilhou a terra de Zabulão
e o país de Neftali;
no futuro cobrirá de glória o caminho do mar,
do outro lado do Jordão, a Galileia dos gentios.
Capítulo 9
1O povo que andava nas trevas viu uma grande luz;
habitavam numa terra de sombras,
mas uma luz brilhou sobre eles.
2Multiplicaste a alegria,
aumentaste o júbilo;
alegram-se diante de ti
como os que se alegram no tempo da colheita,
como se regozijam os que repartem os despojos.
3Pois Tu quebraste o seu jugo pesado,
a vara que lhe feria o ombro
e o bastão do seu capataz,
como na jornada de Madian.
4Porque a bota que pisa o solo com arrogância
e a capa empapada em sangue
serão queimadas e serão pasto das chamas.
5Porquanto um menino nasceu para nós,
um filho nos foi dado;
tem a soberania sobre os seus ombros,
e o seu nome é:
Conselheiro-Admirável, Deus herói,
Pai-Eterno, Príncipe da paz.
6Dilatará o seu domínio com uma paz sem limites,
sobre o trono de David e sobre o seu reino.
Ele o estabelecerá e o consolidará com o direito e com a justiça,
desde agora e para sempre.
Assim fará o amor ardente do Senhor do universo.
Vingança do Senhor (Jr 5; Am 4,6-12)
7O Senhor proferiu uma ameaça contra Jacob,
e ela caiu sobre Israel.
8Chegará ao conhecimento de todo o povo,
de Efraim e dos habitantes da Samaria,
os quais, na sua soberba e dureza de coração, exclamam:
9«Os tijolos caíram, mas nós edificaremos com pedras lavradas;
as traves de madeira dos sicómoros foram abatidas,
mas nós as substituiremos por madeira de cedros.»
10O Senhor lançará contra eles os inimigos
e estimulará os seus adversários:
11a oriente, Damasco; a ocidente, os filisteus;
estes devorarão Israel à boca cheia.
Apesar de tudo isto,
não se aplaca a sua ira;
antes, a sua mão continuará a castigar.
12Porém, o povo não se voltou para quem o feria,
não procurou o Senhor do universo.
13O Senhor cortará a cabeça e a cauda de Israel,
a palma e o junco num só dia.
14O ancião e o nobre são a cabeça,
o profeta que ensina a mentira é a cauda.
15Os que dirigem este povo desencaminham-no,
e os dirigidos perdem-se.
16Por isso, o Senhor não se compadece dos jovens
e não tem piedade dos orfãos e das viúvas.
Todos eles são ímpios e maus,
toda a gente só profere loucuras.
Apesar de tudo isto não se aplaca a sua ira;
antes, a sua mão continuará a castigar.
17A iniquidade está ardendo como um fogo
que devora os abrolhos e os espinhos
e ateia um incêndio na floresta,
levantando para o alto turbilhões de fumo.
18A cólera do Senhor do universo faz arder o país
e o povo é pasto das chamas:
ninguém poupa a ninguém, nem aos irmãos.
19Corta-se à direita e fica-se com fome,
devora-se à esquerda e ninguém se sacia.
20Manassés contra Efraim,
Efraim contra Manassés,
e os dois juntos contra Judá.
Apesar de tudo isto, não se aplaca a sua ira;
antes, a sua mão continuará a castigar.
Capítulo 10
Maldições contra os legisladores injustos (5,8-23)
1Ai dos que decretam leis injustas,
e dos que redigem prescrições opressoras,
2dos que afastam os pobres do tribunal
e zombam dos direitos dos fracos do meu povo,
fazendo das viúvas a sua presa
e roubando os bens dos órfãos!
3Que fareis vós no dia do ajuste de contas,
quando o furacão vier de longe?
A quem acudireis em busca de auxílio
e onde escondereis as vossas riquezas?
4Só vos resta dobrar a cerviz entre os cativos
e cair entre os mortos.
Apesar de tudo isto, não se aplaca a sua ira;
antes, a sua mão continuará a castigar.
Maldições contra os assírios
5Ai da Assíria, vara da minha cólera,
o bastão das suas mãos é o bastão do meu furor!
6Eu o atirei contra uma nação ímpia
e o lancei contra o povo, objecto do meu furor,
para o saquear e despojar e para o calcar aos pés como lama das ruas.
7Mas ele não entendeu assim,
nem eram estes os planos do seu coração.
O seu propósito era
destruir e exterminar muitas nações.
8Dizia, com efeito:
«Porventura não são todos reis os meus oficiais?
9Não aconteceu à cidade de Calnó como à de Carquémis,
à cidade de Hamat como à de Arpad,
à cidade de Samaria como à de Damasco?
10Como a minha mão se apoderou daqueles reinos de ídolos,
com imagens mais ricas que os de Jerusalém e Samaria,
11como tratei Samaria e os seus ídolos,
não hei-de fazer o mesmo
a Jerusalém e aos seus ídolos?»
12Mas quando o Senhor tiver terminado toda a sua obra
no Monte Sião e em Jerusalém,
irá castigar também o rei da Assíria
pelo orgulho do seu coração
e pela sua arrogância insolente.
13Realmente ele afirma:
«Foi pela força da minha mão que fiz isto,
com a minha sabedoria, porque sou inteligente.
Mudei as fronteiras dos povos,
saqueei os seus tesouros,
como um herói derrubei toda aquela gente.
14Apanhei com a minha mão a riqueza dos povos,
como quem recolhe os ovos deixados num ninho.
Juntei a terra inteira
e ninguém bateu as asas,
nem abriu a boca para piar.»
15Acaso gloriar-se-á o machado contra quem o maneja?
Ou levantar-se-á a serra contra o serrador?
Um bastão não pode comandar um homem,
é o homem que faz mover o bastão.
16Por isso, o Senhor Deus do universo
enfraquecerá com a doença aqueles guerreiros;
debaixo do fígado acender-lhes-á uma febre
como um fogo de incêndio.
O resto de Israel
17A luz de Israel será como um fogo,
e o Deus santo, como uma chama
que abrasará e devorará os seus abrolhos
e os seus espinhos, num só dia.
18O esplendor do seu bosque e do seu jardim
será aniquilado no corpo e na alma,
como um doente que definha e morre.
19As árvores que ficarem nos seus bosques serão tão poucas
que até um menino as poderá contar.
20Naquele dia, o resto de Israel e os sobreviventes de Jacob já não voltarão a apoiar-se no seu agressor, mas apoiar-se-ão com confiança no Senhor, o Santo de Israel. 21Um resto voltará, um resto de Jacob, para o Deus forte. 22Ainda que o teu povo, ó Israel, fosse tão numeroso como a areia do mar, só um resto dele voltará. A destruição decretada é mais do que justa. 23O Senhor Deus do universo vai cumprir em toda a terra este decreto de destruição.
Oráculo – 24Por isso, o Senhor Deus do universo diz: «Povo meu, que habitas em Sião, não temas a Assíria que te fere com a vara, que levanta o seu bastão contra ti, como outrora os egípcios. 25Porque, dentro de muito pouco tempo, a minha indignação irá destruí-los, a minha cólera, aniquilá-los. 26Eu, o Senhor do universo, levantarei o açoite contra eles, como quando feri Madian no penhasco de Oreb, como quando levantei o meu bastão contra o mar, no caminho do Egipto.» 27Naquele dia, será retirada a carga que ele impôs sobre os teus ombros e desaparecerá o jugo que ele colocou no teu pescoço. É o jugo confrontado com a abundância.
O invasor assírio (5,26-30; Mq 1,10-16)
28O inimigo chegou à cidade de Aiat;
passou por Migron
e revistou as tropas em Micmás.
29Passaram o desfiladeiro.
Durante a noite acamparam em Gueba.
O povo de Ramá está aterrorizado,
e o de Guibeá de Saul está em fuga.
30Grita forte, povo de Bat-Galim,
escuta, gente de Laissa,
responde povo de Anatot.
31Os de Madmena e os de Guebim
põem-se em fuga.
32Mais um dia, para descansar em Nob,
e já levanta a sua mão contra o monte Sião,
contra a colina de Jerusalém.
33Olhai, o Senhor Deus do universo quebrará o inimigo
como se quebram os ramos com um só golpe,
como se cortam as grandes árvores
e se abatem os ramos altos;
34abaterá o inimigo
como se abate a madeira do bosque com a machada,
como se deita por terra o Líbano
com o seu esplendor.