Capítulo 1
Tempo e lugar da vocação – 1No quinto dia do quarto mês do trigésimo ano, quando me encontrava entre os exilados, nas margens do rio Cabar, o céu abriu-se e, então, contemplei visões divinas.
2No quinto dia do mês – era o quinto ano do cativeiro do rei Joiaquin – 3a palavra de Deus foi dirigida a Ezequiel, filho do sacerdote Buzi, na Caldeia, nas margens do rio Cabar, e a mão do Senhor estava sobre ele.
Os quatro seres viventes (Ap 4,6-9) – 4Olhando vi que do norte soprava um vento fortíssimo: uma nuvem espessa acompanhada de um clarão e uma massa de fogo resplandecente à volta; no meio dela, via-se algo semelhante ao aspecto de um metal resplandecente. 5E ao centro, distinguia-se a imagem de quatro seres viventes, todos com aspecto humano. 6Mas cada um tinha quatro faces e quatro asas. 7As suas pernas eram direitas e as plantas dos pés assemelhavam-se às do boi e cintilavam como bronze polido.
8Debaixo das asas, nos quatro lados, apareciam mãos humanas; as faces e as asas dirigiam-se para os quatro pontos cardeais. 9As asas estavam ligadas umas às outras; quando avançavam, não se viravam para os lados; cada um dos seres viventes caminhava sempre em frente.
10No que toca ao seu aspecto, tinham face de homem, à frente; mas os quatro tinham uma face de leão, à direita, uma face de touro, à esquerda, e uma face de águia, à retaguarda. 11E as faces e as asas estendiam-se para o alto; cada um tinha duas asas que se tocavam, e duas asas que lhe cobriam o corpo. 12Eles caminhavam em frente e seguiam para onde o espírito os levava; e não se voltavam, quando caminhavam. 13Entre os seres viventes, aparecia uma coisa semelhante a carvões ardentes, parecidos a tochas, que iam e vinham entre os seres viventes; e do fogo irradiava um clarão brilhante e saíam relâmpagos. 14E os seres viventes iam e voltavam semelhantes a raios.
As rodas (10,9-17) – 15Eu via os seres viventes e notava que havia uma roda na terra, ao lado de cada um dos quatro seres viventes. 16As rodas davam a impressão de ter o brilho de crisólitos; todas tinham o mesmo aspecto e pareciam trabalhadas, como se estivessem uma no meio da outra. 17Podiam dirigir-se para as quatro direcções sem precisar de virar, ao avançarem.
18A circunferência delas tinha uma altura assombrosa, e eu contemplava-as; e nelas havia olhos em toda a volta. 19E quando os seres viventes caminhavam, as rodas seguiam ao seu lado; quando os seres viventes se erguiam da terra, também as rodas se erguiam. 20Elas dirigiam-se para onde o espírito as impelia; e erguiam-se igualmente da terra, porque o espírito dos seres viventes se encontrava nas rodas.
21Avançavam ao mesmo tempo, as rodas e os seres viventes; igualmente paravam simultaneamente; e quando se erguiam da terra os seres viventes, também se erguiam as rodas, porque o espírito dos seres viventes se encontrava nas rodas.
O trono – 22Havia algo semelhante a uma abóbada brilhante como o cristal, sobre a cabeça dos seres viventes; e a abóbada estendia-se sobre as cabeças. 23As asas, voltadas umas para as outras, estendiam-se sob a abóbada; cada um tinha duas que lhe cobriam o corpo.
24Eu escutava o ruído das asas como o barulho das grandes torrentes, como a voz do Omnipotente, quando eles avançavam, ou como o ruído do campo de batalha; quando paravam, as asas baixavam. 25E, por cima da abóbada, que ficava sobre as suas cabeças, fazia-se um grande ruído; quando paravam, as asas baixavam.
A glória de Deus – 26Pela parte de cima da abóbada, que ficava sobre as suas cabeças, estava uma coisa semelhante a pedra de safira, em forma de trono, e sobre esta espécie de trono, no alto, pela parte de cima, um ser com aspecto humano.
27E verifiquei que, do que parecia ser da cintura para cima, tinha como que um brilho vermelho, algo como fogo, à sua volta; e da cintura para baixo, vi como que fogo, espalhando um clarão à sua volta. 28O esplendor à sua volta parecia o arco-íris que aparece nas nuvens nos dias de chuva. Era algo que tinha o aspecto da glória do Senhor. Contemplei e prostrei-me com o rosto por terra. E ouvi uma voz que falava.
Capítulo 2
Missão profética (Ex 3; Is 6;Jr 1;Ap 4-5) – 1Disse-me: «Filho de homem, põe-te de pé que vou falar-te.» 2O Espírito penetrou em mim, enquanto me falava, e mandou-me pôr de pé; e ouvia alguém que me chamava. 3Disse-me: «Filho de homem, vou enviar-te aos filhos de Israel, aos rebeldes, que se insurgiram contra mim. Eles e seus antepassados têm-se revoltado contra mim, até ao presente dia. 4Eles têm a cabeça dura e o coração obstinado; envio-te a eles, e deves dizer-lhes: ‘Assim fala o Senhor Deus.’ 5E quer te escutem quer não, porque são uma raça de gente rebelde, saberão que há um profeta entre eles.
6Tu, porém, filho de homem, não tenhas medo deles, não receies as suas palavras, ainda que espinhos e abrolhos te rodeiem e te venhas a sentar sobre escorpiões. Não temas as suas palavras e não tenhas medo das suas faces; porque são gente rebelde. 7Tu lhes dirigirás as minhas palavras, quer as atendam quer não; porque são uma raça de gente rebelde.»
Comer o livro – 8«Tu, porém, filho de homem, escuta o que te digo. Não sejas rebelde como aquela gente rebelde. Abre a boca e come o que te vou dar.» 9Olhei e vi uma espécie de mão que se dirigia para mim, segurando um manuscrito enrolado. 10Abriu-o diante de mim: estava escrito nas duas faces; e lia-se: «Lamentações, gemidos e choros.»
Capítulo 3
1Disse-me: «Filho de homem, come aquilo que te é apresentado, come este manuscrito e vai falar à casa de Israel.» 2Abri então a boca e Ele deu-me o manuscrito a comer. 3E disse-me: «Filho de homem, alimenta-te e sacia-te com este manuscrito que agora te dou.» Comi-o e ele foi, na minha boca, doce como o mel.
Israel rebelde – 4Então, disse-me: «Filho de homem, dirige-te à casa de Israel, e leva-lhes as minhas palavras. 5És enviado não a um povo de linguagem incompreensível e de língua bárbara, mas sim à casa de Israel. 6Não é a povos numerosos e de linguagem incompreensível e língua bárbara, que tu não entenderias; esses ouvir-te-iam, se a eles te enviasse. 7Mas a casa de Israel não te quer escutar, porque não me quer ouvir a mim; pois os da casa de Israel são de cabeça dura e coração obstinado. 8Eis que Eu tornei a tua face dura como a deles e a tua cabeça dura como a deles. 9Vou tornar a tua testa rija como o diamante, que é mais duro que a rocha. Não tenhas medo deles, não receies diante deles, porque são gente rebelde.»
Junto dos exilados – 10Depois, disse-me: «Filho de homem, todas as palavras que Eu te disser, guarda-as no teu coração, escuta-as com toda a atenção. 11Levanta-te e vai ter com os exilados, os teus compatriotas. Fala com eles e diz-lhes: Assim fala o Senhor Deus, quer eles ouçam, quer não ouçam.»
12Então, o espírito apoderou-se de mim e ouvi atrás de mim o barulho de um violento rumor: «Bendita seja a glória do Senhor, no lugar onde ela repousa!» 13Era o ruído das asas dos seres viventes, que batiam umas nas outras, o ruído das rodas e o ruído de um grande tumulto. 14E o espírito arrebatava-me e transportava-me. E eu seguia com o coração amargurado, enquanto a mão do Senhor pesava sobre mim.
15E assim, cheguei a Tel-Aviv, junto dos exilados que se tinham instalado nas margens do rio Cabar – era lá que eles habitavam – e ali fiquei sete dias, no meio deles, como que entorpecido.
Ezequiel, sentinela no meio do povo (33,1-9;Is 21; Am 3) – 16Ao fim de sete dias, a palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: 17«Filho de homem, nomeei-te sentinela da casa de Israel; se ouvires uma palavra saída da minha boca, tu lha dirigirás da minha parte. 18Se Eu digo ao pecador: ‘Vais morrer’, e tu não o exortas e não falas para o afastar do mau caminho, para que ele possa viver, é ele, o pecador, que perecerá por causa do seu pecado; mas, é a ti que Eu pedirei contas do seu sangue. 19Mas, se tu avisares o pecador e ele não se emendar da sua perversidade e má conduta, então ele morrerá por causa do seu pecado; mas tu terás salvo a tua vida.
20Quando o justo se desvia da sua justiça para fazer o mal, Eu lhe preparo uma armadilha, de modo que ele morra; porque tu não o avisaste, ele perecerá por causa do seu pecado e ninguém recordará a justiça que ele praticou; mas é a ti que Eu pedirei contas do seu sangue. 21Se, pelo contrário, tu preveniste um justo para que não pecasse e ele, de facto, não peca, ele viverá, porque foi advertido, e tu salvarás a tua vida.»
O profeta emudece – 22A mão do Senhor esteve sobre mim e disse-me: «Ergue-te, dirige-te ao vale; aí te falarei.»
23Levantei-me, dirigi-me para o vale, e vi que a glória do Senhor era como a glória que eu tinha contemplado nas margens do rio Cabar, e eu caí com a face por terra. 24Nessa altura, o espírito entrou em mim, fez-me levantar e falou-me. Disse-me: «Vai e encerra-te na tua casa. 25Filho de homem, eis que te vão fechar em cadeias e ficarás ligado e não poderás sair do meio delas. 26Farei aderir a tua língua ao teu palato, de tal maneira que emudecerás e não poderás falar-lhes, pois são uma raça de gente rebelde. 27Mas, quando Eu te falar, abrirei a tua boca e tu lhes dirás: ‘Assim fala o Senhor Deus: Quem quiser ouvir, ouça, e quem não quiser, não ouça’; pois são uma raça de gente rebelde.»
Capítulo 4
Anúncio do juízo sobre Jerusalém – 1«Filho de homem, toma um tijolo, põe-no diante de ti e desenha nele uma cidade, Jerusalém. 2Depois, empreenderás contra ela um cerco, construirás contra ela trincheiras, erguerás contra ela um terraço, estabelecerás contra ela acampamentos e instalarás à sua volta, contra ela, aríetes.
3Em seguida, pega numa chapa de ferro que porás como uma muralha entre ti e a cidade; depois, voltarás contra ela a tua face, como se ela fosse cercada e tu fosses o inimigo. É um sinal para a casa de Israel.»
Duração do Exílio – 4«Depois, deita-te sobre o lado esquerdo, e toma sobre ti o pecado de Israel; levarás a sua iniquidade, enquanto estiveres assim deitado, durante todo esse tempo. 5E Eu determino os anos do seu pecado em número de dias; levarás o pecado de Israel durante cento e noventa dias. 6E quando tiveres acabado esses dias, recosta-te sobre o lado direito; e carregarás o pecado da casa de Judá, durante quarenta dias; estabeleço um dia para cada ano.
7Voltarás a tua face e erguerás o teu braço nu para Jerusalém cercada e profetizarás contra ela. 8Eis que te prenderei com cordas e tu não te voltarás de um lado para o outro, enquanto não se tiverem concluído os dias do teu cerco.»
Alimentação deficiente e impura no exílio – 9«Recolhe, por conseguinte, trigo, cevada, favas, lentilhas, milho miúdo e aveia; guarda-os no mesmo recipiente; faz deles o teu alimento durante todo o tempo em que estiveres deitado sobre o teu lado, trezentos e noventa dias. 10E este alimento que vais recolher e que vai ser o teu alimento, será pesado à razão de vinte siclos por dia, e só o comerás nos tempos marcados. 11De igual modo, a água que beberás será medida: um litro de água por dia. 12Comerás este alimento sob a forma de torta de cevada, a qual será cozida sobre excrementos humanos, à vista deles.» 13E o Senhor disse: «Assim comerão os filhos de Israel os seus alimentos impuros no meio das nações para onde os dispersarei.»
14Então eu disse: «Ah! Senhor Deus, a minha vida não foi manchada; nunca comi carne de animais sufocados ou despedaçados, desde a minha infância até ao presente, e nenhuma carne impura entrou na minha boca.»
15Então, ele disse-me: «Pois bem, permito-te que troques os excrementos humanos por excrementos de boi; cozerás o teu pão sobre eles.» 16Em seguida, disse-me: «Filho de homem, eis que vou destruir a reserva de pão em Jerusalém: na angústia, comerão pão rigorosamente pesado e beberão com pavor água racionada, 17porque o pão e a água faltarão; desfalecerão uns sobre os outros e definharão, por causa do seu pecado.»
Capítulo 5
Do povo destruído, fica apenas um «resto» – 1«E tu, filho de homem, toma uma lâmina afiada, como a navalha de barbeiro; toma-a e passa com ela sobre a tua cabeça e a tua barba. Em seguida, servir-te-ás de uma balança e dividirás os cabelos cortados. 2Lançarás o fogo a um terço deles, no meio da cidade, enquanto durar o tempo do cerco. Tomarás um outro terço que cortarás com a espada, em redor da cidade. O último terço atirá-lo-ás ao vento e Eu lançarei a espada atrás deles. 3Guardarás, contudo, uma pequena quantidade, que meterás no bolso do teu manto. 4Destes tomarás ainda uns poucos, que lançarás ao fogo e queimarás; é deles que sairá o fogo que há-de queimar Israel.»
5Assim fala o Senhor Deus: «Isto é Jerusalém! Coloquei-a entre os povos; e as nações estrangeiras ficaram à sua volta. 6Ela revoltou-se contra as minhas leis com mais perversidade do que as outras nações; e contra as minhas ordens, mais do que os países que a rodeiam. Porque os israelitas desprezaram as minhas leis e não praticam as minhas ordens.»
7É por isso que assim fala o Senhor Deus: «Porque fostes mais rebeldes do que as nações que se encontram à volta, porque não obedecestes às minhas ordens e não praticastes as minhas leis, e porque nem sequer seguistes as leis dos povos vizinhos, 8por isso – assim fala o Senhor Deus: Eis que também Eu me ponho contra ti e vou agir com justiça para contigo, à vista dos povos. 9Agirei para contigo como nunca agi nem nunca agirei, por causa das tuas faltas abomináveis. 10Por isso, os filhos serão devorados pelos pais, no meio de ti, e os filhos devorarão os pais. Agirei rigorosamente para contigo e dispersarei por todos os ventos tudo o que resta de ti. 11Por isso, pela minha vida –diz o Senhor Deus – porque profanaste o meu santuário com toda a espécie de infâmias e abominações, Eu também te abandonarei sem um olhar de misericórdia e também não te pouparei. 12A terça parte dos teus habitantes morrerá de peste e fome, dentro dos teus muros; outra terça parte perecerá à espada, à tua volta; a última terça parte dispersá-los-ei pelos quatro ventos e desembainharei a espada atrás deles. 13Desse modo ficará saciada a minha cólera; satisfarei o meu furor contra eles e vingar-me-ei; então, saberão que Eu, o Senhor, falei com zelo, quando tiver saciado o meu furor contra eles.
14De ti farei objecto de desolação e de humilhação, no meio dos povos que te rodeiam, aos olhos de todos os que passam. 15Tornar-te-ás objecto de humilhação e de escárnio, um exemplo e assunto de horror para as nações que te cercam, quando executar sobre ti as minhas sentenças com ira e furor, e com severos castigos. Eu, o Senhor, falei.
16Quando mandar contra vós flechas de fome que serão a vossa destruição, porque as enviarei para vos perder, então destruirei a vossa reserva de pão. 17Enviarei contra vós a fome e animais ferozes, que te privarão dos teus filhos; sobre ti passarão a peste e o sangue e farei vir contra ti a espada. Eu, o Senhor, falei.»
Capítulo 6
Castigo da idolatria (36,1-15) – 1Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: 2«Filho de homem, volta-te para as montanhas de Israel, profetiza contra elas 3e diz: ‘Montanhas de Israel, ouvi a palavra do Senhor Deus. Assim fala o Senhor Deus às montanhas e colinas, às ravinas e aos vales: Eis que vou fazer vir contra vós a espada e arrasarei os vossos lugares altos. 4Os vossos altares serão demolidos e os vossos incensários serão destruídos; farei com que os vossos habitantes caiam trespassados de golpes, diante dos vossos ídolos. 5E diante dos seus ídolos estenderei os cadáveres dos filhos de Israel e, à volta dos vossos altares, espalharei os vossos ossos.
6Em todo o vosso território serão destruídas as cidades e devastados os lugares altos a fim de que os vossos altares sejam demolidos e arrasados, para que os vossos ídolos sejam despedaçados e suprimidos, os vossos incensários destruídos e as vossas obras desfeitas. 7E no meio de vós cairão os feridos de morte, para que saibais que Eu sou o Senhor.’»
Salvação de um «resto» (9,8-9; Rm 11,1-10) – 8«Quando houver entre as nações alguns de entre vós que tiverem escapado à espada, quando tiverdes sido dispersos entre os povos, 9então os sobreviventes se lembrarão de mim entre as nações para onde forem dispersos, e Eu partirei o vosso coração prostituído, que se afastou de mim, e os olhos adúlteros, que se voltaram para os seus ídolos.
Nessa altura, sentirão a dor, devido ao pecado que fizeram com as suas práticas abomináveis. 10Então, reconhecerão que Eu, o Senhor, não falei em vão, quando disse que lhes infligiria todos estes males.»
Extermínio do povo – 11Assim fala o Senhor Deus: «Aplaude, bate o pé e diz ‘Ah!’ sobre todas as iniquidades da casa de Israel, que vai perecer à espada, pela fome e com a peste. 12Os que estão longe, morrerão com a peste; os que estão perto, perecerão à espada; morrerão de fome os que restarem – os sitiados – porque Eu saciarei o meu furor contra eles.
13Sabereis que Eu sou o Senhor, quando os seus cadáveres jazerem no meio dos ídolos, em redor dos altares, em todas as colinas elevadas, no cimo de todas as montanhas, debaixo das árvores verdejantes e dos carvalhos frondosos, onde oferecem odor de incenso agradável a todos os seus ídolos. 14Estenderei contra eles a minha mão; tornarei o país desolado e devastado, desde o deserto até Ribla em todas as localidades onde habitam. Nessa altura, reconhecerão que Eu sou o Senhor.»
Capítulo 7
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Proximidade do fim (Sf 1,7-18) – 1Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: 2«Filho de homem, diz: ‘Assim fala o Senhor Deus à terra de Israel: Aproxima-se o fim; sobre os quatro cantos da terra é chegado o fim. 3Agora vem o fim para ti. Envio a minha ira contra ti; julgo-te segundo a tua maneira de proceder e faço com que caiam sobre ti todas as tuas iniquidades. 4Não terei para ti um olhar de compaixão, nem te pouparei; da tua conduta te pedirei contas e as tuas iniquidades estarão no meio de ti. Então sabereis que Eu sou o Senhor.’
5Assim fala o Senhor Deus: ‘Desgraça sobre desgraça, eis que o fim se aproxima. 6O termo vai chegar, o fim aproxima-se de ti, eis que ele chega. 7Chegou a tua hora, habitante do país. O tempo chega, o dia do terror está próximo; sobre as montanhas já não há alegria. 8E agora eis que vou derramar sobre ti a minha cólera e saciar o meu furor contra ti; vou julgar-te segundo a tua conduta e farei vir sobre ti todas as tuas abominações. 9Para ti não terei um olhar de misericórdia, nem te pouparei; pedir-te-ei contas da tua maneira de proceder e as tuas abominações estarão no meio de ti. E sabereis que sou Eu o Senhor que castiga.’
10Eis o dia! Eis que se aproxima! Chegou a tua vez. A vara floriu, o orgulho germinou. 11Levanta-se a violência como vara de impiedade. Nada deles resta, nem do seu tumulto, nem da sua agitação; neles não há esplendor. 12Aproxima-se o tempo: o dia está perto. Que o comprador não se alegre, que o vendedor não se preocupe, porque a cólera vem sobre toda a gente. 13O vendedor não encontrará o que havia vendido, embora se encontre ainda vivo; porque a ira vem sobre todos; e ninguém poderá subsistir, por causa do seu pecado.
14Tocai a trombeta! Está tudo preparado e ninguém vai para o combate, porque a minha cólera chega sobre todos. 15Do lado de fora, está a espada; a peste e a fome, do lado de dentro. Quem está no campo, morrerá à espada; quem está na cidade, será devorado pela peste e pela fome.
16Os fugitivos procurarão abrigo nas montanhas como pombas nos vales; morrerão todos, cada um no seu pecado. 17Todas as mãos hão-de desfalecer; hão-de fraquejar todos os joelhos.
18Hão-de revestir-se de saco e o pavor há-de apoderar-se deles. Todas as faces ficarão cobertas de vergonha; serão rapadas todas as cabeças. 19Lançarão a prata para as ruas e o ouro será para eles como lixo. Nem o ouro nem a prata os poderão salvar, no dia da ira do Senhor. Não hão-de saciar-se nem encher a barriga com eles; pois isso foi a ocasião do seu pecado. 20Sentiam orgulho na beleza das suas jóias; com elas fizeram as suas imagens abomináveis, os seus ídolos; por isso, farei dessas jóias objecto de vergonha para eles. 21Eis que os entrego à pilhagem dos estrangeiros e, para profanação, ao saque da ralé da terra. 22Desviarei deles o meu olhar; profanarão o meu tesouro; os bárbaros penetrarão nele para o violar.
23Prepara cadeias, porque o país está cheio de crime, e a minha cidade repleta de violência. 24Farei vir as piores nações, para se apoderarem das suas casas. Porei termo ao orgulho dos poderosos e os seus santuários serão profanados. 25Eis que vai chegar a angústia; depois procurarão a salvação, mas não a encontrarão. 26Hão-de desencadear-se tragédias sobre tragédias, más notícias sobre más notícias. Ao profeta pedirão uma visão; o conhecimento da lei faltará ao sacerdote, e o conselho aos anciãos.
27O rei irá pôr luto; o príncipe ficará mergulhado na consternação. Tremerão as mãos do povo. Vou tratá-los segundo a sua conduta. Depois, reconhecerão que Eu sou o Senhor.»
Capítulo 8
Visão dos pecados de Jerusalém – 1No sexto ano, no dia cinco do sexto mês, quando me encontrava em minha casa e os anciãos de Judá se sentavam diante de mim, sucedeu que a mão do Senhor Deus baixou sobre mim. 2Olhei e vi uma figura que se assemelhava a um homem que, dos rins para baixo, tinha a aparência de fogo e dos rins para cima, era como um clarão vermelho. 3Estendeu-me uma espécie de mão e agarrou-me pelos cabelos.
Em seguida, nesta visão divina, o espírito arrebatou-me entre o céu e a terra e conduziu-me a Jerusalém, até à entrada da porta interior que dá para norte, onde era o lugar do ídolo rival, que provoca ciúmes. 4E eis que lá se encontrava a glória do Deus de Israel, semelhante à da visão que tivera no vale.
Ídolo rival – 5Ele disse-me: «Filho de homem, ergue os olhos para o norte.» Levantei os olhos para norte e eis que a norte da porta do altar estava o ídolo rival, à entrada.
6Ele disse-me: «Filho de homem, vês o que eles fazem? Grandes abominações são as que a casa de Israel aqui pratica, de modo que Eu me afasto do meu santuário. Mas verás abominações ainda maiores.»
Culto dos animais – 7Depois, conduziu-me à entrada do átrio; e eu reparei que havia um buraco na parede. 8Ele disse-me: «Filho de homem, fura a parede!» Furei a parede e eis que havia uma entrada. 9Ele disse-me: «Entra e vê as práticas abomináveis a que eles aqui se entregam.»
10Entrei e vi: havia uma figura de todas as espécies de répteis e de animais repugnantes, todos os ídolos da casa de Israel gravados na parede à volta. 11E eis que estavam de pé, diante dos ídolos, setenta homens de entre os anciãos da casa de Israel; também Jazanias, filho de Chafan, estava de pé diante deles. Cada um tinha o seu turíbulo na mão, e o odor do incenso subia para o ar.
12Ele disse-me: «Vês, filho de homem, o que os anciãos da casa de Israel fazem às escondidas, cada um no seu quarto ornamentado de pinturas? Eles dizem: ‘O Senhor não nos vê, o Senhor abandonou o país.’»
13Ele dizia-me: «Verás ainda abominações muito maiores do que estas que eles praticam.»
As mulheres choram Tamuz – 14Conduziu-me, depois, à entrada do pórtico do templo do Senhor, que dá para norte, e eis que se sentavam aí mulheres que choravam Tamuz.
15Ele disse-me: «Viste, filho de homem? Verás outras abominações ainda maiores do que estas.»
Culto do sol – 16Depois, conduziu-me ao átrio interior da casa do Senhor e eis que, à entrada do santuário do Senhor, entre o vestíbulo e o altar, estavam cerca de vinte e cinco homens com as costas voltadas para o santuário do Senhor, e o rosto para o oriente. Prostravam-se para oriente diante do Sol.
17Ele disse-me: «Viste, filho de homem? Não basta à casa de Judá entregar-se às práticas abomináveis que eles aqui cometem? Haverá ainda de encher o país de violências e de provocar sempre mais a minha cólera? Eis que aproximam um ramo do nariz. 18Por isso, agirei com ira; não terei um olhar de misericórdia e não os pouparei. Ainda que gritem com voz alta aos meus ouvidos, Eu não os atenderei.»
Capítulo 9
Mensageiros do castigo (2 Rs 10,17-27; Ap 7) – 1Depois, gritou com voz forte aos meus ouvidos, nestes termos: «Aproximai-vos, vós que guardais a cidade, cada um com o seu instrumento de destruição na mão.» 2Eis que seis homens avançaram da porta superior que dá para norte; cada um tinha na mão o seu instrumento de destruição. No meio deles havia um homem vestido de branco que tinha à cintura os apetrechos de escriba. Entraram e colocaram-se junto ao altar de bronze. 3A glória do Deus de Israel tinha-se levantado dos querubins, sobre os quais se encontrava, e dirigiu-se para a entrada do templo.
Então, chamou o homem que estava vestido de branco e tinha à cintura os apetrechos de escriba. 4O Senhor disse-lhe: «Vai pela cidade, atravessa Jerusalém e marca uma cruz na fronte dos homens que gemem e se lamentam por causa das abominações que nela se praticam.»
5E aos outros ouvi-o dizer: «Ide pela cidade atrás dele e feri os seus habitantes. Que o vosso olhar não poupe ninguém nem tenha piedade. 6Velhos, jovens, virgens, meninos e mulheres, matai-os a todos e exterminai toda a gente; mas não toqueis naqueles que foram marcados na fronte. Começai pelo meu santuário.» E começaram, então, pelos velhos que estavam diante do templo. 7Depois disse-lhes: «Profanai o templo, enchei de mortos o vestíbulo e saí.» Depois, eles saíram e feriram os que estavam na cidade.
O profeta intercede, mas em vão 8E sucedeu que, enquanto eles feriam, eu fiquei no meu lugar, caí de rosto por terra e gritei: «Ah! Senhor Deus, vais exterminar tudo o que resta de Israel, desencadeando o teu furor sobre Jerusalém?»
9Ele disse-me: «O pecado da casa de Israel e de Judá é enorme; a terra está cheia de sangue e a cidade, de violência; porque eles dizem: ‘O Senhor abandonou a terra e o Senhor não vê.’ 10Pois bem, Eu não terei um olhar de misericórdia, Eu não os pouparei; farei recair as suas obras sobre as suas cabeças.» 11E então, o homem que vestia de branco e que tinha na cintura os apetrechos de escriba veio prestar contas, nestes termos: «Fiz o que me mandaste.»
Capítulo 10
Jerusalém destruída pelo fogo – 1Olhei e vi por cima da abóbada, que estava sobre as cabeças dos querubins, algo semelhante a uma pedra de safira e sobre eles via-se uma coisa parecida a um trono. 2Ele disse ao homem que vestia de branco: «Vai ao meio das rodas que estão sob os querubins, enche as tuas mãos de carvões do meio dos querubins e espalha-os pela cidade.»
E ele foi, à minha vista. 3Os querubins encontravam-se à direita do templo, quando o homem entrou e a nuvem encheu o vestíbulo interior.
4Então a glória do Senhor elevou-se sobre os querubins, em direcção à soleira do templo; o templo ficou cheio com a nuvem e o átrio repleto do esplendor da glória do Senhor. 5E o ruído das asas dos querubins chegava até ao átrio exterior, à semelhança da voz do Deus supremo, quando fala.
6E sucedeu que, quando Ele deu esta ordem ao homem vestido de branco, dizendo: «Toma fogo do meio do carro, do meio dos querubins», o homem entrou e colocou-se perto da roda. 7O querubim estendeu a mão para o fogo que estava no meio dos querubins, tomou-o e colocou-o nas mãos do homem vestido de branco; este recebeu-o e saiu. 8E podia ver-se nos querubins algo como mãos humanas, sob as suas asas.
Nova descrição da aparição divina (1,15-21) – 9Olhei e eis que havia quatro rodas ao lado dos querubins, uma roda ao lado de cada querubim; o aspecto das rodas era como o esplendor de crisólito. 10E todas tinham o mesmo aspecto, como se as rodas estivessem encaixadas umas nas outras. 11Quando avançavam, faziam-no nas quatro direcções e não se desviavam, ao andarem. Dirigiam-se para onde seguia o primeiro, iam atrás dele e não se desviavam, ao avançarem.
12Todo o seu corpo, as costas, as mãos, as asas e as rodas estavam cheios de olhos, em toda a volta.
13Ouvi que às rodas se dava o nome de ‘carro.’ 14E cada um tinha quatro faces: a face do primeiro era a face de querubim; a face do segundo, uma face humana; o terceiro tinha face de leão; e o quarto, face de águia. 15E os querubins levantaram-se. Eram os seres viventes que eu tinha visto junto do rio Cabar.
16Quando os querubins avançavam, as rodas seguiam também ao lado deles; e quando estendiam as asas para se levantarem da terra, as rodas não se desviavam do lado deles. 17Quando eles paravam, também elas paravam; quando eles se elevavam, também elas se elevavam, porque o espírito dos seres viventes estava nelas.
Deus abandona o templo (43,1-9) – 18Saiu, então, da soleira do templo a glória do Senhor e colocou-se sobre os querubins. 19Os querubins estenderam as asas e elevaram-se da terra, à minha vista, quando saíram, e as rodas juntamente com eles.
Pararam à entrada da porta oriental do templo do Senhor, e a glória do Deus de Israel estava sobre eles, pelo lado de cima. 20Eram os seres viventes que eu tinha visto sob o Deus de Israel, junto ao rio Cabar, e reconheci que eram querubins.
21Cada um tinha quatro faces e cada um tinha quatro asas; e havia sob as suas asas algo como mãos humanas. 22Quanto ao aspecto das suas faces, eram semelhantes às que eu tinha visto junto do rio Cabar. Cada um seguia direito diante de si.