Capítulo 11

1«Desde o primeiro ano de Da­rio, rei dos Medos, eu estive pre­sente para lhe dar força e apoio.

2Neste momento, vou dar-te a co­nhe­­cer a verdade: haverá na Pérsia ain­da três reis. O quarto ultrapas­sará em riqueza todos os outros. Quando as riquezas dele o tiverem tornado poderoso, porá tudo em movimento contra o reino da Grécia.»


Guerra entre Selêucidas e Lági­das (1 Mac 1,2-6) – 3«Levantar-se-á, porém, um rei poderoso que domi­na­rá sobre um vasto império, fa­zen­do tudo o que lhe aprouver. 4Logo que se tornar poderoso, o seu reino será desmembrado e repartido pelos quatro ventos do céu. Não passará aos descendentes dele e jamais terá o mesmo poderio; porque o reino será dividido e dado a outros e não aos seus descendentes.

5O rei do Sul tornar-se-á forte, mas um dos generais do seu exército há-de tornar-se mais forte e o seu império será grande. 6Após alguns anos, aliar-se-ão, e a filha do rei do Sul irá ter com o rei do Norte, a fim de estabelecer um acordo. Esta, po­rém, não se manterá no trono nem a sua descendência. Será entregue à mor­te com os que a tiverem acom­pa­nhado, o seu filho e aquele que a engrandeceu a seu tempo.

7Um dos rebentos da mesma raiz se levantará em sua substituição; mar­­­­­­chará com o seu exército, en­tra­rá nas fortalezas do reino do Nor­te, atacá-lo-á e o dominará. 8Levará mesmo, como cativos, para o Egipto, os seus deuses, bem como as ima­gens de fun­dição e os objectos pre­ciosos de ouro e de prata. Depois, evitará atacar o rei do Norte, du­rante alguns anos. 9Este marchará contra o reino do Sul, mas regres­sará ao seu país.

10Entretanto, os filhos do rei do Norte prepararão a guerra, reu­nin­do uma grande multidão de tropas que, espalhando-se qual torrente, in­­­vadi­rão, reaparecerão e levarão as hos­ti­lidades até à fortaleza dele.

11Irritado, o rei do Sul sairá para ata­car o rei do Norte. Como ele, porá em pé de guerra um numeroso exér­cito, e as tropas inimigas lhe serão entregues. 12Após o aniquila­mento destas tropas, inchará de or­gulho. Matará dezenas de milhares de ho­mens, sem que com isso se torne mais forte.

13O rei do Norte convocará nova­mente um exército, mais numeroso ainda que o primeiro e, alguns anos depois, avançará no meio de ex­ten­sas tropas e de uma grande comi­ti­va. 14Por esta ocasião, muitos povos se levan­tarão contra o rei do Sul e ho­mens impetuosos hão-de surgir do meio do teu povo, para cumprir a vi­são, mas serão mal sucedidos. 15Vi­rá então o rei do Norte, levan­tará trin­­cheiras e apoderar-se-á de cidades bem fortificadas. Nem os exércitos do rei do Sul, nem mesmo as suas hostes escolhidas, o deterão; não ha­verá força que lhe resista.

16O invasor procederá conforme quiser, sem que alguém lhe possa fazer frente. Instalar-se-á no país que é a nação gloriosa e a destruirá com o seu poder. 17Empreenderá a con­quista do reino do Sul; estabe­lecerá um acordo com o rei e dar-lhe-á por esposa a própria filha, a fim de in­tro­­duzir a ruína neste país; isto, po­rém, não resultará e este reino não lhe há-de pertencer. 18Depois, voltar-se-á para as ilhas, muitas das quais to­mará. Mas um magistrado porá termo à sua so­ber­ba e lhe fará pa­gar a injúria. 19En­tão, dirigir-se-á às fortalezas da própria nação; mas vacilará, cairá e acabará por desa­pa­recer.

20Será estabelecido, no lugar des­te último, um príncipe que mandará um emissário ao país que é a nação gloriosa. Em alguns dias será aba­tido. E isto não será por efeito nem da cólera, nem da batalha.»


Antíoco Epifânio21«Em lugar dele, levantar-se-á um homem des­pre­zível, nunca chamado à digni­dade real, mas que virá inesperadamente e se há-de apoderar da realeza por in­tri­gas. 22Serão dominados e desman­­telados por ele os exércitos que de­viam vencer, bem como um príncipe da aliança. 23Desprezando o acordo feito com ele, actuará pela traição. Pôr-se-á em marcha e vencerá com poucos homens. 24Subitamente, in­va­­­dirá as mais ricas regiões do país; fará o que não terão feito os seus pais nem os pais dos pais: distri­buirá pela sua gente o que saquear – despojos e riquezas – e fará pro­jectos de ofen­si­vas contra as forta­lezas, mas só até um certo tempo.

25À frente de um grande exér­cito, incitará a sua força e coragem con­tra o rei do Sul. Por sua vez, o rei do Sul envolver-se-á na luta com um exér­cito nume­roso e muito forte, mas não po­derá resistir, em virtude das conju­ras maquinadas contra ele. 26Os que com ele comem finas iguarias hão-de ar­ruiná-lo, deban­dará o exér­­cito e mui­tos homens cairão feridos de morte.

27Os dois reis, de coração cheio de desejos malévolos, procurarão enga­nar-se um ao outro em torno da mesma mesa. Os seus projectos, po­rém, serão mal sucedidos, visto que o fim tem a sua hora determinada. 28Regressará com grandes riquezas ao seu país. O seu coração decidiu-se pelo mal contra o povo santo; fá-lo-á e, depois, regressará ao seu país.

29No tempo marcado, de novo ata­­­cará o Sul, mas esta outra expe­dição não será como a primeira. 30Na­vios de Kitim virão contra ele e perderá a coragem. Voltará nova­mente o seu furor contra a aliança santa, contra a qual tomará medi­das, realizando um acordo com os que a tiverem aban­donado. 31Exér­citos, sob a che­fia do próprio rei, virão profanar o santuário e a fortaleza; acabarão com o sacrifício perpétuo e estabelecerão a abominação devas­ta­dora. 32Pela li­sonja levará a apos­tatar os que vio­laram a aliança, mas a multidão dos que conhecem o seu Deus perma­ne­cerá firme e há-de resistir. 33Os ho­mens sensatos deste povo hão-de ins­truir um gran­de número; porém, sucumbirão pela espada e pelo fogo, pelo cativeiro e pilhagem, durante um certo tempo.

34Quando sucumbirem, serão pou­­cos os que os hão-de socorrer e mui­tos se juntarão a eles por hipocrisia. 35Mui­tos destes sensatos perecerão, a fim de que sejam provados, puri­ficados e tornados brancos até ao termo final, porquanto este fim não chegará senão em tempo marcado.

36O rei agirá em tudo conforme lhe aprouver. Encher-se-á de orgu­lho, considerar-se-á acima de todos os deu­ses; proferirá mesmo coisas inaudi­tas contra o Deus dos deuses; prospe­rará até que a cólera divina tenha che­gado ao termo, porque o que está decre­tado há-de cumprir-se. 37Não terá consideração pelos deuses de seus pais, nem pelo deus querido das mu­lheres, nem por qual­quer divindade; julgar-se-á superior a todos. 38Em lugar deles, honrará o deus das for­talezas e, com ouro, pra­ta, pedras pre­ciosas e jóias, hon­rará um deus des­conhecido do país dele.

39Com a ajuda de um deus estra­nho, atacará as muralhas das for­ta­lezas; àqueles que o reconheceram cumu­lará de honras, dar-lhes-á auto­ri­dade sobre um grande número de súbditos e lhes distribuirá terras como recompensa.»


Fim da perseguição40«Por oca­sião do fim, o rei do Sul se levantará contra ele. O rei do Norte desabará sobre o mesmo como um furacão, com carros, cavaleiros e considerá­vel frota. Entrará nos territórios como tor­rente que transborda. 41In­vadirá a nação gloriosa, na qual muitos ho­mens tom­barão. Todavia, os edomitas, os moabitas e a maior parte dos amo­ni­tas escapar-lhe-ão.

42Meterá a mão em diferentes paí­ses e o Egipto não lhe fugirá. 43Apo­derar-se-á dos tesouros de ouro e de prata e de tudo o que há de precioso no Egipto. Os líbios e os etíopes hão-de juntar-se a ele. 44Contudo, alar­mado pelas notícias chegadas do Oriente e do Norte, retirar-se-á furiosíssimo, com o intuito de des­truir e exter­mi­nar uma grande multidão de gente. 45Levantará as tendas do seu quar­tel real, entre o mar e os montes da nação santa. Então, che­gará o termo da sua vida e ninguém lhe prestará auxílio.»

Capítulo 12

Os que ressuscitam (Is 24-27; Ez 37; Jl 3-4) – 1«Naquele tempo, surgirá Miguel, o grande príncipe, que protege os filhos do teu povo. Será este um período de angústia tal, que não terá havido outro seme­lhante desde que existem nações até àquele tempo. Ora, entre a popula­ção do teu povo, serão salvos todos os que se encontraram inscritos no livro. 2Muitos dos que dormem no pó da terra acordarão, uns para a vida eterna, outros para a ignomí­nia, para a reprovação eterna. 3Os que tive­rem sido sensatos resplan­decerão como a luminosidade do fir­mamento, e os que tiverem levado muitos aos caminhos da justiça bri­lharão como estrelas com um es­plen­dor eterno.

4E tu, Daniel, guarda isto em segredo e conserva selado este livro até ao tempo final. Deixa que mui­tos errem por aqui e por ali, mas o conhecimento crescerá.»

5Eu, Daniel, continuava a olhar. Avistei duas outras personagens que se mantinham de pé, cada qual em sua margem do rio. 6Um deles disse ao homem vestido de linho que es­tava por cima das águas do rio: «Para quando será o fim destas coisas pro­digiosas?» 7E ouvi jurar o homem vestido de linho, que estava sobre as águas do rio, levantando ao céu a mão esquerda, assim como a mão di­­reita: «Por aquele que vive eter­na­mente, isto será num tempo, tempos e metade de um tempo. Pri­meiro, a força do povo santo há-de quebrar-se inteiramente. Então, to­das estas coisas se cumprirão.»

8Ouvi estas palavras, mas sem as compreender, e disse-lhe: «Meu se­nhor, qual o fim de tudo isto?»

9Res­pondeu: «Vai, Daniel, porque estes vaticínios devem permanecer fe­­­cha­dos e selados até ao tempo fi­nal. 10Muitos serão purificados, aper­­fei­çoa­dos e postos à prova. Os ímpios actuarão com perversidade, porém ne­nhum deles compreen­derá, ao passo que os sensatos compreen­de­rão. 11Desde o tempo em que for abolido o holocausto perpétuo e es­ta­belecida a abominação devasta­dora, haverá mil duzentos e noventa dias. 12Feliz o que permanecer na expec­ta­­tiva e che­gar a mil trezentos e trinta e cinco dias! 13Tu, vai até ao fim e repou­sa­rás; levantar-te-ás para rece­ber a tua parte da heran­ça, no fim dos tempos.»

Capítulo 13

Inocência de Susana1Ha­via um homem chamado Joa­q­uim, que habitava na Babilónia. 2Ti­­nha desposado uma mulher de nome Susana, filha de Hilquias, mui­­t­­o bela e piedosa para com o Senhor, 3pois tinha sido educada pelos pais, que eram justos, de har­monia com a Lei de Moisés. 4Joa­quim era muito rico. Contíguo à sua casa, tinha um pomar; e com frequência se reuniam em casa dele os judeus, pois que entre todos os seus compatriotas gozava de parti­cular consideração.

5Tinham sido nomeados juízes, naquele ano, dois anciãos do povo. A eles justamente se aplicava a pala­vra do Senhor: «A iniquidade veio da Babilónia, de anciãos e juízes, que passavam por dirigir o povo.» 6Estas duas personagens frequenta­vam a casa de Joaquim, onde vi­nham pro­curá-los todos os que tinham qual­quer contenda. 7À hora do meio-dia, quando toda esta gente se tinha reti­rado, Susana ia passear para o jar­dim do marido. 8Os dois anciãos viam-na todos os dias, por ocasião do passeio, de maneira que a sua paixão se acendeu por ela. 9Perde­ram a justa noção das coisas, afastaram os olhos para não olha­rem para o céu e não se lembrarem da verdadeira regra de conduta.

10Os dois consumiam-se de pai­xão por Susana, mas sem contarem um ao outro a sua própria emoção. 11Ti­nham vergonha de, reciprocamente, comu­ni­ca­rem o desejo que os domi­nava de a possuírem. 12Todos os dias, inquie­tos, procuravam ocasião para a obser­var. 13Uma vez, disseram um ao outro: «Vamos para casa, pois é a hora de almoçar.» Saíram cada um por seu lado. 14Mas voltaram os dois atrás e encontraram-se num mesmo lugar. Ao interrogarem-se mutua­mente sobre o motivo do regresso, conf­essaram um ao outro o seu desejo. Combinaram, então, um mo­mento em que pudes­sem encon­trar Susana só. Eles estuda­vam a oca­sião propícia.

15Um dia, como de costume, che­gou Susana, acompanhada apenas por duas criadas, e preparava-se para tomar banho no jardim, pois fazia calor. 16Não havia aí ninguém senão os dois anciãos que, escondi­dos, a es­piavam. 17Disse às jovens: «Trazei-me óleo e unguentos e fechai as por­tas do jardim, para eu tomar banho.» 18Fizeram o que ela tinha mandado e, tendo fechado as portas do jar­dim, saíram pela porta tra­seira, para irem procurar o que lhes tinha sido pedido; não sabiam que os anciãos estavam lá escondidos.

19Logo que elas saíram, os dois homens precipitaram-se para junto de Susana 20e disseram-lhe: «As por­tas do jardim estão fechadas, nin­guém nos vê. Nós ardemos de desejo por ti. Aceita e entrega-te a nós. 21Se não quiseres, vamos denunciar-te. Di­­re­­­mos que um rapaz estava con­tigo e que foi por isso mesmo que tu man­daste embora as criadas.» 22Su­sana bradou angustiada: «Estou su­jeita a aflições de todos os lados! Se faço isso, é para mim a morte. Se não o faço, nem mesmo assim vos escapa­rei. 23Mas é preferível para mim cair em vossas mãos sem ter feito nada, do que pecar aos olhos do Se­nhor.» 24Susana, então, soltou altos gri­tos e os dois an­ciãos gritaram tam­bém com ela. 25E um deles, cor­rendo para as portas do jardim, abriu-as.

26As pessoas da casa, ao ouvirem esta gritaria, precipitaram-se pela porta traseira para ver o que tinha acontecido. 27Logo que os anciãos falaram, os criados coraram de ver­go­nha, pois jamais se tinha dito coisa semelhante de Susana. 28No dia se­guinte, os dois anciãos, dominados pelo desejo criminoso contra a vida de Susana, vieram à reunião que ti­nha lugar em casa de Joaquim, seu marido. 29Disseram diante de toda a gente: «Que se vá procurar Susana, filha de Hilquias, a mulher de Joa­quim!» Foram procurá-la. 30E veio com os seus pais, os filhos e os mem­bros da sua família. 31Susana era de fi­gura delicada e bela de rosto. 32Por­que estava velada, estes ho­mens per­ver­s­­os, para ao menos se saciarem com a sua beleza, exigiram que levantasse o véu. 33Choravam todos os seus, ass­im como todos os que a conheciam.


Susana acusada pelos anciãos34Os dois anciãos levantaram-se diante de todo o povo e puseram a mão sobre a cabeça de Susana, 35en­quanto ela, desfeita em lágrimas, mas de coração cheio de confiança no Senhor, olhava para o céu. 36Dis­s­eram então os anciãos: «Quando pas­seávamos a sós pelo jardim, entrou ela com duas criadas; e depois de ter fechado as portas, mandou embora as criadas. 37Então, um jovem, que estava lá escondido, aproximou-se e pecou com ela. 38Encontrávamo-nos a um canto do jardim. Perante seme­lhante atrevimento, corremos para eles e surpreendemo-los em flagran­te delito. 39Não pudemos ter mão no rapaz, porque era mais forte do que nós, abriu a porta e escapou-se. 40A ela apanhámo-la; mas, quando a in­terrogámos para saber quem era esse rapaz, 41recusou responder-nos. Somos testemunhas disto.»

Dando crédito a estes homens, que eram anciãos e juízes do povo, a assembleia condenou Susana à mor­te. 42Esta, então, em altos brados dis­se: «Deus eterno, que sondas os segre­dos, que conheces os acontecimentos antes que se dêem, 43Tu sabes que proferiram um falso testemunho con­tra mim. Vou morrer sem ter feito nada daquilo que maldosamente inventaram contra mim.»


Daniel defende a casta Susana44Deus ouviu a sua oração. 45Quando a conduziam para a morte, o Senhor despertou a alma límpida de um rapa­zinho, chamado Daniel, 46que gritou com voz forte: «Estou inocente da morte dessa mulher!» 47Toda a gente se voltou para ele e disse: «Que é que isso quer dizer?» 48E, diri­gindo-se para o meio deles, afirmou: «Israe­l­­i­tas! Estais loucos, para con­de­nardes uma filha de Israel, sem examinar­des nem reconhecerdes a verdade? 49Reco­meçai o julgamento, porque é um falso testemunho o que estes dois homens declararam con­tra ela.»

50O povo apressou-se a voltar. Os an­­ciãos disseram a Daniel: «Vem, senta-te no meio de nós e esclarece-nos, porque Deus te deu maturi­dade!» 51Bradou Daniel: «Separai-os para longe um do outro e eu os jul­garei.»

52Separaram-nos. Daniel, então, chamou o primeiro e disse-lhe: «Ve­lho perverso! Eis que se manifestam agora os pecados que cometeste ou­trora em julgamentos injustos, 53ao condenares os inocentes, absolvendo os culpados, quando o Senhor disse: ‘Não farás com que morra o inocente ou o justo.’ 54Vamos! Se realmente os viste, diz-nos debaixo de que árvore os viste entreterem-se um com o outro.»

«Sob um lentisco.» – respondeu.

55Retorquiu Daniel: «Pois bem! Aí está a mentira, que pagarás com a tua cabeça. Eis que o anjo do Se­nhor, conforme a sentença divina, te vai rachar a meio!»

56Afastaram o homem, e Daniel mandou vir o outro e disse-lhe: «Tu és um filho de Canaã e não um judeu. Foi a beleza que te seduziu e a pai­xão que te per­verteu. 57É assim que sem­pre tendes procedido com as filhas de Israel, que, por medo, entravam em relação convosco. Uma filha de Judá, porém, não consentiu na vossa perversi­dade. 58Vamos, diz-me: sob que árvore os surpreendeste em ati­tude de se uni­rem?»

«Sob um carvalho.»

59Respon­deu Daniel: «Pois bem! Também tu forjaste uma mentira que te vai cus­tar a vida. Eis que o anjo do Senhor, de espada em punho, se dispõe a cortar-te ao meio, para vos aniqui­lar.»

60Logo a multidão deu grandes bra­dos, e bendizia a Deus que salva os que põem nele a sua esperança.

61Toda a gente, então, se insurgiu contra os dois anciãos que Daniel tinha convencido de falso testemu­nho, pelas suas próprias declarações e deu-se-lhes o mesmo tratamento que eles tinham infligido ao seu pró­ximo. 62De harmonia com a Lei de Moisés, mataram-nos. Deste modo, foi poupada naquele dia uma vida ino­c­ente.

63Hilquias e sua esposa louvaram a Deus por sua filha, Susana, com Joaquim, esposo dela, e todos os pa­rentes, pois não tinham encontrado qualquer desonestidade na sua con­duta. 64Daniel, daí em diante, gozou de elevada consideração entre os com­patriotas.

Capítulo 14

1Pela morte do rei Astiages, Ciro, o Persa, subiu ao trono. 2Daniel vivia com o rei e era hon­rado mais que todos os outros amigos do rei. 3Havia entre os babilónios um ídolo chamado Bel, para o qual dia­ria­mente se despendiam doze arta­bas de farinha, quarenta carneiros e seis medidas de vinho. 4O rei pres­tava culto ao ídolo e todos os dias o ia adorar. Daniel, porém adorava o seu Deus. 5O rei disse-lhe: «Porque não adoras Bel?»

Respondeu Daniel: «Porque não venero um ídolo feito pela mão do ho­mem, mas sim o Deus vivo, que criou o céu e a terra e que exerce o seu do­mí­nio sobre todos os seres hu­ma­nos.» 6Retorquiu o rei: «Por isso, então, Bel não te parece que seja um deus vivo! Não vês quanto ele come e bebe todos os dias?» 7Daniel pôs-se a rir e res­pon­deu: «Desengana-te, ó rei; este deus, por dentro, é de barro, por fora, de bronze e nunca comeu nem bebeu.»

8O rei, irritado, cha­mou os sacer­dotes de Bel e disse-lhes: «Se não me indicais quem come estas oferendas, morrereis. Ao contrário, se me pro­var­des que é Bel quem as come, mor­rerá Daniel, porque blas­fe­mou contra ele!» 9«Seja como tu dizes!» – respon­deu Daniel ao rei.

Eram setenta os sacerdotes de Bel, sem contar as mul­­heres e os filhos. 10O rei foi ao templo de Bel na com­pa­nhia de Da­niel. 11Os sacerdotes dis­seram: «Nós vamos sair. Manda trazer, ó rei, os alimentos e o vinho mistu­rado; de­pois, fecha a porta e sela-a com o teu anel. Se, amanhã de manhã, quando entrares no templo, verifica­res que não foi tudo comido por Bel, morre­remos; de outro modo, isso acon­tecerá a Daniel, que nos calu­niou.»

12Estavam perfeitamente seguros, porque debaixo da mesa tinham feito uma abertura oculta, pela qual entra­vam todos os dias e levavam as ofe­rendas. 13Depois que saíram, logo que o rei depôs os alimentos diante de Bel, 14Daniel mandou aos servos trazer cinza, que espalhou por todo o templo, em presença apenas do rei. Em se­guida, saíram, fecharam a porta e, depois de lhe ter aposto o selo real, afastaram-se. 15Durante a noite, como de costume, entraram os sacerdotes com as mulheres e os filhos e come­ram e beberam tudo.

16Ao romper do dia, veio o rei e Daniel com ele.

17«Estão intactos os selos, Daniel?» – perguntou o rei. Respondeu Da­niel: «Estão intactos, ó rei.» 18Logo que abriu a porta e olhou para a mesa, o rei exclamou em voz alta: «Tu és grand­e, Bel. Não nos enganaste.»

19Da­niel, porém, pôs-se a rir e, im­pe­dindo que o rei fosse mais para a frente, disse-lhe: «Observa o pavi­mento. De quem são estas pegadas?» 20«Vejo, na verdade – respondeu o rei – pegadas de homens, de mulheres e de crianças.»

21Irritado, o rei mandou prender os sacerdotes, com suas mulheres e filhos e os mesmos lhes mostraram a entrada secreta por onde se intro­du­ziam, a fim de consumirem o que es­tava sobre a mesa.

22Mandou-os matar e entregou Bel à vontade de Daniel que o destruiu, a ele e ao seu templo.


Daniel lançado aos leões23Ha­via também um grande dragão, que os babilónios veneravam. 24Disse o rei a Daniel: «Pretenderás tu, tam­bém, que aquele seja de bronze? Vive, come e bebe. Não podes negar que este seja um deus vivo. Portanto, adora-o.»

Retorquiu Daniel: 25«Eu não adoro senão o Senhor, meu Deus, porque Ele é um Deus vivo. Dá-me licença, ó rei, e sem espada nem pau eu ma­ta­rei o dragão.» 26Respondeu o rei: «Eu ta concedo.»

27Daniel, então, pegou em pez, sebo e pêlos; mandou cozer tudo junto e, com isto, preparou bolos que atirou para a goela do dragão, o qual reben­­tou. E Daniel exclamou: «Aí está o que vós venerais!»

28Ao sabê-lo, os babilónios irrita­ram-se muito; revoltaram-se contra o rei ao grito de: «O rei fez-se judeu! Destruiu Bel, matou o dragão e mas­­sacrou os sacerdotes.» 29Vieram ter com o rei para lhe dizerem: «En­trega-nos Daniel ou matar-te-emos, a ti e à tua família.»

30Perante a viol­ência com que o ameaçavam, o rei viu-se forçado a en­tregar-lhes Daniel, 31a quem lança­ram na cova dos leões, onde ficou seis dias. 32Havia na cova sete leões aos quais diariamente davam dois cadá­­­veres e dois carneiros. Mas da­quela vez não lhes deram nada, para que devorassem Daniel.

33Ora, por aquela ocasião, vivia na Judeia o profeta Habacuc. Acabava de cozer uma papa e migava pão nu­ma caça­rola e ia ao campo levá-la aos ceif­eiros. 34Porém, um anjo do Senhor disse-lhe: «Leva esta refeição à Babi­lónia, a Daniel que se encon­tra na cova dos leões.»

35Respondeu Habacuc: «Senhor, eu nunca vi Babilónia e não co­nheço essa cova.»

36Então o anjo agarrou-o pelo alto da cabeça e levou-o pelos cabe­los, num sopro, até à Babilónia, por cima da cova.

37Bradou Habacuc: «Daniel, Da­niel, aceita a refeição que Deus te envia.»

38E Daniel respondeu: «Oh! Deus, que pensaste em mim! Não abando­naste os que te amam!»

39Da­niel levantou-se e comeu, en­quanto o anjo do Senhor reconduzia Habacuc a sua casa.

40Ao sétimo dia, o rei veio para cho­­­­­rar Daniel. Ao chegar junto da cova, olhou para dentro e ali viu Da­niel sentado. 41E gritou: «Tu és grande, Se­nhor, Deus de Daniel! Não há qual­quer outro Deus senão Tu!»

42Mandou tirá-lo da cova dos leões e lançar nela todos os que tinham pre­tendido eliminá-lo. À sua vista, foram imediatamente devorados.

43O rei disse então: «Que todos os habitantes da terra temam o Deus de Daniel, pois é Ele o Salvador que opera maravilhas e prodígios sobre a terra; foi Ele quem libertou Daniel da cova dos leões!»

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