Capítulo 1
Ambiente histórico (2 Cr 36,5-7) 1No terceiro ano do reinado de Joaquim, rei de Judá, Nabucodonosor, rei da Babilónia, veio cercar Jerusalém. 2O Senhor entregou-lhe Joaquim, rei de Judá, e uma parte dos objectos do templo; Nabucodonosor transportou-os ao país de Chinear e colocou-os na sala do tesouro dos seus deuses.
Daniel e seus companheiros na Babilónia – 3O rei deu ordem a Aspenaz, chefe dos criados, que lhe trouxesse jovens israelitas, de ascendência real ou de família nobre, 4sem qualquer defeito, formosos, dotados de toda a espécie de qualidades, instruídos, inteligentes e fortes. Seriam colocados no palácio real e Aspenaz devia ensinar-lhes as letras e a língua dos caldeus.
5O rei destinou-lhes uma provisão diária de alimentos, reservada à ementa da mesa real, e do vinho que ele bebia. A formação deles havia de durar três anos, após o que entrariam ao serviço na presença do rei.
6Entre estes, contavam-se Daniel, Hananias, Michael e Azarias, que pertenciam aos filhos de Judá. 7O chefe dos criados pôs-lhe novos nomes: a Daniel, o de Beltechaçar, a Hananias, o de Chadrac, a Michael, o de Mechac e a Azarias, o de Abed-Nego.
8Daniel tomou a resolução de não se manchar com o alimento do rei e com o vinho que ele bebia. Por isso, pediu ao chefe dos criados para se abster deles. 9Deus fez com que o chefe dos criados acolhesse Daniel com benevolência e amabilidade. 10Mas depois disse-lhe: «Temo que o rei, meu senhor, que determinou o que vós haveis de comer e beber, venha a encontrar o vosso rosto mais magro que o dos outros jovens da mesma idade e assim me exponhais a uma repreensão da parte do rei.»
11Então, Daniel disse ao oficial, a quem o chefe dos criados tinha confiado o cuidado de Daniel, Hananias, Michael e Azarias: 12«Por favor, faz uma experiência de dez dias com os teus servos: que se nos dê apenas legumes a comer, e água a beber. 13Depois disto, compararás o nosso aspecto com o dos jovens que se alimentam das iguarias da mesa real e, conforme o que tiveres constatado, assim agirás com os teus servos.»
14Concordou com esta proposta e submeteu-os à prova, durante dez dias. 15Ao fim deste prazo, verificou-se que tinham melhor aspecto e estavam mais robustos que todos os jovens que comiam os acepipes da mesa real. 16Como consequência, o oficial retirava as iguarias e o vinho que lhes estavam destinados e mandava que lhes servissem legumes. 17A estes quatro jovens, Deus deu sabedoria e inteligência no domínio das letras e ciências. Daniel compreendia toda a espécie de visões e sonhos.
18Decorrido o tempo fixado pelo rei para a apresentação dos jovens, o chefe dos criados levou-os à presença de Nabucodonosor, 19que conversou com eles. De entre todos os jovens, não houve nenhum que pudesse comparar-se a Daniel, Hananias, Michael e Azarias. Por isso, entraram ao serviço na presença do rei.
20Em qualquer assunto de sabedoria e inteligência que os consultasse, o rei achava-os dez vezes superiores a todos os escribas e magos do seu reino. 21Assim viveu Daniel, até ao primeiro ano do reinado de Ciro.
Capítulo 2
Só Deus pode interpretar os sonhos (Gn 41) – 1No segundo ano do seu reinado, Nabucodonosor teve sonhos, que lhe agitaram tanto o espírito que perdeu o sono. 2O rei mandou chamar os escribas, os magos, os feiticeiros e os caldeus para lhos interpretarem. Eles vieram e apresentaram-se diante do rei.
3Disse-lhes o rei: «Tive um sonho e o meu espírito atormentou-se, procurando o sentido deste sonho.» 4Os caldeus responderam ao rei em aramaico: «Viva o rei para sempre! Conta o sonho aos teus servos e dar-te-emos a interpretação.»
5O rei disse aos caldeus: «É para mim coisa certa que, se não me apresentais o conteúdo do sonho, bem como a sua interpretação, sereis cortados em pedaços e vossas casas reduzidas a um montão de imundícies. 6Porém, se me revelardes não só o sonho mas também a sua interpretação, recebereis de mim dádivas, presentes e grandes provas de consideração. Dizei-me, pois, o sonho e o que significa.»
7Responderam novamente: «Que o rei conte o sonho aos seus servos e revelaremos a sua interpretação.» 8«Sei agora perfeitamente – replicou o rei – que procurais ganhar tempo, pois vedes que estou completamente decidido a aplicar-vos essa sentença, 9se não me revelais o conteúdo do sonho. Combinastes para me mentir e me enganar, esperando que as circunstâncias mudem. Vamos, dizei-me o que eu sonhei e saberei se sois capazes de lhe dar a interpretação.»
10Os caldeus responderam ao rei desta maneira: «Não há homem sobre a terra capaz de descobrir o segredo do rei. E, de facto, nenhum rei, governador ou homem poderoso exigiu semelhante coisa de um escriba, mago ou caldeu. 11A questão posta pelo rei é difícil e ninguém poderá dar ao rei a solução, excepto os deuses, que não têm morada entre os mortais.»
12Ao ouvir isto, o rei enfureceu-se e em sua cólera mandou exterminar todos os sábios da Babilónia. 13A decisão foi publicada e o massacre dos sábios começou. Procuraram Daniel e os companheiros para os matar também. 14Daniel, porém, dirigiu a Arioc – chefe dos guardas do rei – que se dispunha a matar todos os sábios babilónios, propostas cheias de prudência e sensatez. 15Perguntou-lhe: «Qual a razão para uma sentença tão severa da parte do rei?»
Arioc expôs-lhe o assunto. 16Imediatamente Daniel foi ter com o rei para pedir que lhe concedesse o tempo necessário para dar ao rei a interpretação pedida.
Visão de Daniel –17Daniel entrou em sua casa e informou do facto os companheiros Hananias, Michael e Azarias. 18Pediu-lhes que implorassem a misericórdia do Deus dos céus, a propósito deste enigma, a fim de que não fossem exterminados Daniel e os seus companheiros com os restantes sábios da Babilónia.
19O mistério foi, então, revelado a Daniel numa visão nocturna. Daniel bendisse o Deus dos céus 20e exprimiu-se deste modo:
«Louvado seja o nome de Deus,
bendito seja de eternidade em eternidade,
porque a Ele pertencem a sabedoria e o poder.
21É Ele quem modifica os tempos e as circunstâncias;
é Ele quem depõe os reis e os eleva;
é Ele quem dá a sabedoria aos sábios
e a ciência aos que têm inteligência;
22é Ele quem revela o que é profundo e escondido,
quem conhece o que se esconde nas trevas,
e a luz mora junto dele.
23Ó Deus de meus pais, eu te celebro e te louvo,
porque me deste a sabedoria e a coragem,
porque me manifestaste o que te pedimos,
ao resolver a dificuldade do rei.»
Daniel interpreta o sonho do rei 24Depois, Daniel foi ter com Arioc, a quem o rei tinha encarregado de exterminar os sábios da Babilónia. Falou-lhe assim: «Não mandes matar os sábios da Babilónia. Leva-me até junto do rei, para que lhe dê a explicação.»
25Apressou-se então Arioc a conduzir Daniel junto do rei, falando-lhe deste modo: «Encontrei, entre os deportados da Judeia, um homem que dará a conhecer ao rei a explicação que deseja.» 26O rei tomou a palavra e disse a Daniel, que tinha o sobrenome de Beltechaçar: «Na verdade, tu és capaz de me dar a conhecer o sonho que tive e a sua interpretação?»
Daniel respondeu-lhe: 27«O mistério de que o rei pede esclarecimento, nem os sábios, nem os magos, nem os feiticeiros, nem os astrólogos são capazes de o revelar ao rei. 28Porém, nos céus há um Deus que desvenda os mistérios e Ele quis revelar ao rei Nabucodonosor o que vai acontecer na continuação dos tempos. Eis, pois, o teu sonho e as visões que se apresentaram ao teu espírito, no teu leito:
29Ó rei, os pensamentos que te vieram ao espírito, enquanto estavas no teu leito, referiam-se ao que sucederá no futuro, e aquele que desvenda o que é secreto dá-te a conhecer o que deve advir. 30Quanto a mim, se este mistério me foi revelado, não é por em mim haver mais sabedoria que nos outros homens, antes foi para dar ao rei a interpretação, a fim de que vejas claro os pensamentos do teu coração.
31Ó rei, tu tiveste uma visão. Eis que uma grande, uma enorme estátua se levantava diante de ti; era de um brilho extraordinário, mas de um aspecto terrível. 32Esta estátua tinha a cabeça de ouro fino, o peito e os braços de prata, o ventre e as ancas de bronze, 33as pernas de ferro, os pés metade de ferro e metade de barro.
34Contemplavas tu esta estátua, quando uma pedra se desprendeu da montanha, sem intervenção de mão alguma, e veio bater nos seus pés, que eram de ferro e argila, e lhos esmigalhou. 35Então, com a mesma pancada foram feitos em pedaços o ferro, o barro, o bronze, a prata, o ouro, e, semelhantes ao pó que no Verão voa da eira, foram levados pelo vento sem que deixassem qualquer vestígio. A pedra que tinha embatido contra a estátua transformou-se numa alta montanha, que encheu toda a terra.
36Este era o sonho. Vamos agora dar ao rei a sua interpretação. 37Tu, ó rei, és o rei dos reis, a quem o Deus dos céus deu a realeza, o poder, a força e a glória; 38a quem entregou o domínio sobre os homens, onde quer que eles habitem, sobre os animais terrestres e sobre as aves do céu. Tu é que és a cabeça de ouro.
39Depois de ti surgirá um outro reino menor que o teu; depois um terceiro reino, o de bronze, que dominará sobre toda a terra. 40Um quarto reino será forte como o ferro; assim como o ferro quebra e esmaga tudo, assim este esmagará e aniquilará todos os outros. 41Os pés e os dedos que viste, em parte de argila de oleiro, em parte de ferro, indicam que este reino será dividido; haverá nele alguma coisa da resistência do ferro, conforme tu viste ferro misturado com argila. 42Os dedos dos pés, em parte de ferro e em parte de barro, significam que o reino será ao mesmo tempo forte e frágil. 43Se tu viste o ferro junto com o barro, foi porque as duas partes se uniram por descendência humana, mas não se aguentarão juntas, do mesmo modo que o ferro não se funde com a argila.
44No tempo destes reis, o Deus dos céus fará aparecer um reino que jamais será destruído e cuja soberania nunca passará para outro povo. Esmagará e aniquilará todos os outros, enquanto ele subsistirá para sempre. 45Foi o que pudeste ver na pedra que se desprendia da montanha, sem intervenção de mão alguma, e que reduzia a migalhas o ferro, o bronze, a argila, a prata e o ouro.
O grande Deus deu a conhecer ao rei o que acontecerá no futuro. O sonho é verdadeiro e a interpretação dele é digna de crédito.»
Profissão de fé do rei – 46Então, o rei Nabucodonosor atirou-se de face por terra, prostrado diante de Daniel; em seguida, ordenou que lhe oferecessem oblações e incenso. 47Dirigindo-se a Daniel, o rei disse: «O vosso Deus é verdadeiramente o Deus dos deuses, o Senhor dos reis; é também Ele quem manifesta os mistérios, visto que só tu os pudeste revelar.»
48O rei elevou Daniel em dignidade e deu-lhe numerosos e ricos presentes; constituiu-o governador de toda a província da Babilónia e nomeou-o chefe supremo de todos os sábios da Babilónia. 49A pedido de Daniel, entregou a Chadrac, Mechac e Abed-Nego a administração da província da Babilónia, enquanto Daniel ficava na corte real.
Capítulo 3
A estátua de ouro (2 Mac 7; Is 43,2) 1O rei Nabucodonosor fez uma estátua de ouro, com a altura de sessenta côvados e com seis de largura, que levantou na planície de Dura, na província da Babilónia. 2E depois mandou convidar os sátrapas, os prefeitos, os governadores, os conselheiros, os tesoureiros, os legistas, os juízes e todas as autoridades das províncias, para vir à inauguração da estátua, que o rei Nabucodonosor tinha erigido. 3Assim, pois, juntaram-se os sátrapas, os prefeitos, os governadores, conselheiros, tesoureiros, legistas, juízes e todas as autoridades das províncias, para a inauguração da estátua levantada pelo rei e, diante dela, todos permaneceram de pé.
4Por meio de um arauto foi feita, então, a proclamação seguinte: «Povos, nações, gente de todas as línguas, eis o que se traz ao vosso conhecimento: 5No momento em que ouvirdes o som da trombeta, da flauta, da cítara, da lira, da harpa, do saltério e de toda a qualidade de instrumentos de música, prostrar-vos-eis em adoração diante da estátua de ouro, que o rei Nabucodonosor levantou. 6Todo aquele que não se prostrar e não adorar será imediatamente lançado na fornalha incandescente.»
7Logo que ouviram o som da trombeta, da flauta, da cítara, da lira, da harpa, e de toda a espécie de instrumentos de música, todos os povos, nações e populações de todas as línguas prostraram-se em adoração diante da estátua de ouro, erigida pelo rei Nabucodonosor.
Condenação dos amigos de Daniel – 8Neste mesmo instante, certos caldeus aproximaram-se e denunciaram os judeus. 9Dirigindo-se ao rei Nabucodonosor disseram: 10«Tu mesmo, ó rei, publicaste o decreto de que todo o homem que ouvisse o som da trombeta, da flauta, da cítara, da lira, da harpa, do saltério e de toda a espécie de instrumento musical teria de se prostrar em adoração diante da estátua de ouro, 11e que qualquer um que a isso se negasse seria lançado na fornalha incandescente. 12Pois bem, há aí alguns judeus a quem confiaste a administração da província da Babilónia, Chadrac, Mechac e Abed-Nego que não respeitaram o teu decreto. Não prestam culto aos teus deuses e não adoram a estátua que tu levantaste.»
13Nabucodonosor, irritado e furioso, mandou comparecer Chadrac, Mechac e Abed-Nego, os quais foram imediatamente levados à presença do rei. 14Disse-lhes Nabucodonosor: «Chadrac, Mechac e Abed-Nego, é verdade que rejeitais o culto aos meus deuses e a adoração à estátua de ouro erigida por mim? 15Pois bem! Estais dispostos, no momento em que ouvirdes o som da trombeta, da flauta, da cítara, da lira, da harpa, do saltério e de qualquer outro instrumento musical, a prostrar-vos em adoração diante da estátua que eu fiz? Se não o fizerdes, sereis logo lançados dentro da fornalha ardente. E qual o deus que poderá libertar-vos da minha mão?»
16Chadrac, Mechac e Abed-Nego responderam ao rei Nabucodonosor: «Não vale a pena responder-te a propósito disto. 17Se isso assim é, o Deus que nós servimos pode livrar-nos da fornalha incandescente, e até mesmo, ó rei, da tua mão. 18E ainda que o não faça, fica sabendo, ó rei, que não prestamos culto aos teus deuses e que não adoramos a estátua de ouro que tu levantaste.»
19Então explodiu a fúria de Nabucodonosor contra Chadrac, Mechac e Abed-Nego; a expressão do seu rosto mudou e levantou a voz para mandar que se aquecesse a fornalha sete vezes mais que de costume. 20Em seguida, ordenou aos soldados mais vigorosos do seu exército que amarrassem Chadrac, Mechac e Abed-Nego, a fim de os lançar na fornalha incandescente.
21Então, estes homens com as suas túnicas, com as suas roupas, mantos e demais vestuário, foram ligados e atirados à fornalha ardente. 22Mas os homens que, por ordem premente do rei, tinham aquecido extraordinariamente a fornalha e para ali tinham atirado Chadrac, Mechac e Abed-Nego foram mortos pelas chamas, 23ao mesmo tempo que eram precipitados na fornalha os três jovens ligados.
Cântico de Azarias (Esd 9,5-15; Ne 9,6-37; Br 1,15-3,8)
24Então, passeavam no meio das chamas,
louvando a Deus e bendizendo o Senhor.
25Azarias, de pé no meio das chamas, fez esta prece:
26«Bendito e louvado sejas, Senhor,
Deus dos nossos pais!
Que o teu nome seja glorificado pelos séculos!
27És justo em toda a tua conduta para connosco;
as tuas obras são rectas,
os teus caminhos rectos
e os teus juízos equitativos.
28Fizeste um juízo equitativo em tudo o que nos infligiste
e em tudo o que infligiste à cidade santa de nossos pais, Jerusalém;
é por efeito dum juízo equitativo
que nos infligiste tudo isto,
por causa dos nossos pecados.
29Pecámos, prevaricámos, afastámo-nos de ti;
em tudo temos procedido mal;
e não observámos os teus mandamentos.
30Não os temos posto em prática,
não temos observado as leis que nos deste
e que eram para nossa felicidade.
31Em todos os males que mandaste sobre nós,
em tudo o que nos infligiste,
foi uma sentença justa que aplicaste.
32Entregaste-nos nas mãos de injustos inimigos,
de ímpios encarniçados, sem lei,
e a um rei, o mais iníquo e perverso de toda a terra.
33Agora não ousamos mais abrir a boca.
Vergonha e infâmia acabrunham os teus servos
e todos os que te adoram.
34Pelo teu nome, não nos abandones para sempre,
não anules a aliança.
35Não nos retires a tua misericórdia,
em atenção a Abraão, teu amigo,
a Isaac, teu servo,
36aos quais prometeste
multiplicar a sua descendência como as estrelas do céu,
e como a areia das praias do mar.
37Senhor, estamos reduzidos a nada diante das nações,
estamos hoje humilhados em face de toda a terra,
por causa dos nossos pecados.
38Agora não há nem príncipe,
nem profeta, nem chefe,
nem holocausto, nem sacrifício,
nem oblação, nem incenso,
nem um local para te oferecer as primícias
e encontrar misericórdia.
39Que pela contrição de coração
e humilhação de espírito,
sejamos acolhidos, como se trouxéssemos
holocaustos de carneiros e de touros
e de milhares de cordeiros gordos.
40Que este seja hoje diante de ti o nosso sacrifício;
possa ele reconciliar-nos contigo,
pois não têm que envergonhar-se
aqueles que em ti confiam.
41É de todo o coração que agora te seguimos,
te veneramos e procuramos a tua face;
não nos confundas.
42Trata-nos com a tua doçura habitual
e com todas as riquezas da tua misericórdia.
43Livra-nos pelos teus prodígios
e cobre de glória o teu nome, Senhor.
44Que sejam confundidos os que maltratam os teus servos,
que sintam vergonha, ao verem-se sem poder
e aniquilados na sua força.
45Assim, saberão que Tu és o Senhor Deus único,
glorioso em toda a superfície da terra!
46Entretanto, os servos do rei, que os tinham lançado na fornalha, não cessavam de a aquecer com nafta, estopa, pez e lenha seca. 47As chamas, que então subiam a quarenta e nove côvados acima da fornalha, 48desviando-se, queimaram os caldeus que se encontravam junto dela.
49O anjo do Senhor, porém, tinha descido até Azarias e seus companheiros e afastava o fogo da fornalha. 50Transformou o centro da fornalha num lugar onde soprava como que uma brisa matinal: o fogo nem sequer os tocou e não lhes causou qualquer mal nem a menor dor.
Cântico dos três jovens (Sl 136; 148) 51Os três jovens, então, não tiveram senão uma só voz para louvar, glorificar e bendizer a Deus, na fornalha, com este cântico:
52«Bendito sejas, Senhor, Deus de nossos pais:
– digno de louvor e glória eternamente!
Bendito seja o teu nome santo e glorioso:
– digno de supremo louvor e exaltação eternamente!
53Bendito sejas no templo da tua santa glória:
– digno de supremo louvor e glória eternamente!
54Bendito sejas por penetrares os abismos,
sentado sobre os querubins:
– digno de supremo louvor e exaltação eternamente!
55Bendito sejas no teu trono real:
– digno de supremo louvor e exaltação eternamente!
56Bendito sejas no firmamento dos céus:
– digno de supremo louvor e glória eternamente!
57Obras do Senhor, bendizei todas o Senhor:
_ a Ele a glória e o louvor eternamente!
58Céus, bendizei o Senhor:
_ a Ele a glória e o louvor eternamente!
59Anjos do Senhor, bendizei o Senhor:
_ a Ele a glória e o louvor eternamente!
60Águas que estais acima dos céus, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
61Todos os poderes do universo, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
62Sol e Lua, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
63Estrelas dos céus, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
64Chuva e orvalho, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
65Todos os ventos, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
66Fogo e chama, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
67Frio e calor, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
68Orvalho e geada, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
69Frio e gelo, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
70Gelos e neves, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
71Noites e dias, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
72Luz e trevas, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
73Relâmpagos e nuvens, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
74Que a terra bendiga o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
75Montes e colinas, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
76Tudo o que germina na terra, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
77Mares e rios, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
78Fontes, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
79Monstros marinhos
e tudo o que se move nas águas, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
80Todas as aves do céu, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
81Todos os animais, selvagens e domésticos, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
82Vós, seres humanos, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
83Que Israel bendiga o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
84Sacerdotes, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
85Servos do Senhor, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
86Espíritos e almas dos justos, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
87Santos e humildes de coração, bendizei o Senhor:
_ a Ele a glória e o louvor eternamente!
88Hananias, Azarias, Michael, bendizei o Senhor:
– a Ele a glória e o louvor eternamente!
Porque nos libertou da morada das sombras,
nos salvou do poder da morte;
tirou-nos da fornalha incandescente
e arrancou-nos do meio das chamas.
89Glorificai o Senhor, porque é bom,
porque a sua misericórdia é eterna.
90Vós, os piedosos, bendizei o Senhor, Deus dos deuses,
louvai-o, glorificai-o,
porque a sua misericórdia é eterna!»
A conversão do rei – 91(24)Então o rei Nabucodonosor, estupefacto, levantou-se repentinamente, dizendo para os seus conselheiros: «Não foram três homens, atados de pés e mãos, que lançámos ao fogo?»
Responderam eles ao rei: «Com certeza.» 92(25)«Pois bem –replicou o rei – vejo quatro homens soltos, que passeiam no meio do fogo, sem este lhes causar mal; o quarto tem o aspecto de um filho de Deus.»
93(26)Por isso, Nabucodonosor aproximou-se da abertura da fornalha e gritou: «Chadrac, Mechac, Abed-Nego, servos do Deus Altíssimo, saí e vinde!» Logo Chadrac, Mechac e Abed-Nego saíram do meio do fogo. 94(27)Os sátrapas, os prefeitos, os governadores e os conselheiros do rei, reunidos em volta, verificaram que o fogo não tinha tido qualquer efeito sobre o corpo daqueles homens, que nem um cabelo das suas cabeças tinha sido chamuscado, que as vestes deles estavam intactas e que nem mesmo traziam indício de cheiro a fogo. 95(28)Nabucodonosor, tomando a palavra, disse:
«Bendito seja o Deus de Chadrac, de Mechac e de Abed-Nego! Ele enviou o seu anjo para libertar os seus servos que, confiando nele, expuseram a vida, transgredindo as ordens do rei, antes que prostrarem-se em adoração diante de um outro deus que não fosse o Deus deles.
96(29)Estabeleço, pois, esta ordem: ‘Em qualquer povo, nação ou língua, todo aquele que disser alguma coisa de mal contra o Deus de Chadrac, de Mechac e de Abed-Nego, será feito em pedaços e a sua casa reduzida a um montão de imundícies, porque não há outro Deus capaz de realizar uma tal libertação’.»
97(30)Depois, o rei melhorou ainda a situação de Chadrac, de Mechac e de Abed-Nego, na província da Babilónia.
Novo sonho do rei: a árvore frondosa (Ez 31) – 98(31)«O rei Nabucodonosor a todos os povos, nações e gentes de todas as línguas que habitam a terra: paz e prosperidade! 99(32)Pareceu-me bom dar-vos a conhecer os milagres e prodígios que o Deus Altíssimo operou em meu favor.
100(33)Oh! Como os seus milagres são grandes
e os seus prodígios formidáveis!
O reino dele é um reino eterno!
O seu império vai de geração em geração.»
Capítulo 4
1«Eu, Nabucodonosor, vivia tranquilo em minha casa e cheio de êxito no meu palácio. 2Tive um sonho que me apavorou; na cama sofri horrores e as visões perturbaram-me.
3Dei ordem para que fizessem vir à minha presença todos os sábios da Babilónia, a fim de me darem a interpretação do sonho. 4Vieram, então, os escribas, os magos, os caldeus e os feiticeiros, a quem narrei este sonho, mas não me souberam indicar o seu sentido.
5Por último, apresentou-se diante de mim Daniel, apelidado Beltechaçar – conforme o nome do meu deus – e nele reside o espírito do Deus santo. Contei-lhe o sonho e disse-lhe: 6 “Beltechaçar, chefe dos magos, sei que reside em ti o espírito do Deus santo e que nenhum mistério te embaraça. Dá-me a interpretação do sonho que tive.”
7Foram assim, no meu leito, as visões do meu espírito: vi, no meio da terra, uma árvore muito alta. 8Esta árvore cresceu e tornou-se vigorosa. O cimo tocava no céu; avistava-se desde os confins de toda a terra. 9A sua folhagem era bela e os frutos abundantes; a todos forneciam alimentos. À sombra dela, abrigavam-se os animais do campo; nos ramos moravam as aves do céu, e toda a criatura tirava dela a sua subsistência.
10Nas visões do meu espírito, contemplei um Vigilante. Era como um santo que descia do céu 11e se pôs a gritar com uma voz forte: “Derrubai a árvore, cortai-lhe os ramos; fazei-lhe cair as folhas e atirai para longe os seus frutos. Que os animais fujam de debaixo dela e que as aves deixem a sua ramagem. 12Contudo, deixai ficar na terra o tronco e suas raízes, mas ligados com cadeias de ferro e de bronze. Que o tronco seja molhado pelo orvalho do céu e que tenha o seu quinhão de erva com os animais da terra. 13Que se lhe mude o coração; que, em vez de um coração humano, lhe seja dado um coração de animal e que sete tempos passem por ele. 14Esta sentença é um decreto dos Vigilantes, esta resolução é uma ordem dos santos, a fim de que os vivos saibam que o Altíssimo domina sobre a realeza dos homens, e que Ele a dá a quem lhe apraz e a ela pode elevar o mais humilde dos mortais.”
15Tal foi o sonho que eu, rei Nabucodonosor, tive. Tu, Beltechaçar, dá-me a interpretação dele, porque nenhum dos sábios do meu reino é capaz de o fazer. Mas, quanto a ti, tu podes, porque em ti reside o espírito do Deus santo.»
Daniel interpreta o sonho – 16Então Daniel, chamado Beltechaçar, ficou aterrorizado, por instantes, e perturbado com os seus pensamentos. O rei recomeçou: «Beltechaçar, que este sonho e o significado dele não te perturbem!» Beltechaçar respondeu: «Meu senhor, que o sonho seja para os teus inimigos e a sua interpretação para os teus adversários!
17A árvore que viste crescer e adornar-se, cujo cimo tocava o céu e que se avistava do extremo da terra, 18essa árvore de bela folhagem, de frutos abundantes, que a todos dava de comer, debaixo da qual se acolhiam os animais do campo e em cuja folhagem se abrigavam as aves do céu, 19essa árvore és tu, ó rei, que te tornaste grande e poderoso, crescendo sempre até atingires os astros e exercendo o teu império até aos extremos da terra.
20E o rei viu descer do céu o santo Vigilante que gritava: ‘Abatei a árvore, cortai-lhe os ramos, mas deixai na terra o tronco das suas raízes, ainda que ligado com cadeias de ferro e de bronze, no meio da erva dos campos; que seja molhado pelo orvalho do céu e que viva com os animais do campo até que sobre ele tenham passado sete tempos’. 21Eis o que significa: trata-se, ó rei, de um decreto do Altíssimo que vai atingir o rei, meu senhor: 22Expulsar-te-ão de entre os homens e far-te-ão habitar com os animais dos campos; pastarás erva como os bois e serás molhado pelo orvalho do céu. Sete tempos passarão sobre ti, até que reconheças que o Altíssimo domina sobre a realeza dos homens e que Ele a dá a quem lhe apraz. 23Se se ordenou deixar intacto o tronco das raízes da árvore, é que a realeza te será confirmada, desde que tenhas reconhecido a soberania do Céu.
24Cuida, pois, ó rei, de aceitar o meu conselho: redime o teu pecado pela justiça, e as tuas iniquidades, pela piedade para com os infelizes; talvez isto consiga prolongar a tua prosperidade.»
Realização do sonho – 25Tudo isto aconteceu ao rei Nabucodonosor. 26Doze meses mais tarde, o rei, quando passeava no palácio real da Babilónia, 27fazia esta reflexão: «Eis Babilónia-a-Grande, que eu edifiquei para residência real, pelo poder da minha força e para glória da minha majestade!»
28Falava ainda, quando uma voz veio do Céu: «É-te anunciado, ó rei Nabucodonosor, que o reino te vai ser tirado. 29Vão expulsar-te do meio dos homens, para te levarem a viver entre os animais dos campos; comerás erva como os bois. Sete tempos passarão sobre ti, até que reconheças que o Altíssimo domina sobre a realeza dos homens e que a dá a quem bem lhe apraz.»
30No mesmo instante se cumpria o oráculo pronunciado sobre Nabucodonosor: foi afastado de entre os homens e pastava erva como os bois; o seu corpo foi ensopado pelo orvalho do céu, os cabelos cresceram-lhe como as plumas à águia, e as unhas como as unhas das aves.
31«Ao fim dos dias marcados, eu, Nabucodonosor, levantei os olhos ao céu. A faculdade da razão voltou-me e bendisse o Altíssimo; louvava e glorificava aquele que vive eternamente, cujo domínio é eterno e cujo reino perdura, de geração em geração. 32Diante dele nenhum habitante da terra conta; age conforme lhe apraz, tanto para a milícia celeste como para os habitantes da terra. Ninguém pode agarrar-lhe a mão e dizer-lhe: ‘Que fazes?’
33Naquela mesma altura, a razão foi-me restituída e, com a glória da minha realeza, também a minha majestade e esplendor. Os meus conselheiros e os meus grandes vieram procurar-me; fui estabelecido na chefia do reino e o meu poder cresceu extraordinariamente. 34Eu, Nabucodonosor, agora louvo, exalto e glorifico o rei dos céus, cujas obras são todas justas e cujos caminhos são rectos e que tem poder para humilhar os orgulhosos.»
Capítulo 5
Banquete do rei – 1O rei Baltasar deu um banquete a mil dos seus conselheiros; e, na presença de todos eles, foi bebendo vinho. 2Excitado pela bebida, mandou trazer os vasos de ouro e prata que o pai Nabucodonosor tinha tirado do templo de Jerusalém, a fim de que o rei, os seus grandes, as concubinas e as bailarinas, se servissem deles para beber.
3Trouxeram, pois, os vasos de ouro que tinham sido roubados ao templo de Deus em Jerusalém. O rei, os seus conselheiros, as concubinas e as bailarinas beberam por eles. 4Depois de terem bebido o vinho, iniciaram o louvor aos deuses de ouro, de prata, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra.
5Neste momento, apareceram dedos de mão humana que escreviam defronte do candelabro, sobre o reboco da parede do palácio real.
O rei, à vista da mão que escrevia, 6mudou de cor, pensamentos terríveis o assaltaram, os músculos dos rins perderam o vigor e os joelhos entrechocavam-se.
Consulta do rei –7O rei gritou que mandassem vir os feiticeiros, os caldeus e os astrólogos. E disse aos sábios da Babilónia: «Aquele que decifrar esta inscrição e me der o sentido da mesma será revestido de púrpura, levará ao pescoço um colar de ouro e tomará o terceiro lugar no governo do reino.»
8Entraram na sala todos os sábios do rei mas foram incapazes de ler aquela inscrição e de dar ao rei o sentido dela. 9Baltasar ficou muito aterrado, a sua face mudou de cor e os seus conselheiros estavam consternados.
10A rainha, porém, tendo conhecimento das palavras do rei e dos conselheiros, entrou na sala do banquete, tomou a palavra e disse: «Ó rei, viva o rei para sempre! Que os teus pensamentos não te aterrem e não mudes assim de cor. 11Há no teu reino um homem em quem reside o espírito do Deus santo. Em vida de teu pai, havia nele uma luz, uma inteligência e uma sabedoria semelhantes à sabedoria dos deuses. Por isso, o rei Nabucodonosor, teu pai, o constituíra chefe dos escribas, dos magos, dos caldeus e dos astrólogos. 12Já que um espírito superior, uma ciência e uma inteligência para interpretar os sonhos, para explicar os enigmas e resolver as dificuldades, se encontram em Daniel – a quem o rei deu o nome de Beltechaçar – manda-o chamar, pois Daniel decifrará o sentido dessa inscrição.»
13Daniel foi, então, levado à presença do rei, que lhe disse: «És tu, de facto, Daniel, deportado de Judá, a quem meu pai trouxe da Judeia para aqui? 14Ouvi dizer a teu respeito que o espírito de Deus está em ti e que em ti se encontram uma luz, uma inteligência e uma sabedoria superiores. 15Acabam de se apresentar diante de mim os sábios e os feiticeiros para lerem esta inscrição e dar-me a conhecer o seu sentido. Mas não puderam dar-me o significado destas palavras. 16Ora, asseguraram-me que tu és mestre na arte das interpretações e das resoluções de enigmas. Se tu, pois, conseguires ler o que está escrito e me deres a conhecer a sua interpretação, serás revestido de púrpura, trarás ao pescoço um colar de ouro e receberás o terceiro lugar no governo do reino.»
Daniel interpreta o sonho – 17Daniel respondeu deste modo ao rei: «Guardai as vossas dádivas; as vossas honrarias, dai-as a outro! Contudo, eu lerei ao rei o texto e dar-lhe-ei o significado dele.
18Ó rei, o Deus Altíssimo tinha dado a Nabucodonosor, teu pai, a realeza e a grandeza, a glória e a majestade. 19Em razão desta grandeza que lhe tinha conferido, todos os povos, todas as nações e gentes de todas as línguas tremiam de medo diante dele. Matava a quem queria, como deixava com vida aquele que queria; exaltava ou humilhava quem ele desejava. 20Mas, tendo-se envaidecido o seu coração e tendo-se endurecido o seu espírito até à presunção, foi deposto do trono real e despojado da glória. 21Foi expulso de entre os seres humanos e, tornando-se o coração dele semelhante ao das bestas, ficou na companhia dos burros selvagens, apascentando-se de erva como os bois; e o seu corpo foi ensopado pelo orvalho do céu, até que reconheceu que o Deus Altíssimo domina sobre a realeza dos homens e a ela eleva quem bem lhe apraz. 22Tu, Baltasar, filho dele, embora conhecendo tudo isto, não humilhaste o teu coração. 23Mas levantaste-te contra o Senhor do Céu; trouxeram-te os vasos do seu templo, pelos quais bebeste vinho, tu, os teus grandes, as tuas mulheres e concubinas. Tributaste louvores aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que são cegos, surdos e nada conhecem, em vez de glorificares o Deus que tem na mão o teu sopro de vida e que conhece todos os teus passos. 24Por isso, foi enviada de sua parte esta mão, que traçou na parede estas palavras.
25Eis o texto aqui escrito: ‘Mené, Tequel e Parsin.’ 26Eis o sentido destas palavras: Mené: Deus mediu o teu reino e pôs-lhe um termo; 27Tequel: foste pesado na balança e encontrado muito leve; 28Parsin: o teu reino foi dividido e entregue aos medos e aos persas.»
29Então, por ordem de Baltasar, Daniel foi revestido de púrpura, puseram-lhe ao pescoço um colar de ouro e publicou-se que teria o terceiro lugar na governação do reino.
30Na mesma noite, foi morto Baltasar, rei dos caldeus.
Capítulo 6
Fidelidade de Daniel – 1Dario, rei dos Medos, recebeu o reino com a idade de cerca de sessenta e dois anos. 2Dario, o Medo, houve por bem nomear e distribuir por todo o reino cento e vinte sátrapas, 3submetidos a três ministros, um dos quais era Daniel; a estes tinham eles de prestar contas, a fim de que os interesses do rei não fossem lesados.
4Ora Daniel, em virtude da superioridade do seu espírito, distinguia-se dos ministros e sátrapas e o rei pensava colocá-lo à frente de todo o reino. 5Por isso, os ministros e os sátrapas procuraram o meio de acusar Daniel, em questões de interesse real. Mas não puderam descobrir qualquer pretexto ou falta, porque era íntegro e nada se encontrava contra ele de errado ou repreensível. 6Disseram, pois, esses homens: «Não encontraremos motivo algum de acusação contra este Daniel, a não ser no que diz respeito à lei do seu Deus.»
7Então ministros e sátrapas, em tumulto, foram ter com o rei e disseram-lhe: «Rei Dario, viva o rei para sempre! 8Os ministros do reino, os prefeitos, os sátrapas, os conselheiros e os governadores estão todos de acordo que seja publicado um edito real para ordenar esta proibição: ‘Todo aquele que, no prazo de trinta dias, dirigir súplicas a qualquer deus ou homem que não sejas tu, ó rei, será lançado na cova dos leões.’ 9Promulga, pois, ó rei, esta proibição e manda fazer dela um documento, a fim de que não possa ser anulada, conforme a lei dos Medos e dos Persas, que é irrevogável.»
10Então, o rei Dario fez redigir o documento com a proibição.
Daniel na cova dos leões – 11Ao saber deste documento, Daniel entrou em sua casa, a qual tinha, no primeiro andar, janelas que abriam para o lado de Jerusalém. Como até aí, continuou a rezar e a louvar a Deus, de joelhos, três vezes ao dia. 12Nessa altura, aqueles homens acorreram, alvoroçados, e encontraram Daniel em oração, invocando o seu Deus.
13Dirigiram-se imediatamente a casa do rei e disseram-lhe, a propósito do decreto real de proibição: «Não promulgaste tu, ó rei, uma proibição, declarando que quem, no período de trinta dias, invocasse algum deus ou homem que não fosses tu, seria lançado na cova dos leões?» Respondeu o rei: «Com certeza, conforme a lei dos Medos e dos Persas, que não pode ser modificada.» 14«Pois bem – prosseguiram eles – Daniel, o exilado de Judá, não teve consideração nem pela tua pessoa, nem pelo decreto que promulgaste. Três vezes ao dia, faz a sua oração.»
15Ao ouvir estas palavras, o rei, muito pesaroso, tomou a peito, apesar de tudo, a salvação de Daniel e nisso se aplicou até ao pôr-do-sol. 16Porém, os mesmos homens, em tumulto, vieram novamente procurar o rei. «Sabei, ó rei – disseram-lhe – que a lei dos Medos e dos Persas não permite qualquer revogação de uma proibição ou de um decreto publicado pelo rei.»
17O rei, então, mandou levar Daniel e lançá-lo na cova dos leões. Disse-lhe o rei: «O Deus que tu adoras com tamanha fidelidade, Ele próprio te libertará!» 18Trouxeram uma pedra, que rolaram sobre a abertura da cova: o rei selou-a com o seu sinete e com o sinete dos grandes, para que nada fosse modificado em atenção a Daniel. 19Entrando no palácio, o rei passou a noite sem comer nada e sem mandar ir para junto dele concubina alguma; não conseguiu fechar os olhos.
Daniel ileso dos leões – 20De madrugada, levantou-se e partiu a toda a pressa para a cova dos leões. 21Quando estava próximo, com uma voz muito magoada, chamou Daniel: «Daniel, servo do Deus vivo, o teu Deus, que adoras com tanta fidelidade, teria podido libertar-te dos leões?» 22Daniel dirigiu-se ao rei nestes termos: «Ó rei, viva o rei para sempre! 23O meu Deus enviou o seu anjo e fechou as fauces dos leões, que não me fizeram qualquer mal, porque, aos olhos dele, estava inocente. Para contigo, ó rei, tão-pouco cometi qualquer falta.»
24O rei, então, cheio de alegria, ordenou que tirassem Daniel da cova. Daniel foi, pois, tirado sem qualquer vestígio de ferimento, porque tinha fé no seu Deus. 25Por ordem do rei, trouxeram os acusadores de Daniel e atiraram-nos à cova dos leões, a eles, às mulheres e aos filhos. Ainda não tinham tocado o fundo da cova e já os leões os tinham agarrado e lhes tinham triturado os ossos.
Profissão de fé do rei – 26Então, o rei Dario escreveu: «A todos os povos, a todas as nações e à gente de todas as línguas que habitam a face da terra, paz e prosperidade! 27Promulgo este decreto: ‘Que em toda a extensão do meu reino se tema e trema diante do Deus de Daniel, porque Ele é o Deus vivo, que subsiste eternamente; o seu reino jamais será destruído e o seu domínio é perpétuo. 28Ele salva e Ele liberta, faz milagres e prodígios no céu e na terra: foi Ele quem livrou Daniel das garras dos leões.’»
29Foi assim que Daniel prosperou durante o reinado de Dario e durante o reinado de Ciro, o Persa.
Capítulo 7
Primeira visão: as quatro feras (Ap 13,1-18) – 1No primeiro ano do reinado de Baltasar, rei da Babilónia, estando Daniel na cama, teve um sonho e visões. Consignou por escrito este sonho e o essencial dos factos.
2Assim se exprimiu Daniel: «Na minha visão nocturna, eu via os quatro ventos do céu precipitarem-se sobre o grande mar. 3Surgiram do mar quatro grandes animais, diferentes uns dos outros.
4O primeiro era semelhante a um leão, mas tinha asas de águia. Enquanto o contemplava, foram-lhe arrancadas as asas. Levantavam-no da terra e endireitavam-no sobre os pés como um homem. Depois, deram-lhe um coração de homem.
5Em seguida, apareceu um segundo animal semelhante a um urso; erguia-se sobre um dos lados e segurava na goela, entre os dentes, três costelas. Diziam-lhe: ‘Vamos! Devora muita carne!’
6Depois disto, vi um terceiro animal parecido com uma pantera, que tinha sobre o dorso quatro asas de ave e também quatro cabeças. Foi-lhe entregue a soberania.
7Enfim, quando contemplava estas visões nocturnas, divisei um quarto animal, horroroso, aterrador e de uma força excepcional. Tinha enormes dentes de ferro; devorava, depois fazia em pedaços e o resto calcava-o aos pés. Era diferente dos animais anteriores, pois tinha dez chifres.
8Quando eu contemplava os chifres, eis que surgiu do meio deles um outro chifre mais pequeno. Para dar lugar a este chifre, três dos primeiros foram arrancados. Este chifre tinha olhos como um homem e uma boca que proferia palavras arrogantes.»
O Ancião e o filho de homem – 9«Continuava eu a olhar, até que foram preparados uns tronos, e um Ancião sentou-se. Branco como a neve era o seu vestuário, e os cabelos da cabeça eram como de lã pura; o trono era feito de chamas, com rodas de fogo flamejante. 10Corria um rio de fogo que jorrava da parte da frente dele. Mil milhares o serviam, dez mil miríades lhe assistiam.
O tribunal reuniu-se em sessão e foram abertos os livros. 11Eu olhava. Por causa do ruído das palavras arrogantes que o chifre proferia, esse animal foi morto e o seu corpo desfeito e atirado às chamas do fogo. 12Quanto aos outros animais, também lhes foi tirado o poderio; no entanto, a duração da sua vida foi-lhes fixada a um tempo e uma data.
13Contemplando sempre a visão nocturna, vi aproximar-se, sobre as nuvens do céu, um ser semelhante a um filho de homem. Avançou até ao Ancião, diante do qual o conduziram. 14Foram-lhe dadas as soberanias, a glória e a realeza. Todos os povos, todas as nações e as gentes de todas as línguas o serviram. O seu império é um império eterno que não passará jamais, e o seu reino nunca será destruído.»
Interpretação da primeira visão 15Perante semelhantes visões, eu, Daniel, senti-me esmagado, com o espírito perturbado. 16Aproximei-me de um dos assistentes e interroguei-o sobre a realidade de tudo aquilo. Respondeu-me e deu-me a explicação: 17«Estes portentosos animais, que são em número de quatro, são quatro reis que se levantarão da terra. 18Os santos do Altíssimo são os que hão-de receber a realeza e guardá-la por toda a eternidade.»
19Quis, então, conhecer exactamente o que se referia ao quarto animal, diferente dos outros, excessivamente aterrador, cujos dentes eram de ferro e as garras de bronze, que devorava, depois desfazia em pedaços e o que restava calcava-o aos pés. 20Desejei ser esclarecido acerca dos dez chifres que tinha na cabeça, bem como daquele outro chifre que tinha despontado e diante do qual três chifres tinham caído. É que esse chifre tinha olhos e uma boca que proferia palavras arrogantes e parecia maior que os seus companheiros. 21Tinha visto este chifre fazer guerra aos santos e levar vantagem sobre eles. 22Mas o Ancião, quando veio, fez justiça aos santos do Altíssimo. A hora deles era aquela e obtiveram a posse do reino.
23Respondeu-me assim: «O quarto animal será um quarto reino terrestre, que será diferente de todos os reinos, devorará o mundo, o calcará e o reduzirá a pó. 24Os dez chifres designam dez reis, que surgirão neste reino, mas após estes surgirá um outro, diferente dos anteriores, o qual vencerá três reis. 25Proferirá insultos contra o Altíssimo, perseguirá os santos do Altíssimo. Pensará em mudar os tempos sagrados e a religião. Os santos viverão sob a sua alçada, apenas durante um determinado espaço de tempo. 26Mas o julgamento continuará e tirar-lhe-ão o domínio, para o suprimir e aniquilar definitivamente. 27A realeza, o império e a grandeza de todos os reinos, situados sob os céus, serão então devolvidos ao povo dos santos do Altíssimo. O seu reino é eterno e todas as soberanias o temerão e lhe prestarão obediência.»
28Aqui findou o relato. Quanto a mim, Daniel, os meus pensamentos perturbaram-me a tal ponto que mudei de cor. Todavia, conservava tudo isto no meu coração.
Capítulo 8
Segunda visão: o carneiro e o bode (1 Mac 1; Ez 34) – 1No terceiro ano do reinado de Baltasar, eu, Daniel, tive uma visão, depois daquela que tinha tido anteriormente. 2Nesta visão, encontrava-me na fortaleza de Susa, que defende a província de Elam.
Sempre em estado de visão, encontrei-me junto do rio Ulai. 3Levantando os olhos, eis que vi um carneiro que estava em frente do rio. Tinha dois chifres, dois altos chifres, mas um deles era mais alto que o outro. Este chifre mais alto surgiu depois. 4Vi o carneiro acometer com os chifres na direcção do ocidente, do norte e do sul. Nenhum animal se mantinha diante dele e ninguém era capaz de se libertar do seu poder. Fazia o que queria e aumentava o seu poder.
5Enquanto eu pensava atentamente, eis que um bode novo veio do ocidente e percorreu a terra toda sem tocar no chão; tinha entre os dois olhos um chifre muito saliente. 6Chegou até junto do carneiro de duas hastes, que eu tinha visto deter-se em frente do rio, e correu contra ele num acesso de furor.
7Vi-o aproximar-se do carneiro. Cheio de fúria e raiva contra ele, agrediu-o, partiu-lhe os dois chifres, sem que o carneiro tivesse tido a força de lhe resistir. O bode lançou por terra o carneiro e calcou-o com as patas e ninguém interveio para livrar o carneiro do ataque do seu adversário.
8Então, o bode cresceu extraordinariamente. Mas quando se tornou forte, o chifre grande partiu-se e foi substituído por quatro outros chifres, alongados na direcção dos quatro ventos do céu.
9De um destes chifres, aliás o mais pequeno, saiu um outro chifre, que se desenvolveu consideravelmente na direcção do sul, na direcção do oriente e na direcção da nação gloriosa. 10Cresceu até atingir o exército dos céus, do qual fez cair para a terra muitas estrelas e calcou-as com as patas. 11Levantou-se mesmo contra o chefe deste exército, cujo sacrifício perpétuo aboliu e arrasou o santuário e o exército de Deus. 12Em vez do altar dos sacrifícios, introduziu a iniquidade e atirou por terra a verdade. O chifre pequeno teve bom êxito na sua empresa.
13Vi um santo que falava, a quem um outro santo perguntou: «Quanto tempo durará o que anuncia a visão, a propósito do holocausto perpétuo, da abominação devastadora, do abandono do santuário e do exército dos fiéis calcado aos pés?» 14Aquele respondeu: «Duas mil e trezentas tardes e manhãs. Depois disso, o santuário será restaurado.»
Interpretação da visão: o anjo Gabriel – 15Ora, enquanto eu contemplava esta visão e procurava compreendê-la, notei que estava de pé, diante de mim, um ser de forma humana. 16Ouvi uma voz de homem que vinha do meio do rio Ulai: «Gabriel – gritava ela – explica-lhe a visão.»
17Dirigiu-se, nesse momento, para o lugar onde eu me encontrava. Ao aproximar-se, fui acometido de terror e caí de face por terra. Gabriel disse-me: «Filho de homem, fica sabendo que esta visão se refere ao tempo final.»
18Enquanto me falava, desfalecia eu, de rosto por terra. Mas ele tocou-me e pôs-me de pé, aí onde me encontrava. 19E disse-me: «Eis que vou manifestar-te o que advirá nos últimos tempos da ira, porque o fim tem a sua hora.
20O carneiro de dois chifres que viste representa os reis da Média e da Pérsia. 21O bode peludo é o rei de Javan; o chifre grande que ele tem entre os olhos é o primeiro rei. 22A sua fractura e o nascimento dos quatro chifres em lugar dele significam quatro reinos que saem desta nação, mas que não têm a sua força.
23No fim do seu império, quando os infiéis tiverem enchido a medida, surgirá um rei de modos duros e jeito astucioso. 24O seu poder crescerá, mas não por ele mesmo. Causará extraordinárias devastações, será bem sucedido em suas empresas, exterminará os poderosos e o povo dos santos. 25Graças à sua habilidade, fará triunfar a perfídia. O seu coração inchará de orgulho e levará à morte muita gente à traição. Levantar-se-á contra o príncipe dos príncipes, mas será esmagado sem intervenção de mão humana.
26A visão que te foi mostrada, a respeito das tardes e das manhãs, é perfeitamente verdadeira. Porém, tu guarda em segredo esta visão, porque se refere a dias longínquos.»
27Então, eu, Daniel, desfaleci. Fiquei doente durante muitos dias. Depois disto, tornei a entregar-me ao trabalho do serviço do rei. Fiquei estupefacto com a visão que tive e que ninguém conseguia compreender.
Capítulo 9
Interpretação das 70 semanas (Jr 25,11-14; 29,10) – 1No primeiro ano de Dario, filho de Artaxerxes, da descendência dos Medos, que tinha sido instalado no trono do império dos caldeus, 2no primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, perscrutava as Escrituras sobre o número de anos que, segundo a palavra do Senhor dirigida ao profeta Jeremias, deviam medir o tempo em que Jerusalém estaria em ruínas. Era de setenta anos. 3Voltei-me para o Senhor Deus, a fim de lhe dirigir uma súplica, jejuando e cobrindo-me de saco e cinza. 4Supliquei ao Senhor, meu Deus, e fiz-lhe a minha confissão nestes termos:
Súplica de Daniel (Esd 9,5-15; Ne 9,6-37; Br 1,15-3,8) - «Ah! Senhor, Deus grande e temível, que és fiel à Aliança e que manténs o teu favor para com os que te amam e guardam os teus mandamentos. 5Todos nós pecámos, prevaricámos, praticámos a iniquidade, fomos revoltosos, afastámo-nos dos teus mandamentos e das tuas leis. 6Não escutámos os teus servos, os profetas, que falaram em teu nome aos nossos reis, aos nossos chefes, aos nossos pais e a todo o povo da nação.
7Para ti, Senhor, a justiça; para nós, a infâmia, como é hoje para as gentes de Judá, para os habitantes de Jerusalém e para todo o Israel, para aqueles que estão perto e aqueles que estão longe, em todos os países por onde os espalhaste, em consequência das iniquidades que cometeram contra ti. 8Sim, ó Senhor, para nós a vergonha, para os nossos reis, para os nossos chefes, para os nossos pais, porque pecámos contra ti.
9No Senhor, nosso Deus, há misericórdia e perdão, pois nos revoltá-mos contra Ele. 10Recusámos escutar a voz do Senhor, nosso Deus; não seguimos as leis que nos propunha pela boca dos seus servos, os profetas. 11Todo o Israel transgrediu a tua Lei e voltou-se para o outro lado, a fim de não ouvir a tua voz. Por isso, a maldição e a imprecação que constam da Lei de Moisés, servo de Deus, foram espalhadas sobre nós, visto que pecámos contra Ele. 12Executou as ameaças proferidas contra nós e contra os nossos governantes: atirou sobre nós calamidades tais, que nunca sob o céu houve uma, comparada àquela que fulminou Jerusalém. 13Foi de harmonia com o que está escrito na Lei de Moisés que nos advieram estas calamidades. E não procurámos apaziguar o Senhor, nosso Deus, renunciando às iniquidades e dirigindo a atenção para a sua verdade. 14Por isso, o Senhor cuidou da desventura para a fazer cair sobre nós, pois que o Senhor, nosso Deus, é justo em tudo o que faz. Porém, não escutámos a sua voz.
15Agora, Senhor, nosso Deus, que fizeste sair o teu povo do Egipto, por tua mão poderosa, e criaste uma glória que persiste ainda hoje, pecámos e praticámos o mal. 16Senhor, pela tua misericórdia, digna-te afastar a tua cólera e o teu furor da tua montanha santa, Jerusalém, pois é por causa dos nossos crimes e dos pecados de nossos pais que Jerusalém e o teu povo estão expostos aos insultos de todos os que nos cercam.
17Escuta, pois, ó nosso Deus, a súplica insistente do teu servo. Pelo teu amor, Senhor, faz brilhar a tua face sobre o teu santuário devastado. 18Ó meu Deus, presta atenção e ouve-nos; abre os olhos para ver as nossas ruínas e a cidade que tem um nome que vem de ti. Não é por causa dos nossos actos de justiça que depomos a teus pés as nossas súplicas, mas em nome da tua grande misericórdia.
19Senhor, ouve! Senhor, perdoa! Senhor, presta atenção! Actua! Pelo teu bom nome, ó meu Deus, não tardes, porque foi o teu nome que foi dado à tua cidade e ao teu povo.»
Explicação do Anjo Gabriel – 20Falava eu ainda, a pedir, a confessar o meu pecado e o do meu povo Israel, a depor aos pés do Senhor, meu Deus, a minha súplica em favor da sua montanha santa; 21não tinha terminado esta oração, quando se aproximou de mim, em voo rápido, Gabriel, o ser que tinha presenciado anteriormente em visão; era a hora da oblação da tarde.
22Para me informar, deu-me as seguintes explicações: «Daniel, vim neste momento aqui, para te esclarecer. 23Logo que tinhas começado a tua oração, uma palavra foi pronunciada e eu vim dar-ta a conhecer, porque és um homem de predilecção. Presta, pois, atenção a este oráculo e procura compreender bem a visão:
24Setenta semanas foram fixadas ao teu povo e à tua cidade santa para conclusão da infidelidade, para cancelar os pecados e expiar a iniquidade, para instaurar uma justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos. 25Sabe pois e compreende isto: após a declaração do decreto sobre a restauração de Jerusalém até a um chefe ungido, haverá sete semanas. Depois, durante sessenta e duas semanas, Jerusalém reaparecerá e será reedificada a praça e o muro. Mas tudo isto será feito entre angústias e dificuldades.
26Após estas sessenta e duas semanas, um ungido será exterminado e ninguém lhe sucederá. A cidade e o santuário serão destruídos por um chefe invasor; ela acabará devastada e até ao fim haverá guerra e devastação decretada. 27Ele concluirá uma sólida aliança com um grande número, por uma semana; ao meio da semana fará cessar o sacrifício e a oblação e, sobre o pináculo do templo, estará a abominação devastadora, e isto até que a destruição decretada se estenda sobre o devastador.»
Capítulo 10
Visão final: vitória de Miguel para o povo judeu – 1No terceiro ano de Ciro, rei da Pérsia, um oráculo foi revelado a Daniel, cognominado Beltechaçar. Este oráculo era verídico e anunciava grandes lutas. Daniel entendeu o oráculo e teve a compreensão da visão.
2Naqueles dias, eu, Daniel, fazia penitência durante três semanas. 3Não tomei qualquer alimento delicado, não entrou em minha boca nem carne nem vinho; não me ungi com azeite, enquanto decorreram estas três semanas. 4No vigésimo quarto dia do primeiro mês, encontrava-me eu na margem do grande rio Tigre. 5Levantando os olhos, vi um homem vestido de linho. Tinha sobre os rins uma cinta de ouro de Ufaz. 6O corpo era como que de crisólito; a face brilhava como o relâmpago, os olhos como fachos ardentes, os braços e os pés tinham o aspecto do bronze polido e a sua voz ressoava como o rumor de uma multidão.
7Só eu, Daniel, é que pude contemplar esta aparição; aqueles que estavam comigo não a viram, mas apoderou-se deles um tão grande pavor que correram a esconder-se. 8Então, fiquei sozinho, continuando a presenciar esta portentosa aparição. Faltaram-me as forças; tornou-se lívida a cor do meu rosto e desfaleci.
Aparição do Anjo – 9Ouvi falar este homem e, ao som das suas palavras, caí desmaiado, com a face por terra. 10Mas eis que uma mão me tocou e me sacudiu, colocando-me sobre os joelhos e as palmas das mãos. 11Disse-me ele: «Daniel, homem de predilecção, atende às palavras que te vou dirigir. Levanta-te, pois tenho uma mensagem a comunicar-te.»
Quando me falou assim, pus-me de pé, todo a tremer. 12Disse-me: «Não tenhas medo, Daniel, porque, desde o primeiro dia em que te aplicaste a compreender e te humilhaste diante do teu Deus, a tua oração foi atendida e é por causa de ti que eu aqui venho. 13O príncipe do reino da Pérsia resistiu-me durante vinte e um dias; mas Miguel, um dos primeiros príncipes, veio em meu socorro. Deixei-o a bater-se com os reis da Pérsia, 14e aqui estou para te fazer compreender o que deve acontecer ao teu povo nos últimos dias. Esta visão diz respeito ainda aos tempos longínquos.»
15Enquanto ele me dirigia estas palavras, eu tinha o meu olhar fixo na terra e continuava mudo. 16De repente, alguém com forma de homem tocou-me nos lábios. Abri a boca para falar e disse àquele que se encontrava junto de mim:
«Meu senhor, esta visão abalou-me e não tenho forças nenhumas. 17Como é que o servo do meu senhor poderá conversar com o seu mestre, se estou no fim das forças e sem fôlego?» 18Então, o ser com forma de homem tocou-me novamente e deu-me vigor. 19Disse-me: «Não receies, homem de predilecção! Que a paz seja contigo! Coragem! Coragem!»
Enquanto me falava, senti-me reanimado. «Que fale o meu senhor – disse eu – já que tu me deste forças.»
20Replicou-me: «Sabes porque te vim procurar? Eu devo regressar à luta contra o príncipe da Pérsia. Quando acabar esta luta, surgirá o príncipe da Grécia. 21Mas vou dar-te a conhecer o que está escrito no livro da verdade. Ninguém me ajuda nestes trabalhos, a não ser Miguel, o vosso príncipe.»