Capítulo 1

1No princípio existia o Verbo;
o Verbo estava em Deus;
e o Verbo era Deus.
2No princípio Ele estava em Deus.
3Por Ele é que tudo começou a existir;
e sem Ele nada veio à existência.
4Nele é que estava a Vida
de tudo o que veio a existir.
E a Vida era a Luz dos homens.
5A Luz brilhou nas trevas,
mas as trevas não a receberam.

6Apareceu um homem, enviado por Deus, que se chamava João. 7Este vinha como testemunha, para dar testemunho da Luz e todos crerem por meio dele. 8Ele não era a Luz, mas vinha para dar testemunho da Luz.

9O Verbo era a Luz verdadeira,
que, ao vir ao mundo,
a todo o homem ilumina.
10Ele estava no mundo
e por Ele o mundo veio à existência,
mas o mundo não o reconheceu.
11Veio para o que era seu,
e os seus não o receberam.
12Mas, a quantos o receberam,
aos que nele crêem,
deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
13Estes não nasceram de laços de sangue,
nem de um impulso da carne,
nem da vontade de um homem,
mas sim de Deus.
14E o Verbo fez-se homem
e veio habitar connosco.
E nós contemplámos a sua glória,
a glória que possui como Filho Unigénito do Pai,
cheio de graça e de verdade.

15João deu testemunho dele ao clamar: «Este era aquele de quem eu disse: ‘O que vem depois de mim passou-me à frente, porque existia antes de mim.’»

16Sim, todos nós participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças. 17É que a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo.

18A Deus jamais alguém o viu. O Filho Unigénito, que é Deus e está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer.


Testemunho de João Baptista (Mt 3,1-12; Mc 1,2-8; Lc 3,1-20) - 19Este foi o testemunho de João, quando as autoridades judaicas lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para lhe perguntarem: «Tu quem és?» 20Então ele confessou a verdade e não a negou, afirmando: «Eu não sou o Messias.» 21E perguntaram-lhe: «Quem és, então? És tu Elias?» Ele disse: «Não sou.» «És tu o profeta?» Respondeu: «Não.» 22Disseram-lhe, por fim: «Quem és tu, para podermos dar uma resposta aos que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo?» 23Ele declarou:

‘«Eu sou a voz
de quem grita no deserto:
Rectificai o caminho do Senhor’,
como disse o profeta Isaías.»

24Ora, havia enviados dos fariseus que lhe perguntaram: 25«Então porque baptizas, se tu não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?» 26João respondeu-lhes: «Eu baptizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis. 27É aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias.» 28Isto passou-se em Betânia, na margem além do Jordão, onde João estava a baptizar.

29No dia seguinte, ao ver Jesus, que se dirigia para ele, exclamou: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! 30É aquele de quem eu disse: ‘Depois de mim vem um homem que me passou à frente, porque existia antes de mim.’


Baptismo de Jesus (Mt 3,13-17; Mc 1,9-11; Lc 3,21-22) - 31Eu não o conhecia bem; mas foi para Ele se manifestar a Israel que eu vim baptizar com água.» 32E João testemunhou: «Vi o Espírito que descia do céu como uma pomba e permanecia sobre Ele. 33E eu não o conhecia, mas quem me enviou a baptizar com água é que me disse: ‘Aquele sobre quem vires descer o Espírito e poisar sobre Ele, é o que baptiza com o Espírito Santo’. 34Pois bem: eu vi e dou testemunho de que este é o Filho de Deus.»


Primeiros discípulos (Mt 4,18-22; Mc 1,16-20; 3,13-19; Lc 5,1-11; 6,12-16; Act 1,13) - 35No dia seguinte, João encontrava-se de novo ali com dois dos seus discípulos. 36Então, pondo o olhar em Jesus, que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus!» 37Ouvindo-o falar desta maneira, os dois discípulos seguiram Jesus. 38Jesus voltou-se e, notando que eles o seguiam, perguntou-lhes: «Que pretendeis?» Eles disseram-lhe: «Rabi - que quer dizer Mestre - onde moras?» 39Ele respondeu-lhes: «Vinde e vereis.» Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia. Eram asquatro da tarde.

40André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. 41Encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: «Encontrámos o Messias!» - que quer dizer Cristo. 42E levou-o até Jesus. Fixando nele o olhar, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, o filho de João. Hás-de chamar-te Cefas» - que significa Pedra.

43No dia seguinte, Jesus resolveu sair para a Galileia. Encontrou Filipe, e disse-lhe: «Segue-me!» 44Filipe era de Betsaida, a cidade de André e de Pedro. 45Filipe encontrou Natanael e disse-lhe: «Encontrámos aquele sobre quem escreveram Moisés, na Lei, e os Profetas: Jesus, filho de José de Nazaré.» 46Então disse-lhe Natanael: «De Nazaré pode vir alguma coisa boa?» Filipe respondeu-lhe: «Vem e verás!» 47Jesus viu Natanael, que vinha ao seu encontro, e disse dele: «Aí vem um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento.»

48Disse-lhe Natanael: «Donde me conheces?» Respondeu-lhe Jesus: «Antes de Filipe te chamar, Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira!» 49Respondeu Natanael: «Rabi, Tu és o Filho de Deus! Tu és o Rei de Israel!» 50Retorquiu-lhe Jesus: «Tu crês por Eu te ter dito: ‘Vi-te debaixo da figueira’? Hás-de ver coisas maiores do que estas!» 51E acrescentou: «Em verdade, em verdade vos digo: vereis o Céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo por meio do Filho do Homem.»

Capítulo 2

Primeiro sinal: as bodas de Caná - 1Ao terceiro dia, celebrava-se uma boda em Caná da Galileia e a mãe de Jesus estava lá. 2Jesus e os seus discípulos também foram convidados para a boda. 3Como viesse a faltar o vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: «Não têm vinho!»

4Jesus respondeu-lhe: «Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora.» 5Sua mãe disse aos serventes: «Fazei o que Ele vos disser!»

6Ora, havia ali seis vasilhas de pedra preparadas para os ritos de purificação dos judeus, com capacidade de duas ou três medidas cada uma. 7Disse-lhes Jesus: «Enchei as vasilhas de água.» 8Eles encheram-nas até cima. Então ordenou-lhes: «Tirai agora e levai ao chefe de mesa.»

9E eles assim fizeram. O chefe de mesa provou a água transformada em vinho, sem saber de onde era - se bem que o soubessem os serventes que tinham tirado a água; chamou o noivo 10e disse-lhe: «Toda a gente serve primeiro o vinho melhor e, depois de terem bebido bem, é que serve o pior. Tu, porém, guardaste o melhor vinho até agora!»

11Assim, em Caná da Galileia, Jesus realizou o primeiro dos seus sinais miraculosos, com o qual manifestou a sua glória, e os discípulos creram nele. 12Depois disto, desceu a Cafarnaúm com sua mãe, os irmãos e os seus discípulos, e ficaram ali apenas alguns dias.


Purificação do templo (Mt 21,12-17; Mc 11,15-19; Lc 19,45-48) - 13Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. 14Encontrou no templo os vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas nos seus postos. 15Então, fazendo um chicote de cordas, expulsou-os a todos do templo com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas pelo chão e derrubou-lhes as mesas; 16e aos que vendiam pombas, disse-lhes: «Tirai isso daqui. Não façais da Casa de meu Pai uma feira.»

17Os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me devora. 18Então os judeus intervieram e perguntaram-lhe: «Que sinal nos dás de poderes fazer isto?» 19Declarou-lhes Jesus, em resposta: «Destruí este templo, e em três dias Eu o levantarei!» 20Replicaram então os judeus: «Quarenta e seis anos levou este templo a construir, e Tu vais levantá-lo em três dias?» 21Ele, porém, falava do templo que é o seu corpo. 22Por isso, quando Jesus ressuscitou dos mortos, os seus discípulos recordaram-se de que Ele o tinha dito e creram na Escritura e nas palavras que tinha proferido.

23Enquanto Ele estava em Jerusalém, durante as festas da Páscoa, muitos creram nele ao verem os sinais miraculosos que realizava. 24Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos 25e não precisava de que ninguém o elucidasse acerca das pessoas, pois sabia o que havia dentro delas.

Capítulo 3

Diálogo com Nicodemos - 1Entre os fariseus havia um homem chamado Nicodemos, um chefe dos judeus. 2Veio ter com Jesus de noite e disse-lhe: «Rabi, nós sabemos que Tu vieste da parte de Deus, como Mestre, porque ninguém pode realizar os sinais portentosos que Tu fazes, se Deus não estiver com ele.» 3Em resposta, Jesus declarou-lhe: «Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer do Alto não pode ver o Reino de Deus.» 4Perguntou-lhe Nicodemos: «Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura poderá entrar no ventre de sua mãe outra vez, e nascer?»

5Jesus respondeu-lhe: «Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. 6Aquilo que nasce da carne é carne, e aquilo que nasce do Espírito é espírito. 7Não te admires por Eu te ter dito: ‘Vós tendes de nascer do Alto.’ 8O vento sopra onde quer e tu ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito.»

9Nicodemos interveio e disse-lhe: «Como pode ser isso?» 10Jesus respondeu-lhe: «Tu és mestre em Israel e não sabes estas coisas? 11Em verdade, em verdade te digo: nós falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas vós não aceitais o nosso testemunho. 12Se vos falei das coisas da terra e não credes, como é que haveis de crer quando vos falar das coisas do Céu? 13Pois ninguém subiu ao Céu a não ser aquele que desceu do Céu, o Filho do Homem. 14Assim como Moisés ergueu a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja erguido ao alto, 15a fim de que todo o que nele crê tenha a vida eterna.

16Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna. 17De facto, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. 18Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no Filho Unigénito de Deus. 19E a condenação está nisto: a Luz veio ao mundo, e os homens preferiram as trevas à Luz, porque as suas obras eram más. 20De facto, quem pratica o mal odeia a Luz e não se aproxima da Luz para que as suas acções não sejam desmascaradas. 21Mas quem pratica a verdade aproxima-se da Luz, de modo a tornar-se claro que os seus actos são feitos segundo Deus.»


Novo testemunho de João Baptista - 22Depois disto, Jesus foi com os seus discípulos para a região da Judeia e ali convivia com eles e baptizava. 23Também João estava a baptizar em Enon, perto de Salim, porque havia ali águas abundantes e vinha gente para ser baptizada. 24João, de facto, ainda não tinha sido lançado na prisão.

25Então levantou-se uma discussão entre os discípulos de João e um judeu, acerca dos ritos de purificação. 26Foram ter com João e disseram-lhe: «Rabi, aquele que estava contigo na margem de além-Jordão, aquele de quem deste testemunho, está a baptizar, e toda a gente vai ter com Ele.»

27João declarou: «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. 28Vós mesmos sois testemunhas de que eu disse: ‘Eu não sou o Messias, mas apenas o enviado à sua frente.’ 29O esposo é aquele a quem pertence a esposa; mas o amigo do esposo, que está ao seu lado e o escuta, sente muita alegria com a voz do esposo. Pois esta é a minha alegria! E tornou-se completa! 30Ele é que deve crescer, e eu diminuir.»

31Aquele que vem do Alto está acima de tudo. Quem é da terra à terra pertence e fala da terra. Aquele que vem do Céu está acima de tudo 32e dá testemunho daquilo que viu e ouviu, mas ninguém aceita o seu testemunho. 33Quem aceita o seu testemunho reconhece que Deus é verdadeiro; 34pois aquele que Deus enviou transmite as palavras de Deus, porque dá o Espírito sem medida. 35O Pai ama o Filho e tudo põe na sua mão. 36Quem crê no Filho tem a vida eterna; quem se nega a crer no Filho não verá a vida, mas sobre ele pesa a ira de Deus.

Capítulo 4

Diálogo com a Samaritana - 1Quando Jesus soube que chegara aos ouvidos dos fariseus que Ele conseguia mais discípulos e baptizava mais do que João - 2embora não fosse o próprio Jesus a baptizar, mas sim os seus discípulos - 3deixou a Judeia e voltou para a Galileia.

4Tinha de atravessar a Samaria. 5Chegou, pois, a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto do terreno que Jacob tinha dado ao seu filho José. Ficava ali o poço de Jacob. 6Então Jesus, cansado da caminhada, sentou-se, sem mais, na borda do poço. Era por volta do meio-dia.

7Entretanto, chegou certa mulher samaritana para tirar água. Disse-lhe Jesus: «Dá-me de beber.» 8Os seus discípulos tinham ido à cidade comprar alimentos. 9Disse-lhe então a samaritana: «Como é que Tu, sendo judeu, me pedes de beber a mim que sou samaritana?» É que os judeus não se dão bem com os samaritanos. 10Respondeu-lhe Jesus: «Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e quem é que te diz: ‘dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias, e Ele havia de dar-te água viva!»

11Disse-lhe a mulher: «Senhor, não tens sequer um balde e o poço é fundo... 12Onde consegues, então, a água viva? Porventura és mais do que o nosso patriarca Jacob, que nos deu este poço donde beberam ele, os seus filhos e os seus rebanhos?»

13Replicou-lhe Jesus: «Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede; 14mas, quem beber da água que Eu lhe der, nunca mais terá sede: a água que Eu lhe der há-de tornar-se nele em fonte de água que dá a vida eterna.»

15Disse-lhe a mulher: «Senhor, dá-me dessa água, para eu não ter sede, nem ter de vir cá tirá-la.» 16Respondeu-lhe Jesus: «Vai, chama o teu marido e volta cá.» 17A mulher retorquiu-lhe: «Eu não tenho marido.»

Declarou-lhe Jesus: «Disseste bem: ‘não tenho marido’, 18pois tiveste cinco e o que tens agora não é teu marido. Nisto falaste verdade.»

19Disse-lhe a mulher: «Senhor, vejo que és um profeta! 20Os nossos antepassados adoraram a Deus neste monte, e vós dizeis que o lugar onde se deve adorar está em Jerusalém.»

21Jesus declarou-lhe: «Mulher, acredita em mim: chegou a hora em que, nem neste monte, nem em Jerusalém, haveis de adorar o Pai. 22Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. 23Mas chega a hora - e é já - em que os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai em espírito e verdade, pois são assim os adoradores que o Pai pretende. 24Deus é espírito; por isso, os que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade.» 25Disse-lhe a mulher: «Eu sei que o Messias, que é chamado Cristo, está para vir. Quando vier, há-de fazer-nos saber todas as coisas.» 26Jesus respondeu-lhe: «Sou Eu, que estou a falar contigo.»

27Nisto chegaram os seus discípulos e ficaram admirados de Ele estar a falar com uma mulher. Mas nenhum perguntou: ‘Que procuras?’, ou: ‘De que estás a falar com ela?’

28Então a mulher deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àquela gente: 29«Eia! Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz! Não será Ele o Messias?» 30Eles saíram da cidade e foram ter com Jesus.

31Entretanto, os discípulos insistiam com Ele, dizendo: «Rabi, come.» 32Mas Ele disse-lhes: «Eu tenho um alimento para comer, que vós não conheceis.» 33Então os discípulos começaram a dizer entre si: «Será que alguém lhe trouxe de comer?»

34Declarou-lhes Jesus: «O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra. 35Não dizeis vós: ‘Mais quatro meses e vem a ceifa’? Pois Eu digo-vos: Levantai os olhos e vede os campos que estão doirados para a ceifa. 36Já o ceifeiro recebe o seu salário e recolhe o fruto em ordem à vida eterna, de modo que se alegram ao mesmo tempo aquele que semeia e o que ceifa. 37Nisto, porém, é verdadeiro o ditado: ‘um é o que semeia e outro o que ceifa’. 38Porque Eu enviei-vos a ceifar o que não trabalhastes; outros se cansaram a trabalhar, e vós ficastes com o proveito da sua fadiga.»

39Muitos samaritanos daquela cidade acreditaram nele devido às palavras da mulher, que testemunhava: «Ele disse-me tudo o que eu fiz.» 40Por isso, quando os samaritanos foram ter com Jesus, começaram a pedir-lhe que ficasse com eles.

41E ficou lá dois dias. Então muitos mais acreditaram nele por causa da sua pregação, e diziam à mulher: 42«Já não é pelas tuas palavras que acreditamos; nós próprios ouvimos e sabemos que Ele é verdadeiramente o Salvador do mundo.»


Segundo sinal em Caná: a cura do filho do funcionário real (Mt 8,5-13; Lc 7,1-10) - 43Passados aqueles dois dias, Jesus partiu dali para a Galileia. 44Ele mesmo tinha declarado que um profeta não é estimado na sua própria terra. 45No entanto, quando chegou à Galileia, os galileus receberam-no bem, por terem visto o que fizera em Jerusalém durante a festa; pois eles também tinham ido à festa.

46Veio, pois, novamente a Caná da Galileia, onde tinha convertido a água em vinho. Ora havia em Cafarnaúm um funcionário real que tinha o filho doente. 47Quando ouviu dizer que Jesus vinha da Judeia para a Galileia, foi ter com Ele e pediu-lhe que descesse até lá para lhe curar o filho, que estava a morrer.

48Então Jesus disse-lhe: «Se não virdes sinais extraordinários e prodígios, não acreditais.» 49Respondeu-lhe o funcionário real: «Senhor, desce até lá, antes que o meu filho morra.»

50Disse-lhe Jesus: «Vai, que o teu filho está salvo.» O homem acreditou nas palavras que Jesus lhe disse e pôs-se a caminho. 51Enquanto ia descendo, os criados vieram ao seu encontro, dizendo: «O teu filho está salvo.» 52Perguntou-lhes, então, a que horas ele se tinha sentido melhor. Responderam: «A febre deixou-o há pouco, depois do meio-dia.» 53O pai viu, então, que tinha sido exactamente àquela hora que Jesus lhe dissera: «O teu filho está salvo». E acreditou ele e todos os da sua casa.

54Jesus realizou este segundo sinal miraculoso ao ir da Judeia para a Galileia.

Capítulo 5

Cura do paralítico da piscina de Betzatá (Mt 9,1-8; Mc 2,1-12; Lc 5,17-26) - 1Depois disto, havia uma festa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. 2Em Jerusalém, junto à Porta das Ovelhas, há uma piscina, em hebraico chamada Betzatá. Tem cinco pórticos, 3e neles jaziam numerosos doentes, cegos, coxos e paralíticos.4

5Estava ali um homem que padecia da sua doença há trinta e oito anos. 6Jesus, ao vê-lo prostrado e sabendo que já levava muito tempo assim, disse-lhe: «Queres ficar são?» 7Respondeu-lhe o doente: «Senhor, não tenho ninguém que me meta na piscina quando se agita a água, pois, enquanto eu vou, algum outro desce antes de mim». 8Disse-lhe Jesus: «Levanta-te, toma a tua enxerga e anda.» 9E, no mesmo instante, aquele homem ficou são, agarrou na enxerga e começou a andar.

Ora, aquele dia era de sábado. 10Por isso os judeus diziam ao que tinha sido curado: «É sábado e não te é permitido transportar a enxerga.» 11Ele respondeu-lhes: «Quem me curou é que me disse: ‘Toma a tua enxerga e anda’.» 12Perguntaram-lhe, então: «Quem é esse homem que te disse: ‘Toma a tua enxerga e anda’?» 13Mas o que tinha sido curado não sabia quem era, porque Jesus se tinha afastado da multidão ali reunida.

14Mais tarde, Jesus encontrou-o no templo e disse-lhe: «Vê lá: ficaste curado. Não peques mais, para que não te suceda coisa ainda pior.» 15O homem foi-se embora e comunicou aos judeus que fora Jesus quem o tinha curado. 16E foi por isto, por Jesus realizar tais coisas em dia de sábado, que os judeus começaram a persegui-lo.

17Naquela altura Jesus replicou-lhes: «O meu Pai continua a realizar obras até agora, e Eu também continuo!» 18Perante isto, mais vontade tinham os judeus de o matar, pois não só anulava o Sábado, mas até chamava a Deus seu próprio Pai, fazendo-se assim igual a Deus.


Discurso apologético: o poder do Filho - 19Jesus tomou, pois, a palavra e começou a dizer-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: o Filho, por si mesmo, não pode fazer nada, senão o que vir fazer ao Pai, pois aquilo que este faz também o faz igualmente o Filho. 20De facto, o Pai ama o Filho e mostra-lhe tudo o que Ele mesmo faz; e há-de mostrar-lhe obras maiores do que estas, de modo que ficareis assombrados. 21Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos e os faz viver, também o Filho faz viver aqueles que quer.

22O Pai, aliás, não julga ninguém, mas entregou ao Filho todo o julgamento, 23para que todos honrem - o Filho como honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou.

24Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não é sujeito a julgamento, mas passou da morte para a vida. 25Em verdade, em verdade vos digo: chega a hora - e é já - em que os mortos hão-de ouvir a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão, 26pois, assim como o Pai tem a vida em si mesmo, também deu ao Filho o poder de ter a vida em si mesmo; 27e deu-lhe o poder de fazer o julgamento, porque Ele é Filho do Homem. 28Não vos assombreis com isto: é chegada a hora em que todos os que estão nos túmulos hão-de ouvir a sua voz, 29e sairão: os que tiverem praticado o bem, para uma ressurreição de vida; e os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de condenação. 30Por mim mesmo, Eu não posso fazer nada: conforme ouço, assim é que julgo; e o meu julgamento é justo, porque não busco a minha vontade, mas a daquele que me enviou.»


Testemunhos a favor do Filho: as credenciais de Jesus - 31«Se Eu testemunhasse a favor de mim próprio, o meu testemunho não teria valor; 32há outro que testemunha em favor de mim, e Eu sei que o seu testemunho, favorável a mim, é verdadeiro. 33Vós enviastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade. 34Não é, porém, de um homem que Eu recebo testemunho, mas digo-vos isto para vos salvardes. 35João era uma lâmpada ardente e luminosa, e vós, por um instante, quisestes alegrar-vos com a sua luz.

36Mas tenho a meu favor um testemunho maior que o de João, pois as obras que o Pai me confiou para levar a cabo, essas mesmas obras que Eu faço, dão testemunho de que o Pai me enviou. 37E o Pai que me enviou mantém o seu testemunho a meu favor. Nunca ouvistes a sua voz, nem vistes o seu rosto, 38nem a sua palavra permanece em vós, visto não crerdes neste que Ele enviou.

39Investigai as Escrituras, dado que julgais ter nelas a vida eterna: são elas que dão testemunho a meu favor. 40Vós, porém, não quereis vir a mim, para terdes a vida! 41Eu não ando à procura de receber glória dos homens; 42a vós já vos conheço, e sei que não há em vós o amor de Deus. 43Eu vim em nome de meu Pai, e vós não me recebeis; se outro viesse em seu próprio nome, a esse já o receberíeis. 44Como vos é possível acreditar, se andais à procura da glória uns dos outros, e não procurais a glória que vem do Deus único?

45Não penseis que Eu vos vou acusar diante do Pai; há quem vos acuse: é Moisés, em quem continuais a pôr a vossa esperança. 46De facto, se acreditásseis em Moisés, talvez acreditásseis em mim, porque ele escreveu a meu respeito. 47Mas, se vós não acreditais nos seus escritos, como haveis de acreditar nas minhas palavras?»

Capítulo 6

Multiplicação dos pães e dos peixes (Mt 14,13-21; 15,32-38; Mc 6,34-44; 8,1-9; Lc 9,10-17) - 1Depois disto, Jesus foi para a outra margem do lago da Galileia, ou de Tiberíades. 2Seguia-o uma grande multidão, porque presenciavam os sinais miraculosos que realizava em favor dos doentes. 3Jesus subiu ao monte e sentou-se ali com os seus discípulos.

4Estava a aproximar-se a Páscoa, a festa dos judeus. 5Erguendo o olhar e reparando que uma grande multidão viera ter com Ele, Jesus disse então a Filipe: «Onde havemos de comprar pão para esta gente comer?» 6Dizia isto para o pôr à prova, pois Ele bem sabia o que ia fazer.

Filipe respondeu-lhe: 7«Duzentos denários de pão não chegam para cada um comer um bocadinho.» 8Disse-lhe um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro: 9«Há aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas que é isso para tanta gente?» 10Jesus disse: «Fazei sentar as pessoas.»

Ora, havia muita erva no local. Os homens sentaram-se, pois, em número de uns cinco mil. 11Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os pelos que estavam sentados, tal como os peixes, e eles comeram quanto quiseram. 12Quando se saciaram, disse aos seus discípulos: «Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca». 13Recolheram-nos, então, e encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada que sobejaram aos que tinham estado a comer.

14Aquela gente, ao ver o sinal milagroso que Jesus tinha feito, dizia: «Este é realmente o Profeta que devia vir ao mundo!» 15Por isso, Jesus, sabendo que viriam arrebatá-lo para o fazerem rei, retirou-se de novo, sozinho, para o monte.


Jesus caminha sobre as águas (Mt 14,22-33; Mc 6,45-52) - 16Ao cair da tarde, os seus discípulos desceram até ao lago 17e, subindo para um barco, foram atravessando o lago em direcção a Cafarnaúm. 18Já tinha escurecido e Jesus ainda não fora ter com eles. Soprando uma forte ventania, o lago começou a agitar-se.

19Depois de terem remado mais ou menos uma légua, avistaram Jesus que se aproximava do barco, caminhando sobre o lago, e tiveram medo. 20Mas Ele disse-lhes: «Sou Eu, não tenhais medo!» 21Quiseram recebê-lo logo no barco, e o barco chegou imediatamente à terra para onde iam.


Discurso do Pão do Céu - 22No dia seguinte, a multidão que ficara do outro lado do lago reparou que ali não estivera mais do que um barco, e que Jesus não tinha entrado no barco com os seus discípulos, mas que estes tinham partido sozinhos. 23Entretanto, chegaram outros barcos de Tiberíades até ao lugar onde tinham comido o pão, depois de o Senhor ter dado graças. 24Quando viu que nem Jesus nem os seus discípulos estavam ali, a multidão subiu para os barcos e foi para Cafarnaúm à procura de Jesus. 25Ao encontrá-lo no outro lado do lago, perguntaram-lhe: «Rabi, quando chegaste cá?» 26Jesus respondeu-lhes:

«Em verdade, em verdade vos digo: vós procurais-me, não por terdes visto sinais miraculosos, mas porque comestes dos pães e vos saciastes. 27Trabalhai, não pelo alimento que desaparece, mas pelo alimento que perdura e dá a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará; pois a este é que Deus, o Pai, confirma com o seu selo.» 28Disseram-lhe, então: «Que havemos nós de fazer para realizar as obras de Deus?» 29Jesus respondeu-lhes: «A obra de Deus é esta: crer naquele que Ele enviou.» 30Eles replicaram: «Que sinal realizas Tu, então, para nós vermos e crermos em ti? Que obra realizas Tu? 31Os nossos pais comeram o maná no deserto, conforme está escrito: Ele deu-lhes a comer o pão vindo do Céu

32E Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Não foi Moisés que vos deu o pão do Céu, mas é o meu Pai quem vos dá o verdadeiro pão do Céu, 33pois o pão de Deus é aquele que desce do Céu e dá a vida ao mundo.» 34Disseram-lhe então: «Senhor, dá-nos sempre desse pão!» 35Respondeu-lhes Jesus:

«Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não mais terá fome e quem crê em mim jamais terá sede. 36Mas já vo-lo disse: vós vistes-me e não credes. 37Todos os que o Pai me dá virão a mim; e quem vier a mim Eu não o rejeitarei, 38porque desci do Céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. 39E a vontade daquele que me enviou é esta: que Eu não perca nenhum daqueles que Ele me deu, mas o ressuscite no último dia. 40Esta é, pois, a vontade do meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia.»

41Os judeus puseram-se, então, a murmurar contra Ele por ter dito: ‘Eu sou o pão que desceu do Céu’; 42e diziam: «Não é Ele Jesus, o filho de José, de quem nós conhecemos o pai e a mãe? Como se atreve a dizer agora: ‘Eu desci do Céu’?»

43Jesus disse-lhes, em resposta: «Não murmureis entre vós. 44Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não atrair; e Eu hei-de ressuscitá-lo no último dia. 45Está escrito nos profetas: E todos serão ensinados por Deus. Todo aquele que escutou o ensinamento que vem do Pai e o entendeu vem a mim. 46Não é que alguém tenha visto o Pai, a não ser aquele que tem a sua origem em Deus: esse é que viu o Pai. 47Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê tem a vida eterna. 58Eu sou o pão da vida. 49Os vossos pais comeram o maná no deserto, mas morreram. 50Este é o pão que desce do Céu; se alguém comer dele, não morrerá. 51Eu sou o pão vivo, o que desceu do Céu: se alguém comer deste pão, viverá eternamente; e o pão que Eu hei-de dar é a minha carne, pela vida do mundo.»

52Então, os judeus, exaltados, puseram-se a discutir entre si, dizendo: «Como pode Ele dar-nos a sua carne a comer?!» 53Disse-lhes Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes mesmo a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. 54Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e Eu hei-de ressuscitá-lo no último dia, 55porque a minha carne é uma verdadeira comida e o meu sangue, uma verdadeira bebida. 56Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e Eu nele. 57Assim como o Pai que me enviou vive e Eu vivo pelo Pai, também quem de verdade me come viverá por mim. 58Este é o pão que desceu do Céu; não é como aquele que os antepassados comeram, pois eles morreram; quem come mesmo deste pão viverá eternamente.»

59Isto foi o que Ele disse em Cafarnaúm, ao ensinar na sinagoga.


Reacção dos discípulos - 60Depois de o ouvirem, muitos dos seus discípulos disseram: «Que palavras insuportáveis! Quem pode entender isto?» 61Mas Jesus, sabendo no seu íntimo que os seus discípulos murmuravam a respeito disto, disse-lhes: «Isto escandaliza-vos?

62E se virdes o Filho do Homem subir para onde estava antes? 63É o Espírito quem dá a vida; a carne não serve de nada: as palavras que vos disse são espírito e são vida. 64Mas há alguns de vós que não crêem.» De facto, Jesus sabia, desde o princípio, quem eram os que não criam e também quem era aquele que o havia de entregar. 65E dizia: «Por isso é que Eu vos declarei que ninguém pode vir a mim, se isso não lhe for concedido pelo Pai.»

66A partir daí, muitos dos seus discípulos voltaram para trás e já não andavam com Ele. 67Então, Jesus disse aos Doze: «Também vós quereis ir embora?» 68Respondeu-lhe Simão Pedro: «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna! 69Por isso nós cremos e sabemos que Tu é que és o Santo de Deus.»

70Disse-lhes Jesus: «Não vos escolhi Eu a vós, os Doze? Contudo, um de vós é um diabo.» 71Referia-se a Judas, filho de Simão Iscariotes, pois esse é que viria a entregá-lo, sendo embora um dos Doze.

Capítulo 7

Falta de fé dos parentes de Jesus - 1Depois disto, Jesus continuava pela Galileia, pois não queria andar pela Judeia, visto que os judeus procuravam matá-lo. 2Estava próxima a festa judaica das Tendas. 3Disseram-lhe então os seus irmãos: «Vai para a Judeia, a fim de os teus discípulos verem as obras que fazes. 4Pois ninguém faz nada às escondidas, se pretende tornar-se conhecido. Se fazes coisas destas, mostra-te ao mundo.» 5Com efeito, nem sequer os seus irmãos criam nele.

6E Jesus disse-lhes: «Para mim ainda não chegou o momento oportuno; mas, para vós, qualquer oportunidade é boa. 7O mundo não pode odiar-vos; a mim, porém, odeia-me, porque sou testemunha de que as suas obras são más. 8Ide vós à festa. Eu é que não vou a essa festa, porque o tempo que me está marcado ainda não se completou.» 9Depois de dizer isto, continuou na Galileia.

10Contudo, depois de os seus irmãos partirem para a festa, Ele partiu também, não publicamente, mas quase em segredo. 11Por isso, durante a festa, os judeus procuravam-no e perguntavam: «Onde é que Ele está?»

12E havia entre o povo grande murmuração a seu respeito. Uns diziam: «É um homem de bem». Outros, porém, afirmavam: «Não; o que Ele anda é a desencaminhar o povo!» 13No entanto, ninguém falava dele abertamente, por medo dos judeus.


Jesus ensina no templo - 14Já a festa ia a meio, quando Jesus subiu ao templo e se pôs a ensinar. 15Os judeus assombravam-se e diziam: «Como é que este é letrado, se não estudou?» 16Então, Jesus respondeu-lhes, dizendo: «A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. 17Se alguém está disposto a fazer a vontade dele, é capaz de ajuizar se a doutrina procede de Deus, ou se Eu falo por minha conta. 18Quem fala por sua conta procura a sua glória pessoal; mas, quem procura a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro e nele não há impostura. 19Porventura Moisés não vos deu a Lei? No entanto, nenhum de vós cumpre a Lei. Porque me quereis matar?»

20Respondeu aquela gente: «Tu tens o demónio. Quem é que te quer matar?» 21Jesus replicou-lhes: «Eu realizei uma única obra e todos estão assombrados. 22Porque Moisés vos deu a lei da circuncisão - não é que ela venha de Moisés, mas dos Patriarcas - circuncidais um homem mesmo ao sábado. 23Se um homem recebe a circuncisão ao sábado, para não ser violada a Lei de Moisés, podereis indignar-vos comigo por ter curado completamente um homem ao sábado? 24Não julgueis pelas aparências; julgai com um juízo recto.»


Discussões acerca de Jesus; as suas revelações - 25Então, alguns de Jerusalém comentavam: «Não é este a quem procuravam, para o matar? 26Vede como Ele fala livremente e ninguém lhe diz nada! Será que realmente as autoridades se convenceram de que Ele é o Messias? 27Mas nós sabemos donde Ele é, ao passo que, quando chegar o Messias, ninguém saberá donde vem.»

28Entretanto, Jesus, ensinando no templo, bradava: «Então sabeis quem Eu sou e sabeis donde venho?! Pois Eu não venho de mim mesmo; há um outro, verdadeiro, que me enviou, e que vós não conheceis. 29Eu é que o conheço, porque procedo dele e foi Ele que me enviou.»

30Procuravam, então, prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão, pois a sua hora ainda não tinha chegado. 31Porém, dentre o povo, muitos creram nele e comentavam: «Quando vier o Messias, será que há-de realizar mais sinais miraculosos do que este?» 32Tal comentário do povo a respeito dele chegou aos ouvidos dos fariseus. Então, os sumos sacerdotes e os fariseus mandaram guardas para prenderem Jesus.

33Entretanto, Jesus começou a dizer: «Já pouco tempo vou ficar convosco, pois irei para aquele que me enviou. 34Haveis de procurar-me, mas não me encontrareis, e não podereis ir para o lugar onde Eu estiver.»

35Os judeus, por isso, disseram entre si: «Para onde tenciona Ele ir, que não o possamos encontrar? Tenciona ir até aos que estão dispersos entre os gregos para pregar aos gregos? 36Que significam estas palavras que Ele disse: ‘Haveis de procurar-me, mas não me encontrareis, e não podereis ir para o lugar onde Eu estiver’?»

37No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé, bradou: «Se alguém tem sede, venha a mim; e quem crê em mim que sacie a sua sede! 38Como diz a Escritura, hão-de correr do seu coração rios de água viva.»

39Ora Ele disse isto, referindo-se ao Espírito que iam receber os que nele acreditassem; com efeito, ainda não tinham o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado.

40Então, entre a multidão de pessoas que escutaram estas palavras, dizia-se: «Ele é realmente o Profeta.» 41Diziam outros: «É o Messias.» Outros, porém, replicavam: «Mas pode lá ser que o Messias venha da Galileia?! 42Não diz a Escritura que o Messias vem da descendência de David e da cidade de Belém, donde era David?» 43Deste modo, estabeleceu-se um desacordo entre a multidão, por sua causa.

44Alguns deles queriam prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão. 45Depois os guardas voltaram aos sumos sacerdotes e aos fariseus, que lhes perguntaram: «Porque é que não o trouxestes?» 46Os guardas responderam: «Nunca nenhum homem falou assim!» 47Replicaram-lhes os fariseus: «Será que também vós ficastes seduzidos? 48Porventura acreditou nele algum dos chefes, ou dos fariseus? 49Mas essa multidão, que não conhece a Lei, é gente maldita!»

50Nicodemos, aquele que antes fora ter com Jesus e que era um deles, disse-lhes: 51«Porventura permite a nossa Lei julgar um homem, sem antes o ouvir e sem averiguar o que ele anda a fazer?» 52Responderam-lhe eles: «Também tu és galileu? Investiga e verás que da Galileia não sairá nenhum profeta.»

53E cada um foi para sua casa.

Capítulo 8

A mulher adúltera - 1Jesus foi para o Monte das Oliveiras. 2De madrugada, voltou outra vez para o templo e todo o povo vinha ter com Ele. Jesus sentou-se e pôs-se a ensinar. 3Então, os doutores da Lei e os fariseus trouxeram-lhe certa mulher apanhada em adultério, colocaram-na no meio 4e disseram-lhe: «Mestre, esta mulher foi apanhada a pecar em flagrante adultério. 5Moisés, na Lei, mandou-nos matar à pedrada tais mulheres. E Tu que dizes?»

6Faziam-lhe esta pergunta para o fazerem cair numa armadilha e terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se para o chão, pôs-se a escrever com o dedo na terra.

7Como insistissem em interrogá-lo, ergueu-se e disse-lhes: «Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra!» 8E, inclinando-se novamente para o chão, continuou a escrever na terra. 9Ao ouvirem isto, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher que estava no meio deles.

10Então, Jesus ergueu-se e perguntou-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?» 11Ela respondeu: «Ninguém, Senhor.» Disse-lhe Jesus: «Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar.»


Jesus Cristo, luz do mundo - 12Jesus falou-lhes novamente: «Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida.» 13Disseram-lhe, então, os fariseus: «Tu dás testemunho a favor de ti mesmo: o teu testemunho não é válido.» 14Jesus respondeu-lhes: «Ainda que Eu dê testemunho a favor de mim próprio, o meu testemunho é válido, porque sei donde vim e para onde vou. Vós é que não sabeis donde venho nem para onde vou. 15Vós julgais segundo critérios humanos; Eu não julgo ninguém. 16Mas, mesmo que Eu julgue, o meu julgamento é verdadeiro, porque não estou só, mas Eu e o Pai que me enviou. 17Na vossa Lei está escrito que o testemunho de duas pessoas é válido; 18sou Eu a dar testemunho a favor de mim, e também dá testemunho a meu favor o Pai que me enviou.» 19Perguntaram-lhe, então: «Onde está o teu Pai?» Jesus respondeu: «Não me conheceis a mim, nem ao meu Pai. Se me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai.»

20Jesus pronunciou estas palavras junto das caixas das ofertas, quando estava a ensinar no templo. E ninguém o prendeu, porque ainda não tinha chegado a sua hora.


Revelações de Jesus; incredulidade dos ouvintes - 21Uma outra vez, Jesus disse-lhes: «Eu vou-me embora: vós haveis de procurar-me, mas morrereis no vosso pecado. Vós não podereis ir para onde Eu vou.» 22Então, os judeus comentavam: «Será que Ele se vai suicidar, dado que está a dizer: ‘Vós não podeis ir para onde Eu vou’?»

23Mas Ele acrescentou: «Vós sois cá de baixo; Eu sou lá de cima! Vós sois deste mundo; Eu não sou deste mundo. 24Já vos disse que morrereis nos vossos pecados. De facto, se não crerdes que Eu sou o que sou, morrereis nos vossos pecados.» 25Perguntaram-lhe, então: «Quem és Tu, afinal?» Disse-lhes Jesus: «Absolutamente aquilo que já vos estou a dizer! 26Tenho muitas coisas que dizer e que julgar a vosso respeito; mas do que falo ao mundo é do que ouvi àquele que me enviou, e que é verdadeiro.»

27Eles não perceberam que lhes falava do Pai. 28Disse-lhes, pois, Jesus: «Quando tiverdes erguido ao alto o Filho do Homem, então ficareis a saber que Eu sou o que sou e que nada faço por mim mesmo, mas falo destas coisas tal como o Pai me ensinou. 29E aquele que me enviou está comigo. Ele não me deixou só, porque faço sempre aquilo que lhe agrada.»

30Quando expunha estas coisas, muitos creram nele. 31Então, Jesus pôs-se a dizer aos judeus que nele tinham acreditado: «Se permanecerdes fiéis à minha mensagem, sereis verdadeiramente meus discípulos, 32conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» 33Replicaram-lhe: «Nós somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém! Como é que Tu dizes: ‘Sereis livres’?»

34Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: todo aquele que comete o pecado é servo do pecado, 35e o servo não fica na família para sempre; o filho é que fica para sempre. 36Pois bem, se o Filho vos libertar, sereis realmente livres. 37Eu sei que sois descendentes de Abraão; no entanto, procurais matar-me, porque não aderis à minha palavra. 38Eu comunico o que vi junto do Pai, e vós fazeis o que ouvistes ao vosso pai.» 39Eles replicaram-lhe: «O nosso pai é Abraão!» Jesus disse-lhes: «Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão! 40Agora, porém, vós pretendeis matar-me, a mim, um homem que vos comunicou a verdade que recebi de Deus. Isso não o fez Abraão! 41Vós fazeis as obras do vosso pai.» Eles disseram-lhe, então: «Nós não nascemos da prostituição. Temos um só Pai, que é Deus.»

42Disse-lhes Jesus: «Se Deus fosse vosso Pai, ter-me-íeis amor, pois é de Deus que Eu saí e vim. Não vim de mim próprio, mas foi Ele que me enviou. 43Porque não entendeis a minha linguagem? Porque não podeis ouvir a minha palavra? 44Vós tendes por pai o diabo, e quereis realizar os desejos do vosso pai. Ele foi assassino desde o princípio, e não esteve pela verdade, porque nele não há verdade. Quando fala mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. 45Por isso, não acreditais em mim, porque vos digo a verdade. 46Quem de vós pode acusar-me de pecado? Se digo a verdade, porque não me acreditais? 47Quem é de Deus escuta as palavras de Deus; vós não as escutais, porque não sois de Deus.»

48Os judeus replicaram-lhe: «Não temos nós razão ao dizer que és um samaritano e que tens demónio?» 49Respondeu Jesus: «Eu não tenho demónio. Eu honro o meu Pai, ao passo que vós me injuriais. 50Eu não procuro a minha glória; há alguém que a procura e faz justiça. 51Em verdade, em verdade vos digo: se alguém observar a minha palavra, nunca morrerá.» 52Disseram-lhe, então, os judeus: «Agora é que estamos certos de que tens demónio! Abraão morreu, os profetas também, e Tu dizes: ‘Se alguém observar a minha palavra, nunca experimentará a morte’? 53Porventura és Tu maior que o nosso pai Abraão, que morreu? E os profetas morreram também! Afinal, quem é que Tu pretendes ser?» 54Jesus respondeu:

«Se Eu me glorificar a mim mesmo, a minha glória nada valerá. Quem me glorifica é o meu Pai, de quem dizeis: ‘É o nosso Deus’; 55e, no entanto, não o conheceis. Eu é que o conheço; se dissesse que não o conhecia, seria como vós: um mentiroso. Mas Eu conheço-o e observo a sua palavra. 56Abraão, vosso pai, exultou pensando em ver o meu dia; viu-o e ficou feliz.»

57Disseram-lhe, então, os judeus: «Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão?» 58Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: antes de Abraão existir, Eu sou!»

59Então, agarraram em pedras para lhe atirarem. Mas Jesus escondeu-se e saiu do templo.

Capítulo 9

Cura do cego de nascença (Mt 9,27-31; 20,29-34; Mc 8,22-26; 10,46-52; Lc 18,35-43) - 1Ao passar, Jesus viu um homem cego de nascença. 2Os seus discípulos perguntaram-lhe, então: «Rabi, quem foi que pecou para este homem ter nascido cego? Ele, ou os seus pais?» 3Jesus respondeu: «Nem pecou ele, nem os seus pais, mas isto aconteceu para nele se manifestarem as obras de Deus. 4Temos de realizar as obras daquele que me enviou enquanto é dia. Vem aí a noite, em que ninguém pode actuar. 5Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.»

6Dito isto, cuspiu no chão, fez lama com a saliva, ungiu-lhe os olhos com a lama 7e disse-lhe: «Vai, lava-te na piscina de Siloé» - que quer dizer Enviado. Ele foi, lavou-se e regressou a ver. 8Então, os vizinhos e os que costumavam vê-lo antes a mendigar perguntavam: «Não é este o que estava por aí sentado a pedir esmola?» 9Uns diziam: «É ele mesmo!» Outros afirmavam: «De modo nenhum. É outro parecido com ele.» Ele, porém, respondia: «Sou eu mesmo!»

10Então, perguntaram-lhe: «Como foi que os teus olhos se abriram?» 11Ele respondeu: «Esse homem, que se chama Jesus, fez lama, ungiu-me os olhos e disse-me: ‘Vai à piscina de Siloé e lava-te.’ Então eu fui, lavei-me e comecei a ver!» 12Perguntaram-lhe: «Onde está Ele?» Respondeu: «Não sei.»

13Levaram aos fariseus o que fora cego. 14O dia em que Jesus tinha feito lama e lhe abrira os olhos era sábado. 15Os fariseus perguntaram-lhe, de novo, como tinha começado a ver. Ele respondeu-lhes: «Pôs-me lama nos olhos, lavei-me e fiquei a ver.» 16Diziam então alguns dos fariseus: «Esse homem não vem de Deus, pois não guarda o sábado.» Outros, porém, replicavam: «Como pode um homem pecador realizar semelhantes sinais miraculosos?» Havia, pois, divisão entre eles. 17Perguntaram, então, novamente ao cego: «E tu que dizes dele, por te ter aberto os olhos?» Ele respondeu: «É um profeta!»

18Ora os judeus não acreditaram que aquele homem tivesse sido cego e agora visse, até que chamaram os pais dele. 19E perguntaram-lhes: «É este o vosso filho, que vós dizeis ter nascido cego? Então como é que agora vê?» 20Os pais responderam: «Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego; 21mas não sabemos como é que agora vê, nem quem foi que o pôs a ver. Perguntai-lhe a ele. Já tem idade para falar de si.»

22Os pais responderam assim por terem receio dos judeus, pois estes já tinham combinado expulsar da sinagoga quem confessasse que Jesus era o Messias. 23Por isso é que os pais disseram: ‘Já tem idade, perguntai-lhe a ele’.

24Chamaram, então, novamente o que fora cego, e disseram-lhe: «Dá glória a Deus! Quanto a nós, o que sabemos é que esse homem é um pecador!» 25Ele, porém, respondeu: «Se é um pecador, não sei. Só sei uma coisa: que eu era cego e agora vejo.» 26Eles insistiram: «O que é que Ele te fez? Como é que te pôs a ver?» 27Respondeu-lhes: «Eu já vo-lo disse, e não me destes ouvidos. Porque desejais ouvi-lo outra vez? Será que também quereis fazer-vos seus discípulos?» 28Então, injuriaram-no dizendo-lhe: «Discípulo dele és tu! Nós somos discípulos de Moisés! 29Sabemos que Deus falou a Moisés; mas, quanto a esse, não sabemos donde é!»

Replicou-lhes o homem: 30«Ora isso é que é de espantar: que vós não saibais donde Ele é, e me tenha dado a vista! 31Sabemos que Deus não atende os pecadores, mas se alguém honrar a Deus e cumprir a sua vontade, Ele o atende. 32Jamais se ouviu dizer que alguém tenha dado a vista a um cego de nascença. 33Se este não viesse de Deus, não teria podido fazer nada.» 34Responderam-lhe: «Tu nasceste coberto de pecados e dás-nos lições?» E puseram-no fora.

35Jesus ouviu dizer que o tinham expulsado e, quando o encontrou, disse-lhe: «Tu crês no Filho do Homem?» 36Ele respondeu: «E quem é, Senhor, para eu crer nele?» 37Disse-lhe Jesus: «Já o viste. É aquele que está a falar contigo.» 38Então, exclamou: «Eu creio, Senhor!» E prostrou-se diante dele.

39Jesus declarou: «Eu vim a este mundo para proceder a um juízo: de modo que os que não vêem vejam, e os que vêem fiquem cegos.»

40Alguns fariseus que estavam com Ele ouviram isto e perguntaram-lhe: «Porventura nós também somos cegos?» 41Jesus respondeu-lhes: «Se fôsseis cegos, não estaríeis em pecado; mas, como dizeis que vedes, o vosso pecado permanece.»

Capítulo 10

Alegorias da porta e do pastor (Sl 23; Jr 23,1-8; Ez 34) - 1«Em verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no redil das ovelhas, mas sobe por outro lado, é um ladrão e salteador. 2Aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas. 3A esse o porteiro abre-a e as ovelhas escutam a sua voz. E ele chama as suas ovelhas uma a uma pelos seus nomes e fá-las sair. 4Depois de tirar todas as que são suas, vai à frente delas, e as ovelhas seguem-no, porque reconhecem a sua voz. 5Mas, a um estranho, jamais o seguiriam; pelo contrário, fugiriam dele, porque não reconhecem a voz dos estranhos.»

6Jesus propôs-lhes esta comparação, mas eles não compreenderam o que lhes dizia.


Jesus, Porta e Bom Pastor das ovelhas - 7Então, Jesus retomou a palavra: «Em verdade, em verdade vos digo: Eu sou a porta das ovelhas. 8Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e salteadores, mas as ovelhas não lhes prestaram atenção. 9Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim estará salvo; há-de entrar e sair e achará pastagem. 10O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.

11Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas. 12O mercenário, e o que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo e abandona as ovelhas e foge e o lobo arrebata-as e espanta-as, 13porque é mercenário e não lhe importam as ovelhas. 14Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me, 15assim como o Pai me conhece e Eu conheço o Pai; e ofereço a minha vida pelas ovelhas.

16Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil. Também estas Eu preciso de as trazer e hão-de ouvir a minha voz; e haverá um só rebanho e um só pastor. 17É por isto que meu Pai me tem amor: por Eu oferecer a minha vida, para a retomar depois. 18Ninguém ma tira, mas sou Eu que a ofereço livremente. Tenho poder de a oferecer e poder de a retomar. Tal é o encargo que recebi de meu Pai.»

19Estas palavras tornaram a provocar desentendimento entre os judeus. 20Muitos deles comentavam: «Ele tem demónio e está louco. Porque lhe dais ouvidos?» 21Outros diziam: «Estas palavras não são dum possesso. Como é que um demónio pode dar vista aos cegos?»


Auge da controvérsia messiânica: identidade de Jesus com o Pai - 22Em Jerusalém celebrava-se, então, a festa da Dedicação do templo. Era Inverno. 23Jesus passeava pelo templo, debaixo do pórtico de Salomão.

24Rodearam-no, então, os judeus e começaram a perguntar-lhe: «Até quando nos deixarás na incerteza? Se és o Messias, di-lo claramente.»

25Jesus respondeu-lhes: «Já vo-lo disse, mas não credes. As obras que Eu faço em nome de meu Pai, essas dão testemunho a meu favor; 26mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas. 27As minhas ovelhas escutam a minha voz: Eu conheço-as e elas seguem-me. 28Dou-lhes a vida eterna, e nem elas hão-de perecer jamais, nem ninguém as arrancará da minha mão. 29O que o meu Pai me deu vale mais que tudo e ninguém o pode arrancar da mão do Pai. 30Eu e o Pai somos Um.»

31Então, os judeus voltaram a pegar em pedras para o apedrejarem. 32Jesus replicou-lhes: «Mostrei-vos muitas obras boas da parte do Pai; por qual dessas obras me quereis apedrejar?» 33Responderam-lhe os judeus: «Não te queremos apedrejar por qualquer obra boa, mas por uma blasfémia: é que Tu, sendo um homem, a ti próprio te fazes Deus.»

34Jesus respondeu-lhes: «Não está escrito na vossa Lei: ‘Eu disse: vós sois deuses’? 35Se ela chamou deuses àqueles a quem se dirigiu a palavra de Deus - e a Escritura não se pode pôr em dúvida - 36a mim, a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo, como é que dizeis: ‘Tu blasfemas’, por Eu ter dito: ‘Sou Filho de Deus’? 37Se não faço as obras do meu Pai, não acrediteis em mim; 38mas se as faço, embora não queirais acreditar em mim, acreditai nas obras, e assim vireis a saber e ficareis a compreender que o Pai está em mim e Eu no Pai.»

39Por isso procuravam de novo prendê-lo, mas Ele escapou-se-lhes das mãos. 40Depois, Jesus voltou a retirar-se para a margem de além-Jordão, para o lugar onde ao princípio João tinha estado a baptizar, e ali se demorou. 41Muitos vieram ter com Ele e comentavam: «Realmente João não realizou nenhum sinal milagroso, mas tudo quanto disse deste homem era verdade.» 42E muitos ali creram nele.

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