Capítulo 11

Pedro justifica o seu procedimento - 1Os Apóstolos e os irmãos da Judeia ouviram, entretanto, dizer que também os pagãos tinham recebido a palavra de Deus. 2E, quando Pedro subiu a Jerusalém, os circuncisos começaram a censurá-lo, 3dizendo-lhe: «Tu entraste em casa de incircuncisos e comeste com eles.» 4Pedro expôs-lhes, então, o caso, do princípio ao fim, dizendo:

5«Estava eu em oração na cidade de Jope quando, em êxtase, tive uma visão: um objecto semelhante a uma grande toalha, descia do céu, preso pelas quatro pontas, e chegou até junto de mim. 6Fitando os olhos nele, pus-me a observar e vi os quadrúpedes da terra, os animais ferozes, os répteis e as aves do céu. 7Ouvi também uma voz que me dizia: ‘Vamos, Pedro, mata e come.’ 8Mas eu respondi: ‘De modo algum, Senhor! Nunca entrou na minha boca nada de profano ou impuro!’ 9A voz fez-se ouvir do Céu, pela segunda vez: ‘O que Deus purificou não o consideres tu impuro.’ 10Isto repetiu-se três vezes; depois, tudo foi novamente elevado ao Céu.

11Nesse instante, apresentaram-se três homens na casa em que estávamos, enviados de Cesareia à minha presença. 12O Espírito disse-me que os acompanhasse, sem hesitar. Vieram também comigo os seis irmãos, aqui presentes, e entrámos em casa do homem. 13Ele contou-nos que tinha visto um anjo apresentar-se em sua casa, dizendo-lhe: ‘Envia alguém a Jope e manda chamar Simão, cujo sobrenome é Pedro; 14ele dir-te-á palavras que te hão-de trazer a salvação, a ti e a toda a tua casa.’

15Ora, quando principiei a falar, o Espírito Santo desceu sobre eles, como sobre nós, ao princípio. 16Recordei-me, então, da palavra do Senhor, quando Ele dizia: ‘João baptizou em água; vós, porém, sereis baptizados no Espírito Santo.’ 17Se Deus, portanto, lhes concedeu o mesmo dom que a nós, por terem acreditado no Senhor Jesus Cristo, quem era eu para me opor a Deus?» 18Estas palavras apaziguaram-nos, e eles deram glória a Deus, dizendo: «Deus também concedeu aos pagãos o arrependimento que conduz à Vida!»


Fundação da igreja de Antioquia - 19Entretanto, os que se tinham dispersado, devido à perseguição desencadeada por causa de Estêvão, adiantaram-se até à Fenícia, Chipre e Antioquia, mas não anunciavam a palavra senão aos judeus. 20Houve, porém, alguns deles, homens de Chipre e Cirene que, chegando a Antioquia, falaram também aos gregos, anunciando-lhes a Boa-Nova do Senhor Jesus. 21A mão do Senhor estava com eles e grande foi o número dos que abraçaram a fé e se converteram ao Senhor.

22A notícia chegou aos ouvidos da igreja de Jerusalém, e mandaram Barnabé a Antioquia. 23Assim que ele chegou e viu a graça concedida por Deus, regozijou-se com isso e exortou-os a todos a que se conservassem unidos ao Senhor, de coração firme; 24ele era um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé. Assim, uma grande multidão aderiu ao Senhor.

25Então, Barnabé foi a Tarso procurar Saulo. 26Encontrou-o e levou-o para Antioquia. Durante um ano inteiro, mantiveram-se juntos nesta igreja e ensinaram muita gente. Foi em Antioquia que, pela primeira vez, os discípulos começaram a ser tratados pelo nome de «cristãos.»


Caridade dos primeiros cristãos - 27Nesses dias, uns profetas desceram de Jerusalém a Antioquia. 28Um deles, chamado Agabo, ergueu-se e, sob a inspiração do Espírito, predisse que haveria uma grande fome por toda a terra. Foi a que sobreveio no reinado de Cláudio. 29Os discípulos, cada qual segundo as suas posses, resolveram então enviar socorros aos irmãos da Judeia, 30o que fizeram, mandando-os aos anciãos, por intermédio de Barnabé e de Saulo.

Capítulo 12

Execução de Tiago. Prisão de Pedro - 1Por esse tempo, o rei Herodes maltratou alguns membros da Igreja. 2Mandou matar à espada Tiago, irmão de João, 3e, vendo que tal procedimento agradara aos judeus, mandou também prender Pedro. Decorriam os dias dos Ázimos.

4Depois de o mandar prender, meteu-o na prisão, entregando-o à guarda de quatro piquetes, de quatro soldados cada um, na intenção de o fazer comparecer perante o povo, a seguir à Páscoa. 5Enquanto Pedro estava encerrado na prisão, a Igreja orava a Deus, instantemente, por ele.

6Na noite anterior ao dia em que Herodes contava fazê-lo comparecer, Pedro estava a dormir entre dois soldados, bem preso por duas correntes, e diante da porta estavam sentinelas de guarda à prisão. 7De repente, apareceu o Anjo do Senhor e a masmorra foi inundada de luz. O anjo despertou Pedro, tocando-lhe no lado e disse-lhe: «Ergue-te depressa!» E as correntes caíram-lhe das mãos. 8O anjo prosseguiu: «Põe o cinto e calça as sandálias.» Pedro assim fez. Depois, disse-lhe: «Cobre-te com a capa e segue-me.»

9Pedro saiu e seguiu-o. Não se dava conta da realidade da intervenção do anjo, pois julgava que era uma visão. 10Depois de atravessarem o primeiro e o segundo posto da guarda, chegaram à porta de ferro que dá para a cidade, a qual se abriu por si mesma. Saíram, avançando por uma rua, e logo o anjo se retirou de junto dele. 11Pedro, voltando a si, exclamou: «Agora sei que o Senhor enviou o seu anjo e me arrancou das mãos de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava.»

12E, depois de reflectir, dirigiu-se a casa de Maria, mãe de João, de sobrenome Marcos, onde numerosos fiéis estavam reunidos a orar. 13Bateu à porta da entrada, e uma serva chamada Rode veio atender. 14Reconheceu a voz de Pedro e, com alegria, em vez de abrir, correu a anunciar que Pedro se encontrava em frente da porta. 15«Estás louca!» disseram eles. Como ela afirmava, sem hesitar, que era verdade, disseram: «É o seu anjo.» 16Pedro, entretanto, continuava a bater à porta. Eles abriram e, ao vê-lo, ficaram estupefactos. 17Fazendo-lhes sinal com a mão para se calarem, contou-lhes como o Senhor o tinha tirado da prisão e acrescentou: «Mandai dizer tudo isto a Tiago e aos irmãos.» Depois, retirou-se dali e foi para outro lugar.

18Ao romper do dia, grande foi o alvoroço entre os soldados. Que seria feito de Pedro? 19Como Herodes o tivesse mandado buscar e não o encontrassem, submeteu os guardas a um interrogatório e mandou-os matar. Herodes deixou, em seguida, a Judeia, desceu para Cesareia e por ali se demorou.


Morte de Agripa - 20Herodes estava furioso com os habitantes de Tiro e de Sídon. Estes, de comum acordo, apresentaram-se diante dele e, depois de terem ganhado Blasto, camareiro do rei, à sua causa, pediram a paz, porque o seu país era abastecido pelo rei.

21No dia aprazado, Herodes, revestido com um traje real e sentado na tribuna, dirigiu-lhes um grande discurso. 22E o povo gritava: «É um deus que fala, não é um homem!» 23Mas, no mesmo instante, o Anjo do Senhor feriu Herodes, por não ter dado glória a Deus. E, roído pelos vermes, expirou.

24Entretanto, a palavra de Deus crescia e multiplicava-se. 25Barnabé e Saulo, depois de terem cumprido a sua missão, regressaram de Jerusalém, levando consigo João, de sobrenome Marcos.

Capítulo 13

Barnabé e Saulo em missão - 1Havia na igreja, estabelecida em Antioquia, profetas e doutores: Barnabé, Simeão, chamado ‘Níger’, Lúcio de Cirene, Manaen, companheiro de infância do tetrarca Herodes, e Saulo. 2Estando eles a celebrar o culto em honra do Senhor e a jejuar, disse-lhes o Espírito Santo: «Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que Eu os chamei.»

3Então, depois de terem jejuado e orado, impuseram-lhes as mãos e deixaram-nos partir.


Evangelização de Chipre - 4Enviados, pois, pelo Espírito Santo, Barnabé e Saulo desceram a Selêucia e ali meteram-se num barco, rumo à ilha de Chipre. 5Chegados que foram a Salamina, começaram a anunciar a palavra de Deus nas sinagogas dos judeus. Tinham também João como auxiliar. 6Percorreram toda a ilha até Pafos e encontraram lá um mago, falso profeta, judeu, chamado Barjesus, 7que estava ao serviço do procônsul Sérgio Paulo, homem ponderado. Este mandou chamar Barnabé e Saulo, desejoso de ouvir a palavra de Deus. 8Mas o mago Elimas - assim se traduz o seu nome - opôs-se-lhe, procurando desviar da fé o procônsul. 9Então Saulo - também chamado Paulo - cheio do Espírito Santo, fitou nele os olhos 10e disse-lhe: «Ó criatura, cheia de todas as astúcias e de toda a iniquidade, filho do diabo, inimigo de toda a justiça, quando é que cessarás de perverter os rectos caminhos do Senhor? 11Mas agora a mão do Senhor está sobre ti: vais ficar cego e, durante algum tempo, não hás-de ver o sol.» No mesmo instante, caíram sobre ele o nevoeiro e as trevas e, voltando-se para todos os lados, procurava alguém que o guiasse pela mão. 12Vendo, então, o que se tinha passado, o procônsul abraçou a fé, vivamente impressionado com a doutrina do Senhor.


O Evangelho na Ásia Menor - 13De Pafos, onde embarcaram Paulo e os companheiros, dirigiram-se a Perga da Panfília. João, porém, separando-se deles, voltou para Jerusalém. 14Quanto àqueles, deixaram Perga e, caminhando sempre, chegaram a Antioquia da Pisídia.

A um sábado, entraram na sinagoga e sentaram-se. 15Depois da leitura da Lei e dos Profetas, os chefes da sinagoga mandaram-lhes dizer: «Irmãos, se tiverdes alguma exortação a dirigir ao povo, falai.»


Discurso de Paulo em Antioquia da Pisídia - 16Então, Paulo, levantando-se, fez sinal com a mão e disse:

«Homens de Israel e vós os tementes a Deus, escutai: 17O Deus deste povo, o Deus de Israel, escolheu os nossos pais e engrandeceu este povo durante a sua permanência no Egipto. Depois, com a força do seu braço, retirou-o de lá 18e, durante uns quarenta anos, sustentou-o no deserto. 19A seguir, exterminando sete nações na terra de Canaã, conferiu-lhes a posse do seu território, 20por cerca de quatrocentos e cinquenta anos. Depois disso, deu-lhes juízes até ao profeta Samuel. 21Em seguida, pediram um rei, e Deus concedeu-lhes, durante quarenta anos, Saul, filho de Quis, da tribo de Benjamim. 22Pondo este de parte, Deus elevou David como rei, e a seu respeito deu este testemunho: ‘Encontrei David, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará todas as minhas vontades.’

23Da sua descendência, segundo a sua promessa, Deus proporcionou a Israel um Salvador, que é Jesus. 24João preparou a sua vinda, anunciando um baptismo de penitência a todo o povo de Israel. 25Quase a terminar a sua carreira, João dizia: ‘Eu não sou quem julgais; mas vem, depois de mim, alguém cujas sandálias não sou digno de desatar.’

26Irmãos, filhos da estirpe de Abraão, e os que de entre vós são tementes a Deus, a nós é que foi dirigida a palavra de salvação. 27Sem dúvida, os habitantes de Jerusalém e os seus chefes não quiseram reconhecer Jesus, mas, condenando-o, cumpriram, sem disso se aperceberem, as profecias que são lidas todos os sábados.

28Embora não tivessem encontrado nele motivo algum de morte, exigiram a Pilatos que o mandasse matar. 29Quando cumpriram tudo o que acerca dele estava escrito, desceram-no do madeiro e sepultaram-no. 30Mas Deus ressuscitou-o dos mortos 31e, durante muitos dias, apareceu aos que tinham subido com Ele da Galileia a Jerusalém, os quais são agora suas testemunhas diante do povo.

32E nós estamos aqui para vos anunciar a Boa-Nova de que a promessa feita a nossos pais, 33Deus a cumpriu em nosso benefício, para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus, como está escrito no Salmo segundo:

Tu és meu filho, Eu hoje te gerei!

34Que Deus o ressuscitou dos mortos para não mais voltar à corrupção, disse-o Ele deste modo:

Dar-vos-ei as coisas santas de David,
que são verdadeiras.

35Por isso, diz noutra passagem:

Não deixarás o teu Santo ver a corrupção.

36Ora David, depois de servir em sua vida os desígnios de Deus, morreu; foi reunir-se a seus pais e viu a corrupção. 37Mas aquele que Deus ressuscitou não viu a corrupção. 38Ficai sabendo, irmãos, que por seu intermédio é que vos é anunciada a remissão dos pecados. A justificação completa que não pudestes obter pela Lei de Moisés, 39obtê-la-á por meio dele todo aquele que crê. 40Tende, pois, cautela, para que vos não aconteça o que se diz nos profetas:

41Olhai, vós, os desdenhosos,
admirai-vos e desaparecei!
Porque Eu vou fazer uma obra em vossos dias,
obra em que não acreditaríeis,
se alguém vo-la contasse.»

42À saída, pediram-lhe que falasse do mesmo assunto no sábado seguinte. 43Depois da reunião, muitos judeus e prosélitos piedosos seguiam Paulo e Barnabé, os quais, nas suas conversas com eles, os exortavam a perseverar na graça de Deus.


Paulo e Barnabé dirigem-se aos pagãos - 44No sábado seguinte, quase toda a cidade se reuniu para ouvir a palavra do Senhor. 45A presença da multidão encheu os judeus de inveja, e responderam com blasfémias ao que Paulo dizia. 46Então, desassombradamente, Paulo e Barnabé afirmaram:

«Era primeiramente a vós que a palavra de Deus devia ser anunciada. Visto que a repelis e vós próprios vos julgais indignos da vida eterna, voltamo-nos para os pagãos, 47pois assim nos ordenou o Senhor:

Estabeleci-te como luz dos povos,
para levares a salvação
até aos confins da Terra.»

48Ao ouvirem isto, os pagãos encheram-se de alegria e glorificavam a palavra do Senhor; e todos os que estavam destinados à vida eterna abraçaram a fé. 49Assim, a palavra do Senhor divulgava-se por toda aquela região. 50Mas os judeus incitaram as senhoras devotas mais distintas e os de maior categoria da cidade, desencadeando uma perseguição contra Paulo e Barnabé, e expulsaram-nos do seu território. 51Estes, sacudindo contra eles o pó dos pés, foram para Icónio. 52Quanto aos discípulos, estavam cheios de alegria e do Espírito Santo.

Capítulo 14

Paulo e Barnabé em Icónio - 1Em Icónio, Paulo e Barnabé entraram igualmente na sinagoga dos judeus e falaram de tal maneira que uma grande multidão de judeus e de gregos abraçou a fé. 2Mas os judeus que não acreditaram instigaram e indispuseram os pagãos contra os irmãos. 3Apesar disso, Paulo e Barnabé demoraram-se por lá bastante tempo, absolutamente confiados no Senhor, que dava testemunho à palavra da sua graça, concedendo que se fizessem milagres e prodígios pelas mãos deles. 4A população da cidade dividiu-se: uns eram pelos judeus e outros pelos Apóstolos.

5Entre os pagãos e os judeus, conduzidos pelos respectivos chefes, levantou-se um movimento para os maltratar e apedrejar. 6Logo que tiveram conhecimento disso, refugiaram-se nas cidades da Licaónia, Listra e Derbe, e arredores, 7onde começaram a anunciar a Boa-Nova.


Em Listra. Cura de um coxo - 8Havia em Listra um homem aleijado dos pés, coxo de nascença e que nunca tinha andado. 9Um dia, ouviu Paulo falar. Este, fitando nele os olhos e vendo que tinha fé para ser curado, 10disse-lhe em voz alta: «Ergue-te, direito sobre os teus pés!» Ele deu um salto e começou a andar.

11Ao ver o que Paulo acabava de fazer, a multidão gritou em licaónio: «Os deuses tomaram forma humana e desceram até nós!» 12E chamavam Zeus a Barnabé, e Hermes a Paulo, pois este é que lhes dirigia a palavra. 13Então, o sacerdote do templo de Zeus, venerado junto da cidade, trazendo touros e grinaldas para as portas da cidade, pretendia, juntamente com a multidão, oferecer-lhes um sacrifício. 14Ao terem conhecimento disso, os Apóstolos Barnabé e Paulo rasgaram as vestes e precipitaram-se para a multidão, gritando:

15«Amigos, que fazeis? Também nós somos homens da mesma condição que vós, homens que vos anunciam a Boa-Nova de que deveis abandonar os ídolos vãos e voltar-vos para o Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo quanto neles se encontra. 16Nas gerações passadas, permitiu que todos os povos seguissem os seus próprios caminhos, 17mas nem por isso deixou de dar testemunho da sua generosidade, dispensando-vos do céu chuvas e estações de fertilidade, enchendo os vossos corações de alimento e de felicidade.»

18Mesmo depois de terem assim falado, foi a custo que impediram a multidão de lhes oferecer um sacrifício. 19Apareceram, então, vindos de Antioquia e de Icónio, alguns judeus que aliciaram o povo, apedrejaram Paulo e, julgando-o morto, arrastaram-no para fora da cidade. 20Mas, como os discípulos o tivessem rodeado, ele ergueu-se e voltou para a cidade. No dia seguinte, partiu para Derbe com Barnabé.


Regresso a Antioquia da Síria - 21Depois de terem anunciado a Boa-Nova àquela cidade e de terem feito numerosos discípulos, Paulo e Barnabé voltaram a Listra, Icónio e Antioquia. 22Fortaleciam a alma dos discípulos, encorajavam-nos a manterem-se firmes na fé, porque, diziam eles: «Temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus.» 23Depois de lhes terem constituído anciãos em cada igreja, pela imposição das mãos, e de terem feito orações acompanhadas de jejum, recomendaram-nos ao Senhor, em quem tinham acreditado.

24A seguir, atravessaram a Pisídia, chegaram à Panfília e, 25depois de anunciarem a palavra em Perga, desceram a Atália. 26De lá, foram de barco para Antioquia, de onde tinham partido, confiados na graça de Deus, para o trabalho que agora acabavam de realizar. 27Assim que chegaram, reuniram a igreja e contaram tudo o que Deus fizera com eles, e como abrira aos pagãos a porta da fé. 28E demoraram-se bastante tempo com os discípulos.

Capítulo 15

Controvérsia sobre a Lei de Moisés - 1Alguns que tinham descido da Judeia ensinavam aos irmãos: «Se não vos circuncidardes, de harmonia com o uso herdado de Moisés, não podereis ser salvos.» 2Depois de muita confusão e de uma controvérsia bastante viva de Paulo e Barnabé contra eles, foi resolvido que Paulo, Barnabé e mais alguns outros subissem a Jerusalém para consultarem, sobre esta questão, os Apóstolos e os Anciãos. 3Então, depois de despedidos pela igreja, atravessaram a Fenícia e a Samaria, relatando a conversão dos pagãos, o que causava imensa alegria a todos os irmãos.

4Chegados a Jerusalém, foram recebidos pela igreja, pelos Apóstolos e Anciãos e contaram tudo o que Deus fizera com eles. 5Levantaram-se alguns do partido dos fariseus, que tinham abraçado a fé, dizendo que era preciso circuncidar os pagãos e impor-lhes a observância da Lei de Moisés. 6Os Apóstolos e os Anciãos reuniram-se para examinarem a questão.


Discurso de Pedro - 7Depois de longa discussão, Pedro ergueu-se e disse-lhes:

«Irmãos, sabeis que Deus me escolheu, desde os primeiros dias, para que os pagãos ouvissem da minha boca a palavra do Evangelho e abraçassem a fé. 8E Deus, que conhece os corações, testemunhou a favor deles, concedendo-lhes o Espírito Santo como a nós. 9Não fez qualquer distinção entre eles e nós, visto ter purificado os seus corações pela fé. 10Porque tentais agora a Deus, querendo impor aos discípulos um jugo que nem os nossos pais nem nós tivemos força para levar? 11Além disso, é pela graça do Senhor Jesus que acreditamos que seremos salvos, exactamente como eles.»

12Toda a assembleia ficou em silêncio e se pôs a ouvir Barnabé e Paulo a descrever os milagres e prodígios que Deus realizara entre os pagãos, por intermédio deles.


Discurso de Tiago - 13Quando acabaram de falar, Tiago tomou a palavra e disse:

«Irmãos, escutai-me. 14Simão contou como Deus, desde o princípio, se dignou intervir para tirar de entre os pagãos um povo que fosse consagrado ao seu nome. 15E com isto concordaram as palavras dos profetas, conforme está escrito:

16Depois disto, hei-de voltar
a reconstruir a tenda de David, que estava caída;
reconstruirei as suas ruínas
e erguê-la-ei de novo,
17a fim de que o resto dos homens procure o Senhor,
bem como todos os povos
que foram consagrados ao meu nome
- diz o Senhor, que dá a conhecer
18estas coisas desde a eternidade.

19Por isso, sou de opinião que não se devem importunar os pagãos convertidos a Deus. 20Que se lhes diga apenas para se absterem de tudo quanto foi conspurcado pelos ídolos, da imoralidade, das carnes sufocadas e do sangue. 21Desde os tempos antigos, Moisés tem em cada cidade os seus pregadores e é lido todos os sábados nas sinagogas.»


Carta apostólica - 22Então, os Apóstolos e os Anciãos, de acordo com toda a Igreja, resolveram escolher alguns de entre eles e enviá-los a Antioquia com Paulo e Barnabé. Foram Judas, chamado Barsabas, e Silas, homens respeitados entre os irmãos. 23E mandaram a seguinte carta por intermédio deles:

«Os Apóstolos e os Anciãos, vossos irmãos, aos irmãos de origem pagã residentes em Antioquia, na Síria e na Cilícia, saudações!

24Tendo conhecimento de que, sem autorização da nossa parte, alguns dos nossos vos foram inquietar, perturbando as vossas almas com as suas palavras, 25resolvemos, de comum acordo, escolher delegados e enviar-vo-los com os nossos queridos Barnabé e Paulo, 26homens estes que expuseram as suas vidas pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. 27Enviamos, pois, Judas e Silas, que vos transmitirão verbalmente as mesmas coisas. 28O Espírito Santo e nós próprios resolvemos não vos impor outras obrigações além destas, que são indispensáveis: 29abster-vos de carnes imoladas a ídolos, do sangue, de carnes sufocadas e da imoralidade. Procedereis bem, abstendo-vos destas coisas. Adeus.»

30Eles, então, depois de se despedirem, desceram a Antioquia e, reunindo a assembleia, entregaram a carta. 31Depois de a lerem, todos ficaram satisfeitos com o encorajamento que lhes trazia. 32Judas e Silas, que também eram profetas, exortaram e fortaleceram os irmãos com um longo discurso.

33Ao fim de algum tempo, receberam dos irmãos a paz da despedida, regressando para junto dos que os tinham enviado. 34Silas, porém, resolveu ficar ali, e Judas partiu sozinho para Jerusalém.


Desacordo entre Paulo e Barnabé - 35Paulo e Barnabé ficaram em Antioquia, ensinando e anunciando, com muitos outros, a Boa-Nova da palavra do Senhor.

36Passados alguns dias, Paulo disse a Barnabé: «Voltemos a visitar os irmãos por todas as cidades em que anunciámos a palavra do Senhor, para ver como estão.»

37Barnabé queria também levar João, chamado Marcos. 38Mas Paulo não era de parecer que se levasse por companheiro quem deles se tinha afastado na Panfília e não os tinha acompanhado no trabalho. 39Seguiu-se uma discussão tão violenta que se separaram um do outro e Barnabé tomou Marcos consigo, embarcando para Chipre.

40Por seu turno, Paulo escolheu Silas por companheiro e partiu, recomendado pelos irmãos à graça do Senhor. 41Atravessou a Síria e a Cilícia, fortalecendo as igrejas.

Capítulo 16

Paulo e Silas na Macedónia - 1Paulo chegou em seguida a Derbe e, depois, a Listra.

Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia crente e de pai grego, 2que era muito estimado pelos irmãos de Listra e de Icónio. 3Paulo resolveu levá-lo consigo e, tomando-o, circuncidou-o, por causa dos judeus existentes naquelas regiões, pois todos sabiam que o pai dele era grego. 4Nas cidades por onde passavam, transmitiam e recomendavam aos irmãos que cumprissem as decisões tomadas pelos Apóstolos e pelos Anciãos de Jerusalém.

5Dessa forma, as igrejas eram confirmadas na fé e cresciam em número, de dia para dia.

6Paulo e Silas atravessaram a Frígia e o território da Galácia, pois o Espírito Santo impediu-os de anunciar a Palavra na Ásia. 7Chegando à fronteira da Mísia, tentaram dirigir-se à Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu. 8Atravessaram, então, a Mísia e desceram para Tróade.

9Ora, durante a noite, Paulo teve uma visão: um macedónio estava de pé diante dele e fazia-lhe este pedido: «Passa à Macedónia e vem ajudar-nos!» 10Logo que Paulo teve esta visão, procurámos partir para a Macedónia, persuadidos de que Deus nos chamava, para aí anunciar a Boa-Nova.


Em Filipos. Conversão de Lídia - 11Embarcámos em Tróade e fomos directamente a Samotrácia; no dia seguinte, fomos a Neápoles 12e de lá, a Filipos, cidade de primeira categoria deste distrito da Macedónia, e colónia. Estivemos aí durante alguns dias. 13No dia de sábado, saímos fora de portas, em direcção à margem do rio, onde era costume haver oração.

Depois de nos sentarmos, começámos a falar às mulheres que lá se encontravam reunidas. 14Uma das mulheres chamada Lídia, negociante de púrpura, da cidade de Tiatira e temente a Deus, pôs-se a escutar. O Senhor abriu-lhe o coração para aderir ao que Paulo dizia. 15Depois de ter sido baptizada, bem como os de sua casa, fez este pedido: «Se me considerais fiel ao Senhor, vinde ficar a minha casa.» E obrigou-nos a isso.


A escrava bruxa - 16Um dia, quando íamos à oração, encontrámos uma serva que tinha um espírito pitónico e dava muito lucro aos seus senhores, exercendo a adivinhação. 17Começou a seguir Paulo e a nós, bradando: «Estes homens são servos do Deus Altíssimo e anunciam-vos o caminho da salvação.»

18Isto repetiu-se durante vários dias seguidos. Por fim, já agastado, Paulo voltou-se e disse ao espírito: «Ordeno-te, em nome de Jesus Cristo, que saias desta mulher.» E o espírito saiu imediatamente.


Paulo e Silas na Prisão - 19Mas os senhores da escrava, vendo desaparecer a esperança do lucro, apoderaram-se de Paulo e de Silas e arrastaram-nos até à praça pública, à presença dos magistrados. 20Apresentando-os aos estrategos, disseram: «Estes homens espalham a desordem na nossa cidade; são judeus, 21e apregoam usos que não nos é permitido a nós, romanos, nem admitir nem praticar.» 22A multidão amotinou-se contra eles; e os estrategos, arrancando-lhes as vestes, mandaram-nos açoitar. 23Depois de lhes terem dado muitas vergastadas, lançaram-nos na prisão, recomendando ao carcereiro que os tivesse sob atenta vigilância. 24Ao receber tal ordem, este meteu-os no calabouço interior e prendeu-lhes os pés no cepo.


Conversão do carcereiro - 25Cerca da meia-noite, Paulo e Silas, em oração, entoavam louvores a Deus, e os presos escutavam-nos. 26De repente, sentiu-se um violento tremor de terra que abalou os alicerces da prisão. Todas as portas se abriram e as cadeias de todos se desprenderam.

27Acordando em sobressalto, o carcereiro viu as portas da prisão abertas e puxou da espada para se matar, pensando que os presos se tinham evadido. 28Paulo, então, bradou com voz forte: «Não faças nenhum mal a ti mesmo, porque nós estamos todos aqui.» 29O carcereiro pediu luz, correu para dentro da masmorra e lançou-se a tremer, aos pés de Paulo e de Silas.

30Depois, trouxe-os para fora e perguntou: «Senhores, que devo fazer para ser salvo?» 31Eles responderam: «Acredita no Senhor Jesus e serás salvo tu e os teus.» 32E anunciaram-lhe a palavra do Senhor, assim como aos que estavam na sua casa.

33O carcereiro, tomando-os consigo, àquela hora da noite, lavou-lhes as feridas e imediatamente se baptizou, ele e todos os seus. 34Depois, levando-os para cima, para a sua casa, pôs-lhes a mesa e entregou-se, com a família, à alegria de ter acreditado em Deus.


Libertação de Paulo e Silas - 35Assim que amanheceu, os estrategos mandaram os lictores dizer ao carcereiro: «Põe esses homens em liberdade.» 36O carcereiro transmitiu a Paulo aquelas palavras: «Os estrategos mandaram dizer que vos pusesse em liberdade. Saí, pois, e ide em paz.» 37Mas Paulo disse aos lictores: «Açoitaram-nos em público, sem julgamento, a nós que somos cidadãos romanos; meteram-nos na prisão, e agora mandam-nos sair às escondidas! Não está bem! Venham eles próprios levar-nos lá para fora.»

38Os lictores foram comunicar estas palavras aos estrategos. Ao ouvirem dizer que eram cidadãos romanos, ficaram muito assustados. 39Foram pedir-lhes desculpa, puseram-nos em liberdade e rogaram-lhes que se retirassem da cidade. 40Ao saírem do cárcere, Paulo e Silas foram a casa de Lídia e, vendo os irmãos, fizeram-lhes as suas recomendações e partiram.

Capítulo 17

Em Tessalónica. Dificuldades com os judeus - 1Passando por Anfípole e Apolónia, chegaram a Tessalónica, onde os judeus tinham uma sinagoga. 2Segundo o seu costume, Paulo foi lá procurá-los e, durante três sábados, discutiu com eles acerca das Escrituras, 3explicando-as e provando que o Messias tinha de sofrer e de ressuscitar dos mortos. «E o Messias - dizia ele - é este Jesus que vos anuncio.» 4Alguns deles ficaram convencidos e reuniram-se a Paulo e Silas, bem como grande número de crentes gregos e muitas mulheres de categoria social.

5Mas os judeus, cheios de inveja, aliciaram alguns indivíduos da escória do povo, provocaram ajuntamentos e espalharam a agitação pela cidade. Assaltaram a casa de Jasão, à procura de Paulo e Silas, para os levarem à assembleia do povo. 6Não os tendo encontrado, arrastaram Jasão e alguns dos irmãos à presença dos politarcas, gritando: «Aqui estão os homens que alvoroçaram o mundo inteiro, 7e Jasão recebeu-os em sua casa. Todos eles estão em oposição aos éditos de César, pois afirmam que há outro rei, Jesus.»

8Impressionaram de tal maneira o povo e os politarcas com os seus clamores, 9que estes só depois de exigirem uma caução de Jasão e dos outros, os libertaram.


Em Bereia - 10Os irmãos fizeram com que Paulo e Silas partissem imediatamente, de noite, para Bereia. Ao chegarem, dirigiram-se à sinagoga dos judeus. 11Estes tinham sentimentos mais nobres do que os de Tessalónica, e acolheram a palavra com maior interesse. Examinavam diariamente as Escrituras para verificarem se tudo era, de facto, assim. 12Muitos deles abraçaram a fé, bem como, de entre os gregos, senhoras das mais distintas e não poucos homens.

13Mas, quando os judeus de Tessalónica souberam que Paulo também anunciava a palavra de Deus em Bereia, foram lá provocar a agitação e a discórdia entre o povo. 14Os irmãos convenceram Paulo a partir em direcção ao mar. Quanto a Silas e a Timóteo, ficaram lá. 15Os que acompanhavam Paulo levaram-no a Atenas e regressaram, incumbidos de transmitir a Silas e a Timóteo a ordem de irem reunir-se a Paulo o mais rapidamente possível.


Paulo em Atenas - 16Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o espírito fremia-lhe de indignação, ao ver a cidade repleta de ídolos. 17Discutia na sinagoga com os judeus e prosélitos e, na praça pública, todos os dias, com os que lá apareciam.

18Até alguns filósofos epicuristas e estóicos trocavam impressões com ele. Uns diziam: «Que quererá dizer este papagaio?» Outros: «Parece que é um pregoeiro de deuses estrangeiros.» Isto, porque Paulo anunciava a Boa-Nova de Jesus e a ressurreição. 19Levaram-no com eles ao Areópago e disseram-lhe: «Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas? 20O que nos dizes é muito estranho e gostaríamos de saber o que isso quer dizer.» 21Na verdade, tanto os atenienses como os estrangeiros residentes em Atenas não passavam o tempo noutra coisa, senão a dizer ou a escutar as últimas novidades.


Discurso no Areópago - 22De pé, no meio do Areópago, Paulo disse, então:

«Atenienses, vejo que sois, em tudo, os mais religiosos dos homens. 23Percorrendo a vossa cidade e examinando os vossos monumentos sagrados, até encontrei um altar com esta inscrição: ‘Ao Deus desconhecido.’ Pois bem! Aquele que venerais sem o conhecer é esse que eu vos anuncio.

24O Deus que criou o mundo e tudo quanto nele se encontra, Ele, que é o Senhor do Céu e da Terra, não habita em santuários construídos pela mão do homem, 25nem é servido por mãos humanas, como se precisasse de alguma coisa, Ele, que a todos dá a vida, a respiração e tudo mais. 26Fez, a partir de um só homem, todo o género humano, para habitar em toda a face da Terra; e fixou a sequência dos tempos e os limites para a sua habitação, 27a fim de que os homens procurem a Deus e se esforcem por encontrá-lo, mesmo tacteando, embora não se encontre longe de cada um de nós.

28É nele, realmente, que vivemos,
nos movemos e existimos,
como também o disseram alguns dos vossos poetas:
‘Pois nós somos também da sua estirpe.’

29Se nós somos da raça de Deus, não devemos pensar que a Divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e engenho do homem. 30Sem ter em conta estes tempos de ignorância, Deus faz saber, agora, a todos os homens e em toda a parte, que todos têm de se arrepender, 31pois fixou um dia em que julgará o universo com justiça, por intermédio de um Homem, que designou, oferecendo a todos um motivo de crédito, com o facto de o ter ressuscitado de entre os mortos.»

32Ao ouvirem falar da ressurreição dos mortos, uns começaram a troçar, enquanto outros disseram: «Ouvir-te-emos falar sobre isso ainda outra vez.» 33Foi assim que Paulo saiu do meio deles. 34Alguns dos homens, no entanto, concordaram com ele e abraçaram a fé, entre os quais Dionísio, o areopagita, e também uma mulher de nome Dâmaris e outros com eles.

Capítulo 18

Fundação da igreja de Corinto - 1Depois disso, Paulo afastou-se de Atenas e foi para Corinto. 2Encontrou ali um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, recentemente chegado da Itália com Priscila, sua mulher, porque um édito de Cláudio ordenara que todos os judeus se afastassem de Roma. Paulo foi procurá-los 3e, como eram da mesma profissão - isto é, fabricantes de tendas - ficou em casa deles e começou a trabalhar. 4Todos os sábados dissertava na sinagoga e esforçava-se por convencer, tanto a judeus como a gregos. 5Quando Silas e Timóteo chegaram da Macedónia, Paulo entregou-se à pregação, afirmando e provando aos judeus que Jesus era o Messias. 6Mas, perante a oposição e as blasfémias deles, sacudiu as suas vestes e disse-lhes: «Que o vosso sangue recaia sobre as vossas cabeças. Eu não sou responsável por isso. De futuro, dirigir-me-ei aos pagãos.»

7Retirou-se dali e foi para casa de um certo Tício Justo, homem temente a Deus, cuja casa era contígua à sinagoga. 8No entanto, Crispo, o chefe da sinagoga, acreditou no Senhor, ele e todos os da sua casa; e muitos dos coríntios que ouviam Paulo pregar abraçavam também a fé e recebiam o Baptismo. 9Certa noite, o Senhor disse a Paulo, numa visão: «Nada temas, continua a falar e não te cales, 10porque Eu estou contigo e ninguém porá as mãos em ti para te fazer mal, pois tenho um povo numeroso nesta cidade.» 11Então, ele ficou lá durante um ano e seis meses, a ensinar-lhes a palavra de Deus.


Perante o tribunal de Galião - 12Sendo Galião procônsul da Acaia, levantaram-se os judeus, de comum acordo, contra Paulo e levaram-no ao tribunal. 13«Este homem - disseram eles - induz as pessoas a prestar culto a Deus de uma forma contrária à Lei.» 14Paulo ia abrir a boca, quando Galião disse aos judeus: «Se se tratasse de uma injustiça ou grave delito, escutaria as vossas queixas, ó judeus, como é meu dever. 15Mas como se trata de um conflito doutrinal sobre palavras e nomes e acerca de vossa própria Lei, o assunto é convosco. Recuso-me a ser juiz em semelhante questão.» 16E mandou-os sair do tribunal. 17Então todos se apoderaram de Sóstenes, o chefe da sinagoga, e puseram-se a bater-lhe diante do tribunal. E Galião não se importou nada com isso.


Regresso a Antioquia - 18Depois de se ter demorado ainda algum tempo em Corinto, Paulo despediu-se dos irmãos e embarcou para a Síria, com Priscila e Áquila, rapando a cabeça em Cêncreas, por causa de um voto que tinha feito. 19Chegaram a Éfeso, onde os deixou, e foi à sinagoga falar com os judeus. 20Estes pediram que prolongasse a sua estadia, mas não acedeu. 21Porém, despedindo-se, disse-lhes: «Voltarei novamente ter convosco, se Deus quiser.»

E partiu de Éfeso. 22Desembar-cou em Cesareia, subiu para saudar a igreja e desceu a Antioquia.


23Depois de aí ter passado algum tempo, voltou a partir e percorreu sucessivamente a Galácia e a Frígia, fortalecendo todos os discípulos.


Pregação de Apolo - 24Entretanto, chegara a Éfeso um judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem eloquente e muito versado nas Escrituras. 25Fora instruído na «Via» do Senhor e, com o espírito cheio de fervor, pregava e ensinava com precisão o que dizia respeito a Jesus, embora só conhecesse o baptismo de João. 26Começou a falar desassombradamente na sinagoga. Priscila e Áquila, que o tinham ouvido, tomaram-no consigo e expuseram-lhe, com mais precisão, a «Via» do Senhor.

27Como ele queria partir para a Acaia, os irmãos encorajaram-no e escreveram aos discípulos, para que o recebessem amigavelmente. Quando lá chegou, pela graça de Deus, prestou grande auxílio aos fiéis; 28pois refutava energicamente os judeus, em público, demonstrando pelas Escrituras que Jesus era o Messias.

Capítulo 19

Paulo em Éfeso - 1Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, depois de atravessar as regiões do interior, chegou a Éfeso. Encontrou alguns discípulos 2e perguntou-lhes: «Recebestes o Espírito Santo, quando abraçastes a fé?» Responderam: «Mas nós nem sequer ouvimos dizer que existe o Espírito Santo.» 3E indagou: «Então, que baptismo recebestes?» Responderam eles: «O baptismo de João.» 4«João - disse Paulo - ministrou apenas um baptismo de penitência e dizia ao povo que acreditasse naquele que ia chegar depois dele, isto é, Jesus.» 5Quando isto ouviram, baptizaram-se em nome do Senhor Jesus. 6E, tendo-lhes Paulo imposto as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles e começaram a falar línguas e a profetizar. 7Eram, ao todo, uns doze homens.

8Paulo foi, em seguida, à sinagoga, onde, durante três meses, falou desassombradamente e argumentava de forma a persuadir os seus ouvintes sobre o que dizia respeito ao Reino de Deus. 9Como alguns se mostrassem renitentes e não acreditassem, dizendo mal da «Via» perante a multidão, rompeu com eles, afastou-se com os seus discípulos e começou a ensinar diariamente na escola de Tirano. 10Isto prolongou-se por dois anos, de modo que todos os habitantes da Ásia, tanto judeus como gregos, puderam ouvir a palavra do Senhor.

11Deus fazia milagres extraordinários por intermédio de Paulo, 12a tal ponto que bastava aplicar aos doentes os lenços e as roupas que tinham estado em contacto com o seu corpo, para que as doenças e os espíritos malignos os deixassem.


Os exorcistas judeus - 13Entretanto, alguns dos exorcistas judeus, ambulantes, tentaram invocar o nome do Senhor Jesus sobre os que estavam possuídos de espíritos malignos, dizendo: «Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo anuncia.»

14E havia sete filhos de um certo Escevas, Sumo Sacerdote judeu, que se entregavam a estas práticas. 15Mas o espírito maligno replicou-lhes: «Eu conheço Jesus e sei quem é Paulo; mas vós, quem sois?» 16E atirando-se a eles o homem que estava possuído do espírito maligno, apoderou-se de uns e de outros e tratou-os tão violentamente, que tiveram de fugir daquela casa, nus e cobertos de contusões. 17Todos os habitantes de Éfeso, judeus e gregos, souberam da ocorrência, e todos se encheram de temor, sendo enaltecido o nome do Senhor Jesus. 18Muitos dos que tinham abraçado a fé vieram confessar e declarar as suas práticas. 19E muitos dos que se tinham dedicado à magia trouxeram os seus livros e queimaram-nos diante de todos. O valor dos livros foi calculado em cinquenta mil moedas de prata. 20Era assim que a palavra do Senhor se desenvolvia e fortalecia vigorosamente.

21Depois destes acontecimentos, Paulo resolveu ir a Jerusalém, passando pela Macedónia e Acaia. «Depois de eu lá ter estado - disse ele - tenho de ver Roma também.» 22Enviou, então, à Macedónia dois auxiliares seus, Timóteo e Erasto. Quanto a ele, ficou ainda mais algum tempo na Ásia.


Tumulto contra Paulo - 23Por esse tempo, levantou-se não pequeno tumulto a respeito da «Via.» 24Um certo Demétrio, ourives que fazia santuários de Ártemis, de prata, e proporcionava aos artífices um negócio lucrativo, 25convocou-os, assim como a outros que trabalhavam em obras semelhantes e, disse: «Sabeis, amigos, que a esta indústria devemos a nossa prosperidade. 26Ora, como vedes e ouvis dizer, não só em Éfeso, mas também em toda a Ásia, esse Paulo convenceu e desviou imensa gente, afirmando que não são deuses os que são feitos pelas mãos do homem. 27Isto não só faz correr o risco de cair em descrédito a nossa indústria, mas também de se reputar como nada o templo da grande deusa Ártemis, e de vir a perder o prestígio aquela que a Ásia inteira e todo o mundo veneram.»

28Quando isto ouviram, enfureceram-se e começaram a dizer em altos brados: «Grande é a Ártemis dos efésios!» 29A desordem espalhou-se pela cidade inteira e todos, em massa, se precipitaram para o teatro, arrastando com eles os macedónios Gaio e Aristarco, companheiros de viagem de Paulo. 30Paulo queria apresentar-se diante da assembleia do povo, mas os discípulos opuseram-se a isso 31e até alguns dos asiarcas, seus amigos, lhe mandaram pedir que não se apresentasse no teatro.

32Cada qual gritava por seu lado, pois a assembleia estava em confusão, e a maior parte não sabia por que motivo se tinha reunido. 33Então, do meio da multidão, saiu Alexandre, previamente informado, que os judeus empurravam para a frente. Alexandre, com um sinal da mão, deu a entender que desejava dar explicações ao povo. 34Mas, quando se aperceberam de que ele era judeu, todos começaram a gritar, numa só voz, durante cerca de duas horas: «Grande é a Ártemis dos efésios!» 35Por fim, o secretário acalmou a multidão e disse: «Efésios! Quem é o homem que ignora ser a cidade de Éfeso a guarda do templo da grande Ártemis e da sua estátua caída do céu? 36Portanto, sendo isto incontestável, deveis permanecer tranquilos e nada fazer com precipitação. 37Estes homens que trouxestes aqui não são culpados nem de sacrilégio, nem de blasfémias, em relação à nossa deusa. 38Consequentemente, se Demétrio e os artífices que estão com ele têm alguma queixa contra alguém, há audiências públicas e há procônsules; venham debater-se em juízo. 39Mas, se tiverdes qualquer outra questão a debater, ela será resolvida na assembleia legal. 40É possível que sejamos acusados de insurreição a propósito do que hoje sucedeu, pois não existe motivo algum com que possamos vir a justificar este ajuntamento.» E, com estas palavras, dissolveu a assembleia.

Capítulo 20

De novo na Macedónia e na Grécia - 1Logo que cessou o tumulto, Paulo reuniu os discípulos, fez-lhes as suas recomendações, despediu-se deles e partiu para a Macedónia. 2Percorreu toda aquela região, exortou demoradamente os fiéis e, depois, chegou à Grécia, 3onde esteve três meses.

Uma conspiração, fomentada contra ele pelos judeus, quando ia embarcar para a Síria, levou-o a tomar a decisão de regressar pela Macedónia. 4Acompanharam-no Sópatro, filho de Pirro, de Bereia; Aristarco e Secundo, de Tessalónica; Gaio, de Derbe, e Timóteo, Tíquico e Trófimo, da província da Ásia.

5Estes partiram à frente e esperaram-nos em Tróade. 6Quanto a nós, embarcámos em Filipos, depois dos dias dos Ázimos e encontrámo-nos, cinco dias depois, em Tróade, onde passámos uma semana.


Em Tróade. Ressurreição de um morto - 7No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para partir o pão, Paulo, que devia partir no dia seguinte, começou a falar com eles e prolongou a sua pregação até à meia-noite. 8Havia bastantes lâmpadas na sala de cima, onde estávamos reunidos.

9Ora um jovem, de nome Eutico, que estava sentado numa janela, adormeceu profundamente, enquanto Paulo se alongava no seu sermão. Dominado pelo sono, caiu do terceiro andar e levantaram-no já morto. 10Paulo desceu e, lançando-se sobre ele, apertou-o nos braços e disse: «Não façais barulho, pois a alma ainda está nele.» 11Depois, voltou para cima, partiu o pão, comeu e falou demoradamente até de madrugada. Só então se retirou. 12Quanto ao jovem, levaram-no vivo, o que foi motivo de grande consolação.


De Tróade a Mileto - 13Quanto a nós, partindo à frente por mar, largámos para Asso, onde deveríamos encontrar Paulo; assim tinha determinado, devendo ele ir por terra.

14Quando nos reunimos em Asso, levámo-lo para bordo e seguimos para Mitilene. 15Partimos de lá e, no dia seguinte, estávamos em frente de Quio. No outro dia, navegávamos para Samos e, no dia imediato, depois de uma escala em Trógilo, chegámos a Mileto. 16Paulo tinha decidido passar ao largo de Éfeso, a fim de não perder tempo na Ásia. Ia com pressa, pois diligenciava estar em Jerusalém, se possível, no dia de Pentecostes.


O adeus aos anciãos de Éfeso - 17De Mileto, Paulo mandou chamar os anciãos da igreja de Éfeso. 18Quando chegaram junto dele, disse-lhes:

«Sabeis como, desde o primeiro dia em que cheguei à Ásia, procedi sempre convosco. 19Tenho servido o Senhor com toda a humildade e com lágrimas, no meio das provações, que as ciladas dos judeus me acarretaram. 20Jamais recuei perante qualquer coisa que vos pudesse ser útil. Preguei e instruí-vos, tanto publicamente como nas vossas casas, 21afirmando a judeus e gregos a necessidade de se converterem a Deus e de acreditarem em Nosso Senhor Jesus.

22E agora, obedecendo ao Espírito, vou a Jerusalém, sem saber o que lá me espera; 23só sei que, de cidade em cidade, o Espírito Santo me avisa de que me aguardam cadeias e tribulações. 24Mas, a meus olhos, a vida não tem valor algum; basta-me poder concluir a minha carreira e cumprir a missão que recebi do Senhor Jesus, dando testemunho do Evangelho da graça de Deus.

25Agora sei que não vereis mais o meu rosto, todos vós, no meio de quem passei, proclamando o Reino. 26Por isso, tomo-vos hoje por testemunhas de que estou limpo do sangue de todos, 27pois jamais recuei, quando era preciso anunciar-vos todos os desígnios de Deus. 28Tomai cuidado convosco e com todo o rebanho, de que o Espírito Santo vos constituiu administradores para apascentardes a Igreja de Deus, adquirida por Ele com o seu próprio sangue.

29Sei que, depois de eu partir, se hão-de introduzir entre vós lobos temíveis que não pouparão o rebanho 30e que, mesmo no meio de vós, se hão-de erguer homens de palavras perversas para arrastarem discípulos atrás de si. 31Estai, pois, vigilantes e recordai-vos de que, durante três anos, de noite e de dia, não cessei de exortar, com lágrimas, cada um de vós. 32E agora, confio-vos a Deus e à palavra da sua graça, que tem o poder de construir o edifício e de vos conceder parte na herança com todos os santificados.

33Jamais cobicei prata, nem ouro, nem o vestuário de alguém. 34E bem sabeis que foram estas mãos que proveram às minhas necessidades e às dos meus companheiros. 35Em tudo vos demonstrei que deveis trabalhar assim, para socorrerdes os fracos, recordando-vos das palavras que o próprio Senhor Jesus disse: ‘A felicidade está mais em dar do que em receber.’»

36Depois destas palavras, ajoelhou-se com todos eles e orou. 37Todos romperam em pranto e, lançando-se ao pescoço de Paulo, começaram a abraçá-lo, 38consternados, sobretudo, com as palavras que lhes dissera: que não veriam mais o seu rosto. Em seguida, acompanharam-no ao barco.

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