Rute

Na Bíblia Hebraica, a história de Rute vem colocada entre os Escri­tos (Ketubim). A tradição grega e latina apresentam outra ordem: recuam-na para junto do livro dos Juízes, provavelmente pela indicação contida em 1,1, que situa os acontecimentos deste livro naquela época.

Tal como hoje nos aparece, este pequeno livro foi escrito provavelmente só depois do cativeiro da Babilónia. Um autor desconhecido deixou-nos esta bela composição literária.


DIVISÃO

A narração desenvolve-se numa harmonia notável de quatro cenas (1,7-22; 2,1-23; 3,1-18; 4,1-12), precedidas de uma introdução (1,1-6) e seguidas de uma conclusão (4,13-17).

Mais do que no amor, o livro de Rute centra o seu enredo no motivo legal do levirato e do resgate: quando um homem morre, sem deixar descen­dên­cia, o irmão ou o parente mais próximo deve receber a viúva e gerar filhos, que perpetuarão a memória do defunto; e deve ter igual atenção em relação aos bens patrimoniais. Assim se cumpria a lealdade familiar no quadro da legislação antiga (Dt 25,5-10). É esta lealdade que torna exemplar, mesmo admirável, o livro de Rute.

As suas personagens têm nomes carregados de simbolismo: Elimélec = “o meu Deus é rei”; Noemi = “minha doçura”; Mara = “amargurada”; Maalon = “enfermidade”; Quilion = “fragilidade”; Orpa = “a que volta as costas”; Rute = “a amiga”. Estes nomes representam, no cenário de uma sociedade agrí­cola, o drama do infortúnio e do luto, mas também a força triunfante da soli­darie­dade e da vida.


TEOLOGIA

Rute é uma história bíblica em que Deus se faz presente, não através de acontecimentos extraordinários, mas no cumprimento das nor­mas sociais mais comuns. Este Deus discreto, quase silencioso, não é, porém, menos actuante e surpreendente na manifestação da sua fidelidade.

Em linguagem aparentemente inofensiva, o livro parece conter um pro­testo muito hábil contra o rigor exagerado da época de Esdras e Neemias, relativamente aos casamentos mistos (Esd 9-10; Ne 13,1-3.23-27). Na histó­ria de Rute pode ver-se como o Deus de Israel, que per­mitiu a uma moabita entrar na genealogia de David (e por isso mesmo, na do próprio Jesus Cristo: Mt 1,5-17), não podia ser tão rigo­roso que excluísse as estrangeiras do seu povo.

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