Capítulo 11
1Jefté de Guilead era um valente guerreiro, filho de uma prostituta; Guilead foi quem gerou Jefté. 2A mulher de Guilead gerou-lhe filhos; estes cresceram e expulsaram Jefté, dizendo-lhe: «Não herdarás nada na casa do nosso pai, pois és filho de uma mulher estrangeira.» 3Jefté afastou-se da presença de seus irmãos e foi morar para a terra de Tob; juntaram-se-lhe homens sem eira nem beira e partiram com ele.
4Ora, ao fim de um certo tempo, os amonitas fizeram guerra a Israel. 5E como os amonitas moveram guerra a Israel, os anciãos de Guilead foram buscar Jefté à terra de Tob. 6E disseram-lhe: «Vem! Sê o nosso chefe, e poderemos lutar contra os amonitas.» 7Jefté, porém, disse aos anciãos de Guilead: «Não fostes vós, por acaso, que me odiastes e me escorraçastes de casa de meu pai? Como é que me procurais agora que estais em aflição?» 8Os anciãos de Guilead disseram, então, a Jefté: «Vimos agora ter contigo exactamente para que tu venhas connosco, lutes contra os amonitas e sejas o nosso chefe, o chefe de todos os habitantes de Guilead.»
9Jefté disse, então, aos anciãos de Guilead: «Se me fazeis voltar para lutar contra os amonitas, e se o Senhor os entregar ao meu poder, então eu serei o vosso chefe.» 10Os anciãos de Guilead disseram, então, a Jefté: «O Senhor será testemunha entre nós, se nós não procedermos como acabas de dizer!» 11Então, Jefté partiu com os anciãos de Guilead, e o povo pô-lo como chefe e capitão, à sua frente; Jefté repetiu todas as suas condições na presença do Senhor, em Mispá.
Negociações com o rei dos amonitas (Nm 20,14-21; Dt 2,18-19.26-37; 2 Sm 10,6-15; 12,26-31) – 12Jefté enviou mensageiros ao rei dos amonitas, a dizer-lhe: «Que há entre mim e ti, para vires contra mim fazer guerra ao meu país?» 13O rei dos amonitas disse aos mensageiros de Jefté: «É porque Israel conquistou o meu país no seu regresso do Egipto, desde o Arnon ao Jaboc e ao Jordão; agora, pois, restitui-mo pacificamente.»
14Então, Jefté tornou a enviar mensageiros ao rei dos amonitas, dizendo: 15«Assim fala Jefté: “Israel não tomou o país dos filhos de Moab nem de Amon. 16De facto, quando subia do Egipto, Israel dirigiu-se ao deserto, na direcção do Mar dos Juncos e chegou a Cadés. 17Israel enviou, então, mensageiros ao rei de Edom dizendo-lhe: ‘Deixa que eu atravesse o teu país.’ O rei de Edom, porém, não lhe deu ouvidos. Enviou-os, também, ao rei de Moab; mas ele não consentiu; por isso, Israel deteve-se em Cadés. 18Palmilhou de novo o deserto, contornou a terra de Edom e a de Moab, e chegou a oriente do país de Moab. Acamparam do outro lado do Arnon, mas não penetraram no território de Moab, porque o Arnon é a fronteira de Moab. 19Israel enviou mensageiros a Seon, rei amorreu de Hesbon, e disse-lhe: ‘Por favor, deixa-me atravessar o teu país até ao lugar do meu destino.’ 20Seon, porém, não confiou em Israel, recusando-lhe passagem através do seu território; Seon, então, reuniu todo o seu povo, que acampou em Jaás, e travou combate contra Israel. 21O Senhor, Deus de Israel, entregou Seon e todo o seu povo nas mãos de Israel, que os derrotou. Então, Israel apoderou-se de toda a terra dos amorreus que habitavam nesse país. 22Possuíram, pois, toda a terra dos amorreus, desde o Arnon até ao Jaboc, e desde o deserto até ao Jordão. 23Se, portanto, foi o Senhor, Deus de Israel, que expulsou os amorreus em favor do seu povo, quererás tu próprio desapossá-lo? 24Não possuis tu, acaso, tudo quanto o teu deus Camós te deu em posse? E não deveríamos nós, também, possuir tudo quanto o Senhor, nosso Deus, pôs diante de nós para o possuirmos? 25E agora, serás tu mais forte do que Balac, filho de Cipor, rei de Moab? Acaso pretendeu ele ser mais forte do que Israel e lutar contra ele? 26Há já trezentos anos que Israel habita em Hesbon e suas redondezas, em Aroer e suas redondezas, e em todas as cidades situadas nas margens do Arnon; porque é que os não despojaste durante esse tão longo período? 27Quanto a mim, não sou eu que te causo dano algum; és tu próprio que me prejudicas a mim, lutando contra mim. Que o Senhor, o Juiz, decida hoje entre os filhos de Israel e os de Amon”.»
28O rei dos filhos de Amon não deu ouvidos às palavras que Jefté lhe dirigiu.
Voto de Jefté (Gn 22,1-19; 2 Rs 3,27; Mq 6,7) – 29Então, o espírito do Senhor desceu sobre Jefté; Jefté atravessou Guilead e Manassés; depois, Mispá de Guilead; de Mispá de Guilead atravessou a fronteira dos amonitas. 30Jefté fez um voto ao Senhor, dizendo: «Se realmente entregas nas minhas mãos os amonitas, 31pertencerá ao Senhor quem quer que saia das portas da minha casa para me vitoriar pelo meu regresso a salvo da terra dos amonitas; eu oferecê-lo-ei em holocausto.»
32Então, Jefté marchou contra os amonitas e travou combate contra eles; o Senhor entregou-os nas suas mãos. 33Derrotou-os desde Aroer até às proximidades de Minit, tomando-lhes vinte cidades, e até Abel-Queramim; foi uma derrota muito grande; deste modo, os amonitas foram humilhados pelos filhos de Israel.
Morte da filha de Jefté – 34Quando Jefté regressou a sua casa em Mispá, eis que sua filha saiu para o vitoriar, dançando e tocando tamborim; ela era filha única; não tinha mais filhos nem filhas. 35Ao vê-la, rasgou as suas vestes e disse: «Ai, minha filha! Tu fazes-me lançar no desespero! Tu és a minha desgraça! Eu falei demais na presença do Senhor; agora não posso tornar atrás.»
36Ela disse-lhe: «Meu pai, tu falaste demais na presença do Senhor; faz comigo segundo o que saiu da tua boca, pois o Senhor deu-te a vingança contra os teus inimigos, os amonitas.» 37Depois, disse a seu pai: «Concede-me o seguinte: deixa-me sozinha durante dois meses para que eu vá vaguear pelas montanhas, chorando a minha virgindade, eu e as minhas companheiras.» 38Ele disse: «Vai.»
E deixou-a partir durante dois meses; ela foi com as suas companheiras e chorou sobre as montanhas a sua virgindade. 39Ao fim de dois meses, voltou para junto de seu pai; este cumpriu nela o voto que havia feito. Ora ela não conhecera homem e foi assim que nasceu em Israel 40o costume de, todos os anos, as filhas de Israel irem celebrar a filha de Jefté de Guilead, quatro dias por ano.
Capítulo 12
Guerra entre os habitantes de Efraim e de Guilead (8,1-3) – 1Os homens de Efraim amotinaram-se; dirigiram-se para Safon e disseram a Jefté: «Porque é que marchaste em luta contra os amonitas, sem nos chamar para combatermos a teu lado? Vamos queimar-te vivo, assim como à tua família.» 2Jefté ripostou: «Eu e o meu povo tivemos uma grande contenda com os amonitas; chamei-vos, mas vós não me livrastes das suas mãos. 3Quando vi que vós não vínheis para me salvar, arrisquei a minha vida e transpus as fronteiras dos amonitas; o Senhor pô-los nas minhas mãos. Porque viestes, agora, lutar contra mim?»
4Foi então que Jefté reuniu todos os homens de Guilead e travou combate contra Efraim. Os homens de Guilead derrotaram os de Efraim, pois eles tinham dito: «Vós, povo de Guilead, sois fugitivos de Efraim, vivendo entre Efraim e Manassés.» 5Guilead apossou-se dos vaus do Jordão, do lado de Efraim; sempre que um fugitivo de Efraim dizia: «Deixai-me passar», respondiam-lhe os homens de Guilead: «Tu és de Efraim!» Ele retorquia: «Não sou, não!» 6Então, diziam-lhe: «Pois então diz, por favor, ‘Chibolet’»; ele, porém, dizia: ‘Sibolet’, porque não era capaz de pronunciar correctamente. Então, prendiam-no e degolavam-no junto aos vaus do Jordão. Nesse dia, morreram quarenta e dois mil homens de Efraim.
7Jefté foi juiz em Israel durante seis anos; depois, Jefté de Guilead morreu e foi sepultado na sua cidade natal, em Guilead.
8Depois de Jefté, foi juiz em Israel Ibsan, de Belém; 9teve trinta filhos e trinta filhas; casou-as fora da sua família; fez vir de fora trinta noivas para os seus filhos. Foi juiz em Israel durante sete anos. 10Ibsan morreu e foi sepultado em Belém.
11Depois de Ibsan, foi juiz em Israel, Elon de Zabulão. Foi juiz durante dez anos. 12Elon de Zabulão, morreu e foi sepultado em Elon, na terra de Zabulão.
13Depois de Elon, foi Abdon, filho de Hilel, de Piraton, quem foi juiz em Israel; 14teve quarenta filhos e trinta netos, que montavam em setenta jumentinhos; foi juiz em Israel durante oito anos. 15Abdon, filho de Hilel de Piraton, morreu e foi sepultado em Piraton, na terra de Efraim, na montanha dos amalecitas.
Capítulo 13
Nascimento de Sansão (Gn 11,30; 18,1-15; Nm 6,1-21; 1 Sm 1,1-28; Lc 1,5-25.26-38) – 1Os filhos de Israel recomeçaram a fazer o mal diante do Senhor, e o Senhor entregou-os nas mãos dos filisteus, durante quarenta anos. 2Houve um homem de Sorá, da tribo de Dan, cujo nome era Manoé; sua esposa era estéril, não tinha ainda concebido filhos. 3O anjo do Senhor apareceu a esta mulher e disse-lhe: «Já viste que és estéril e ainda não deste à luz; mas vais conceber e dar à luz um filho. 4Doravante abstém-te, não bebas vinho nem qualquer bebida alcoólica; não comas nada impuro, 5porque vais conceber e dar à luz um filho. A navalha não há-de tocar a sua cabeça, pois o menino vai ser consagrado a Deus desde o seio materno; ele mesmo vai começar a salvar Israel das mãos dos filisteus.»
6A mulher voltou e disse ao marido: «Um homem de Deus veio ter comigo; o seu aspecto era semelhante ao de um anjo do Senhor e temível. Não lhe perguntei de onde ele era, nem ele me revelou o seu nome. 7Disse-me ele: ‘Eis que vais conceber e dar à luz um filho; doravante não bebas vinho nem bebida alcoólica; não comas nada de impuro, pois esse jovem será consagrado ao Senhor desde o seio materno até ao dia da sua morte.’» 8Então, Manoé suplicou ao Senhor, dizendo:
«Por favor, Senhor! Que o homem de Deus que mandaste, venha outra vez até nós e nos ensine como havemos de fazer com o menino, quando ele tiver nascido.» 9Deus ouviu a voz de Manoé; o anjo do Senhor veio ter novamente com a mulher; estava sentada no campo, e Manoé, seu marido, não estava com ela. 10A mulher correu a comunicar ao marido, dizendo:
«Eis que o homem que veio ter comigo voltou a aparecer-me.» 11Manoé levantou-se, foi atrás da sua mulher, dirigiu-se ao homem e perguntou: «És tu o homem que falou a esta mulher?» E ele respondeu: «Sou eu mesmo.» 12Manoé disse-lhe: «Então, uma vez que a tua palavra se vai realizar, que regras se devem seguir com o menino? Que tem ele de fazer?» 13O anjo do Senhor disse a Manoé: «De tudo quanto Eu mencionei a esta mulher, ela há-de abster-se. 14Que não coma de nada do que provém do fruto da vinha; não beberá vinho nem bebida alcoólica; não comerá nada impuro e deverá observar tudo quanto lhe ordenei.»
15Então, Manoé disse ao anjo do Senhor: «Por favor! Fica um pouco connosco, para te oferecermos um cabrito!» 16O anjo do Senhor disse a Manoé: «Ainda que me retivesses aqui, Eu não iria comer do teu pão; mas, se quiseres oferecer um holocausto, oferece-o ao Senhor!» É que Manoé não sabia que ele era o anjo do Senhor.
17Então, Manoé disse ao anjo do Senhor: «Qual é o teu nome? Pois queremos prestar-te homenagem, quando se realizarem as tuas palavras.» 18E o anjo do Senhor disse-lhe: «Por que razão mo perguntas? O meu nome é misterioso!» 19Então, tomou Manoé o cabrito com a oferenda e ofereceu-o sobre a rocha ao Senhor, que faz coisas misteriosas. Manoé e sua mulher observavam. 20Ora enquanto a chama subia do altar para o céu, subia também na chama do altar o anjo do Senhor; ao verem isto, Manoé e sua mulher caíram com a face por terra. 21O anjo do Senhor não voltou a aparecer a Manoé nem à sua mulher; foi então que Manoé reconheceu que era o anjo do Senhor.
22Disse Manoé à esposa: «Vamos morrer, não há dúvida, porque vimos o Senhor!» 23Disse-lhe, então, sua mulher: «Se o Senhor nos quisesse matar não teria recebido das nossas mãos o holocausto nem a oferenda; nem nos teria feito ver tudo isto; nem tão-pouco nos teria comunicado, neste momento, estas instruções.» 24A mulher deu à luz um filho e pôs-lhe o nome de Sansão; o menino cresceu e o Senhor abençoou-o. 25Foi em Maané-Dan, entre Sorá e Estaol, que o espírito do Senhor começou a agitar Sansão.
Capítulo 14
Sansão apaixonado por uma filisteia (Gn 24,3-4; 28,1-2) – 1Sansão desceu a Timna e viu lá uma mulher das filhas dos filisteus; 2voltou e comunicou a seu pai e a sua mãe, dizendo: «Vi em Timna uma mulher das filhas dos filisteus. Portanto, ide pedi-la para minha esposa.» 3Então, seu pai e sua mãe disseram-lhe: «Não há, porventura, uma mulher entre as filhas de teus irmãos e em todo o meu povo, para ires escolher mulher entre os filisteus, esses incircuncisos?» Mas Sansão disse a seu pai: «Pede-a para mim, pois é ela a que me agrada.» 4Seu pai e sua mãe não sabiam que isto acontecia por disposição do Senhor, que procurava um pretexto para combater os filisteus. Nesse tempo, os filisteus dominavam sobre Israel.
5Então, Sansão desceu a Timna com seu pai e sua mãe; quando chegaram às vinhas de Timna, eis que um jovem leão arremeteu contra eles, rugindo ferozmente. 6Apoderou-se dele o espírito do Senhor e Sansão, sem ter à mão qualquer arma, despedaçou-o como se despedaça um cabrito; mas não contou nem ao pai nem à mãe o que fizera. 7Depois desceu e falou à mulher e ela agradou a Sansão.
8Alguns dias depois, regressou para desposá-la, mas afastou-se do caminho para ver o cadáver do leão; e eis que, na carcaça do leão, havia um enxame de abelhas e mel. 9Recolheu-o na palma das mãos e, enquanto caminhava, foi comendo dele. Chegado junto do pai e da mãe, deu-lhes do mel; eles comeram, mas não lhes disse que colhera o mel da carcaça do leão.
O casamento e o enigma – 10Depois, seu pai desceu à casa da mulher, e Sansão fez lá um banquete, pois assim costumavam fazer os jovens. 11Quando o viram, foram buscar trinta companheiros para ficarem com ele. 12Sansão disse-lhes: «Quero propor-vos um enigma; se vós, tendo-o decifrado, me revelardes o seu significado durante os sete dias dos festejos, dar-vos-ei trinta túnicas e trinta mudas de roupa. 13Mas, se vós não fordes capazes de mo revelar, sois vós quem tem de me dar, a mim, trinta túnicas e trinta mudas de roupa.» Eles disseram: «Pois propõe lá o enigma, que nós somos todos ouvidos!» 14Então, disse-lhes ele: «Do que come saiu o que se come, e do que é forte saiu o que é doce!» E, passados três dias, ainda eles não haviam sido capazes de decifrar o enigma.
15No sétimo dia, disseram à esposa de Sansão: «Seduz o teu marido para que ele nos revele o sentido do enigma; de outro modo, queimar-te-emos a ti e à casa de teu pai. Foi, talvez, para nos espoliar que nos convidastes?» 16Então, a mulher de Sansão desfez-se em lágrimas diante dele, dizendo-lhe: «Tu só me tens ódio! E não me tens amor! Desse enigma que propuseste ao meu povo, não me confiaste o seu significado!» Ele disse-lhe então: «Não o revelei a meu pai nem a minha mãe, e ia revelar-to a ti!» 17Ela desfez-se em lágrimas diante dele durante os sete dias que duraram os festejos; mas eis que, no sétimo dia, Sansão lhe revelou o sentido, pois ela o importunara. Então, ela explicou-o claramente aos filhos do seu povo.
18No sétimo dia, antes do pôr-do-sol, o povo da cidade disse a Sansão: «Que coisa há que seja mais doce do que o mel, e mais forte do que o leão?» Ele respondeu-lhes: «Se vós não tivésseis lavrado com a minha novilha não teríeis descoberto o meu enigma.» 19Apoderou-se dele, então, o espírito do Senhor, e foi a Ascalon; matou ali trinta homens, tomou os seus despojos e deu-os aos que lhe tinham revelado o significado do enigma. Fervendo de cólera, voltou para casa de seu pai. 20Quanto à mulher de Sansão, foi dada ao jovem que lhe servira de companheiro de boda.
Capítulo 15
Fogo nas searas dos filisteus – 1Ora, pouco tempo depois, na época da ceifa do trigo, foi Sansão visitar sua esposa, levando-lhe um cabrito; e disse: «Quero entrar no quarto de minha mulher.» Mas o pai dela não o deixou entrar, e disse a Sansão: 2«Para dizer a verdade, pensei para comigo que já não gostavas dela, e dei-a a um dos teus companheiros de boda. Contudo, a sua irmã mais nova vale mais do que ela. Que esta seja, pois, tua esposa em lugar dela.» 3Respondeu-lhe Sansão: «Agora, estou livre para fazer mal aos filisteus e vou fazer-lho.» 4Saiu, pois, apanhou trezentas raposas, prendeu-as duas a duas pelas caudas e, tomando tochas, atou uma tocha no meio das duas caudas. 5Pegou fogo às tochas e, soltando as raposas por entre as searas dos filisteus, queimou tanto o trigo que já estava atado aos molhos ou ainda por ceifar, como, também, as vinhas e os olivais.
6Então, os filisteus perguntaram: «Quem fez isto?» «Foi Sansão, o genro do homem de Timna, por ele ter tomado a sua esposa e tê-la dado a um dos seus companheiros de boda.» Os filisteus subiram, então, e queimaram a mulher de Sansão juntamente com seu pai. 7Disse-lhes Sansão: «Porque procedestes assim, não descansarei enquanto me não vingar outra vez.» 8Atacou-os, pois, impiedosamente, destroçando-os. Depois desceu e foi morar na gruta de Etam.
Força de Sansão – 9Os filisteus entraram na terra de Judá para aí acamparem, dispersando-se até Leí. 10Disseram-lhes, então, os homens de Judá: «Por que razão viestes atacar-nos?» Eles responderam: «Viemos prender Sansão, a fim de lhe fazermos a ele o que ele nos fez a nós.» 11Então, três mil homens de Judá desceram à gruta do rochedo de Etam, e disseram a Sansão: «Não sabes que os filisteus nos dominam? Que é que nos fizeste?» Sansão respondeu: «Como eles me fizeram a mim, assim lhes fiz eu também.» 12Eles replicaram: «Nós viemos para te prender e entregar-te nas mãos dos filisteus.»
Disse-lhes Sansão: «Jurai-me e prometei que não me matareis vós mesmos.» 13Eles responderam: «Não, nós só te queremos prender e entregar-te nas mãos deles; nós não queremos matar-te.» Ataram-no, então, com duas cordas novas e fizeram-no sair da gruta.
14Tendo chegado junto de Leí, os filisteus saíram-lhes ao encontro, soltando gritos de alegria; mas o espírito do Senhor apoderou-se dele e as duas cordas que lhe ligavam os braços tornaram-se como fios de linho derretidos ao fogo, caindo-lhe das mãos as ligaduras. 15Depois, tendo encontrado uma queixada de jumento ainda fresca, estendeu a mão, apanhou-a e matou com ela mil homens. 16Sansão exclamou: «Com a queixada de um jumento os destrocei; com uma queixada de jumento matei mil homens!» 17Quando acabou de falar, lançou para longe de si a queixada; por isso chamou-se àquele lugar Ramat-Leí.
18Sentindo uma sede intensa, invocou o Senhor, dizendo: «Foste Tu quem colocou nas mãos do teu servo esta grande vitória. Irei eu agora morrer de sede e cair nas mãos dos incircuncisos?» 19Então, Deus fendeu a rocha que está em Leí, e saiu dela água. Sansão bebeu e recobrou o espírito, reanimando-se. Por isso, deu-se o nome de En-Hacoré a essa fonte que ainda hoje se encontra em Leí. 20Sansão foi juiz em Israel durante vinte anos, no tempo dos filisteus.
Capítulo 16
As portas de Gaza – 1Sansão foi depois a Gaza, onde viu uma prostituta e entrou em casa dela. 2Disseram aos habitantes de Gaza: «Sansão veio cá.» Armaram-lhe uma emboscada durante toda a noite, às portas da cidade, e assim se mantiveram toda a noite, dizendo : «Esperemos a luz da manhã, e então o mataremos.»
3Sansão, porém, não dormiu mais do que até à meia-noite; à meia-noite levantou-se, agarrou os batentes da porta da cidade com os dois postes, arrancou-os com os ferrolhos, pô-los às costas e levou-os até ao alto do monte que fica em frente a Hebron.
Sansão e Dalila (14,15-20) – 4Depois disso, Sansão apaixonou-se por uma mulher que habitava no vale de Sorec, chamada Dalila. 5Os príncipes dos filisteus foram ter com ela e disseram-lhe: «Tenta seduzi-lo e descobre porque razão é tão grande a sua força, e de que modo poderemos ser mais fortes e prendê-lo para o dominar. Se conseguires, nós te daremos, cada um, mil e cem siclos de prata.»
6Dalila disse a Sansão: «Por favor, revela-me por que razão é tão grande a tua força e como poderás ser atado e dominado.» 7Sansão disse-lhe: «Se me ligassem com sete cordas de arco ainda frescas e húmidas, tornar-me-ia fraco, semelhante a qualquer homem.»
8Os príncipes dos filisteus levaram-lhe sete cordas de arco frescas e ainda húmidas; ela atou-o com elas. 9Ora a emboscada estava ali em casa, no quarto, e ela disse-lhe: «Sansão, vêm contra ti os filisteus!» Ele rebentou as cordas, como quem rebenta um cordão de estopa mal se lhe chega o fogo; e não se soube o segredo da sua força.
10Disse, pois, Dalila a Sansão: «Ora aí está! Escarneceste de mim e mentiste-me! Revela-me agora como poderás ser atado.» 11Ele disse-lhe: «Se me atassem fortemente com cordas novas, com as quais ainda não tivesse sido feito trabalho algum, eu ficaria sem força e semelhante a qualquer homem.»
12Tomou, então, Dalila cordas novas e atou-o com elas, dizendo-lhe, depois: «Sansão, vêm contra ti os filisteus!» A emboscada estava a postos no quarto, mas ele rebentou as cordas que estavam à volta dos braços, como se fossem fios de uma tela.
13Então, disse Dalila a Sansão: «Até agora, só tens zombado de mim, e só me tens dito mentiras; revela-me agora como poderás ser atado.» Sansão disse-lhe: «Basta teceres sete tranças da minha cabeleira com a urdidura do teu tear.» 14Ela adormeceu-o, fixou as sete tranças com o torno do tear e gritou: «Sansão, vêm contra ti os filisteus!» Ele despertou do sono e arrancou o torno do tear com os liços. 15Dalila disse-lhe: «Como podes dizer ‘Amo-te’, se o teu coração não está comigo? São já três vezes que brincas comigo, sem me revelares por que é tão grande a tua força!»
16Ora, como todos os dias ela o cansava e importunava com estas palavras, Sansão caiu num abatimento mortal. 17Acabou por lhe abrir todo o seu coração e dizer-lhe: «Sobre a minha cabeça jamais passou a navalha, pois sou consagrado a Deus desde o seio de minha mãe. Se eu fosse rapado, a minha força se afastaria de mim; ficarei sem forças tal como qualquer homem!»
18Dalila viu que ele lhe abrira todo o coração; mandou chamar os príncipes dos filisteus e disse-lhes: «Vinde, que, desta vez, ele abriu-me todo o seu coração.» Os príncipes dos filisteus foram ter com ela, levando consigo o dinheiro.
Corte dos cabelos e perda da força – 19Ela adormeceu Sansão sobre os seus joelhos, chamou um homem que lhe rapou as sete tranças da sua cabeleira; foi então que ele começou a ficar debilitado, e a sua força o abandonou.
20Ela disse-lhe: «Sansão, vêm contra ti os filisteus!» Ele despertou do sono e disse consigo mesmo: «Sair-me-ei bem como das outras vezes!» Mas ignorava que o Senhor se havia retirado dele.
21Os filisteus amarraram-no, arrancaram-lhe os olhos e levaram-no a Gaza, ligado com uma dupla cadeia de bronze; meteram-no na prisão e puseram-no a girar a mó. 22Mas, depois de ter sido rapado, os cabelos começaram de novo a crescer-lhe.
Morte de Sansão – 23Ora os príncipes dos filisteus reuniram-se para oferecer um grande sacrifício a Dagon, seu deus, e celebrar um banquete. E diziam: «O nosso deus entregou em nossas mãos Sansão, nosso inimigo.» 24O povo viu-o e louvou o seu deus, dizendo: «O nosso deus entregou-nos o nosso inimigo, que devastava a nossa terra e matava muitos dos nossos habitantes.» 25Como o seu coração estava alegre, os filisteus disseram: «Mandai vir Sansão para nos divertir.»
Mandaram buscar Sansão à prisão, e ele começou a dizer gracejos diante deles; depois, colocaram-no entre as colunas. 26Sansão disse ao jovem que o guiava pela mão: «Guia-me e faz-me tocar as colunas sobre as quais assenta este edifício, a fim de me apoiar nelas.» 27Ora o templo estava repleto de homens e mulheres; estavam lá todos os príncipes dos filisteus e, sobre o terraço, cerca de três mil homens e mulheres que tinham assistido aos gracejos de Sansão.
28Então, Sansão invocou o Senhor e disse: «Senhor, meu Deus, eu te peço, lembra-te de mim e torna-me forte outra vez, a fim de me vingar, ó Deus, de uma vez por todas, dos filisteus, pela perda dos meus dois olhos.» 29Tocando, então, as duas colunas centrais sobre as quais repousava todo o edifício, tomou uma com a mão direita e a outra com a esquerda, 30e gritou: «Morra eu com os filisteus!» Então sacudiu fortemente as colunas, e o templo ruiu sobre os príncipes dos filisteus e sobre todo o povo aí presente. Deste modo, Sansão na sua morte, matou muito mais gente do que matara em toda a sua vida. 31Seus irmãos e toda a sua família desceram, então, a Gaza, levaram o seu corpo e sepultaram-no no túmulo de Manoé, seu pai, entre Sorá e Estaol. Sansão tinha sido juiz em Israel durante vinte anos.
Capítulo 17
Santuário de Miqueias – 1Havia um homem da montanha de Efraim chamado Miqueias. 2Ele disse à sua mãe: «Os mil e cem siclos de prata que te foram roubados, e em relação aos quais tu própria pronunciaste uma maldição na minha presença ao dizer: ‘Este dinheiro é meu!’ Eis que eu mesmo o tomei para mim!» Sua mãe disse: «Sê abençoado, meu filho, pelo Senhor!» 3Então, ele devolveu à mãe os cento e dez siclos de prata, e esta disse-lhe: «De facto, eu própria consagrei ao Senhor este dinheiro em favor do meu filho, para se fazer com ele um ídolo e uma imagem de metal. Por isso, vou devolver-to.» 4Assim, quando ele entregou o dinheiro à mãe, ela pegou em duzentos siclos de prata que mandou entregar ao fundidor; este fez com a prata um ídolo e uma imagem de metal que foi colocada na casa de Miqueias.
5Então, a casa de Miqueias tornou-se para ele um santuário de Deus; mandou fazer uma insígnia votiva e ídolos domésticos e consagrou um dos seus filhos, que se tornou seu sacerdote. 6Naquele tempo, não havia rei em Israel; cada um fazia o que bem lhe parecia.
O levita de Belém – 7Ora havia também um jovem de Belém de Judá, da tribo de Judá, que era levita e morava ali como estrangeiro. 8Tinha partido da cidade de Belém à procura de um lugar onde pudesse morar como estrangeiro; chegou à montanha de Efraim, e foi andando sempre até à casa de Miqueias. 9Miqueias perguntou-lhe: «De onde vens tu?» E ele disse-lhe: «Eu sou um levita de Belém de Judá e ando à procura de um sítio onde possa residir como estrangeiro.»
10Então, Miqueias disse-lhe: «Fica, pois, comigo, e sê para mim um pai e um sacerdote. Pela minha parte, vou dar-te dez siclos de prata por ano, vestuário e alimento suficientes.»
11O jovem levita concordou em ficar na companhia deste homem, que passou a considerá-lo como um dos seus filhos. 12Miqueias investiu-o como sacerdote, e ele ficou na casa de Miqueias. 13Este disse, então: «Agora sei que o Senhor me vai tratar bem, porque este levita se tornou meu sacerdote.»
Capítulo 19
Corrupção de Guibeá – 1Ora, nesses dias, não havia rei em Israel. Aconteceu que um certo levita veio fixar-se junto da montanha de Efraim; tomou para si como mulher uma concubina de Belém de Judá. 2Essa concubina foi-lhe infiel e voltou para a casa de seu pai, em Belém de Judá, e ficou aí por um certo tempo, quatro meses inteiros. 3O marido foi ao seu encontro falando-lhe ao coração, a ver se conseguia reconduzi-la para junto de si. Levou consigo um criado e dois jumentos. A concubina fê-lo entrar em casa de seu pai. O pai da jovem, mal o viu, saiu feliz ao seu encontro. 4O sogro, pai da jovem, reteve-o em sua casa; ficou com ele durante três dias comendo, bebendo e dormindo ali. 5No quarto dia, levantaram-se de manhã cedo; estando ele decidido a partir, o sogro deteve-o e disse ao genro: «Restaura as tuas forças com um bocado de pão; depois partirás.» 6Sentaram-se, comeram e beberam juntos. O pai da jovem disse, então, a este homem: «Fica aqui esta noite, por favor, e que se alegre o teu coração.» 7Como o homem se levantasse disposto a partir, o seu sogro instou com ele; tornou a sentar-se e passou ali ainda aquela noite. 8Levantou-se de manhã cedo, no quinto dia, com intenção de partir; o pai da jovem disse outra vez: «Peço-te que restaures as tuas forças e adies a tua partida para o declinar deste dia.» E tornaram a comer juntos. 9Levantou-se, então, o homem resolvido a partir com a sua concubina e o criado. Disse-lhe, pois, o seu sogro, o pai da jovem: «Eis que o dia já desce; é quase noite; pernoita aqui, pois o dia declina; fica aqui; o teu coração rejubilará; partirás amanhã e chegarás à tua casa.»
10O homem, porém, não concordou em passar a noite; levantou-se e partiu. Chegou perto de Jebús, que é Jerusalém, e com ele os dois jumentos carregados e a sua concubina. 11Quando chegaram perto de Jebús, já o dia ia muito baixo. Disse então o jovem ao seu amo: «Vamos! Tomemos o caminho de Jebús. Ei-la aí; passemos lá a noite.» 12Respondeu-lhe o seu amo: «Não, não hei-de entrar numa cidade estrangeira; não é dos filhos de Israel! Nós iremos até Guibeá. 13Vamos, então – disse ele ao seu amo. Vamos atingir um desses lugares, e passemos a noite em Guibeá ou em Ramá.» 14Andando, pois, para diante, foram e aproximaram-se de Guibeá, na tribo de Benjamim. 15Afastaram-se dali a fim de passarem a noite em Guibeá.
O levita entrou e sentou-se na praça da cidade; ninguém os acolheu em sua casa para passarem a noite. 16Eis que, ao anoitecer, um velho veio do seu trabalho no campo. O homem era da montanha de Efraim; era viajante em Guibeá; os habitantes do local eram filhos de Benjamim. 17Erguendo os olhos viu aquele forasteiro sentado na praça da cidade e disse o velho: «Para onde vais e de onde vens?» 18Ele respondeu-lhe: «Partindo de Belém de Judá, viajamos em direcção ao extremo da montanha de Efraim. Eu sou de lá. Fui a Belém de Judá e agora volto para a casa do Senhor; não há ninguém que me acolha em sua casa. 19Há palha e há feno para os nossos jumentos e há pão e vinho para mim, para a tua serva e para o jovem que acompanha o teu servo; não estamos a precisar de nada!» 20O velho respondeu: «A paz esteja contigo; tudo o que precisares é comigo! Não passes a noite na praça!» 21Fê-lo entrar em sua casa e deu forragem aos jumentos; lavaram os pés, comeram e beberam.
Crime horrível – 22Enquanto restauraram as forças, eis que os homens da cidade, homens perversos, cercaram a casa, bateram com violência e disseram ao velho, dono da casa: «Manda cá para fora o homem que entrou para a tua casa, a fim de o conhecermos.» 23O dono da casa saiu a ter com eles e disse-lhes: «Não, meus irmãos! Eu vo-lo peço, por favor; não pratiqueis semelhante mal! Agora que este homem entrou em minha casa, não pratiqueis tal desonra! 24Eis a minha filha que está virgem e a concubina dele; vou fazê-las sair; abusai delas; fazei-lhes o que vos agradar! A este homem, porém, não lhe façais uma infâmia desta natureza!» 25Os homens, porém, não quiseram ouvi-lo; então o homem, o levita, tomou a sua mulher e levou-lha lá para fora; eles conheceram-na e satisfizeram com ela a sua luxúria durante toda a noite, até ao amanhecer; deixaram-na livre só de manhãzinha. 26Ao raiar da aurora a mulher caiu por terra à porta da casa do homem onde estava o seu marido, até vir o dia.
27O seu marido levantou-se de manhã cedo; abriu as portas de casa e saiu para seguir o seu caminho. Eis que a mulher, sua concubina, jazia prostrada à porta de casa de mãos estendidas sobre a soleira. 28Disse-lhe então: «Levanta-te e vamos!» Mas ela não respondeu! O homem colocou-a então sobre a sua montada; e partiu em direcção a sua casa. 29Tendo chegado lá, pegou num cutelo e, agarrando na sua concubina, esquartejou-a membro a membro em doze pedaços, enviando-os depois a todas as tribos de Israel.
30Quem via isto exclamava: «Nunca aconteceu nem se viu tal coisa, desde o dia em que os filhos de Israel subiram da terra do Egipto até este dia. Pensai bem nisto! Consultai-vos sobre isto e pronunciai-vos!»
Capítulo 20
Israel prepara a guerra – 1Todos os filhos de Israel se movimentaram, pois, como um só homem; reuniram-se à volta do Senhor, em Mispá, desde Dan a Bercheba, e bem assim a terra de Guilead. 2Todos os chefes do povo de todas as tribos de Israel se apresentaram perante a assembleia do povo de Deus, em número de quatrocentos mil homens, soldados de infantaria, peritos em manejar a espada. 3Os filhos de Benjamim ouviram dizer que os filhos de Israel tinham subido a Mispá. Disseram, então, os filhos de Israel: «Contai-nos de que modo aconteceu este crime.» 4O levita, marido da mulher assassinada, respondendo, disse:
«Eu tinha chegado com a minha concubina a Guibeá de Benjamim, para aí passarmos a noite. 5Amotinaram-se contra mim os senhores de Guibeá e, durante a noite, cercaram a casa em que eu estava e queriam matar-me; abusaram da minha concubina e ela morreu. 6Tomei-a e cortei-a em pedaços, enviando-a a toda a terra da herança de Israel, porque eles tinham perpetrado um crime vergonhoso, uma infâmia em Israel. 7Vós todos, filhos de Israel, dai um parecer e tomai uma decisão entre vós, aqui e agora!»
8Todo o povo, como um só homem, se levantou dizendo: «Nenhum de nós voltará à sua tenda, nenhum de nós regressará a sua casa. 9Eis o que agora vamos fazer a Guibeá: subiremos contra ela, por tiragem à sorte. 10Em todas as tribos de Israel tomaremos dez homens em cada cem, cem em cada mil e mil em cada dez mil, para irem procurar mantimentos para o povo, para aqueles que irão tratar Guibeá de Benjamim segundo a infâmia que cometeu contra Israel.» 11E todos os homens de Israel, como um só homem, se juntaram e foram unidos contra a cidade. 12As tribos de Israel enviaram mensageiros a toda a tribo de Benjamim a dizer: «Que crime é este que se cometeu no meio de vós? 13Agora entregai-nos esses homens malvados que estão em Guibeá e nós os mataremos e arrancaremos o mal de Israel.» Os filhos de Benjamim, porém, não quiseram dar ouvidos à voz de seus irmãos, os filhos de Israel.
Primeiros recontros – 14Juntaram-se os filhos de Benjamim, vindos das suas cidades, em Guibeá, para saírem a guerrear contra os filhos de Israel. 15Nesse dia, vindos das suas cidades, os filhos de Benjamim recensearam-se em cerca de vinte e seis mil, peritos em manejar a espada, sem contar os habitantes de Guibeá, cujo recenseamento contava uns setecentos homens escolhidos. 16Entre todo este povo havia setecentos homens de elite esquerdinos, todos hábeis em atirar pedras com a funda a um cabelo, sem falhar. 17Os homens de Israel recensearam-se, sem contar os de Benjamim, em número de quatrocentos mil, hábeis em manejar a espada e todos bons combatentes. 18Partiram, pois, e subiram a Betel para consultar a Deus; os filhos de Israel perguntaram: «Quem de nós subirá primeiro para lutar contra os filhos de Benjamim?» Então, o Senhor respondeu: «Judá será o primeiro.» 19Partiram os filhos de Judá, na manhã seguinte, e acamparam junto de Guibeá. 20Tendo saído para combater os de Benjamim, os homens de Israel organizaram-se em ordem de batalha contra eles junto de Guibeá. 21Os filhos de Benjamim saíram de Guibeá e nesse dia destroçaram vinte e dois mil homens de Israel. 22O povo dos homens de Israel refez-se, e de novo se organizaram para a batalha no mesmo lugar em que tinham estado no primeiro dia. 23Os filhos de Israel subiram para chorar diante do Senhor até à tarde; então consultaram o Senhor dizendo: «Deverei voltar a travar combate, contra os filhos de Benjamim, meu irmão?» O Senhor respondeu-lhes: «Subi contra eles.»
24No segundo dia, os filhos de Israel atacaram os filhos de Benjamim. 25Neste segundo dia, Benjamim saiu de Guibeá contra eles, e destruiu ainda dezoito mil homens de entre os filhos de Israel, todos peritos no manejo da espada. 26Todos os filhos de Israel e todo o povo subiram, então, e chegaram a Betel; ali choraram sentados no chão diante do Senhor, jejuaram nesse dia até à tarde; ofereceram holocaustos e sacrifícios de comunhão, na presença do Senhor.
27Os filhos de Israel consultaram o Senhor. Ali se encontrava, naqueles dias, a Arca da aliança do Senhor. 28Fineias, filho de Eleázar, filho de Aarão, colocou-se diante dela, nessa altura, dizendo: «Deverei eu, ainda, sair para combater contra os filhos de Benjamim, meu irmão, ou, pelo contrário, devo renunciar a isso?» E o SENHOR disse: «Subi, que Eu amanhã pô-los-ei nas tuas mãos!»
Derrota de Benjamim – 29Israel pôs homens de emboscada a toda a volta de Guibeá. 30No terceiro dia, os filhos de Israel subiram contra os filhos de Benjamim e organizaram-se contra Guibeá, como das outras vezes. 31Então, os filhos de Benjamim saíram ao encontro do povo, distanciando-se muito da cidade e começaram a fazer vítimas entre o povo como antes; mataram cerca de trinta homens de Israel, em campo raso e pelas estradas que sobem uma para Betel e outra para Guibeá. 32Disseram os filhos de Benjamim: «Ei-los feridos diante de nós, como ao princípio.» Porém, os filhos de Israel tinham dito: «Vamos fugir; vamos atraí-los para longe da cidade, nas estradas.»
33Então, todos os homens de Israel se levantaram das suas posições e se organizaram em ordem de combate junto de Baal-Tamar, enquanto a emboscada de Israel irrompia da sua posição, na planície de Guibeá. 34Assim, dez mil homens, seleccionados de entre todo o povo de Israel, chegaram diante de Guibeá; a batalha foi dura; não sabiam os filhos de Benjamim que a desgraça lhes estava mesmo iminente.
35O Senhor feriu Benjamim na presença de Israel e, nesse dia, os filhos de Israel deram morte a vinte e cinco mil e cem homens, todos eles valentes guerreiros e hábeis no manejo da espada. 36Então, os filhos de Benjamim reconheceram que haviam sido derrotados. Os homens de Israel tinham cedido terreno a Benjamim para fugir, porque confiavam na emboscada que tinham preparado junto de Guibeá. 37A emboscada lançou-se contra Guibeá com toda a violência, expandiu-se e bateu toda a cidade a golpe de espada. 38Havia uma combinação dos homens de Israel com os da emboscada, de que estes fizessem subir da cidade uma fumarada como sinal. 39Os homens de Israel tiveram uma reviravolta na batalha; logo Benjamim começou a fazer mortandade entre os homens de Israel, matando cerca de trinta homens, e dizendo: «Eles estão completamente batidos na nossa frente, como no início da batalha.» 40O sinal, porém, uma nuvem de fumo, começava já a elevar-se da cidade; então, mal Benjamim retrocedeu, eis que toda a cidade se elevava em chamas para os céus.
Massacre de Benjamim – 41Os homens de Israel tinham feito, pois, uma reviravolta, e por isso os homens de Benjamim ficaram aterrorizados, pois viam que a desgraça tinha, de facto, caído sobre eles. 42Voltaram costas diante dos homens de Israel, fugindo em direcção ao deserto; a batalha, porém, apertava-os, e então os que vinham da cidade matavam-se ali mesmo uns aos outros. 43Cercaram Benjamim, perseguiram-no sem réplica, espezinhando-o até à frente de Guibeá, do lado do sol-nascente. 44Morreram dezoito mil homens de Benjamim, todos eles homens valentes. 45Voltaram as costas e fugiram para o deserto em direcção ao rochedo de Rimon; foram massacrados pelas estradas cinco mil homens; foram perseguidos outros até Guideom e mortos dois mil homens.
46O total de mortos de Benjamim naquele dia foi de vinte e cinco mil, todos peritos no manejo da espada e valentes guerreiros. 47Seiscentos homens voltaram as costas e refugiaram-se no deserto, para os lados do rochedo de Rimon, onde ficaram cerca de quatro meses. 48Os homens de Israel, porém, voltaram contra os filhos de Benjamim e passaram a fio de espada, de cidade em cidade, desde os homens aos animais, quantos encontravam; e entregaram às chamas todas as cidades que encontraram.
Capítulo 21
Israel lamenta a destruição de Benjamim – 1Os homens de Israel tinham jurado em Mispá, dizendo: «Nenhum dos nossos homens dará uma filha sua a um habitante de Benjamim como esposa.»
2Então, o povo foi a Betel e ficou ali até à tarde, diante de Deus; levantavam a voz e choravam em altos gritos. 3Disseram, pois: «Senhor, Deus de Israel, como foi possível uma coisa destas? Falta hoje uma tribo em Israel!» 4E assim, no dia seguinte, o povo ergueu ali um altar e ofereceu holocaustos e sacrifícios de comunhão. 5Disseram os filhos de Israel: «Qual é, de todas as tribos de Israel, a que não subiu a tomar parte na assembleia em presença do Senhor?» É que tinha havido um solene juramento contra quem não tivesse subido a Mispá, onde se dizia: «Morra sem remissão!»
6Os filhos de Israel tinham muita pena dos habitantes de Benjamim, seus irmãos, e disseram: «Hoje, uma tribo foi arrancada de Israel! 7Que poderemos nós fazer por eles, a fim de dar esposas aos que restam, uma vez que nós jurámos pelo Senhor não lhes dar as nossas filhas em casamento?»
Mulheres de Jabés para os benjaminitas – 8Então disseram: «Há alguma das tribos de Israel que não tenha subido à presença do Senhor, em Mispá?» Eis que de Jabés de Guilead ninguém tinha ido à assembleia, no acampamento. 9 Realmente, quando o povo se apresentou para o recenseamento, não havia lá nenhum homem que fosse de Jabés de Guilead. 10Então, a comunidade mandou lá doze mil guerreiros fortes, dando-lhes a ordem seguinte: «Ide e passai a fio de espada os habitantes de Jabés de Guilead, incluindo mulheres e crianças. 11Eis o que deveis fazer: votai ao anátema todo o homem e também toda a mulher que tenha tido relações sexuais com um homem, deixando com vida as solteiras.»
12Encontraram entre os habitantes de Jabés de Guilead quatrocentas jovens virgens, que não tinham tido relações sexuais com nenhum homem; levaram-nas ao acampamento, em Silo, que fica na terra de Canaã. 13Toda a comunidade enviou mensageiros aos filhos de Benjamim, que vivem junto do rochedo de Rimon, anunciando-lhes paz. 14Então, os filhos de Benjamim voltaram a suas casas e deram-lhes as mulheres poupadas à chacina de entre as de Jabés de Guilead; nem todos, porém, tiveram mulher, pois não chegaram para todos. 15O povo teve pena de Benjamim, por o Senhor ter aberto uma brecha nas tribos de Israel.
16Então, os anciãos da assembleia disseram: «Que havemos de fazer para que os que ainda restam tenham mulher, uma vez que as mulheres de Benjamim foram exterminadas?» 17E diziam: «Poderá Benjamim possuir um resto, de modo que uma tribo não seja exterminada de Israel? 18Nós não podemos dar-lhes as nossas filhas em casamento.» Com efeito, os filhos de Israel tinham feito o seguinte juramento: «Maldito seja quem der mulher a Benjamim.»
Rapto das jovens de Silo – 19Apesar disso, disseram: «Todos os anos há em Silo a festa do Senhor. Silo fica a norte de Betel, a leste da estrada que sobe de Betel a Siquém, a sul de Lebona.» 20Ordenaram, pois, aos filhos de Benjamim, dizendo:
«Ide, e ponde-vos de emboscada nas vinhas. 21Prestai atenção! Quando as filhas de Silo saírem para dançar em roda, saireis das vinhas e raptareis cada um a sua, de entre as filhas de Silo. Depois, ireis para a terra de Benjamim. 22Se, por acaso, seus pais ou seus irmãos vierem questionar connosco, dir-lhes-emos: ‘Tende pena deles, pois não puderam tomar mulher para si, durante a guerra. Por outro lado, nem vós poderíeis dar-lhas; seríeis culpados!’»
23Assim fizeram os filhos de Benjamim: entre as jovens dançarinas que raptaram, levaram mulheres em número igual ao deles. Partiram, depois, e regressaram à terra da sua herança; reconstruíram as cidades e estabeleceram-se lá! 24Nessa altura, os filhos de Israel dispersaram-se também cada um para a sua tribo e seu clã; dali partiram cada um para a terra da sua herança. 25Naquele tempo não havia rei em Israel; por isso, cada um fazia o que bem lhe parecia.