Capítulo 11

8. Jefté

1Jefté de Guilead era um va­lente guerreiro, filho de uma prostituta; Guilead foi quem gerou Jefté. 2A mulher de Guilead gerou-lhe filhos; estes cresceram e ex­pul­saram Jefté, dizendo-lhe: «Não her­da­rás nada na casa do nosso pai, pois és filho de uma mulher estran­geira.» 3Jefté afastou-se da presença de seus irmãos e foi morar para a terra de Tob; juntaram-se-lhe homens sem eira nem beira e partiram com ele.

4Ora, ao fim de um certo tempo, os amonitas fizeram guerra a Is­rael. 5E como os amonitas moveram guerra a Israel, os anciãos de Gui­lead fo­ram buscar Jefté à terra de Tob. 6E disseram-lhe: «Vem! Sê o nosso chefe, e poderemos lutar con­tra os amoni­tas.» 7Jefté, porém, disse aos anciãos de Guilead: «Não fostes vós, por acaso, que me odiastes e me escorraçastes de casa de meu pai? Como é que me procurais agora que estais em afli­ção?» 8Os anciãos de Guilead disse­ram, então, a Jefté: «Vimos agora ter contigo exactamente para que tu venhas connosco, lutes contra os amo­nitas e sejas o nosso chefe, o chefe de todos os habitantes de Guilead.»

9Jefté disse, então, aos anciãos de Gui­lead: «Se me fazeis voltar para lu­tar contra os amonitas, e se o Se­nhor os entregar ao meu poder, então eu serei o vosso chefe.» 10Os anciãos de Guilead disseram, então, a Jefté: «O Senhor será testemunha entre nós, se nós não procedermos como aca­bas de dizer!» 11Então, Jefté par­­tiu com os anciãos de Guilead, e o povo pô-lo como chefe e capitão, à sua frente; Jefté repetiu todas as suas condi­ções na presença do Se­nhor, em Mispá.


Negociações com o rei dos amo­ni­tas (Nm 20,14-21; Dt 2,18-19.26-37; 2 Sm 10,6-15; 12,26-31) – 12Jefté enviou men­sa­­gei­ros ao rei dos amo­nitas, a dizer-lhe: «Que há entre mim e ti, para vi­res contra mim fazer guerra ao meu país?» 13O rei dos amonitas disse aos mensageiros de Jefté: «É porque Is­rael conquistou o meu país no seu regresso do Egipto, desde o Arnon ao Jaboc e ao Jordão; agora, pois, res­titui-mo pacificamente.»

14Então, Jefté tornou a enviar men­­sageiros ao rei dos amonitas, dizendo: 15«Assim fala Jefté: “Israel não to­mou o país dos filhos de Moab nem de Amon. 16De facto, quando subia do Egipto, Israel dirigiu-se ao deserto, na di­recção do Mar dos Juncos e che­gou a Cadés. 17Israel enviou, então, men­­sageiros ao rei de Edom dizendo-lhe: ‘Deixa que eu atravesse o teu país.’ O rei de Edom, porém, não lhe deu ouvidos. Enviou-os, também, ao rei de Moab; mas ele não consentiu; por isso, Israel deteve-se em Cadés. 18Pal­milhou de novo o deserto, con­tornou a terra de Edom e a de Moab, e chegou a oriente do país de Moab. Acamparam do outro lado do Arnon, mas não penetraram no território de Moab, porque o Arnon é a fron­teira de Moab. 19Israel enviou men­sa­geiros a Seon, rei amorreu de Hes­bon, e disse-lhe: ‘Por favor, dei­xa-me atravessar o teu país até ao lu­gar do meu destino.’ 20Seon, po­rém, não con­fiou em Israel, recusando-lhe passa­gem através do seu território; Seon, então, reuniu todo o seu povo, que acampou em Jaás, e travou combate contra Israel. 21O Senhor, Deus de Israel, entregou Seon e todo o seu povo nas mãos de Israel, que os der­rotou. Então, Is­rael apoderou-se de toda a terra dos amorreus que habi­tavam nesse país. 22Possuíram, pois, toda a terra dos amorreus, desde o Ar­non até ao Jaboc, e desde o de­serto até ao Jor­dão. 23Se, portanto, foi o Senhor, Deus de Israel, que expul­sou os amorreus em favor do seu povo, que­rerás tu próprio desa­possá-lo? 24Não possuis tu, acaso, tudo quanto o teu deus Camós te deu em posse? E não deveríamos nós, tam­bém, possuir tudo quanto o Senhor, nosso Deus, pôs diante de nós para o possuir­mos? 25E agora, serás tu mais forte do que Balac, filho de Ci­por, rei de Moab? Acaso pretendeu ele ser mais forte do que Israel e lutar contra ele? 26Há já trezentos anos que Is­rael habita em Hesbon e suas redon­de­zas, em Aroer e suas redondezas, e em todas as cidades situadas nas margens do Arnon; por­que é que os não despojaste durante esse tão longo período? 27Quanto a mim, não sou eu que te causo dano algum; és tu próprio que me preju­di­cas a mim, lutando contra mim. Que o Senhor, o Juiz, decida hoje entre os filhos de Israel e os de Amon”.»

28O rei dos fi­lhos de Amon não deu ouvidos às palavras que Jefté lhe dirigiu.


Voto de Jefté (Gn 22,1-19; 2 Rs 3,27; Mq 6,7) – 29Então, o espírito do Se­nhor desceu sobre Jefté; Jefté atra­vessou Guilead e Manassés; depois, Mispá de Guilead; de Mispá de Gui­lead atravessou a fronteira dos amo­nitas. 30Jefté fez um voto ao Se­nhor, di­zendo: «Se realmente entregas nas minhas mãos os amo­nitas, 31perten­cerá ao Senhor quem quer que saia das portas da minha casa para me vitoriar pelo meu regresso a salvo da terra dos amonitas; eu oferecê-lo-ei em holocausto.»

32Então, Jefté mar­chou contra os amonitas e travou combate contra eles; o Senhor en­tre­gou-os nas suas mãos. 33Derrotou-os desde Aroer até às proximidades de Minit, tomando-lhes vinte cidades, e até Abel-Que­ra­mim; foi uma der­rota muito gran­de; deste modo, os amo­nitas foram hu­milhados pelos filhos de Israel.


Morte da filha de Jefté34Quan­do Jefté regressou a sua casa em Mispá, eis que sua filha saiu para o vitoriar, dançando e tocando tambo­rim; ela era filha única; não tinha mais filhos nem filhas. 35Ao vê-la, rasgou as suas vestes e disse: «Ai, minha filha! Tu fazes-me lançar no desespero! Tu és a minha desgraça! Eu falei demais na presença do Se­nhor; agora não posso tornar atrás.»

36Ela disse-lhe: «Meu pai, tu fa­laste demais na presença do Senhor; faz comigo segundo o que saiu da tua boca, pois o Senhor deu-te a vin­gança contra os teus inimigos, os amo­ni­tas.» 37Depois, disse a seu pai: «Con­cede-me o seguinte: deixa-me sozinha du­rante dois meses para que eu vá vaguear pelas montanhas, chorando a minha virgindade, eu e as minhas companheiras.» 38Ele disse: «Vai.»

E deixou-a partir durante dois me­ses; ela foi com as suas compa­nhei­ras e chorou sobre as montanhas a sua virgindade. 39Ao fim de dois me­ses, voltou para junto de seu pai; este cumpriu nela o voto que havia feito. Ora ela não conhecera homem e foi assim que nasceu em Israel 40o cos­tume de, todos os anos, as filhas de Israel irem celebrar a filha de Jefté de Guilead, quatro dias por ano.

Capítulo 12

Guerra entre os habitan­tes de Efraim e de Guilead (8,1-3) – 1Os homens de Efraim amo­tinaram-se; dirigiram-se para Sa­fon e disseram a Jefté: «Porque é que mar­chaste em luta contra os amo­ni­tas, sem nos chamar para com­ba­ter­mos a teu lado? Vamos quei­mar-te vivo, assim como à tua família.» 2Jef­té ripostou: «Eu e o meu povo tive­mos uma grande contenda com os amo­ni­tas; chamei-vos, mas vós não me livras­­tes das suas mãos. 3Quando vi que vós não ví­nheis para me sal­var, arrisquei a minha vida e trans­pus as fronteiras dos amonitas; o Senhor pô-los nas mi­nhas mãos. Porque vies­tes, ago­ra, lutar contra mim?»

4Foi então que Jefté reuniu todos os ho­mens de Guilead e travou com­bate contra Efraim. Os homens de Gui­­­lead derrotaram os de Efraim, pois eles tinham dito: «Vós, povo de Gui­lead, sois fugitivos de Efraim, vi­vendo entre Efraim e Manassés.» 5Gui­lead apossou-se dos vaus do Jor­dão, do lado de Efraim; sempre que um fu­gitivo de Efraim dizia: «Deixai-me passar», respondiam-lhe os ho­mens de Guilead: «Tu és de Efraim!» Ele retorquia: «Não sou, não!» 6En­tão, diziam-lhe: «Pois então diz, por favor, ‘Chibolet’»; ele, porém, dizia: ‘Si­bolet’, porque não era capaz de pronunciar correctamente. Então, pren­­diam-no e degolavam-no junto aos vaus do Jor­dão. Nesse dia, mor­reram quarenta e dois mil homens de Efraim.

7Jef­té foi juiz em Israel durante seis anos; depois, Jefté de Guilead mor­reu e foi sepultado na sua ci­dade natal, em Guilead.

 

9. Ibsan

8Depois de Jefté, foi juiz em Is­rael Ibsan, de Belém; 9teve trinta filhos e trinta filhas; casou-as fora da sua família; fez vir de fora trinta noivas para os seus filhos. Foi juiz em Israel durante sete anos. 10Ibsan morreu e foi sepultado em Belém.

 

10. Elon

11Depois de Ibsan, foi juiz em Is­rael, Elon de Zabulão. Foi juiz du­rante dez anos. 12Elon de Zabu­lão, morreu e foi sepultado em Elon, na terra de Zabulão.

 

11. Abdon

13Depois de Elon, foi Abdon, fi­lho de Hilel, de Piraton, quem foi juiz em Israel; 14teve quarenta fi­lhos e trinta netos, que montavam em se­tenta jumentinhos; foi juiz em Is­rael durante oito anos. 15Abdon, filho de Hilel de Piraton, morreu e foi sepul­tado em Piraton, na terra de Efraim, na montanha dos amaleci­tas.

Capítulo 13

12. Sansão

Nascimento de Sansão (Gn 11,30; 18,1-15; Nm 6,1-21; 1 Sm 1,1-28; Lc 1,5-25.26-38) – 1Os filhos de Israel reco­meçaram a fazer o mal diante do Se­nhor, e o Senhor entregou-os nas mãos dos filisteus, durante quarenta anos. 2Houve um homem de Sorá, da tribo de Dan, cujo nome era Ma­noé; sua esposa era estéril, não tinha ainda concebido filhos. 3O anjo do Se­nhor apa­receu a esta mulher e disse-lhe: «Já viste que és estéril e ainda não des­te à luz; mas vais con­ceber e dar à luz um filho. 4Dora­vante abstém-te, não bebas vinho nem qual­quer be­bida alcoólica; não comas nada im­puro, 5porque vais conceber e dar à luz um filho. A navalha não há-de tocar a sua cabeça, pois o menino vai ser consagrado a Deus desde o seio materno; ele mesmo vai come­çar a salvar Israel das mãos dos fi­lis­teus.»

6A mulher voltou e disse ao ma­rido: «Um homem de Deus veio ter comigo; o seu aspecto era seme­lhante ao de um anjo do Senhor e temível. Não lhe perguntei de onde ele era, nem ele me re­velou o seu nome. 7Disse-me ele: ‘Eis que vais con­ce­ber e dar à luz um filho; dora­vante não bebas vinho nem bebida alcoólica; não comas nada de im­puro, pois esse jo­vem será consagrado ao Senhor desde o seio materno até ao dia da sua morte.’» 8Então, Manoé su­pli­cou ao Senhor, dizendo:

«Por favor, Se­nhor! Que o homem de Deus que mandaste, venha outra vez até nós e nos ensine como have­mos de fazer com o menino, quando ele tiver nas­cido.» 9Deus ouviu a voz de Manoé; o anjo do Senhor veio ter nova­mente com a mulher; estava sen­tada no campo, e Manoé, seu marido, não estava com ela. 10A mulher cor­reu a comunicar ao marido, dizendo:

«Eis que o homem que veio ter co­­migo vol­tou a aparecer-me.» 11Manoé le­van­­tou-se, foi atrás da sua mu­lher, dirigiu-se ao homem e perguntou: «És tu o homem que falou a esta mulher?» E ele respondeu: «Sou eu mesmo.» 12Manoé disse-lhe: «Então, uma vez que a tua palavra se vai rea­lizar, que regras se devem seguir com o menino? Que tem ele de fa­zer?» 13O anjo do Senhor disse a Manoé: «De tudo quanto Eu mencionei a esta mulher, ela há-de abster-se. 14Que não coma de nada do que provém do fruto da vinha; não beberá vinho nem bebida alcoólica; não comerá nada impuro e deverá observar tudo quan­to lhe ordenei.»

15Então, Manoé disse ao anjo do Senhor: «Por favor! Fica um pouco connosco, para te ofere­cer­mos um cabrito!» 16O anjo do Senhor disse a Manoé: «Ainda que me reti­vesses aqui, Eu não iria comer do teu pão; mas, se quiseres oferecer um ho­lo­causto, oferece-o ao Senhor!» É que Manoé não sabia que ele era o anjo do Se­nhor.

17Então, Manoé disse ao anjo do Senhor: «Qual é o teu nome? Pois que­­remos prestar-te home­na­gem, quando se realizarem as tuas pala­vras.» 18E o anjo do Senhor disse-lhe: «Por que razão mo perguntas? O meu nome é misterioso!» 19Então, tomou Manoé o cabrito com a ofe­renda e ofereceu-o sobre a rocha ao Senhor, que faz coisas misterio­sas. Manoé e sua mu­lher obser­­va­vam. 20Ora enquanto a chama subia do altar para o céu, subia também na chama do altar o anjo do Se­nhor; ao verem isto, Ma­noé e sua mulher caí­ram com a face por terra. 21O anjo do Senhor não vol­tou a aparecer a Manoé nem à sua mu­lher; foi então que Manoé reco­nhe­­ceu que era o anjo do Senhor.

22Disse Manoé à es­posa: «Vamos morrer, não há dú­vida, por­que vi­mos o Senhor!» 23Disse-lhe, en­tão, sua mu­lher: «Se o Senhor nos quisesse matar não teria recebido das nossas mãos o holocausto nem a oferenda; nem nos teria feito ver tudo isto; nem tão-pouco nos teria comu­ni­cado, neste momento, estas instru­­ções.» 24A mu­lher deu à luz um fi­lho e pôs-lhe o nome de San­são; o me­nino cresceu e o Senhor aben­çoou-o. 25Foi em Maané-Dan, entre Sorá e Estaol, que o espírito do Senhor começou a agitar Sansão.

Capítulo 14

Sansão apaixonado por uma filisteia (Gn 24,3-4; 28,1-2) – 1San­são desceu a Timna e viu lá uma mulher das fi­lhas dos filisteus; 2voltou e comunicou a seu pai e a sua mãe, dizendo: «Vi em Timna uma mu­lher das filhas dos fi­listeus. Portanto, ide pedi-la para minha esposa.» 3En­tão, seu pai e sua mãe disseram-lhe: «Não há, por­ven­tura, uma mulher entre as filhas de teus irmãos e em todo o meu povo, para ires escolher mulher entre os filis­teus, esses in­circuncisos?» Mas San­são disse a seu pai: «Pede-a para mim, pois é ela a que me agrada.» 4Seu pai e sua mãe não sabiam que isto acontecia por disposição do Se­nhor, que pro­curava um pretexto para combater os filisteus. Nesse tem­po, os filis­teus dominavam sobre Israel.

5Então, Sansão desceu a Tim­na com seu pai e sua mãe; quando che­ga­ram às vinhas de Timna, eis que um jovem leão arremeteu contra eles, rugindo ferozmente. 6Apoderou-se dele o espírito do Se­nhor e Sansão, sem ter à mão qualquer arma, des­pe­daçou-o como se des­pedaça um cabrito; mas não contou nem ao pai nem à mãe o que fi­zera. 7Depois des­ceu e falou à mu­lher e ela agradou a Sansão.

8Al­guns dias depois, regres­sou para desposá-la, mas afastou-se do cami­nho para ver o cadáver do leão; e eis que, na carcaça do leão, havia um en­xame de abelhas e mel. 9Reco­lheu-o na palma das mãos e, en­quanto cami­nhava, foi comendo dele. Che­gado junto do pai e da mãe, deu-lhes do mel; eles comeram, mas não lhes disse que colhera o mel da carcaça do leão.


O casamento e o enigma10De­pois, seu pai desceu à casa da mu­lher, e Sansão fez lá um banquete, pois assim costumavam fazer os jo­vens. 11Quando o viram, foram bus­car trinta companheiros para fica­rem com ele. 12Sansão disse-lhes: «Quero propor-vos um enigma; se vós, tendo-o decifrado, me revelar­des o seu significado durante os sete dias dos festejos, dar-vos-ei trinta tú­nicas e trinta mudas de roupa. 13Mas, se vós não fordes capazes de mo reve­lar, sois vós quem tem de me dar, a mim, trinta túnicas e trinta mudas de roupa.» Eles disseram: «Pois pro­põe lá o enigma, que nós so­mos todos ouvidos!» 14Então, disse-lhes ele: «Do que come saiu o que se come, e do que é forte saiu o que é doce!» E, pas­sa­dos três dias, ainda eles não haviam sido capazes de decifrar o enigma.

15No sétimo dia, disseram à es­posa de Sansão: «Seduz o teu marido para que ele nos revele o sentido do eni­gma; de outro modo, queimar-te-emos a ti e à casa de teu pai. Foi, talvez, para nos espoliar que nos convidastes?» 16Então, a mu­lher de Sansão des­fez-se em lágrimas diante dele, di­zendo-lhe: «Tu só me tens ódio! E não me tens amor! Desse enigma que pro­puseste ao meu povo, não me con­fiaste o seu significado!» Ele disse-lhe en­tão: «Não o revelei a meu pai nem a mi­nha mãe, e ia revelar-to a ti!» 17Ela desfez-se em lágrimas diante dele durante os sete dias que duraram os festejos; mas eis que, no sétimo dia, Sansão lhe revelou o sentido, pois ela o importunara. Então, ela explicou-o claramente aos filhos do seu povo.

18No sétimo dia, antes do pôr-do-sol, o povo da cidade disse a Sansão: «Que coisa há que seja mais doce do que o mel, e mais forte do que o leão?» Ele respondeu-lhes: «Se vós não tivés­seis lavrado com a minha novilha não teríeis descoberto o meu enigma.» 19Apoderou-se dele, então, o espírito do Senhor, e foi a Asca­lon; matou ali trinta ho­mens, tomou os seus des­po­jos e deu-os aos que lhe tinham revelado o significado do enig­ma. Fer­vendo de cólera, voltou para casa de seu pai. 20Quanto à mulher de San­são, foi dada ao jovem que lhe servira de companheiro de boda.

Capítulo 15

Fogo nas searas dos filis­teus1Ora, pouco tempo de­pois, na época da ceifa do trigo, foi Sansão visitar sua esposa, levando-lhe um cabrito; e disse: «Quero en­trar no quarto de minha mulher.» Mas o pai dela não o deixou entrar, e disse a Sansão: 2«Para dizer a verdade, pensei para comigo que já não gostavas dela, e dei-a a um dos teus companheiros de boda. Con­tudo, a sua irmã mais nova vale mais do que ela. Que esta seja, pois, tua es­posa em lugar dela.» 3Respon­deu-lhe Sansão: «Agora, estou livre para fa­zer mal aos filisteus e vou fazer-lho.» 4Saiu, pois, apanhou tre­zentas rapo­sas, prendeu-as duas a duas pelas caudas e, tomando tochas, atou uma tocha no meio das duas caudas. 5Pe­gou fogo às tochas e, sol­tando as rapo­sas por entre as sea­ras dos filis­teus, queimou tanto o trigo que já estava atado aos molhos ou ainda por ceifar, como, também, as vinhas e os olivais.

6Então, os filis­teus pergunta­ram: «Quem fez isto?» «Foi Sansão, o genro do ho­mem de Timna, por ele ter to­mado a sua esposa e tê-la dado a um dos seus com­panheiros de boda.» Os fi­listeus subiram, então, e queima­ram a mu­lher de Sansão junta­mente com seu pai. 7Disse-lhes Sansão: «Por­­que pro­cedestes assim, não descan­sarei en­quanto me não vingar outra vez.» 8Atacou-os, pois, impiedosa­mente, destroçando-os. Depois des­ceu e foi morar na gruta de Etam.


Força de Sansão9Os filisteus entraram na terra de Judá para aí acamparem, dispersando-se até Leí. 10Disseram-lhes, então, os homens de Judá: «Por que razão viestes atacar-nos?» Eles responderam: «Viemos prender Sansão, a fim de lhe fazer­mos a ele o que ele nos fez a nós.» 11Então, três mil homens de Judá des­ceram à gruta do rochedo de Etam, e disseram a Sansão: «Não sabes que os filisteus nos dominam? Que é que nos fizeste?» Sansão respondeu: «Como eles me fizeram a mim, assim lhes fiz eu também.» 12Eles replica­ram: «Nós viemos para te prender e entregar-te nas mãos dos filisteus.»

Disse-lhes Sansão: «Jurai-me e pro­­­metei que não me matareis vós mes­mos.» 13Eles res­pon­deram: «Não, nós só te queremos prender e en­tre­gar-te nas mãos deles; nós não que­re­mos matar-te.» Ataram-no, então, com duas cordas novas e fizeram-no sair da gruta.

14Tendo chegado junto de Leí, os fi­listeus saíram-lhes ao encontro, sol­­tando gritos de alegria; mas o espí­rito do Senhor apoderou-se dele e as duas cordas que lhe ligavam os bra­ços tornaram-se como fios de li­nho der­retidos ao fogo, caindo-lhe das mãos as ligaduras. 15Depois, ten­do en­­con­trado uma queixada de jumento ainda fresca, estendeu a mão, apa­nhou-a e matou com ela mil homens. 16Sansão exclamou: «Com a quei­xada de um ju­mento os des­tro­cei; com uma quei­xada de ju­mento matei mil ho­mens!» 17Quando acabou de falar, lan­çou para longe de si a queixada; por isso chamou-se àquele lugar Ramat-Leí.

18Sentindo uma sede intensa, in­vocou o Senhor, dizendo: «Foste Tu quem colocou nas mãos do teu servo esta grande vitória. Irei eu agora mor­rer de sede e cair nas mãos dos in­circuncisos?» 19Então, Deus fendeu a rocha que está em Leí, e saiu dela água. Sansão bebeu e recobrou o espírito, reanimando-se. Por isso, deu-se o nome de En-Hacoré a essa fonte que ainda hoje se encontra em Leí. 20Sansão foi juiz em Israel durante vinte anos, no tempo dos filisteus.

Capítulo 16

As portas de Gaza1San­são foi depois a Gaza, onde viu uma prostituta e entrou em casa dela. 2Disseram aos habitantes de Gaza: «Sansão veio cá.» Armaram-lhe uma emboscada durante toda a noite, às portas da cidade, e assim se mantiveram toda a noite, dizendo : «Esperemos a luz da manhã, e en­tão o mataremos.»

3Sansão, po­rém, não dormiu mais do que até à meia-noite; à meia-noite levantou-se, agar­rou os batentes da porta da cidade com os dois postes, arrancou-os com os ferrolhos, pô-los às costas e levou-os até ao alto do monte que fica em frente a Hebron.


Sansão e Dalila (14,15-20) – 4De­pois disso, Sansão apaixonou-se por uma mulher que habitava no vale de So­rec, chamada Dalila. 5Os prín­cipes dos filisteus foram ter com ela e dis­seram-lhe: «Tenta seduzi-lo e desco­bre porque razão é tão grande a sua força, e de que modo poderemos ser mais fortes e prendê-lo para o domi­nar. Se conseguires, nós te daremos, cada um, mil e cem siclos de prata.»

6Dalila disse a Sansão: «Por fa­vor, revela-me por que razão é tão grande a tua força e como po­derás ser atado e dominado.» 7San­são dis­se-lhe: «Se me ligassem com sete cor­das de arco ainda frescas e hú­midas, tornar-me-ia fraco, seme­lhante a qual­quer ho­mem.»

8Os príncipes dos filisteus le­va­ram-lhe sete cordas de arco frescas e ainda húmidas; ela atou-o com elas. 9Ora a emboscada estava ali em casa, no quarto, e ela disse-lhe: «Sansão, vêm contra ti os filisteus!» Ele reben­tou as cordas, como quem rebenta um cordão de estopa mal se lhe chega o fogo; e não se soube o segredo da sua força.

10Disse, pois, Dalila a San­são: «Ora aí está! Escarneceste de mim e men­tis­te-me! Revela-me ago­ra como po­de­rás ser atado.» 11Ele disse-lhe: «Se me atassem fortemente com cor­das novas, com as quais ainda não ti­ves­se sido feito trabalho algum, eu fica­ria sem força e semelhante a qual­quer homem.»

12Tomou, então, Dalila cordas no­vas e atou-o com elas, dizendo-lhe, depois: «Sansão, vêm contra ti os fi­listeus!» A emboscada estava a pos­tos no quarto, mas ele rebentou as cordas que estavam à volta dos bra­ços, como se fossem fios de uma tela.

13Então, disse Dalila a San­são: «Até agora, só tens zombado de mim, e só me tens dito mentiras; revela-me agora como poderás ser atado.» San­são disse-lhe: «Basta te­ce­res sete tranças da minha cabe­leira com a urdidura do teu tear.» 14Ela ador­me­ceu-o, fixou as sete tranças com o torno do tear e gritou: «Sansão, vêm contra ti os filisteus!» Ele despertou do sono e arrancou o torno do tear com os liços. 15Dalila disse-lhe: «Como podes dizer ‘Amo-te’, se o teu cora­ção não está comigo? São já três vezes que brincas comigo, sem me revela­res por que é tão grande a tua força!»

16Ora, como todos os dias ela o can­­­sava e importunava com estas pala­vras, Sansão caiu num abati­mento mortal. 17Aca­bou por lhe abrir todo o seu coração e dizer-lhe: «Sobre a minha cabeça jamais passou a nava­­lha, pois sou consagrado a Deus desde o seio de minha mãe. Se eu fosse rapado, a minha força se afastaria de mim; ficarei sem forças tal como qualquer homem!»

18Dalila viu que ele lhe abrira todo o coração; man­dou chamar os prín­cipes dos filisteus e disse-lhes: «Vin­de, que, desta vez, ele abriu-me todo o seu coração.» Os prín­­cipes dos fi­lis­teus foram ter com ela, levando consigo o dinheiro.


Corte dos cabelos e perda da força19Ela adormeceu Sansão so­bre os seus joelhos, chamou um ho­mem que lhe rapou as sete tran­ças da sua cabeleira; foi então que ele começou a ficar debilitado, e a sua força o abandonou.

20Ela disse-lhe: «Sansão, vêm con­tra ti os filisteus!» Ele despertou do sono e disse con­sigo mesmo: «Sair-me-ei bem como das outras vezes!» Mas igno­rava que o Senhor se havia retirado dele.

21Os filisteus amarraram-no, ar­ran­­ca­­ram-lhe os olhos e levaram-no a Gaza, ligado com uma dupla cadeia de bronze; meteram-no na pri­são e puseram-no a girar a mó. 22Mas, de­pois de ter sido rapado, os cabelos começaram de novo a crescer-lhe.


Morte de Sansão23Ora os prín­cipes dos filisteus reuniram-se para oferecer um grande sacrifício a Da­gon, seu deus, e celebrar um ban­quete. E diziam: «O nosso deus entre­gou em nossas mãos Sansão, nosso inimigo.» 24O povo viu-o e louvou o seu deus, di­zendo: «O nosso deus entre­gou-nos o nosso inimigo, que de­vas­tava a nossa terra e ma­tava mui­tos dos nossos ha­bitantes.» 25Como o seu coração es­tava alegre, os filisteus disseram: «Man­dai vir Sansão para nos divertir.»

Manda­ram buscar San­são à pri­são, e ele começou a dizer gracejos dian­te de­les; depois, coloca­ram-no en­tre as colunas. 26San­são disse ao jo­vem que o guiava pela mão: «Guia-me e faz-me tocar as colunas sobre as quais assenta este edifício, a fim de me apoiar nelas.» 27Ora o templo es­tava repleto de homens e mulheres; esta­vam lá todos os prín­ci­pes dos fi­lis­teus e, sobre o terraço, cerca de três mil homens e mulhe­res que tinham assistido aos gracejos de San­são.

28Então, Sansão invo­cou o Senhor e disse: «Senhor, meu Deus, eu te peço, lembra-te de mim e torna-me forte outra vez, a fim de me vin­gar, ó Deus, de uma vez por todas, dos filisteus, pela perda dos meus dois olhos.» 29Tocando, então, as duas co­lu­nas centrais sobre as quais repou­sava todo o edifício, tomou uma com a mão direita e a outra com a es­querda, 30e gritou: «Morra eu com os filisteus!» Então sacudiu fortemente as colunas, e o templo ruiu sobre os príncipes dos filisteus e sobre todo o povo aí presente. Deste modo, San­são na sua morte, matou muito mais gente do que matara em toda a sua vida. 31Seus irmãos e toda a sua fa­mí­lia desceram, então, a Gaza, leva­ram o seu corpo e sepultaram-no no tú­mulo de Manoé, seu pai, entre Sorá e Estaol. Sansão tinha sido juiz em Israel durante vinte anos.

Capítulo 17

Santuário de Miqueias1Ha­via um homem da mon­ta­nha de Efraim chamado Mi­queias. 2Ele disse à sua mãe: «Os mil e cem siclos de prata que te foram rouba­dos, e em relação aos quais tu pró­pria pronunciaste uma maldição na minha presença ao dizer: ‘Este di­nheiro é meu!’ Eis que eu mesmo o tomei para mim!» Sua mãe disse: «Sê abençoado, meu filho, pelo Senhor!» 3Então, ele devolveu à mãe os cen­to e dez siclos de prata, e esta disse-lhe: «De facto, eu própria consagrei ao Senhor este dinheiro em favor do meu filho, para se fazer com ele um ídolo e uma imagem de metal. Por isso, vou devolver-to.» 4Assim, quando ele entregou o dinheiro à mãe, ela pegou em duzentos siclos de prata que mandou entregar ao fun­didor; este fez com a prata um ídolo e uma imagem de metal que foi colo­cada na casa de Miqueias.

5Então, a casa de Miqueias tor­nou-se para ele um santuário de Deus; mandou fazer uma insígnia votiva e ídolos domés­ti­cos e consa­grou um dos seus filhos, que se tor­nou seu sacer­dote. 6Naquele tempo, não ha­via rei em Israel; cada um fazia o que bem lhe parecia.


O levita de Belém7Ora havia tam­bém um jovem de Belém de Judá, da tribo de Judá, que era levita e mo­­rava ali como estrangeiro. 8Tinha par­tido da cidade de Belém à pro­cura de um lugar onde pudesse mo­rar como estrangeiro; chegou à mon­tanha de Efraim, e foi andando sem­pre até à casa de Miqueias. 9Mi­queias pergun­tou-lhe: «De onde vens tu?» E ele disse-lhe: «Eu sou um le­vita de Belém de Judá e ando à pro­cura de um sítio onde possa residir como estran­geiro.»

10Então, Mi­queias disse-lhe: «Fica, pois, co­migo, e sê para mim um pai e um sacerdote. Pela minha parte, vou dar-te dez siclos de prata por ano, vestuário e alimento sufi­cien­tes.»

11O jovem levita concordou em fi­car na companhia deste homem, que pas­sou a considerá-lo como um dos seus filhos. 12Miqueias investiu-o como sacer­dote, e ele ficou na casa de Mi­queias. 13Este disse, então: «Agora sei que o Senhor me vai tratar bem, porque este levita se tornou meu sa­cerdote.»

Capítulo 19

Corrupção de Guibeá1Ora, nesses dias, não havia rei em Is­rael. Aconteceu que um certo le­vita veio fixar-se junto da montanha de Efraim; tomou para si como mulher uma concubina de Belém de Judá. 2Essa concubina foi-lhe infiel e vol­tou para a casa de seu pai, em Belém de Judá, e ficou aí por um certo tempo, quatro meses inteiros. 3O marido foi ao seu encontro falando-lhe ao cora­ção, a ver se conseguia reconduzi-la para junto de si. Levou consigo um criado e dois jumentos. A concubina fê-lo entrar em casa de seu pai. O pai da jovem, mal o viu, saiu feliz ao seu encontro. 4O sogro, pai da jo­vem, reteve-o em sua casa; ficou com ele durante três dias comendo, bebendo e dormindo ali. 5No quarto dia, levan­taram-se de manhã cedo; estando ele decidido a partir, o sogro deteve-o e disse ao genro: «Restaura as tuas forças com um bocado de pão; depois partirás.» 6Sentaram-se, comeram e beberam juntos. O pai da jovem disse, então, a este homem: «Fica aqui esta noite, por favor, e que se alegre o teu cora­ção.» 7Como o homem se levan­tasse disposto a partir, o seu sogro instou com ele; tornou a sentar-se e passou ali ainda aquela noite. 8Le­van­tou-se de manhã cedo, no quinto dia, com intenção de partir; o pai da jovem disse outra vez: «Peço-te que restaures as tuas forças e adies a tua partida para o declinar deste dia.» E tornaram a comer juntos. 9Levantou-se, então, o homem resolvido a par­tir com a sua concubina e o criado. Disse-lhe, pois, o seu sogro, o pai da jovem: «Eis que o dia já desce; é quase noite; pernoita aqui, pois o dia de­clina; fica aqui; o teu coração reju­bi­lará; partirás amanhã e che­garás à tua casa.»

10O homem, po­rém, não con­cor­dou em passar a noite; levan­tou-se e partiu. Chegou perto de Je­bús, que é Jerusalém, e com ele os dois jumen­tos carregados e a sua con­cubina. 11Quan­do chega­ram perto de Jebús, já o dia ia muito baixo. Disse então o jovem ao seu amo: «Vamos! Tome­mos o caminho de Jebús. Ei-la aí; passemos lá a noite.» 12Respon­deu-lhe o seu amo: «Não, não hei-de en­trar numa cidade estrangeira; não é dos filhos de Israel! Nós iremos até Guibeá. 13Vamos, então – disse ele ao seu amo. Vamos atingir um des­ses luga­res, e passemos a noite em Gui­beá ou em Ramá.» 14Andando, pois, para diante, foram e aproximaram-se de Guibeá, na tribo de Benjamim. 15Afastaram-se dali a fim de passa­rem a noite em Guibeá.

O levita en­trou e sentou-se na praça da cidade; ninguém os aco­lheu em sua casa para passarem a noite. 16Eis que, ao anoitecer, um velho veio do seu tra­ba­lho no campo. O homem era da montanha de Efraim; era via­jante em Guibeá; os habitantes do local eram filhos de Benjamim. 17Er­guendo os olhos viu aquele fo­rasteiro sen­tado na praça da cidade e disse o velho: «Para onde vais e de onde vens?» 18Ele respondeu-lhe: «Par­tindo de Belém de Judá, viajamos em direc­ção ao extremo da montanha de Efraim. Eu sou de lá. Fui a Be­lém de Judá e agora volto para a casa do Se­nhor; não há ninguém que me aco­­lha em sua casa. 19Há pa­lha e há feno para os nossos jumentos e há pão e vinho para mim, para a tua serva e para o jovem que acom­pa­nha o teu servo; não estamos a precisar de nada!» 20O velho respondeu: «A paz esteja con­tigo; tudo o que precisares é comigo! Não passes a noite na praça!» 21Fê-lo entrar em sua casa e deu forra­gem aos jumentos; lava­ram os pés, comeram e beberam.


Crime horrível22Enquanto res­tauraram as forças, eis que os ho­mens da cidade, homens perversos, cercaram a casa, bateram com vio­lência e disseram ao velho, dono da casa: «Manda cá para fora o homem que entrou para a tua casa, a fim de o conhecermos.» 23O dono da casa saiu a ter com eles e disse-lhes: «Não, meus irmãos! Eu vo-lo peço, por fa­vor; não pratiqueis semelhante mal! Agora que este homem entrou em minha casa, não pratiqueis tal de­sonra! 24Eis a mi­nha filha que está virgem e a concubina dele; vou fazê-las sair; abusai delas; fazei-lhes o que vos agradar! A este homem, po­rém, não lhe fa­çais uma infâmia desta natureza!» 25Os ho­mens, porém, não quiseram ouvi-lo; então o homem, o levita, tomou a sua mulher e levou-lha lá para fora; eles conheceram-na e sa­tisfizeram com ela a sua luxúria durante toda a noite, até ao ama­nhecer; deixa­ram-na livre só de manhãzinha. 26Ao raiar da aurora a mulher caiu por terra à porta da casa do homem onde estava o seu marido, até vir o dia.

27O seu marido levantou-se de ma­nhã cedo; abriu as portas de casa e saiu para seguir o seu caminho. Eis que a mulher, sua concubina, jazia prostrada à porta de casa de mãos estendidas sobre a soleira. 28Disse-lhe então: «Levanta-te e vamos!» Mas ela não respondeu! O homem colo­cou-a então sobre a sua montada; e par­tiu em direcção a sua casa. 29Tendo chegado lá, pe­gou num cutelo e, agar­rando na sua con­cubina, esquarte­jou-a membro a mem­­bro em doze pe­daços, enviando-os depois a todas as tribos de Is­rael.

30Quem via isto ex­clamava: «Nun­ca aconteceu nem se viu tal coi­sa, desde o dia em que os filhos de Is­rael su­bi­ram da terra do Egipto até este dia. Pensai bem nisto! Con­sul­tai-vos so­bre isto e pronun­ciai-vos!»

Capítulo 20

Israel prepara a guerra1Todos os filhos de Israel se movimentaram, pois, como um só ho­mem; reuniram-se à volta do Senhor, em Mispá, desde Dan a Bercheba, e bem assim a terra de Guilead. 2To­dos os chefes do povo de todas as tribos de Israel se apresentaram perante a assembleia do povo de Deus, em nú­mero de quatrocentos mil homens, soldados de infantaria, peritos em manejar a espada. 3Os filhos de Ben­jamim ouviram dizer que os filhos de Israel tinham subido a Mispá. Disseram, então, os filhos de Israel: «Contai-nos de que modo aconteceu este crime.» 4O le­vita, marido da mu­lher assassinada, respondendo, disse:

«Eu tinha che­gado com a minha con­­cubina a Gui­beá de Benjamim, para aí passarmos a noite. 5Amoti­na­­­ram-se contra mim os senhores de Gui­beá e, du­rante a noite, cercaram a casa em que eu estava e queriam matar-me; abusaram da minha con­cubina e ela morreu. 6Tomei-a e cor­tei-a em pe­daços, enviando-a a toda a terra da herança de Israel, porque eles ti­nham perpetrado um crime vergonhoso, uma infâmia em Israel. 7Vós todos, filhos de Israel, dai um parecer e tomai uma decisão entre vós, aqui e agora!»

8Todo o povo, como um só ho­mem, se levantou di­zendo: «Nenhum de nós voltará à sua tenda, nenhum de nós regressará a sua casa. 9Eis o que agora vamos fazer a Guibeá: subire­mos con­tra ela, por tiragem à sorte. 10Em todas as tri­bos de Israel toma­remos dez homens em cada cem, cem em cada mil e mil em cada dez mil, para irem procu­rar mantimentos para o povo, para aqueles que irão tratar Guibeá de Benjamim segundo a in­fâ­mia que cometeu contra Is­rael.» 11E todos os homens de Israel, como um só ho­mem, se juntaram e foram uni­dos contra a cidade. 12As tribos de Israel envia­ram mensa­gei­ros a toda a tribo de Benja­mim a di­zer: «Que crime é este que se come­teu no meio de vós? 13Agora entre­gai-nos esses homens malva­dos que estão em Gui­beá e nós os ma­taremos e arranca­remos o mal de Israel.» Os filhos de Benja­mim, po­rém, não quiseram dar ouvidos à voz de seus irmãos, os filhos de Is­rael.


Primeiros recontros14Junta­ram-se os filhos de Benjamim, vindos das suas cidades, em Guibeá, para saí­rem a guerrear contra os fi­lhos de Israel. 15Nesse dia, vindos das suas cidades, os filhos de Ben­jamim recen­­searam-se em cerca de vinte e seis mil, peritos em manejar a espada, sem contar os habitantes de Guibeá, cujo recenseamento contava uns se­te­centos homens escolhidos. 16Entre todo este povo havia sete­centos ho­mens de elite esquer­dinos, todos há­beis em atirar pedras com a funda a um cabelo, sem fa­lhar. 17Os homens de Israel recen­sea­ram-se, sem con­tar os de Ben­jamim, em número de quatrocentos mil, hábeis em mane­jar a espada e todos bons combaten­tes. 18Parti­ram, pois, e subiram a Be­tel para consultar a Deus; os filhos de Israel perguntaram: «Quem de nós subirá primeiro para lutar con­tra os filhos de Benjamim?» Então, o Senhor respondeu: «Judá será o primeiro.» 19Partiram os filhos de Judá, na ma­nhã seguinte, e acam­pa­ram jun­to de Guibeá. 20Tendo saído para combater os de Benjamim, os homens de Israel organizaram-se em ordem de batalha contra eles junto de Guibeá. 21Os filhos de Benjamim saí­ram de Guibeá e nesse dia des­troçaram vinte e dois mil homens de Israel. 22O povo dos homens de Is­rael refez-se, e de novo se orga­niza­ram para a batalha no mesmo lugar em que tinham estado no primeiro dia. 23Os filhos de Israel subiram para chorar diante do Se­nhor até à tarde; então consulta­ram o Senhor dizendo: «Deverei voltar a travar com­bate, contra os filhos de Benjamim, meu irmão?» O Senhor respondeu-lhes: «Subi contra eles.»

24No se­gundo dia, os filhos de Is­rael atacaram os filhos de Benja­mim. 25Neste segundo dia, Ben­jamim saiu de Guibeá con­tra eles, e destruiu ainda dezoito mil homens de entre os filhos de Israel, todos peritos no manejo da espada. 26Todos os filhos de Israel e todo o povo subiram, en­tão, e chegaram a Betel; ali chora­ram sentados no chão diante do Senhor, jejuaram nesse dia até à tarde; ofe­re­ceram holo­caus­tos e sacrifícios de comu­nhão, na pre­sença do Senhor.

27Os filhos de Is­rael consultaram o Se­nhor. Ali se encontrava, naque­les dias, a Arca da aliança do Senhor. 28Fineias, filho de Eleázar, filho de Aarão, colocou-se diante dela, nessa altura, dizendo: «De­verei eu, ainda, sair para com­bater contra os filhos de Benjamim, meu irmão, ou, pelo contrário, devo renunciar a isso?» E o SENHOR disse: «Subi, que Eu ama­nhã pô-los-ei nas tuas mãos!»


Derrota de Benjamim29Israel pôs homens de emboscada a toda a volta de Guibeá. 30No terceiro dia, os filhos de Israel subiram contra os filhos de Benjamim e organizaram-se contra Guibeá, como das outras vezes. 31Então, os filhos de Benja­mim saíram ao encontro do povo, distan­ciando-se muito da cidade e começa­ram a fazer vítimas entre o povo como antes; mataram cerca de trinta ho­mens de Israel, em campo raso e pelas estradas que sobem uma para Betel e outra para Gui­beá. 32Dis­se­ram os filhos de Benja­mim: «Ei-los feridos diante de nós, como ao prin­cípio.» Po­rém, os filhos de Israel tinham dito: «Vamos fugir; vamos atraí-los para longe da ci­dade, nas estradas.»

33En­tão, todos os homens de Is­rael se levantaram das suas posi­ções e se organizaram em ordem de com­bate junto de Baal-Tamar, enquanto a em­boscada de Israel irrompia da sua posição, na planície de Guibeá. 34As­sim, dez mil homens, seleccio­na­dos de entre todo o povo de Israel, che­garam diante de Guibeá; a bata­lha foi dura; não sabiam os filhos de Ben­jamim que a desgraça lhes es­tava mesmo iminente.

35O Senhor feriu Benja­mim na pre­sença de Israel e, nesse dia, os filhos de Israel deram morte a vinte e cinco mil e cem ho­mens, todos eles valentes guerreiros e há­beis no ma­nejo da espada. 36En­tão, os filhos de Benjamim reconhe­ceram que haviam sido derrotados. Os homens de Is­rael tinham cedido terreno a Benjamim para fugir, por­que confiavam na em­boscada que tinham preparado junto de Guibeá. 37A emboscada lançou-se contra Gui­beá com toda a violência, expandiu-se e bateu toda a cidade a golpe de espada. 38Havia uma combi­nação dos homens de Israel com os da embos­cada, de que estes fizes­sem subir da cidade uma fumarada como sinal. 39Os homens de Israel tive­ram uma reviravolta na batalha; logo Ben­ja­mim começou a fazer mortandade entre os homens de Israel, matando cerca de trinta homens, e dizendo: «Eles estão completamente batidos na nossa frente, como no início da batalha.» 40O sinal, porém, uma nu­vem de fumo, começava já a elevar-se da cidade; então, mal Benjamim retrocedeu, eis que toda a cidade se elevava em chamas para os céus.


Massacre de Benjamim41Os ho­mens de Israel tinham feito, pois, uma reviravolta, e por isso os ho­mens de Benjamim ficaram aterro­rizados, pois viam que a desgraça tinha, de facto, caído sobre eles. 42Vol­ta­ram costas diante dos homens de Israel, fugindo em direcção ao de­serto; a batalha, porém, apertava-os, e então os que vinham da cidade matavam-se ali mesmo uns aos ou­tros. 43Cer­caram Benjamim, perse­gui­ram-no sem réplica, espezinhando-o até à frente de Guibeá, do lado do sol-nas­cente. 44Morreram dezoito mil homens de Benjamim, todos eles homens va­lentes. 45Voltaram as costas e fugi­ram para o deserto em direcção ao rochedo de Rimon; foram massacra­dos pelas estradas cinco mil homens; foram perseguidos outros até Gui­deom e mortos dois mil homens.

46O total de mortos de Benjamim na­quele dia foi de vinte e cinco mil, todos pe­ritos no manejo da espada e valen­tes guerreiros. 47Seiscentos ho­mens volta­ram as costas e refugia­ram-se no deserto, para os lados do rochedo de Rimon, onde ficaram cerca de qua­tro meses. 48Os homens de Is­rael, porém, voltaram contra os filhos de Benjamim e passaram a fio de es­pada, de cidade em cidade, desde os ho­mens aos animais, quantos encon­­­travam; e entregaram às chamas todas as cidades que encontraram.

Capítulo 21

Israel lamenta a destrui­ção de Benjamim1Os homens de Israel tinham jurado em Mispá, dizendo: «Nenhum dos nossos ho­mens dará uma filha sua a um habi­tante de Benjamim como esposa.»

2Então, o povo foi a Betel e ficou ali até à tarde, diante de Deus; le­van­­ta­vam a voz e choravam em altos gritos. 3Disseram, pois: «Se­nhor, Deus de Israel, como foi possível uma coisa destas? Falta hoje uma tribo em Is­rael!» 4E assim, no dia seguinte, o povo ergueu ali um altar e ofereceu holocaustos e sacrifícios de comu­nhão. 5Disseram os filhos de Israel: «Qual é, de todas as tribos de Israel, a que não subiu a tomar parte na assembleia em presença do Senhor?» É que tinha havido um solene ju­ra­mento contra quem não tivesse su­bido a Mispá, onde se dizia: «Morra sem remissão!»

6Os filhos de Israel tinham muita pena dos habitantes de Ben­jamim, seus irmãos, e disseram: «Hoje, uma tribo foi arrancada de Israel! 7Que poderemos nós fazer por eles, a fim de dar esposas aos que restam, uma vez que nós jurámos pelo Senhor não lhes dar as nossas filhas em casa­mento?»


Mulheres de Jabés para os ben­jaminitas8Então disseram: «Há alguma das tribos de Israel que não tenha subido à presença do Senhor, em Mispá?» Eis que de Jabés de Guilead ninguém tinha ido à assem­bleia, no acampamento. 9 Real­men­te, quando o povo se apresentou para o recenseamento, não havia lá ne­nhum homem que fosse de Jabés de Gui­lead. 10Então, a comunidade man­­dou lá doze mil guerreiros for­tes, dando-lhes a ordem seguinte: «Ide e passai a fio de espada os habitantes de Ja­bés de Guilead, in­cluindo mu­lheres e crianças. 11Eis o que deveis fazer: votai ao anátema todo o ho­mem e tam­bém toda a mulher que tenha tido rela­ções sexuais com um homem, deixando com vida as solteiras.»

12Encontraram en­tre os habitan­tes de Jabés de Gui­lead quatro­cen­tas jovens virgens, que não tinham tido relações sexuais com nenhum ho­­mem; levaram-nas ao acampa­mento, em Silo, que fica na terra de Canaã. 13Toda a comunidade enviou mensa­geiros aos filhos de Benjamim, que vivem junto do rochedo de Ri­mon, anunciando-lhes paz. 14Então, os fi­lhos de Benjamim voltaram a suas casas e deram-lhes as mulhe­res pou­padas à chacina de entre as de Jabés de Guilead; nem todos, porém, tive­ram mulher, pois não chegaram para todos. 15O povo teve pena de Benja­mim, por o Senhor ter aberto uma brecha nas tribos de Israel.

16Então, os anciãos da assem­bleia disseram: «Que havemos de fazer para que os que ainda restam te­nham mu­­­lher, uma vez que as mu­­lheres de Ben­ja­mim foram exter­­mi­nadas?» 17E di­ziam: «Poderá Ben­ja­mim pos­suir um resto, de modo que uma tribo não seja exterminada de Is­rael? 18Nós não podemos dar-lhes as nossas filhas em casa­mento.» Com efeito, os filhos de Israel tinham feito o seguinte juramento: «Maldito seja quem der mulher a Benjamim.»


Rapto das jovens de Silo19Ape­sar disso, disseram: «Todos os anos há em Silo a festa do Senhor. Silo fica a norte de Betel, a leste da es­trada que sobe de Betel a Siquém, a sul de Lebona.» 20Ordenaram, pois, aos filhos de Benjamim, dizendo:

«Ide, e ponde-vos de emboscada nas vinhas. 21Prestai atenção! Quan­­do as filhas de Silo saírem para dan­çar em roda, saireis das vinhas e rap­ta­reis cada um a sua, de entre as fi­lhas de Silo. Depois, ireis para a terra de Benjamim. 22Se, por acaso, seus pais ou seus irmãos vierem ques­tio­nar connosco, dir-lhes-emos: ‘Tende pena deles, pois não pude­ram tomar mulher para si, du­rante a guerra. Por outro lado, nem vós poderíeis dar-lhas; seríeis cul­pados!’»

23Assim fize­ram os filhos de Ben­jamim: entre as jovens dança­rinas que raptaram, levaram mu­lheres em número igual ao deles. Partiram, depois, e regres­sa­­ram à terra da sua herança; re­cons­truí­ram as cidades e estabeleceram-se lá! 24Nessa altura, os filhos de Israel dispersaram-se tam­bém cada um para a sua tribo e seu clã; dali partiram cada um para a terra da sua herança. 25Naquele tempo não havia rei em Israel; por isso, cada um fazia o que bem lhe parecia.

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