Capítulo 1
No Sul (Js 10,1-43; 14,6-15; 15,13-19) 1E aconteceu que, depois da morte de Josué, os filhos de Israel consultaram o Senhor, dizendo: «Quem de nós irá em primeiro lugar combater os cananeus?» 2O Senhor respondeu: «Subirá Judá, pois entreguei o território nas suas mãos.» 3Então, disse Judá a Simeão, seu irmão: «Sobe comigo à terra que me tocou em sorte para fazer guerra aos cananeus; e também eu subirei contigo à tua terra.» E Simeão foi com ele.
4Subiu, pois, Judá, e o Senhor entregou nas suas mãos os cananeus e os perizeus e derrotaram dez mil deles em Bézec. 5Tendo encontrado Adonibezec em Bézec, atacaram-no, e derrotaram os cananeus e os perizeus. 6Então, Adonibézec fugiu, mas eles perseguiram-no, apanharam-no e amputaram-lhe os polegares das mãos e dos pés. 7Adonibézec disse então: «Setenta reis, amputados os polegares das mãos e dos pés, apanhavam os restos de comida sob a minha mesa. Assim fiz eu, assim Deus me pagou.» Levaram-no para Jerusalém e lá morreu.
Conquista de Jerusalém e de Hebron – 8Os filhos de Judá atacaram, então, Jerusalém, tomaram-na, passaram os seus habitantes a fio de espada e incendiaram a cidade. 9Depois desceram os homens de Judá a combater os cananeus que habitavam nas montanhas, no Négueb e na planície.
10Judá marchou, então, contra os cananeus que habitavam em Hebron, antes chamada Quiriat-Arbá, e derrotou Chechai, Aiman e Talmai. 11Em seguida, partiu contra os habitantes de Debir, cujo nome era antes Quiriat-Séfer. 12Então, disse Caleb: «Àquele que atacar Quiriat-Séfer e a conquistar, dar-lhe-ei por esposa minha filha Acsa.» 13Então, Oteniel, filho de Quenaz, irmão mais novo de Caleb, conquistou-a e Caleb deu-lhe por esposa a sua filha Acsa. 14Quando ela chegou, ele incitou-a a pedir ao pai um campo. Ao descer do jumento, perguntou-lhe Caleb: «Que tens?» 15Então, ela disse: «Faz-me um favor: tal como me deste uma região árida, dá-me também uma que seja irrigada por fontes de água.» E Caleb deu-lhe fontes na encosta e fontes nos vales. 16Ora os filhos de Hobab, o quineu, sogro de Moisés, subiram, com os filhos de Judá, da Cidade das Palmeiras ao deserto de Judá, que fica a sul de Arad; foram viver com os povos de lá.
17Judá prosseguiu a sua marcha com seu irmão Simeão, e derrotaram os cananeus que habitavam em Sefat; destruíram-na completamente, votaram-na ao extermínio e puseram à cidade o nome de Horma. 18Entretanto, Judá apoderou-se de Gaza e seu território, de Ascalon, de Ecron e suas terras. 19Aconteceu que o Senhor estava com Judá, e este apoderou-se da montanha; mas não conseguiu expulsar os habitantes da planície, porque tinham carros de ferro. 20 Deram Hebron a Caleb, como Moisés havia dito, e Caleb expulsou de lá os três filhos de Anac. 21Quanto aos jebuseus que habitavam em Jerusalém, os filhos de Benjamim não os expulsaram; e, assim, os jebuseus moram, com os filhos de Benjamim, em Jerusalém até aos dias de hoje.
Conquista de Betel – 22Os filhos de José marcharam também contra Betel, e o Senhor estava com eles. 23Mandaram fazer a exploração de Betel, cidade que antigamente se chamava Luz. 24Os exploradores viram, então, um homem que saía da cidade e disseram-lhe: «Ensina-nos como se entra na cidade e não te faremos mal.» 25Ele mostrou-lhes a entrada da cidade, e eles passaram-na a fio de espada; porém, àquele homem e a toda a sua família deixaram-nos em liberdade. 26O homem retirou-se para a região dos hititas, fundou aí uma cidade a que pôs o nome de Luz, nome que ela conserva até aos dias de hoje.
Limites da ocupação (Js 17,11-13; 19,10-51) – 27A tribo de Manassés não conquistou Bet-Chan com as localidades vizinhas, nem Taanac com as localidades vizinhas e seus habitantes, nem Dor com as localidades vizinhas e seus habitantes, nem Jiblam com as localidades vizinhas e seus habitantes, nem Meguido com as localidades vizinhas; os cananeus continuaram a habitar nessa terra.
28Porém, quando Israel se tornou suficientemente forte, impôs-lhes tributo, mas não os expulsou. 29A tribo de Efraim não expulsou os cananeus que moravam em Guézer, e estes continuaram a viver ali, no meio de Efraim.
30A tribo de Zabulão não expulsou os habitantes de Quitron, nem os de Naalol, e os cananeus continuaram a habitar no meio dela, mas ficaram sujeitos a tributo. 31A tribo de Aser não expulsou os habitantes de Aco, nem os de Sídon, nem os de Alab, de Aczib, de Helba, os de Afec nem os de Reob. 32Por isso, os filhos de Aser estabeleceram-se entre os cananeus, habitantes da região, visto não os terem expulsado. 33A tribo de Neftali não expulsou os habitantes de Bet-Chémes e os de Bet-Anat, e estabeleceu-se entre os cananeus, habitantes da região; mas os habitantes de Bet-Chémes e os de Bet-Anat ficaram a pagar tributo.
34Os amorreus repeliram a tribo de Dan para a montanha, não lhes permitindo descer à planície. 35Os amorreus conseguiram ficar em Har-Heres, em Aialon e em Chaalbim, mas, quando os descendentes de José ficaram mais fortes, obrigaram-nos a pagar tributo. 36O território dos amorreus estendia-se desde a subida de Acrabim e de Sela para cima.
Capítulo 2
Repreensões do Senhor (Dt 7,1-5; Js 23,7-13) – 1O anjo do Senhor subiu de Guilgal a Boquim e disse: «Tirei-vos do Egipto e trouxe-vos à terra que havia prometido sob juramento a vossos pais. Tinha-vos dito: ‘Jamais quebrarei a minha aliança estabelecida convosco para sempre, 2e vós, da vossa parte, não pactuareis com os habitantes desta terra; antes, haveis de destruir os seus altares.’ Vós, porém, não ouvistes a minha palavra. Que fizestes? 3Eis por que Eu disse: ‘Não os expulsarei diante de vós; servir-vos-ão de inimigos, e os seus deuses hão-de constituir para vós uma armadilha.’» 4Ora, desde que o anjo do Senhor proferiu estas palavras a todos os filhos de Israel, o povo soltou gritos e chorou. 5Por isso chamaram a este lugar Boquim, e aí ofereceram sacrifícios ao Senhor.
Morte de Josué (Js 24,29-31) – 6Josué despediu o povo, e os filhos de Israel foram cada um para a terra que lhe tocou em herança. 7O povo serviu o Senhor durante toda a vida de Josué e dos anciãos que lhe sobreviveram e viram a grande obra que o Senhor tinha realizado em favor de Israel. 8Josué, filho de Nun, servo do Senhor, morreu com a idade de cento e dez anos. 9Sepultaram-no no território que lhe coubera, em Timnat-Heres, no monte de Efraim, a norte do monte Gaás.
10Depois, toda esta geração se foi juntar a seus pais; surgiu então, depois dela, outra geração que não conhecia o Senhor, nem a obra que o Senhor havia feito em favor de Israel. 11Os filhos de Israel fizeram o mal perante o Senhor e prestaram culto aos ídolos de Baal. 12Abandonaram o Senhor, Deus de seus pais, que os tinha feito sair da terra do Egipto, e foram atrás dos deuses dos povos que os rodeavam; prostraram--se diante deles e ofenderam o Senhor. 13Abandonaram o Senhor e adoraram Baal e os ídolos de Astarté. 14Inflamou-se a ira do Senhor contra Israel e entregou-os nas mãos de salteadores que os espoliaram, e vendeu-os aos inimigos que os rodeavam. Eles já não foram capazes de lhes resistir. 15Para onde quer que saíssem, pesava sobre eles a mão do Senhor como um flagelo, conforme lhes havia dito e jurado; e foi muito grande a sua angústia.
Missão dos juízes – 16O Senhor suscitou, então, juízes que os libertaram dos seus espoliadores. 17Eles, porém, nem mesmo aos seus juízes deram ouvidos; prostituíram-se a deuses estranhos e prostraram-se diante deles. Depressa se desviaram dos caminhos que seus pais tinham trilhado, obedecendo aos preceitos do Senhor, não procederam como eles.
18Quando o Senhor lhes suscitava juízes, o Senhor estava com aquele juiz, libertando-os da mão dos seus inimigos durante toda a vida do juiz; é que o Senhor deixava-se comover pelos seus lamentos frente aos que os oprimiam e humilhavam. 19Mas, quando o juiz morria, eles voltavam a corromper-se, mais ainda que seus pais, seguindo deuses estranhos para os servir e adorar; não renunciavam aos seus crimes, nem à sua conduta pertinaz.
Razões da permanência de povos estrangeiros (1,27-35; Js 13,2-7) – 20Inflamou-se, então, a ira do Senhor contra Israel e disse: «Já que este povo violou a minha aliança que Eu estabeleci com seus pais e não ouviu a minha voz, 21também Eu não continuarei a expulsar diante dele nenhum dos povos que Josué deixou quando morreu. 22Por meio deles, vou pôr à prova Israel, para saber se seguirão ou não os caminhos do Senhor, como seguiram seus pais.»
23Foi por isso que o Senhor deixou esses povos nos seus territórios; não os expulsou logo nem os entregou nas mãos de Josué.
Capítulo 3
Povos cananeus que não foram vencidos – 1Estes são os povos que o Senhor deixou subsistir para, por meio deles, pôr à prova os israelitas que não conheceram nenhuma das guerras de Canaã; 2foi precisamente para assim provar as gerações dos filhos de Israel, para os instruir na guerra, somente porque a não haviam experimentado antes: 3eram os cinco príncipes dos filisteus e todos os cananeus, os sidónios e os heveus que habitavam o monte do Líbano, desde a montanha de Baal-Hermon até à entrada de Hamat. 4Estes subsistiram, pois, para pôr à prova os israelitas, para ver se eles ouviriam os mandamentos do Senhor, que Ele havia prescrito a seus pais por meio de Moisés.
5Assim, os filhos de Israel habitaram no meio dos cananeus, dos hititas, dos amorreus, dos perizeus, dos heveus e dos jebuseus. 6Tomaram por esposas as filhas deles e deram-lhes as suas em casamento; e prestaram culto aos seus deuses.
1. Oteniel
Primeiros juízes – 7Os filhos de Israel praticaram o mal aos olhos do Senhor; esqueceram-se do Senhor, seu Deus, e serviram os ídolos do deus Baal e da deusa Achera. 8A ira do Senhor inflamou-se contra Israel e entregou-os nas mãos de Cuchan-Richataim, rei de Aram-Naaraim; e os filhos de Israel serviram a Cuchan-Richatain durante oito anos. 9Mas os filhos de Israel clamaram ao Senhor, e o Senhor mandou-lhes um salvador que os libertou: Oteniel, filho de Quenaz, irmão mais novo de Caleb. 10O espírito do Senhor esteve com ele, e ele foi juiz em Israel e partiu para a guerra; o Senhor pôs nas suas mãos Cuchan-Richatain, rei de Aram, e a sua mão triunfou contra ele. 11O país viveu em paz durante quarenta anos; depois, Oteniel, filho de Quenaz, morreu.
12Os filhos de Israel voltaram a praticar o mal diante do Senhor; o Senhor mandou contra eles Eglon, rei de Moab, por terem praticado o mal diante do Senhor. 13Eglon aliou-se com os amonitas e com os amalecitas; depois pôs-se em marcha contra Israel e derrotou Israel, tomando a Cidade das Palmeiras. 14Então, os filhos de Israel ficaram submetidos a Eglon, rei de Moab, durante dezoito anos.
15Os filhos de Israel clamaram, então, ao Senhor, e o Senhor enviou-lhes um salvador: Eúde, filho de Guera, filho de Benjamim, que era esquerdino. Os filhos de Israel enviaram um tributo a Eglon, rei de Moab, por seu intermédio.
16Eúde fez para si um punhal de dois gumes, de meio côvado de comprimento, e colocou-o debaixo das vestes, junto à coxa direita. 17Entregou o tributo a Eglon, rei de Moab. Eglon era um homem muito gordo. 18Mal acabou de apresentar o tributo, Eúde foi-se embora com os que tinham trazido o tributo. 19Mas ao chegar perto dos ídolos que estão junto a Guilgal, voltou para trás e disse ao rei: «Ó rei, tenho um segredo a confidenciar-te.» E ele disse: «Silêncio!»; e todos os que estavam com ele se retiraram. 20Eúde foi ter com Eglon; este encontrava-se a descansar no quarto de cima, muito fresco, que lhe era reservado. E disse Eúde: «Tenho uma palavra de Deus para ti.» E o rei levantou-se do seu trono. 21Então, estendendo a mão esquerda, Eúde tomou o punhal de junto da coxa direita e cravou-lho no ventre. 22O próprio cabo penetrou após a lâmina, e a gordura voltou a fechar a ferida, pois Eúde não retirou o punhal do ventre do rei. 23Então, Eúde saiu pela janela, depois de ter deixado bem fechadas as portas do quarto de cima, trancando-as com ferrolhos.
24Tendo ele saído, chegaram os servos e, ao verem as portas aferrolhadas, disseram entre si: «Está, com certeza, a fazer as suas necessidades no quarto fresco de Verão.» 25Esperaram até ficarem preocupados: é que ele nunca mais abria as portas do quarto de cima. Foi então que pegaram na chave, abriram, e eis que o seu senhor jazia, morto, por terra. 26Eúde, esse, tinha fugido enquanto eles esperavam; já tinha ultrapassado os ídolos de Guilgal e escapara para Seíra. 27Chegado às terras de Efraim, tocou a trombeta nas montanhas: com ele à frente, desceram da montanha os filhos de Israel. 28Ele disse-lhes então: «Vinde comigo, pois o Senhor entregou nas vossas mãos os moabitas, vossos inimigos.» Eles seguiram-no, ocupando os vaus do Jordão, junto de Moab, e não deixaram passar ninguém. 29Foi então que derrotaram Moab, com os seus cerca de dez mil homens, todos robustos e valentes; nem um só escapou. 30Nesse dia, Moab foi humilhado às mãos de Israel; e o país viveu em paz durante oitenta anos.
31Depois dele, foi juiz Chamegar, filho de Anat; derrotou os filisteus, em número de seiscentos homens, com um aguilhão dos bois; e também ele libertou Israel.
Capítulo 4
A profetisa Débora e Barac (1 Sm 12,9-11; Sl 83,10; Heb 11,32) – 1Depois da morte de Eúde, os filhos de Israel continuaram a praticar o mal diante do Senhor. 2O Senhor entregou-os, então, nas mãos de Jabin, rei de Canaã, que reinava em Haçor; o chefe do seu exército era Sísera, que habitava em Haróchet-Goim.
3Então, os filhos de Israel clamaram ao Senhor, pois Sísera possuía novecentos carros de ferro, e os oprimira violentamente durante vinte anos. 4Ora Débora, profetisa, mulher de Lapidot, exercia por essa altura as funções de juiz em Israel. 5Sentava-se debaixo da palmeira de Débora, entre Ramá e Betel, na montanha de Efraim, e os israelitas iam ter com ela para que lhes servisse de árbitro. 6Ela mandou chamar Barac, filho de Abinoam, de Quedes, em Neftali, e disse-lhe: «Assim ordenou o Senhor, Deus de Israel: ‘Vai, reúne no monte Tabor e toma contigo dez mil homens das tribos de Neftali e de Zabulão. 7Eu conduzirei para ti, junto da torrente de Quichon, Sísera, chefe do exército de Jabin, os seus carros e os seus exércitos, e entregá-los-ei nas tuas mãos.’» 8Barac disse-lhe: «Se fores comigo, eu irei; mas se não fores comigo, não irei.» 9Ela respondeu: «Irei, sem dúvida, contigo; mas fica a saber que a glória da expedição que tu fazes não será para ti, pois o Senhor vai entregar Sísera nas mãos de uma mulher.»
Débora levantou-se, então, e foi com Barac em direcção a Quedes. 10Barac convocou Zabulão e Neftali em Quedes, e reuniu sob as suas ordens dez mil homens; Débora foi também com ele. 11Héber, o quenita, tinha-se separado dos quenitas, descendentes de Hobab, sogro de Moisés, e tinha montado as suas tendas até ao carvalhal de Saanaim, junto de Quedes.
Derrota de Sísera (Ex 14,24-25) – 12Anunciaram a Sísera que Barac, filho de Abinoam, subia para o monte Tabor. 13Então, Sísera reuniu todos os seus carros, novecentos carros de ferro, e todos os homens que estavam com ele, e saiu de Harochet-Goim, para a torrente de Quichon. 14Disse, então, Débora a Barac: «Levanta-te, pois é este o dia em que o Senhor avança, para entregar Sísera nas tuas mãos; eis que o Senhor vai, Ele próprio, à tua frente.» Barac desceu do monte Tabor com dez mil homens atrás de si. 15O Senhor desbaratou Sísera com todos os seus carros e todo o seu exército, a golpe de espada, na presença de Barac; então, Sísera, saltando do seu carro, fugiu mesmo a pé.
16Barac perseguiu os carros e o exército até Harochet-Goim, e todo o acampamento de Sísera foi passado a fio de espada, sem escapar nem um homem. 17Sísera fugiu a pé para a tenda de Jael, mulher de Héber, o quenita, porque havia paz entre Jabin, rei de Haçor, e a família de Héber, o quenita.
18Então, Jael saiu ao encontro de Sísera e disse-lhe: «Entra, meu senhor, entra na minha casa, não temas.» Ele entrou com ela na tenda e ela encobriu-o sob o tapete. 19Disse-lhe ele: «Por favor, dá-me de beber um pouco de água, que tenho sede.» Ela abriu um odre de leite, deu-lhe de beber e tornou a cobri-lo. 20Disse-lhe Sísera: «Põe-te à entrada da tenda, e se alguém te perguntar: ‘Há aqui alguém?’, responderás: ‘Não.’» 21Então, Jael, mulher de Héber, pegou num prego da tenda, agarrou nas mãos o martelo e foi ter com ele, devagarinho; enterrou o prego na testa de Sísera, a ponto de penetrar na própria terra; Sísera estava em sono profundo e assim, desfaleceu e morreu.
22E eis que chega Barac, em perseguição de Sísera. Jael, saindo-lhe ao encontro, disse-lhe: «Vem; vou mostrar-te o homem que procuras.» Ele entrou com ela e encontrou Sí-sera que jazia morto por terra, com o prego na fronte. 23Naquele dia o Senhor humilhou Jabin, rei de Canaã, perante os israelitas. 24A mão dos filhos de Israel tornou-se cada vez mais pesada sobre Jabin, rei de Canaã, até que acabaram por matá-lo.
Capítulo 5
Cântico triunfal de Débora (Ex 15,1-18) – 1Naquele dia Débora e Barac, filho de Abinoam, entoaram o seguinte cântico:
2«Louvai o Senhor!
Pois em Israel os chefes comandam,
e o povo espontaneamente se ofereceu.
3Ouvi-me, ó reis;
prestai-me ouvidos, ó príncipes,
que eu vou cantar ao Senhor;
o Senhor, Deus de Israel, celebrarei:
4Senhor, quando saíste de Seir,
quando partiste das estepes de Edom,
a terra tremeu, os céus agitaram-se
e as nuvens desfizeram-se em água.
5Os montes derreteram-se diante do Senhor, o do Sinai;
diante do Senhor, Deus de Israel.
6Nos dias de Chamegar, filho de Anat,
nos dias de Jael, tinham cessado as caravanas,
e os que viajavam, iam por atalhos tortuosos.
7Faltavam os chefes,
faltavam as forças em Israel,
até que eu, Débora, me levantei,
levantei-me como mãe em Israel.
8Escolhiam novos deuses;
e, então, em Israel, em cinco cidades,
mal se viam um escudo e uma lança
para quarenta mil homens!
9O meu coração segue os chefes de Israel,
aqueles que de entre o povo
se ofereceram espontaneamente ao perigo:
bendigamos o Senhor.
10Vós, os que montais brancas jumentas,
os que vos sentais sobre tapeçarias,
os que andais pelo caminho, proclamai!
11Pela voz dos que repartem despojos junto às fontes,
aí se cantam as vitórias do Senhor,
as vitórias da sua força em Israel.
Então, o povo do Senhor desceu às portas.
12Acorda, desperta, Débora!
Desperta! Desperta! Entoa um cântico!
Levanta-te, Barac!
Prende os que te prenderam a ti,
ó filho de Abinoam.
13Então, o sobrevivente desceu com os nobres,
o povo do Senhor desceu para mim entre os heróis.
14De Efraim subiram a Amalec;
teu irmão, Benjamim, está com as tuas tropas;
de Maquir descem os comandantes;
e de Zabulão os que detêm a vara do comando.
15Os chefes de Issacar estão com Débora
e Issacar, tal como Barac,
lança-se na planície atrás das suas pegadas;
junto aos regatos de Rúben,
grandes foram as ansiedades do coração!
16Por que razão te ficaste entre as pastagens
escutando os assobios para os gados?
Junto aos regatos de Rúben,
grandes foram as ansiedades do coração!
17Guilead habita para além do Jordão;
e Dan, por que razão ficou nos seus navios?
Aser sentou-se à beira do mar, descansando nos seus portos.
18Zabulão é um povo que oferece a sua vida à morte
e Neftali está sobre as altas colinas.
19Vieram os reis e combateram;
também combateram os reis de Canaã em Taanac,
junto às águas de Meguido;
mas não pegaram em despojos nem dinheiro.
20Dos céus combateram as estrelas,
combateram das suas órbitas contra Sísera.
21A torrente de Quichon arrebatou-os;
a torrente dos antigos, a torrente de Quichon
espezinhou a vida dos valentes.
22Então ressoaram os cascos dos cavalos
na corrida entusiástica dos seus valentes guerreiros.
23Amaldiçoai Meroz, diz o anjo do Senhor,
amaldiçoai energicamente os seus habitantes,
porque não correram em socorro
do Senhor,
como os valentes guerreiros!
24Bendita seja Jael entre as mulheres,
a mulher de Héber, o quenita,
bendita seja entre as mulheres na tenda!
25Pediu água; leite fresco ela lhe deu!
Em nobre taça lhe serviu a nata!
26Estendeu a sua mão para o prego,
a sua direita para o martelo de rudes trabalhadores,
e martelou Sísera,
esmagando-lhe a cabeça!
Rachou-lhe e traspassou-lhe as têmporas!
27A seus pés ele caiu,
prostrou-se, ficou estendido
e já sem forças ali caiu,
e ficou aniquilado!
28Assoma à janela a lamentar-se
a mãe de Sísera, através das grades:
‘Porque tarda em vir o seu carro?
Porque é tão lenta a marcha dos seus carros de guerra?!’
29A mais sábia das suas princesas lhe responde,
e ela mesma volta a repeti-lo para si própria:
30‘Eis que eles encontram e repartem os despojos:
uma jovem, duas jovens para cada homem;
despojos coloridos para Sísera, despojos coloridos,
um tecido, dois tecidos coloridos
para os seus ombros como despojo.’
31Assim pereçam, Senhor, todos os teus inimigos;
e os seus amigos sejam como o nascer do Sol,
em toda a sua pujança!»
32Então o país descansou em paz durante quarenta anos.
Capítulo 6
5. Gedeão
Opressão dos madianitas – 1Os filhos de Israel fizeram o mal diante do Senhor, e o Senhor entregou-os nas mãos dos madianitas, durante sete anos. 2A mão dos madianitas caiu pesada sobre Israel. Por medo dos madianitas, os israelitas prepararam nas montanhas, para si, as cavernas, as grutas e os refúgios escarpados. 3Ora, sempre que Israel semeava, vinham os madianitas com os amalecitas, assim como outras tribos do Oriente, para os atacar. 4Acampavam entre eles e devastavam os produtos da terra até às proximidades de Gaza, não deixando subsistência alguma para Israel, nem ovelhas, nem bois, nem jumentos. 5Com efeito, vinham eles e os seus rebanhos, com as suas tendas, chegavam numerosos como vasta nuvem de gafanhotos, eles e os seus camelos incontáveis; e entravam na terra para a devastar.
6Assim, por causa dos madianitas, Israel acabou por ficar muito pobre. Foi então que os filhos de Israel clamaram ao Senhor. 7Tendo os filhos de Israel clamado ao Senhor por causa dos madianitas, 8o Senhor enviou-lhes um profeta que lhes disse: «Assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘Fui Eu que vos fiz subir do Egipto e vos libertei da casa da escravidão. 9Eu vos libertei da mão dos egípcios e de todos os vossos opressores; Eu os expulsei da vossa presença e vos dei a sua terra. 10Então, disse-vos: Eu sou o Senhor, vosso Deus; não adorareis os deuses dos amorreus, em cuja terra ides habitar. Vós, porém, não ouvistes a minha voz.’»
Vocação de Gedeão (13,1-25; Ex 3,1-10; 1 Sm 3,1-21; Lc 1,26-38; 5,1-11; Act 9,1-18; Gl 1,11-17) – 11Veio, então, o anjo do Senhor e colocou-se debaixo do terebinto de Ofra, que era propriedade de Joás, da família de Abiézer; e Gedeão, seu filho, estava a limpar o trigo no lagar, para o esconder da vista dos madianitas. 12O anjo do Senhor viu-o e disse-lhe: «O Senhor está contigo, valente guerreiro!» 13Respondeu-lhe Gedeão: «Por favor, meu Senhor: se o Senhor está connosco, então porque é que nos aconteceu tudo isto? Onde estão todas as maravilhas que nos contavam os nossos pais, quando diziam: ‘Não é verdade que o Senhor nos fez subir do Egipto?’ Pois agora o Senhor abandonou-nos e entregou-nos nas mãos dos madianitas.»
14O Senhor voltou-se para ele e disse: «Vai com toda a tua força, e salva Israel do poder dos madianitas; sou Eu que te envio.» 15Disse-lhe ele: «Por favor, meu Senhor, como salvarei eu Israel? A minha família é a mais pobre de Manassés, e eu sou o mais jovem da casa de meu pai!» 16Disse-lhe o Senhor: «Eu estarei contigo e tu hás-de derrotar os madianitas, como se fossem um só homem.» 17Gedeão respondeu: «Se, porventura, mereci o teu favor, mostra-me por um sinal que és Tu quem fala comigo. 18Por favor te peço: Não te afastes deste lugar até que eu venha ter contigo; trarei a minha oferta e colocá-la-ei na tua presença.» Ele disse: «Eu ficarei aqui até que regresses.»
19Gedeão foi preparar um cabrito e, com uma medida de farinha, preparou pães ázimos; pôs a carne num cesto e o molho numa panela; depois, levou tudo para baixo do terebinto e ofereceu-lho. 20Disse-lhe o anjo de Deus: «Toma a carne e os pães ázimos, põe-nos sobre esta rocha e espalha o molho.» Gedeão assim fez. 21O anjo do Senhor estendeu a extremidade do bastão que tinha na mão e tocou na carne e nos pães ázimos; saiu fogo da rocha e devorou a carne e os pães ázimos. Então, o anjo do Senhor desapareceu da vista dele. 22Gedeão viu que era o anjo do Senhor e disse: «Ai, Senhor Deus, que eu vi face a face o anjo do Senhor!» 23O Senhor disse-lhe: «A paz seja contigo! Não temas: não morrerás!» 24Gedeão erigiu ali um altar ao Senhor e chamou-lhe: «O Senhor é paz.» Até ao dia de hoje, este altar ainda está em Ofra de Abiézer.
Destruição do altar de Baal (Ex 34,13; 1 Rs 18,27-40) – 25Naquela mesma noite, o Senhor disse a Gedeão: «Toma um touro gordo e um segundo touro de sete anos; derruba o altar de Baal que é de teu pai, e corta a árvore sagrada que está junto dele. 26Construirás depois um altar bem preparado em honra do Senhor, teu Deus, no cimo desta rocha firme. Tomarás, então, o segundo touro e oferecê-lo-ás em holocausto sobre a madeira da árvore sagrada que cortaste.» 27Tomou, pois, Gedeão dez homens de entre os seus servos, e fez como lhe disse o Senhor. E, como receava a família de seu pai e os homens da cidade, se fizesse isso de dia, fê-lo durante a noite.
28Ao levantarem-se de manhã cedo, os homens da cidade viram que o altar de Baal estava demolido, cortada a árvore sagrada e o segundo touro imolado sobre o altar que fora construído. 29Disseram então uns para os outros: «Quem fez isto?» Tendo inquirido e procurado informações, disseram: «Foi Gedeão, o filho de Joás, que fez isto!» 30As pessoas da cidade disseram, pois, a Joás: «Manda sair o teu filho, para ser morto, pois derrubou o altar de Baal e cortou a árvore sagrada que estava junto dele.» 31Joás disse a todos os que estavam junto de si: «Sois vós, acaso, os defensores de Baal? É a vós que compete vir em seu socorro? Quem luta por ele deverá ser morto até ao amanhecer! Se Baal é um deus, que seja ele próprio a defender a sua causa, pois Gedeão destruiu o seu altar!»
32Nesse dia, chamaram a Gedeão Jerubaal, dizendo: «Que Baal defenda contra ele a sua causa, já que derrubou o seu altar!» 33Todos os madianitas e amalecitas, bem como outras tribos do Oriente se reuniram, de comum acordo, atravessaram o Jordão e acamparam na planície de Jezrael. 34Então o espírito do Senhor apoderou-se de Gedeão; quando tocou a trombeta, toda a família de Abiézer se reuniu para o seguir. 35Enviou mensageiros por toda a tribo de Manassés, e também ela se reuniu para o seguir. Do mesmo modo enviou mensageiros a Aser, a Zabulão e a Neftali, e todos eles vieram juntar-se a ele.
Sinal do velo de lã – 36Disse então Gedeão a Deus: «Já que queres salvar Israel pela minha mão, como disseste, 37vou estender na eira um velo de lã. Se houver orvalho somente no velo, e toda a terra ficar seca, ficarei a saber que vais salvar Israel pela minha mão, como disseste.» 38E assim aconteceu: quando Gedeão se levantou, de manhã, espremeu o velo e este destilou orvalho: uma bacia cheia de água. 39Gedeão disse a Deus: «Não se inflame a tua cólera contra mim, se eu falo ainda uma vez mais! Deixa-me fazer só mais uma vez a prova do tosão: que fique seco apenas o velo, e haja orvalho sobre toda a terra.» 40E Deus assim fez, nessa noite: estava seco apenas sobre o velo, enquanto, sobre toda a terra, havia orvalho.
Capítulo 7
Derrota dos madianitas (Dt 9,4-7) – 1Jerubaal, isto é, Gedeão, levantou-se de manhã cedo, ele e todos os homens que estavam com ele, e acamparam junto da fonte de Harod, enquanto o acampamento dos madianitas lhes ficava mais a norte, ao lado da colina de Moré, na planície.
2O Senhor disse a Gedeão: «São demasiado numerosos os homens que estão contigo, para que Eu entregue os madianitas em suas mãos. Israel poderia gloriar-se à minha custa e dizer: ‘Foi a minha mão que me salvou!’ 3Peço-te, pois, que proclames aos ouvidos do povo o seguinte: ‘Quem temer e tremer que volte para casa, e deixe a montanha de Guilead.’» Então, regressaram vinte e dois mil homens, ficando apenas dez mil.
4O Senhor disse a Gedeão: «Ainda são muitos homens; leva-os à fonte e lá os submeterei a uma prova. Assim, aquele de quem Eu te disser: ‘Que ele vá contigo!’ esse irá contigo; mas aquele de quem Eu te disser: ‘Que ele não vá contigo!’, esse não te seguirá.» 5Então, Gedeão levou os homens à fonte, e o Senhor disse-lhe: «Todo aquele que lamber a água com a língua, como o cão, põe-no de um lado; e porás do outro lado todo aquele que se puser de joelhos para beber.» 6Ora o número dos que beberam a água com a língua, levando-a com a mão à boca, foi de trezentos homens, e todos os restantes puseram-se de joelhos para beber a água.
7Disse o Senhor a Gedeão: «É com os trezentos homens que beberam a água com a língua que Eu vos salvarei e entregarei os madianitas nas tuas mãos; o resto do povo que volte para sua casa.» 8Tomaram as provisões em suas mãos bem como as suas trombetas, e depois Gedeão mandou a multidão do povo de Israel cada um para a sua casa; reteve consigo apenas os trezentos homens. O acampamento dos madianitas ficava abaixo do seu, na planície. 9Nessa noite, disse-lhe o Senhor: «Levanta-te e vai atacar o acampamento, pois entreguei-o nas tuas mãos. 10Mas, se tens medo de ir sozinho, vai com Purá, teu servo, ao acampamento. 11Escutarás o que eles dizem; a tua coragem será robustecida, e poderás atacar o acampamento.»
Então, desceram, ele e Purá, seu servo, até aos postos avançados do acampamento que se encontrava na planície. 12Os madianitas, os amalecitas e todas as tribos do Oriente estendiam-se pela planície, numerosos como gafanhotos; os seus camelos nem se podiam contar, tão numerosos como grãos de areia na praia do mar. 13No momento em que Gedeão chegou, um homem estava a contar um sonho ao seu companheiro; dizia ele: «Acabo de ter um sonho: eis que um pão de cevada, rolando pelo acampamento dos madianitas, chegou junto da tenda, sacudiu-a violentamente provocando a sua queda.» 14O seu companheiro respondeu, dizendo: «Isso não pode significar senão a espada de Gedeão, filho de Joás, o israelita, a quem Deus entregou Madian e todo o seu acampamento!»
15Sucedeu então que, mal Gedeão ouviu contar o sonho e a sua interpretação, prostrou-se por terra e regressou ao acampamento de Israel e disse: «Levantai-vos, porque o Senhor entregou nas vossas mãos o acampamento de Madian.» 16Dividiu, então, os trezentos em três grupos; pôs uma trombeta na mão de todos eles, bem como cântaros vazios com tochas dentro deles. 17E disse-lhes: «Olhai para mim e fazei como eu fizer; quando eu tiver chegado junto do acampamento, fazei o que eu fizer. 18Eu e os que estão comigo tocaremos a trombeta; então, também vós tocareis as trombetas à volta de todo o acampamento e haveis de gritar: ‘Pelo Senhor e por Gedeão!’» 19Gedeão e os cem homens que estavam com ele chegaram junto do acampamento ao princípio da vigília da meia-noite, quando terminava a rendição das sentinelas. Então, puseram-se a tocar as trombetas, ao mesmo tempo que quebravam os cântaros que levavam nas mãos.
Em perseguição do inimigo – 20Então, os três grupos tocaram as trombetas e quebraram os cântaros; com a mão esquerda pegaram nas tochas, e com a direita nas trombetas para tocar, e gritaram: «Espada pelo Senhor e por Gedeão!» 21Enquanto cada um se mantinha de pé no seu posto, à volta do acampamento, todo o acampamento se lançou a correr e a gritar, procurando, a todo o custo, por onde fugir. 22E enquanto soavam as trezentas trombetas, o Senhor fez com que, em todo o acampamento, cada um levantasse a espada contra o seu companheiro; o exército fugiu até Bet-Chitá, para os lados de Serera, até à margem de Abel-Meolá, junto de Tabat.
23Então, reuniram-se os homens de Israel: da tribo de Neftali, de Aser e de toda a tribo de Manassés, e foram em perseguição dos madianitas. 24Gedeão enviou mensageiros por toda a montanha de Efraim, dizendo: «Descei ao encontro de Madian e ocupai antes deles os vaus das águas até Bet-Bará, bem como o Jordão.»
Todos os homens de Efraim foram convocados e ocuparam os vaus das águas até Bet-Bará, bem como o Jordão. 25Capturaram dois chefes de Madian: Oreb e Zeeb; mataram Oreb no rochedo de Oreb e Zeeb no lagar de Zeeb; depois, conduziram a perseguição até Madian, levando as cabeças de Oreb e Zeeb a Gedeão, do outro lado do Jordão.
Capítulo 8
Efraimitas ofendidos (12,1-7) – 1Então, os homens de Efraim disseram a Gedeão: «Que quer dizer isto que nos fizeste de não nos chamar quando partiste a combater Madian?» E insurgiram-se violentamente contra ele. 2Gedeão respondeu-lhes: «Que fiz eu de comparável a vós? Não vale porventura mais o rebusco de Efraim do que a vindima de Abiézer? 3Foi nas vossas mãos que Deus pôs os príncipes de Madian, Oreb e Zeeb; que fiz eu de mais em comparação convosco?» Mal pronunciou estas palavras a sua cólera contra ele amansou.
A campanha na Transjordânia – 4Gedeão chegou ao Jordão e passou-o, ele e os trezentos homens que estavam com ele; embora esgotados, continuaram a perseguir os madianitas. 5Disse aos homens de Sucot: «Por favor, dai uns bolos de pão aos homens que me seguem, pois, vêm esgotados e eu vou em perseguição de Zeba e Salmuna, reis de Madian.» 6Os chefes de Sucot disseram: «Porventura os pulsos de Zeba e de Salmuna estão já em tuas mãos, para darmos pão ao teu exército?» 7Gedeão respondeu: «Quando o Senhor colocar nas minhas mãos Zeba e Salmuna, eu triturarei a vossa carne com espinhos do deserto e com abrolhos.» 8Dali subiu a Penuel e falou do mesmo modo. Os homens de Penuel responderam como lhe tinham respondido os de Sucot. 9Disse ele, também, aos homens de Penuel: «Quando eu voltar em paz, destruirei esta torre.»
10Zeba e Salmuna encontravam-se em Carcor com o seu exército, cerca de quinze mil homens, todos quantos restavam do exército das tribos do Oriente; de facto, tinham morrido cento e vinte mil homens que sabiam manejar a espada. 11Gedeão subiu pelo caminho dos que habitam as tendas, a oriente de Noba e de Jogboa e derrotou o exército, embora este se julgasse seguro. 12Zeba e Salmuna fugiram. Mas Gedeão perseguiu-os e prendeu os dois reis de Madian, Zeba e Salmuna, semeando o pânico em todo o exército. 13Gedeão, filho de Joás, regressou da batalha pela subida de Heres. 14Então, tomou um jovem de entre os habitantes de Sucot, interrogou-o, e este indicou-lhe por escrito o nome dos chefes de Sucot e seus anciãos: setenta e sete homens.
15Gedeão dirigiu-se aos habitantes de Sucot e disse-lhes: «Eis aqui Zeba e Salmuna, a respeito dos quais me desafiastes, dizendo: ‘Já estão, acaso, em tuas mãos os punhos de Zeba e Salmuna, para que devamos dar pão aos teus homens extenuados?’» 16Tomou, então, os anciãos da cidade, agarrou em espinhos e abrolhos do deserto e açoitou com eles os habitantes de Sucot. 17Arrasou também a torre de Penuel e matou os homens da cidade. 18Disse, depois, a Zeba e a Salmuna: «Como eram aqueles homens que matastes no Tabor?» Eles responderam: «Como tu és, assim eram eles; qualquer deles tinha ar de um filho de rei.» 19Ele disse: «Eram meus irmãos, filhos da minha mãe! Viva o Senhor: se os tivésseis deixado viver, eu não vos mataria!» 20E disse a Jéter, seu filho primogénito: «Levanta-te e mata-os!» O jovem, porém, não desembainhou a espada, pois tinha medo, por ser ainda muito jovem. 21Disseram, então, Zeba e Salmuna: «Levanta-te tu e fere-nos, pois tal o homem, tal valentia!» Levantou-se então Gedeão e matou Zeba e Salmuna; depois, retirou os ornamentos que estavam no pescoço dos seus camelos.
Gedeão recusa o reino – 22Os homens de Israel disseram a Gedeão: «Reina sobre nós, tu e teu filho e o filho do teu filho, pois nos livraste das mãos de Madian.» 23Gedeão disse-lhes: «Não reinarei sobre vós, nem eu nem meu filho; o Senhor é que será vosso rei.» 24Disse-lhes ainda Gedeão: «Quereria fazer-vos um único pedido: dai-me, cada um de vós, um anel dos vossos despojos!» Pois eles, como ismaelitas que eram, usavam anéis de ouro.» 25Eles disseram: «Sem dúvida tos daremos.» Estenderam a capa, e cada um lançou nela um anel do seu espólio.
26Ora o peso dos anéis de ouro que ele pediu foi de mil e setecentos siclos de ouro, sem contar os crescentes, os brincos e as vestes de púrpura que os reis de Madian vestiam, e também sem contar os colares que andavam ao pescoço dos seus camelos. 27Com eles, Gedeão fez um ídolo e expô-lo na sua cidade de Ofra. Todo Israel ia ali prestar-lhe culto, o que veio a ser a ruína de Gedeão e da sua casa.
Fim de Gedeão – 28Assim os madianitas foram humilhados perante os filhos de Israel, sem voltar a levantar a cabeça; deste modo, nos dias de Gedeão, o país esteve em paz durante quarenta anos. 29Então, Jerubaal, filho de Joás, partiu e foi morar em sua casa. 30Gedeão teve setenta filhos, nascidos do seu sangue, pois tinha muitas esposas. 31A sua concubina, que morava em Siquém, gerou-lhe também um filho, a quem chamou Abimélec.
32Gedeão, filho de Joás, morreu após uma velhice próspera e foi sepultado no túmulo de Joás, seu pai, em Ofra de Abiézer. 33Mas depois que Gedeão morreu, os filhos de Israel prostituíram-se de novo diante dos ídolos, adoptando por seu deus Baal-Berit. 34Os filhos de Israel não se recordaram mais do seu Deus, que os havia libertado das mãos dos inimigos que os rodeavam. 35Nem foram justos para com a casa de Jerubaal-Gedeão, após todo o bem que ele tinha feito a Israel.
Capítulo 9
Abimélec: crimes para reinar (2 Rs 10,1-14) – 1bimélec, filho de Jerubaal, foi a Siquém ao encontro dos irmãos de sua mãe para lhes falar, bem como a toda a família da casa paterna de sua mãe, e disse-lhes: 2«Peço-vos que faleis a todos os senhores de Siquém. Que será melhor para vós: governarem sobre vós setenta homens, todos filhos de Jerubaal, ou governar sobre vós um único homem? Lembrai-vos de que eu mesmo sou dos vossos ossos e da vossa carne!»
3Os irmãos de sua mãe disseram todas estas palavras acerca dele a todos os grandes proprietários de Siquém, e o coração deles inclinou-se para Abimélec, pois diziam: «Ele é nosso irmão!» 4Então deram-lhe setenta siclos de prata, do templo de Baal-Berit, com os quais Abimélec assalariou homens sem eira nem beira, aventureiros que seguiram atrás dele. 5Depois, entrou em casa de seu pai, em Ofra, e matou violentamente os seus irmãos, filhos de Jerubaal, setenta homens, sobre a mesma pedra. Escapou apenas Jotam, filho mais novo de Jerubaal, porque se tinha escondido. 6Juntaram-se, então, todos os senhores de Siquém e toda a casa de Milo, e foram proclamar rei Abimélec, junto do terebinto do monumento que está em Siquém.
Apólogo de Jotam – 7Isto foi comunicado a Jotam. E ele foi colocar-se no cimo do monte Garizim; ergueu a voz e gritou; depois, disse-lhes: «Ouvi-me, senhores de Siquém, e que Deus vos oiça! 8As árvores puseram-se a caminho para ungirem um rei para si próprias. Disseram, então, à oliveira: ‘Reina sobre nós.’ 9Disse-lhes a oliveira: ‘Irei eu renunciar ao meu óleo, com que se honram os deuses e os homens, para me agitar por cima das árvores?’ 10As árvores disseram, depois, à figueira: ‘Vem tu, então, reinar sobre nós.’ 11Disse-lhes a figueira: ‘Irei eu renunciar à minha doçura e aos meus bons frutos, para me agitar sobre as árvores?’ 12Disseram, então, as árvores à videira: ‘Vem tu reinar sobre nós.’ 13Disse-lhes a videira: ‘Irei eu renunciar ao meu mosto, que alegra os deuses e os homens, para me agitar sobre as árvores?’ 14Então, todas as árvores disseram ao espinheiro: ‘Vem tu, reina tu sobre nós.’ 15Disse o espinheiro às árvores: ‘Se é de boa mente que me ungis rei sobre vós, vinde, abrigai-vos à minha sombra; mas, se não é assim, sairá do espinheiro um fogo que há-de devorar os cedros do Líbano!’
16Agora, pois, se agistes com boa intenção e com integridade em proclamar Abimélec como rei, se procedestes bem para com Jerubaal e para com a sua casa, se agistes para com ele segundo o mérito das suas acções, 17enquanto meu pai combateu por vós, expôs a sua vida, livrou-vos das mãos de Madian, 18vós, hoje, levantastes-vos contra a casa de meu pai; vós matastes seus filhos, setenta homens, sobre uma só pedra, e proclamastes vosso rei Abimélec, o filho da sua serva sobre os senhores de Siquém, por ele ser vosso irmão; 19se, pois, agistes de boa mente e com integridade para com Jerubaal e para com a sua casa neste dia, encontrai a vossa alegria em Abimélec, e que ele encontre a sua em vós. 20Se, porém, não é assim, um fogo sairá de Abimélec e há-de devorar os senhores de Siquém e de Bet-Milo e há-de devorar Abimélec.»
Revolta contra Abimélec – 21Jotam fugiu e desapareceu, indo para Beer, e habitou lá, longe da vista de Abimélec, seu irmão. 22Reinou Abimélec sobre Israel durante três anos.
23Deus colocou um espírito mau entre Abimélec e os senhores de Siquém; os senhores de Siquém tornaram-se infiéis a Abimélec. 24De facto, urgia que a violência cometida contra os setenta filhos de Jerubaal fosse vingada e que seu sangue caísse sobre Abimélec, seu irmão, que os matara violentamente, e sobre os senhores de Siquém, que lhe fortaleceram os braços para assassinar seus irmãos.
25Os senhores de Siquém colocaram-lhe ciladas no alto dos montes e despojavam todo o que passava junto deles pelo caminho; tudo isto foi comunicado a Abimélec.
26Ora Gaal, filho de Ébed, passou por Siquém com seus irmãos; os senhores de Siquém puseram nele a sua confiança. 27Saíram para os campos a vindimar as suas vinhas, pisaram as uvas e organizaram festejos de regozijo. Entraram no templo do seu deus, comeram, beberam e amaldiçoaram Abimélec. 28Gaal, filho de Ébed, disse: «Quem é Abimélec em Siquém para lhe prestarmos obediência? O filho de Jerubaal e de Zebul, seu lugar-tenente, não prestavam vassalagem aos homens de Hamor, pai de Siquém? Por que razão, pois, havemos nós de servi-lo? 29Ai, se me confiassem esse povo em minhas mãos, como eu havia de escorraçar Abimélec! Eu diria, então, a Abimélec: ‘Junta o teu exército e sai!’»
30Zebul, governador da cidade, escutou as palavras de Gaal, filho de Ébed, e encheu-se de cólera. 31Enviou mensageiros a Abimélec, que estava em Aruma, para lhe dizer: «Eis que Gaal, filho de Ébed, e seus irmãos chegaram a Siquém; e estão a sublevar a cidade contra ti. 32Portanto, levanta-te de noite, tu e os homens que estão contigo, e montai uma emboscada no campo. 33Amanhã muito cedo, ao nascer do Sol, partirás e farás um ataque contra a cidade. Quando Gaal e todos os homens que estão com ele saírem ao teu encontro, faz-lhes quanto puderem as tuas mãos!»
Vitória de Siquém – 34Abimélec levantou-se pela noite, com todos os homens que estavam com ele e puseram-se de emboscada junto de Siquém, em quatro pontos estratégicos. 35Gaal, filho de Ébed, saiu e foi colocar-se à entrada da porta da cidade. Foi então que Abimélec e os que estavam com ele surgiram da emboscada. 36Gaal viu a multidão e disse a Zebul: «Eis uma horda que desce do alto das montanhas.» Zebul, porém, disse-lhe: «É a sombra dos montes que tu estás a tomar por homens!» 37Gaal retomou a palavra e disse: «Eis uma multidão que desce do lado do centro da terra e outra que vem pelo caminho do Carvalho dos Adivinhos.»
38Zebul disse-lhe, então: «Onde está a tua língua, tu que dizias: ‘Quem é Abimélec, para lhe prestarmos obediência?’ Não está aí essa horda que tu desprezavas? Sai, então, agora e combate contra eles.» 39Gaal saiu à frente dos senhores de Siquém e travou combate contra Abimélec. 40Abimélec, porém, perseguiu Gaal, que fugira diante dele; muitas vítimas tombaram até à entrada da porta. 41Abimélec fixou-se em Aruma, e Zebul expulsou Gaal e seus irmãos para que não pudessem morar em Siquém.
Destruição de Siquém – 42Ora, na manhã do dia seguinte, o povo saiu para o campo e comunicaram-no a Abimélec. 43Então, ele tomou os seus homens e dividiu-os em três grupos; depois, pôs-se de emboscada no campo. Mal viu o povo sair da cidade, correu para ele e derrotou-o. 44Abimélec e os chefes que estavam com ele irromperam e tomaram posições à entrada da porta da cidade, enquanto os outros dois grupos se lançavam sobre todos os que estavam no campo, ferindo-os. 45Abimélec lutou todo aquele dia contra a cidade; depois, apoderou-se dela e massacrou toda a população que lá se encontrava; destruiu a cidade e semeou-a com sal.
46Quando o souberam, todos os senhores de Migdal-Siquém se refugiaram na gruta do templo de El-Berit. 47Alguém comunicou a Abimélec que se tinham reunido em assembleia todos os senhores de Migdal-Siquém. 48Então, Abimélec subiu ao monte Salmon, ele e todos os homens que estavam com ele; tomou nas suas mãos um machado e cortou um ramo de árvore; ergueu-o ao alto, e pô-lo sobre os ombros, dizendo aos homens que estavam com ele: «O que me vistes fazer, apressai-vos a fazer como eu.» 49Todos os seus homens cortaram também um ramo cada um e seguiram atrás de Abimélec; depois, puseram-nos sobre a gruta e deitaram-lhes fogo. Morreram assim, por igual, todos os habitantes de Migdal-Siquém, cerca de mil homens e mulheres.
50Depois disto, Abimélec pôs-se a caminho em direcção a Tebes; montou-lhe cerco e conquistou-a. 51Havia aí uma torre fortificada, no meio da cidade, onde se tinham refugiado todos os homens e todas as mulheres, bem como todos os senhores da cidade; fecharam as portas e subiram para o terraço da torre. 52Abimélec chegou junto da torre, atacou-a e aproximou-se até à porta da torre, para lhe deitar fogo. 53Então, uma mulher agarrou numa mó e lançou-a sobre Abimélec e despedaçou-lhe a cabeça. 54Abimélec chamou logo o seu escudeiro e disse-lhe: «Tira a tua espada e mata-me, para que não digam de mim: ‘Foi uma mulher que o matou!’» Então, o escudeiro trespassou-o, e ele morreu.
55Quando os homens de Israel viram que Abimélec estava morto, foram cada um para sua casa. 56Deus fez cair sobre Abimélec o mal que ele tinha feito a seu pai, assassinando os seus setenta irmãos. 57Deus fez cair, também, sobre a cabeça dos senhores de Siquém toda a sua malvadez. Assim se cumpriu neles a maldição de Jotam, filho de Jerubaal.
Capítulo 10
1Depois de Abimélec surgiu, para salvar Israel, Tola, filho de Puá, filho de Dodo, homem da tribo de Issacar; morava em Chamir, na montanha de Efraim. 2Foi juiz em Israel durante vinte e três anos; morreu e foi sepultado em Chamir.
3Depois, surgiu Jair, de Guilead, e foi juiz em Israel durante vinte e dois anos. 4Tinha trinta filhos, que montavam trinta jumentinhos, e tinham também trinta cidades que se chamam, ainda hoje, Acampamentos de Jair, na terra de Guilead. 5Jair morreu e foi sepultado em Camon.
6Os filhos de Israel continuaram a fazer o mal diante do Senhor: adoraram os ídolos de Baal e de Astarté, os deuses da Síria, de Sídon, de Moab, assim como os deuses dos amonitas e dos filisteus; abandonaram o Senhor, negando-se a servi-lo.
7Inflamou-se, então, a ira do Senhor contra Israel, entregando-os nas mãos dos filisteus e nas mãos dos amonitas. 8Estes oprimiram e vexaram, naquele ano, os filhos de Israel; durante dezoito anos, esmagaram os filhos de Israel que moravam além-Jordão, na terra dos amonitas, em Guilead. 9Os amonitas atravessaram o Jordão para lutar contra Judá, Benjamim e a casa de Efraim; e foi extrema a aflição de Israel.
10Então, os filhos de Israel clamaram ao Senhor, dizendo: «Pecámos contra ti, pois abandonámos o nosso Deus para servir os ídolos.» 11O Senhor disse, pois, aos filhos de Israel: «Acaso não vos libertei Eu dos egípcios, dos amorreus, dos amonitas, dos filisteus? 12E quando os sidónios, os amalecitas e os madianitas vos oprimiam e chamastes por mim, não vos libertei das suas mãos? 13Vós, porém, abandonastes-me, para adorar outros deuses; por isso, não voltarei a libertar-vos. 14Ide, invocai os deuses que escolhestes; eles que vos salvem na hora da vossa aflição.»
15Os filhos de Israel disseram, pois, ao Senhor: «Pecámos; faz-nos em tudo como te parecer melhor, mas livra-nos deste dia!» 16Então, deitaram fora do seu meio os deuses estranhos e serviram o Senhor; e a sua paciência já não suportava o sofrimento de Israel.
17Os amonitas juntaram-se e acamparam em Guilead; os israelitas, por sua vez, juntaram-se também e acamparam em Mispá. 18O povo e os chefes de Guilead disseram entre si: «Qual é o homem que primeiro resolve combater contra os amonitas? Esse será o chefe de todos os habitantes de Guilead.»