Capítulo 1

Guerra entre Nabucodonosor e Arfaxad1Decorria o décimo segundo ano do reinado de Nabu­co­donosor, que reinou sobre os Assí­rios em Nínive, a grande cidade, nos dias de Arfaxad, que reinou sobre os Medos em Ecbátana, 2quando este construiu à volta da cidade uma mu­­ralha de pedra lavrada, com pedras de três côvados de espessura e seis côvados de largura e as muralhas com setenta côvados de altura e cin­quenta côvados de espessura; 3cons­truiu, às portas da cidade, mura­lhas de cem côvados de altura e sessenta côvados de largura ao nível das fun­dações. 4Fez também as portas da cidade, com setenta côvados de al­tura e quarenta côvados de largura, para que os seus exércitos pudessem sair em força e a sua infantaria pudesse avançar com suas fileiras.

5Naqueles dias, o rei Nabucodo­no­­sor combateu contra o rei Arfa­xad, na grande planície que fica nos arre­­dores de Ragau. 6A ele junta­ram-se todos os habitantes das coli­nas e todos os que habitavam ao longo do Eufrates, do Tigre e do Hi­daspes e na planície de Arioc, rei de Eli­mai­da. Muitas outras nações se junta­ram às forças dos Caldeus.

7En­tão, Nabu­codonosor, rei dos Assírios, en­viou instruções a todos os que viviam na Pérsia e a todos os que viviam no Ocidente, aos que viviam na Cilícia, em Damasco, no Líbano e no Anti-Líbano e a todos os que vi­viam nas regiões costeiras; 8aos que viviam entre as nações do Carmelo, de Gui­lead, da alta Galileia e da gran­de planície de Esdrelon, 9e a todos os que estavam na Samaria e nas suas cidades, e para lá do Jor­dão até Je­ru­salém, Batane, Quelus, Cadés e ao rio do Egipto, Tapanés e Rame­sés e toda a terra de Góchen, 10mes­mo para além de Tânis e Mên­fis e todos os que viviam no Egipto até às fronteiras da Etiópia.

11Contudo, todos aqueles que vi­viam em toda aquela região desobe­deceram às ordens de Nabucodono­sor, rei dos Assírios, e recusaram jun­tar-se a ele na guerra, porque não ti­nham medo dele e o viam como um simples homem. Por isso, reenvia­ram os seus mensa­geiros com as mãos vazias e enver­gonhados. 12Então, Na­bucodonosor ficou cheio de cólera con­tra toda esta região e jurou vingar-se, pelo seu tro­no e pelo seu reino, de todo o terri­tó­rio da Cilícia, de Da­masco e da Sí­ria, matando-os à es­pada, bem como a todos os habi­tan­tes da terra de Moab, o povo de Amon, da Judeia e de todos os do Egipto até à região costeira dos dois mares.

13No décimo sétimo ano, levou o seu exército contra o rei Arfaxad, venceu-o na ba­talha e derrotou todo o seu exército, bem como toda a sua cava­laria e os seus carros de com­bate. 14Assim se apoderou de todas as suas cidades e chegou até Ecbá­tana, cap­tu­rou as suas torres, sa­queou os seus mercados e transfor­mou a sua beleza em vergonha. 15Cap­turou Arfa­xad nas montanhas de Ragau, feriu-o com as armas da caça e destruiu-o, até aos dias de hoje. 16Depois, re­gres­­sou a Nínive, ele e todas as suas for­ças, um grande cor­po de tropas, e aí des­cansaram e celebraram a vitó­ria du­rante cento e vinte dias.

Capítulo 2

Guerra contra as nações oci­den­tais1No décimo oitavo ano, no vigésimo segundo dia do pri­mei­ro mês, falou-se no palácio de Nabu­co­donosor, rei dos Assírios, acerca da vingança sobre toda a região, tal como tinha sido dito. 2Chamou a si todos os seus oficiais e todos os seus no­bres, revelou-lhes o seu plano se­creto, e contou-lhes, com os seus pró­prios lábios, a maldade da região. 3En­tão, ficou decidido que todos aque­les que não tinham obedecido às suas or­dens deviam ser destruídos.

4Quando terminou de apresentar o seu plano, Nabucodonosor, rei dos Assírios, chamou Holofernes, o gene­­ral do seu exército, o segundo depois dele na linha de comando, e disse-lhe:

5«Assim fala o grande rei, o senhor de toda a terra: Ao saíres da minha presença, leva contigo homens con­fiantes na sua força, em número de cento e vinte mil soldados de infan­taria e doze mil de cavalaria. 6Vai e ataca todo o território do Ocidente, porque eles desobedeceram às mi­nhas ordens. 7Diz-lhes que prepa­rem terra e água, porque eu vou partir contra eles na minha cólera, e cobrirei toda a face da terra com os pés dos meus exércitos e entregá-los-ei para serem saqueados pelas minhas tropas, 8até que os seus feri­dos cubram os seus vales e até que cada curso de água e cada rio se en­cham com os seus mortos e trans­bor­dem. 9Então, levá-los-ei cativos até aos confins da terra.

10Tu irás à minha frente e con­quis­tarás para mim todo o território antes da mi­nha chega­da. Eles entregar-se-ão a ti e tu segurá-los-ás até ao dia do seu castigo. 11No entanto, se eles se recu­sarem, tu não fecharás os teus olhos e entregá-los-ás à chacina e à rapina por toda a região. 12Pois eu juro, pela minha vida e pelo poder do meu exér­cito, que a minha mão exe­cutará aquilo que eu decidi. 13Quanto a ti, toma cuidado para não trans­gre­­di­res nenhuma das ordens do teu se­­nhor; cumpre-as tal como te orde­nei, e não sejas negli­gente no seu cumprimento.»

14Então Holofernes saiu da pre­sença do seu senhor, chamou todos os comandantes, generais e oficiais do exército da Assíria. 15Alinhou as tro­pas escolhidas em divisões, tal como o seu senhor lhe ordenara que fizes­se: cento e vinte mil homens, jun­ta­mente com doze mil arqueiros a ca­valo. 16Organizou-os como um grande exército preparado para uma cam­panha. 17Reuniu um grande nú­mero de camelos, burros e mulas de trans­porte, e ainda uma enorme quan­­­­­ti­dade de ovelhas, bois e cabras como provisões. 18Reuniu também mui­ta comida para os homens e uma imensa quantidade de ouro e prata do palá­cio real.

19Assim preparado, saiu com todo o seu exército, à frente do rei Nabu­co­donosor, para cobrir toda a face da terra em direcção ao Oeste com os seus carros, os seus cavaleiros e as suas tropas de elite de infan­taria. 20Juntamente com eles, partiu uma imensa multidão semelhante a uma nuvem de gafanhotos e a uma nu­vem de pó da terra, tão gran­de era o seu número. 21Marcharam durante três dias, desde Nínive até à planí­cie de Bectilet, e acamparam diante de Bectilet, junto da monta­nha que se encontra a norte da Cilí­cia seten­trional. 22Holofer­nes partiu daí com todo o seu exército, a sua infantaria, a sua cavalaria e os seus carros, e subiu até às monta­nhas. 23Aí des­truiu Pud e Lud, sa­queou todo o povo de Rássis bem como os filhos de Ismael que vivem ao longo do deserto, a sul do país de Queléon.

24Depois, conti­nuou ao longo do Eu­frates, passou através da Me­so­potâmia, destruiu todas as cida­des que se encontram no alto da mon­ta­nha ao longo da tor­rente de Abro­na, até chegar ao mar. 25Tomou também o território da Cilí­cia, ma­tou todos aqueles que lhe ofe­receram re­sis­tên­­cia e chegou à fronteira sul de Jafet que está em frente da Ará­bia. 26Cer­cou todos os Madiani­tas, queimou as suas tendas e saqueou os seus reba­nhos. 27De­pois, desceu até à pla­nície de Da­masco, no tempo da co­lheita do trigo, queimou todos os cam­pos, des­truiu os rebanhos e as manadas, sa­queou as cidades, des­truiu todas as terras e matou todos os jovens pas­sando-os ao fio da es­pada. 28Assim, o medo dele abateu-se sobre todo o povo que vivia ao longo das regiões costeiras, em Sídon e Tiro, bem como sobre to­dos os que viviam em Sur e Oquina e os que viviam em Jâmnia. Os que viviam em Asdod e em As­calon te­miam-no ainda mais.

Capítulo 3

As nações ocidentais subme­tem-se a Holofernes1Então, enviaram-lhe mensageiros com pro­postas de paz, dizendo: 2«Olha para nós, servos de Nabucodonosor, o gran­­de rei, prostrados por terra diante de ti. Faz connosco o que te aprou­ver. 3Repara, as nossas construções, a nossa terra, todos os nossos cam­pos, os nossos rebanhos, as nossas mana­das e todos os nossos bens es­tão diante de ti, faz com eles o que te aprouver. 4Também as nossas cida­des e os seus habitantes são teus escravos; vem e trata-os como te pa­recer melhor.»

5Os homens vieram ter com Holo­­fernes e contaram-lhe tudo isto. 6En­­tão, ele desceu até à zona costeira com o seu exército e colocou sen­ti­ne­las nas cidades do alto das coli­nas e escolheu alguns homens des­sas cida­des para serem seus alia­dos. 7Todos estes povos, bem como todos aque­les que se encontravam nas ime­dia­ções, deram-lhe as boas vindas com grinaldas, danças e tam­borins. 8Ele demoliu todos os seus santuá­rios, des­truiu todos os seus bosques sagra­dos, já que lhe tinha sido orde­nado que destruísse todos os deuses da terra, para que todas as nações ado­rassem unicamente Nabucodo­no­­sor, e para que todas as línguas e tri­bos o proclamassem deus. 9Depois, foi até ao limite de Esdrelon, perto de Dotan, que está diante da grande serra da Judeia. 10Acamparam en­tre Gaibai e Citó­po­lis, onde perma­neceram durante todo o mês para juntarem provisões para o exército.

Capítulo 4

A guerra aproxima-se de Is­rael1Por esta altura, os filhos de Israel que viviam na Judeia ou­viram falar de tudo aquilo que Ho­lofernes, general de Nabucodonosor, rei da Assíria, fizera às outras na­ções e como tinha pilhado os seus santuários, entregando-os à destrui­­ção. 2Ficaram muitíssimo as­sus­tados, com medo dele, e preo­cupa­dos com a sorte de Jerusalém e do templo do Senhor, seu Deus, 3pois só muito re­centemente tinham re­gressado do cativeiro, e todo o povo da Judeia se encontrava reunido; as alfaias sagra­das, o altar e o templo tinham sido consagrados depois da profanação.

4Mandaram mensageiros a todos os distritos da Samaria, a Coná, a Bet-Horon, Abel-Maim, Je­ricó, Co­bá, Aisorá e ao Vale de Sa­lém, 5e ime­diatamente se apodera­ram do alto das colinas e das cidades for­tifi­cadas que neles se encontravam; armaze­na­ram comida e prepararam-se para a guerra, já que os seus campos tinham sido ceifados recen­temente.

6Então, Joaquim, o Sumo Sacer­dote que estava em Jerusalém por essa altura, escreveu ao povo de Betú­lia e Betomestaim, que está dian­te do Esdrelon do outro lado da pla­ní­cie perto de Dotain, 7dando-lhe ordens para que ocupasse as pas­sagens que davam acesso às co­linas, uma vez que a Judeia podia ser in­vadida atra­vés delas; assim seria fácil travar o cami­nho a quem quer que tentasse entrar, dado que a passagem era apertada, apenas com uma largura suficiente para dois ho­mens. 8Os israelitas fize­­ram tal como Joaquim e o senado de todo o povo de Israel, reunido em Jerusa­lém, lhes orde­nara.

9Seguidamente, cada um dos ho­mens de Israel invocou a Deus com grande fervor, ao mesmo tempo que se humilharam com muitos jejuns. 10Eles, as suas mulheres, os seus fi­lhos, o seu gado e todos os estran­gei­ros residentes, bem como os tra­ba­lhadores contratados e os escra­vos, todos se vestiram de saco.

11Então, todos os homens e mu­lhe­res de Is­rael e as suas crianças, que viviam em Jerusalém, se prostra­ram diante do templo, espalharam cinza na ca­beça e estenderam as suas rou­pas de saco diante do Senhor. 12Ro­dea­ram mesmo o altar com saco e cla­maram em uníssono, pedindo in­sis­­ten­temente ao Deus de Israel para não entregar as suas crianças como presa e as suas mulheres como des­pojos de guerra, para que não dei­xas­se que as cidades que tinham her­­dado fossem destruídas, para que o santuário não fosse profanado e tor­nado impuro para alegria mali­ciosa dos gentios.

13O Senhor ouviu a sua oração e olhou com bondade para a sua afli­ção, porque o povo jejuara durante muitos dias, por toda a Judeia e em Jerusalém, diante do santuário do Deus todo poderoso.

14Então, Joa­quim, o Sumo Sacer­dote, e todos os sacerdotes que esta­vam diante do Senhor e o serviam, com os seus flan­cos cingidos de saco, ofereceram um holocausto, bem como os votos e as ofertas de todo o povo. 15Com cin­za sobre as cabeças, eles in­vocaram o Senhor com todas as suas forças, para que olhasse com bene­volência para toda a casa de Israel.

Capítulo 5

Resistência de Israel1Quan­­do Holofernes, general do exér­cito da Assíria, ouviu dizer que o povo de Israel se tinha preparado para a guerra, tinha fechado as passagens para as colinas e tinha fortificado os altos de todas as colinas e colocado barricadas nas planícies, 2ficou fu­rio­so. Reuniu todos os príncipes de Moab, os comandantes de Amon e os governadores da zona costeira 3e disse-lhes: «Dizei-me, vós que sois de Canaã, que povo é este que vive na região das colinas? Em que cida­des habitam? Qual a grandeza do seu exército e qual a razão do seu poder e da sua força? Quem os governa como rei e conduz o seu exército? 4E por­que é que só eles, de todos os que vivem no ocidente, se recusa­ram a vir ter comigo?»

5Então Aquior, chefe de todos os amonitas, respondeu: «Que o rei ouça agora uma palavra da boca do seu ser­vo, e eu direi a verdade acerca des­te povo que vive na vizinha região das montanhas. Nenhuma falsidade sairá da boca do teu servo. 6Este povo é descendente dos caldeus. 7Anti­ga­­mente viviam na Meso­potâmia, por­que não adoravam os deuses dos seus pais que estavam na Caldeia, 8pois tinham aban­do­­nado os costumes dos seus ante­passados e adoravam o Deus dos céus, Deus que eles, entre­tanto, conheceram. Quan­do os expul­saram de diante dos seus deuses, eles refu­giaram-se na Meso­potâmia e aí per­manece­ram durante muito tempo. 9Então, o seu Deus orde­nou-lhes que abandonassem o lugar onde tinham vivido como foras­teiros e que fossem para a terra de Canaã. Nela se ins­ta­­laram e pros­pe­raram, tendo possuído muito ouro, prata e animais.

10Quando a fome começou a alas­trar pela região de Canaã, desceram até ao Egipto e ali viveram como fo­rasteiros, enquanto tiveram que co­mer, e ali se tornaram numa gran­de multidão, tão grande que não podia ser contada. 11Nessa altura, o rei do Egipto tornou-se-lhes hostil, subju­gou-os e colocou-os na fabri­cação de tijolos, humilhando-os e fa­zendo de­les escravos. 12Eles invoca­ram o seu Deus, e Ele atingiu toda a terra do Egipto com pragas, para as quais não havia cura. Só então, os egíp­cios os expulsaram da sua vis­ta. 13Deus secou o Mar Vermelho diante deles, 14conduziu-os pelo caminho do Sinai e de Cadés-Barnea, e eles expulsa­ram todos os que habitavam no de­serto. 15De­pois, instalaram-se na terra dos amor­reus e, com o seu poder, derrotaram todos os habitan­tes de Hesbon. Em segui­da, atra­ves­sando o Jordão, tomaram posse de toda a região das monta­nhas. 16Ex­pulsaram todos os cana­neus, os peri­zeus, os jebuseus, os si­quemitas e todos os guirgaseus e per­manece­ram na sua terra durante muito tempo. 17E, até que pecaram contra o seu Deus, nunca o bem se afastou deles, porque o Deus que odeia a iniqui­dade estava no meio deles.

18Mas, quando se afastaram do ca­minho que Ele lhes indicara, vi­ram-se der­ro­tados em muitas guer­ras violen­tas e foram deportados para uma terra estrangeira. O tem­plo do seu Deus ficou transformado em ruí­nas e as suas cidades foram toma­das pelos inimigos. 19Mas, quan­do se vol­­­taram de novo para o seu Deus, re­gressaram da diáspora, dos luga­res por onde tinham sido dis­persos, re­con­­quistaram Jerusalém, onde se encontra o seu santuário, e instala­ram-se na região das monta­nhas, porque estava desabitada.

20Por isso, agora, meu amo e se­nhor, se existir algum erro neste povo, se eles pecarem contra o seu Deus, se soubermos que existe entre eles algum escândalo destes, pode­re­mos ir combatê-los e sairemos vito­­riosos. 21Mas, se não houver nenhum erro neste povo, o melhor é que o meu senhor lhes passe ao lado, não vá o seu Senhor defendê-los e o seu Deus colocar-se ao lado deles, e nós tornarmo-nos objecto de escárnio para toda a terra.»

22No momento em que Aquior aca­­­bou de falar, todo o povo que estava de pé ao redor da tenda murmurou; os oficiais de Holofer­nes, bem como todos os habitantes da zona costeira e de Moab, come­çaram a dizer que ele devia ser morto: 23«Nós não temos medo dos filhos de Israel. Eles são um povo sem força nem poder para travar uma batalha vio­lenta. 24Per­mite-nos que subamos e eles serão devorados pelos teus sol­dados, ó po­deroso Holofernes!»

Capítulo 6

Aquior entregue a Israel1Quan­­do cessou o tumulto dos ho­mens que rodeavam o conselho, Ho­lo­­fernes, o comandante do exér­cito da Assíria, disse a Aquior e a todos os moabitas, diante dos contin­gen­tes estrangeiros: 2«Quem és tu, Aquior, e quem sois vós, vendidos de Efraim, para profetizardes no meio de nós como fizestes hoje, dizendo-nos para não combatermos os filhos de Israel, porque o seu Deus os de­fenderia? Quem é deus senão Nabu­codonosor? Este, há-de enviar o seu exército, para os fazer desaparecer da face da terra e o seu Deus não os poderá salvar. 3Nós, os seus servos, derrotá-los-emos como se fossem um homem só, e eles não poderão resis­tir à força dos nos­sos cavalos. 4Nós queimá-los-emos e as suas monta­nhas hão-de ficar em­briagadas com o seu sangue, e os seus campos hão-de ficar cobertos com os seus cadá­veres. Não poderão resistir-nos. Hão-de morrer todos de morte violenta. Assim falou o rei Na­­bucodonosor, se­nhor de toda a terra; as suas pala­vras não serão em vão.

5Por isso, tu, Aquior, mercenário de Amon, que te atreveste a proferir es­tas palavras no dia da tua iniqui­dade, não voltarás a ver a minha face a par­tir deste dia, até ao dia em que eu possa exercer a minha vingança so­bre essa raça eva­dida do Egipto. 6En­tão, se­rás tres­passado pela espada e pela lança dos meus soldados e cai­rás en­tre os feridos, quando eu regres­­sar. 7Os meus servos conduzir-te-ão à re­gião das monta­nhas e colocar-te-ão numa das cida­des das suas encostas, 8e tu não pere­cerás até morreres jun­­ta­men­te com eles. 9Desejarás arden­te­­mente em teu coração que eles não sejam captura­dos, mas eu falei e ne­nhuma das mi­nhas palavras se per­derá.»

10Então, Holofernes ordenou aos seus servos, que estavam na sua ten­da, que levassem Aquior, o condu­zis­­sem para Betúlia e o entregassem aos filhos de Israel. 11Os servos agar­­raram-no e conduziram-no para fora do campo em direcção à planície. Se­guidamente, afastaram-se da região da planície e dirigiram-se para a re­gião das montanhas, chegando até jun­to das fontes que estavam abaixo de Betúlia. 12Quando os homens da cidade, situada no alto do monte, os viram, pegaram nas armas, saíram da cidade e todos os homens, arma­dos de fisgas, os impediram de su­bir, atirando-lhes pedras. 13Contudo, estes, protegendo-se sob a mon­ta­nha, amarraram Aquior, abandonaram-no no sopé da montanha e voltaram para junto do seu senhor.

14Quando os filhos de Israel des­ce­­ram da montanha, encontraram-no, desataram-no, conduziram-no a Be­tú­lia e apresentaram-no aos che­fes da sua cidade. 15Por essa época, estes eram Uzias, filho de Mica da tribo de Simeão e Cabri filho de Gotoniel e Carmi, filho de Malquiel. 16Convo­ca­ram todos os anciãos da ci­dade, e todos os seus filhos e as suas mu­lheres correram para a assem­bleia. Colocaram Aquior no meio de todo o povo e Uzias per­guntou-lhe o que acontecera. 17Ele respondeu, con­tan­do-lhes tudo o que o conselho de Holofernes tinha decidido, tudo o que ele próprio dissera no meio dos chefes dos filhos de Assur, bem como o discurso megalómano de Holofer­nes contra a casa de Israel.

18O povo prostrou-se, adorou o Se­nhor e, gritando, disse: 19«Senhor, Deus do Céu, vê a arrogância deles e tem piedade da humilhação do nosso povo. Olha, neste dia, para o rosto da­queles que te são consagrados!» 20Se­guidamente, consolaram Aquior e felicitaram-no efusivamente. 21Uzias levou-o da assembleia para sua casa, organizou um banquete para os an­ciãos e durante toda essa noite invo­caram a ajuda do Deus de Israel.

Capítulo 7

Cerco a Betúlia1No dia se­guinte, Holofernes ordenou a todo o seu exército e a todo o povo que se tinha aliado a ele no combate que levantassem o acampamento, mar­chassem sobre Betúlia, ocupas­sem as vertentes das monta­nhas e com­ba­tessem contra os filhos de Is­rael.

2Nesse dia, todos os homens váli­dos para a guerra se puseram em marcha. O exército era composto por cento e setenta mil homens de in­fan­­­taria, doze mil cavaleiros, sem con­tar os que se ocupavam da inten­dên­cia, nem os que seguiam a pé e que eram uma grande multidão. 3Acam­param no vale perto de Betúlia, ao lado da nascente, e espalharam-se em pro­fun­­­didade desde Dotan até Belbaim e, em largura, desde Betú­lia até Quia­­­mon, que está situada diante de Es­drelon.

4Quando os filhos de Israel viram toda aquela multidão, ficaram muito assustados e disseram uns para os outros: «Agora, estes homens vão var­rer a face da terra e nem as mon­ta­nhas mais elevadas, nem as ravi­nas, nem as colinas serão capa­zes de su­portar o seu peso.» 5Depois de cada um ter pegado no seu equi­pa­mento de combate e de terem acen­­dido fo­gos no alto das suas torres, ficaram de guarda durante toda essa noite.

6No segundo dia, Holofernes, fez sair todos os seus cavalos e colocou-os diante dos filhos de Israel que estavam em Betúlia. 7Inspeccionou os caminhos que subiam em direc­ção à cidade, deu a volta por todas as nascentes que lhes forneciam água, ocupou estes lugares, colocou neles soldados e ele próprio regres­sou para junto do seu povo.

8Então, todos os chefes dos filhos de Esaú, os comandantes dos moa­bi­­tas e os generais das zonas costei­ras se aproximaram dele e lhe dis­se­ram:

9«Possa o nosso senhor escu­tar uma palavra, para que o seu exér­cito não seja derrotado. 10De facto, este povo dos filhos de Israel não confia nas suas lanças, mas sobretudo na altura das montanhas onde habita, porque não é fácil chegar até aos cu­mes das suas montanhas. 11Por isso, agora, senhor, não combatas contra eles como é costume nas batalhas, e nenhum dos homens do teu povo cairá. 12Perma­nece no teu campo, faz com que to­dos os homens do teu exér­cito fi­quem contigo e manda que os teus servos controlem as nascentes de água na base da montanha. 13De facto, é dali que todos os habitantes de Betúlia se abastecem de água. A sede há-de vencê-los e eles entrega­rão a cidade. Nessa altura, nós e o nosso povo subiremos até aos mais próxi­mos cumes das montanhas, acam­pa­remos ali e assegurar-nos-emos de que nin­guém possa sair da cidade. 14Então, serão consumidos pela fome, eles, as suas mulheres e as suas crian­­­ças e, antes que a espada os atinja, cairão nas ruas onde habi­tam. 15Nessa al­tura, pagar-lhes-ás com o mal, já que eles recusaram receber-te paci­fi­­ca­mente.»

16Estas palavras agradaram a Ho­lo­fernes e a todos os seus oficiais, e ele ordenou que se fizesse tudo como tinham dito. 17Assim, o exér­cito dos amonitas avançou – acom­pa­nhado por cinco mil assírios – acam­pou no vale e tomou os reservatórios de água e as nascentes dos filhos de Israel.

18Os filhos de Esaú e os amonitas subiram, acamparam na região das montanhas em frente de Dotan e enviaram alguns de entre eles em direcção ao sul e ao leste, em frente de Egrebel, que está perto de Cuche na torrente de Mocmur. O resto do exército da Assíria acampou na pla­ní­cie e cobria toda a face da terra. As suas tendas e os seus equipa­mentos ficaram espalhados por toda a par­te, formando uma massa imensa; eram uma imensa multidão.

19Os filhos de Israel invocaram o Senhor, seu Deus, desencorajados, porque os seus inimigos os tinham cercado e eles não podiam escapar do meio deles. 20Todo o exército da Assí­ria, a infantaria, os carros de com­­bate e os cavaleiros mantiveram o cerco durante trinta e quatro dias, até que todos os recipientes de água dos habitantes de Betúlia ficaram vazios; 21as suas cisternas começa­ram a ficar esgotadas, sem água para poderem beber a sua porção diária, uma vez que a água era racionada.

22As crianças mais pequenas esta­vam abatidas e as mulheres e os jo­vens começaram a desfalecer de sede e a cair pelas ruas e às portas da cidade. Estavam no limite das suas forças. 23Todo o povo, os jovens, as mulheres e as crianças se reuniram a Uzias e aos chefes da cidade, su­plicando em altos gritos e dizendo diante dos anciãos: 24«Que Deus seja juiz entre nós e vós, pois que vós cometestes uma grande iniquidade ao não estabelecer conversações de paz com a Assíria! 25Agora, não há ninguém que nos possa socorrer e Deus vendeu-nos, pondo-nos nas mãos deles, de modo a cairmos des­fale­ci­dos pela sede diante deles, numa grande destruição. 26Por isso, chamai-os e entregai toda a cidade para ser pilhada pelo povo de Holofernes e todo o seu exército. 27Para nós, é me­lhor sermos sua pre­sa. Seremos seus escravos, mas as nossas vidas serão poupadas e não teremos de assistir à morte das nos­sas crianças diante dos nossos olhos, nem ver as nossas mulheres e os nossos jovens exalar o último sus­piro. 28Invocamos como tes­temu­nhas contra vós, o céu e a terra e o nosso Deus e Senhor dos nossos pais, que nos julga segundo os nos­sos pecados e segundo as culpas dos nossos pais, para que não permita que aconteça hoje o que dizeis!»

29Levantou-se então um grande clamor no meio da assembleia e, to­dos ao mesmo tempo, invocaram o Se­nhor com voz forte. 30Uzias disse-lhes: «Co­ra­gem, irmãos! Vamos aguen­­­­­­tar durante mais cinco dias, durante os quais o Senhor nosso Deus voltará para nós a sua mise­ricórdia e não nos abandonará até ao fim. 31Mas, se no decurso destes dias a sua ajuda não vier até nós, farei como dizeis.»

32Seguidamente, dispersou todo o povo pelos seus postos de combate, e eles partiram em direc­ção às forti­ficações e às tor­res da cidade, man­dando as mu­lhe­res e as crianças para as suas casas. Toda a cidade sentia uma conster­nação.

Capítulo 8

Discurso de Judite aos che­fes da cidade1Por esses dias, todos estes acontecimentos chega­ram aos ouvidos de Judite, filha de Merari, filho de Ox, filho de José, fi­lho de Oziel, filho de Hilquias, filho de Hananias, filho de Gedeão, filho de Refaim, filho de Aitub, filho de Eliú, filho de Hilquias, filho de Eliab, filho de Natanael, filho de Salamiel, filho de Sarasadai, filho de Israel.

2O seu marido era Manassés, da sua tribo e da sua família, e tinha mor­rido durante a época da colheita da cevada. 3Como era o encarregado de vigiar os que amarravam os fei­xes no campo, foi atingido por um golpe de sol na cabeça, caiu à cama e mor­reu em Betúlia, a sua cidade. Foi en­terrado no campo que está entre Dotan e Balamon.

4Judite vivia em sua casa e era viúva havia já três anos e quatro me­ses. 5Tinha construído uma tenda sobre a açoteia da sua casa, cingia os rins de saco e vestia roupas de viúva. 6Jejuava todos os dias da sua viuvez, excepto ao Sábado e nas suas vésperas, nas festas da Lua-nova e suas vés­peras, nas festas e nos dias de alegria para a casa de Israel.

7Era muito bo­nita e de aspecto agradá­vel. Manas­sés, seu marido, dei­xara-lhe ouro e prata, servos e servas, animais e cam­pos e ela vivia das suas proprie­da­des. 8Ninguém se po­dia atrever a falar mal dela por­que era muito temente a Deus.

9Judite ouviu falar dos maus pro­pósitos do povo contra o seu chefe, pois estavam desencorajados por cau­sa da falta de água, e ouviu tam­bém falar de tudo o que Uzias lhes tinha dito quando jurara entregar a ci­dade aos assírios, ao fim de cinco dias. 10Enviando a sua criada que estava encarregada de administrar todos os seus bens, ela mandou con­vidar Cabri e Carmi, os anciãos da cidade.

11Quando chegaram junto dela, disse-lhes: «Peço-vos que me escu­teis, vós os chefes dos habitantes de Betúlia, porque não é justa a pala­vra que dirigistes ao povo, no dia em que fizestes o juramento entre Deus e vós e em que falastes em en­tregar a cidade aos nossos inimi­gos, se dentro de cinco dias o Senhor não vos tivesse enviado socorro. 12Quem sois vós, para tentardes o Senhor nes­te dia e vos colocardes no lugar de Deus no meio dos filhos dos ho­mens? 13Agora, colocais o Senhor todo poderoso à prova, mas não sa­be­reis nada até ao fim dos tempos, 14já que nunca descobrireis a pro­fun­didade do coração do homem e não entendereis os raciocínios da sua inteligência.

Como quereis, en­tão, conhecer Deus, que criou tudo isto, saber o que vai na sua mente e com­preender o seu raciocínio? De forma alguma con­se­guireis isto, ir­mãos; não provoqueis a ira do Se­nhor, nosso Deus. 15Pois, mesmo que Ele não queira enviar-nos auxílio durante estes cinco dias, tem poder para nos proteger dos nos­­sos inimi­gos, em qual­quer outro mo­mento que seja do seu agrado.

16Vós, porém, não tenteis violen­tar a von­tade do Senhor nosso Deus, por­que Ele não é seme­lhante aos ho­mens, para ser amea­çado, nem como um filho de homem, para se discutir com Ele. 17Por isso, enquanto espe­ra­mos pela sua liber­tação, invo­quemo-lo para que nos ajude, e Ele ouvirá a nossa voz, se assim for do seu agrado. 18Por­que, nunca na nossa geração, nem no tempo presente, houve uma tribo, família ou cidade das nos­sas que adorasse deuses feitos pela mão do homem, tal como acontecia em tem­pos passados.

19Foi por causa disto que os nos­sos pais foram entregues ao fio da espada e à pilhagem e, por isso, tive­­­ram de suportar uma grande ca­tás­trofe diante dos nossos inimigos. 20As­sim, nós não reconhecemos ne­nhum outro deus para além dele. Por isso, esperamos que não nos aban­done nem a nós, nem a nenhum dos mem­­bros da nossa nação. 21Porque, se formos capturados, será captu­rada ao mesmo tempo toda a Judeia, o nosso santuário será saqueado e Ele pedir-nos-á contas deste sacrilégio. 22A matança dos nossos irmãos, o cativeiro da terra e a desolação da nossa herança, tudo isto Ele fará cair sobre as nossas cabeças diante dos gentios, se formos feitos escra­vos, e nós seremos uma ofensa e uma reprovação aos olhos daqueles que nos comprarem. 23A nossa es­cra­va­tura não nos será favorável; mas o Senhor, nosso Deus, há-de con­vertê-la em desonra.

24Por isso, agora, irmãos, tornemo-nos exemplo para os nos­sos irmãos, por­que as suas vidas depen­dem de nós, assim como o santuário, o tem­plo e o altar estão sob a nossa res­ponsa­bi­lidade. 25Apesar de tudo, dê­mos graças ao Senhor, nosso Deus, que nos está a pôr à prova, tal como fez com os nossos pais. 26Lembrai-vos de tudo o que Ele fez com Abraão, como tentou Isaac e o que aconteceu com Jacob na Mesopotâmia da Sí­ria, enquanto pastoreava os reba­nhos de Labão, irmão de sua mãe. 27Pois Ele não nos tentou pelo fogo como fez com eles, procurando tocar o seu coração, nem se vingou de nós, mas o Senhor estimula com o agui­lhão os que dele se aproximam, para os advertir.»

28Uzias disse-lhe: «Tudo o que disseste foi dito de coração sincero e não há ninguém que possa contra­dizer as tuas palavras. 29Não foi hoje a primeira vez que demonstraste a tua sabedoria; mas desde o início da tua vida, todo o povo a reconheceu, porque a disposição do teu coração é recta. 30Mas o povo estava a sofrer uma grande sede e obrigou-nos a fa­zer o que lhes tínhamos prometido, impelindo-nos a fazer um juramento que já não podemos quebrar. 31Por isso, agora, reza por nós, tu que és uma mulher piedosa e o Senhor há-de enviar-nos chuva para encher as nossas cisternas e não voltaremos a desfalecer.»

32Judite respondeu-lhes: «Ouvi-me, vou fazer algo que será lem­brado por todas as gerações. 33Vós ireis colocar-vos esta noite às portas da cidade. Eu sairei com a minha serva e, den­tro do prazo durante o qual vós pro­metestes entregar a ci­dade aos nossos inimigos, o Senhor, pela minha mão, libertará Israel. 34Vós, porém, não tenteis descobrir o meu plano, pois eu não vo-lo reve­larei até que tenha terminado tudo o que vou fazer.»

35Uzias e os an­ciãos disseram-lhe: «Vai em paz, e que o Senhor Deus vá à tua frente, para tirar vingança dos nossos ini­migos.» 36Seguida­mente, afastando-se da tenda, foram para os seus postos.

Capítulo 9

Oração de Judite1Então, Judite prostrou-se por terra, co­briu a cabeça de cinza, despiu as vestes de saco que trazia vestidas e, no preciso momento daquela tarde em que estava a ser oferecido o in­censo na casa de Deus em Jerusa­lém, Judite invocou o Senhor em voz alta, dizendo: 2«Ó Senhor, Deus de meu pai Simeão, em cuja mão colo­caste a espada para tirar vingança dos estrangeiros que des­nudaram a cintura de uma virgem para a pro­fanar, pondo à vista a sua coxa, para a envergonhar e contamina­ram o seu ventre para a desonrar. Ape­sar de teres dito: ‘Isso não se deve fazer’, eles fizeram-no, mesmo assim. 3Por causa disso, entregaste os seus che­fes para que fossem massacra­dos e o seu leito, envergonhado por causa da ignomínia por eles pra­ti­ca­da, para que fosse manchado de san­gue. Tu abateste escravos ao lado de príncipes e os príncipes nos seus tro­­nos. 4Entregaste as suas mulheres como presa e as suas filhas para o cativeiro, todos os seus bens, para serem divididos pelos teus filhos bem amados, zelosamente amados por ti; abominaste a contaminação do seu sangue e eles invocaram o teu au­xí­lio.

Ó Deus, meu Deus, ouve-me tam­­bém a mim, uma viúva! 5Porque fi­zeste todas estas coisas, as passa­das e as que se seguiram; meditaste as coisas presentes e as que hão-de vir e o que tinhas no pensamento che­gou à existência. 6Os aconteci­men­­tos que tinhas decidido apre­sen­­ta­ram-se e disseram: ‘Eis-nos aqui.’ Porque todos os teus caminhos fo­ram preparados de antemão e todos os teus juízos com conhecimento prévio. 7Os assírios vieram com toda a sua força, orgulhosos do poder dos seus cavalos e cavaleiros. Vanglo­riando-se do poder dos seus solda­dos de infantaria, puseram a sua con­fiança no escudo e na espada, no arco e na funda e não sabem que Tu és o Senhor que esmaga as guerras.

8O teu nome é Senhor! Destrói o seu vigor com a tua força e abate a sua força com a tua ira. Eles pla­nea­ram espezinhar os teus lugares san­tos, profanar a tenda onde repousa o teu nome glorioso e destruir a has­te do teu altar com a espada. 9Obser­va o seu orgulho, envia a tua cólera so­bre as suas cabeças e dá-me a mim, uma viúva, a força para fazer o que planeei. 10Pela mentira dos meus lá­bios, abate ao mesmo tempo o es­cravo e o príncipe, e o príncipe com o seu servo; esmaga a sua arro­gân­cia pela mão de uma mulher. 11Pois a tua força não depende do número nem o teu poder depende de homens valorosos; Tu és o Deus dos humil­des, auxiliador dos oprimidos, sus­ten­­tador dos fracos, protector dos aban­donados, salvador dos desespe­rados.

12Sim! Ó Deus de meu pai e Deus da herança de Israel, Senhor do céu e da terra, criador das águas, rei de toda a tua criação, atende o meu pe­dido 13e faz com que a minha men­tira fira e esmague aqueles que fizeram esses projectos contra a tua santa aliança e a tua morada santa, o cume de Sião e a morada dos teus filhos. 14Faz com que todas as na­ções e todas as tribos reconheçam que Tu és o Deus detentor de todo o poder e que mais nenhum outro guarda Is­rael, senão Tu.»

Capítulo 10

Judite sai contra Holo­fer­nes1Quando acabou de in­vocar o Deus de Israel e de pro­nun­ciar todas estas palavras, 2Judite levantou-se da sua prostração, cha­mou a sua serva, desceu para a casa onde passava os dias de Sábado e das festas, 3tirou as vestes de saco que trazia, trocou igualmente as suas roupas de viúva, lavou o seu corpo com água e ungiu-se com um óleo espesso e perfumado. Seguida­mente, penteou o cabelo da sua cabeça, colo­cou uma tiara e vestiu as suas rou­pas de festa, aquelas que costu­mava usar durante a vida de seu marido, Manassés. 4Calçou sandá­lias nos pés, enfeitou-se com cola­res, pul­­seiras, anéis, brincos e outros ador­nos, para seduzir os olhos dos homens que a iriam ver. 5Deu à sua serva um odre de vinho e uma ânfora de azeite; en­cheu um saco com farinha de cevada, um bolo de frutos secos, pães e queijo. Embalou todos os reci­pientes cuida­do­samente e entregou-os à sua serva.

6Em seguida, saíram ambas em direcção à porta da cidade de Betú­lia, encontrando ali Uzias e os an­ciãos da cidade, Cabri e Carmi. 7Quan­do estes a viram, com o rosto ungido e a roupa mudada, ficaram muitís­simo admirados com a sua beleza e disse­ram-lhe: 8«Que o Deus de nossos pais te conceda a graça de levar a bom termo o teu plano para glória dos fi­lhos de Israel e para a exaltação de Jerusalém.» 9Ela ado­rou a Deus e disse-lhes: «Dai ordens para que me abram a porta da ci­dade e eu sairei para cumprir tudo aquilo que fa­las­tes comigo.» Então, eles ordenaram aos jovens que lhe abrissem a porta tal como dissera. 10Eles assim fize­ram e Judite saiu, ela e a sua serva juntamente com ela. Os homens con­tinuaram a olhar para ela até que desceu a monta­nha, atravessou o vale e deixaram de a ver.

11Elas caminharam sempre a di­reito pelo vale, até que uma senti­nela dos assírios veio ao seu encon­tro. 12Prenderam-na e interro­garam-na: «A que povo pertences, de onde vens e para onde vais?» Ela res­pon­deu: «Sou uma filha dos hebreus e es­tou a fugir deles, porque estão pres­tes a entregarem-se a vós para serem de­vorados. 13Por isso, eu venho apre­sen­tar-me diante de Holofernes, o coman­dante do vosso exército, para lhe contar toda a verdade e para lhe mostrar o caminho por onde ele pode ir e dominar toda a região das coli­nas, sem perder a vida de nenhum dos seus homens.»

14Quando os homens ouviram as suas palavras e olharam para o seu rosto –_que se apresentava diante deles maravilhosamente belo – dis­se­­ram-lhe: 15«Salvaste a tua vida, apres­sando-te a descer e a apre­sen­tar-te diante do nosso senhor; vem até à sua tenda. Alguns dos nossos conduzir-te-ão até te entregarem nas suas mãos. 16Quando chegares junto dele, não tenhas medo no teu coração, repete-lhe as palavras que nos dis­seste e ele tratar-te-á bem.» 17Escolheram de entre os solda­dos cem homens que se juntaram a ela e à sua serva e que as condu­zi­ram até à tenda de Holofernes. 18Todo o acam­pamento entrou numa gran­de agita­ção, à medida que a notícia da sua chegada ia passando de tenda em tenda. Vieram e juntaram-se à volta de Judite, enquanto ela espe­rava fora da tenda que dessem a Holo­fernes informações a seu res­peito. 19Fica­ram admirados com a sua beleza e admi­rados com os filhos de Israel por causa dela e diziam uns para os outros: «Quem poderá menosprezar um povo como este, que tem no seu meio tais mulheres? Não podemos deixar que nenhum dos seus homens sobreviva porque, se os deixássemos partir, se­riam capa­zes de ludibriar o mundo inteiro.»

20Todos os companheiros de Holo­fernes e os seus servos saíram e con­duziram-na para a tenda. 21Holo­fer­­nes estava reclinado sobre a sua cama, rodeada por um cortinado de dossel feito de púrpura, ouro, esme­raldas e pedras preciosas. 22Quando o informaram acerca de Judite, ele veio até à entrada da tenda, prece­dido de lâmpadas de prata. 23Quan­do Ju­dite chegou à presença de Holo­­fer­nes e dos seus servos, estes fica­ram mara­vilhados com a beleza do seu rosto. Ela prostrou-se com o rosto por terra diante de Holofer­nes, e os seus ser­vos ajudaram-na a levantar-se.

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