Capítulo 1
Um sonho de Mardoqueu – 1No segundo ano do reinado de Assuero, o grande rei, no primeiro dia do mês de Nisan, Mardoqueu, filho de Jair, filho de Chimei, filho de Quis, da tribo de Benjamim, teve um sonho. 2Era um judeu estabelecido na cidade de Susa, grande personagem, ligado à corte do rei. 3Pertencia ao número dos cativos que Nabucodonosor, rei da Babilónia, deportara de Jerusalém, com Jeconias, rei de Judá.
4O seu sonho foi este: pareceu-lhe ouvir clamores repentinos, tumultos, trovões, um tremor de terra, o terror por toda a parte. 5E eis que, repentinamente, apareceram dois dragões, dispostos a combater um contra o outro e deram um grande grito. 6Ao ouvi-lo, as nações prepararam-se para combater uma nação de justos. 7Foi um dia de escuridão e trevas, tribulação, angústia, perigo e terror sobre toda a terra. 8Todo o povo dos justos, cheio de terror, temendo todos os males, preparou-se para morrer. 9Então clamaram a Deus e, quando levantaram a voz, eis que uma pequena fonte se transformou num grande rio, com grande abundância de água. 10A luz e o sol brilharam e os que estavam na humilhação foram exaltados e devoraram os grandes.
11Depois de ter visto este sonho e o que Deus queria fazer, Mardoqueu levantou-se. Conservou este sonho, até à noite, gravado no espírito, procurando compreender o seu significado.
Conspiração contra o rei – 12Mardoqueu estava, então, na corte do rei, com Bigtan e Teres, eunucos reais e porteiros do palácio. 13Teve conhecimento dos projectos deles e penetrou nos seus desígnios; averiguou que tentavam levantar a mão contra o rei Assuero e denunciou-os ao rei. 14O rei ordenou um inquérito. Eles confessaram e foram conduzidos ao suplício.
15O rei mandou escrever estes factos para ficarem de lembrança, e também Mardoqueu consignou por escrito a recordação dos mesmos. 16O rei confiou-lhe uma função no seu palácio, e, para o recompensar, ofereceu-lhe presentes. 17Mas Haman, filho de Hamedata, o agagita, que gozava da consideração do rei, procurava prejudicar Mardoqueu e o seu povo, por causa dos dois eunucos do rei.
Banquete de Assuero – 1Foi no tempo de Assuero, aquele que reinou desde a Índia até à Etiópia, sobre cento e vinte e sete províncias. 2Ao sentar-se no trono real de Susa, sua capital, 3no terceiro ano do seu reinado, Assuero deu um banquete a todos os cortesãos e aos seus servos. Reuniu na sua presença os chefes dos exércitos dos persas e dos medos, os príncipes e os governadores das províncias, 4para ostentar as riquezas e a magnificência do seu reino, a pompa da sua grandeza, durante muito tempo, a saber, cento e oitenta dias.
5Passado esse tempo, o rei convidou toda a população de Susa, a capital, desde o maior ao mais pequeno, para um banquete de sete dias, na cerca do jardim do palácio. 6Eram rendas e cortinas de púrpura, pendentes das colunas de alabastro por cordões de cor branca e violeta e anéis de prata, canapés de ouro e prata sobre um pavimento de jade, de alabastro, de nácar e azeviche. 7Os convidados bebiam por taças de ouro de várias formas; o vinho do rei servia-se em abundância, oferecido pela liberalidade régia. 8Bebia-se sem constrangimento, pois cada um bebia o que queria, conforme ordenara o rei aos seus mestres-sala.
9Ao mesmo tempo, a rainha Vásti ofereceu um banquete às mulheres, no palácio do rei Assuero. 10No sétimo dia, o rei, cujo coração estava alegre por causa do vinho, ordenou a Meuman, Bizetá, Harbona, Bigtá, Abagtá, Zetar e Carcas – os sete eunucos ao serviço de Assuero – 11que trouxessem à sua presença a rainha Vásti com o diadema real, para mostrar ao povo e aos grandes a sua beleza, porque era formosa de aspecto.
12Mas a rainha Vásti recusou-se a cumprir a ordem do rei transmitida pelos eunucos. O rei irritou-se grandemente e, enfurecido, 13consultou os sábios versados na ciência dos tempos, pois os assuntos do rei eram tratados desse modo com homens conhecedores das leis e do direito. 14Os mais considerados eram Carsena, Chetar, Admata, Társis, Meres, Marsena e Memucan, sete príncipes da Pérsia e da Média que viviam na presença do rei e ocupavam os primeiros lugares no reino.
15O rei perguntou-lhes: «Que lei se deve aplicar à rainha Vásti, por não ter obedecido à ordem que o rei Assuero lhe transmitiu através dos eunucos?» 16E respondeu Memucan, diante do rei e dos notáveis: «A rainha Vásti não só ofendeu o rei, mas também todos os príncipes e povos de todas as províncias do rei Assuero. 17De facto, o procedimento da rainha será conhecido por todas as mulheres e incitá-las-á a enfrentar os seus maridos com desprezo, dizendo-lhes: ‘O rei Assuero mandou chamar à sua presença a rainha Vásti, mas ela não quis ir’. 18Daqui em diante, com o exemplo da rainha, as mulheres dos príncipes da Pérsia e da Média, responderão do mesmo modo a todos os grandes do rei, e disso resultará enorme desprezo e irritação por toda a parte.
19Se o rei achar bem, publique-se em seu nome um decreto real, que ficará escrito nas leis da Pérsia e da Média como irrevogável, por força do qual Vásti não apareça mais diante do rei Assuero; e que o rei confira o título de rainha a outra mais digna do que ela. 20Quando o édito real for conhecido nas províncias do seu vastíssimo reino, todas as mulheres respeitarão os seus maridos, desde o maior ao mais humilde.»
21Este parecer agradou ao rei e aos príncipes, de modo que o rei seguiu o conselho de Memucan. 22O rei expediu, então, cartas para todas as províncias do seu reino, segundo a escrita e a língua de cada país e povo. Nelas dizia que os maridos deviam ser senhores nas suas casas e mandasse cada um como era costume do seu povo.
Capítulo 2
Ester eleita rainha – 1Passadas estas coisas, logo que a cólera do rei acalmou, Assuero pensou em Vásti, no que esta fizera e na decisão que tomara a respeito dela. 2Então, os servidores do rei disseram-lhe: 3«Procurem-se para o rei donzelas virgens, de bela figura; que o rei nomeie comissários, em todas as províncias do seu reino, a fim de reunirem todas as jovens virgens e de belo aspecto no harém, em Susa, a capital, sob a vigilância de Hegai, o eunuco do rei, guarda das mulheres, que providenciará às necessidades de toucador das mesmas. 4A jovem que mais agradar ao rei tornar-se-á rainha em lugar de Vásti.» O rei aprovou este parecer e assim mandou fazer.
5Havia em Susa, a capital, um judeu chamado Mardoqueu, filho de Jair, filho de Chimei, filho de Quis, da tribo de Benjamim, 6que tinha sido deportado de Jerusalém entre os cativos levados com Jeconias, rei de Judá, por Nabucodonosor, rei da Babilónia. 7Mardoqueu tinha criado Hadassa, isto é, Ester, filha do seu tio, órfã de pai e mãe. A jovem era bela de porte e de formoso aspecto; na morte de seus pais, Mardoqueu adoptara-a como filha.
8Logo que foi publicado o édito do rei, numerosas jovens foram reunidas em Susa, a capital, sob a guarda de Hegai. Ester também foi levada ao palácio real e posta sob a vigilância de Hegai, guarda das mulheres.
9A jovem agradou-lhe e caiu nas suas boas graças, e ele apressou-se a provê-la do necessário para o seu adorno e sua subsistência. Deu-lhe sete companheiras, escolhidas na casa do rei, e fê-la habitar com elas no melhor apartamento do harém. 10Ester não revelara a sua raça nem a sua família, porque Mardoqueu lhe proibira que falasse nisso. 11Todos os dias, Mardoqueu passeava diante do pátio do harém, para saber como passava Ester e como a tratavam.
12Toda a jovem tinha de sujeitar-se, durante doze meses, à lei das mulheres, antes de se apresentar ao rei Assuero. Nesse período, ungia-se seis meses com óleo de mirra, e outros seis meses com aromas e perfumes em uso entre as mulheres. 13Depois, quando chegava a vez de cada uma se apresentar diante do rei, podia, ao passar do harém ao palácio real, levar consigo tudo o que quisesse. 14Admitida à tarde, retirava-se pela manhã e passava à segunda casa das mulheres, sob a vigilância de Chaasgaz, eunuco do rei e guarda das concubinas. E não voltava mais à presença do rei, a não ser que este a desejasse e a chamasse pelo nome.
15Chegou a vez de Ester ser levada à presença do rei. A filha de Abiaíl, tio de Mardoqueu, que a adoptara por filha, não pediu nada além do que lhe fora dado por Hegai, eunuco do rei, encarregado das mulheres. Mas ela ganhava as boas graças de todos os que a viam. 16Ester foi, pois, conduzida à presença do rei Assuero, no seu palácio real, no décimo mês, que é o mês de Tébet, no sétimo ano do seu reinado.
17O rei amou-a mais que a todas as outras mulheres, e Ester conquistou as graças e favores do rei, mais do que nenhuma outra donzela. O rei colocou sobre a sua cabeça o diadema real e proclamou-a rainha, em lugar de Vásti. 18O rei ofereceu um grande banquete a todos os seus príncipes e aos seus servos, em honra de Ester, concedeu descanso às suas províncias e fez-lhes mercês com liberalidade régia.
19Quando se reuniram virgens pela segunda vez, Mardoqueu estava sentado à porta do rei. 20Ester não revelara ainda nem a sua família, nem a sua nação, como Mardoqueu lhe tinha recomendado: obedecia às ordens de Mardoqueu tão fielmente como quando estava sob a sua tutela. 21Naquele tempo, Mardoqueu encontrava-se, pois, sentado à porta do palácio. Ora dois eunucos do rei, Bigtan e Teres, guardas da entrada, revoltaram-se e quiseram levantar a mão contra o rei. 22Mardoqueu soube-o e informou a rainha Ester, que o referiu ao rei da parte de Mardoqueu. 23Averiguado o assunto e tido como certo, os dois eunucos foram suspensos numa forca. Este caso foi escrito no livro das crónicas, na presença do rei.
Capítulo 3
Conspiração de Haman contra os judeus – 1Depois destes acontecimentos, o rei Assuero elevou em dignidade Haman, filho de Hamedata, o agagita, e deu-lhe um lugar superior ao de todos os príncipes que o rodeavam. 2Todos os servos do rei que estavam à porta, dobravam o joelho e prostravam-se diante de Haman, por ordem expressa do rei; só Mardoqueu não dobrava o joelho nem se prostrava.
3Disseram-lhe os servos do rei que estavam à porta do palácio: «Porque desobedeces assim à ordem do rei?» 4E, como lhe repetissem isto todos os dias e ele não fizesse caso, denunciaram-no a Haman, para ver se Mardoqueu persistia na sua obstinação, pois este dissera-lhes que era judeu. 5Haman, vendo que Mardoqueu não queria dobrar o joelho nem prostrar-se diante dele, ficou furioso. 6Mas pareceu-lhe pouco vingar-se só de Mardoqueu, pois fora informado sobre o povo a que pertencia; procurou, então, maneira de exterminar o povo de Mardoqueu, todos os judeus que habitavam no reino de Assuero.
7No primeiro mês, que é o mês de Nisan, no décimo segundo ano do reinado de Assuero, foi lançado o “pur”, isto é, a sorte, diante de Haman, para cada dia e cada mês. Saiu o décimo segundo mês, que é o mês de Adar.
8Então, Haman disse ao rei Assuero: «Em todas as províncias do teu reino existe um povo, disperso e separado dos outros; as suas leis são diferentes das dos outros povos, e este povo não observa as leis do rei. Não convém aos interesses do rei deixar esse povo em paz. 9Se ao rei lhe parecer bem, dê-se ordem para os exterminar, e eu pesarei dez mil talentos de prata que passarei para as mãos dos funcionários, para que os recolham no tesouro real.»
10Então, o rei tirou o anel do seu dedo e entregou-o a Haman, filho de Hamedata, o agagita, inimigo dos judeus, e disse-lhe: 11«Entrego-te esse dinheiro e também esse povo; faz dele o que quiseres.»
12No dia treze do primeiro mês foram convocados os secretários do rei e escreveu-se, pontualmente, tudo o que Haman ordenava aos sátrapas do rei, aos governadores de cada província e aos príncipes de cada nação; a cada província, segundo a sua escrita, e a cada nação, segundo a sua língua. O édito estava assinado com o nome de Assuero e levava o selo real. 13Expediram-se cartas, por correios, para todas as províncias reais, no sentido de destruir, matar e exterminar todos os judeus, jovens, velhos, crianças e mulheres, num só dia, no dia treze do décimo segundo mês, que é o mês de Adar, e para entregar à pilhagem os seus despojos.
Cópia do édito contra os judeus – 1O teor da carta é o seguinte:
«Assuero, o grande rei, aos sátrapas e aos governadores das cento e vinte e sete províncias, da Índia até à Etiópia, mando o que se segue: 2Embora eu seja o chefe de numerosas nações e tenha submetido toda a terra, não quero de modo algum abusar da grandeza do meu poder. Quero estabelecer um governo de moderação e de justiça, oferecer aos meus súbditos uma existência de tranquilidade perpétua, e procurar para o meu reino, até aos seus confins, a quietude e a segurança, garantia da paz, tão desejada por todos os homens. 3Perguntei, pois, aos meus conselheiros como poderia levar isto a cabo e um deles, chamado Haman, superior a todos pela sua sabedoria e fidelidade, que ocupa o primeiro lugar depois do rei, 4deu-me a conhecer que há um povo mal-intencionado, disperso entre os outros povos do mundo, de costumes contrários aos dos outros, que despreza continuamente as ordens régias, a ponto de ameaçar a concórdia que reina no nosso império. 5Averiguei, também, que essa nação vive totalmente isolada, sempre em oposição perpétua ao resto do género humano e que, segundo as suas leis, tem um modo de vida estranho, hostil aos nossos interesses, e comete as piores desordens, comprometendo assim a ordem pública do reino. 6Por estas razões, ordenamos que todos aqueles que vos são indicados nas cartas de Haman, o homem que está à frente dos nossos interesses e que é para nós como um segundo pai, sejam radicalmente exterminados, com as suas mulheres e crianças, pela espada dos seus inimigos, sem nenhuma compaixão nem clemência, no dia catorze do décimo segundo mês, chamado Adar, do presente ano. 7Desse modo, os inimigos de ontem e de hoje sejam obrigados a descer num só dia à região dos mortos, para que, no tempo futuro, o nosso governo seja estável e perfeitamente tranquilo.»
14Uma cópia do édito, que devia ser promulgado em cada província, foi enviada a todos os povos, convidando-os a estarem preparados para o dia marcado. 15À ordem do rei, os correios partiram a toda a pressa.
O édito publicou-se em Susa, a capital, e enquanto o rei bebia na companhia de Haman, a cidade de Susa estava consternada.
Capítulo 4
Consternação dos judeus – 1Quando Mardoqueu soube o que se tinha passado rasgou as vestes, vestiu-se de saco e cinza e percorreu a cidade dando fortes gemidos de dor. 2Deste modo chegou até à porta do rei. Ora ninguém podia transpor aquela porta vestido de saco. 3Em todas as províncias, em toda a parte onde chegou a ordem do rei e o seu édito, houve grande desolação entre os judeus. Jejuaram, choraram e fizeram lamentações, e muitos deitavam-se sobre a cinza vestidos de saco.
4As criadas de Ester e os seus eunucos foram-lhe contar o que se passava. E a rainha encheu-se de temor. Mandou roupas para que Mardoqueu se vestisse e tirasse o saco com que estava coberto; mas ele não as aceitou. 5Então, Ester chamou Hatac, um dos eunucos que o rei pusera ao seu serviço, e encarregou-o de perguntar a Mardoqueu que significavam e qual o motivo daqueles sinais de dor.
6Hatac foi ter com Mardoqueu, que estava na praça da cidade, diante da porta do rei. 7E Mardoqueu contou-lhe tudo o que acontecera, e a quantia de dinheiro que Haman prometera entregar ao tesouro real, em troca do extermínio dos judeus. 8E entregou-lhe também uma cópia do édito publicado em Susa para os exterminar, de modo que a mostrasse a Ester, pondo-a ao corrente de tudo. E mandou a Ester que se apresentasse ao rei, a fim de implorar a sua graça e interceder junto dele pelo seu povo.
9Hatac foi referir a Ester as palavras de Mardoqueu. 10Mas a rainha encarregou Hatac de lhe responder:
11«Todos os servos do rei e o povo das suas províncias sabem que há uma lei que castiga com a pena de morte quem quer que seja, homem ou mulher, que penetrar sem ser chamado no átrio interior do palácio do rei, excepção feita somente àquele para o qual o rei estender o seu ceptro de ouro, a fim de lhe conservar a vida. E eu não fui chamada pelo rei desde há trinta dias.»
12Estas palavras de Ester foram referidas a Mardoqueu, 13e este mandou responder-lhe: «Não penses que, por estares no palácio, poderás escapar mais facilmente que todos os judeus. 14Se agora te calares, e o socorro e a libertação dos judeus vier de outra parte, tu e a casa dos teus pais perecereis. E quem sabe se não foi para estas circunstâncias que chegaste à realeza?!»
15Ester mandou responder a Mardoqueu: 16«Vai reunir todos os judeus de Susa e jejuai por mim, sem comer nem beber, durante três dias e três noites. Eu farei a mesma coisa com as minhas servas. Depois disso, e apesar da proibição, irei ter com o rei. Se tiver de morrer, morrerei.»
17Mardoqueu retirou-se e fez tudo o que Ester pedira.
Oração de Mardoqueu – 1Então, Mardoqueu orou ao Senhor, recordando-lhe todas as maravilhas que Ele tinha realizado, e disse:
2«Senhor, Senhor, rei todo poderoso, em cujo poder estão todas as coisas e a cuja vontade ninguém pode resistir, se quiseres salvar Israel. 3Fizeste o céu e a terra e todas as maravilhas que se acham debaixo dos céus. 4És o Senhor universal e ninguém, Senhor, te pode resistir. 5Conheces tudo e sabes que não foi por espírito de soberba, nem por presunção, nem por vanglória que recusei prostrar-me diante do orgulhoso Haman. 6De boa vontade, para salvar Israel, eu beijaria o rasto dos seus pés. 7Mas procedi assim para não colocar a glória de um homem acima da glória de Deus; não adorarei ninguém fora de ti. E, agindo assim, não o faço por orgulho.
8E agora, Senhor, Tu que és o meu Deus e meu rei, Deus de Abraão, defende o teu povo, pois os nossos inimigos querem arruinar-nos e destruir a tua antiga herança. 9Não desprezes o teu povo, que resgataste da terra do Egipto. 10Ouve a minha oração e sê propício para com a tua herança e transforma em alegria a nossa dor, a fim de vivermos para celebrar o teu nome, Senhor. E não feches a boca daqueles que te louvam!»
11Todo o Israel clamava também ao Senhor com grandes brados, porque tinha a morte diante dos olhos.
Oração de Ester – 12Também a rainha Ester, possuída de uma angústia mortal, recorreu ao Senhor. 13Depôs as suas vestes luxuosas e vestiu roupas de aflição e pesar. Em lugar das essências preciosas, cobriu a cabeça de cinza e pó e humilhou-se. O seu corpo, que antes sentia prazer em adornar, cobriu-o com os cabelos desgrenhados. 14E dirigiu esta prece ao Senhor, Deus de Israel:
«Meu Deus, meu único rei, assiste-me no meu desamparo, pois não tenho outro socorro senão a ti, 15porque vou pôr a minha vida em risco. 16No seio da família, ouvi desde criança, Senhor, que escolheste Israel entre todos os povos, e os nossos pais entre todos os seus antepassados, para fazer deles a tua herança perpétua, e que cumpriste todas as promessas. 17E agora, porque pecámos na tua presença, entregaste-nos nas mãos dos nossos inimigos, 18por termos adorado os seus deuses.
Tu és justo, Senhor. 19Mas eles não se contentam com impor-nos dura servidão. E, colocando as mãos sobre os seus ídolos, 20juraram abolir o que Tu decretaste, aniquilar a tua herança, fechar a boca daqueles que te louvam, extinguir a glória do teu templo e do teu altar, 21a fim de proclamar, pela boca dos gentios, o poder dos seus ídolos e de exaltar para sempre um rei de carne.
22Ó Senhor, não entregues o ceptro aos que não são nada, para que não se riam da nossa ruína! Faz cair sobre eles os seus planos e derruba aquele que primeiro nos atacou. 23Lembra-te de nós, Senhor. Manifesta-te no dia da nossa tribulação e dá-me coragem, Senhor, rei dos deuses, dominador de todos os poderes! 24Coloca nos meus lábios, quando estiver na presença do leão, palavras apropriadas e muda o seu coração em ódio contra aquele que nos é hostil, a fim de que pereça com todos os seus partidários.
25Livra-nos com a tua mão e assiste-me no meu abandono, a mim, que não tenho senão a ti, Senhor. Tu conheces tudo! 26Sabes que detesto a glória dos ímpios e tenho horror ao leito dos incircuncisos e estrangeiros. 27Sabes que só por necessidade estou onde estou, e que detesto as insígnias da dignidade que levo sobre a minha cabeça nos dias em que devo aparecer em público. Sim, eu as abomino como um pano manchado e não as levo nos dias do meu recolhimento. 28A tua serva não comeu à mesa de Haman nem honrou com a sua presença os banquetes do rei, nem bebeu o vinho das libações. 29Jamais se alegrou a tua serva desde o dia da sua elevação até hoje, a não ser em ti, Senhor, Deus de Abraão. 30Ó Deus, poderoso sobre todas as coisas, ouve a voz dos desamparados e livra-nos das mãos dos perversos, e a mim livra-me desta minha angústia.»
Capítulo 5
Ester apresenta-se ao rei – 1No terceiro dia, Ester vestiu os trajes reais e foi colocar-se no átrio interior do palácio real, diante da residência do rei; este estava sentado no trono real, na sala do trono, diante da porta do palácio. 2Quando o rei viu a rainha Ester de pé no átrio, olhou-a com agrado e estendeu para ela o ceptro de ouro que tinha na mão. Ester aproximou-se e tocou na ponta do ceptro.
1No terceiro dia, terminada a sua oração, Ester despiu as vestes de penitência e vestiu as suas vestes de gala. 2E assim esplendidamente adornada, depois de ter invocado a Deus, seu salvador, que vê todas as coisas, tomou consigo duas servas. 3Apoiava-se sobre uma, como uma pessoa delicada, 4ao passo que a outra a seguia, segurando a cauda do seu manto. 5Estava formosa como uma flor, de rosto rosado, alegre e atraente, mas com o coração angustiado pelo temor.
6E, atravessando todas as portas, apresentou-se diante do rei. Assuero estava sentado no seu trono real, revestido de todos os ornamentos da sua majestade, coberto de ouro e de pedrarias, e o seu aspecto era impressionante. 7Levantando a cabeça, radiante de majestade, dirigiu o seu olhar, cheio de cólera, para a rainha que, mudando de cor, desmaiou e deixou cair a cabeça no ombro da serva que a acompanhava. 8Mas Deus mudou em doçura a cólera do rei que, assustado, se levantou precipitadamente do seu trono e a tomou nos braços, até que ela voltou a si. Procurou acalmar o seu temor com doces palavras, 9dizendo-lhe: «Que tens, Ester? Sou teu irmão. Não temas! 10Não morrerás, porque a minha ordem é para o comum do povo. 11Aproxima-te!» 12Levantou o ceptro de ouro, aproximou-o do seu pescoço e beijou-a, dizendo: «Podes falar-me.» 13Ela disse-lhe: 14«Meu senhor, eu vi-te como um anjo de Deus e o temor da tua majestade perturbou o meu coração. 15Porque és, senhor, admirável e o teu rosto está cheio de gravidade.» 16Dizendo estas palavras caiu de novo sem sentidos. 17O rei consternou-se e todos os seus servos procuravam reanimá-la.
Intervenção de Ester – 3O rei disse-lhe: «Que tens, rainha Ester, e que queres? Mesmo que pedisses metade do meu reino, isso te daria.» 4Ester respondeu-lhe: «Se ao rei parecer bem, venha hoje com Haman ao banquete que lhe preparei.» 5O rei disse: «Apressai-vos a chamar Haman para atender ao desejo de Ester.»
O rei foi com Haman ao banquete que Ester tinha preparado. 6Enquanto se bebia o vinho, o rei disse à rainha: «Qual é o teu pedido? Tudo te será concedido. Qual o teu desejo? Mesmo que seja metade do meu reino, será satisfeito.» 7Ester respondeu-lhe: «Eis o que desejo e o meu pedido: 8Se encontrei favor aos olhos do rei, e se lhe agrada aceder ao meu pedido e satisfazer o meu desejo, que o rei e Haman tornem a vir ao banquete que lhes vou preparar. Amanhã darei resposta à pergunta do rei.»
9Haman saiu, naquele dia, cheio de gozo e alegre de coração. Mas, à vista de Mardoqueu que, diante da porta do rei, não se levantou nem se moveu à sua passagem, encheu-se de furor contra ele. 10Soube, entretanto, conter-se e retirou-se para sua casa. Então, chamou os seus amigos e Zeres, sua mulher, 11e falou-lhes do esplendor das suas riquezas, do número dos seus filhos, de tudo o que o rei fizera para o exaltar e do lugar que lhe conferira sobre todos os príncipes e todos os servidores reais. 12E acrescentou: «Fui o único a quem a rainha Ester admitiu com o rei ao banquete que ela lhe ofereceu, e convidou-me ainda para amanhã, juntamente com o rei. 13Mas tudo isto não é nada para mim, enquanto vir esse judeu Mardoqueu sentado à porta do rei.» 14Zeres, sua mulher, e todos os seus amigos disseram-lhe: «Prepara uma forca com cinquenta côvados de altura e, amanhã cedo, pede ao rei que nela seja suspenso Mardoqueu. Depois, irás satisfeito ao banquete com o rei.» Este conselho agradou a Haman, que mandou levantar a forca.
Capítulo 6
Haman é condenado à morte 1Naquela noite, o rei não pôde conciliar o sono. Mandou que lhe trouxessem o livro das memórias, as Crónicas, que na sua presença foram lidas. 2Nelas estava escrita a relação da denúncia que lhe fizera Mardoqueu da conspiração de Bigtan e Teres, os dois eunucos do rei, guardas do átrio, que quiseram levantar a mão contra o rei Assuero.
3O rei perguntou: «Que honras e distinções recebeu Mardoqueu por isto?» Responderam os servos do rei: «Não recebeu nenhuma.» 4Então o rei disse: «Quem está no átrio?» Ora Haman viera ao átrio exterior do palácio, para pedir ao rei que mandasse suspender Mardoqueu na forca que mandara levantar. 5Os servos do rei responderam: «É Haman que está no átrio.» O rei ordenou: «Que entre!»
6Entrou, pois, Haman e o rei perguntou-lhe: «Que se deve fazer a um homem a quem o rei quer honrar?» Pensou Haman: «A quem senão a mim quererá o rei honrar?» 7E logo respondeu: «Para honrar um homem a quem o rei quer honrar, 8é necessário mandar trazer as vestes com que se vestiu o rei e o cavalo que ele montou e colocar a coroa real na cabeça dele. 9As vestes, o cavalo e a coroa entregar-se-ão a um dos príncipes da corte, para que vista o homem a quem o rei quer honrar, passeando-o a cavalo pela praça da cidade e dizendo em altos brados diante dele: ‘É assim que é tratado o homem a quem o rei quer honrar’.»
10O rei disse a Haman: «Toma, pois, depressa as vestes e o cavalo, como disseste, e faz tudo isso a Mardoqueu, o judeu que está sentado à porta do rei. Não omitas nada de tudo o que disseste.» 11Haman tomou as vestes e o cavalo, vestiu Mardoqueu e conduziu-o, a cavalo, pela praça da cidade, clamando diante dele: «É assim que é tratado o homem a quem o rei quer honrar.»
12Depois, Mardoqueu voltou para a porta do palácio, enquanto Haman se retirava precipitadamente para casa, desolado e de cabeça coberta. 13E contou a Zeres, sua mulher, e a todos os seus amigos o que lhe acontecera. Os seus conselheiros e a sua mulher Zeres responderam-lhe: «Se Mardoqueu, diante do qual começaste a cair, pertence ao povo judeu, não o conseguirás vencer, mas sucumbirás diante dele.»
14Falavam ainda, quando os eunucos do rei chegaram para o levar imediatamente ao banquete que Ester tinha preparado.
Capítulo 7
Castigo de Haman – 1O rei e Haman foram, pois, ao banquete da rainha Ester. 2No segundo dia, disse outra vez o rei a Ester, durante o festim: «Qual é o teu pedido, rainha Ester? Pois ele te será concedido. Que é que desejas? Mesmo que fosse metade do meu reino, seria satisfeito.» 3A rainha respondeu: «Se encontrei favor aos teus olhos, ó rei, e se ao rei parecer bem, conceda-me a vida, eis o meu pedido; e salve o meu povo, eis o meu desejo. 4É que eu e o meu povo fomos votados ao extermínio, à morte, ao aniquilamento. Se tivéssemos sido vendidos como escravos ou como servos, eu calar-me-ia, embora o inimigo não compensasse o prejuízo que o rei sofreria.» 5O rei Assuero perguntou à rainha Ester: «Quem é e onde está aquele que projecta tais coisas?» – 6«O opressor, o inimigo – disse a rainha – é Haman, esse malvado.»
7Haman ficou tolhido de terror diante do rei e da rainha. O rei, na sua cólera, levantou-se, deixou o banquete e dirigiu-se ao jardim do palácio. Haman, porém, permaneceu ali para implorar a Ester que lhe salvasse a vida, porque via bem que no espírito do rei estava decretada a sua completa ruína.
8Quando o rei voltou do jardim do palácio para a sala do banquete, viu Haman que se deixara cair no divã em que repousava Ester e exclamou: «Como?! Será que quer fazer também violência à rainha na minha casa, no meu palácio?» Mal acabara o rei de pronunciar essas palavras, cobriram o rosto de Haman.
9Harbona, um dos eunucos, disse ao rei: «Na casa de Haman há uma forca, com a altura de cinquenta côvados, que o próprio Haman preparou para Mardoqueu, aquele que descobriu a conspiração contra o rei.» Exclamou o rei: «Que o suspendam nela!» 10Suspenderam Haman na forca que tinha erguido para Mardoqueu e a cólera do rei aplacou-se.
Capítulo 8
Os hebreus vingam-se – 1Naquele mesmo dia, o rei Assuero deu à rainha Ester a casa de Haman, o opressor dos judeus; e Mardoqueu apresentou-se diante do rei, porque Ester lhe manifestara o parentesco que a unia a ele. 2O rei tirou o seu anel, que retirara de Haman, e deu-o a Mardoqueu; e Ester colocou Mardoqueu à frente da casa de Haman.
3Ester voltou de novo à presença do rei e falou-lhe. Prostrada a seus pés a chorar, suplicava-lhe que impedisse o efeito das maldades de Haman, o agagita, e a realização dos seus planos contra os judeus. 4O rei estendeu o ceptro de ouro a Ester, que se pôs de pé diante dele 5e lhe disse: «Se ao rei parecer bom e justo, e se encontrei favor, e for agradável aos seus olhos, que se revoguem por escrito as cartas que Haman, filho de Hamedata, o agagita, propôs e redigiu para exterminar os judeus de todas as províncias do rei. 6Como poderia eu ver a desgraça que espera o meu povo, e como poderia assistir ao extermínio da minha gente?»
7O rei Assuero respondeu à rainha Ester e ao judeu Mardoqueu: «Eu dei a Ester a casa de Haman, e esse homem foi enforcado por levantar a mão contra os judeus. 8Escrevei, portanto, vós mesmos, em favor dos judeus, como bem vos parecer, em nome do rei, e selai as cartas com o selo real, porque toda a ordem escrita em nome do rei e selada com o seu selo é irrevogável.»
9Foram, então, chamados os secretários do rei, no dia vinte e três do terceiro mês, que é o mês de Sivan. E eles, conforme as instruções de Mardoqueu, escreveram aos judeus, aos sátrapas, aos governadores e aos chefes das cento e vinte e sete províncias situadas entre a Índia e a Etiópia, a cada província na sua escrita, a cada nação na sua própria língua, e aos judeus na sua própria escrita e língua. 10Redigiram-se, em nome do rei Assuero, e marcaram-se com o selo real as cartas que foram expedidas por correios, montados em cavalos procedentes das cavalariças reais. 11Nelas, o rei outorgava aos judeus, em qualquer cidade em que residissem, o direito de se reunirem para defender a sua vida, destruir, matar e fazer perecer, em cada província do reino, todos os que estivessem armados para os atacar, assim como as suas mulheres e filhos, e também o direito de se apoderarem dos bens deles. 12E fixou-se num só dia, em todas as províncias do rei Assuero, a saber, no dia treze do décimo segundo mês, chamado Adar.
Édito de Assuero em favor dos judeus – 1Eis a cópia da carta:
«Assuero, o grande rei, aos cento e vinte e sete sátrapas, aos governadores das províncias desde a Índia à Etiópia, e a todos os que dirigem os nossos interesses, saúde.
2Muitos, depois de terem recebido honras singulares pela grande bondade dos seus benfeitores, tornaram-se arrogantes. 3Não somente tratam de oprimir os nossos súbditos, mas, incapazes de se contentar com as honras recebidas, conspiram até contra aquele que lhas conferiu. 4E não só desterram do meio dos homens os sentimentos de gratidão, senão que, ensoberbecidos com a adulação dos que desconhecem o bem, procuram escapar a uma justiça inimiga do mal, a de Deus que tudo vê. 5Muitas vezes, as insinuações dos encarregados de administrar os interesses dos seus amigos arrastaram para calamidades irremediáveis os que detêm o poder e tornaram-nos cúmplices da morte de inocentes, 6abusando, por falsos e maliciosos subterfúgios, da simplicidade e da probidade dos príncipes. 7Isto é o que podemos constatar, não tanto pelas narrações passadas que chegaram até nós, como acabamos de recordar, quanto pelo exame dos factos criminosos, de vós conhecidos, perpetrados por essa calamidade de homens, indignamente revestidos da autoridade.
8Por isso, procuraremos assegurar para todos, no futuro, a tranquilidade e a paz do reino, 9realizando mudanças e julgando com equidade os acontecimentos que nos são apresentados, para os enfrentar sempre com prudência.
10Vós sabeis como o macedónio Haman, filho de Hamedata, homem estranho ao sangue dos persas e inteiramente desconhecedor da nossa bondade, por nós acolhido com toda a hospitalidade, 11beneficiou da nossa universal benevolência, a ponto de ser chamado nosso pai e de ser venerado por todos como titular da segunda dignidade do trono real. 12Mas, incapaz de conter a sua presunção, intentou privar-nos tanto do poder como da vida. 13Por insinuações cautelosas e subtis, procurou a morte do nosso salvador e grande benfeitor Mardoqueu, como também a de Ester, irrepreensível companheira da nossa realeza, e a morte de todo o seu povo. 14Pensava surpreender-nos, assim, isolados, para transferir o império dos persas para os macedónios.
15Mas chegámos à conclusão de que esses judeus que aquele três vezes criminoso votava à morte, não eram, de modo algum, malfazejos; pelo contrário, eram dirigidos por leis cheias de equidade; 16que são os filhos do altíssimo Deus vivo, o qual nos conserva a nós, como aos nossos antepassados, este reino em grande prosperidade.
17Por isso, fareis bem em não prestar atenção às cartas enviadas por Haman, filho de Hamedata, 18visto que o autor desse crime foi suspenso numa forca, diante das portas de Susa, com toda a sua família, tendo-lhe Deus, que tudo domina, infligido prontamente o castigo que merecia.
19Uma cópia do presente édito será afixada por toda a parte, para que seja permitido aos judeus observarem as suas leis com toda a liberdade; 20prestar-lhes-eis assistência, para que possam defender-se contra todos os que os ataquem, no dia fixado para a sua ruína, isto é, no dia treze do décimo segundo mês, chamado Adar. 21Porque esse dia, fixado para a perda do povo escolhido, Deus, que tudo domina, converteu-o em dia de alegria.
22Vós, pois, celebrareis esse dia memorável com grande alegria, como uma das vossas solenidades, 23a fim de que, agora e no futuro, seja um dia de salvação para nós e para os persas de boa vontade, e uma recordação de ruína para os que maquinaram contra nós. 24Toda a cidade e toda a província que não observar estas ordens será inexoravelmente destruída pelo ferro e pelo fogo; deste modo, tornar-se-á não só inacessível aos homens, mas também eternamente odiosa para as feras e para as aves.»
13Uma cópia do édito, que devia ser promulgado como lei em cada província, foi enviada a todos os povos, a fim de que os judeus estivessem preparados, naquele dia, para se vingarem dos seus inimigos. 14Os correios, montados em cavalos das cavalariças reais, partiram a toda a pressa, por ordem do rei. O édito foi imediatamente publicado em Susa, a capital.
15Mardoqueu saiu do palácio do rei, com uma veste real, azul e branca, com uma grande coroa de ouro e um manto de linho e púrpura. A cidade de Susa alegrou-se com grandes manifestações de júbilo. 16Houve para os judeus felicidade, alegria, luz e cantos de triunfo. 17Em cada província, em cada cidade, onde quer que chegasse o édito real, houve entre os judeus gozo, banquetes e regozijo. E muitos de entre os povos do país fizeram-se judeus, tal era o temor que estes lhes inspiravam.
Capítulo 9
Vingança dos judeus – 1No décimo segundo mês, chamado Adar, no dia treze do mês, data em que se cumpria o édito do rei e em que os inimigos dos judeus pensavam exterminá-los, aconteceu tudo ao contrário, e os judeus dominaram os seus inimigos. 2Os judeus reuniram-se nas suas cidades, em todas as províncias do rei Assuero, para levantar a mão contra aqueles que desejavam a sua perda. Ninguém lhes pôde resistir, porque o terror se apoderara de todos os povos. 3E todos os chefes das províncias, os sátrapas, os governadores e os funcionários do rei apoiaram os judeus, pelo temor que lhes inspirava Mardoqueu. 4Porque este ocupava um alto lugar no palácio real, e a sua fama espalhava-se por todas as províncias, onde a sua influência crescia dia a dia.
5Os judeus feriram todos os seus inimigos a golpes de espada, mataram e exterminaram os seus opressores e trataram-nos como os seus inimigos tinham querido proceder com eles. 6Em Susa, a capital, mataram quinhentos homens. 7Fizeram igualmente perecer Parchandata, Dalfon, Aspata, 8Porata, Adalias, Aridata, 9Parmasta, Arisai, Aridai e Vaizata, 10os dez filhos de Haman, filho de Hamedata, o opressor dos judeus. Mas abstiveram-se de toda a pilhagem.
11Nesse dia, chegou ao conhecimento do rei o número das vítimas em Susa, a capital, 12e o rei disse a Ester: «Na cidade de Susa, os judeus mataram quinhentos homens e os dez filhos de Haman. Que terão feito nas outras províncias do rei? Se algo mais quiseres, ser-te-á concedido. Se tens mais algum desejo, ser-te-á satisfeito.»
13Ester respondeu: «Se ao rei parecer bem, seja permitido aos judeus de Susa agir também amanhã conforme o decreto de hoje, e que se suspendam numa forca os dez filhos de Haman.» 14O rei deu ordem para que assim se fizesse. O édito foi publicado em Susa, e suspenderam na forca os dez filhos de Haman. 15Os judeus de Susa reuniram-se de novo no dia catorze do mês de Adar e mataram na cidade trezentos homens. Mas também não se deram à pilhagem.
16Os outros judeus, espalhados pelas províncias do reino, juntaram-se para defender as suas vidas e livrar-se dos ataques dos seus inimigos. Mataram setenta e cinco mil pessoas sem, contudo, se entregarem à pilhagem.
17Isto sucedeu no dia treze do mês de Adar. No dia catorze repousaram e fizeram dele um dia de banquetes e alegria. 18Os judeus de Susa, que se juntaram no dia treze e catorze, repousaram no dia quinze, fazendo dele um dia de banquetes e alegria.
19Mas os judeus do campo, que habitavam nas cidades não fortificadas, faziam do dia catorze do mês de Adar um dia de alegria, de banquetes e de festa, dia em que enviavam ofertas uns aos outros.
A festa de Purim – 20Mardoqueu escreveu todos estes acontecimentos. Enviou cartas a todos os judeus das províncias do rei Assuero, próximas ou longínquas, 21para lhes ordenar que celebrassem, cada ano, o dia catorze e o dia quinze do mês de Adar 22como dias em que foram postos a salvo dos ataques dos seus inimigos, e celebrar o mês em que a sua tristeza se transformou em alegria e o luto em festa. Deviam, pois, nesses dias, fazer alegres banquetes, enviar ofertas uns aos outros e distribuir donativos aos pobres.
23Os judeus comprometeram-se a fazer aquilo que já tinham começado e que Mardoqueu lhes escrevera: 24que Haman, filho de Hamedata, o agagita, opressor dos judeus, resolvera exterminá-los e lançar-lhes o “pur”, isto é, a sorte, para os exterminar e destruir; 25mas, quando Ester se apresentou diante do rei, este ordenou, por escrito, que o maligno projecto tramado contra os judeus recaísse sobre a cabeça do seu autor e que este e seus filhos fossem suspensos na forca. 26É por isso que eles chamam a esses dias Purim, da palavra “pur”.
Conforme o conteúdo dessa carta, segundo o que eles mesmos viram e lhes acontecera, 27os judeus instituíram e estabeleceram para eles, para os seus descendentes e para todos os que a eles se unissem, o costume irrevogável de celebrar anualmente esses dois dias, na forma prescrita e no tempo marcado. 28Esses dias eram recordados e celebrados de geração em geração, em cada família, em cada província e em cada cidade. Jamais poderiam ser abolidos esses dias de Purim entre os judeus, nem se devia apagar a sua recordação entre os seus descendentes.
29A rainha Ester, filha de Abiaíl, e o judeu Mardoqueu escreveram uma segunda vez com insistência, para confirmar a carta acerca da festa de Purim, 30e enviaram as cartas a todos os judeus das cento e vinte e sete províncias do rei Assuero, com palavras de paz e de fidelidade; 31recomendavam a celebração desses dias de Purim no tempo fixado, como o judeu Mardoqueu e a rainha Ester os instituíram, para eles e para os seus descendentes, com os jejuns e as lamentações. 32Assim, a ordem de Ester confirmou a instituição da festa de Purim, e tudo isso foi escrito no livro.
Capítulo 10
Elogio de Mardoqueu – 1O rei Assuero impôs tributo à terra e às ilhas do mar. 2Todos os factos concernentes ao seu poderio e às suas façanhas e os pormenores da grandeza a que elevou Mardoqueu, tudo isso está escrito no livro das crónicas dos reis dos medos e dos persas. 3Porque o judeu Mardoqueu era o primeiro, depois do rei Assuero; era considerado grande entre os judeus e amado pela multidão dos seus irmãos. Procurou o bem do seu povo e preocupou-se com a felicidade de toda a sua raça.
Interpretação do sonho de Mardoqueu – 1E Mardoqueu disse: «De Deus veio tudo isto. 2Lembro-me de um sonho que tive a este respeito e nada foi omitido: 3foi a pequena fonte que se converteu num rio, e foi a luz e o sol e a abundância de água. O rio é Ester a quem o rei tomou por esposa e que se tornou rainha. 4Os dois dragões sou eu e Haman. 5Os povos são aqueles que se reuniram para exterminar o nome dos judeus. 6A minha nação é Israel que invocou o Senhor e que foi salva, porque o Senhor salvou o seu povo e livrou-nos de todos estes males. Deus fez grandes prodígios e maravilhas, como não fez semelhantes entre todas as nações. 7Porque Deus preparou dois destinos: um para o seu povo e outro para todas as nações. 8E esses dois destinos cumpriram-se na hora, no tempo e no dia fixado por Deus para todas as nações. 9Então, o Senhor lembrou-se do seu povo e fez justiça à sua herança. 10Por isso, aqueles dias do mês de Adar, os dias catorze e quinze, serão celebrados em comum no povo de Israel, com gozo e alegria diante de Deus, de geração em geração, para sempre.»
Nota final – 11No quarto ano de Ptolomeu e de Cleópatra, Dositeu, que se dizia sacerdote da tribo de Levi, e seu filho Ptolomeu trouxeram a presente carta sobre a festa de Purim, assegurando ter sido traduzida por Lisímaco, filho de Ptolomeu, da comunidade de Jerusalém.