Capítulo 1
III. Fim da História Sincrónica de Israel e Judá. Elias (1,1-17,41)
Morte de Acazias (1 Rs 22,52-54) – 1Depois da morte de Acab, Moab revoltou-se contra Israel. 2Acazias que se encontrava no andar superior da sua casa, na Samaria, caiu da janela e feriu-se gravemente. Enviou então mensageiros, dizendo-lhes: «Ide consultar Baal-Zebub, o deus de Ecron, para saber se vou sobreviver a este meu mal.» 3Mas o anjo do Senhor falou a Elias, o tisbita, nestes termos: «Vai! Sai ao encontro dos mensageiros do rei da Samaria e diz-lhes: ‘Não há, porventura, um Deus em Israel, para irdes consultar Baal-Zebub, deus de Ecron? 4Por isso, eis o que diz o Senhor: Não te levantarás do leito em que te deitaste, pois vais morrer.’» E Elias partiu.
5Os mensageiros voltaram para junto de Acazias, que lhes perguntou: «Porque voltais?» 6Eles responderam: «Um homem saiu-nos ao encontro e disse-nos: ‘Ide, voltai para junto do rei que vos enviou e dizei-lhe: Isto diz o Senhor: Não há, porventura, um Deus em Israel, para que mandes consultar Baal-Zebub, deus de Ecron? Por isso, não te levantarás do leito onde te deitaste, pois vais morrer.’» 7Acazias disse-lhes: «Qual era o aspecto desse homem que se encontrou convosco e vos falou desse modo?» 8Responderam-lhe: «Era um homem vestido de peles, que trazia um cinto de couro em volta dos rins.» O rei disse: «É Elias, o tisbita.» 9Imediatamente enviou-lhe um chefe com os seus cinquenta homens. Foi ter com Elias, que estava sentado no cimo do monte, e disse-lhe: «Ó homem de Deus, o rei ordena que desças depressa!» 10Elias respondeu-lhe: «Se sou um homem de Deus, que desça fogo do céu e te devore a ti e aos teus cinquenta homens.» Desceu, pois, fogo do céu e devorou o chefe e os seus cinquenta homens. 11O rei mandou outro chefe com os seus cinquenta homens, o qual falou a Elias e lhe disse: «Ó homem de Deus, o rei ordena que desças imediatamente.» 12«Se sou um homem de Deus – respondeu-lhes Elias – desça fogo do céu e te devore a ti e aos teus cinquenta homens.» E o fogo descido do céu devorou o chefe e os seus cinquenta homens.
13Pela terceira vez, mandou o rei um chefe com os seus cinquenta homens, o qual se prostrou de joelhos diante de Elias e lhe suplicou: «Homem de Deus, seja preciosa aos teus olhos a minha vida e a destes teus cinquenta servos. 14Eis que veio fogo do céu e devorou os dois primeiros chefes e os seus cinquenta homens, mas, agora, que a minha vida seja preciosa aos teus olhos!» 15O anjo do Senhor disse a Elias: «Desce com este homem. Não tenhas medo dele!» Elias levantou-se e desceu com ele até junto do rei. 16Elias disse ao rei: «Isto diz o Senhor: Porque enviaste mensageiros a consultar Baal-Zebub, deus de Ecron? Não há porventura um Deus em Israel para o ires consultar? Não te levantarás mais do leito em que te deitaste, pois vais morrer.» 17Acazias morreu, segundo a palavra que o Senhor pronunciara pelo profeta Elias, e o seu irmão Jorão sucedeu-lhe no trono, no segundo ano de Jorão, filho de Josafat, rei de Judá, porque Acazias não tinha filhos. 18O resto da história de Acazias e os seus feitos, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel.
Capítulo 2
Elias arrebatado ao céu – 1Aconteceu que, quando o Senhor quis arrebatar Elias ao céu, num redemoinho, Elias e Eliseu partiram de Guilgal. 2Elias disse a Eliseu: «Fica aqui porque o Senhor envia-me a Betel.» Mas Eliseu respondeu-lhe: «Pelo Deus vivo e pela tua vida, juro que não te deixarei.» E desceram ambos a Betel. 3Os filhos dos profetas que estavam em Betel saíram ao encontro de Eliseu e disseram-lhe: «Não sabes que o Senhor vai levar hoje o teu amo por sobre a tua cabeça?» Ele respondeu: «Sim, eu sei. Calai-vos!» 4Elias disse a Eliseu: «Fica aqui porque o Senhor envia-me a Jericó.» Ele respondeu: «Pelo Deus vivo e pela tua vida, juro que não te deixarei.» E, assim, chegaram a Jericó.
5Os filhos dos profetas que estavam em Jericó saíram ao encontro de Eliseu e disseram-lhe: «Não sabes que o Senhor vai levar hoje o teu amo por cima da tua cabeça?» Respondeu: «Sim, eu sei. Calai-vos!» 6Elias disse a Eliseu: «Fica aqui porque o Senhor envia-me ao Jordão.» Mas Eliseu respondeu: «Pelo Deus vivo e pela tua vida, juro que não te deixarei.» E partiram juntos. 7Seguiram-nos cinquenta filhos dos profetas, que pararam ao longe, voltados para eles, enquanto Elias e Eliseu se detinham na margem do Jordão. 8Elias tomou o seu manto, dobrou-o e bateu com ele nas águas, que se separaram de um e de outro lado, de modo que passaram os dois a pé enxuto. 9Tendo passado, Elias disse a Eliseu: «Pede o que quiseres, antes que eu seja separado de ti. Que posso fazer por ti?» Eliseu respondeu: «Seja-me concedida uma porção dupla do teu espírito.» 10Elias replicou: «Pedes uma coisa difícil. No entanto, se me vires quando estiver a ser arrebatado de junto de ti, terás aquilo que pedes; mas, se não me vires, não o terás.»
11Continuando o seu caminho, entretidos a conversar, eis que, de repente, um carro de fogo e uns cavalos de fogo os separaram um do outro, e Elias subiu ao céu num redemoinho. 12Eliseu viu tudo isto e exclamou: «Meu pai, meu pai! Carro e condutor de Israel!» E não o voltou a ver mais. Tomando, então, as suas vestes, rasgou-as em duas partes.
13Eliseu apanhou o manto que Elias deixara cair e, voltando, parou na margem do Jordão. 14Pegou no manto que Elias deixara cair, bateu com ele nas águas e disse: «Onde está agora o Senhor, o Deus de Elias? Onde está Ele?» Ao bater nas águas, estas separaram-se para um e outro lado, e Eliseu passou. 15Os filhos dos profetas que estavam em Jericó, vendo o que acontecera diante deles, exclamaram: «O espírito de Elias repousa sobre Eliseu.» E indo ao seu encontro, prostraram-se por terra diante dele, 16e disseram: «Há aqui, entre os teus servos, cinquenta homens valentes, que podem ir à procura do teu amo. Talvez o Espírito do Senhor o tenha arrebatado e atirado sobre algum monte ou algum vale.» Eliseu respondeu-lhes: «Não os envieis.» 17Eles, porém, tanto insistiram, que Eliseu condescendeu e disse: «Enviai-os.» Mandaram, pois, cinquenta homens, que procuraram Elias durante três dias, mas não o encontraram.
18Quando voltaram para junto de Eliseu, que estava em Jericó, este disse-lhes: «Não vos disse eu que não fôsseis?» 19Os habitantes da cidade disseram a Eliseu: «A cidade está muito bem situada, como o pode ver o meu senhor; mas as águas são más e tornam a terra estéril.» 20Eliseu disse-lhes: «Trazei-me um prato novo e ponde nele sal.» Eles trouxeram-lho. 21Eliseu foi à fonte das águas e deitou-lhes sal, dizendo: «Isto diz o Senhor: ‘Tornei saudáveis estas águas, e elas não mais causarão nem morte nem esterilidade.’» 22As águas ficaram boas até ao dia de hoje, segundo a palavra pronunciada por Eliseu.
23Dali subiu para Betel. Enquanto caminhava, saíram da cidade alguns rapazitos, que se puseram a zombar dele, dizendo: «Sobe, careca! Sobe, careca! 24Eliseu virou-se para trás, viu-os e amaldiçoou-os em nome do Senhor. Imediatamente saíram da floresta dois ursos e despedaçaram quarenta e dois daqueles rapazes. 25Dali, partiu para o monte Carmelo, donde voltou para a Samaria.
Capítulo 3
Jorão, rei de Israel (852-841) – 1No décimo oitavo ano de Josafat, rei de Judá, Jorão, filho de Acab, começou a reinar em Israel, na Samaria, e reinou durante doze anos.
2Fez o mal aos olhos do Senhor, mas não tanto como seu pai e sua mãe, pois tirou as estátuas que seu pai tinha erigido a Baal. 3Mas imitou os pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fez pecar Israel, e não se apartou deles.
Expedição contra Moab (1 Rs 22) – 4O rei Mecha, de Moab, possuidor de muitos rebanhos, pagava ao rei de Israel cem mil cordeiros e cem mil carneiros de lã. 5Porém, com a morte de Acab, quebrou a aliança que tinha com o rei de Israel. 6O rei Jorão saiu da Samaria e fez o recenseamento de todo o Israel. 7Depois mandou dizer a Josafat, rei de Judá: «O rei de Moab rebelou-se contra mim. Queres vir comigo combater contra ele?» Josafat respondeu: «Sim, vou! Eu sou como tu, o meu povo é como o teu e a minha cavalaria é como a tua.» 8 E acrescentou: «Por onde subiremos?» Respondeu Jorão: «Pelo caminho do deserto de Edom.» 9O rei de Israel, o rei de Judá e o rei de Edom puseram-se em marcha, mas, depois de sete dias de caminho, veio a faltar a água, tanto para o exército como para os animais que o seguiam. 10O rei de Israel exclamou: «Ai! O Senhor juntou aqui os três reis para os entregar nas mãos do rei de Moab!» 11Josafat disse: «Não há por aqui um profeta do Senhor, para consultarmos o Senhor por meio dele?» Respondeu um dos servos do rei de Israel: «Sim, está aqui Eliseu, filho de Chafat, aquele que derramava água sobre as mãos de Elias.» 12Josafat disse: «Está nele a palavra do Senhor.» Então, o rei de Israel, Josafat e o rei de Edom foram ter com ele. 13Eliseu perguntou ao rei de Israel: «O que tenho eu a ver contigo, ó rei? Vai procurar os profetas do teu pai e da tua mãe.» Disse-lhe o rei de Israel: «Não, porque o Senhor reuniu aqui estes três reis para os entregar nas mãos do rei de Moab.» 14Eliseu exclamou: «Pelo Senhor do universo, o Deus vivo a quem sirvo, juro que, se não fosse em atenção a Josafat, rei de Judá, não faria caso de ti, nem sequer poria em ti os meus olhos. 15Mas, agora, trazei-me um tocador de harpa.»
E enquanto o tocador tocava harpa, a mão do Senhor veio sobre Eliseu, 16que disse: «Isto diz o Senhor: Cavai no leito da torrente muitas valas! 17Pois isto diz o Senhor: Não sentireis vento, nem vereis chuva e, contudo, o leito encher-se-á de água, e podereis beber vós, o vosso exército e os vossos animais de carga. 18Porém, isto é pouco aos olhos do Senhor: Ele vai entregar também Moab nas vossas mãos. 19Destruireis todas as cidades fortes, as cidades mais importantes, derrubareis todas as árvores de fruto, tapareis todas as fontes e cobrireis de pedras todos os campos férteis.»
20No dia seguinte pela manhã, à hora em que se costuma oferecer a oblação, desceram as águas pelo caminho de Edom e a terra cobriu-se de água. 21Os moabitas, ao saberem que aqueles reis os vinham atacar, mobilizaram todos os homens que tinham atingido a idade de ir para a guerra, e foram postar-se na fronteira. 22Na manhã seguinte, quando o sol incidia sobre as águas, os moabitas viram as águas vermelhas como sangue. 23Eles exclamaram: «É sangue! Os reis pelejaram entre si e destruíram-se mutuamente. Corre, agora, ó Moab, a recolher a presa!»
24Mas, ao aproximarem-se do acampamento dos israelitas, estes levantaram-se e atacaram os moabitas, que fugiram diante deles. E os vencedores perseguiram os de Moab, 25destruíram as cidades, encheram toda a terra fértil de pedras que cada um lançava, entupiram todas as fontes, derrubaram todas as árvores de fruto, de modo que só ficaram as pedras da cidade de Quir-Haréchet, que foi cercada e atacada pelos atiradores de funda. 26Vendo o rei de Moab que não podia resistir àquele ataque, tomou consigo setecentos homens armados de espada para abrir caminho até ao rei de Edom, mas não conseguiu. 27Tomando, então, o seu filho primogénito, que deveria suceder-lhe no trono, ofereceu-o em holocausto sobre a muralha. Isto provocou grande indignação em Israel, que se retirou dali e voltou para a sua terra.
Capítulo 4
Multiplicação do azeite (1 Rs 17,8-16) – 1Uma mulher, das dos filhos dos profetas, suplicou a Eliseu, dizendo: «Meu marido, teu servo, morreu, e bem sabes que ele temia o Senhor. Mas eis que agora vem o credor tomar os meus dois filhos para os fazer seus escravos.» 2Eliseu disse-lhe: «Que posso fazer por ti? Diz-me o que tens em tua casa.» Ela respondeu: «A tua serva só tem em sua casa uma ânfora de azeite.» 3Ele disse-lhe: «Vai pedir emprestadas às tuas vizinhas ânforas vazias em grande quantidade. 4Depois entra, fecha a porta atrás de ti e dos teus filhos, enche com o azeite todas essas ânforas e põe-nas de lado, à medida que estiverem cheias!»
5A mulher partiu dali e fechou-se em casa com os seus filhos. Estes traziam-lhe as ânforas e ela enchia-as. 6Cheias as ânforas, disse ao filho: «Dá-me mais uma ânfora.» Ele respondeu: «Não há mais ânforas.» E o azeite deixou de crescer. 7A mulher foi e contou tudo ao homem de Deus, que lhe disse: «Vai e vende esse azeite para pagar a tua dívida; tu e os teus filhos vivereis do que restar.»
Relato da chunamita (1 Rs 17,17-24) – 8Certo dia, ao atravessar Chuném, veio ao encontro de Eliseu uma mulher rica e convidou-o a comer em sua casa. E sempre que por ali passava, ia lá tomar a sua refeição. 9A mulher disse ao marido: «Escuta: eu sei que este homem, que passa com frequência por nossa casa, é um santo homem de Deus. 10Preparemos-lhe um pequeno quarto sobre o terraço, com uma cama, uma mesa, uma cadeira e uma lâmpada, para que ele ali se possa recolher, quando vier a nossa casa.» 11Ora, um dia, passando Eliseu por Chuném, recolheu ao quarto para dormir. 12E disse a Guiezi, seu servo: «Chama essa chunamita.» Guiezi chamou-a e ela apresentou-se a Eliseu. 13E ele disse ao seu servo: «Pergunta-lhe: ‘Que posso fazer por ti, em reconhecimento do desvelo com que nos tens tratado? Queres que fale por ti ao rei ou ao general do exército?’» Ela respondeu: «Eu vivo em paz no meio do meu povo.» 14Eliseu então disse: «Que se pode fazer por ela?» Respondeu Guiezi: «Ela não tem filhos e o seu marido é idoso.» 15Disse Eliseu: «Chama-a.» Guiezi chamou-a e ela apareceu à porta. 16Eliseu disse-lhe: «Por este tempo, no próximo ano, acariciarás um filho.» Mas ela respondeu: «Não, meu senhor, não zombes da tua escrava, ó homem de Deus!» 17Com efeito, a mulher concebeu. No ano seguinte, na mesma época, ela deu à luz um filho, como tinha anunciado Eliseu.
18O menino cresceu. Um dia, indo ter com seu pai, que andava com os ceifeiros, 19disse-lhe: «Ai a minha cabeça! Ai a minha cabeça!» E o pai disse para o criado: «Leva-o à sua mãe.» 20Este levou-o e entregou-o à mãe. Ela teve-o no regaço até ao meio-dia, hora em que o menino morreu. 21Subiu, então, deitou o menino na cama do homem de Deus, fechou a porta e saiu. 22Chamou então o marido e disse-lhe: «Envia-me um criado e uma jumenta, para eu ir depressa a casa do homem de Deus e voltar. 23Ele respondeu-lhe: «Porque vais ter com ele hoje? Não é a Lua-nova, nem Sábado.» Ela disse-lhe: «Tem calma! 24Mandou selar a jumenta e disse ao criado: «Conduz a burra depressa e não me detenhas no caminho, sem que eu te avise.» 25Ela partiu e chegou ao lugar onde se encontrava o homem de Deus, no monte Carmelo, o qual, vendo-a de longe, disse ao seu servo Guiezi: «Aí vem a chunamita. 26Corre ao encontro dela e pergunta-lhe se está bem, e se o seu marido e o seu filho estão igualmente bem.» Ela respondeu: «Tudo vai bem.» 27Mas, ao chegar junto do homem de Deus, na montanha, agarrou-se aos seus pés. Guiezi aproximou-se para a afastar, mas o homem de Deus disse-lhe: «Deixa-a, pois a sua alma está amargurada e o Senhor ocultou-me tudo, nada me revelou.» 28A mulher disse: «Pedi eu, porventura, algum filho ao meu senhor? Não te disse que não zombasses de mim?» 29Eliseu disse a Guiezi: «Aperta o teu cinto, toma na mão o meu bastão e parte. Se encontrares alguém não o saúdes, e se alguém te saudar, não lhe respondas. Porás o meu bastão sobre o rosto do menino.» 30A mãe do menino exclamou: «Pelo Deus vivo e pela tua vida, juro que não te deixarei!» Então, Eliseu levantou-se e seguiu-a.
31Entretanto, Guiezi, que ia à frente deles, pôs o bastão sobre o rosto do menino, mas ele não falava nem sentia. Voltou à procura de Eliseu e disse-lhe: «O menino não ressuscitou.» 32Eliseu entrou na casa, onde se encontrava o menino morto em cima da sua cama. 33Entrou, fechou a porta, ficando sozinho com o morto, e orou ao Senhor. 34Depois, subiu para a cama, deitou-se sobre o menino, colocando a sua boca sobre a boca dele, os seus olhos sobre os olhos dele, as suas mãos sobre as mãos dele. E encostado, assim, sobre o menino, o corpo do menino foi aquecendo.
35Eliseu levantou-se, deu algumas voltas pelo quarto, tornou a subir e a estender-se sobre o menino, que espirrou sete vezes e abriu os olhos. 36Eliseu chamou Guiezi e disse-lhe: «Chama a chunamita.» Ele chamou-a. A chunamita entrou e Eliseu disse-lhe: «Toma o teu filho.» 37Então, ela lançou-se aos pés de Eliseu, prostrando-se por terra. Depois, tomou o seu filho e saiu.
Comida envenenada – 38Quando Eliseu voltou a Guilgal, a fome devastava o país. Estando os filhos dos profetas sentados diante dele, disse ao seu servo: «Toma numa panela grande e prepara uma sopa para os filhos dos profetas.»
39Um deles foi ao campo colher legumes e encontrou uma planta silvestre: colheu dela pepinos bravos, encheu o manto, regressou a casa, cortou-os em pedaços e deitou-os na panela, sem saber o que era. 40Serviram aos companheiros para que comessem. Porém, logo que provaram a comida, eles puseram-se a gritar: «Ó homem de Deus, é a morte que está nesta panela!» E não conseguiram comer mais. 41Eliseu disse-lhes: «Trazei-me farinha.» Deitou então a farinha na panela e disse: «Serve, agora, para que todos comam.» E já não havia na panela nada de amargo.
Multiplicação do pão – 42Veio um homem de Baal-Salisa, que trazia ao homem de Deus, como oferta de primícias, vinte pães de cevada e trigo novo, no seu saco. Disse Eliseu: «Dá-os a esses homens para que comam.» 43O seu servo respondeu: «Como poderei dar de comer a cem pessoas com isto?» Insistiu Eliseu: «Dá-os a esses homens para que comam. Pois isto diz o Senhor: ‘Comerão e ainda sobrará.’» 44Ele colocou os pães diante deles. Todos comeram e ainda sobejou, como o Senhor tinha dito.
Capítulo 5
Cura de Naaman – 1Naaman, general dos exércitos do rei da Síria, gozava de grande prestígio diante do seu amo e era muito estimado, porque, por meio dele, o Senhor salvou a Síria; era um homem robusto e valente, mas leproso. 2Ora tendo os sírios feito uma incursão no território de Israel, levaram consigo uma jovem donzela, que ficou ao serviço da mulher de Naaman. 3Ela disse à sua senhora: «Ah, se o meu amo fosse ter com o profeta que vive na Samaria, certamente ficava curado da lepra!» 4Naaman foi contar ao seu soberano aquilo que dissera a jovem israelita. 5O rei da Síria respondeu-lhe: «Vai, que eu vou escrever uma carta ao rei de Israel.» Naaman partiu levando consigo dez talentos de prata, seis mil siclos de ouro e dez mudas de roupa. 6Levou ao rei de Israel uma carta escrita nestes termos: «Juntamente com esta carta, aí te mando o meu servo Naaman, para que o cures da sua lepra.»
7Ao terminar de ler a carta, o rei de Israel rasgou as suas vestes e exclamou: «Sou eu, porventura, um deus que possa dar a morte ou a vida, de modo que me enviem alguém para eu o curar da lepra? Reparai e vede como ele busca pretextos contra mim.» 8Mas Eliseu, o homem de Deus, soube que o rei rasgara as suas vestes e mandou-lhe dizer: «Porque rasgaste as tuas vestes? Que ele venha ter comigo e saberá que há um profeta em Israel.» 9Chegou, pois, Naaman com o seu carro e os seus cavalos e parou à porta de Eliseu. 10Este mandou-lhe dizer por um mensageiro: «Vai, lava-te sete vezes no Jordão e a tua carne ficará limpa.» 11Naaman, irritado, retirou-se, dizendo: «Pensava que ele sairia a receber-me e, diante de mim, invocaria o Senhor, seu Deus, colocaria a sua mão no lugar infectado e me curaria da lepra. 12Porventura, os rios de Damasco, o Abaná e o Parpar, não são acaso melhores do que todas as águas de Israel? Não me poderia lavar neles e ficar limpo?» E, virando costas, retirou-se indignado. 13Mas os seus servos aproximaram-se dele e disseram-lhe: «Meu pai, mesmo que o profeta te tivesse mandado uma coisa difícil, não a deverias fazer? Quanto mais agora, ao dizer-te: ‘Lava-te e ficarás curado.’» 14Naaman desceu ao Jordão e lavou-se sete vezes, como lhe ordenara o homem de Deus, e a sua carne tornou-se como a de uma criança e ficou limpo. 15Voltou, então, ao homem de Deus com toda a sua comitiva; entrou, apresentou-se diante dele e disse: «Reconheço agora que não há outro Deus em toda a Terra, senão o de Israel. Aceita este presente do teu servo.» 16Eliseu respondeu: «Pelo Senhor, o Deus vivo a quem sirvo, juro que nada aceitarei.» E, apesar das instâncias de Naaman, ele continuou a recusar.
17Então, Naaman disse: «Já que não aceitas, permite ao menos que se dê ao teu servo uma quantidade de terra deste país, tanta quanta possam carregar duas mulas. Pois doravante o teu servo não oferecerá mais holocaustos nem sacrifícios a outros deuses, mas somente ao Senhor. 18Entretanto, roga ao Senhor que perdoe ao teu servo o seguinte: Quando o meu soberano entrar no templo de Rimon para adorar, apoiando-se no meu braço e eu também me prostrar no templo de Rimon, que o Senhor perdoe esse gesto ao teu servo.» 19Eliseu respondeu: «Vai em paz!»
Já Naaman ia a uma certa distância, 20quando Guiezi, servo de Eliseu, disse consigo: «Meu amo tratou demasiadamente bem a Naaman, esse sírio, recusando aceitar da sua mão o que ele tinha trazido. Pelo Senhor, o Deus vivo! Vou correr atrás dele, a ver se me dá alguma coisa.» 21E Guiezi correu atrás de Naaman, o qual, vendo-o a correr, desceu do seu carro, veio ao seu encontro e disse-lhe: «Está tudo bem?» 22Guiezi respondeu: «Sim. O meu senhor envia-me para te dizer o seguinte: ‘Acabaram de chegar a minha casa dois jovens da montanha de Efraim, que são dos filhos dos profetas. Peço-te que me dês para eles um talento de prata e duas mudas de roupa.’» 23Naaman respondeu: «É melhor que leves dois talentos.» Naaman insistiu e, metendo dois talentos e duas mudas de roupa em dois sacos, entregou-os a dois dos seus servos para que os levassem junto de Guiezi.
24Quando atingiram a colina, Guiezi tomou os sacos das mãos deles e guardou-os em sua casa. Depois, despediu os dois homens que se retiraram. 25A seguir, entrou e foi apresentar-se ao seu amo. Eliseu perguntou-lhe: «De onde vens, Guiezi?» Ele respondeu: «O teu servo não foi a parte alguma.» 26Mas Eliseu replicou: «Acaso não estava presente o meu espírito, quando um homem saltou do seu carro ao teu encontro? Será agora tempo para receber prata ou roupa, oliveiras ou vinhas, ovelhas ou bois, criados ou criadas? 27A lepra de Naaman pegar-se-á a ti e a toda a tua descendência para sempre.» E Guiezi saiu da presença de Eliseu coberto de uma lepra branca como a neve.
Capítulo 6
Outro prodígio de Eliseu – 1Os filhos dos profetas disseram a Eliseu: «O lugar onde vivemos contigo tornou-se demasiado estreito para nós. 2Vamos até ao Jordão, cortemos, cada um de nós, um tronco do bosque e construamos ali uma casa, para habitarmos.» Respondeu-lhes ele: «Ide.» 3Mas um deles disse: «Vem também tu com os teus servos.» Respondeu Eliseu «Irei.»
4Partiu com eles. Chegados ao Jordão, puseram-se a cortar madeira. 5Ora, estando um deles a cortar um tronco, o machado caiu à água. Exclamou ele: «Ah, meu senhor! Este machado era emprestado.» 6Perguntou o homem de Deus: «Onde caiu?» Ele apontou-lhe o lugar; Eliseu cortou um pau, atirou-o à água, e o machado veio à superfície. 7Disse ele: «Retira-o de lá.» Então o homem estendeu a mão e apanhou-o.
Os guerreiros sírios – 8O rei da Síria, que estava em guerra contra Israel, aconselhou-se com os seus servos e disse-lhes: «Acamparemos em tal e tal lugar.» 9 O homem de Deus mandou, então, dizer ao rei de Israel: «Evita passar por tal lugar, porque os sírios estão ali acampados.»
10O rei de Israel enviou homens ao lugar sobre o qual o homem de Deus o tinha informado e avisado. E isto aconteceu não apenas uma ou duas vezes. 11O rei da Síria, alvoroçado por causa disso, chamou os seus servos e disse-lhes: «Não me descobrireis quem dos nossos nos tem atraiçoado junto do rei de Israel?» 12Um dos seus servos respondeu: «Não foi ninguém, ó rei, meu senhor; é o profeta Eliseu que conta ao rei de Israel os planos que fazes na tua própria alcova.» 13E o rei disse: «Ide e vede onde ele se encontra, para eu o mandar prender.» Disseram ao rei: «Ele está em Dotan.» 14O rei enviou para lá cavalos, carros e as melhores tropas, que chegaram de noite e cercaram a cidade.
15Na manhã seguinte, o criado do homem de Deus, saindo cedo, viu o exército que cercava a cidade com cavalos e carros. E aquele servo disse a Eliseu: «Ah!, meu senhor, que vamos fazer agora?» 16Eliseu respondeu-lhe: «Não temas! Aqueles que estão connosco são mais numerosos do que os que estão com eles.» 17Eliseu, depois de fazer uma oração, disse: «Senhor, abre-lhe os olhos para que veja.» O Senhor abriu os olhos do servo e ele viu o monte repleto de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu. 18Entretanto, os inimigos aproximavam-se dele e Eliseu orou ao Senhor, dizendo: «Atinge estes homens com a cegueira.» E o Senhor, ouvindo a prece de Eliseu, cegou-os. 19Eliseu disse-lhes: «Não é este o caminho, nem é esta a cidade. Segui-me, pois, vou conduzir-vos ao homem que buscais.» E então conduziu-os para a Samaria. 20Tendo entrado na Samaria, Eliseu disse: «Senhor, abre os olhos a estes homens, para que vejam.»
O Senhor abriu-lhes os olhos e eles viram que estavam na cidade da Samaria. 21Ao vê-los, o rei de Israel disse a Eliseu: «Devo matá-los, meu pai?» 22Mas ele respondeu: «Não. Acaso costumas matar aqueles que, com a tua espada e o teu arco, fazes prisioneiros? Dá-lhes antes pão e água, para que possam comer e beber e voltem para junto do seu amo.»
23O rei mandou servir-lhes um grande banquete. Eles comeram e beberam. Depois, deixou-os em liberdade e eles voltaram para junto do seu soberano. E, a partir de então, os guerreiros sírios não voltaram mais às terras de Israel.
Cerco da Samaria – 24Depois destes acontecimentos, Ben-Hadad, rei da Síria, mobilizou todo o seu exército e subiu para sitiar a cidade da Samaria. 25Uma grande fome alastrou pela cidade e o cerco foi tão apertado que uma cabeça de jumento valia oitenta siclos de prata, e um quarto de cab de excrementos de pomba, cinco siclos de prata. 26Um dia em que o rei passeava pela muralha, uma mulher gritou-lhe: «Socorre-me, ó rei, meu senhor!» 27O rei respondeu-lhe: «Se o Senhor não te salva, com que te poderei eu socorrer? Com o trigo da eira ou o vinho do lagar?» 28E acrescentou: «Que te aconteceu?» Ela respondeu ao rei: «Esta mulher que aqui vês, disse-me: ‘Dá-me o teu filho para o comermos hoje; amanhã comeremos o meu.’ 29Cozemos, então, o meu filho e comemo-lo. No dia seguinte, quando eu lhe disse: ‘Dá-me o teu filho, para comermos’, ela escondeu-o.» 30Ao ouvir o que dizia a mulher, o rei rasgou as suas vestes; e, como continuou a passear pela muralha, o povo viu que, por baixo, junto ao corpo, ele usava um tecido de saco.
31E o rei disse: «Que Deus me trate com rigor e me castigue, se a cabeça de Eliseu, filho de Chafat, lhe ficar hoje sobre os ombros!» 32Eliseu estava em sua casa e os anciãos estavam sentados com ele. O rei fizera-se preceder de um mensageiro; mas, antes que este chegasse, Eliseu disse aos anciãos: «Não sabeis que este filho de assassino deu ordens a alguém para me cortar a cabeça? Atenção! Quando chegar o mensageiro, fechai-lhe a porta e afastai-o. Não se ouve já o ruído dos passos do seu amo, que vem atrás dele?» 33Estava Eliseu ainda a falar com eles e eis que o mensageiro se apresentou diante dele e lhe disse: «Este tão grande mal veio-nos do Senhor. Como é que eu poderei ainda confiar no Senhor?»
Capítulo 7
Libertação da Samaria – 1Eliseu disse ao enviado do rei: «Ouve a palavra do Senhor: Amanhã, a esta mesma hora, uma medida de flor de farinha ou duas medidas de cevada valerão um siclo, à porta da Samaria.» 2O oficial, em cujo braço se apoiava o rei, respondeu ao homem de Deus: «Ainda que o Senhor abrisse janelas no céu, seria porventura possível semelhante coisa?» Eliseu respondeu-lhe: «Tu o verás com os teus próprios olhos, mas não comerás.» 3Ora, estavam quatro leprosos à porta da cidade, os quais disseram entre si: «Porque ficamos aqui até morrer? 4Se decidirmos ir para a cidade, morreremos, porque ali reina a fome; se ficarmos aqui, morreremos da mesma maneira. Vinde, portanto; passemos ao acampamento dos sírios! Se eles nos pouparem a vida, viveremos! Se eles nos matarem, de qualquer modo, tínhamos de morrer.» 5Ao anoitecer, partiram para o acampamento dos sírios, mas ao chegarem ao extremo do acampamento, viram que não havia ali ninguém.
6O Senhor fizera ressoar no acampamento dos sírios um estrondo de carros, de cavalaria e de um grande exército, e eles disseram uns para os outros: «É certamente o rei de Israel que assalariou os reis dos hititas e os reis dos egípcios para virem combater contra nós.» 7Levantaram-se, pois, e fugiram, ainda de noite, deixando ali as suas tendas, os cavalos e os jumentos; abandonaram o acampamento tal como estava e só cuidaram de salvar a própria vida. 8Os leprosos, então, chegando à extremidade do acampamento, entraram numa tenda, comeram e beberam, tomaram consigo ouro, prata, vestes e foram escondê-los. Voltaram em seguida, entraram noutra tenda, pegaram em mais coisas e foram igualmente escondê-las. 9Então, os leprosos disseram uns para os outros: «Não está bem o que estamos a fazer. Hoje é um dia de boas novas. Se nos calarmos e esperarmos até ao romper da aurora, seremos castigados. Vamos antes levar a informação à casa do rei.» 10Foram e contaram o sucedido aos guardas da porta da cidade, dizendo-lhes: «Entrámos no acampamento dos sírios. Não há ali ninguém, nem uma voz humana sequer; só há cavalos e jumentos amarrados e as tendas estão ainda armadas.»
11Os guardas da porta levaram a boa-nova ao interior do palácio real. 12Era de noite, mas o rei levantou-se e disse aos seus servos: «Vou dizer-vos o que os sírios tramam contra nós: sabem que estamos famintos e, por isso, deixaram o acampamento e foram armar emboscadas no campo, dizendo: ‘Quando saírem da cidade, apanhamo-los vivos e entramos nela.’»
13Mas um dos servos do rei falou e disse: «Tomemos cinco dos cavalos que nos restam ainda na cidade e mandemos fazer um reconhecimento, pois a sorte desses será igual à de toda a gente que ficou em Israel, pois todos estão a acabar. Enviemo-los e veremos.» 14Escolheram dois carros com os cavalos e o rei enviou homens para seguirem os passos do exército sírio, dizendo-lhes: «Ide ver.» 15Eles seguiram o rasto dos sírios até ao Jordão. Todo o caminho estava semeado de vestes e de outros objectos que os sírios, precipitadamente, tinham abandonado. Os mensageiros voltaram e contaram tudo ao rei.
16Saiu, então, o povo e saqueou o acampamento dos sírios. E vendeu-se uma medida de flor de farinha por um siclo, e, igualmente por um siclo, duas medidas de cevada, tal como o Senhor dissera. 17O rei confiara a guarda da porta ao oficial em cujo braço se apoiava. Mas, com os empurrões do povo, foi esmagado e caiu morto à entrada da porta, conforme predissera o homem de Deus, quando o rei descera à sua casa.
18O homem de Deus dissera ao rei: «Amanhã, a esta mesma hora, duas medidas de cevada valerão um siclo, à porta da Samaria, e uma medida de flor de farinha valerá igualmente um siclo.» 19E o oficial tinha respondido ao homem de Deus: «Ainda que o Senhor abrisse janelas no céu, porventura seria possível tal coisa?» A isto Eliseu tinha respondido: «Tu o verás com os teus olhos, mas não comerás.» 20Foi o que lhe aconteceu: o povo atropelou-o à entrada da porta e ele morreu.
Capítulo 8
A chunamita recupera os seus bens – 1Eliseu disse à mulher cujo filho ressuscitara: «Parte com todos os teus e vai habitar noutro lugar qualquer, porque o Senhor mandou a fome e ela alastrará sobre esta terra, durante sete anos.» 2Fez, pois, a mulher o que lhe dissera o homem de Deus: emigrou com a sua família e foi viver durante sete anos para a terra dos filisteus. 3Passados os sete anos, regressou da terra dos filisteus e foi reclamar ao rei, por causa da sua casa e da sua terra. 4O rei estava a conversar com Guiezi, servo do homem de Deus, pedindo que lhe contasse os prodígios que Eliseu tinha realizado. 5Guiezi referia justamente como Eliseu tinha ressuscitado um morto, quando a mulher, cujo filho ressuscitara, chegou a fim de reclamar do rei a sua casa e a sua terra. Guiezi exclamou: «Eis, ó rei, meu senhor! Esta é a mulher e este é o seu filho que Eliseu ressuscitou.» 6O rei interrogou a mulher e ela narrou-lhe o acontecido. Então o rei mandou com ela um eunuco, ao qual disse: «Faz com que lhe seja restituído tudo o que lhe pertence, bem como todos os rendimentos da sua propriedade, desde que a deixou até ao dia de hoje.»
Eliseu em Damasco – 7Eliseu foi a Damasco. Ben-Hadad, rei da Síria, encontrava-se doente. Foram avisá-lo, dizendo: «O homem de Deus veio até aqui.» 8O rei disse a Hazael: «Toma contigo um presente e vai ao encontro do homem de Deus. Consultarás o Senhor, por seu intermédio, a fim de saber se sairei vivo desta minha doença.» 9Hazael foi ao encontro do homem de Deus, levando consigo presentes, do que havia de melhor em Damasco, transportados em quarenta camelos. Ao chegar à sua presença disse: «O teu filho Ben-Hadad, rei da Síria, enviou-me para te perguntar se sairá vivo da sua doença.» 10Eliseu respondeu-lhe: «Vai e diz-lhe que ele sobreviverá a esta doença. Mas o Senhor revelou-me que, de qualquer modo, ele vai morrer.» 11Depois, o homem de Deus ficou parado e sentiu-se perturbado, pondo-se em seguida a chorar.
12Perguntou Hazael: «Porque chora o meu senhor?» Ele respondeu: «Porque sei o mal que farás aos israelitas: incendiarás as suas cidades fortes, matarás ao fio da espada os seus jovens, esmagarás as suas crianças e rasgarás o ventre das suas mulheres grávidas.» 13Disse-lhe Hazael: «Será o teu servo um cão, para fazer tão grandes crimes?» Eliseu respondeu: «O Senhor mostrou-me numa visão que serás rei da Síria.» 14Deixando Eliseu, voltou Hazael para junto do seu amo, que lhe perguntou: «Que te disse Eliseu?» Respondeu ele: «Disse-me que vais sobreviver.» 15No dia seguinte, Hazael pegou num cobertor, molhou-o em água, estendeu-o sobre o rosto do rei e este morreu. E Hazael sucedeu-lhe no trono.
Jorão, rei de Judá (848-841) (2 Cr 21, 1-20) – 16No quinto ano de Jorão, filho de Acab, rei de Israel, Jorão, filho de Josafat, começou a reinar em Judá. 17Tinha trinta e dois anos quando começou a reinar, e reinou oito anos em Jerusalém. 18Seguiu o caminho dos reis de Israel, como fizera a casa de Acab. Desposou uma filha de Acab e fez o mal aos olhos do Senhor. 19Apesar disso, o Senhor não quis destruir a casa de Judá, por causa de David, seu servo, a quem prometera conservar sempre uma lâmpada na sua descendência. 20No tempo de Jorão, os edomitas sacudiram o jugo de Judá e elegeram um rei próprio. 21Jorão foi a Seir com todos os seus carros, e, durante a noite, atacou os edomitas que o tinham cercado a ele e aos chefes dos seus carros; as tropas, porém, fugiram para as suas tendas. 22E assim Edom sacudiu o jugo de Judá até ao dia de hoje. Naquele mesmo tempo, Libna revoltou-se de igual modo. 23O resto da história de Jorão e os seus feitos, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 24Jorão adormeceu juntando-se aos seus pais e foi sepultado junto deles, na cidade de David. O seu filho Acazias sucedeu-lhe no trono.
Acazias, rei de Judá (841) (2 Cr 22,1-9) 25No décimo segundo ano de Jorão, filho de Acab, rei de Israel, Acazias filho de Jorão, rei de Judá, começou a reinar em Judá. 26Acazias tinha vinte e dois anos, quando começou a reinar, e reinou um ano em Jerusalém. A sua mãe chamava-se Atália, e era filha de Omeri, rei de Israel. 27Ele seguiu o caminho da casa de Acab e fez o mal aos olhos do Senhor, como a casa de Acab, de quem era genro. 28Saiu com Jorão, filho de Acab, a combater Hazael, rei da Síria, em Ramot de Guilead, e Jorão foi ferido pelos sírios. 29Regressou, então, a Jezrael para se curar dos ferimentos recebidos da parte dos sírios, no combate contra Hazael, rei da Síria. E Acazias, filho de Jorão, rei de Judá, desceu a Jezrael, para visitar Jorão, filho de Acab, que estava doente.
Capítulo 9
Jeú eleito rei (841-813) – 1O profeta Eliseu chamou um dos filhos dos profetas e disse-lhe: «Aperta o teu cinto e parte para Ramot de Guilead com este frasco de óleo. 2Quando lá chegares, procurarás Jeú, filho de Josafat, filho de Nimechi. Aproximar-te-ás dele e farás com que se levante do meio dos seus irmãos. Conduzi-lo-ás a um aposento retirado 3e, tomando o frasco de óleo, derramá-lo-ás sobre a sua cabeça, dizendo: ‘Isto diz o Senhor: Eu te consagro rei de Israel.’ Depois abrirás a porta e fugirás dali sem demora.»
4O jovem servo do profeta partiu para Ramot de Guilead. 5Quando lá chegou, os chefes do exército estavam sentados em reunião. E disse: «Chefe, tenho uma palavra a dizer-te.» Jeú perguntou: «A qual de nós?» Ele respondeu: «A ti, chefe.» 6E Jeú levantou-se, entrou em casa, e o jovem derramou-lhe, então, o óleo na cabeça, dizendo: «Isto diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Eu te consagro rei de Israel, do povo do Senhor. 7Atacarás a casa de Acab, teu soberano, e vingarás o sangue dos meus servos, os profetas, e o sangue de todos os servos do Senhor, que foi derramado por Jezabel. 8Toda a casa de Acab perecerá; exterminarei da casa de Acab, em Israel, todos os descendentes masculinos, sejam escravos ou livres. 9Farei à casa de Acab o que fiz à de Jeroboão, filho de Nabat, e à de Basa, filho de Aías. 10E Jezabel será devorada pelos cães no campo de Jezrael, e ninguém lhe dará sepultura.’» Dizendo isto, o jovem abriu a porta e fugiu.
11Quando Jeú voltou para junto dos oficiais do seu soberano, estes perguntaram-lhe: «Está tudo bem? Porque veio esse louco ter contigo?» Ele respondeu-lhes: «Vós conheceis esse homem e a sua conversa.» 12Eles exclamaram: «Isso é mentira! Mas conta-nos a verdade.» Respondeu então: «Pois bem, ele disse-me isto e mais isto. E acrescentou: Isto diz o Senhor: ‘Eu te consagro rei de Israel.’» 13Levantaram-se, então, imediatamente, tomaram cada um o seu manto, estenderam-no aos seus pés em forma de estrado, e tocaram a trombeta, gritando: «Jeú é rei!»
14Portanto, Jeú, filho de Josafat, filho de Nimechi, conspirou contra Jorão, no tempo em que Jorão, com todo o Israel, defendia Ramot de Guilead contra Hazael, rei da Síria.
Jeú mata Jorão, rei de Israel (2 Cr 22,7-8) – 15O rei Jorão tinha vindo a Jezrael para se curar dos ferimentos recebidos dos sírios, quando combatia contra Hazael, rei da Síria. Disse, então, Jeú: «Se esta é a vossa vontade, ninguém se escape da cidade para ir dar a notícia a Jezrael.» 16E Jeú subiu para o seu carro e partiu, sem demora, para Jezrael, onde Jorão, no seu leito de enfermo, recebia a visita de Acazias, rei de Judá. 17A sentinela, que estava no alto da torre de Jezrael, vendo aproximar-se a tropa de Jeú, anunciou: «Vejo aproximar-se uma tropa.» Jorão disse: «Toma um carro e manda alguém ao seu encontro perguntar se tudo está bem.» 18Ao chegar junto de Jeú, o mensageiro disse: «O rei manda perguntar se tudo está bem.» Jeú respondeu: «Que te importa a ti se tudo está bem? Põe-te atrás de mim e segue-me.» A sentinela avisou: «O mensageiro chegou junto dele, mas já não volta.» 19O rei enviou um segundo mensageiro, que se apresentou diante de Jeú, dizendo: «O rei manda saber se tudo está bem.» Jeú respondeu: «Que te importa a ti se tudo está bem? Põe-te atrás de mim e segue-me.» 20Imediatamente a sentinela deu o aviso: «Também este chegou junto deles, mas já não volta. Pelo modo de conduzir o carro, parece ser Jeú, filho de Nimechi, pois corre como um louco.»
21Jorão disse: «Preparai o meu carro.» Atrelaram os cavalos ao carro de Jorão, rei de Israel, o qual partiu com Acazias, rei de Judá, cada um no seu carro, ao encontro de Jeú. Encontraram-se no campo de Nabot de Jezrael. 22Ao vê-lo, Jorão perguntou-lhe: «Está tudo bem, Jeú?» Ele respondeu: «Como poderá estar tudo bem, enquanto durar a prostituição de Jezabel, tua mãe, e as suas muitas magias?» 23Então, Jorão voltou as rédeas e fugiu, dizendo a Acazias: «Traição, Acazias!» 24Mas Jeú, disparando com força o arco, atingiu Jorão entre as espáduas, de modo que a flecha lhe atravessou o coração e o rei caiu morto no seu carro.
25Jeú disse ao seu oficial Bidcar: «Agarra-o e atira-o ao campo de Nabot de Jezrael, pois deves recordar o oráculo que o Senhor pronunciou contra ele, quando tu e eu, montados, seguíamos Acab, seu pai. 26Tão certo como vi ontem correr o sangue de Nabot – oráculo do Senhor – pagar-te-ei na mesma moeda, neste mesmo campo – oráculo do Senhor. Portanto, agarra-o e atira-o ao campo, conforme a palavra do Senhor.»
Jeú mata Acazias, rei de Judá (2 Cr 22,8-9) – 27Vendo isto, Acazias, rei de Judá, fugiu pelo caminho de Bet-Hagan. Mas Jeú perseguiu-o, gritando: «Também a ele!» Feriram-no no seu carro, na subida de Gur, perto de Jiblam. Ele, porém, fugiu para Meguido e ali morreu. 28Os seus servos levaram-no no seu carro para Jerusalém e sepultaram-no no seu túmulo junto dos seus pais, na cidade de David. 29Acazias começou a reinar em Judá no décimo primeiro ano de Jorão, filho de Acab.
Jeú mata Jezabel, esposa de Acab30Jeú entrou em Jezrael. Jezabel, informada da sua chegada, pintou os olhos, adornou a cabeça e olhou pela janela. 31Quando Jeú entrou pela porta da cidade, ela disse-lhe: «Como vais, Zimeri, assassino do teu amo?» 32Jeú levantou os olhos para a janela e disse: «Quem está do meu lado?» Dois ou três eunucos fizeram a Jeú uma profunda reverência. 33«Atirai-a daí abaixo», disse ele. Eles atiraram-na e o sangue dela salpicou as paredes e os cavalos e estes esmagaram-na com as patas. 34Jeú entrou, comeu, bebeu e disse: «Ide ver essa mulher maldita e sepultai-a, porque é filha de rei.» 35Foram para lhe dar sepultura, mas só encontraram o crânio, os pés e as palmas das mãos.
36Vieram dar a notícia a Jeú, que disse: «Foi este o oráculo que o Senhor pronunciou pela boca do seu servo Elias, o tisbita: ‘No campo de Jezrael, os cães devorarão a carne de Jezabel, 37e o seu cadáver será como esterco espalhado sobre um campo, de de modo que ninguém poderá sequer dizer: Esta é Jezabel.’»
Capítulo 10
Massacre dos herdeiros de Israel e príncipes de Judá 1Havia na Samaria setenta filhos de Acab. Jeú escreveu uma carta e enviou-a à Samaria aos magistrados da cidade, aos anciãos e aos preceptores dos filhos de Acab. E nela dizia: 2«Logo que receberdes esta, já que tendes convosco os filhos do vosso soberano, assim como carros, cavalos, uma cidade fortificada e armas, 3escolhei o melhor e o mais qualificado dos filhos do vosso amo, ponde-o no trono de seu pai e combatei pela casa do vosso soberano.»
4Eles, porém, muito atemorizados, disseram: «Se dois reis não conseguiram resistir diante dele, como poderemos nós resistir-lhe?» 5O prefeito do palácio, o comandante da cidade, os anciãos e os preceptores dos filhos de Acab responderam a Jeú nestes termos: «Somos teus servos, faremos tudo o que nos disseres; não elegeremos um rei. Faz como te parecer melhor.»
6Escreveu-lhe Jeú uma segunda carta, na qual dizia: «Se estais do meu lado e quereis obedecer às minhas ordens, cortai as cabeças dos filhos do vosso soberano e trazei-mas a Jezrael, amanhã, a esta mesma hora.» Os filhos do rei, em número de setenta, encontravam-se nas casas dos grandes da cidade, que os educavam.
7Logo que receberam a carta de Jeú, apanharam os setenta príncipes e mataram-nos. Meteram as cabeças em cestos e mandaram-nas a Jeú, em Jezrael. 8Chegou, pois, um mensageiro e avisou Jeú, dizendo: «Trouxeram as cabeças dos filhos do rei.» Jeú ordenou: «Ponde-as em dois montes, à porta da cidade, até amanhã de manhã.» 9Logo que amanheceu, ele saiu e, pondo-se diante de todo o povo, disse: «Vós sois justos. Eu é que conspirei contra o meu soberano e o matei. Mas quem degolou todos estes? 10Ficai sabendo que não cairá por terra nenhuma das palavras pronunciadas pelo Senhor contra a casa de Acab. O Senhor realizou aquilo que anunciara pelo seu servo Elias.»
11Jeú matou também todos os que restavam da casa de Acab em Jezrael, os seus principais oficiais, os seus amigos e sacerdotes, sem deixar sobreviver nenhum deles. 12Depois dirigiu-se à Samaria e, ao chegar a Bet-Équed-Haroim, que está junto do caminho, 13Jeú encontrou os irmãos de Acazias, rei de Judá, e perguntou-lhes: «Quem sois vós?» Eles responderam-lhe: «Somos irmãos de Acazias, e vamos visitar os filhos do rei e os filhos da rainha.»
14Jeú ordenou: «Apanhai-os vivos!» Apanharam-nos então vivos e massacraram-nos junto da cisterna de Bet-Équed. De quarenta e dois que eram, nem um só escapou.
Exterminação do culto de Baal – 15Deixando aquele lugar, Jeú encontrou Jonadab, filho de Recab, que vinha ao seu encontro. Saudou-o, dizendo: «O teu coração é leal para comigo, como é leal o meu para contigo?» Jonadab respondeu: «É certamente.» Disse Jeú: «Então, dá-me a tua mão.» Ele deu-lhe a mão e Jeú fê-lo subir para o seu carro. 16Disse-lhe: «Vem comigo e verás o zelo que eu tenho pelo Senhor.» E fê-lo subir para o seu carro. 17Entrando na Samaria, exterminou todos os que ali restavam da casa de Acab e destruiu-a completamente, como o Senhor dissera a Elias. 18Jeú convocou todo o povo e dirigiu-lhe a palavra nestes termos: «Acab tributou algum culto a Baal; mas Jeú vai, agora, servi-lo muito mais. 19Convocai, portanto, para junto de mim, todos os profetas de Baal, os seus fiéis e os seus sacerdotes. Que não falte ninguém, pois tenho que oferecer a Baal um grande sacrifício. Aquele que faltar, não ficará vivo.» Isto era apenas uma armadilha para exterminar todos os adoradores de Baal. 20A seguir, Jeú deu esta ordem: «Promulgai uma assembleia solene em honra de Baal.» 21Depois, enviou mensageiros por todo o Israel a chamar os adoradores de Baal; estes compareceram todos, sem excepção de nenhum, e reuniram-se no templo de Baal, que se encheu de uma ponta à outra.
22Jeú disse ao guarda do vestiário: «Entrega vestes a todos os adoradores de Baal.» O guarda distribuiu vestes a todos eles. 23Jeú entrou no templo de Baal, acompanhado de Jonadab, filho de Recab, e disse aos adoradores de Baal: «Reparai e verificai bem, para que não esteja convosco nenhum dos que servem o Senhor, mas somente os servidores de Baal.» 24Entraram, pois, para oferecer sacrifícios e holocaustos, mas Jeú colocara oitenta homens do lado de fora, dizendo-lhes: «Aquele de vós que deixar fugir um só destes homens, que entrego nas vossas mãos, pagará com a própria vida a vida do fugitivo.» 25Terminados os holocaustos, Jeú ordenou aos guardas e aos oficiais: «Entrai e matai-os! Não deixeis escapar nenhum!» E, assim, foram todos passados ao fio da espada.
Os guardas e oficiais lançaram fora os cadáveres, penetraram no santuário do templo de Baal, 26retiraram o ídolo e queimaram-no. 27Derrubaram a estela de Baal e destruíram o templo, transformando-o em cloacas, que ainda hoje existem.
Fim do reinado de Jeú, rei de Israel – 28Desta forma, Jeú exterminou de Israel o culto de Baal. 29Todavia, não se desviou dos pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel; não se afastou deles, pois não derrubou os bezerros de ouro de Betel e de Dan. 30O Senhor disse-lhe: «Já que fizeste o que é agradável aos meus olhos, tratando a casa de Acab como Eu queria, os teus filhos ocuparão o trono de Israel até à quarta geração.»
31Entretanto, Jeú não seguiu de todo o seu coração pelos caminhos da lei do Senhor, Deus de Israel, nem se desviou dos pecados que Jeroboão fizera cometer a Israel.
32Por aquele tempo, o Senhor começou a retalhar em bocados o território de Israel. Hazael derrotou-o em todas as fronteiras, 33desde o Jordão para oriente, arrebatando-lhe toda a terra de Guilead, a região dos descendentes de Gad, de Rúben e de Manassés, desde Aroer, situada junto à torrente do Arnon, até Guilead e Basan. 34O resto da história de Jeú, tudo o que ele fez e a sua valentia, estão escritos no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 35Jeú adormeceu juntando-se aos seus pais e foi sepultado na Samaria. Seu filho Joacaz sucedeu-lhe no trono. 36O tempo que Jeú foi rei de Israel na Samaria foram vinte e oito anos.