Capítulo 11

Primeira expedição de Lí­sias (1 Mac 4,28-35) – 1Mas pouco tempo depois, Lísias, tutor e parente do rei, regente do reino, sentindo muito pesar pelo que tinha acon­te­cido, 2reuniu aproximada­mente oi­tenta mil homens e toda a cavalaria e dirigiu-se contra os ju­deus. Es­tava resolvido a transfor­mar Jerusalém numa cidade grega, 3a submeter o templo a um tributo como os tem­plos pagãos e a pôr à venda, cada ano, a dignidade de Su­mo Sacerdote. 4Não reflectia no poder de Deus, mas con­fiava pre­sun­­çosamente na sua nume­rosa in­fantaria, nos seus milhares de cava­leiros e nos seus oitenta ele­fantes. 5Tendo entrado na Judeia, aproxi­mou-se de Bet-Sur, que é uma praça forte situada a cinco estádios de Jeru­salém, e atacou-a.

6Po­rém, logo que Macabeu e os que estavam com ele souberam que Lísias sitiava as suas fortalezas, ora­ram ao Se­nhor juntamente com o povo, entre suspiros e lágrimas, para que Ele se dignasse enviar um anjo bom, a fim de salvar Israel. 7O pró­prio Maca­beu foi o primeiro a pegar em armas e exortou os demais a ex­porem-se com ele ao perigo, para socorrer os seus irmãos. Avançaram todos com ânimo resoluto. 8Esta­vam ainda muito perto de Jerusalém, quando apareceu diante deles um cavaleiro vestido de branco, bran­dindo as suas armas de ouro. 9Então, ben­disse­ram todos juntos ao Senhor e, cheios de coragem, dispuseram-se a atacar não só os homens e os ani­mais ferozes, mas até as muralhas de ferro. 10Avan­çaram, pois, em ordem de batalha, com este auxiliar enviado do Céu pela misericórdia do Senhor. 11E como leões, lançaram-se sobre os inimi­gos; mataram onze mil de in­fan­taria e seiscentos cava­leiros e puse­ram em fuga todos os outros. 12A maior parte deles, feri­dos e sem armas, pôs-se a salvo. O próprio Lísias salvou-se, fu­gindo ver­gonhosamente.


Paz com os judeus (1 Mac 6,57-61) – 13Como não lhe faltava ta­lento, Lí­sias reflectiu na derrota e con­cluiu que os hebreus eram in­ven­cíveis, por­­que o Deus poderoso combatia com eles. 14Enviou-lhes uma pro­pos­ta em condições justas, prometendo-lhes per­­­­suadir o rei a tornar-se amigo deles. 15Macabeu acei­tou todas as propostas de Lísias, tendo sobre­tudo em conta a utili­dade pública. Efecti­vamente, tudo o que Macabeu pro­pôs por escrito a Lísias, a favor dos judeus, o rei lho concedeu.

16A carta que Lísias escreveu aos judeus era do seguinte teor:

17«Lísias ao povo judeu, saúde! João e Absalão, vossos mensageiros, entregaram-me as vossas propostas e rogaram-me que as aceitasse. 18Ex­pus, portanto, ao rei tudo o que devia comunicar-lhe, e ele con­cordou com tudo, na medida do possível. 19Se vós, pois, permanecer­des fiéis ao estado, continuarei, doravante, a obter-vos favores. 20Eu incumbi os vossos men­­sageiros e os meus de tratarem con­vosco as cláusulas do acordo e seus por­menores. 21Passai bem. Aos vinte e quatro do mês de Dióscoro, do ano cento e quarenta e oito.»

22Era este o conteúdo da carta do rei:

«O rei Antíoco a seu irmão Lí­sias, saúde! 23Tendo partido o nosso pai para junto dos deuses, deseja­mos que os povos que pertencem ao nosso reino vivam em paz e possam dedicar-se tranquilamente aos seus negócios. 24Soubemos, no entanto, que os judeus resistem em adoptar os cos­tumes gregos, conforme a deci­são do nosso pai, mas preferem conservar os seus costumes e pedem a nossa permissão, para que pos­sam viver segundo a sua lei. 25Que­rendo, pois, que este povo viva igual­mente em paz, decretamos que o templo lhes seja restituído, a fim de que vivam segundo as leis dos seus antepas­sa­dos. 26Farás bem em lhes enviar men­sageiros para con­cluir a paz com eles, de modo que, conhecendo as nos­sas intenções, fiquem tranquilos e vol­tem sem re­ceio aos seus afa­zeres.»

27A carta do rei ao povo judeu era do seguinte teor:

«O rei Antíoco ao conselho dos anciãos e aos demais judeus, saúde! 28Fazemos votos que estejais de saú­de! Nós estamos bem. 29Contou-nos Menelau que desejais regressar para junto dos vossos. 30A todos os que o façam até ao dia trinta do mês de Xântico, concedemos-lhes autori­za­ção e segurança. 31Permito tam­bém aos judeus o uso das suas pró­prias iguarias e os seus costumes, como outrora, e ninguém de entre e­les será molestado pelas transgres­sões passadas. 32Ordenei a Menelau que vos confirme tudo isto. 33Passai bem. Ano cento e quarenta e oito, no dia quinze do mês de Xântico.»

34Também os romanos envia­ram aos judeus uma carta, nestes termos:

«Quinto Mémio e Tito Mânio, le­ga­dos romanos, ao povo judeu, saú­de! 35Concedemos-vos todas as coisas que Lísias, parente do rei, vos outorgou. 36Quanto ao que ele julgou neces­sá­rio ser submetido ao rei, enviai-nos alguém sem demora, a fim de resol­vermos conforme vos seja mais van­tajoso, porque vamos para Antioquia. 37Apressai-vos, pois, a enviar-nos men­­sageiros, para que saibamos bem quais são os vossos desejos. 38Passai bem! Ano cento e quarenta e oito, no dia quinze do mês de Xântico.»

Capítulo 12

Judas em Jope e Jâmnia1Concluídos estes tratados, Lísias voltou para junto do rei, e os judeus dedicaram-se aos trabalhos dos campos. 2Mas os chefes milita­res locais, como Timóteo, Apolónio, filho de Geneu, Jerónimo, Demo­fonte e Ni­canor, chefe dos cipriotas, não os dei­xavam viver em paz e em repouso. 3Por outro lado, os habi­tan­tes de Jope praticaram o seguinte atentado: convidaram os seus vizi­nhos judeus a subir com as suas mulheres e fi­lhos para as barcas, preparadas por eles, como se não houvesse inimi­zade alguma entre uns e outros, 4e agi­ram, seguindo uma decisão votada pela cidade. Os judeus, condescendentes e sem nada suspeitarem, anuíram; mas, quando chegaram ao alto mar, foram afo­gados em número de, pelo menos, duzentas pessoas.

5Quando Judas soube do crime pra­ticado con­tra os seus compatrio­tas, convocou os seus homens. 6Depois de ter invo­cado a Deus, justo juiz, mar­chou contra os assassinos dos seus irmãos, e de noite ateou fogo ao porto, incendiou as embarcações e passou ao fio da espada os que ali se tinham refu­giado. 7 Como a cidade estivesse fe­chada, afastou-se, mas com a in­ten­ção de voltar a exterminar todos os habitantes de Jope. 8Informado de que os habitantes de Jâmnia que­riam tratar do mesmo modo os ju­deus que viviam com eles, 9ata­cou-os naquela mesma noite, incen­diou o porto e queimou as embarca­ções. Podia obser­var-se o clarão do fogo desde Jeru­salém, que dista dali du­zentos e qua­renta estádios.


Expedição em Guilead (1 Mac 5,9-54) 10Percorridos já nove está­dios no seu avanço contra Timóteo, os ára­bes atacaram-no em número de cinco mil soldados de infantaria e quinhentos cavalos. 11Travou-se um violento com­bate mas, com a ajuda de Deus, os soldados de Judas venceram-nos, e os árabes, venci­dos, pediram a paz, comprometendo-se a dar-lhes gado e a auxiliá-los em tudo. 12Convencido de que, na verdade, eles lhe pode­riam ser úteis, Judas concedeu-lhes a paz e, concluída esta, regressaram às suas tendas.

13Depois disto, Judas atacou uma cidade forte, chamada Caspin, cer­ca­da de muralhas e habitada por di­fe­rentes povos. 14Confiados na fir­meza dos seus muros e na abun­dância das suas provisões, os sitia­dos provoca­vam as tropas de Judas, lançando-lhes injúrias, blasfémias e palavras ofensivas. 15Os de Judas, invocando o grande Soberano do mundo que, no tempo de Josué, derrubou os mu­ros de Jericó sem aríetes nem máqui­nas de guerra, assaltaram furiosamente as mura­lhas. 16Uma vez senhores da cidade pela vontade de Deus, pra­ti­caram uma indescritível carnifi­cina, a pon­to de uma lagoa vizinha, com a largura de dois estádios, parecer ter ficado cheia com sangue derramado.


Batalha de Carnion (1 Mac 5,37-44) 17Depois de uma caminhada de sete­centos e cinquenta estádios, chega­ram a Cáraca, onde habita­vam ju­deus chamados tobianeus. 18Mas não encontraram ali Timóteo, que se ti­nha retirado daquela re­gião sem ter conseguido nada, dei­xando numa for­taleza uma guar­ni­ção mui­to forte. 19Dositeu e Sosí­patro, co­mandantes das tropas de Macabeu, foram ata­car esse ponto fortificado e mataram to­dos os homens que Timóteo ali tinha deixado, isto é, mais de dez mil. 20En­tretanto, Maca­beu dividiu o seu exército em bata­lhões, pôs aqueles comandantes à frente deles e avan­çou contra Ti­móteo, que estava ro­deado de cento e vinte mil infantes e dois mil e quinhentos cavaleiros. 21Logo que teve conhecimento da chegada de Ju­das, Timóteo mandou as mulhe­res, as crianças e as baga­gens para uma fortaleza chamada Carnion, porque era inexpugnável e de aces­so muito difícil, por causa dos des­filadeiros.

22Quando apareceu o pri­meiro ba­ta­lhão de Judas, o terror apoderou-se dos inimigos, porque aque­le que vê todas as coisas ma­ni­festou-se aos seus olhos, e fugi­ram em todas as direc­ções, ferindo-se mu­­tua­mente uns aos outros e tres­passando-se com as pró­prias es­pa­das. 23Judas perseguiu en­carniçada­­­mente estes malfeitores, cas­ti­gando e matando trinta mil ho­mens. 24O mesmo Timó­teo caiu nas mãos dos homens de Do­siteu e de Sosípatro, aos quais pediu com grande astúcia que lhe poupas­sem a vida, porque tinha em seu poder muitos pais e irmãos de ju­deus que, se ele fosse morto, seriam exe­cutados como represália. 25Dada a sua palavra com toda a segurança de que libertaria os prisioneiros sem lhes fazer mal, soltaram-no, para sal­var os seus ir­mãos. 26Feito isto, Judas partiu para Carnion e para o templo de Ater­ga­tes e matou vinte e cinco mil homens.


Tomada de Efron e Citópolis (1 Mac 5,45-54) – 27Depois desta per­seguição e matança, Judas condu­ziu as tro­pas contra Efron, cidade forte onde habitava Lísias e uma multidão de gente de todas as na­ções. Jovens va­lentes, colocados em frente da mura­lha, defendiam-na com coragem; den­tro dela havia grande provisão de máquinas e de projécteis. 28Os judeus invocaram o Soberano que tem o poder de ani­quilar as forças dos ini­mi­gos, toma­ram a cidade e mataram vinte e cinco mil homens. 29Dali partiram para a cidade de Citópolis, que dista seiscentos estádios de Jeru­salém. 30Mas os judeus que nela habi­ta­vam atestaram que os habitantes de Citópolis tinham usado de bene­volência e os tinham tratado com de­fe­­rência, no tempo da persegui­ção. 31Judas e os seus agradeceram-lhes e exortaram-nos a serem bené­volos para com os da sua raça; em seguida entraram em Jerusalém, por­que se aproximava a festa das Semanas.


Campanha contra Górgias32Pas­­­sada a festa de Pentecostes, Judas avan­çou contra Górgias, coman­dante militar da Idumeia, 33que saiu ao encontro dele com três mil infantes e quatrocentos cavaleiros. 34Travou-_-se uma batalha, na qual pereceram alguns judeus. 35Dositeu, um dos ca­va­leiros de Bacenor, mui­to corajoso, agarrou Górgias pelo manto e arras­tava-o à força, para o capturar vivo, mas precipitou-se sobre ele um cava­leiro da Trácia e decepou-lhe um om­bro; deste modo, Górgias fugiu para Marecha. 36As tropas de Esdris, que combatiam há muito tempo, já esta­vam fatigadas. Então, Judas invocou o Senhor para que as protegesse e dirigisse o combate. 37E começando a entoar cantos de guerra na língua pátria, caiu de surpresa sobre os sol­dados de Górgias e pô-los em fuga.


Sacrifício pelos mortos38De­pois, reunindo Judas o seu exército, alcançou a cidade de Adulam e, che­gado o sétimo dia da semana, puri­fi­ca­­ram-se segundo o costume e cele­braram ali o sábado. 39No dia se­guinte, Judas e os seus com­pa­nhei­ros foram levantar os corpos dos mor­tos, para os depositar na sepul­tura, ao lado dos seus pais. 40En­tão, sob a túnica dos que ti­nham tom­bado, encontraram objec­tos con­sagrados aos ídolos de Jâmnia, proi­bidos aos judeus pela lei, e todos reconhece­ram que fora esta a causa da sua morte. 41Bendisseram, pois, a mão do Se­nhor, justo juiz, que faz aparecer as coisas ocultas, 42e puse­ram-se em oração, para lhe implo­rar perdão com­pleto pelo pecado come­tido.

O nobre Judas convocou a multi­dão e exortava-a a evitar qual­quer trans­gressão, tendo diante dos olhos o mal que tinha sucedido aos que, pouco antes, tinham morrido por causa dos pecados. 43E mandou fa­zer uma co­lecta, recolhendo cerca de duas mil dracmas, que enviou a Jeru­sa­lém, para que se oferecesse um sacrifício pelo pecado, agindo digna e santa­mente ao pensar na ressurreição; 44por­que, se não esperasse que os mor­tos ressus­citariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. 45E acre­di­tava que uma bela recom­pensa aguar­da os que morrem piedosa­mente. Era este um pensamento santo e pie­doso. Por isso pediu um sacrifício expia­tó­rio, para que os mor­­tos fossem livres das suas faltas.

Capítulo 13

Campanha de Antíoco V e de Lísias1No ano cento e quarenta e nove, os que estavam com Judas souberam que Antíoco Eupá­tor marchava contra a Judeia com um considerável exército, 2acom­panhado de Lísias, seu tutor e re­gente do reino. Cada um coman­dava tropas gregas, em número de cento e dez mil infantes, cinco mil e trezentos cavaleiros, vinte e dois elefantes e trezentos carros arma­dos de foices. 3Menelau juntou-se também a eles e, com grande as­túcia, exortava An­tíoco, não para salvar a sua pátria, mas esperando ser confirmado no poder. 4Mas o Rei dos reis excitou a cólera de Antíoco contra este cele­rado e, tendo-o Lí­sias acusado de ser a causa de todos estes males, o rei mandou conduzi-lo a Bereia para que fosse morto, segundo o costume do país. 5Ora, havia ali uma torre de cinquenta côvados, cheia de cinza e munida de uma máquina giratória, inclinada para a cinza de todos os lados; 6com ela lançavam à cinza o culpado de roubo sacrílego ou de ou­tros hor­rendos crimes, para o matar. 7Foi nesse suplício que morreu Me­nelau, o prevaricador, que, assim, ficou privado de sepultura. 8E isto foi justo, porque ele tinha cometido muitos pecados contra o altar, cujo fogo e cinzas são sagrados. Por isso, foi na cinza que encontrou a morte.


Oração e vitória dos judeus perto de Modin9Entretanto, o rei pros­seguia a sua marcha, maquinando os mais bárbaros planos, para tra­tar os judeus pior do que fizera o seu pai. 10Sabendo disto, Ju­das man­dou ao povo que invocasse o Senhor, noite e dia, para que então, mais do que nunca, Ele viesse em socorro daqueles que estavam amea­­çados de perder a lei, a pátria e o santo tem­plo; 11e que não per­mitisse que o povo, pouco antes libertado, fosse subjugado novamente pelas na­ções ímpias. 12Rezaram todos jun­tos e invocaram a misericórdia do Senhor, entre lágrimas e jejuns, pros­trados em terra, por espaço de três dias con­­secutivos; Judas exortou-os a que esti­vessem preparados. 13De­­pois de con­sultar os anciãos, decidiram não esperar que o exér­cito do rei en­trasse na Judeia e se apoderasse da cidade, mas sair logo e, com o auxí­lio de Deus, travar a bata­lha decisiva.

14Entregou, pois, a sorte das ar­mas ao Criador do mundo e enco­rajou os seus companheiros a lutar valorosamente até à morte, em de­fesa das leis, do templo, da cidade, da pátria e da nação. Fez acampar o seu exército perto de Modin. 15De­pois de ter dado aos seus homens por palavra de ordem «Vitória de Deus», tomou consigo os jovens mais cora­josos das suas tropas e atacou de noite o acampamento do rei, ma­tando cerca de dois mil homens e o maior dos elefantes, com o guer­reiro que ia em cima. 16Por fim, espalha­ram pelo campo o terror e a con­fusão, e retiraram-se, triun­fantes. 17Ao raiar do dia, tudo estava aca­bado, graças à protecção de Deus.


Antíoco faz a paz com os judeus (1 Mac 6,55-63) – 18O rei, perante a au­dácia dos judeus, tentou apode­rar-se das fortificações por meio de es­tra­tagemas. 19Partiu, a fim de si­tiar Bet-Sur, praça forte dos judeus, mas foi repelido e derrotado e viu-se cada vez mais enfraquecido. 20Judas rea­bas­tecia os sitiados. 21Rodoco, com­ba­tente no exército dos judeus, reve­lou os segredos da defesa aos inimigos. Mas, apanhado, foi preso e metido no cárcere. 22Pela segunda vez, o rei iniciou negociações com os habi­tan­tes de Bet-Sur e, feitas as pazes com eles, retirou-se. Ata­cou o exér­cito de Judas, mas foi ven­cido. 23Soube, en­tão, que Filipe, a quem deixara em Antioquia como encarregado dos ne­gó­cios do reino, se revoltara, e ficou apreensivo. Pro­­­pôs aos judeus que aceitassem as suas condições, jurando atender as suas justas peti­ções. Re­con­cilia­dos, ofereceu um sacri­fício, presen­teou o templo e mostrou-se be­né­volo para com a cidade. 24Aco­lheu com agrado o Macabeu e no­meou Hege­mónides general e gover­nador da região, desde Ptolemaida até à ter­ra de Gerra. 25Mas quando o rei se dirigiu a Ptolemaida, os habi­tantes estavam descontentes com este tra­tado e, indignados, queriam anular os decretos promulgados. 26Lí­­sias subiu, então, à tribuna, defen­deu-os como pôde, persuadiu e apa­zi­guou o povo, levando-o a melhores senti­men­tos. Depois, regressou a An­tio­quia. E assim aconteceu a vinda e a retirada do rei.

Capítulo 15

Ataque de Nicanor1Nica­nor, ao ser informado de que Ju­das e os seus aliados se encon­tra­vam nas fronteiras da Samaria, resol­veu atacá-los, com toda a segu­rança, no dia de sábado. 2Os judeus que eram obrigados a segui-lo admoes­taram-no, dizendo: «Não procedas tão feroz­mente nem com tanta selvajaria, mas respeita o dia escolhido e especial­mente santifi­cado por aquele que tudo vê.»

3Mas aquele homem, três vezes ce­le­rado, perguntou se existia no Céu algum soberano que tivesse man­dado cele­brar o dia de sábado. 4E eles res­pon­deram-lhe: «Sim, foi o Senhor vivo e Soberano, que está no Céu, quem or­denou a celebração do sétimo dia.» 5Ele replicou: «Pois eu também sou soberano sobre a terra e ordeno que se tomem as armas e se executem as ordens do rei.» Mas não pôde executar o seu desígnio cri­minoso.


Exortação e sonho de Judas6Enquanto Nicanor, no auge do seu orgulho, pensava erigir um troféu comum com os despojos de Judas e dos seus companheiros, 7o Macabeu esperava sempre, com inteira con­fiança, que o Senhor o assistiria com o seu auxílio. 8E exortava os seus a que não temessem o ataque dos gen­tios, que se lembrassem dos auxílios já obtidos do Céu e que esperassem que, também agora, o Omnipotente lhes ia conceder a vitória. 9Encora­jou-os, lendo-lhes testemunhos da Lei e dos Profetas, lembrou-lhes os com­ba­­tes que outrora tinham susten­tado, dando-lhes com isto novo ardor. 10De­­pois de lhes ter reanimado a cora­gem, fez-lhes ver a perfídia dos gen­tios e a violação dos seus jura­mentos.

11Assim, armou cada um deles não com a protecção das lanças e dos es­cudos, mas com a confiança das suas alentadoras palavras. E sobretudo, alegrou-os, contando-lhes uma visão digna de toda a fé. 12Eis a visão que tivera: Onias, que tinha sido Sumo Sacerdote, homem nobre e bom, mo­desto no seu as­pecto, de carácter ameno, distinto na sua linguagem e exercitado des­de menino na prática de todas as virtudes, com as mãos levantadas, orava por toda a comu­nidade dos judeus. 13Apareceu-lhe também outro varão com os cabelos todos brancos, de aparência muito venerável e aureolado de admirável e magnífica ma­jes­tade. 14Dirigindo-lhe a palavra, Onias disse: «Eis o amigo dos seus irmãos, aquele que reza muito pelo povo e pela cidade santa, Jeremias, profeta de Deus.» 15E Je­remias, es­ten­dendo a mão, en­tregou a Judas uma espada de ouro e, ao dar-lha, disse: 16«Toma esta santa espada, dom de Deus, com a qual triunfarás dos inimigos.»


Derrota e morte de Nicanor (1 Mac 7,39-50) – 17Alentados com estas pala­vras de Judas, capazes de dar vigor e levar até ao heroísmo as almas dos jovens, os judeus deci­di­ram não acam­­par, mas atacar de frente e comba­ter vigorosamente os inimigos, a fim de decidir a causa, porque a cidade, a religião e o tem­plo estavam em perigo. 18Não lhes causavam preo­cupa­ção as mulhe­res, as crianças, os seus irmãos e os seus parentes. A primeira e prin­ci­pal inquietação que tinham era a purificação do templo.

19Não era menor a ansiedade dos que tinham ficado na cidade, in­quie­tos pela luta que se ia travar fora, na pla­nície. 20E quando todos aguar­da­vam já a batalha decisiva, prestes a ini­ciar-se, e os inimigos se aproxi­ma­vam em ordem de batalha, os ele­fan­tes, colocados em lugares conve­nien­tes, e a cavalaria disposta nas alas, 21o Macabeu, ao ver esta multidão imen­sa, o aparato de armas tão di­versas e o aspecto temível dos elefantes, ergueu as mãos ao céu e invocou o Senhor, que opera prodígios. Sabia muito bem que não é pela força das armas que se obtém a vitória, senão que Deus a outorga aos que Ele jul­ga dignos dela. 22Então invocou o Se­nhor desta maneira:

«Tu, Senhor, enviaste o teu anjo
no tempo de Ezequias, rei da Ju­deia,
e fizeste perecer cento e oitenta e cinco mil homens
do exército de Senaquerib.
23Envia pois, agora, ó soberano Se­nhor do Céu,
um anjo bom que vá à nossa frente
e lhes infunda temor e espanto.
24Com a força do teu braço,
extermina aqueles que, blasfe­mando,
vêm atacar o teu povo santo.»
E com estas palavras terminou a sua oração.

25As tropas de Nicanor avança­vam ao som das trombetas e de hinos guerreiros. 26Mas as de Judas trava­ram a batalha com os inimigos entre invocações e orações. 27En­quanto pe­le­javam com as mãos, ora­vam ao Senhor com o coração e, as­sim, ma­ta­­ram nada menos que trin­ta e cinco mil homens, sentindo-se cheios de alegria e de vigor com aquela ma­ni­festação de Deus. 28Quan­do, con­cluída a batalha, regressavam feli­zes, reco­­­nheceram Nicanor pros­trado com a sua armadura.

29Então, entre gritos e alvoroço, lou­varam ao Senhor na língua dos seus pais. 30Judas, que se consa­grara de corpo e alma à defesa dos seus concidadãos e conservava para com os seus compatriotas o amor da sua juventude, ordenou que cortas­sem a cabeça, a mão e o braço de Nicanor, e os levassem para Jeru­salém.

31Che­gado à cidade, convocou os seus con­cidadãos e os sacerdotes diante do altar, e mandou chamar também os que se encontravam na cidadela. 32Mos­trou-lhes a cabeça do ímpio Nicanor e a mão que este maldito tinha insolentemente le­van­­­tado con­tra a morada Santa do Omnipotente. 33Depois, mandou cor­­tar em peda­ços a língua do ímpio para a lançar às aves e suspender diante do tem­plo o braço, como paga da sua insen­sa­tez. 34E todos, levan­tando os olhos ao céu, louvaram o Senhor glorioso, dizendo: «Bendito seja aquele que preservou a sua morada de toda a impureza.»

35Judas suspendeu, também, a ca­­beça de Nicanor à entrada da ci­da­dela, como sinal palpável e evi­dente para todos da protecção do Senhor. 36De comum acordo, foi esta­bele­cido que, futuramente, este dia não seria esquecido e devia ser celebrado no dia treze do décimo segundo mês – cha­mado Adar em língua ara­maica – no dia anterior ao dia de Mardo­queu.


37Estes foram os acon­te­cimentos relativos a Nicanor; e, por­que, a par­tir deste dia, Jerusalém permane­ceu em poder dos hebreus, termi­narei também com isto a mi­nha narração. 38Se ela está feliz­mente con­ce­bida e ordenada, era este o meu de­sejo; mas se está imperfeita e me­díocre, foi o que pude fazer.

39As­sim como é nocivo beber so­mente vinho ou somente água, mas agra­dável e verdadeiramente provei­toso é beber vinho misturado com água, assim também a disposição agra­dá­vel do relato é o que causa prazer aos ouvi­dos do leitor. E, com isto, termino.

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