Capítulo 1
Primeira Carta – 1«Aos nossos irmãos judeus que estão no Egipto, saúde. Os irmãos judeus residentes em Jerusalém e no país de Judá desejam-vos paz e bem-estar. 2Deus vos cubra de bens, e que Ele se lembre da sua aliança com Abraão, Isaac e Jacob, seus fiéis servidores. 3Que Ele disponha o vosso espírito à adoração e à observância dos mandamentos, com um coração ardente e ânimo generoso. 4Que Ele abra o vosso coração à sua lei e aos seus preceitos e que vos conceda a paz! 5Que Ele atenda as vossas súplicas, vos seja misericordioso e não vos abandone nas tribulações. 6Nós, aqui, não cessamos de rezar por vós. 7No reinado de Demétrio, no ano cento e sessenta e nove, nós, os judeus, escrevemo-vos no meio de grande tribulação e aflição, em que nos encontrávamos, desde o dia em que Jasão e os seus companheiros abandonaram a terra santa e o reino. 8A porta do templo foi incendiada e derramado o sangue inocente; mas nós suplicámos ao Senhor e Ele atendeu-nos; oferecemos o sacrifício e a flor da farinha, acendemos as lâmpadas e colocámos os pães na sua presença. 9Celebrai, portanto, agora, a festa das Tendas, no mês de Quisleu. Datada no ano cento e oitenta e oito.»
Segunda Carta – 10«Os habitantes de Jerusalém e da Judeia, o Senado e Judas, saúdam Aristóbulo, preceptor do rei Ptolomeu, da linhagem dos sacerdotes ungidos, assim como os judeus do Egipto, e desejam-lhes saúde e prosperidade! 11Libertados por Deus de grandes perigos, nós lhe damos solenes acções de graças, porque é nosso defensor contra o rei. 12Mas Deus aniquilou aqueles que tinham atacado a cidade santa. 13Com efeito, quando esse chefe chegou à Pérsia com um exército aparentemente irresistível, pereceu no templo de Naneia, vítima de um ardil dos sacerdotes da deusa.
14Antíoco, sob pretexto de desposar a deusa, chegou com os seus amigos para se apoderar das riquezas, a título de dote. 15Então os sacerdotes apresentaram-lhas, e ele próprio, com alguns dos seus, entrou no recinto sagrado, enquanto eles fechavam as portas. 16Quando Antíoco entrou no interior, abriram uma porta secreta na abóbada e esmagaram o príncipe com uma chuva de pedras. Esquartejaram os acompanhantes, cortaram-lhes as cabeças, lançando-as aos que estavam do lado de fora. 17Louvado seja o nosso Deus em todas as coisas, porque entregou os ímpios à morte.
18Devendo nós celebrar, no dia vinte e cinco de Quisleu, a purificação do templo, julgámos oportuno levá-lo ao vosso conhecimento, a fim de que também celebreis a festa das Tendas e a comemoração do fogo, que apareceu quando Neemias ofereceu o sacrifício, após a reconstrução do templo e do altar.
19Na verdade, quando os nossos pais foram levados para a Pérsia, os sacerdotes de então, tementes a Deus, tomaram secretamente o fogo sagrado do altar e esconderam-no no fundo de um poço seco, onde o deixaram tão oculto que ninguém sabia do lugar onde ele estava. 20Passaram muitos anos e, quando aprouve a Deus, Neemias, salvo pelo rei da Pérsia, mandou buscar o fogo aos descendentes dos sacerdotes que o tinham escondido. Mas, segundo a narração que eles nos deram, não encontraram o fogo, mas um líquido espesso.
21Então, Neemias ordenou-lhes que tirassem a água e a trouxessem. Uma vez preparada a matéria do sacrifício, Neemias disse aos sacerdotes que aspergissem, com a água, a lenha e as vítimas ali colocadas. 22A ordem foi executada, e, pouco depois, o Sol, que a princípio estava escondido, começou a brilhar; então, acendeu-se um grande fogo que maravilhou todos os espectadores. 23Enquanto se consumava o sacrifício, os sacerdotes puseram-se a rezar, juntamente com todos. Jónatas entoava e os outros, incluindo Neemias, uniam a sua voz à dele. 24Eis a oração:
- «Ó Senhor, Deus criador de todas as coisas,
- terrível e forte, justo e misericordioso,
- que és o único rei e o único bom,
- 25o único generoso, o único justo,
- todo poderoso e eterno,
- Tu, que livraste Israel de todo o mal,
- que escolheste nossos pais e os santificaste,
- 26aceita este sacrifício,
- em favor de todo o povo de Israel;
- guarda a tua herança e santifica-a.
- 27Congrega os nossos irmãos dispersos,
- restitui a liberdade aos que são escravos das nações,
- volve o teu olhar sobre os que são desprezados e abominados,
- para que as nações reconheçam que Tu és o nosso Deus.
- 28Castiga os que nos oprimem
- e nos ultrajam com o seu orgulho.
- 29Transplanta, como disse Moisés,
- o teu povo, para o teu lugar santo.»
30Entretanto, os sacerdotes cantavam hinos.
31Quando se consumou o sacrifício, Neemias mandou que se espalhasse o líquido restante sobre as lajes. 32Feito isto, uma chama cintilou, mas consumiu-se enquanto o fogo, que se erguia no altar, continuava a arder.
33O acontecimento foi logo divulgado, e contaram ao rei da Pérsia que, no lugar onde os sacerdotes levados cativos tinham escondido o fogo sagrado, aparecera água, com a qual Neemias e os seus companheiros obtiveram o fogo purificador das oferendas. 34Logo que se certificou do acontecido, ordenou o rei que se murasse o lugar e o considerassem sagrado.
35O rei recebeu muitos presentes e repartiu-os por aqueles a quem queria ser mais agradável. 36Os companheiros de Neemias chamaram a esse líquido ‘neftar’, que quer dizer purificação, mas a maioria deu-lhe o nome de ‘nafta.’»
Capítulo 2
Como Jeremias escondeu o tabernáculo, a Arca e o altar dos perfumes – 1«Está escrito nos documentos do profeta Jeremias que foi ele quem ordenou aos cativos que tomassem o fogo, como se acaba de contar; 2e que o profeta, dando-lhes o livro da Lei, lhes recomendou que não se esquecessem dos mandamentos do Senhor e que não se deixassem seduzir, vendo os ídolos de ouro e prata ou os seus ornamentos. 3Exortou-os, entre outros avisos, a que não afastassem a lei do seu coração.
4No mesmo escrito se mencionava também como o profeta, por revelação divina, tinha desejado fazer-se acompanhar pela Arca e pelo tabernáculo, logo que chegasse à montanha, à qual tinha subido Moisés, para contemplar a herança de Deus. 5Chegado ao monte, Jeremias descobriu uma ampla gruta, na qual mandou depositar a Arca, o tabernáculo e o altar dos perfumes, tapando, a seguir, a entrada. 6Alguns daqueles que o tinham acompanhado, voltaram para marcar o caminho com sinais, mas não o conseguiram. 7Quando Jeremias soube, repreendeu-os, dizendo-lhes: ‘Este lugar ficará desconhecido, até que Deus reúna o seu povo e use com ele de misericórdia. 8Então o Senhor revelará tudo isto e aparecerá a glória do Senhor como uma densa nuvem, semelhante à que apareceu a Moisés, bem como a Salomão, quando este rezou para que o lugar recebesse uma consagração gloriosa.’
9Estava também relatado como este sábio rei ofereceu o sacrifício da dedicação e da conclusão do templo. 10Do mesmo modo que Moisés, rezando ao Senhor, conseguiu que o fogo descesse do céu e consumisse as ofertas, também Salomão se pôs a rezar e o fogo desceu do alto para queimar os holocaustos. 11Moisés disse: ‘Por não se ter comido, o sacrifício pelo pecado foi consumido.’ 12Também Salomão celebrou durante oito dias a dedicação.
13Tudo isto se refere nos escritos e nas memórias do tempo de Neemias, e como ele formou uma biblioteca, reunindo tudo o que dizia respeito aos reis e aos profetas, às obras de David e às cartas dos reis, relativas às ofertas. 14Do mesmo modo, Judas reuniu todos os livros dispersos por causa das guerras que nos sobrevieram, e esta colecção está em nosso poder. 15Por conseguinte, se tendes necessidade de um desses livros, enviai-nos alguém que possa ser portador.
16Como vamos celebrar a festa da purificação do templo, resolvemos escrever-vos. Seria muito bom que também celebrásseis estas festas. 17Foi Deus quem salvou todo o seu povo, quem deu a todos a herança, o reino, o sacerdócio e a santificação, 18como tinha prometido na Lei. Este Deus, em quem esperamos, sem dúvida não tardará a ter piedade de nós e de toda a terra, e nos congregará de todas as partes, no solo sagrado. Porque Ele livrou-nos de grandes perigos e purificou o templo.»
Prefácio – 19Os acontecimentos que tiveram lugar no tempo de Judas Macabeu e de seus irmãos – a purificação do templo sagrado e a dedicação do altar, 20assim como as guerras sustentadas contra Antíoco Epifânio e contra o seu filho Eupátor, 21os sinais celestes aparecidos a favor dos que pelejaram valorosamente pelo judaísmo e que, apesar do seu número reduzido, se tornaram senhores de todo o país e puseram em fuga as hordas bárbaras, 22recuperaram o templo, famoso em todo o mundo, libertando a cidade e restabelecendo as leis em vias de abolição – tudo isso graças ao Senhor que lhes foi misericordioso, 23é o que Jasão de Cirene narra em cinco livros, que nós vamos resumir num só livro.
24Considerando a multidão dos livros e a dificuldade que, em vista da abundância dos assuntos, experimentam aqueles que desejam dedicar-se ao estudo das narrativas históricas, 25procuramos agradar aos que apenas as desejam ler, facilitar aos que procuram conservá-las na memória, e ser úteis a todos em geral.
26Para nós, que empreendemos este trabalho de resumo, não foi tarefa fácil, antes, custou-nos suores e vigílias. 27No entanto, como aquele que prepara um festim, procurando satisfazer o gosto dos outros, se entrega a um trabalho penoso, assim nós assumimos este encargo para obter gratidão de muitos. 28E, deixando ao autor o cuidado de narrar detalhadamente os assuntos, nós esforçámo-nos por expô-los em forma resumida.
29Assim como, na edificação de uma casa nova, compete ao arquitecto preocupar-se com o conjunto da construção, e só aquele que está encarregado dos frescos e das pinturas é que se ocupa com a decoração, da mesma forma – parece-me – é o que nos cabe a nós. 30O autor de uma história tem de aprofundar tudo, analisar tudo, examinar todos os aspectos, 31mas o que resume deve, ao contrário, condensar a narrativa e evitar as particularidades na exposição dos factos.
32Agora, após tão longo exórdio, comecemos a nossa narração, porque seria absurdo ser difuso antes da história, para depois ser breve ao narrar a mesma história.
Capítulo 3
Rivalidades entre Simão e Onias III – 1No tempo em que a cidade santa gozava de perfeita paz e as leis se observavam com exactidão, por causa da piedade do Sumo Sacerdote Onias e da sua luta contra o mal, 2o templo era respeitado, mesmo pelos reis estrangeiros. Estes honravam o santuário e enriqueciam-no com os mais ricos presentes. 3Assim, Seleuco, rei da Ásia, custeava, com suas rendas pessoais, todas as despesas necessárias à liturgia dos sacrifícios.
4Mas, um certo Simão, do clã de Bilga, nomeado intendente do templo, entrou em desacordo com o Sumo Sacerdote por causa da fiscalização do mercado público. 5Como não pudesse vencer a resistência de Onias, foi procurar Apolónio de Társis que, nessa época, governava a Celessíria e a Fenícia. 6Declarou-lhe que o tesouro do templo estava cheio de indizíveis riquezas, cujo número era incalculável, sem nada terem a ver com os gastos dos sacrifícios, e que ele encontraria meio de fazer entrar tudo isso no erário real.
7Indo ter com o rei, Apolónio falou-lhe das riquezas que lhe tinham sido referidas. Este tomou a decisão de enviar o seu intendente Heliodoro com a ordem de se apoderar dessas riquezas. 8Heliodoro pôs-se imediatamente a caminho, sob o pretexto de visitar as cidades da Celessíria e da Fenícia mas, na realidade, para executar a ordem do rei. 9Tendo chegado a Jerusalém, foi amigavelmente recebido pelo Sumo Sacerdote e pela cidade, a quem transmitiu as informações recebidas e comunicou o fim da sua visita, perguntando-lhe se tudo isso correspondia à realidade. 10O Sumo Sacerdote fez-lhe ver que se tratava de depósitos das viúvas e dos órfãos 11e de uma quantia que pertencia a Hircano, filho de Tobias, varão muito eminente, contrariamente às calúnias feitas pelo ímpio Simão, e que a soma total do dinheiro era de quatrocentos talentos de prata e duzentos de ouro. 12Era completamente impossível defraudar os que tinham depositado confiança na santidade do lugar e no carácter sagrado e inviolável do templo, venerado em toda a terra.
Heliodoro tenta saquear o templo 13Heliodoro, porém, em virtude das ordens do rei, respondeu que estas riquezas deviam ser transportadas necessariamente para o tesouro real. 14E, no dia por ele fixado, entrou com a intenção de se apoderar dessas riquezas.
A partir dessa hora, espalhou-se por toda a cidade uma grande consternação. 15Revestidos com as vestes sacerdotais e prostrados diante do altar, os sacerdotes suplicavam àquele que está no céu e que fez a lei sobre os depósitos, que os conservasse intactos para aqueles que os tinham depositado. 16Ninguém podia olhar para o rosto do Sumo Sacerdote sem se sentir compungido, porque o seu aspecto e a cor do seu semblante manifestavam a angústia da sua alma. 17O temor que o tinha tolhido, agitava-lhe o corpo com um tremor, que mostrava o sofrimento íntimo do seu coração. 18Diante da profanação que ameaçava o templo, o povo saía em tropel das casas a fim de se juntar à prece comum. 19As mulheres, cingidas de saco até à altura dos seios, enchiam as ruas; as donzelas, geralmente retidas em casa, corriam, umas para as portas, outras para as muralhas, outras olhavam pelas janelas. 20Todas erguiam as mãos para o céu e oravam. 21Causava dó observar toda a confusão deste povo abatido, e a angústia em que jazia o Sumo Sacerdote. 22Todos imploravam a protecção do Deus omnipotente, para que conservasse invioláveis os depósitos aos seus depositantes.
Castigo de Heliodoro – 23Heliodoro, por sua vez, estava disposto a consumar o seu propósito. 24Encontrava-se ele, com os seus homens armados, junto do tesouro, quando o Senhor dos espíritos e rei de absoluto poder, de tal forma se manifestou a todos os que tinham ousado entrar no templo, que eles desfaleceram de espanto, atemorizados diante da majestade de Deus. 25Viram, montado num cavalo ricamente ajaezado e acometendo furiosamente, um cavaleiro de terrível aspecto que atirava as patas dianteiras do cavalo sobre Heliodoro.
O cavaleiro parecia ter uma armadura de ouro. 26Ao mesmo tempo apareceram outros dois jovens fortes, cheios de majestade, ricamente vestidos, os quais, colocando-se um a cada lado de Heliodoro, o açoitavam sem cessar e descarregavam sobre ele repetidos golpes. 27Heliodoro caiu imediatamente por terra e foi envolvido por espessas trevas; os seus companheiros ergueram-no e depositaram-no numa maca. 28E ele, que pouco antes, com uma escolta numerosa e guardas pessoais, entrava no tesouro, era agora levado, incapaz de se ajudar a si mesmo, manifestando-se visivelmente o poder de Deus. 29Com efeito, ele encontrava-se estendido e ferido pela virtude de Deus, sem fala e sem esperança alguma de saúde. 30Os habitantes de Jerusalém bendiziam o Senhor que tinha glorificado o seu templo. O santuário, pouco antes cheio de confusão e de tumulto, transbordava de alegria e regozijo, graças à intervenção do Omnipotente.
31Então, alguns dos companheiros de Heliodoro suplicaram a Onias que invocasse o Altíssimo para que lhe restituísse a vida, prestes, na verdade, a apagar-se. 32O Sumo Sacerdote, temendo que o rei suspeitasse que os judeus tivessem organizado um atentado contra Heliodoro, ofereceu um sacrifício pela sua cura. 33E, enquanto o pontífice oferecia o sacrifício de expiação, os mesmos jovens apareceram a Heliodoro, vestidos com as mesmas vestes. Aproximaram-se dele e disseram-lhe: «Sê grato ao Sumo Sacerdote Onias, porque é em atenção a ele que o Senhor te dá a vida. 34Confessa diante de todos o seu grande poder, tu que foste castigado por Deus.» Ditas estas palavras, desapareceram.
Conversão de Heliodoro – 35Depois de oferecer um sacrifício ao Senhor, de fazer abundantes votos ao que lhe tinha poupado a vida e de agradecer a Onias, Heliodoro regressou com as suas tropas para junto do rei. 36Dava testemunho perante todos dos prodígios operados pelo grande Deus, diante dos seus olhos.
37Como o rei lhe perguntasse qual o homem que julgava pudesse enviar, mais uma vez, a Jerusalém, Heliodoro respondeu: 38«Se tens algum inimigo, ou alguém que conspire contra ti, envia-o lá. Se conseguir escapar, regressará bem castigado porque, na verdade, naquele lugar há uma força divina. 39O que habita no Céu está presente naquele templo. Fere e aniquila os que entram nele com más intenções.»
40Foi isto, em suma, o que se passou a respeito de Heliodoro e do tesouro sagrado, que foi preservado.
Capítulo 4
Intrigas de Simão – 1Simão, delator do tesouro e da sua pátria, caluniava Onias, afirmando ser ele quem tinha instigado Heliodoro a fazer o que fez, sendo, portanto, o autor desses males. 2Chamava traidor ao benfeitor da cidade, ao protector dos seus concidadãos, ao fervoroso defensor das leis. 3Este ódio ia tão longe que alguns partidários de Simão chegaram a cometer homicídios. 4Considerando Onias o perigo de tais rivalidades e vendo o governador da Celessíria, Apolónio, filho de Menesteu, secundar os malignos desígnios de Simão, 5apresentou-se ao rei, não para acusar os seus concidadãos, mas unicamente com o fim de velar pelo interesse público e privado de todo o seu povo. 6Via muito bem que, sem uma intervenção do rei, seria impossível estabelecer a paz e pôr termo às loucuras de Simão.
Jasão introduz o helenismo (1 Mac 1,10-15) – 7Mas depois da morte de Seleuco, tendo subido ao trono Antíoco, de sobrenome Epifânio, Jasão, irmão de Onias, começou a ambicionar o cargo de Sumo Sacerdote.
8Numa entrevista com o rei, prometeu-lhe trezentos e sessenta talentos de prata e oitenta talentos de outras rendas, 9juntamente com outros cento e cinquenta talentos, se lhe fosse dada autorização para fundar um ginásio e uma escola para os jovens, e para inscrever os moradores de Jerusalém como cidadãos de Antioquia.
10Com a aprovação real e a obtenção do poder, Jasão arrastou os seus concidadãos para o helenismo. 11Aboliu os privilégios obtidos do poder real por João, pai de Eupólemo, que foi enviado aos romanos para concluir um pacto de aliança e de amizade, e introduziu ímpios costumes, revogando as leis nacionais. 12Teve o atrevimento de erigir um ginásio junto da própria acrópole, e de obrigar os jovens das mais nobres famílias a usar o pétaso. 13Por causa da inaudita perversidade do ímpio Jasão, que nem era Sumo Sacerdote, o helenismo obteve tal sucesso e os costumes pagãos tão grande actualidade, 14que os sacerdotes descuidavam o serviço do altar, menosprezavam o templo, negligenciavam os sacrifícios, corriam, fascinados pelo lançamento do disco, a tomar parte na ginástica e nos jogos proibidos. 15Não faziam caso das honras pátrias; apreciavam mais as glórias helénicas. 16Por esta razão, sobreveio-lhes uma grande calamidade, porque aqueles mesmos, cuja forma de vida invejavam e a quem queriam imitar em tudo, voltaram-se contra eles e tornaram-se seus inimigos e opressores.
17O seguinte facto mostrará que violar as leis divinas não é coisa de pouca importância. 18Ao celebrarem-se em Tiro os jogos quinquenais, com a assistência do rei, 19o ímpio Jasão enviou, de Jerusalém, um grupo de habitantes de Antioquia, portadores de trezentas dracmas de prata para o sacrifício em honra de Hércules. Mas os que as levavam acharam inconveniente gastá-las nos sacrifícios e julgaram ser melhor empregá-las noutras despesas. 20A vontade de Jasão era que as dracmas fossem destinadas ao sacrifício a Hércules mas, a instância dos portadores, foram destinadas à construção de navios trirremes.
Antíoco Epifânio em Jerusalém 21Tendo sido enviado ao Egipto, Apolónio, filho de Menesteu, por ocasião da entronização do rei Ptolomeu Filométor, Antíoco veio a saber que este rei se tornara seu inimigo, e procurou pôr-se em segurança. Chegado a Jope, dirigiu-se a Jerusalém, 22onde foi recebido magnificamente por Jasão e por toda a cidade, fazendo a sua entrada à luz de archotes e de aclamações. Dali partiu para a Fenícia com o seu exército.
Menelau substitui Jasão – 23Passados três anos, Jasão enviou Menelau, irmão de Simão, acima mencionado, para levar dinheiro ao rei e tratar de certos negócios urgentes; 24mas, uma vez admitido à presença do rei, Menelau lisonjeou-o, exaltando a grandeza do seu poder, e, oferecendo-lhe trezentos talentos a mais do que Jasão, obteve para si o sumo sacerdócio. 25Assim, com as credenciais do rei, voltou aquele homem, que nada tinha que o fizesse digno do sacerdócio mas, pelo contrário, sentimentos de tirano cruel e de fera selvagem. 26Deste modo, Jasão, que tinha suplantado o seu irmão, foi por sua vez suplantado por outro e forçado a fugir para a terra dos amonitas. 27Mas Menelau, uma vez na posse do poder, não teve a preocupação de entregar ao rei o dinheiro que lhe tinha prometido, 28apesar das reclamações de Sóstrato, governador da acrópole, encarregado da cobrança dos impostos; por este motivo, ambos foram intimados a comparecer diante do rei. 29Menelau designou para o substituir, como Sumo Sacerdote, seu irmão Lisímaco; Sóstrato deixou Crates, chefe dos cipriotas.
Onias assassinado – 30Entretanto, os habitantes de Tarso e de Malos revoltaram-se, porque a sua cidade fora entregue a Antioquides, concubina do rei. 31Partiu, pois, o rei a toda a pressa, a fim de os apaziguar, deixando Andrónico, um dos dignitários, encarregado do governo. 32Menelau julgou a ocasião propícia e reconciliou-se com Andrónico, oferecendo-lhe certos objectos de ouro, roubados ao templo; outros vendeu-os em Tiro e nas cidades vizinhas.
33Quando teve a certeza de tudo isto, Onias, que se encontrava retirado no território inviolável de Dafne, perto de Antioquia, repreendeu-o. 34Mas Menelau chamou à parte Andrónico e pediu-lhe que matasse Onias. Andrónico foi ter com ele, enganou-o com astúcia, deu-lhe garantias que confirmou com juramento, persuadiu-o a deixar o seu asilo e, no momento em que ele saiu, matou-o sem medo do castigo.
35Não só os judeus mas também muitos estrangeiros ficaram indignados e consternados com esta morte injusta 36e, quando o rei voltou das cidades da Cilícia, tanto os judeus da cidade, como os gregos, contrários à violência, foram queixar-se do iníquo assassinato de Onias. 37Antíoco ficou profundamente abatido e, movido de compaixão, chorou, recordando a sabedoria e a grande moderação de Onias. 38E, num acesso de cólera violenta, mandou despojar imediatamente Andrónico da sua púrpura e rasgar-lhe as vestes, fazendo-o depois conduzir por toda a cidade, até ao lugar onde ele tinha assassinado sacrilegamente Onias. Ali foi executado aquele criminoso, dando-lhe o Senhor o merecido castigo.
A morte de Lisímaco – 39Ora, em Jerusalém, Lisímaco, aconselhado por Menelau, cometeu muitos roubos sacrílegos; divulgados estes factos, o povo amotinou-se contra ele, porque muitos objectos de ouro tinham desaparecido. 40Exaltada e enfurecida a multidão, Lisímaco armou perto de três mil homens sob o comando de um certo Aurano, homem avançado em idade e não menos em crueldade, e começou a cometer violências.
41Mas o povo, ao ver que Lisímaco os atacava, uns pegaram em pedras, outros em paus, alguns em cinza, e, confusamente, arremessaram tudo contra os homens de Lisímaco. 42Deste modo, muitos ficaram feridos, alguns foram mortos e os restantes fugiram; o próprio sacrílego foi morto junto do tesouro.
Menelau é absolvido – 43Por todas estas desordens, foi instaurado um processo contra Menelau. 44Tendo o rei chegado a Tiro, três enviados da assembleia dos anciãos apresentaram-lhe a acusação. 45Mas Menelau, vendo-se perdido, prometeu grande soma de dinheiro a Ptolomeu, filho de Dorímenes, para que lhe granjeasse o favor do rei. 46Com efeito, Ptolomeu, levando o rei para debaixo do peristilo, como se fosse para espairecer, fê-lo mudar de ideias. 47Deste modo, Menelau, embora responsável por todo o mal, foi absolvido pelo rei de todas as acusações que pesavam sobre ele, e condenados à morte os infelizes que, num tribunal, mesmo que fosse dos citas, teriam sido julgados inocentes. 48Assim, os que tinham sustentado os interesses da cidade, do povo e dos objectos sagrados, foram castigados imediatamente, contra toda a justiça. 49Até os próprios habitantes de Tiro, horrorizados com este crime, lhes deram magnífica sepultura. 50Entretanto, Menelau, devido à avidez dos governantes, permanecia no poder e crescia em malícia, convertido em feroz perseguidor dos seus concidadãos.
Capítulo 5
Segunda campanha do Egipto 1Por este tempo, Antíoco organizou uma segunda expedição ao Egipto. 2Aconteceu que em toda a cidade, por espaço de quase quarenta dias, apareceram, correndo pelos ares, cavaleiros com túnicas douradas e armados de lanças, formando 3esquadrões alinhados em ordem de batalha, ataques e choques corpo a corpo, movimento de escudos, floresta de lanças, espadas desembainhadas, arremesso de dardos, armaduras resplandecentes de ouro e couraças de todo o género. 4Portanto, todos rezavam para que tais aparições fossem bom presságio.
Repressão de Antíoco Epifânio 5Espalhada a falsa notícia da morte de Antíoco, Jasão tomou consigo mil homens e atacou a cidade, de surpresa. Vencidos os que defendiam a muralha, ele apoderou-se da cidade e Menelau fugiu para a fortaleza. 6Mas Jasão matou sem piedade os seus próprios concidadãos, esquecido de que uma vitória ganha sobre compatriotas é a maior das desgraças, agindo como se alcançasse um troféu dos seus inimigos e não dos seus concidadãos.
7Apesar disso, não conseguiu usurpar o poder e, por fim, recebeu o opróbrio como prémio da sua traição e teve de fugir de novo para o território dos amonitas. 8O fim da sua perversa vida foi este: acusado junto de Aretas, rei dos árabes, fugiu de cidade em cidade, e, perseguido por todos, detestado como violador das leis, desprezado como carrasco da sua pátria e dos seus concidadãos, foi desterrado para o Egipto. 9Deste modo, aquele que expulsara tanta gente da sua própria pátria, morreu desterrado dela, fugindo para a Lacedemónia, com a esperança de ali encontrar refúgio, a título de parentesco. 10E aquele que tinha deixado tanta gente sem sepultura não foi chorado por ninguém, nem recebeu honras fúnebres, nem na sua própria terra nem na terra estranha.
11Quando a notícia desses acontecimentos chegou aos ouvidos do rei, ele suspeitou que a Judeia queria revoltar-se. E trazendo o exército do Egipto, cheio de fúria, conquistou a cidade pela força das armas, 12e ordenou aos soldados que matassem sem piedade aqueles que caíssem nas suas mãos e degolassem os que se refugiassem nas casas.
13Assim, foram mortos jovens e velhos, e pereceram homens, mulheres e crianças, e foram massacradas as donzelas e os meninos. 14Em três dias, foram mortos oitenta mil, quarenta mil foram feitos prisioneiros, e não foi menor o número dos que foram vendidos como escravos.
Pilhagem do templo (1 Mac 1,21-24) 15Não satisfeito com isto, o rei atreveu-se a entrar no templo, o mais santo de toda a terra, guiado por Menelau, um traidor às leis e à pátria. 16Tomou com as mãos impuras os vasos sagrados e com elas se apoderou das oferendas, depositadas pelos reis anteriores, para ornamento, honra e glória do templo.
17Antíoco, com a alma cheia de orgulho, não percebia que, se o Senhor se irritara momentaneamente, era por causa dos pecados da cidade; daí esta indiferença pelo templo. 18Porque se os judeus não fossem culpados de muitos delitos, ele, a exemplo de Heliodoro, enviado pelo rei Seleuco para inspeccionar o tesouro, teria sido açoitado, logo que chegou, e expulso por causa da sua audácia.
19Na verdade, Deus não escolheu o povo por causa do templo, mas o templo por causa do povo; 20por isso, o templo, depois de ter participado dos males do povo, teve, a seguir, parte com ele nos bens divinos e, abandonado no tempo da cólera, foi restaurado em toda a sua glória, por ocasião da reconciliação com o grande Soberano. 21Em suma, Antíoco, tendo roubado ao templo mil e oitocentos talentos, regressou, sem demora, a Antioquia. Com o espírito exaltado, julgava, na sua soberba, poder navegar sobre a terra e caminhar sobre o mar. 22Mas deixou ali governadores com a incumbência de vexar o povo, a saber: em Jerusalém, Filipe, da Frígia, mais bárbaro ainda que o seu amo; 23no monte Garizim, Andrónico e, para além destes, Menelau, que a todos excedeu em maldade contra os seus concidadãos.
Intervenção de Apolónio (1 Mac 1,29-35) – 24Antíoco enviou o chefe dos mísios, Apolónio, à frente de um poderoso exército de vinte e dois mil homens, com a ordem de matar todos os adultos e de vender as mulheres e as crianças. 25Chegado a Jerusalém e fingindo intenções pacíficas, Apolónio esperou até ao dia santo do sábado. Então, enquanto os judeus observavam o descanso, Apolónio ordenou às suas tropas que pegassem nas armas. 26Todos os que saíram para ir à cerimónia foram massacrados e, percorrendo a cidade com os soldados, ele próprio matou grande número de pessoas.
27Porém, Judas Macabeu retirou-se com outros nove para o deserto, e vivia com os seus nas montanhas como animais selvagens, alimentando-se apenas de ervas, para não se contaminarem.
Capítulo 6
Implementação de cultos pagãos (1 Mac 1,41-64) – 1Pouco tempo depois, um velho ateniense foi enviado pelo rei para forçar os judeus a abandonar a religião dos antepassados, proibindo-lhes viver segundo as leis de Deus, 2*com ordem de profanar o templo de Jerusalém, dedicá-lo a Júpiter Olímpico, e consagrar o monte Garizim, segundo a prática dos habitantes do lugar, a Júpiter Hospitaleiro. 3Grave e insuportável foi para todos esta avalanche de mal. 4O templo foi teatro da incontinência e das orgias dos gentios, que se divertiam ali com as meretrizes, uniam-se às mulheres nos átrios sagrados, introduzindo nele coisas proibidas. 5O altar estava coberto de vítimas impuras, interditas pela lei. 6Não se observavam os sábados nem se celebravam as antigas festas, e ninguém se podia declarar judeu.
7Em cada mês, no aniversário do rei, realizava-se um sacrifício; os judeus eram violentamente forçados a tomar parte no banquete ritual e, por ocasião das festas em honra de Dioniso, deviam forçosamente acompanhar o cortejo de Dioniso, coroados com hera. 8Por instigação dos Ptolomeus, foi publicado um decreto que obrigava as cidades helénicas dos arredores a tratar os judeus do mesmo modo e levá-los a participar nos banquetes rituais, 9com a ordem de matar os que se recusassem a adoptar os costumes gentios. Podiam-se, pois, prever as aflições que os aguardavam.
10Duas mulheres foram acusadas de circuncidarem os filhos e, com eles pendurados aos peitos, foram arrastadas publicamente pela cidade e precipitadas do alto das muralhas. 11Alguns tinham-se retirado para as cavernas vizinhas, a fim de aí celebrarem secretamente o dia de sábado. Denunciados a Filipe, foram todos queimados, porque não ousaram defender-se por respeito à santidade do dia.
Sentido teológico da perseguição – 12Suplico aos que lerem este livro que não se escandalizem com estes tristes acontecimentos, mas que considerem que estas coisas aconteceram, não para a ruína, mas para a correcção da nossa raça; 13porque é sinal de grande benevolência não deixar muito tempo impunes os pecadores, mas aplicar-lhes o castigo sem demora. 14O Senhor tem paciência com as outras nações, antes de as castigar, até que elas tenham enchido a medida das suas iniquidades; mas não age assim connosco, 15com receio de ter que nos punir mais tarde, quando tivermos pecado demasiadamente. 16Desta forma, nunca retira de nós a sua misericórdia e não abandona o seu povo quando o aflige com adversidades. 17Dissemos tudo isto unicamente a título de lembrança. Agora prossigamos a nossa narração.
Martírio de Eleázar – 18A Eleázar, varão de idade avançada e de bela aparência, um dos primeiros doutores da Lei, abrindo-lhe a boca à força, tentavam obrigá-lo a comer carne de porco. 19Mas ele, preferindo morrer com honra a viver na infâmia, voluntariamente caminhava para o suplício, 20depois de cuspir a carne, como devem fazer os que têm a coragem de rejeitar o que não é permitido comer, mesmo à custa da própria vida. 21Ora, os encarregados deste ímpio banquete proibido pela lei, que, desde há muito tempo, mantinham relações de amizade com ele, tomaram-no à parte e rogaram-lhe que mandasse trazer as carnes permitidas, por ele mesmo preparadas, e as comesse como se fossem carnes do sacrifício, conforme ordenara o rei. 22Fazendo assim, seria preservado da morte. Usavam com ele desta espécie de humanidade, em virtude da antiga amizade que lhe tinham. 23Mas Eleázar, tomando uma bela resolução, digna da sua idade, da autoridade que lhe conferia a sua velhice, do prestígio que lhe outorgavam os seus cabelos brancos, da vida íntegra que levava desde a infância, digna, sobretudo, das sagradas leis estabelecidas por Deus, preferiu ser conduzido à morte.
24«Não é próprio da minha idade – respondeu ele – usar de tal fingimento, não suceda que muitos jovens, julgando que Eleázar, aos noventa anos, se tenha passado à vida dos gentios, 25pelo meu gesto de hipocrisia e por amor a um pouco de vida, se deixem arrastar pelo meu exemplo; isto seria a desonra e a vergonha da minha velhice. 26Mesmo que eu me livrasse agora dos castigos dos homens, não poderia escapar, vivo ou morto, das mãos do Omnipotente. 27Por isso, morrendo valorosamente, mostrar-me-ei digno da minha velhice 28e deixarei aos jovens um nobre exemplo, se morrer corajosamente pelas nossas santas e veneráveis leis.»
Ditas estas palavras, dirigiu-se para o suplício. 29Aqueles que o levavam transformaram em violência a humanidade que pouco antes lhe tinham mostrado, julgando insensatas as suas palavras. 30E quando estava prestes a morrer sob os golpes que sobre ele descarregavam, ele exclamou entre suspiros: «O Senhor, que tem a ciência santíssima, vê bem que, podendo eu livrar-me da morte, sofro no meu corpo os tormentos cruéis dos açoites, mas suporto-os com alegria, porque é a Ele que eu temo.» 31Desta maneira passou à outra vida, deixando com a sua morte, não só aos jovens mas também a toda a gente, um exemplo de fortaleza e de coragem.
Capítulo 7
Martírio dos sete irmãos – 1Aconteceu também que um dia foram presos sete irmãos com a mãe, aos quais o rei, por meio de golpes de azorrague e de nervos de boi, quis obrigar a comer carnes de porco, proibidas pela lei. 2Um deles, tomou a palavra e falou assim: «Que pretendes perguntar e saber de nós? Estamos prontos a antes morrer do que violar as leis dos nossos pais.» 3O rei, irritado, ordenou que aquecessem ao fogo sertãs e caldeirões. 4Logo que ficaram em brasa, ordenou que cortassem a língua ao que primeiro falara, lhe arrancassem a pele da cabeça e lhe cortassem também as extremidades das mãos e dos pés, na presença dos irmãos e da mãe. 5Mutilado de todos os seus membros, o rei mandou aproximá-lo do fogo e, vivo ainda, assá-lo na sertã. Enquanto o cheiro da panela se espalhava ao longe, os outros, com a mãe, animavam-se a morrer corajosamente, dizendo: 6«Deus, o Senhor, nos vê e, na verdade, Ele terá compaixão de nós, como diz claramente Moisés no seu cântico de admoestação: Ele terá piedade dos seus servidores.»
7Morto, deste modo, o primeiro, conduziram o segundo ao suplício. Arrancaram-lhe a pele da cabeça com os cabelos e perguntaram-lhe: «Comes carne de porco, ou preferes que o teu corpo seja torturado, membro por membro?» 8Ele respondeu no idioma dos seus pais: «Não farei tal coisa!» E então padeceu os mesmos tormentos que o primeiro. 9Prestes a dar o último suspiro, disse: «Ó malvado, tu arrebatas-nos a vida presente, mas o rei do universo há-de ressuscitar-nos para a vida eterna, se morrermos fiéis às suas leis.»
10Depois deste, torturaram o terceiro, o qual, mal lhe pediram a língua, deitou-a logo de fora e estendeu as mãos corajosamente. 11E disse, cheio de confiança: «Do Céu recebi estes membros, mas agora menosprezo-os por amor das leis de Deus, mas espero recebê-los dele, de novo, um dia.» 12O próprio rei e os que o rodeavam ficaram admirados com o heroísmo deste jovem, que nenhum caso fazia dos sofrimentos.
13Morto também este, aplicaram os mesmos suplícios ao quarto, 14o qual, prestes a expirar, disse: «É uma felicidade perecer à mão dos homens, com a esperança de que Deus nos ressuscitará; mas a tua ressurreição não será para a vida.»
15Arrastaram, em seguida, o quinto e torturaram-no; 16mas ele, cravando os olhos no rei, disse-lhe: «Embora mortal, tens poder sobre os homens e fazes o que queres. Mas não penses que Deus abandonou o nosso povo! 17Espera, e verás a grandeza do seu poder e como Ele te castigará a ti e à tua descendência.»
18Depois deste, foi conduzido o sexto que, antes de morrer, disse: «Não te iludas, pois se nós mesmos merecemos estes sofrimentos, é porque pecámos contra o nosso Deus e por isso recebemos estes tormentos terríveis. 19Mas não julgues que ficarás impune, depois de teres ousado combater contra Deus.»
20Particularmente admirável e digna de grandes elogios foi a mãe que, num dia só, viu perecer os seus sete filhos e suportou essa dor com serenidade, porque punha a sua esperança no Senhor. 21Ela exortava cada um no seu idioma materno e, cheia de nobres sentimentos, juntava uma coragem varonil à ternura de mulher. 22Dizia-lhes: «Não sei como aparecestes nas minhas entranhas, porque não fui eu que vos dei a alma nem a vida, nem fui eu que formei os vossos membros. 23Mas o Criador do mundo, autor do nascimento do homem e origem de todas as coisas, restituir-vos-á, na sua misericórdia, tanto o espírito como a vida, se agora vos sacrificardes a vós mesmos por amor das suas leis.»
24Mas Antíoco, julgando que ela se ria dele e o insultava, começou a exortar o mais jovem, o que restava, e não só com palavras mas até com juramento, lhe prometia, se abandonasse as tradições dos seus antepassados, torná-lo rico e feliz, tratá-lo como amigo e confiar-lhe honrosos cargos. 25Como o jovem não lhe prestasse atenção, o rei mandou à mãe que se aproximasse e aconselhasse o filho a salvar a sua vida. 26E, depois de ter insistido com ela muito tempo, ela consentiu em persuadir o filho. 27Inclinou-se sobre ele e, zombando do cruel tirano, disse-lhe na língua materna: «Meu filho, tem compaixão de mim que te trouxe nove meses no seio, que te amamentei durante três anos, que te criei, eduquei e alimentei até agora. 28Suplico-te, meu filho, que contemples o céu e a terra. Reflecte bem: o que vês, Deus o criou do nada, assim como a todos os homens. 29Não temas, portanto, este carrasco, mas sê digno dos teus irmãos e aceita a morte, para que, no dia da misericórdia, eu te encontre no meio deles.»
30Logo que ela acabou de falar, o jovem disse: «Que esperais? Não obedecerei às ordens do rei, mas somente aos mandamentos da Lei, dada a nossos pais por intermédio de Moisés. 31Mas tu, que és o inventor desta perseguição contra os hebreus, não escaparás à mão de Deus. 32Quanto a nós, é por causa dos nossos pecados que padecemos. 33Mas, se para nos punir e corrigir, o Deus vivo e Senhor nosso se irou por um momento contra nós, Ele há-de reconciliar-se de novo com os seus servos. 34Tu, porém, ímpio, o mais infame dos homens, não te exaltes sem razão com vãs esperanças, enfurecido na tua cólera contra os servos de Deus, 35porque ainda não escapaste ao julgamento do Deus omnipotente, que tudo vê! 36Os meus irmãos, após terem suportado um breve tormento, participam agora da vida eterna, em virtude do sinal da aliança, mas tu sofrerás o justo castigo do teu orgulho, pelo julgamento de Deus.
37A exemplo dos meus irmãos, entrego o meu corpo e a minha vida em defesa das leis dos nossos pais e peço a Deus que, quanto antes, se mostre propício ao seu povo, e que tu, no meio dos sofrimentos e das provações, tenhas de confessar que só Ele é o único Deus. 38Em mim e nos meus irmãos se aplacará a cólera do Omnipotente que se desencadeou justamente sobre toda a nossa raça.»
39Então o rei, furioso, descarregou sobre ele a sua ira com maior crueldade que sobre os outros, enraivecido por ter zombado dele. 40Morreu, pois, também ele, purificado de toda a mancha e inteiramente confiado no Senhor. 41Finalmente, depois dos filhos, foi também morta a mãe.
42Terminamos por aqui a nossa narração referente aos banquetes rituais e a estas horríveis crueldades.
Capítulo 8
Judas Macabeu organiza a resistência – 1Entretanto, Judas Macabeu e os companheiros, entrando secretamente nas aldeias, convocavam os seus parentes e os que tinham permanecido fiéis ao judaísmo, chegando a juntar, assim, uma força de aproximadamente seis mil homens. 2Suplicavam ao Senhor que olhasse para o povo desdenhado por todos, que se compadecesse do templo profanado pelos ímpios, 3que tivesse compaixão da cidade devastada e quase totalmente arrasada, que escutasse a voz do sangue derramado que a Ele clamava, 4que se lembrasse da iníqua morte das crianças inocentes e vingasse as blasfémias proferidas contra o seu nome.
5Judas Macabeu tornou-se o chefe do seu exército e os gentios viram-se incapazes de lhe resistir, porque a cólera de Deus se tinha convertido em misericórdia. 6Atacava de surpresa as cidades e as aldeias e incendiava-as; ocupava as posições estratégicas, vencia e punha em fuga a não poucos inimigos. 7Era principalmente à noite que empreendia estas expedições, e a fama do seu valor espalhava-se por toda a parte.
Derrotas de Nicanor e de Górgias (1 Mac 3,38-4,27) – 8Vendo Judas tornar-se mais forte dia a dia e alcançar cada vez mais vitórias, Filipe escreveu ao governador da Celessíria e da Fenícia, Ptolomeu, para que defendesse os interesses do rei. 9Este imediatamente designou Nicanor, filho de Pátroclo e um dos primeiros amigos do rei, e enviou-o à Judeia com uns vinte mil homens de todas as nações, para exterminarem toda a raça judia. Também Górgias, experimentado na arte da guerra, se juntou a ele. 10Nicanor esperava obter, com a venda dos prisioneiros judeus que fossem capturados, os dois mil talentos que o rei devia como tributo aos romanos. 11Assim, enviou, sem perda de tempo, convite às cidades do litoral para que viessem comprar judeus, oferecendo noventa escravos por um talento. Não suspeitava que o castigo do Omnipotente iria cair sobre ele.
12Logo que Judas soube da vinda de Nicanor, participou a sua chegada aos judeus que tinha consigo. 13E, de repente, alguns deles, por sua falta de confiança na justiça de Deus, fugiram e dispersaram-se; 14outros vendiam o que lhes restava, pedindo ao Senhor que os livrasse do ímpio Nicanor, que já os tinha vendido ainda antes de os ter nas mãos. 15Se não fosse por eles, que o fizesse ao menos em consideração da aliança estabelecida com os seus pais, e pelo seu santo e glorioso nome, que eles invocavam.
16Macabeu reuniu então ao redor de si os seus homens, em número de seis mil, exortou-os a que não se deixassem intimidar pelos inimigos, nem tivessem medo daquela multidão que os vinha atacar injustamente; pelo contrário, combatessem com valentia e 17pensassem na indigna profanação infligida por eles ao templo, na humilhação imposta à cidade devastada e na ruína das instituições dos seus antepassados. 18«Estas gentes, dizia ele, confiam nas suas armas e na sua audácia, mas nós pomos a nossa segurança no Deus omnipotente, que pode, com um simples aceno, desbaratar tanto os que nos atacam, como o universo inteiro.» 19Lembrou-lhes a protecção divina que Deus tinha dispensado a seus pais, como por exemplo, os cento e oitenta e cinco mil homens do exército de Senaquerib que tinham perecido 20e, também, a batalha contra os gálatas, na Babilónia, na qual oito mil judeus tiveram que lutar ao lado de quatro mil macedónios. Como estes se encontrassem em situação difícil, os oito mil judeus mataram cento e vinte mil inimigos, mediante o auxílio que lhes foi dado do Céu, e alcançaram grandes bens.
21Depois de ter animado os seus companheiros e de os ter preparado para morrer pelas leis e pela pátria, dividiu o exército em quatro corpos, 22pondo à frente de três deles os seus irmãos Simão, José e Jónatas, chefiando cada qual mil e quinhentos homens. 23Mandou a Eleázar que lesse o livro sagrado e, dando-lhes por palavra de ordem «socorro de Deus», ele mesmo se pôs à frente do primeiro corpo e atacou Nicanor. 24Com efeito, graças à ajuda do Omnipotente, mataram mais de nove mil inimigos, feriram e mutilaram a maior parte dos soldados de Nicanor, que se puseram em fuga. 25Apoderaram-se do dinheiro dos que tinham vindo para os comprar e perseguiram por largo espaço os inimigos, até que tiveram de retroceder, por falta de tempo.
26Era véspera de sábado e, por isso, desistiram de os perseguir. 27Recolheram as armas e os despojos dos inimigos e celebraram o sábado, bendizendo o Senhor e glorificando-o por tê-los livrado naquele dia, derramando sobre eles como que as primícias da sua misericórdia. 28Passado o sábado, deram parte dos despojos aos que tinham sofrido perseguição, às viúvas e aos órfãos, e dividiram o resto entre eles e os seus filhos. 29Feito isto, rezaram em comum, implorando ao Senhor misericordioso que se reconciliasse plenamente com os seus servos.
Derrotas de Timóteo e de Báquides – 30Nos combates travados com os soldados de Timóteo e de Báquides, mataram-lhes mais de vinte mil e apoderaram-se de várias praças fortes e de muitos despojos, que dividiram em duas partes iguais: uma para si mesmos, outra para os perseguidos, as viúvas, os órfãos e os anciãos. 31As armas, diligentemente recolhidas, foram escondidas em lugares seguros, e levaram para Jerusalém o resto dos despojos. 32Mataram o chefe dos guardas de Timóteo, um dos homens mais perversos, que tinha feito muito mal aos judeus. 33E quando celebravam as festas da vitória, em Jerusalém, queimaram os que tinham incendiado as portas do templo, os quais se tinham refugiado junto com Calístenes numa casa, infligindo-lhes, assim, o justo castigo do seu sacrilégio.
34O malvado Nicanor – que mandara vir milhares de negociantes para lhes vender os judeus – 35humilhado por aqueles que desprezava, graças ao auxílio do Senhor, despojou-se das suas ricas vestes e, atravessando sozinho o interior do país como um fugitivo, chegou a Antioquia, profundamente abatido pela perda do seu exército. 36E aquele que, antes, tinha prometido pagar o tributo aos romanos com o produto da venda dos cativos de Jerusalém, agora apregoava que os judeus tinham um protector e, por isso, se tornavam invulneráveis, porque observavam as leis estabelecidas por Ele.
Capítulo 9
Morte de Antíoco Epifânio (1,11-17; 1 Mac 6,1-17) – 1Nesta mesma ocasião, Antíoco voltava da Pérsia, coberto de vergonha, 2pois, entrando na cidade de Persépolis com o propósito de saquear o templo e ocupar a cidade, o povo revoltou-se e pegou em armas para se defender. Com isso, Antíoco viu-se forçado pelos habitantes dessa região a empreender uma retirada humilhante. 3Achando-se perto de Ecbátana, soube da derrota de Nicanor e do exército de Timóteo. 4Num acesso de fúria, resolveu imediatamente desforrar-se nos judeus do mal que lhe tinham feito aqueles que o tinham obrigado a fugir. Por isso, ordenou ao cocheiro que andasse sem parar, a fim de conseguir, o mais depressa possível, o que desejava; na realidade, a sentença do Céu já tinha caído sobre ele. Na sua presunção, tinha dito: «Assim que chegar, farei de Jerusalém o cemitério dos judeus.»
5Mas o Senhor Deus de Israel, que tudo vê, feriu-o com um mal incurável. Mal acabara de pronunciar estas palavras, foi assaltado por dores atrozes nas entranhas. 6E, na verdade, bem o merecia, pois ele mesmo rasgara as entranhas de outros com inauditos tormentos! 7Apesar disso, não desistiu da sua arrogância; pelo contrário, cheio de soberba, lançava contra os judeus o fogo da sua cólera e ordenava que se apressasse a marcha, quando, repentinamente, caiu do carro arrastado pela violência da corrida e, na queda fatal, quebrou todos os membros. 8O homem que pouco antes, com a sua arrogância, julgava poder dominar as próprias ondas do mar e pesar as montanhas no prato da sua balança, estendido agora sobre a terra, era levado numa liteira, manifestando assim aos olhos de todos o poder de Deus. 9Chegou a tal ponto que dos olhos do ímpio saíam vermes e as carnes caíam aos pedaços entre dores atrozes; e o mau cheiro da sua podridão era tal que enchia o ar e empestava todo o campo. 10Aquele que, pouco antes, sonhava tocar com as próprias mãos nos astros do céu, agora ninguém o podia suportar, por causa do mau cheiro que exalava!
11Derrubado, pois, da sua extrema vaidade e torturado por Deus com constantes sofrimentos, começou a perder o orgulho e a compreender melhor o seu estado. 12Incapaz de suportar o seu mau cheiro, disse: «Um simples mortal deve submeter-se a Deus e não pretender igualar-se a Ele.» 13Este malvado rezava ao Senhor, de quem não haveria de receber misericórdia, 14e pretendia dar liberdade à cidade santa, para a qual antes se encaminhava, a fim de a arrasar e fazer dela um cemitério. 15Dizia, também, que trataria como atenienses esses mesmos judeus que antes julgara indignos de sepultura e bons para serem atirados, com os seus filhos, às aves de rapina e aos animais selvagens. 16Ao templo que antes despojara, prometia agora orná-lo com preciosas ofertas, devolver-lhe multiplicados os vasos sagrados e prover, com as suas próprias rendas, a todas as despesas com os sacrifícios. 17Finalmente, ele mesmo se tornaria judeu e percorreria todos os lugares habitados para proclamar o poder de Deus!
Carta de Antíoco aos judeus – 18Mas as suas dores não se atenuavam, porque o justo castigo de Deus pesava sobre ele. Então, perdida toda a esperança, escreveu aos judeus uma carta, em forma de súplica, do seguinte teor:
19«Aos dedicados cidadãos judeus, saúde, bem estar e felicidade, da parte de Antíoco, rei e chefe do exército. 20Se vós e os vossos filhos gozais de saúde e se vos sucedem todas as coisas como desejais, dou graças a Deus, em quem ponho a minha esperança. 21Quanto a mim, prostrado pela doença, lembro-me com prazer dos vossos sentimentos de respeito e de benevolência para comigo. Ao voltar das regiões da Pérsia, surpreendido por uma doença cruel, julguei necessário olhar pela segurança de todos. 22Não é que desespere do meu estado, ao contrário, tenho a firme esperança de escapar desta doença.
23Mas lembro-me que meu pai designava sempre o seu sucessor, cada vez que partia em expedição às províncias do planalto. 24Queria que no caso de uma desgraça ou má notícia, os habitantes do país não se perturbassem, uma vez que, de antemão, sabiam a quem pertencia o mando. 25Sei, além disso, que os príncipes que me rodeiam e os vizinhos do meu reino estão atentos, à espera do que possa suceder.
Por isso, já designei, como rei, o meu filho Antíoco, ao qual, noutras ocasiões, confiei e recomendei muitos de vós, quando partia para as províncias do planalto. A ele escrevi a carta que segue. 26Rogo-vos, portanto, e peço que, em memória dos meus benefícios para convosco, tanto gerais, como particulares, tenhais para com o meu filho a mesma benevolência que para comigo, 27pois estou convencido de que ele seguirá as minhas intenções e usará para convosco de moderação e condescendência.»
28Enfim, ferido mortalmente, este homicida e blasfemador, do mesmo modo que tinha tratado a tantos outros, acabou a sua vida, nas montanhas dum país estrangeiro, com uma morte infeliz. 29Filipe, seu amigo de infância, trasladou-lhe o corpo mas, temendo o filho de Antíoco, partiu para junto de Ptolomeu Filométor, no Egipto.
Capítulo 10
Purificação do templo e festa da Dedicação (1 Mac 4,36-61) 1Macabeu e os seus companheiros, sob a protecção do Senhor, recuperaram o templo e a cidade. 2Destruíram os altares que os gentios tinham edificado nas praças públicas, assim como os troncos sagrados. 3Depois de terem purificado o templo, erigiram um novo altar; com o fogo saído da pederneira, ofereceram sacrifícios, após dois anos de interrupção; queimaram o incenso, acenderam as lâmpadas e recolocaram os pães da oferenda. 4Feitas estas coisas, prostraram-se por terra e rogaram ao Senhor que os livrasse de semelhantes calamidades; mas se eles recaíssem nas ofensas, que os corrigisse com benignidade e não os entregasse nas mãos das nações ímpias e bárbaras.
5No mesmo dia do aniversário da profanação do templo pelos estrangeiros, isto é, no dia vinte e cinco do mês de Quisleu, fez-se a sua purificação. 6Celebraram esta festa com grande regozijo, por espaço de oito dias, à semelhança da festa das Tendas, recordando que, pouco antes, tinham passado esta solenidade das Tendas nas montanhas e nas cavernas, como animais selvagens. 7Por esse motivo, levavam ramalhetes, ramos verdejantes e palmas em honra daquele que lhes tinha concedido a dita de purificar o seu lugar santo. 8Decretaram, por um édito público, que toda a nação judia celebrasse cada ano esta festa, na mesma altura.
Início do Reino de Antíoco Eupátor – 9Acabámos de narrar as circunstâncias da morte de Antíoco, chamado Epifânio. 10Agora referiremos os acontecimentos de Antíoco Eupátor, filho do ímpio Antíoco, resumindo os males causados pelas guerras. 11Quando começou a reinar, este príncipe entregou os negócios do reino a um certo Lísias, governador militar da Celessíria e da Fenícia. 12Ora, Ptolomeu, chamado Macron, resolvera mostrar-se justo para com os judeus, tendo em vista a perseguição movida contra eles, e procurou governá-los pacificamente, 13mas foi denunciado a Eupátor pelos amigos do rei. E como, por outro lado, lhe chamavam traidor, por ter abandonado Chipre, que lhe tinha confiado Filométor, e por se ter posto ao serviço de Antíoco Epifânio, ao ver que não podia exercer com honra o seu alto posto, desesperado, envenenou-se e morreu.
Górgias e as fortalezas de Idumeia (1 Mac 5,1-8) – 14Górgias, nomeado chefe do exército daquelas províncias, assalariava tropas estrangeiras e aproveitava todas as ocasiões para importunar os judeus. 15Ao mesmo tempo, os idumeus, senhores de várias fortalezas importantes, molestavam os judeus e, acolhendo os judeus expulsos de Jerusalém, mantinham um contínuo estado de guerra. 16Então, Macabeu e os seus companheiros, depois de terem rezado e invocado o auxílio de Deus, assaltaram as fortalezas da Idumeia. 17Atacaram-nas com coragem e apoderaram-se delas; repeliram os que combatiam sobre as muralhas e mataram os que caíam nas suas mãos, pelo menos vinte mil homens. 18Uns nove mil fugitivos procuraram abrigo em duas fortalezas, apetrechadas para aguentar um assédio.
19Macabeu deixou Simão, José e Zaqueu com bastantes homens para os combater, e dirigiu, em pessoa, a luta onde era mais urgente. 20Os companheiros de Simão, ávidos de dinheiro, deixaram-se subornar por alguns dos que se achavam nas torres da cidadela e, por setenta mil dracmas, favoreceram a fuga de um certo número. 21Ouvindo estas notícias, Macabeu acusou-os diante da assembleia dos chefes do exército, por terem vendido os seus irmãos a troco de dinheiro, dando liberdade aos inimigos. 22Mandou executá-los como traidores e, em seguida, apoderou-se das duas cidadelas. 23Esta empresa por ele mesmo dirigida foi coroada de feliz êxito, e matou mais de vinte mil homens nas duas fortalezas.
Vitórias de Judas sobre Timóteo – 24Timóteo, que antes fora vencido pelos judeus, juntou numerosas tropas estrangeiras e reuniu numerosa cavalaria vinda da Ásia; marchou em direcção à Judeia, com a intenção de a conquistar pelas armas. 25Ao mesmo tempo que Timóteo se aproximava, Macabeu e os seus companheiros cobriram a cabeça com terra, cingiram os rins com cilícios 26e, prostrados aos pés do altar, rogaram a Deus que tivesse piedade deles, mostrando-se inimigo dos seus inimigos e adversário dos seus adversários, conforme a promessa da lei. 27Terminada a oração, empunharam as armas, retiraram-se para longe da cidade e acamparam diante do inimigo.
28Ao raiar da aurora, os dois exércitos travaram combate, contando uns, como penhor do êxito da vitória, além da sua valentia, com o socorro do Senhor; os outros foram para a batalha, apoiados apenas no seu próprio esforço. 29No auge da luta, os inimigos viram aparecer no céu cinco magníficos guerreiros, montados em cavalos com freios de ouro, que se colocaram à frente dos judeus. 30Dois deles colocaram-se de um e de outro lado do Macabeu, protegiam-no com as suas armas, tornando-o invulnerável. Ao mesmo tempo, lançavam dardos e raios sobre os inimigos, que, feridos de cegueira, sucumbiam cheios de espanto. 31Foram, assim, mortos vinte mil e quinhentos soldados de infantaria e seiscentos cavaleiros.
32Timóteo fugiu para uma praça forte, chamada Guézer, cujo governador era Quereias. 33Macabeu e os que se achavam com ele, cheios de entusiasmo, assediaram-na durante quatro dias. 34Os que nela se encontravam, confiados na fortaleza da praça, blasfemavam incessantemente e proferiam palavras injuriosas. 35Porém, ao amanhecer o quinto dia, um grupo de vinte jovens do exército de Macabeu, inflamados de cólera por causa dessas blasfémias, subiram corajosamente à muralha e mataram todos os que se lhes opunham. 36Outros subiram igualmente o muro, atearam fogo às torres, onde queimaram vivos os blasfemadores; arrombadas as portas, entrou o resto do exército e apoderou-se da cidade. 37Mataram Timóteo, oculto numa cisterna, seu irmão Quereias e Apolófanes. 38Após esta façanha, cantaram hinos e cânticos ao Senhor, que tinha realizado grandes prodígios a favor de Israel, dando-lhes a vitória.