Capítulo 1
David recebe a notícia da morte de Saul (1 Sm 31,1-13) – 1Morto Saul, David regressou da derrota que infligiu aos amalecitas e esteve dois dias em Ciclag. 2Ao terceiro dia, apareceu um homem que vinha do acampamento de Saul, com as vestes rasgadas e a cabeça coberta de pó. Chegando perto de David, prostrou-se por terra e fez-lhe uma profunda reverência. 3David perguntou: «De onde vens?» Respondeu ele: «Escapei do acampamento de Israel.» 4Disse-lhe David: «Que aconteceu? Conta-me tudo.» Ele respondeu: «As tropas fugiram do campo de batalha, muitos tombaram, e Saul assim como seu filho Jónatas pereceram.»
5David perguntou ao mensageiro: «Como sabes que Saul e seu filho Jónatas morreram?» 6Ele respondeu: «Eu estava por acaso no monte Guilboa quando vi Saul atirar-se sobre a própria lança, enquanto os carros e os cavaleiros o perseguiam. 7Ele, voltando-se, viu-me e chamou-me. Eu disse-lhe: ‘Eis-me aqui.’ 8Ele perguntou: ‘Quem és tu?’ Respondi: ‘Eu sou um amalecita.’ 9Continuou ele: ‘Aproxima-te e mata-me, porque estou já em agonia e ainda me encontro com vida.’ 10Aproximei-me, pois, e acabei de o matar, pois via que ele não podia sobreviver depois da derrota. Tomei o diadema que tinha na cabeça e a bracelete do seu braço e trouxe-os ao meu senhor. Ei-los aqui.»
11Então, David rasgou as suas vestes, e todos os que estavam com ele o imitaram. 12E prantearam, choraram e jejuaram até à tarde, por amor de Saul, de seu filho Jónatas, do povo do Senhor e do povo de Israel, porque tinham sido passados ao fio da espada.
13David perguntou ao mensageiro: «De onde és tu?» Ele respondeu: «Eu sou filho de um estrangeiro, de um amalecita.» 14David perguntou-lhe: «Como? Não receaste levantar a mão para matar o ungido do Senhor?»
15E David chamou um dos seus homens e disse: «Vem cá e mata-o!» Este feriu-o, e ele morreu. 16David disse então: «Só tu és o culpado da tua morte. A tua própria boca deu testemunho contra ti, quando disseste: ‘Matei o ungido do Senhor.’»
Elegia de David (1 Mac 3,1-9; 14,4-15) 17Então, David compôs a seguinte lamentação sobre a morte de Saul e de seu filho Jónatas. 18Está escrita no Livro do Justo, e David ordenou que fosse ensinada aos filhos de Judá.
19«A Honra de Israel pereceu sobre as colinas!
Tombaram os heróis!
20Não o conteis em Gat,
nem o descrevais nas ruas de Ascalon,
para que se não regozijem as filhas dos filisteus,
nem saltem de alegria as filhas dos incircuncisos!
21Montes de Guilboa,
não caia sobre vós orvalho nem chuva, campos traiçoeiros,
pois aí foi desonrado o escudo dos heróis.
O escudo de Saul não foi ungido com óleo,
22mas com o sangue dos feridos
e a gordura dos guerreiros.
O arco de Jónatas não recuou jamais,
e a espada de Saul jamais deu golpe em vão.
23Saul e Jónatas, amados e gloriosos,
jamais se separaram,
nem na vida nem na morte,
mais velozes do que as águias,
mais fortes do que os leões.
24Filhas de Israel, chorai sobre Saul!
Ele vestia-vos de púrpura sumptuosa
e ornava de ouro as vossas vestes.
25Tombaram os heróis no campo de batalha!
Jónatas, morto sobre as tuas colinas!
26Jónatas, meu irmão, que angústia sofro por ti!
Como eu te amava!
O teu amor era uma maravilha para mim
mais excelente que o das mulheres.
27Como tombaram os heróis
e se destruíram as armas de guerra!»
Capítulo 2
David é ungido rei de Judá (1 Sm 16,1-13) – 1Depois disto, David consultou o Senhor, dizendo: «Posso ir a alguma das cidades de Judá?» Respondeu o Senhor: «Podes.» David perguntou: «A qual irei?» A resposta foi: «A Hebron.» 2David pôs-se a caminho de Hebron com suas duas mulheres, Aínoam, de Jezrael, e Abigaíl, viúva de Nabal, de Carmel. 3David levou também os seus companheiros juntamente com as suas famílias, que se fixaram nas cidades de Hebron. 4Os homens de Judá foram lá e ungiram David como rei de Judá.
David soube, então, que os homens de Jabés em Guilead tinham sepultado Saul. 5David mandou-lhes mensageiros, dizendo: «Abençoados sejais pelo Senhor, por terdes feito esta obra de misericórdia para com o vosso senhor Saul, sepultando-o. 6Que o Senhor, por sua vez, se mostre bom e fiel para convosco; eu também vos farei bem por esta acção que realizastes. 7Tende coragem e sede valorosos! Vosso senhor Saul morreu, mas a casa de Judá ungiu-me como seu rei.»
Abner e Isboset – 8Entretanto, Abner, filho de Ner, chefe do exército de Saul, tomou Isboset, filho de Saul, e levou-o a Maanaim, 9onde o declarou rei de Guilead, de Aser, de Jezrael, de Efraim, de Benjamim e de todo o Israel. 10Isboset, filho de Saul, tinha quarenta anos quando se tornou rei de Israel e reinou durante dois anos. Porém, a casa de Judá seguiu David. 11Sete anos e seis meses reinou David sobre a casa de Judá, em Hebron.
Batalha de Guibeon – 12Abner, filho de Ner, e os homens de Isboset, filho de Saul, saíram de Maanaim para Guibeon. 13Joab, filho de Seruia, e os homens de David puseram-se também em marcha. E encontraram-se perto do lago de Guibeon e acamparam, uns de um lado e outros do outro lado do lago. 14Abner disse a Joab: «Aproximem-se os mancebos para lutar na nossa presença.» Joab chamou: «Venham!» 15Apresentaram-se, pois, doze da tribo de Benjamim, da parte de Isboset, filho de Saul, e doze dos homens de David. 16Agarrando cada um a cabeça do seu adversário, atravessaram-se mutuamente com a espada, de modo que caíram todos ao mesmo tempo. Deu-se a este lugar o nome de Helcat-Hassurim, em Guibeon. 17Travou-se rude batalha naquele dia, tendo Abner e os homens de Israel fugido diante dos homens de David.
18Estavam ali os três filhos de Seruia, Joab, Abisai e Asael. Asael tinha os pés ligeiros como uma gazela selvagem. 19Pôs-se a perseguir Abner, sem se desviar nem para a direita nem para a esquerda. 20Abner, voltando-se, disse-lhe: «És tu, Asael?» Respondeu-lhe: «Sim, sou eu.» 21Então disse-lhe Abner: «Desvia-te para a direita ou para a esquerda e ataca um desses homens e leva-lhe os despojos.» Mas Asael não quis deixar de o perseguir. 22Abner disse outra vez a Asael: «Afasta-te e deixa de perseguir-me; ou queres que eu te fira e te lance por terra? Como poderia eu depois aparecer diante do teu irmão Joab?» 23Mas como ele continuasse a persegui-lo, Abner feriu-o no ventre com a ponta da lança. A lança saiu-lhe pelas costas e Asael caiu morto ali mesmo. Todos os que passavam pelo lugar, onde Asael jazia morto, se detinham.
24Joab e Abisai lançaram-se em perseguição de Abner. Era sol-posto, quando chegaram à colina de Ama, ao oriente de Guia, no caminho que vai para o deserto de Guibeon.
25Então, os filhos de Benjamim uniram-se a Abner, formando um só batalhão, e pararam no cimo da colina. 26Abner chamou Joab e disse-lhe: «Até quando irá a espada ceifar vidas? Não sabes que isto só nos pode acarretar tristeza? Não será já tempo de dizeres ao povo que deixe de perseguir os seus irmãos?» 27Joab respondeu: «Pelo Deus vivo! Se não tivesses dito nada, estes homens não deixariam de perseguir os seus irmãos antes de amanhã.» 28Joab tocou a trombeta, o povo deixou de perseguir os israelitas, e o combate terminou.
29Abner e seus homens caminharam toda a noite pela Arabá, passaram o Jordão, atravessaram todo o Bitron e atingiram Maanaim. 30Joab, terminada a perseguição, juntou todo o povo. Faltavam dezanove homens de David, sem contar Asael. 31Mas os homens de David tinham morto trezentos e sessenta homens entre os benjaminitas e os de Abner. 32Levaram Asael e sepultaram-no em Belém, no túmulo de seu pai. Joab e os seus homens marcharam durante toda a noite, chegando a Hebron ao raiar da aurora.
Capítulo 3
1Durou muito tempo a guerra entre a casa de Saul e a de David. Mas à medida que o poder de David se ia fortificando, a casa de Saul enfraquecia cada vez mais.
A família de David (5,13-16; 1 Cr 3,1-9; 14,3-7) – 2Nasceram a David vários filhos em Hebron. O seu primogénito foi Amnon, de Aínoam de Jezrael; 3o segundo, Quileab, de Abigaíl, esposa de Nabal, de Carmel; o terceiro, Absalão, filho de Maaca, filha de Talmai, rei de Guechur; 4o quarto foi Adonias, filho de Haguite; o quinto, Chefatias, filho de Abital; 5e o sexto, Jitram, filho de Egla, mulher de David. Estes são os filhos que nasceram a David em Hebron.
Abner e David – 6Enquanto durou a guerra entre a casa de Saul e a de David, Abner governou a casa de Saul. 7Saul tinha tido uma concubina chamada Rispa, filha de Aiá. Isboset disse a Abner: «Porque te aproximaste da concubina de meu pai?» 8Mas Abner, sumamente indignado com estas palavras, disse: «Sou, porventura, algum cão de Judá? Até hoje, tenho agido com lealdade para com a casa de Saul, para com o teu pai, os seus irmãos e amigos, livrando-vos de cair nas mãos de David; e vens tu agora acusar-me de crime com esta mulher? 9Pois que Deus me trate com todo o seu rigor, se não procurar para David o que o Senhor lhe prometeu: 10tirar a realeza à casa de Saul e estabelecer o trono de David sobre Israel e sobre Judá, de Dan a Bercheba.» 11Isboset não se atreveu a responder-lhe, porque o temia.
12Abner enviou, então, mensageiros a David, em seu próprio nome, dizendo: «De quem é a terra? Faz aliança comigo e eu te apoiarei para reunir em torno de ti todo o Israel.» 13David respondeu: «Está bem; farei aliança contigo, mas com esta condição: não surjas diante de mim sem trazer contigo Mical, a filha de Saul, quando vieres apresentar-te.»
14A seguir, David enviou mensageiros a Isboset, filho de Saul, dizendo: «Restitui-me a minha mulher, Mical, com a qual casei em virtude de ter circuncidado cem filisteus.» 15Isboset ordenou que a tirassem a seu marido, Paltiel, filho de Laís, 16que, com lágrimas, a acompanhou até Baurim. Ao chegar ali, disse-lhe Abner: «Volta para tua casa.» E ele voltou.
17Abner contactou então com os anciãos de Israel e disse-lhes: «Há muito tempo que desejais ter David como rei. 18Fazei-o, pois, agora, porque o Senhor disse a David: ‘Por meio de David, meu servo, livrarei o meu povo de Israel da mão dos filisteus e de todos os seus inimigos.’» 19Abner falou também com os benjaminitas e foi a Hebron comunicar a David tudo o que os de Israel e os da casa de Benjamim tinham resolvido. 20Abner chegou a Hebron, onde estava David acompanhado de vinte homens. David ofereceu um banquete em honra de Abner e seus companheiros. 21Abner disse a David: «Vou tratar de reunir em redor do meu senhor e rei todos os israelitas; eles farão aliança contigo, e tu reinarás sobre todos como quiseres.» David despediu Abner, que partiu satisfeito.
Joab mata Abner – 22Entretanto, os homens de David chegaram com Joab de uma expedição, trazendo uma grande presa. Abner já não estava com David em Hebron, pois David o tinha despedido, e ele partira em paz. 23E, regressando Joab com toda a sua tropa, disseram-lhe que Abner, filho de Ner, fora ao encontro do rei, e este o deixara partir em paz. 24Joab foi ter com o rei e perguntou-lhe: «Que fizeste? Abner, filho de Ner, veio ter contigo. Porque o deixaste partir? 25Sabes que Abner, filho de Ner, veio a ti para te enganar, espiar todos os teus movimentos e sondar tudo o que fazes.» 26E logo que Joab saiu da presença de David, enviou emissários no encalço de Abner, que o fizeram voltar do poço de Sirá, sem que David o soubesse. 27Quando Abner chegou a Hebron, Joab chamou-o à parte, para lhe falar em privado, pacificamente, e ali o feriu mortalmente no ventre, vingando, desta forma, o sangue de seu irmão Asael.
28Ao saber o que tinha acontecido, David exclamou: «Estou inocente, eu e o meu reino, diante do Senhor, do sangue de Abner, filho de Ner. 29Que esse sangue caia sobre a cabeça de Joab e de toda a sua família! Não faltem nunca na casa de Joab os que sofram de corrimento ou de lepra, os que se apoiam num pau, os que morrem à espada e os que não têm pão!» 30Joab e Abisai, seu irmão, assassinaram Abner por este ter morto seu irmão Asael, após a batalha de Guibeon.
31David disse a Joab e a todos os que estavam com ele: «Rasgai as vossas vestes, cobri-vos de saco e chorai Abner.» O rei David seguiu atrás do féretro. 32Abner foi sepultado em Hebron, e o rei chorou em alta voz sobre o seu túmulo e todo o povo o acompanhou no pranto. 33David cantou a seguinte lamentação por Abner:
- «Será que Abner tinha de morrer
- como morrem os insensatos?
- 34As tuas mãos não estavam algemadas,
- nem os teus pés presos a correntes.
- Caíste como se cai nas mãos de criminosos.»
E o povo pôs-se a chorar por ele. 35Os que estavam com David pediam-lhe que tomasse algum alimento antes de terminar o dia. Mas David fez este juramento: «Que Deus me trate com todo o rigor, se eu comer pão ou qualquer outra coisa antes do pôr-do-sol.» 36Todo o povo ouviu e aprovou, pois sempre lhe parecia bem tudo o que o rei fazia. 37Naquele dia, todo o exército e todo o Israel reconheceram que o rei não tivera parte alguma no assassinato de Abner, filho de Ner. 38O rei disse aos seus servos: «Não sabeis que um chefe e um grande homem caiu hoje em Israel? 39Quanto a mim, sou ainda fraco, embora tenha recebido a unção real; e estes homens, filhos de Seruia, são mais fortes do que eu. Mas que o Senhor trate o malfeitor segundo a sua maldade!»
Capítulo 4
Morte de Isboset (9,1-13) – 1Quando Isboset, filho de Saul, soube da morte de Abner, em Hebron, desmaiou e todo o povo de Israel ficou consternado. 2Ele tinha ao seu serviço dois chefes de bando, um chamado Baana e o outro Recab, filhos de Rimon de Beerot, da tribo de Benjamim; pois Beerot pertencia também a Benjamim, 3embora os seus habitantes se tivessem refugiado em Guitaim e residido ali até hoje como forasteiros. 4Jónatas, filho de Saul, tinha um filho paralítico dos dois pés. Quando tinha cinco anos, chegou de Jezrael a notícia da morte de Saul e de Jónatas. Então, a sua ama fugiu com ele e, na precipitação da fuga, o menino caiu e ficou coxo. Chamava-se Mefiboset.
5Os filhos de Rimon de Beerot, Recab e Baana, partiram, no maior calor do dia, e foram à casa de Isboset que estava a dormir a sesta. 6Entraram na casa, como comerciantes carregados de trigo, e feriram-no no ventre; seguidamente, Recab e seu irmão escaparam. 7Isboset repousava no seu leito; feriram-no de morte e cortaram-lhe a cabeça. Tomaram-na depois consigo e caminharam toda a noite pelo caminho da Arabá. 8E levaram a cabeça de Isboset a David, em Hebron, dizendo ao rei: «Eis a cabeça de Isboset, filho de Saul, teu inimigo, que te queria matar. O Senhor concedeu hoje ao meu senhor e rei a vingança sobre Saul e sobre a sua raça.» 9Mas David respondeu a Recab e ao seu irmão Baana, filhos de Beerot: «Pelo Deus vivo, que me salvou de todos os perigos! 10Ao homem que me veio anunciar a morte de Saul, pensando dar-me uma boa notícia, prendi-o e matei-o em Ciclag, como retribuição da sua boa notícia. 11Muito mais ainda agora a homens malvados, que mataram um inocente no seu leito, dentro da sua casa! Não lhes pedirei contas do sangue dele, exterminando-os da superfície da terra?»
12David ordenou aos seus homens que os matassem. Cortaram-lhes as mãos e os pés e penduraram-nos junto do tanque de Hebron. A cabeça de Isboset foi colocada no túmulo de Abner, em Hebron.
Capítulo 5
David rei de Israel (1 Cr 3,1-9; 11,1-3) – 1Todas as tribos de Israel foram ter com David a Hebron e disseram-lhe: «Aqui nos tens: não somos nós da tua carne e do teu sangue? 2Tempos atrás, quando Saul era nosso rei, eras tu quem dirigia as campanhas de Israel e o Senhor disse-te: ‘Tu apascentarás o meu povo de Israel e serás o seu chefe.’» 3Vieram, pois, todos os anciãos de Israel ter com o rei a Hebron. David fez com eles uma aliança diante do Senhor, e eles sagraram-no rei de Israel.
4David tinha trinta anos quando começou a reinar e reinou quarenta anos: 5sete anos e seis meses sobre Judá, em Hebron, e trinta e três anos em Jerusalém, sobre todo o Israel e Judá.
David em Jerusalém (1 Cr 11,4-9; 14,1-7) – 6O rei marchou com os seus homens para Jerusalém, contra os jebuseus, que habitavam aquela terra. Estes disseram a David: «Não entrarás aqui; serás repelido até por cegos e coxos.» Isto queria dizer: «Nunca entrarás aqui.» 7Contudo, David apoderou-se da fortaleza de Sião, que é a Cidade de David. 8David disse naquele dia: «Quem quiser atacar os jebuseus suba pelo canal e mate esses cegos e coxos, que David despreza. Daí, o ditado: ‘Nem cego nem coxo entrarão no templo.’» 9David estabeleceu-se na fortaleza e deu-lhe o nome de Cidade de David. Cercou a cidade de muralhas, de Milo para dentro. 10Deste modo, David ia-se fortificando e o Senhor, Deus do universo, estava com ele. 11Hiram, rei de Tiro, enviou-lhe mensageiros, com madeira de cedro, carpinteiros e pedreiros, para lhe construírem um palácio. 12Então, David reconheceu que o Senhor o confirmava como rei de Israel e exaltava a sua realeza por causa de Israel, seu povo.
13Depois que chegou de Hebron, David tomou outras concubinas e mulheres de Jerusalém e teve delas filhos e filhas. 14Eis os nomes dos filhos que lhe nasceram em Jerusalém: Chamua, Chobab, Natan, Salomão, 15Jibear, Elichua, Néfeg, Jafia, 16Elichamá, Eliadá e Elifélet.
Guerra contra os filisteus (1 Cr 14, 8-17) – 17Os filisteus, ao saberem que David fora ungido rei de Israel, puseram-se todos em campanha para ir em busca dele. Informado disto, David desceu à fortaleza. 18Os filisteus, tendo chegado, espalharam-se pelo Vale dos Gigantes. 19David consultou o Senhor, dizendo: «Devo atacar os filisteus? Irás entregá-los nas minhas mãos?» O Senhor respondeu: «Vai, Eu os entregarei nas tuas mãos.»
20Desceu David a Baal-Perasim e derrotou-os. E disse David: «O Senhor dispersou os meus inimigos diante de mim como as águas de um dique.» E chamou àquele lugar Baal-Perasim. 21Os filisteus deixaram ali os seus ídolos, que caíram nas mãos de David e dos seus homens.
22Os filisteus voltaram ao ataque, espalhando-se pelo Vale dos Gigantes. 23David consultou o Senhor, que lhe disse: «Não vás ao encontro deles, mas dá volta por detrás e ataca-os pelo lado das amoreiras. 24Quando ouvires um rumor de passos, então começarás o combate, porque o Senhor marchará diante de ti para esmagar o exército dos filisteus.»
25David fez como lhe ordenara o Senhor e derrotou os filisteus desde Gueba até Guézer.
Capítulo 6
IV. David e a Arca Êxitos de David (6,1-8,18)
Trasladação da Arca para Jerusalém (1 Sm 4,3-4; 1 Cr 13,1-14; 15,1-29; 16,1-3) – 1David reuniu depois toda a elite de Israel, em número de trinta mil homens, 2e pôs-se a caminho com todos os seus homens, desde Baalat de Judá, para de lá trazer a Arca de Deus, sobre a qual é invocado o nome do Senhor do universo, que está sentado sobre os querubins. 3Colocaram a Arca de Deus num carro novo, tirando-a da casa de Abinadab, situada na colina. Uzá e Aío, filhos de Abinadab, conduziam o carro novo. 4Conduziram-no da casa de Abinadab, que está sobre a colina, e Aío ia adiante da Arca. 5David e toda a casa de Israel dançavam diante do Senhor, ao som de toda a espécie de instrumentos: harpas, cítaras, tamborins, sistros e címbalos. 6Mas, ao chegar à eira de Nacon, Uzá estendeu a mão para a Arca de Deus e amparou-a, porque os bois tinham escorregado. 7Então, o Senhor, sumamente indignado contra Uzá, feriu-o por causa da sua ousadia, morrendo ali mesmo, junto da Arca de Deus. 8David ficou triste por o Senhor ter castigado Uzá e, por isso, chamou àquele lugar Castigo de Uzá, nome que se conserva ainda hoje.
9Naquele dia, David teve grande temor do Senhor, e disse: «Como entrará a Arca do Senhor em minha casa?» 10E não permitiu que a levassem para sua casa, na Cidade de David, mas ordenou que a trasladassem para casa de Obededom, de Gat. 11Ficou a Arca do Senhor três meses na casa de Obededom, de Gat, e o Senhor abençoou-o e a toda a sua família.
12Disseram ao rei que o Senhor abençoara a casa de Obededom e todos os seus bens por causa da Arca de Deus. Foi, pois, David e transportou-a da casa de Obededom para a Cidade de David, com grande regozijo. 13E a cada seis passos que davam os que transportavam a Arca do Senhor, sacrificavam um boi e um carneiro. 14David, cingindo a insígnia votiva de linho, dançava com todas as suas forças diante do Senhor. 15O rei e todos os israelitas conduziram a Arca do Senhor, soltando gritos de alegria e tocando trombetas. 16Ao entrar a Arca do Senhor na Cidade de David, Mical, filha de Saul, olhou pela janela e viu o rei a saltar e a dançar diante do Senhor; e sentiu por ele desprezo em seu coração. 17Introduziram a Arca do Senhor e colocaram-na no seu lugar, no centro do tabernáculo que David construíra para ela; e David ofereceu holocaustos e sacrifícios de comunhão diante do Senhor.
18Quando David acabou de oferecer holocaustos e sacrifícios de comunhão, abençoou o povo em nome do Senhor do universo 19e distribuiu alimentos a toda a multidão dos israelitas, homens e mulheres, dando a cada pessoa, um bolo, um pedaço de carne assada e uma filhó. Depois, toda a multidão se retirou, indo cada um para a sua casa.
20Voltando David para abençoar a sua família, Mical, filha de Saul, saiu ao seu encontro e disse-lhe: «Que bela figura fez hoje o rei de Israel, dando-se em espectáculo às servas de seus vassalos, e descobrindo-se sem pudor, como qualquer homem do povo!» Mas David respondeu: 21«Foi diante do Senhor que dancei, do Senhor que me escolheu e me preferiu a teu pai e a toda a tua família, para me fazer chefe do seu povo de Israel. 22E bailarei ainda mais, e me desonrarei aos meus próprios olhos, mas serei honrado pelas servas de que falaste.» 23E Mical, filha de Saul, não teve mais filhos em todo o tempo que ainda viveu.
Capítulo 7
Promessas de Deus a David (1 Rs 8,15-21; 1 Cr 17,1-15; Lc 1,32-33; Act 2,30-31; 7,45-49) – 1Quando o rei se instalou em sua casa, e o Senhor lhe deu paz, livrando-o dos seus inimigos, 2disse David ao profeta Natan: «Não vês que eu moro num palácio de cedro, enquanto a Arca de Deus está abrigada numa tenda?» 3Natan respondeu-lhe: «Pois bem, faz o que te dita o coração, porque o Senhor está contigo!»
4Mas, naquela mesma noite, o Senhor falou a Natan, dizendo-lhe: 5«Vai dizer ao meu servo David: Diz o Senhor: “És tu que me vais construir uma casa para Eu habitar? 6Desde que fiz subir da terra do Egipto os filhos de Israel até ao dia de hoje, não habitei em casa alguma; mas peregrinava alojado numa tenda que me servia de morada. 7E, durante todo o tempo em que andei no meio dos israelitas, disse, porventura, a algum dos chefes de Israel que encarreguei de apascentar o meu povo: ‘Porque não me edificais uma casa de cedro?’ 8Dirás, pois, agora, ao meu servo David: Diz o Senhor do universo: Eu tirei-te das pastagens onde apascentavas as tuas ovelhas, para fazer de ti o chefe de Israel, meu povo. 9Estive contigo em toda a parte por onde andaste; exterminei diante de ti todos os teus inimigos e fiz o teu nome tão célebre como o nome dos grandes da terra. 10Fixarei um lugar para Israel, meu povo; nele o instalarei, e ali habitará, sem jamais ser inquietado; e os filhos da iniquidade não mais o oprimirão, como outrora, 11no tempo em que Eu estabelecia juízes sobre o meu povo, Israel. A ti concedo uma vida tranquila, livrando-te de todos os teus inimigos.
Além disso, o Senhor faz hoje saber que será Ele próprio quem edificará uma casa para ti. 12Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, manterei depois de ti a descendência que nascerá de ti e consolidarei o seu reino. 13Ele construirá um templo ao meu nome, e Eu firmarei para sempre o seu trono régio. 14Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. Se ele cometer alguma falta, hei-de corrigi-lo com varas e com açoites, como fazem os homens, 15mas não lhe tirarei a minha graça, como fiz a Saul, a quem afastei diante de ti. 16A tua casa e o teu reino permanecerão para sempre diante de mim, e o teu trono estará firme para sempre”.»
17Foi segundo estas palavras e esta visão que Natan falou a David. 18Então, David foi apresentar-se diante do Senhor e disse-lhe:
«Quem sou eu, Senhor Deus,
e quem é a minha família,
para que me tenhas conduzido até aqui?
19E, como se isto fosse pouco para ti, Senhor Deus,
fizeste também promessas à família do teu servo para os tempos futuros!
Porque esta é a lei do homem, ó Senhor Deus!
20Que mais poderá David acrescentar agora?
Tu conheces o teu servo, Senhor Deus!
21Conforme a tua palavra e segundo o teu coração,
fizeste todas essas grandes coisas
para as manifestar ao teu servo.
22Por isso, és grande, ó Senhor Deus.
Não há ninguém semelhante a ti
e não há outro Deus além de ti,
segundo o que ouvimos dizer.
23E que nação há na terra, semelhante ao povo de Israel,
a quem o seu Deus veio resgatar
para que se tornasse o seu povo,
engrandecendo o seu nome,
operando em seu favor grandes e terríveis prodígios,
e expulsando diante do seu povo,
resgatado do Egipto, as nações e os seus deuses?
24Estabeleceste solidamente o teu povo, Israel,
para ser eternamente o teu povo,
e Tu, Senhor, seres o seu Deus.
25Agora, pois, Senhor Deus,
cumpre para sempre a promessa que fizeste
ao teu servo e à sua casa e faz como disseste.
26O teu nome será exaltado para sempre
e dir-se-á: ‘O Senhor do universo é o Deus de Israel.’
E permanecerá estável diante de ti
a casa do teu servo David.
27Porque Tu próprio, ó Senhor do universo,
Deus de Israel, fizeste ao teu servo esta revelação:
‘Eu te construirei uma casa.’
Por isso, o teu servo se animou a dirigir-te esta prece.
28Agora, ó Senhor Deus, só Tu és Deus,
e as tuas palavras são a própria verdade.
Já que prometeste ao teu servo estes bens,
29abençoa, desde agora, a sua casa,
para que ela subsista para sempre diante de ti:
porque Tu, Senhor Deus, falaste
e, graças à tua bênção,
a casa do teu servo será abençoada eternamente.»
Capítulo 8
Guerras e triunfos de David (1 Rs 11,14-25; 1 Cr 18,1-13) – 1Depois disto, David derrotou e humilhou os filisteus, tirando-lhes a hegemonia. 2Também derrotou os moabitas; mandou deitá-los por terra e mediu-os com uma corda: dois terços foram para a morte e uma terça parte, para a vida. Os moabitas tornaram-se súbditos de David e ficaram seus tributários. 3David derrotou igualmente Hadad-Ézer, filho de Reob, rei de Soba, quando este marchou com o seu exército para estender os seus domínios até ao rio Eufrates. 4David tomou-lhe mil e setecentos cavaleiros e vinte mil soldados de infantaria e cortou os jarretes de todos os cavalos dos seus carros, sem deixar mais do que cem. 5Os arameus de Damasco correram em socorro de Hadad-Ézer, rei de Soba, mas foram derrotados por David, que abateu vinte e dois mil deles. 6Depois disto, estabeleceu guarnições sobre os sírios de Damasco, e os arameus tornaram-se súbditos de David, ficando seus tributários. Deste modo, o Senhor fazia com que David triunfasse em todas as expedições. 7David tomou os escudos de ouro dos soldados de Hadad-Ézer e levou-os para Jerusalém. 8De Beta e de Berotai, cidades de Hadad-Ézer, levou ainda bronze em grande quantidade.
9Então, Toú, rei de Hamat, ouvindo dizer que David tinha desbaratado o exército de Hadad-Ézer, 10enviou o seu filho Haduram ao rei David, a fim de o saudar e felicitar pela vitória sobre Hadad-Ézer, pois Hadad-Ézer era inimigo de Toú. Haduram levou a David muitos presentes de prata, ouro e bronze, 11que o rei consagrou ao Senhor, juntamente com a prata e o ouro procedentes de todos os povos que subjugara: 12arameus, moabitas, amonitas, filisteus e amalecitas; e ainda o espólio de Hadad-Ézer, filho de Reob, rei de Soba.
13Ao regressar da sua vitória sobre os arameus, David aumentou ainda o seu renome, vencendo dezoito mil edomitas no Vale do Sal. 14Estabeleceu, então, governadores em todo o país de Edom, e todos os edomitas ficaram a ser seus súbditos. Assim, o Senhor fazia com que David triunfasse em todas as expedições que empreendia.
Funcionários da corte de David (20,23-26; 1 Cr 18,14-17) – 15Reinou David sobre todo o Israel, administrando a justiça e o direito a todo o seu povo. 16Joab, filho de Seruia, comandava o exército, e Josafat, filho de Ailud, era seu cronista; 17Sadoc, filho de Aitub, e Aimélec, filho de Abiatar, eram sacerdotes, e Seraías era secretário. 18Benaías, filho de Joiadá, capitaneava os cretenses e os peleteus. Os filhos de David eram sacerdotes.
Capítulo 9
V. Sucessão de David (9-20)
David e Mefiboset (16,1-4; 19,25-31; 21,1-14) – 1Disse David: «Terá ficado alguém da casa de Saul, a quem eu possa fazer bem por amor de Jónatas?» 2Ora havia na família de Saul um servo chamado Ciba. David mandou-o chamar e disse-lhe: «És tu Ciba?» Ele respondeu: «Sim, para te servir.» 3Perguntou-lhe o rei: «Vive porventura alguém da família de Saul, a quem eu possa fazer grandes mercês, da parte de Deus?» Ciba respondeu: «Vive ainda um filho de Jónatas, paralítico de ambos os pés.» 4O rei perguntou: «Onde está ele?» Ciba respondeu: «Está na casa de Maquir, filho de Amiel, em Lodebar.» 5E o rei mandou buscá-lo à casa de Maquir, filho de Amiel, em Lodebar.
6Quando Mefiboset, filho de Jónatas, filho de Saul, chegou à presença de David, prostrou-se com o rosto por terra. David disse-lhe: «Mefiboset!» Ele respondeu: «Aqui me tens, senhor, para te servir.» 7David disse-lhe: «Não tenhas receio. Quero fazer-te bem, por amor de Jónatas, teu pai. Restituir-te-ei todos os bens de Saul, teu avô, e comerás sempre à minha mesa.» 8Mefiboset prostrou-se, dizendo: «Quem é o teu servo, para que dês atenção a um cão morto como eu?»
9O rei, depois, chamou Ciba, servo de Saul, e declarou-lhe: «Tudo o que pertenceu a Saul, à sua família e à sua casa, eu o dou ao filho do teu senhor. 10Lavrarás a terra para ele, tu, os teus filhos e a tua gente, e cuidarás de prover de alimentos o filho do teu senhor. Quanto a Mefiboset, filho do teu senhor, ele comerá sempre à minha mesa.» Ciba tinha quinze filhos e vinte escravos. 11Ciba disse ao rei: «Teu servo fará tudo o que o rei, meu senhor, lhe ordenou.»
Mefiboset comia, pois, à mesa de David, como um dos filhos do rei. 12Tinha um filho menor chamado Mica; todos os que pertenciam à casa de Ciba estavam ao serviço de Mefiboset. 13Este vivia em Jerusalém, porque comia todos os dias à mesa do rei; era paralítico de ambos os pés.
Capítulo 10
Guerra contra os amonitas e os sírios (8,3-8; 12,26-31; 1 Cr 19,1-19; 20,1-3) – 1Depois disto, morreu o rei dos amonitas, e seu filho Hanun sucedeu-lhe no trono. 2Disse então David: «Quero pôr-me de boas relações com Hanun, filho de Naás, tal como fez seu pai para comigo.» Enviou-lhe, pois, mensageiros para o consolar pela morte de seu pai. Quando os servos de David chegaram à terra dos chefes dos amonitas, 3estes disseram a Hanun, seu senhor: «Julgas que David pretende honrar teu pai, mandando-te consoladores? Não será antes para examinar, espiar e destruir a cidade que David enviou os seus servos?» 4Então, Hanun prendeu os servos de David, rapou-lhes metade da barba, cortou-lhes as vestes quase até à cintura e mandou-os embora. 5David, ao ter conhecimento disto, enviou mensageiros ao encontro deles, pois estavam profundamente humilhados, para lhes dizer: «Ficai em Jericó até que vos cresça de novo a barba. Só então voltareis.»
6Mas os amonitas, ao verem que se tinham tornado odiosos a David, contrataram os arameus de Bet-Reob e de Soba, ou seja, vinte mil soldados de infantaria, o rei de Maacá, com mil homens, e o de Tob, com doze mil. 7Sabedor disso, David enviou contra eles Joab com todo o exército e os mais valentes guerreiros. 8Os amonitas saíram e puseram-se em linha de combate à entrada da porta da cidade, ao passo que os arameus de Soba e de Reob ficaram no campo, com os homens de Tob e de Maacá. 9Joab, vendo que iam arremeter contra ele de frente e pela retaguarda, escolheu os melhores de Israel e colocou-os em linha de batalha contra os arameus. 10Confiou o resto do exército a seu irmão Abisai, que dirigiu o ataque contra os amonitas. 11Disse-lhe: «Se os arameus prevalecerem contra mim, tu virás em meu socorro; e se os amonitas prevalecerem contra ti, irei eu em teu auxílio. 12Porta-te como homem de valor, lutemos pelo nosso povo e pelas cidades do nosso Deus. O Senhor faça o que melhor lhe parecer.» 13Joab avançou com a sua tropa contra os arameus, que fugiram diante deles. 14Vendo os arameus em fuga, os amonitas recuaram também diante de Abisai e voltaram para a cidade. E Joab regressou da campanha contra os amonitas e foi para Jerusalém.
15Os arameus, vendo-se batidos pelos israelitas, reuniram-se em massa. 16Hadad-Ézer enviou então um delegado para mobilizar os arameus do outro lado do rio, e estes vieram a Helam, chefiados por Chobac, general de Hadad-Ézer. 17David, informado disto, reuniu todo o Israel, passou o Jordão e chegou a Helam. Os arameus colocaram-se em linha de batalha contra David. 18Mas os arameus fugiram diante de Israel; David destroçou-lhes seiscentos carros e matou quarenta mil cavaleiros. Feriu também o general Chobac, que morreu naquele mesmo lugar. 19Todos os reis que eram vassalos de Hadad-Ézer, vendo-se vencidos pelos israelitas, fizeram a paz com estes e tornaram-se seus tributários. Daí por diante os arameus não se atreveram mais a prestar socorro aos amonitas.