Capítulo 11
Mulheres estrangeiras e pecado de Salomão – 1O rei Salomão amou muitas mulheres estrangeiras: a filha do Faraó e além disso moabitas, amonitas, edomitas, sidónias e hititas. 2Eram oriundas de povos de quem o Senhor dissera aos filhos de Israel: «Não tomareis deles mulheres para vós nem eles se casarão com as vossas, porque certamente haviam de perverter os vossos corações, arrastando-os para os seus deuses.» Foi precisamente a estes povos que Salomão se ligou, por causa dos seus amores. 3Teve setecentas esposas de sangue nobre e trezentas concubinas. Foram as suas mulheres que lhe perverteram o coração.
4Na idade senil de Salomão, as suas mulheres desviaram-lhe o coração para outros deuses; e assim o seu coração já não era inteiramente do Senhor, seu Deus, contrariamente ao que sucedeu com David, seu pai. 5Foi atrás de Astarté, deusa dos sidónios, e de Milcom, abominação dos amonitas. 6Salomão fez o mal aos olhos do Senhor e não seguiu inteiramente o Senhor, como David, seu pai. 7Por essa altura, ergueu Salomão um lugar alto a Camós, deus de Moab e a Moloc, ídolo dos amonitas, sobre o monte que fica mesmo em frente de Jerusalém. 8E fez o mesmo por todas as suas mulheres estrangeiras, que queimavam incenso e sacrificavam aos seus deuses. 9O Senhor irritou-se contra Salomão, pois o seu coração se afastara do Senhor, Deus de Israel, que se lhe tinha revelado por duas vezes, 10e lhe ordenou sobre estas coisas para não seguir os deuses estrangeiros. Ele, porém, não cumpriu o que o Senhor lhe prescrevera.
11Então o Senhor disse-lhe: «Já que procedeste assim e não guardaste a minha aliança nem as leis que te prescrevi, vou tirar-te o reino e vou dá-lo a um dos teus servos. 12Entretanto, não o farei durante a tua vida, por causa de David teu pai; é das mãos de teu filho que Eu o arrancarei. 13Mas não hei-de tirar-lhe toda a realeza: deixarei uma tribo ao teu filho, por causa de David, meu servo, e por causa de Jerusalém que Eu escolhi.»
Inimigos de Salomão – 14O Senhor suscitou um inimigo a Salomão: Hadad, o edomita, da estirpe real de Edom. 15Isto aconteceu no tempo em que David combatia contra Edom, quando Joab, chefe do exército, foi sepultar os mortos e matou todos os homens de Edom. 16De facto, Joab demorou-se por ali seis meses com todo o Israel, até ter exterminado todos os varões de Edom. 17Então Hadad fugiu com os edomitas, servos de seu pai, em direcção ao Egipto. 18Hadad, por essa altura, era uma criança de poucos anos. Partiram de Madian e caminharam até Paran; dali entraram no Egipto, levando consigo homens de Paran; entraram no Egipto e apresentaram-se ao faraó, rei do Egipto, que lhes deu casa e alimento e lhes doou algumas terras. 19Hadad conquistou a simpatia do Faraó, e este deu-lhe por mulher a sua cunhada, irmã da rainha Tafnes. 20A irmã de Tafnes gerou-lhe Guenubat, seu filho, que ela criou na casa do Faraó, onde viveu entre os filhos do próprio Faraó. 21Hadad ouviu dizer no Egipto que David adormecera com seus pais, e que também morrera Joab, chefe do exército. Por isso, disse ao Faraó: «Deixa-me partir e irei para a minha terra.» 22O Faraó respondeu-lhe: «Mas que é que te falta em minha casa, para assim desejares regressar tão depressa à tua terra?» E Hadad respondeu: «Não me falta nada; mas, mesmo assim, deixa-me partir.» 23Deus suscitou-lhe outro inimigo: Rezon, filho de Eliadá, que tinha fugido a seu senhor, Hadad-Ézer, rei de Soba. 24Reuniu homens à sua volta e tornou-se chefe de quadrilha. Uma vez que David os dizimava, fugiram para Damasco, onde se estabeleceram, e elegeram-no rei de Damasco. 25Foi inimigo de Israel durante toda a vida de Salomão. Mal que fez Hadad: detestou Israel e reinou em Aram.
Revolta de Jeroboão (12,1-15) – 26Também Jeroboão, filho de Nabat, efrateu de Sereda, cuja mãe, viúva, se chamava Serua, apesar de ser servo de Salomão, revoltou-se contra o rei. 27A razão de ele se ter revoltado contra o rei foi o facto de Salomão ter edificado Milo para tapar as brechas da cidade de David, seu pai. 28Ora este homem, Jeroboão, era forte e enérgico, e Salomão tinha reparado no jovem quando este andava a trabalhar; encarregou-o, por isso, de exercer vigilância sobre toda a corveia da casa de José. 29Sucedeu, porém, que, por essa altura, saindo Jeroboão de Jerusalém, o profeta Aías de Silo encontrou-o no caminho. Aías estava coberto com um manto novo, e estavam só os dois no campo. 30Então, Aías tomou o manto novo com que se cobria e rasgou-o em doze pedaços. 31E disse a Jeroboão: «Toma dez pedaços para ti, pois assim diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Eis que Eu vou tirar o reino das mãos de Salomão e dar-te-ei as dez tribos. 32Ficar-lhe-á, porém, uma tribo por causa do meu servo David e da cidade de Jerusalém, que Eu escolhi de entre todas as tribos de Israel. 33É que eles abandonaram-me e prostraram-se diante de Astarté, deusa dos sidónios, de Camós, deus de Moab e de Milcom, deus dos filhos de Amon; não andaram nos meus caminhos nem fizeram o que é recto a meus olhos, segundo as minhas leis e os meus costumes, como fez David, seu pai. 34Mesmo assim, não tirarei todo o reino das suas mãos, porque o estabeleci firmemente como chefe por todos os dias da sua vida, por causa de David, meu servo, que Eu escolhi e que guardou os meus mandamentos e as minhas leis. 35Mas vou tirar o reino das mãos de seu filho e dar-to-ei a ti: dez tribos. 36Darei a seu filho uma tribo, a fim de que o meu servo David tenha sempre uma lâmpada diante de mim na cidade de Jerusalém que escolhi para mim, a fim de estabelecer lá o meu nome. 37A ti tomar-te-ei para reinares em tudo o que o teu coração desejar; tu serás rei de Israel!
38Se ouvires tudo o que te mando, andares nos meus caminhos e fizeres o que é recto a meus olhos, guardando as minhas leis e os meus mandamentos, como fez David, meu servo, também Eu estarei contigo e hei-de construir-te uma casa firme, como edifiquei para David: entregarei Israel nas tuas mãos. 39Humilharei com isso a estirpe de David, mas não será para sempre!’»
40Salomão procurou matar Jeroboão; mas ele levantou-se e fugiu para o Egipto, para junto de Chichac, rei do Egipto, onde permaneceu até à morte de Salomão.
Fim do reinado de Salomão (2 Cr 9,29-31) – 41O resto das palavras de Salomão, tudo o que ele fez, a sua ciência, está escrito no Livro dos Anais de Salomão. 42A duração do reinado de Salomão em Jerusalém, sobre todo o Israel, foi de quarenta anos. 43Depois, Salomão morreu, juntando-se a seus pais, e foi sepultado na cidade de David, seu pai; seu filho Roboão subiu ao trono no seu lugar.
Capítulo 12
II. Divisão do reino Reis de Israel (12,1-22,54)
Roboão em Siquém. Divisão do reino (11,26-40; 2 Cr 10,1-19) – 1Roboão foi a Siquém, porque todo o Israel se reunira em Siquém para o proclamar rei. 2Ora, quando Jeroboão, filho de Nabat, teve conhecimento disso encontrava-se ainda no Egipto, pois tinha fugido da presença do rei Salomão e residia no Egipto. 3Mandaram, pois, chamá-lo; Jeroboão veio com toda a assembleia de Israel para falarem com Roboão, dizendo: 4«Teu pai tornou pesado o nosso jugo; tu, agora, alivia-nos da pesada escravidão de teu pai, do pesado jugo que ele nos impôs, e nós te serviremos!» 5Ele respondeu-lhes: «Ide-vos embora; dentro de três dias voltareis à minha presença.» E o povo foi-se embora. 6Então o rei consultou os anciãos que sempre tinham sido os conselheiros de Salomão, seu pai, enquanto viveu, dizendo: «Que me aconselhais que responda a este povo?» 7Eles responderam: «Se hoje te fizeres servo deles, se fores condescendente, se lhes falares com palavras agradáveis, eles serão teus servidores por todo o sempre.»
8O rei, porém, rejeitando o conselho que lhe tinham dado os anciãos, foi aconselhar-se junto dos jovens, seus companheiros de infância, e que estavam então ao seu serviço. 9E disse-lhes: «A este povo que me disse: ‘Alivia o jugo que teu pai nos impôs’, que me aconselhais vós que responda?» 10Os jovens, seus companheiros de infância, responderam-lhe, dizendo: «A esse povo que te falou, dizendo: ‘O teu pai tornou pesado o nosso jugo; alivia-nos dele’, responderás assim: ‘O meu dedo mindinho é mais grosso do que os rins do meu pai. 11Doravante, já que meu pai vos carregou com um jugo pesado, eu vou torná-lo ainda mais pesado; meu pai castigou-vos com açoites; pois eu vos castigarei com azorragues!’»
12Jeroboão e todo o povo vieram ter com Roboão ao terceiro dia, conforme o rei tinha dito: «Vinde ter comigo ao terceiro dia.» 13O rei respondeu asperamente ao povo, desprezando o conselho que os anciãos lhe tinham dado, 14e falou-lhes conforme o aconselharam os jovens dizendo: «Meu pai impôs-vos um jugo muito pesado? Pois eu vos aumentarei ainda o peso! Meu pai castigou-vos com açoites? Pois eu vos castigarei com azorragues!» 15O rei não ouviu o povo, pois foi este o meio usado indirectamente pelo Senhor para cumprir a sua palavra, que Ele dissera a Jeroboão, filho de Nabat, por meio de Aías de Silo.
16Todo o Israel viu então que o rei não queria ouvi-los, e replicaram assim ao rei: «Que temos nós a ver com David? Nós não temos herança com o filho de Jessé! Vai para as tuas tendas, Israel! A partir de agora, cuida da tua casa, David!» E Israel foi para as suas tendas. 17Mas Roboão continuou a reinar sobre os filhos de Israel que ficaram nas cidades de Judá. 18O rei Roboão delegou Adoram como superintendente dos tributos, mas todo o Israel o apedrejou e ele morreu. Então o rei Roboão saiu precipitadamente no seu carro e fugiu para Jerusalém. 19Israel esteve em revolta contra a casa de David até ao dia de hoje.
20Quando todo o Israel teve conhecimento de que Jeroboão tinha regressado, mandaram-no chamar à assembleia e nomearam-no rei sobre todo o Israel. Não houve quem seguisse a casa de David a não ser unicamente a tribo de Judá. 21Roboão chegou a Jerusalém, reuniu toda a casa de Judá e a tribo de Benjamim, ou seja, cento e oitenta mil guerreiros de elite, para lutar contra a casa de Israel, a fim de restituir o reino a Roboão, filho de Salomão. 22Foi então que a palavra de Deus foi dirigida ao homem de Deus Chemaías, dizendo: 23«Fala a Roboão, filho de Salomão, rei de Judá, e a toda a casa de Judá e Benjamim e ao restante povo e diz-lhes: 24Assim fala o Senhor: ‘Não façais guerra contra os vossos irmãos, os filhos de Israel! Volte cada qual para a sua casa, pois fui Eu mesmo quem provocou este acontecimento.’» Eles ouviram as palavras do Senhor e voltaram para procederem segundo a palavra do Senhor.
Reinado de Jeroboão (931-910). Cisma religioso – 25Jeroboão edificou Siquém na montanha de Efraim e viveu ali. Depois saiu de lá e edificou Penuel. 26E disse Jeroboão para consigo: «Como as coisas estão, pode muito bem o reino voltar para a casa de David. 27Se este povo continua a subir à casa do Senhor que está em Jerusalém para aí oferecer sacrifícios, o coração deste povo é capaz de regressar a Roboão, seu senhor, rei de Judá! Hão-de esmagar-me e regressarão a Roboão, rei de Judá.» 28Então, o rei deliberou para consigo e mandou fazer dois bezerros de ouro e disse-lhes: «Vós tendes subido a Jerusalém com demasiada frequência. Aqui estão os vossos deuses, ó Israel, aqueles que vos fizeram sair da terra do Egipto.»
29E colocou um em Betel e o outro em Dan. 30Nisto consistiu o pecado: o povo pôs-se em marcha à frente de um dos bezerros até Dan. 31Jeroboão construiu templos nos lugares altos, nomeou sacerdotes de entre a massa do povo, que não eram filhos de Levi. 32Jeroboão instituiu ainda uma festa no oitavo mês, no décimo quinto dia do mês, como a festa que se celebrava em Judá; ele mesmo subiu ao altar. Assim fez também em Betel, para sacrificar aos bezerros que tinha mandado fazer. Estabeleceu em Betel sacerdotes dos lugares altos que tinha instituído. 33No décimo quinto dia do oitavo mês, data que por seu arbítrio instituira, subiu ao altar que levantara em Betel; celebrou uma festa para os filhos de Israel e ele mesmo subiu ao altar para queimar o incenso.
Capítulo 13
Um profeta repreende Jeroboão – 1Estando Jeroboão de pé diante do altar para apresentar um sacrifício, eis que vem de Judá a Betel, por ordem do Senhor, um homem de Deus. 2Pôs-se a clamar contra o altar, segundo a palavra do Senhor, dizendo: «Altar! Altar! Assim fala o Senhor. Um filho vai nascer à casa de David que se há-de chamar Josias; e ele degolará sobre ti os sacerdotes dos lugares altos que agora queimam sobre ti o incenso; sobre ti serão queimados ossos humanos.»
3Nesse mesmo dia deu um sinal, dizendo: «Este é o sinal que o Senhor pronunciou: Eis que o altar vai abrir fendas; e vai espalhar-se a cinza que está sobre ele!» 4Quando ouviu as palavras que o homem de Deus gritou contra o altar em Betel, Jeroboão estendeu o braço contra o altar e disse: «Prendei-o!» Mas a mão que estendera contra o homem de Deus secou-se-lhe, de modo que não a podia mexer. 5O altar abriu fendas e a cinza que estava sobre ele espalhou-se, conforme o sinal que o homem de Deus tinha dado, por ordem do Senhor. 6Então o rei disse ao homem de Deus: «Aplaca o Senhor, teu Deus; roga por mim para que eu volte a ter sã a minha mão!» O homem de Deus rogou ao Senhor e a mão do rei voltou para ele, e estava tal como era antes.
7Então o rei falou ao homem de Deus: «Vem comigo a minha casa para te restabeleceres e dar-te-ei um presente.» 8O homem de Deus disse ao rei: «Nem que me desses metade da tua casa, eu não iria contigo! E não comerei o pão nem beberei água neste lugar. 9Pois tal é a ordem que recebi do Senhor, que me disse: ‘Não comerás pão, não beberás água nem regressarás pelo caminho por onde foste.’» 10E foi-se embora por outro caminho, sem regressar pelo caminho por onde fora para Betel.
11Morava em Betel um profeta idoso; seus filhos vieram ter com ele e contaram-lhe tudo quanto fizera nesse dia o homem de Deus, em Betel. Todas as palavras que ele dissera ao rei, contaram-nas igualmente ao seu pai. 12O pai perguntou-lhes: «Por qual caminho foi ele?» Os filhos informaram-no acerca do caminho por onde se fora o homem de Deus vindo de Judá. 13Disse ele então aos seus filhos: «Selai-me o jumento!» Eles selaram-lho e ele montou.
14Partiu logo no encalço do homem de Deus e alcançou-o quando ele estava sentado debaixo de um terebinto; e disse-lhe: «És tu o homem de Deus que veio de Judá?» Ele respondeu: «Sou eu mesmo.» 15Então disse-lhe: «Vem comigo à minha casa, comer um pouco de pão.» 16Ele respondeu: «Não posso voltar atrás nem ir contigo; não comerei pão, nem beberei água contigo neste lugar. 17É que o Senhor dirigiu-me a palavra para que não comesse pão aqui nem bebesse água, nem voltasse pelo mesmo caminho por onde vim para aqui.» 18Disse-lhe então: «Também eu sou profeta como tu, e um anjo disse-me: Palavra do Senhor: ‘Fá-lo voltar contigo para tua casa e fá-lo comer pão e beber água.’» Ele mentia-lhe! 19O homem de Deus voltou com ele, comeu pão em sua casa e bebeu água.
20Ora quando eles estavam sentados à mesa, a palavra do Senhor foi dirigida ao profeta que o tinha feito voltar. 21E o velho profeta clamou ao homem de Deus que tinha vindo de Judá, dizendo: «Assim fala o Senhor: Já que desobedeceste ao Senhor e não guardaste a ordem que o Senhor Deus te deu; 22já que voltaste atrás, comeste pão e bebeste água no lugar acerca do qual te dissera: ‘Não comerás aí pão, nem beberás água’, o teu cadáver não regressará ao túmulo dos teus pais.» 23Depois de o homem de Deus ter comido pão e ter bebido, o profeta selou-lhe o jumento e ele partiu. 24Pelo caminho encontrou um leão, que o matou; o seu cadáver ficou estendido no caminho e, junto dele, o jumento de um lado, e do outro o leão. 25Eis que então os transeuntes viram o cadáver estendido no caminho e o leão postado junto do cadáver; vieram então contar isso na cidade em que habitara o velho profeta. 26 Ouviu isto o profeta que o tinha feito voltar, e disse assim o homem de Deus: «Este é o homem de Deus que desobedeceu ao Senhor; o Senhor entregou-o ao leão que o dilacerou e matou, segundo a palavra que o Senhor lhe dissera.» 27E falou com os seus filhos, dizendo: «Selai-me o jumento.» Eles selaram-no. 28Partiu então e encontrou o cadáver estendido no caminho, tendo a seu lado o jumento e o leão. O leão não devorara o cadáver nem tinha quebrado um osso ao jumento. 29O profeta tomou o cadáver do homem de Deus, pô-lo sobre o jumento e levou-o. O velho profeta voltou para a cidade para cumprir o luto e sepultá-lo. 30Depositou o cadáver no seu túmulo e chorou sobre ele, dizendo: «Ai, meu irmão!» 31Depois de tê-lo sepultado falou aos seus filhos, dizendo: «Quando eu morrer, haveis de me sepultar no túmulo em que está sepultado o homem de Deus; poreis os meus ossos ao lado dos ossos dele. 32Mas tem de se cumprir inexoravelmente a ameaça que ele gritou como palavra do Senhor contra o altar que está em Betel e contra todos os templos dos lugares altos que há nas cidades da Samaria.»
33Não obstante estas palavras, Jeroboão não se converteu da sua conduta perversa. Mas continuou a fazer sacerdotes dos lugares altos a homens oriundos da massa do povo; a quem ele queria, consagrava-os e ficavam sacerdotes dos lugares altos.
34Nisto é que consistiu o pecado da casa de Jeroboão; por isso é que ela foi destruída e desapareceu da face da terra.
Capítulo 14
Aías prediz a morte do filho de Jeroboão – 1Por essa altura, Abias, filho de Jeroboão, caiu doente. 2Jeroboão disse pois à sua esposa: «Levanta-te, por favor, disfarça-te, para que não reconheçam que és a mulher de Jeroboão, e vai a Silo; lá se encontra Aías, o profeta; ele disse de mim que eu hei-de reinar sobre este povo. 3Leva contigo dez pães, bolos e um pote de mel e vai ao seu encontro. Ele te contará o que está para acontecer ao rapaz.»
4A esposa de Jeroboão assim fez. Levantou-se e foi a Silo, à casa de Aías. Ele já não conseguia ver; por causa da velhice, os seus olhos tinham paralisado. 5O Senhor, porém, falou assim a Aías: «Eis que a esposa de Jeroboão vem à procura de uma palavra tua sobre o seu filho que está doente; dir-lhe-ás assim e assim.» Ao chegar, ela fez-se passar por outra pessoa. 6Aías, ao ouvir o ruído dos seus pés, quando ela chegava à sua porta, disse-lhe: «Entra, ó mulher de Jeroboão; porque é que te queres fazer passar por outra? Eu fui enviado para te falar com dureza. 7Vai e diz a Jeroboão: Assim falou o Senhor, Deus de Israel: ‘Eu tirei-te do meio do povo, e estabeleci-te chefe do meu povo de Israel. 8Eu arrebatei a realeza da casa de David para ta dar a ti; mas tu não foste como o meu servo David, que cumpriu os meus preceitos e os seguiu de todo o coração, fazendo sempre o que era justo aos meus olhos. 9Mas tu procedeste pior do que todos quantos vieram antes de ti; tu fizeste para ti outros deuses e estátuas, a ponto de me desagradares; a mim, deixaste-me atrás das costas. 10Por isso, eis que Eu vou lançar uma desgraça sobre a casa de Jeroboão; arrancarei de Jeroboão todos os homens, sejam eles escravos ou sejam homens livres em Israel; vou varrer os descendentes da casa de Jeroboão como se varre o esterco até desaparecer. 11Quando alguém de Jeroboão morrer na cidade, hão-de comê-lo os cães; e quando alguém morrer no campo, comê-lo-ão as aves do céu, pois que o Senhor falou.’ 12E tu levanta-te, vai para tua casa; mal teus pés entrem na cidade, morrerá o menino. 13Todo o Israel o há-de chorar, e lhe darão sepultura; ele será o único da casa de Jeroboão a entrar num túmulo; pois, da casa de Jeroboão, só nele se encontrou algo de bom para o Senhor Deus de Israel. 14O Senhor suscitará um rei sobre Israel, o qual destruirá a casa de Jeroboão. E isto é para hoje. Melhor, é para já! 15O Senhor ferirá Israel; tal como se agita nas águas o caniço, Ele arrancará Israel desta boa terra, que dera a seus pais, e o dispersará para além do rio Eufrates, porque ergueram monumentos a Achera, irritando o Senhor. 16Ele entregará Israel, por causa dos crimes de Jeroboão, os que ele cometeu e os que fez cometer a Israel’.»
17A esposa de Jeroboão levantou-se, partiu e foi para Tirça; quando chegou ao limiar da porta de casa, o menino morreu. 18Sepultaram-no e todo o Israel celebrou luto por ele, conforme a palavra do Senhor, transmitida por meio do seu servo, o profeta Aías. 19O resto dos feitos de Jeroboão, as guerras que fez e o seu reinado, tudo isso está narrado no Livro dos Anais dos Reis de Israel.
20O reinado de Jeroboão durou vinte e dois anos. Depois morreu, juntando-se a seus pais. Sucedeu-lhe no reinado seu filho Nadab.
Roboão, rei de Judá (931-914) (2 Cr 11,5-12,16) – 21Roboão, filho de Salomão, tornou-se rei em Judá; tinha quarenta e um anos, quando se tornou rei. Reinou dezassete anos em Jerusalém, a cidade que o Senhor escolhera de entre todas as tribos de Israel, para ali colocar o seu nome. O nome de sua mãe era Naamá, a amonita. 22Ora Judá fez o mal diante dos olhos do Senhor e, com os pecados que cometeu, provocou mais o seu ciúme do que o tinham feito os seus pais com os pecados que cometeram. 23Edificaram para si lugares altos, altares e monumentos de Achera sobre todas as altas colinas e debaixo de todas as árvores frondosas. 24Houve mesmo prostituição sagrada no país; procederam segundo todas as abominações dos povos que o Senhor tinha expulsado para longe da face de Israel. 25No quinto ano do reinado de Roboão, Chichac, rei do Egipto, subiu contra Jerusalém. 26Apossou-se dos tesouros da casa do Senhor e do palácio real; levou tudo. Levou mesmo os escudos de ouro que Salomão tinha mandado fazer. 27O rei Roboão mandou então fazer escudos de bronze para os substituir, e entregou-os aos chefes dos corredores que vigiavam a entrada do palácio real. 28Sempre que o rei ia ao templo do Senhor, os corredores levavam os escudos; depois tornavam a levá-los à sala dos corredores. 29O resto dos feitos de Roboão, tudo o que ele fez, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 30Houve sempre guerra entre Roboão e Jeroboão.
31Roboão morreu, juntando-se a seus pais, e com eles foi sepultado na cidade de David; o nome de sua mãe era Naamá, a amonita; seu filho Abiam tornou-se rei em seu lugar.
Capítulo 15
Abiam, rei de Judá (915-913) (2 Cr 13,1-23) – 1No décimo oitavo ano do reinado de Jeroboão, filho de Nabat, Abiam tornou-se rei de Judá. 2Reinou durante três anos sobre Jerusalém. Sua mãe chamava-se Maaca, filha de Absalão. 3Cometeu todos os pecados que seu pai tinha cometido antes dele; o seu coração não foi integralmente fiel ao Senhor, seu Deus, como fora o de seu pai David.
4Foi por causa de seu pai David que o Senhor Deus lhe concedeu uma lâmpada em Jerusalém, suscitando-lhe um filho para conservar Jerusalém. 5Isso foi porque David sempre tinha feito o que é recto aos olhos do Senhor, sem nunca se afastar em nada daquilo que Ele lhe tinha ordenado todos os dias da sua vida, salvo no caso de Urias, o hitita. 6Houve guerra contínua entre Roboão e Jeroboão, todos os dias da sua vida. 7O resto da história de Abiam e tudo o que ele fez, tudo isso está escrito nos livros dos Anais dos Reis de Judá. Houve guerra continuamente entre Abiam e Jeroboão. 8Depois, Abiam morreu, juntando-se a seu pai, e foi sepultado na cidade de David. Sucedeu-lhe no trono seu filho Asa.
Asa, rei de Judá (912-871) (2 Cr 14,1-16,14) – 9No vigésimo ano do reinado de Jeroboão, rei de Israel, Asa tornou-se rei de Judá; 10reinou quarenta e um anos em Jerusalém; sua mãe chamava-se Maaca, filha de Absalão. 11Asa fez o que é recto aos olhos do Senhor, como seu pai David. 12Expulsou do país a prostituição sagrada e suprimiu todos os ídolos que seus pais tinham feito. 13Chegou mesmo a privar sua mãe Maaca da função de rainha-mãe, por ter levantado um ídolo de Achera; Asa arrancou esse ídolo infame e queimou-o no vale de Cédron. 14Mas os lugares altos não desapareceram.
Mesmo assim, o coração de Asa manteve-se íntegro diante do Senhor durante toda a sua vida. 15Levou para o templo do Senhor todos os objectos sagrados oferecidos por seu pai e por ele mesmo, a prata, o ouro e os utensílios.
Guerra contra o rei de Israel (2 Cr 16,1-10) – 16Entre Asa e Basa, rei de Israel, houve guerra durante toda a sua vida. 17Basa, rei de Israel, subiu contra Judá e fortificou Ramá, para impedir todas as suas comunicações com Asa, rei de Judá. 18Asa tomou toda a prata e ouro que restavam nas reservas do templo do Senhor e do palácio real e depositou-os nas mãos dos seus servos e enviou-os a Ben-Hadad, filho de Tabrimon, filho de Hezion, rei da Síria, que morava em Damasco, para lhe dizer: 19«Há uma aliança entre mim e ti; entre o meu pai e o teu pai. Envio-te estes presentes de prata e de ouro; peço-te que rompas a tua aliança com Basa, rei de Israel, para que ele se afaste de mim.» 20Ben-Hadad ouviu o pedido do rei Asa; mandou os seus generais contra as cidades de Israel e devastou Ion, Dan, Abel-Bet-Maacá, toda a região de Quinerot e ainda a terra de Neftali. 21Ao saber disso, Basa abandonou a fortificação de Ramá e ficou em Tirça. 22Então o rei Asa convocou toda a tribo de Judá, sem excepção, para recolher as pedras e as madeiras de Ramá que Basa fortificara e com elas fortificou Gueba de Benjamim e Mispá.
23O resto da história de Asa e tudo o que fez, as suas proezas e as cidades que construiu, tudo está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. Com a velhice adoeceu dos pés. 24Depois, Asa morreu, juntando-se a seus pais e foi sepultado com eles na cidade de seu pai David. Sucedeu-lhe no trono seu filho Josafat.
Nadab, rei de Israel (911-910) – 25Nadab, filho de Jeroboão tornou-se rei de Israel, no segundo ano de Asa, rei de Judá; reinou durante dois anos em Israel. 26Fez o mal aos olhos do Senhor; andou pelo caminho de seu pai, imitando os pecados com que ele fizera pecar Israel. 27Basa, filho de Aías, da casa de Issacar, conspirou contra ele e assassinou-o em frente a Guibeton dos filisteus, na altura em que Nadab e todo o Israel cercava essa cidade. 28Basa matou Nadab, no terceiro ano de Asa, rei de Judá, e sucedeu-lhe no trono. 29Logo que subiu ao trono, matou toda a família de Jeroboão, sem lhe deixar viva pessoa alguma; exterminou-os totalmente, conforme a palavra que o Senhor tinha proferido por intermédio do seu servo Aías de Silo, 30por causa dos pecados que Jeroboão cometera e fizera cometer a Israel, provocando assim a cólera do Senhor, Deus de Israel. 31O resto da história de Nadab bem como as suas acções, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 32Houve guerra entre Asa e Basa, rei de Israel, durante toda a sua vida.
Basa, rei de Israel (910-887) – 33No terceiro ano de Asa, rei de Judá, Basa, filho de Aías, tornou-se rei em Israel. Reinou em Tirça durante vinte e quatro anos. 34Fez o mal diante do Senhor, seguindo as pegadas de Jeroboão e imitando os seus pecados, com os quais fizera pecar Israel.
Capítulo 16
Profecia de Jeú – 1A palavra do Senhor foi dirigida a Jeú, filho de Hanani, a propósito de Basa, dizendo: 2«Uma vez que te levantei do pó e te constituí chefe do meu povo de Israel, mas tu seguiste as pegadas de Jeroboão e fizeste pecar o meu povo de Israel a ponto de me ofender com seus pecados, 3Eu vou varrer Basa e a sua família, e vou tornar a tua casa como a casa de Jeroboão, filho de Nabat. 4Qualquer membro da família de Basa que morra na cidade será comido pelos cães, e o que morrer no campo será pasto das aves do céu.»
5O resto dos actos de Basa, as suas acções e os seus feitos grandiosos, está tudo escrito no Livro das Actas dos Reis de Israel. 6Basa morreu, juntando-se a seus pais, e foi sepultado em Tirça. Seu filho Elá sucedeu-lhe no trono. 7A palavra do Senhor transmitida por intermédio do profeta Jeú, filho de Hanani, fora pronunciada contra Basa e sua família, não só por todo o mal que tinha praticado aos olhos do Senhor, irritando-o com seu proceder e seguindo as pegadas de Jeroboão, como também por ter destruído a família de Jeroboão.
Elá, rei de Israel (887-886) – 8No vigésimo sexto ano do reinado de Asa, rei de Judá, Elá, filho de Basa tornou-se rei de Israel; residia em Tirça e reinou por dois anos. 9O seu servo Zimeri, chefe de metade da sua cavalaria, conspirou contra ele. O rei encontrava-se então em Tirça, em casa de Arça, intendente do seu palácio nessa cidade, bebendo e embriagando-se. 10Zimeri entrou, feriu Elá e assassinou-o, sucedendo-lhe no trono; estava-se no vigésimo sétimo ano de Asa, rei de Judá. 11Logo que se fez rei e se sentou no trono, mandou exterminar toda a família de Basa, sem deixar escapar ninguém do sexo masculino, parente ou amigo. 12Assim exterminou toda a família de Basa, segundo a palavra que o Senhor tinha dito pelo profeta Jeú contra Basa. 13Este foi o castigo de todos os pecados que Basa e seu filho Elá tinham cometido e feito cometer a Israel, provocando a ira do Senhor, Deus de Israel, com os seus ídolos vãos.
14O resto da história de Elá e as suas acções, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel.
Zimeri, rei de Israel (886) – 15No vigésimo sétimo ano de Asa, rei de Judá, Zimeri tornou-se rei em Tirça, durante sete dias. Por essa altura, o povo estava em guerra contra Guibeton, que pertencia aos filisteus. 16O povo soube então da seguinte novidade: «Zimeri fez uma conspiração contra o rei e acabou mesmo por assassiná-lo.» Imediatamente todo o Israel constituiu seu rei o general Omeri, que estava no acampamento a comandar o exército de Israel. 17Este partiu de Guibeton com todo o exército de Israel a pôr assédio a Tirça. 18Então Zimeri, vendo que a cidade corria perigo de ser tomada, retirou-se para o palácio, incendiou-o e morreu ali. 19Morreu por causa dos pecados que tinha cometido, fazendo o mal aos olhos do Senhor, seguindo as pegadas de Jeroboão e o pecado com que este fizera pecar Israel. 20O resto da história de Zimeri e sua conspiração, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel.
21Então o povo de Israel dividiu-se em duas facções: metade seguiu Tibni, filho de Guinat, para o aclamar rei; a outra metade seguiu Omeri. 22O povo que seguiu Omeri suplantou os que seguiam Tibni, filho de Guinat. Tibni morreu e Omeri tornou-se rei.
Omeri, rei de Israel (886-875) – 23No trigésimo primeiro ano do reinado de Asa, rei de Judá, começou Omeri a reinar em Israel e reinou durante doze anos. Depois de ter reinado seis anos em Tirça, 24comprou a Chémer, por dois talentos de prata, o monte de Samaria. Construiu uma cidade sobre esse monte, a que deu o nome de Samaria, do nome de Chémer, a quem pertencera o monte. 25Omeri fez o mal aos olhos do Senhor, perpetrando mais crimes do que todos os seus predecessores. 26Seguiu as pegadas de Jeroboão, filho de Nabat, e imitou os pecados que ele levara Israel a cometer, a ponto de provocar a ira do Senhor, Deus de Israel, por causa dos seus ídolos vãos. 27O resto da história de Omeri, os seus actos e os seus grandes feitos, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 28Omeri morreu, juntando-se a seus pais e foi sepultado na Samaria. Seu filho Acab tornou-se rei em seu lugar.
Acab, rei de Israel (875-853) – 29No trigésimo oitavo ano de Asa, rei de Judá, Acab, filho de Omeri, tornou-se rei de Israel. Acab, filho de Omeri, reinou em Israel, na Samaria, durante vinte e dois anos.
30Acab, filho de Omeri, fez o mal aos olhos do Senhor, mais do que todos os seus predecessores. 31E, como se não lhe bastasse imitar os pecados de Jeroboão, filho de Nabat, ainda tomou por esposa Jezabel, filha de Etbaal, rei de Sídon; e foi prestar culto a Baal, prostrando-se diante dele. 32Ergueu um altar a Baal no templo de Baal, que construiu na Samaria. 33Acab fez também uma Achera, aumentando a ira do Senhor, Deus de Israel, mais do que todos os reis de Israel, seus predecessores. 34No seu tempo, Hiel de Betel reconstruiu Jericó. Quando lançava os seus alicerces morreu-lhe Abiram, seu primogénito; e, ao pôr-lhe as portas, morreu-lhe Segub, seu último filho, conforme o Senhor anunciara por meio de Josué, filho de Nun.
Capítulo 17
História de Elias (17,1-19,18)
O profeta Elias em Querit e Sarepta (2 Rs 4,1-7; Sir 48,1-11) 1Elias, o tisbita, habitante de Guilead, disse a Acab: «Pela vida do Senhor, Deus de Israel, a quem eu sirvo, não cairá orvalho nem chuva nestes anos senão à minha ordem.» 2A palavra do Senhor foi-lhe dirigida nestes termos: 3«Vai-te daqui, dirige-te para Oriente e esconde-te na torrente de Querit, que fica em frente do Jordão. 4Beberás da torrente, e Eu já ordenei aos corvos que te levem lá de comer.» 5Então ele partiu segundo a palavra do Senhor e foi morar junto à margem do Querit, em frente do Jordão. 6Os corvos traziam-lhe pão e carne, de manhã e de tarde, e ele bebia água da torrente. 7Ao fim de algum tempo, a torrente secou, pois não chovia sobre a terra.
8Então o Senhor disse-lhe: 9«Levanta-te, vai para Sarepta de Sídon e fica lá, pois ordenei a uma mulher viúva de lá que te alimente.» 10Ele levantou-se e foi para Sarepta; ao chegar à entrada da cidade, eis que havia lá uma mulher viúva que andava a apanhar lenha; chamou-a e disse-lhe: «Vai-me arranjar, te peço, um pouco de água numa vasilha, para eu beber.» 11Ela foi buscar a água e Elias chamou-a e disse-lhe: «Traz-me também um pedaço de pão nas tuas mãos.» 12Então ela respondeu: «Pela vida do Senhor, teu Deus, não tenho pão cozido; tenho apenas um punhado de farinha na panela e um pouco de azeite na ânfora; mal tenha reunido um pouco de lenha entrarei em casa para preparar esse resto para mim e para meu filho; vamos comê-lo e depois morreremos.»
13Elias disse-lhe: «Não tenhas medo; vai a casa e faz como disseste. Disso que tens faz-me um pãozinho e traz-mo; depois é que prepararás o resto para ti e para o teu filho. 14Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel:
- ‘A panela da farinha não se esgotará,
- nem faltará o azeite na almotolia
- até ao dia em que o Senhor mandar chuva sobre a face da terra.’»
15Ela foi e fez como lhe dissera Elias: comeu ele, ela e a sua família, durante alguns dias. 16Nem a farinha se acabou na panela, nem o azeite faltou na almotolia, conforme dissera o Senhor pela boca de Elias.
Ressurreição do filho da viúva (2 Rs 4,18-37; Lc 7,11-17) – 17Depois destas palavras, adoeceu o filho desta mulher, a dona da casa; a sua doença era tão grave que já nem conseguia respirar. 18Disse então a mulher a Elias: «Que há entre mim e ti, homem de Deus? Vieste a minha casa para me lembrar o meu pecado e matar o meu filho?» 19Elias respondeu-lhe: «Dá-me o teu filho.»
Tomou-o dos braços da mulher, levou-o para a sala de cima onde ele morava e deitou-o no seu leito. 20Depois clamou ao Senhor, dizendo: «Senhor, meu Deus, até a esta viúva junto de quem me acolhi como emigrante, lhe quereis fazer mal a ponto de lhe matares o filho?!» 21Elias estendeu-se três vezes sobre o menino e invocou o Senhor, dizendo: «Senhor, meu Deus, que a alma deste menino volte a entrar nele.» 22O Senhor ouviu o clamor de Elias, e a alma do menino voltou a ele e ele recuperou a vida.
23Elias tomou o menino, desceu do quarto de cima ao interior da casa e entregou-o a sua mãe. Disse então Elias: «Olha! O teu filho está vivo!» 24A mulher disse a Elias: «Agora reconheço que és um homem de Deus e que é verdadeira a palavra que o Senhor põe na tua boca.»
Capítulo 18
A seca. Sacrifício do Carmelo – 1Passados que foram muitos dias, a palavra do Senhor foi dirigida a Elias, no terceiro ano, dizendo: «Vai apresentar-te a Acab, pois quero mandar chuva sobre a terra.» 2Elias partiu e foi apresentar--se a Acab. Era então muito grande a fome na Samaria. 3Acab mandou chamar Abdias, intendente do seu palácio; Abdias era muito temente ao Senhor. 4Assim, quando Jezabel matou os profetas do Senhor, Abdias acolheu cem profetas e escondeu-os em duas cavernas, cinquenta numa e cinquenta noutra, e alimentou-os com pão e água. 5Disse-lhe Acab: «Percorre todo o país, vai a todas as fontes e torrentes; talvez possamos encontrar erva para conservar a vida dos cavalos e dos burros a fim de que não morram todos os nossos animais.» 6Dividiram entre si o país para o percorrer; Acab foi por um caminho e Abdias por outro.
7Ora, durante a caminhada de Abdias, Elias saiu-lhe ao encontro; Abdias reconheceu-o e prostrou-se de rosto por terra, dizendo: «Meu senhor, és tu Elias?» 8«Sou eu! Vai dizer ao teu amo que cheguei.» 9Abdias replicou: «Que pecado fiz eu para que entregues assim o teu servo nas mãos de Acab, para ele me matar? 10Pela vida do Senhor, teu Deus, não há nação nem reino onde meu amo te não tenha mandado procurar. Todos lhe respondiam: ‘Elias não está aqui.’ Então ele obrigava a jurar cada reino e povo que tu não estavas lá. 11E agora dizes-me: ‘Vai dizer ao teu amo que cheguei!’ 12É que, quando eu me afastar de ti, o espírito do Senhor te conduzirá não sei para onde; e Acab, informado por mim, não te encontrando a ti, matar-me-á. Ora o teu servo teme o Senhor desde a sua juventude. 13Acaso não foi dito ao meu senhor o que eu fiz quando Jezabel andava a matar os profetas do Senhor? Que escondi cem de entre eles, cinquenta numa caverna e cinquenta noutra, e que os alimentei com pão e água? 14E dizes-me agora: ‘Vai dizer ao teu amo que Elias está aqui.’ Ele matar-me-á!» 15Elias respondeu-lhe: «Pela vida do Senhor do universo, a quem eu sirvo, hoje mesmo me vou apresentar diante de Acab.»
16Partiu, pois, Abdias para junto de Acab e avisou-o. Acab saiu ao encontro de Elias. 17Quando Acab viu Elias, disse-lhe: «És tu, a ruína de Israel?»
18Respondeu-lhe Elias: «Não, eu não sou a ruína de Israel. Pelo contrário, tu e a casa de teu pai é que o sois, por terdes abandonado os preceitos do Senhor para seguirdes os ídolos de Baal. 19Convoca, pois, junto de mim, no monte Carmelo, todo o Israel com os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal mais os quatrocentos profetas de Achera, que comeram à mesa de Jezabel.»
20Então Acab mandou chamar todos os filhos de Israel e reuniu os profetas no monte Carmelo. 21Elias aproximou-se de todo o povo e disse: «Até quando andareis a coxear dos dois pés? Se o Senhor é Deus, segui-o; mas se Baal é que é Deus, então segui a Baal!» O povo não respondeu.
22Elias continuou: «Só eu fiquei, como único profeta do Senhor, enquanto que os profetas de Baal são quatrocentos e cinquenta. 23Dêem-nos, então, dois novilhos; eles escolherão um, hão-de esquartejá-lo e o colocarão sobre a lenha, sem lhe chegar fogo. Eu tomarei o outro novilho, colocá-lo-ei sobre a lenha, sem, igualmente, lhe chegar fogo. 24Em seguida invocareis o nome do vosso deus; eu invocarei o nome do Senhor. Aquele que responder, enviando o fogo, será reconhecido como verdadeiro Deus.» Todo o povo respondeu: «Estas palavras são correctas.» 25Então Elias disse para os profetas de Baal: «Escolhei vós primeiro um novilho e preparai-o, porque vós sois mais numerosos; invocai o vosso Deus, mas não chegueis fogo ao novilho.» 26Eles tomaram o novilho que lhes fora dado e esquartejaram-no. Depois puseram-se a invocar o nome de Baal, desde manhã até ao meio-dia, gritando: «Baal, escuta-nos!» Mas nenhuma voz se ouviu, nem houve quem respondesse. E dançavam à volta do altar que tinham levantado. 27Quando era já meio-dia, Elias começou a escarnecer deles, dizendo: «Gritai com mais força! Talvez esse deus esteja entretido com alguma conversa! Ou então estará ocupado, ou anda de viagem. Talvez esteja a dormir! É preciso acordá-lo!» 28Então eles gritavam em voz alta, feriam-se, segundo o seu costume, com espadas e lanças, até ficarem cobertos de sangue. 29Passado o meio-dia, continuaram enfurecidos, até à hora em que era habitual fazer-se a oblação. Mas não se ouviu resposta nem qualquer sinal de atenção.
30Foi então que Elias disse a todo o povo: «Aproximai-vos de mim.» E todo o povo se aproximou dele. Elias reconstruiu logo o altar do Senhor, que tinha sido demolido. 31Tomou doze pedras, segundo o número das tribos de Jacob, a quem o Senhor dissera: «Chamar-te-ás Israel.» 32Com essas pedras erigiu um altar ao nome do Senhor; em volta do altar cavou um sulco, com a capacidade de duas medidas de semente. 33Dispôs a lenha sobre a qual colocou o boi esquartejado 34e disse: «Enchei quatro talhas de água e derramai-a sobre o holocausto e sobre a lenha.» Depois acrescentou: «Tornai a fazer o mesmo.» Tendo eles repetido o gesto, acrescentou: «Fazei-o pela terceira vez.» Eles obedeceram. 35A água correu à volta do altar até o sulco ficar completamente cheio.
36À hora do sacrifício, o profeta Elias aproximou-se, dizendo: «Senhor, Deus de Abraão, de Isaac e de Israel, mostra hoje que és Tu o Deus em Israel, que eu sou o teu servo; às tuas ordens é que eu fiz tudo isto. 37Responde-me, Senhor, responde-me! Que este povo reconheça que Tu, Senhor, é que és Deus, aquele que lhes converte os corações.»
Fim da seca – 38De repente, o fogo do Senhor caiu do céu e consumiu o holocausto, a lenha, as pedras, a lama e até mesmo a própria água do sulco. 39Ao ver isto, o povo prostrou-se de rosto por terra, exclamando: «O Senhor é que é Deus! O Senhor é que é Deus!» 40Disse-lhes então Elias: «Prendei agora os profetas de Baal; não deixeis fugir um só deles!» Prenderam-nos, e Elias levou-os ao vale de Quichon, onde os matou. 41Depois Elias disse a Acab: «Vai, come e bebe, pois já oiço o rumor de uma forte chuvada!»
42Acab foi comer e beber; Elias subiu ao cimo do monte Carmelo, prostrou-se por terra, colocando a cabeça entre os joelhos; 43e disse ao seu servo: «Sobe e observa para os lados do mar.» Ele subiu e observou, dizendo: «Não vejo nada!» Por sete vezes Elias lhe repetiu: «Volta e torna a observar.» 44À sétima vez, o servo respondeu: «Eis que sobe do mar uma pequena nuvem como a palma da mão!» Disse-lhe então Elias: «Vai dizer a Acab que prepare o seu carro e desça quanto antes, para que a chuva não o detenha aqui.» 45Nesse momento, o céu cobriu-se de nuvens negras, o vento soprou e a chuva começou a cair torrencialmente. Acab subiu para o seu carro e partiu para Jezrael. 46A mão do Senhor esteve sobre Elias que, de rins cingidos, ultrapassou Acab e chegou a Jezrael.
Capítulo 19
Fuga de Elias para o Horeb 1Acab contou a Jezabel quanto Elias tinha feito, e como ele passara a fio de espada todos os profetas de Baal. 2Então Jezabel mandou um mensageiro a Elias, para lhe dizer: «Que os deuses me tratem com o maior rigor, se amanhã, a esta mesma hora, não fizer da tua vida o mesmo que tu fizeste da vida deles.»
3Elias teve medo e saiu dali para salvar a sua vida. De Judá chegou a Bercheba, onde deixou o seu servo. 4Andou pelo deserto um dia de caminho; sentou-se à sombra de um junípero e pediu a morte para si: «Basta, Senhor, disse ele; tira-me a vida, pois não sou melhor do que meus pais.»
5Deitou-se por terra e adormeceu à sombra do junípero. Eis, porém, que um anjo o tocou, dizendo: «Levanta-te e come.» 6Olhou e viu à sua cabeceira um pão cozido sob a cinza e um copo de água. Comeu, bebeu e tornou a dormir.
7Mais uma vez o tocou o anjo do Senhor, dizendo-lhe: «Levanta-te e come, pois tens ainda um longo caminho a percorrer.» 8Elias levantou-se, comeu e bebeu; reconfortado com aquela comida, andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao Horeb, o monte de Deus.
Elias no Horeb (Mt 17,1-4) – 9Tendo chegado ao Horeb, Elias passou a noite numa caverna, onde lhe foi dirigida a palavra do Senhor: «Que fazes aí, Elias?»
10Ele respondeu: «Estou a arder de zelo pelo Senhor, o Deus do universo, porque os filhos de Israel abandonaram a tua aliança, derrubaram os teus altares e assassinaram os teus profetas. Só eu escapei; mas também a mim me querem matar!»
11O Senhor disse-lhe então: «Sai e mantém-te neste monte, na presença do Senhor; eis que o Senhor vai passar.» Nesse momento, passou diante do Senhor um vento impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava os rochedos diante do Senhor; mas o Senhor não se encontrava no vento. Depois do vento, tremeu a terra. 12Passou o tremor de terra e ateou-se um fogo; mas nem no fogo se encontrava o Senhor. Depois do fogo, ouviu-se o murmúrio de uma brisa suave. 13Ao ouvi-lo, Elias cobriu o rosto com um manto, saiu e pôs-se à entrada da caverna. Disse-lhe, então, uma voz: «Que fazes aqui, Elias?» 14Ele respondeu: «Ardo em zelo pelo Senhor, Deus do universo, porque os filhos de Israel abandonaram a tua aliança, derrubaram os teus altares e mataram os teus profetas. Só eu escapei; mas agora também me querem matar a mim.»
15O Senhor disse-lhe: «Vai e volta pelo caminho do deserto, em direcção a Damasco e, chegando lá, hás-de ungir Hazael como rei da Síria. 16Jeú, filho de Nimechi, como rei de Israel, e Eliseu, filho de Chafat, de Abel-Meolá, como profeta em teu lugar. 17Quem escapar à espada de Hazael será morto por Jeú, e quem escapar a Jeú será morto por Eliseu. 18Mesmo assim, deixarei com vida em Israel sete mil homens que não ajoelharam perante Baal, e cujos lábios o não beijaram.»
Eliseu, sucessor de Elias – 19Elias partiu dali e encontrou Eliseu, filho de Chafat, que andava a lavrar com doze juntas de bois diante dele; ele próprio conduzia a duodécima junta. Elias aproximou-se e lançou o seu manto sobre ele. 20Eliseu deixou logo os seus bois, correu atrás de Elias e disse-lhe: «Deixa-me ir beijar meu pai e minha mãe, que depois te seguirei.» Elias disse: «Vai, mas volta, pois sabes o que te fiz.» 21Eliseu, deixando Elias, tomou uma junta de bois e imolou-os. Com a lenha do arado cozeu as carnes, dando-as depois a comer à sua gente. Em seguida, pôs-se a caminho e seguiu Elias para o servir.
Capítulo 20
Cerco da Samaria por Ben-Hadad – 1Ben-Hadad, rei de Aram, reuniu todo o seu exército: tinha consigo trinta e dois reis, cavalos e carros. Subiu e sitiou a Samaria, atacando-a. 2Enviou mensageiros à cidade a dizerem a Acab, rei de Israel: 3«Eis o que diz Ben-Hadad: A tua prata e o teu ouro são meus; as tuas mulheres, bem como os mais belos filhos de teus filhos, são meus também.» 4O rei de Israel respondeu: «Sou teu servo, como dizes, com tudo o que me pertence.» 5Os mensageiros, porém, voltando de novo, disseram: «Isto diz Ben-Hadad: ‘Mando-te dizer: Dá-me a tua prata e o teu ouro, as tuas mulheres e os teus filhos. 6Amanhã, a esta mesma hora, mandarei os meus criados a revistarem a tua casa, e as casas dos teus servos; eles apanharão com suas mãos tudo quanto lhes agradar.’» 7Ora o rei de Israel convocou todos os anciãos do país e disse-lhes assim: «Considerai e vede como esse homem quer a nossa desgraça. Quando ele me mandou pedir as nossas mulheres, os meus filhos, a minha prata e o meu ouro, nada lhes recusei.» 8Responderam-lhes os anciãos e todo o povo: «Não lhes dês ouvidos nem condescendas em nada.» 9Então Acab disse aos mensageiros de Ben-Hadad: «Dizei ao rei, meu senhor: Estou disposto a fazer o que da primeira vez pediste ao teu servo; mas o que agora lhe pedes não to posso fazer.» Os mensageiros voltaram e deram a resposta ao rei. 10Ben-Hadad mandou, pois, dizer a Acab: «Assim os deuses me tratem com o mais severo rigor, se o pó da Samaria for suficiente para encher o punhado das mãos dos guerreiros que me acompanham!» 11O rei de Israel disse-lhe como resposta: «Dizei-lhe que aquele que põe o cinturão não deve gloriar-se como aquele que o tira.» 12Ao ouvir semelhante resposta, Ben-Hadad, que estava a beber com os reis nas suas tendas, disse aos seus criados: «Ponham-se nos seus postos.» E eles puseram-se a atacar a cidade.
Intervenção de um profeta (14,1-20) – 13Nesse momento, um profeta aproximou-se de Acab, rei de Israel, e disse-lhe: «Assim fala o Senhor: Vês esta imensa multidão? Pois hoje a porei nas tuas mãos e conhecerás então que Eu sou o Senhor.» 14Então Acab perguntou: «Por meio de quem ma entregarás?» E ele respondeu: «Assim fala o Senhor: Pela elite dos chefes das províncias!» Então perguntou Acab: «E quem começará o combate?» E ele respondeu: «Tu!» 15Então Acab passou revista aos servos dos chefes das províncias que eram duzentos e trinta e dois. Depois destes, passou em revista todo o povo, todos os filhos de Israel, ou seja, sete mil homens. 16Saíram por volta do meio-dia, quando Ben-Hadad bebia e se estava embriagando nas tendas com os trinta e dois reis, seus auxiliares. 17Os primeiros a saírem foram os servos dos chefes das províncias. Ben-Hadad mandou então observar o que se passava. Disseram-lhe: «Alguns homens saíram da Samaria.» 18O rei disse: «Quer eles venham para tratar de paz ou para combater, prendei-os vivos.» 19Os servos dos chefes das províncias saíram então da cidade, seguidos do exército; 20cada um matou o seu homem. Os sírios fugiram acossados pelos filhos de Israel. Ben-Hadad, rei da Síria, fugiu a cavalo com alguns cavaleiros. 21Por sua vez, o rei de Israel saiu também, destroçou carros e cavalos, causando aos sírios grandes perdas. 22Nessa altura, o profeta foi ter com o rei de Israel e disse-lhe: «Vai, recobra ânimo e vê o que deves fazer; é que no próximo ano o rei da Síria vai atacar-te novamente.»
Nova campanha de Aram contra Israel – 23Os servos do rei da Síria disseram-lhe: «O Deus deles é um Deus das montanhas; por isso é que eles nos venceram; mas, atacando-os na planície, nós é que os venceremos a eles. 24Tu, porém, deverás tomar as seguintes precauções: destitui todos os reis e substitui-os por governadores. 25Trata de recrutar um exército semelhante ao que agora perdeste, com o mesmo número de cavalos e outros tantos carros. Combatê-los-emos na planície e venceremos com certeza.» O rei ouviu este conselho e seguiu-o. 26No ano seguinte, Ben-Hadad, após ter passado em revista os sírios, avançou até Afec para combater Israel. 27Foram igualmente passados em revista os filhos de Israel; receberam as suas munições e partiram ao encontro de Aram. Os filhos de Israel acamparam em frente deles, semelhantes a dois pequenos rebanhos de cabras, enquanto Aram enchia totalmente a região.
28Então o homem de Deus foi ter com o rei de Israel e disse-lhe: «Assim fala o Senhor: Já que os arameus dizem: ‘O Senhor é um Deus da montanha e não um Deus da planície’, Eu vou entregar nas tuas mãos toda esta enorme multidão, e conhecereis então que Eu sou o Senhor.» 29Eles acamparam frente-a-frente, durante sete dias; ao sétimo dia travaram batalha; os filhos de Israel abateram cem mil soldados de infantaria sírios, num só dia. 30O resto refugiou-se na cidade de Afec, mas as muralhas caíram sobre os vinte e sete mil sobreviventes; o próprio Ben-Hadad pôs-se em fuga, entrando na cidade onde se ia escondendo de quarto em quarto. 31Disseram-lhe então os seus servos: «Nós ouvimos dizer que os reis da casa de Israel são misericordiosos. Cubramos, pois, de saco os nossos rins e ponhamos cordas ao pescoço, e vamos ter com o rei de Israel, a ver se ele te poupa a vida.» 32Cingiram, pois, os rins com saco, puseram cordas em volta do pescoço e apresentaram-se ao rei de Israel, dizendo: «Teu servo Ben-Hadad vem pedir-te: ‘Concede-me a vida!’» O rei de Israel replicou: «Ele ainda vive? É meu irmão!» 33Os sírios interpretaram estas palavras como um feliz presságio; aproveitaram logo a palavra da sua boca e disseram-lhe: «Ben-Hadad é teu irmão!» Disse o rei: «Ide procurá-lo.» Então Ben-Hadad apresentou-se imediatamente e Acab mandou-o subir para o seu carro. 34Disse-lhe Ben-Hadad: «Vou restituir-te as cidades que meu pai conquistou ao teu. Terás bazares em Damasco como meu pai os tinha na Samaria.» Replicou-lhe Acab: «Por esta aliança deixar-te-ei partir.» Então Acab fez uma aliança com Ben-Hadad e deixou-o partir livremente.
35Um dos filhos dos profetas disse, por ordem do Senhor, a um seu companheiro: «Fere-me, por favor.» Ele, porém, recusou-se a feri-lo. 36Disse-lhe então o profeta: «Já que não ouviste a palavra do Senhor, quando te afastares de mim, um leão te há-de devorar!» Afastou-se, e um leão devorou-o. 37O profeta encontrou outro homem e disse-lhe: «Fere-me, por favor.» Este lançou-se sobre ele e feriu-o. 38Então o profeta prostrou-se no caminho por onde o rei devia passar, vendando os olhos para não ser reconhecido. 39Quando o rei passou, ele pôs-se a gritar: «Teu servo saíra para participar numa batalha, quando alguém que se afastara do combate me confiou um homem dizendo: ‘Toma conta deste homem. Se ele desaparecer, a tua vida responderá pela sua, ou pagarás um talento de prata.’ 40Ora, enquanto o teu servo estava ocupado com isto ou com aquilo, o prisioneiro escapou-se-lhe.» Então o rei de Israel disse-lhe: «Que esse seja o teu castigo! Tu próprio proferiste a sentença.» 41O profeta tirou a venda que lhe tapava os olhos, e o rei de Israel logo reconheceu que ele era um dos profetas. 42Disse-lhe este, então: «Assim fala o Senhor: ‘Já que deixaste escapar-te da mão o homem que Eu tinha amaldiçoado, a tua vida responderá pela sua e o teu povo, pelo seu povo.’» 43O rei de Israel recolheu-se a sua casa na Samaria, triste e contrariado.
Capítulo 21
A vinha de Nabot – 1Eis o que aconteceu depois de todos estes factos. Nabot de Jezrael tinha uma vinha junto ao palácio de Acab, rei da Samaria. 2Disse então Acab a Nabot: «Cede-me a tua vinha para que eu a transforme em horta, pois fica junto da minha casa. Dar-te-ei em troca uma vinha melhor; ou, se te convier, pagar-te-ei o seu valor em dinheiro.» 3Nabot disse a Acab: «Pelo Senhor! Seria um sacrilégio ceder-te a herança de meus pais!»
4Acab voltou para casa triste e irritado, pelo facto de Nabot lhe ter dito: «Não te darei a herança de meus pais.» Deitou-se na cama, voltou o rosto para a parede e não quis mais comer. 5Sua esposa veio ter com ele e perguntou-lhe: «Por que razão estás assim irritado e não queres comer?» 6Ele respondeu-lhe: «Porque falei a Nabot de Jezrael, dizendo-lhe: ‘Cede-me a tua vinha por dinheiro ou, se mais te convier, dar-te-ei por ela outra vinha’, e ele respondeu-me: ‘Não te darei a minha vinha.’ 7Então Jezabel, sua esposa, disse-lhe: «Não és tu o rei de Israel? Levanta-te, come, não te aflijas! Eu mesma te darei a vinha de Nabot de Jezrael.» 8Escreveu cartas em nome de Acab, selando-as com o selo real, e enviou-as aos anciãos e aos magistrados da cidade, concidadãos de Nabot. 9Nelas lhes dizia: «Proclamai um jejum e fazei sentar Nabot na primeira fila da assembleia. 10Fazei vir à sua presença dois homens malvados que o acusem dizendo: ‘Tu blasfemaste contra Deus e contra o rei!’ Levai-o, depois, para fora da cidade e apedrejai-o até ele morrer.»
11Os homens da cidade, os anciãos e os magistrados, concidadãos de Nabot, fizeram o que lhes mandara Jezabel, conforme o conteúdo da carta que ela lhes enviara. 12Proclamaram um jejum e fizeram Nabot sentar-se em lugar de honra. 13Vieram então os dois malvados, puseram-se na presença de Nabot e depuseram contra ele perante o povo, dizendo: «Nabot blasfemou contra Deus e contra o rei!» Fizeram-no sair da cidade, apedrejaram-no e ele morreu. 14Mandaram então dizer a Jezabel: «Nabot foi apedrejado e morreu.» 15Quando Jezabel teve conhecimento que Nabot fora apedrejado e já estava morto, disse a Acab: «Levanta-te e toma posse da vinha que Nabot de Jezrael recusara ceder-te por dinheiro; Nabot já não é vivo! Morreu!» 16Mal Acab ouviu dizer que Nabot tinha morrido, levantou-se logo para descer até à vinha de Nabot de Jezrael, a fim de tomar posse dela.
Elias anuncia o castigo de Jezabel – 17Então, a palavra do Senhor foi dirigida a Elias, o tisbita, dizendo: 18«Desce e vai ter com Acab, rei de Israel, que vive na Samaria; ele está agora a descer para se apossar da vinha de Nabot. 19Diz-lhe: Assim fala o Senhor: ‘Cometeste um homicídio e agora vais ainda apoderar-te do alheio?’ Acrescentarás ainda: ‘Isto diz o Senhor: No mesmo lugar onde os cães lamberam o sangue de Nabot, hão-de lamber também o teu!’» 20Então Acab respondeu a Elias: «Tornaste a apanhar-me, meu inimigo!» Elias replicou: «Sim, tornei a apanhar-te porque te prestaste a uma perfídia, fazendo o que é mal aos olhos do Senhor. 21Farei cair uma desgraça sobre ti, varrer-te-ei e hei-de exterminar todos os homens da casa de Acab, sejam escravos ou homens livres em Israel. 22Tornarei a tua casa semelhante à casa de Jeroboão, filho de Nabat, e à de Basa, filho de Aías, porque provocaste a minha ira e fizeste pecar Israel.»
23O Senhor falou também para Jezabel: «Os cães hão-de devorar Jezabel na propriedade de Jezrael. 24Todos os membros da casa de Acab que morrerem na cidade, os cães os hão-de devorar; e todos os membros que morrerem no campo, comê-los-ão as aves do céu. 25Não houve nunca ninguém como Acab que se prestasse à perfídia para fazer o mal aos olhos do Senhor. E a sua esposa Jezabel incitava-o ainda mais. 26Ele cometeu graves abominações, seguindo os ídolos exactamente como os amorreus, a quem o Senhor despojara diante dos filhos de Israel.»
27Ao ouvir estas palavras, Acab rasgou as vestes, cobriu-se de saco e jejuou; dormia sobre um saco e caminhava pensativo. 28Então a palavra do Senhor foi dirigida a Elias, o tisbita, dizendo: 29«Viste como Acab se humilhou na minha presença? Já que ele procedeu assim, não o castigarei durante a sua vida, mas nos dias de seu filho mandarei o castigo sobre a sua casa.»
Capítulo 22
Aliança de Acab e Josafat contra Aram (2 Cr 18,1-34) 1Passaram-se três anos sem haver guerras entre a Síria e Israel. 2No terceiro ano, Josafat, rei de Judá, foi visitar o rei de Israel. 3Este dissera aos seus servos: «Sabeis que Ramot de Guilead é nossa. Porque hesitamos, pois, em retomá-la das mãos do rei de Aram?» 4E disse a Josafat: «Queres tu vir comigo fazer guerra a Ramot de Guilead?» Josafat respondeu ao rei de Israel: «Eu farei o que tu fizeres. O meu povo fará como o teu; a minha cavalaria, como a tua!» 5Depois, Josafat disse ao rei de Israel: «Consulta primeiro o oráculo do Senhor.» 6Então o rei de Israel convocou os profetas, cerca de quatrocentos homens, e perguntou-lhes: «Posso ir fazer guerra a Ramot de Guilead, ou devo renunciar a isso?» Eles responderam-lhe: «Vai! O Senhor a entregará nas mãos do rei.»
7E Josafat disse: «Não há por aí qualquer outro profeta do Senhor, a quem pudéssemos consultar?» 8O rei de Israel disse a Josafat: «Há realmente um homem por meio de quem se poderá consultar o Senhor; mas eu detesto-o, pois ele nunca me profetiza o bem, senão somente desgraças. É Miqueias, filho de Jímela.» Josafat disse: «Não fales dessa maneira.» 9Então o rei de Israel chamou um eunuco e disse-lhe: «Traz-me depressa Miqueias, o filho de Jímela.»
10Josafat, rei de Judá, e o rei de Israel estavam sentados, cada qual em seu trono, revestidos das suas insígnias reais, na praça que fica à entrada da porta da Samaria; e todos os profetas se puseram a profetizar diante deles. 11Ora Sedecias, filho de Canaana, fez para si uns chifres de ferro e disse: «Assim diz o Senhor: ‘Com estes chifres ferirás os sírios até ficarem exterminados.’» 12Todos os profetas profetizavam do mesmo modo, dizendo: «Sobe a Ramot de Guilead, pois sairás vencedor, visto que o Senhor vai entregar a cidade nas mãos do rei.»
13Entretanto, o mensageiro que tinha ido chamar Miqueias dizia-lhe: «Os profetas são unânimes em profetizar a vitória do rei. Que o teu oráculo seja, como o deles, anunciador de boas novas.» 14Mas Miqueias respondeu: «Pelo Deus vivo! Eu direi apenas aquilo que o Senhor me disser.»
15Apresentou-se, então, ao rei, que lhe disse: «Miqueias, devemos ir atacar Ramot de Guilead ou não?» «Vai –respondeu Miqueias; serás vencedor, porque o Senhor a vai entregar nas mãos do rei.»
16O rei disse-lhe: «Quantas vezes é preciso conjurar-te a que não me digas senão a verdade, em nome do Senhor?» 17Miqueias respondeu-lhe: «Eu vejo todo o Israel espalhado pelas montanhas, qual rebanho sem pastor. E o Senhor disse-me: ‘São povos que não têm pastores; volte cada um em paz para sua casa!’»
18O rei de Israel disse a Josafat: «Eu não te disse que ele nunca profetiza para mim o bem, mas sempre o mal?» 19Por sua vez, Miqueias replicou: «Ouve a palavra do Senhor. Eu vi o Senhor sentado no seu trono, rodeado de todo o exército celeste à sua direita e à sua esquerda. 20O Senhor disse: ‘Quem seduzirá Acab, a fim de que ele suba e morra em Ramot de Guilead?’ Mas cada um respondia a seu modo. 21Então, surgiu um espírito, apresentou-se diante do Senhor e disse: ‘Eu irei seduzi-lo.’ O Senhor perguntou-lhe: ‘De que modo?’ 22Ele respondeu: ‘Irei, e serei um espírito de mentira na boca de todos os seus profetas.’ Disse-lhe pois o Senhor: ‘Enganá-lo-ás e conseguirás seduzi-lo; vai e faz como disseste.’ 23E o Senhor pôs um espírito de mentira na boca de todos os teus profetas, pois o Senhor decretou a tua perda.»
24Nesse momento Sedecias, filho de Canaana, aproximou-se de Miqueias e deu-lhe uma bofetada, dizendo: «Acaso saiu de mim o espírito do Senhor para te falar a ti?» 25Miqueias respondeu: «Tu mesmo o verás no dia em que fugires de esconderijo em esconderijo, a fim de te esconderes.» 26Então o rei de Israel ordenou: «Prendei Miqueias; que ele fique sob a guarda de Amon, governador da cidade e de Joás, filho do rei. 27Que as ordens do rei sejam transmitidas! Metei-o na prisão e alimentai-o a pão escasso, até que eu volte são e salvo.» 28Miqueias, porém, respondeu: «Se voltares são e salvo, isso será sinal de que o Senhor não falou pela minha boca.» E acrescentou: «Que todos os povos ouçam isto!»
Morte de Acab (2 Cr 18,28-34) – 29Então o rei de Israel subiu com Josafat, rei de Judá, a Ramot de Guilead. 30E o rei de Israel disse a Josafat: «Vou disfarçar-me para entrar em combate; tu, porém, conserva as tuas vestes.» E o rei de Israel disfarçou-se antes de entrar em combate. 31Ora o rei da Síria tinha dado esta ordem aos seus trinta e dois chefes de carros: «Não luteis contra ninguém, pequeno ou grande, senão somente contra o rei de Israel.» 32Os chefes dos carros, ao verem Josafat, disseram entre si: «É ele, com certeza, o rei de Israel»; e lançaram-se sobre ele. Então Josafat soltou o seu grito de guerra. 33Vendo que não era ele o rei de Israel, os chefes dos carros afastaram-se. 34Um soldado, porém, disparou com o seu arco à sorte e feriu o rei de Israel, entre as juntas da sua armadura. E logo o rei disse ao condutor do seu carro: «Volta a rédea e leva-me para fora do campo de batalha, porque estou ferido.» 35Mas o combate, naquele dia, foi tão violento que o rei teve de ficar de pé no seu carro diante dos sírios; morreu ao cair da tarde; o sangue saía da sua ferida e inundava todo o carro.
36Ao pôr-do-sol ouviu-se um clamor que perpassou por todo o exército: «Volte cada um para a sua cidade e para a sua terra! 37O rei morreu!» Levaram-no para a Samaria e sepultaram-no ali. 38Ao lavarem o seu carro na piscina da Samaria, onde as prostitutas se banhavam, os cães lambiam o sangue do rei, conforme o oráculo do Senhor.
39O resto da história de Acab, os seus feitos, o palácio de marfim que mandou construir, as cidades que edificou, está tudo narrado no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 40Acab morreu, juntando-se a seus pais. Sucedendo-lhe no trono seu filho Acazias.
Josafat, rei de Judá (870-848) (2 Cr 17,1-21,1) – 41No quarto ano de Acab, rei de Israel, Josafat, filho de Asa, tornou-se rei de Judá. 42Tinha trinta e cinco anos quando começou a reinar. Reinou durante vinte e cinco anos em Jerusalém; sua mãe chamava-se Azuba, filha de Chili.
43Seguiu inteiramente as pegadas de Asa, seu pai, sem se desviar dos seus caminhos: fez o que é recto aos olhos do Senhor. 44Não destruiu, porém, os lugares altos, onde o povo continuava a sacrificar e a queimar incenso. 45Josafat viveu em paz com o rei de Israel.
46O resto da história de Josafat, os seus feitos e as suas batalhas, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 47Expulsou do país o resto dos que se tinham dedicado à prostituição idolátrica, no tempo de seu pai, Asa.
48Por essa altura, não havia rei em Edom; era um governador que exercia as funções de rei. 49Josafat tinha dez naus de Társis para ir buscar ouro a Ofir; mas não foi, porque os navios naufragaram em Ecion-Guéber. 50Então Acazias, filho de Acab, disse a Josafat: «Que os meus servos vão navegar com os teus.» Josafat, porém, não quis. 51Josafat morreu, juntando-se a seus pais, e foi sepultado com eles na cidade de David. Sucedeu-lhe no trono seu filho Jorão.
Acazias, rei de Israel (853-852) (2 Rs 1,1-8) – 52No décimo sétimo ano de Josafat, rei de Judá, Acazias, filho de Acab começou a reinar sobre Israel na Samaria. Reinou dois anos sobre Israel.
53Fez o mal aos olhos do Senhor, seguindo os caminhos de seu pai e de sua mãe, e de Jeroboão, filho de Nabat, que fez pecar Israel. 54Prestou culto a Baal, prostrando-se diante dele e provocando assim a ira do Senhor, Deus de Israel, como já tinha feito seu pai.