Capítulo 11
Traição de Ptolomeu VI contra Alexandre – 1O rei do Egipto reuniu um exército tão numeroso como as areias das praias do mar e uma frota considerável, com o astuto propósito de se apoderar do reino de Alexandre, a fim de o anexar ao seu. 2Chegou à Síria com palavras de paz, e os habitantes das cidades abriram-lhe as portas e saíram ao seu encontro, conforme o rei Alexandre ordenara, já que era seu sogro.
3Mas Ptolomeu, logo que entrava numa cidade, punha nela uma guarnição militar. 4Ao entrar em Asdod, mostraram-lhe o templo de Dagon destruído pelo fogo, Asdod e os seus arrabaldes em ruínas, os cadáveres estendidos por terra e, ao lado dos caminhos, os montões daqueles que tinham sido mortos na batalha. 5Contaram ao rei tudo o que fizera Jónatas, com o fim de o tornar odioso ao rei; mas o rei guardou silêncio.
6Jónatas veio a Jope, ao encontro do rei, com grande pompa, saudaram-se mutuamente e passaram ali a noite. 7Depois, Jónatas acompanhou o rei até ao rio, chamado Eleutero, e voltou a Jerusalém. 8O rei Ptolomeu estabeleceu assim o seu poderio sobre todas as cidades da costa até à cidade marítima de Selêucia, forjando maus planos contra Alexandre.
9Enviou embaixadores a Demétrio, dizendo-lhe: «Vem, façamos juntos uma aliança e dar-te-ei a minha filha, mulher de Alexandre, e reinarás sobre o reino do teu pai. 10Lamento, de facto, ter-lhe dado a minha filha, porque ele procurou assassinar-me.» 11Acusava-o desta forma, porque cobiçava o seu reino. 12Por fim, tirou-lhe a filha, e deu-a a Demétrio, afastando-se dele e manifestando assim, publicamente, a sua inimizade.
13Ptolomeu entrou em Antioquia e cingiu o diadema da Ásia; ficou assim com um duplo diadema: o do Egipto e o da Ásia. 14Por aqueles dias, o rei Alexandre encontrava-se na Cilícia, pois os habitantes daquela região tinham-se revoltado. 15Mas, avisado, veio para travar combate com Ptolomeu. Este saiu-lhe ao encontro com o seu exército, avançou com forças imponentes e derrotou-o. 16Enquanto o rei Ptolomeu triunfava, Alexandre chegou à Arábia para ali procurar refúgio, 17mas o árabe Zabdiel mandou cortar-lhe a cabeça e enviou-a a Ptolomeu. 18Dali a três dias morreu também Ptolomeu, e as guarnições que pusera nas fortalezas foram massacradas pelos habitantes das cidades vizinhas. 19Demétrio começou a reinar no ano cento e sessenta e sete.
Continuação do prestígio de Jónatas – 20Por aqueles dias, Jónatas convocou os homens da Judeia para se apoderarem da cidadela de Jerusalém; com esse fim construiu numerosas máquinas de guerra. 21Imediatamente, alguns ímpios, inimigos do próprio povo, dirigiram-se ao rei Demétrio e contaram-lhe que Jónatas sitiava a cidadela. 22Irritado com esta notícia, pôs-se logo a caminho e alcançou Ptolemaida. De lá escreveu a Jónatas que não atacasse a cidadela e que viesse o mais depressa possível a Ptolemaida para conferenciar com ele. 23Mas Jónatas, logo que recebeu a mensagem, ordenou que se continuasse o cerco e, escolhendo alguns dos anciãos de Israel e sacerdotes, expôs-se ao perigo. 24Levou consigo ouro, prata, vestes e outros presentes, foi a Ptolemaida ter com o rei e encontrou benevolência da parte dele. 25Com efeito, apesar de alguns renegados da sua nação o combaterem, 26o rei tratou-o como os seus predecessores e enalteceu-o à vista dos seus cortesãos. 27Confirmou-o no sumo sacerdócio e em todos os títulos que possuía anteriormente e considerou-o como o primeiro dos seus amigos. 28Jónatas pediu ao rei que lhe concedesse imunidade de impostos na Judeia e nos três distritos da Samaria, prometendo-lhe, em troca, trezentos talentos. 29Assentiu o rei e escreveu a Jónatas sobre este assunto uma carta, do seguinte teor:
30«O rei Demétrio ao seu irmão Jónatas e ao povo judeu, saúde! 31Enviamo-vos, a fim de que tomeis conhecimento, a cópia da carta que dirigimos, a vosso respeito, ao nosso pai Lástenes: 32‘O rei Demétrio ao seu pai Lástenes, saúde! 33Resolvemos fazer mercês ao povo dos judeus, nossos leais amigos, que manifestam os seus bons sentimentos a nosso respeito. 34Decretamos, pois, que toda a Judeia e os três distritos de Aferema, de Lida e de Ramataim, desanexados da Samaria e anexados à Judeia, entrem na sua posse. Todos os seus lucros pertencerão aos que sacrificam em Jerusalém, em lugar do tributo que, cada ano, o rei cobrava dos frutos da terra e das árvores. 35Igualmente perdoamos-lhes, desde agora, os restantes tributos que nos pagavam, os dízimos das salinas e os direitos da coroa que nos eram dados. 36Nada será anulado destes decretos, nem agora nem nunca. 37Cuidai, pois, de fazer uma cópia deste decreto e entregai-a a Jónatas, para que seja colocada na montanha santa, em lugar visível.’»
Jónatas socorre Demétrio II – 38Vendo o rei Demétrio que a terra estava tranquila e que ninguém lhe resistia, licenciou o exército e mandou os soldados para suas casas, com excepção das tropas mercenárias, que recrutara nas ilhas estrangeiras. Esta decisão desagradou a todas as tropas que tinham servido os seus pais. 39Então, Trifon, antigo partidário de Alexandre, verificando que todo o exército murmurava contra Demétrio, foi procurar Imalcué, o árabe que educou Antíoco, o jovem filho de Alexandre. 40Instou para que lho entregasse, a fim de o fazer reinar no lugar de seu pai. Contou-lhe tudo o que Demétrio fez e a hostilidade do seu exército contra ele, permanecendo ali bastantes dias.
41Entretanto, Jónatas mandou pedir ao rei Demétrio que retirasse de Jerusalém as tropas que se encontravam na cidadela e nas outras fortalezas, porque hostilizavam Israel. 42Demétrio respondeu a Jónatas, dizendo: «Não só farei isto por ti e pelo teu povo, mas cumular-vos-ei de honras a ti e ao teu povo, quando chegar a ocasião propícia. 43Por agora, far-me-ias um grande favor, se enviasses homens em meu socorro, porque os meus soldados abandonaram-me.»
44Jónatas enviou imediatamente a Antioquia três mil homens valorosos, com cuja chegada o rei se alegrou muito. 45Os habitantes da cidade, em número de quase cento e vinte mil, amotinaram-se no centro da mesma, a fim de matarem o rei. 46Ele refugiou-se no palácio, e o povo, ocupando as ruas da cidade, começou o assalto. 47Então, o rei chamou os judeus em seu auxílio, os quais se agruparam ao redor dele; depois, espalharam-se pela cidade e mataram, nesse dia, cerca de cem mil homens. 48Incendiaram a cidade, apoderaram-se de um numeroso espólio, naquele dia, e salvaram o rei. 49Os habitantes perceberam que os judeus dominavam a cidade como lhes apetecia, perderam a coragem, e suplicaram ao rei, dizendo: 50«Concede-nos a paz e que os judeus cessem de combater contra nós e a nossa cidade.» 51Depuseram, pois, as armas e fizeram a paz. Os judeus, cobertos de glória diante do rei e dos súbditos, regressaram a Jerusalém com abundantes despojos. 52Demétrio conservou o seu trono, e todo o país ficou tranquilo diante dele. 53Contudo, o rei faltou completamente à palavra dada, separou-se de Jónatas e não mais lhe pagou benevolência com benevolência. Pelo contrário, tratou-o muito mal.
Jónatas contra Demétrio II – 54Depois destes acontecimentos, Trifon chegou com o jovem Antíoco, que foi proclamado rei e cingiu o diadema. 55Todas as forças que Demétrio despedira, juntaram-se a Trifon para atacar Demétrio, obrigando-o a fugir, derrotado. 56Trifon apoderou-se dos elefantes e conquistou Antioquia. 57O jovem Antíoco escreveu a Jónatas, dizendo-lhe: «Confirmo-te no sumo pontificado. Mantenho-te à frente dos quatro distritos e quero que sejas um dos amigos do rei.» 58Enviou-lhe, também, vasos e utensílios de ouro, concedeu-lhe autorização de beber em copos de ouro, de vestir-se de púrpura e de trazer uma fivela de ouro. 59Ao mesmo tempo, nomeou o seu irmão Simão governador desde a Escada de Tiro até à fronteira do Egipto.
60Então, Jónatas partiu, atravessou o país ao longo do rio e percorreu as cidades. As tropas sírias juntaram-se-lhe para lutar ao seu lado. Chegou a Ascalon e os habitantes saíram a recebê-lo com grandes honras. 61De lá seguiu para Gaza, que lhe fechou as portas; mas ele sitiou-a, incendiou e saqueou os arredores. 62Então os habitantes de Gaza pediram paz, que lhes foi outorgada; mas Jónatas tomou, como reféns, os filhos dos nobres e enviou-os para Jerusalém. A seguir, percorreu todo o país até Damasco. 63Jónatas teve notícia de que os generais de Demétrio tinham chegado a Quedes, na Galileia, com um forte exército, com intenção de pôr fim à sua actividade. 64Deixou no país o seu irmão Simão e foi ao encontro deles. 65Simão acampou em frente de Bet-Sur, combateu-a durante muito tempo e sitiou-a. 66Por fim, os habitantes pediram-lhe paz. Ele concedeu-lha, mas expulsou-os da cidade, da qual se apoderou pondo nela uma guarnição.
67Jónatas acampou com o seu exército perto do lago de Genesaré e, pela manhã, muito cedo, penetrou na planície de Haçor. 68Aqui veio ao seu encontro o exército dos estrangeiros; avançava pela planície e tinha-lhes colocado emboscadas nos montes. Eles iam em frente quando 69os que estavam na emboscada saíram dos seus postos e travaram combate. 70Todos os homens de Jónatas fugiram, ficando a seu lado apenas Matatias, filho de Absalão e Judas, filho de Calfi, chefes da milícia. 71Jónatas, muito triste, rasgou as suas vestes, cobriu a cabeça de pó e orou. 72Depois, lançou-se de novo sobre os inimigos, derrotou-os e pô-los em fuga. 73Vendo isto, as tropas que o tinham abandonado regressaram para junto dele, e, todos juntos, perseguiram os inimigos até Quedes, onde tinham o acampamento. Ali mesmo se instalaram. 74Naquele dia, morreram cerca de três mil estrangeiros, e Jónatas voltou para Jerusalém.
Capítulo 12
Embaixada a Roma e a Esparta – 1Jónatas, verificando que as circunstâncias lhe eram favoráveis, escolheu alguns homens e enviou-os a Roma para confirmar e renovar a amizade com os romanos. 2Entregou-lhes também cartas semelhantes para os espartanos e outros povos. 3Os embaixadores chegaram a Roma, dirigiram-se ao Senado e disseram: «O Sumo Sacerdote Jónatas e o povo judeu enviaram-nos para renovar convosco a amizade e a aliança, tal como existiram outrora.» 4E os romanos deram-lhes cartas para as autoridades de cada país, a fim de que pudessem regressar em paz à Judeia.
5Eis a cópia da carta que Jónatas escreveu aos espartanos: 6«Jónatas, Sumo Sacerdote, o conselho da nação, os sacerdotes e todo o povo judeu aos seus irmãos espartanos, saúde! 7Outrora, Onias, Sumo Sacerdote, recebeu de Areu, vosso rei, uma mensagem em que se dizia que éreis nossos irmãos, como comprova a cópia, aqui anexa. 8Onias acolheu o enviado com honra e recebeu a carta, na qual se fazia referência à aliança e à amizade. 9Nós, embora não tenhamos necessidade dessas vantagens, pois temos para nossa consolação os livros santos, que estão nas nossas mãos, 10resolvemos renovar os laços de fraternidade e amizade convosco, com receio de que nos tornássemos estranhos a vós, porque já decorreu muito tempo, desde que nos enviastes aquela embaixada. 11Sem cessar, nas grandes festas e nos outros dias solenes, lembramo-nos de vós, nos sacrifícios que oferecemos e nas nossas preces, porque é justo e conveniente pensar nos irmãos. 12Alegramo-nos com a vossa prosperidade. 13Quanto a nós, vivemos entre tribulações e guerras incontáveis, que nos fizeram os nossos reis vizinhos. 14Apesar disso, em todas estas guerras, não quisemos ser pesados, nem a vós nem aos outros aliados e amigos. 15Temos por auxílio, o socorro do Céu e, com ele, pudemos escapar dos nossos inimigos, que foram humilhados. 16Escolhemos Numénio, filho de Antíoco, e Antípatro, filho de Jasão, e enviámo-los a renovar com os romanos a antiga amizade e aliança. 17Encarregámo-los de passar junto de vós, para vos saudar e entregar, da nossa parte, esta carta, cujo fim é renovar a nossa fraternidade. 18Esperamos que nos respondais favoravelmente.»
19Eis a cópia da carta, outrora enviada a Onias:
20«Areu, rei dos espartanos, ao Sumo Sacerdote Onias, saúde! 21Encontrou-se num escrito, sobre os espartanos e os judeus, que estes povos são irmãos e descendentes de Abraão. 22Agora que sabemos isto, fareis bem em escrever-nos a dizer se gozais de paz. 23Nós também vos escreveremos. Os vossos rebanhos e os vossos haveres são nossos e os nossos são vossos. Enviamo-vos esta mensagem para que sejais informados.»
Campanha de Jónatas e Simão – 24Entretanto, Jónatas soube que os generais de Demétrio tinham chegado com tropas, muito mais numerosas que anteriormente, para o combater. 25Saiu, pois, de Jerusalém, e foi ao seu encontro no país de Hamat, para não lhes dar tempo de invadir o seu próprio país. 26Mandou espiões ao campo dos inimigos, que regressaram com a notícia de que os inimigos se preparavam para atacar naquela noite. 27Ao pôr-do-sol, Jónatas ordenou aos seus que velassem e empunhassem as armas, prontos para entrar em combate durante a noite, e colocou sentinelas ao redor de todo o acampamento. 28Ao saberem que Jónatas e os seus soldados estavam prontos para o combate, os inimigos, tomados de sobressalto e de pavor, fugiram, acendendo fogueiras no acampamento. 29Jónatas e os seus companheiros viram os fogos a arder, mas não perceberam nada até de manhã. 30Perseguiu-os, mas não os apanhou, porque eles tinham atravessado o rio Eleutero.
31Jónatas voltou-se então contra os árabes, chamados zabadeus, derrotou-os e apoderou-se dos seus despojos. 32Reuniu de novo o seu exército e alcançou Damasco, percorrendo toda aquela região. 33Entretanto, Simão pôs-se em marcha e chegou a Ascalon e às fortalezas vizinhas. De lá dirigiu-se a Jope, ocupando-a, 34porque ouvira dizer que os habitantes tinham intenção de entregar a cidadela às tropas de Demétrio. Colocou, pois, ali uma guarnição para a defender.
Obras em Jerusalém – 35De regresso a Jerusalém, Jónatas convocou os anciãos do povo e tomou com eles a decisão de edificar fortalezas na Judeia, 36de erguer muralhas em Jerusalém e de construir um muro alto entre a cidadela e a cidade, para a separar da cidade, a isolar completamente e impedir que os da cidadela vendessem ou comprassem o que quer que fosse. 37Reuniu-se a gente para reconstruir a cidade e, achando-se por terra a muralha que estava sobre a torrente do lado leste, restauraram-na, dando-lhe o nome de Cafenata. 38Simão edificou também Adida, na planície costeira, fortificou-a e pôs nela portas e ferrolhos.
Prisão de Jónatas – 39Por este tempo, Trifon planeava reinar na Ásia, cingir o diadema e tirar a vida ao rei Antíoco. 40Mas receava que Jónatas não lho permitisse e combatesse os seus esforços; por isso, procurou apoderar-se dele para lhe dar a morte. Partiu, pois, para Bet-Chan. 41Jónatas saiu ao seu encontro em Bet-Chan, com um exército de quarenta mil homens escolhidos. 42Vendo que Jónatas se aproximava com um numeroso exército, Trifon receou lançar-lhe a mão. 43Recebeu-o com grandes honras, apresentou-o a todos os seus amigos, ofereceu-lhe presentes e ordenou às suas tropas que lhe obedecessem como a ele próprio. 44Depois disse a Jónatas: «Porque fatigaste todo este povo, uma vez que não estamos em guerra? 45Envia-os de volta para as suas casas e escolhe alguns para te acompanharem e vem comigo a Ptolemaida. Entregar-te-ei a cidade, todas as outras fortalezas, as tropas e todos os funcionários; feito isto, retirar-me-ei, porque foi para isto que vim.» 46Jónatas acreditou nele, fez o que ele lhe disse e licenciou as tropas, que regressaram ao país de Judá. 47Reteve consigo três mil homens, dos quais enviou dois mil à Galileia e conservou mil em sua companhia.
48Mal Jónatas entrou em Ptolemaida, os habitantes fecharam-lhe as portas, prenderam-no e passaram a fio de espada todos os que estavam com ele. 49Por sua vez, Trifon enviou à Galileia e à grande planície o seu exército e a sua cavalaria, para esmagar os que Jónatas para lá enviara. 50Mas estes, ouvindo dizer que Jónatas morrera com todos os seus companheiros, encorajaram-se mutuamente e marcharam em boa ordem, prontos para o combate. 51Os perseguidores, vendo que eles estavam dispostos a defender a sua vida, regressaram. 52Deste modo, os judeus voltaram sãos e salvos à terra de Judá. Choraram Jónatas e os seus companheiros e encheram-se de grande temor. E Israel chorou-o amargamente. 53Então os povos circunvizinhos procuraram oprimi-los, dizendo entre si: 54«Eles não têm ninguém para os comandar nem para os socorrer; agora é o momento de os atacarmos e apagarmos a sua lembrança do meio dos homens.»
Capítulo 13
Simão sucede a Jónatas – 1Simão foi informado de que Trifon organizara um poderoso exército, para vir à Judeia e devastá-la. 2Vendo o povo amedrontado e espavorido, subiu a Jerusalém e convocou a população. 3E para os animar, falou-lhes nestes termos: «Vós sabeis bem, meus irmãos, o que eu e a casa de meu pai temos feito pelas leis e pelo santuário, as guerras e as dificuldades que temos enfrentado. 4Foi por isso que os meus irmãos morreram pela casa de Israel, ficando eu só. 5Deus me guarde, agora, de poupar a minha vida quando o inimigo nos oprime, porque não sou melhor que os meus irmãos! 6Por isso hei-de vingar o meu povo, o santuário, as vossas esposas e os vossos filhos, uma vez que todas as nações, por ódio, estão coligadas para nos destruir.»
7A estas palavras, os ânimos inflamaram-se 8e todos responderam em alta voz: «Tu és o nosso chefe em lugar de Judas e de Jónatas, teus irmãos; 9combate por nós e nós faremos tudo o que disseres.» 10E Simão reuniu todos os que podiam lutar, apressou-se em terminar os muros de Jerusalém e fortificou-a em volta. 11Enviou Jónatas, filho de Absalão, com um novo exército contra Jope. Jónatas expulsou os habitantes e instalou-se na cidade.
12Trifon, porém, saiu de Ptolemaida com um numeroso exército para entrar na terra de Judá. Trouxe consigo Jónatas, prisioneiro. 13Simão acampou em Adida, em frente da planície. 14Informado de que Simão tinha ocupado o lugar de seu irmão Jónatas e se dispunha para o combater, Trifon enviou-lhe mensageiros, para lhe dizer: 15«Retivemos o teu irmão por causa do dinheiro que deve ao tesouro real, em virtude das funções que desempenhava. 16Envia-nos cem talentos e dois dos seus filhos como reféns, para que, ao ser libertado, não se rebele contra nós, e deixá-lo-emos ir.» 17Simão percebeu que estas palavras eram falsas, mas mandou buscar o dinheiro e os filhos, para não atrair sobre si a hostilidade do povo, que poderia dizer: 18«Não enviou o dinheiro nem os filhos e, por isso, mataram Jónatas.»
19Remeteu, pois, o dinheiro e os filhos, mas Trifon faltou à palavra e não libertou Jónatas. 20Pôs-se logo a caminho para entrar na Judeia e devastá-la, fazendo um desvio por Adora, mas Simão, com as suas tropas, seguia-o sempre, para toda a parte para onde fosse. 21Pela sua parte, os ocupantes da cidadela enviaram mensageiros a Trifon para que se apressasse a ir ter com eles pelo deserto, a fim de lhes fornecer víveres. 22Trifon preparou a cavalaria para partir naquela mesma noite mas, por causa da muita neve que caiu, não pôde ir a Guilead. 23E, quando chegou perto de Bascama, matou Jónatas e sepultou-o ali. 24Depois, retrocedeu e voltou à sua terra.
Jónatas é sepultado em Modin – 25Simão mandou recolher os restos do seu irmão Jónatas e sepultou-os em Modin, cidade dos seus pais. 26E todo o Israel fez por ele grande pranto e guardou luto durante muitos dias. 27Sobre o túmulo do seu pai e dos seus irmãos, Simão edificou um monumento grandioso, com pedras polidas nas duas faces. 28Ergueu ali sete pirâmides, umas em frente das outras, para seu pai, sua mãe e seus quatro irmãos. 29Ornamentou-as e cercou-as de altas colunas, sobre as quais, para perpétua memória, colocou armas e, junto delas, navios esculpidos, que poderiam ser vistos por todos os que navegavam no mar. 30Este mausoléu, que construiu em Modin, perdura até ao dia de hoje.
Concessões de Demétrio II aos judeus – 31Trifon, que servia o jovem rei Antíoco com duplicidade, mandou assassiná-lo. 32E reinou em seu lugar, cingindo o diadema da Ásia. E causou grande mal ao país.
33Simão reergueu as praças fortes da Judeia, reforçou-as com torres elevadas, com grandes muros e ferrolhos, e proveu-as de víveres. 34Enviou mensageiros ao rei Demétrio, pedindo-lhe que concedesse ao país a remissão dos tributos, porquanto Trifon submetera-o inteiramente à pilhagem. 35O rei Demétrio escreveu-lhe a seguinte carta:
36«O rei Demétrio a Simão, Sumo Sacerdote e amigo dos reis, aos anciãos e ao povo judeu, saúde! 37Recebemos a coroa de ouro e a palma que vós nos enviastes e estamos dispostos a concluir convosco uma paz sólida e a escrever aos funcionários, para que vos dispensem dos impostos. 38Tudo o que foi decidido em vosso favor, está confirmado, e as fortalezas que construístes são vossas. 39Perdoamo-vos todos os erros e as faltas cometidas até ao dia de hoje. Renunciamos aos direitos da coroa que nos devíeis e, se existem ainda em Jerusalém outros impostos a pagar, não se paguem mais. 40Finalmente, se existem entre vós alguns que sejam aptos para se alistarem na nossa guarda, alistem-se e que a paz reine entre nós.»
41Foi no ano cento e setenta que Israel se libertou do jugo dos gentios, 42e o povo começou a datar os actos e os contratos desde o primeiro ano de Simão, Sumo Sacerdote, chefe do exército e governador dos judeus.
Simão toma a cidadela de Jerusalém – 43Nesta época, Simão veio acampar diante de Guézer e cercou-a. Construiu máquinas de guerra, aproximou-as da cidade, atacou uma torre e apoderou-se dela. 44Os soldados que estavam numa destas máquinas entraram na cidade e causaram ali uma grande confusão, 45de modo que os habitantes, com as esposas e os filhos, apareceram sobre os muros, rasgaram as vestes e, com altos brados, pediram a Simão que lhes concedesse a paz, 46dizendo-lhe: «Não nos trateis conforme as nossas maldades, mas segundo a vossa misericórdia.» 47Simão perdoou-lhes e não prosseguiu o combate, mas expulsou-os da cidade e mandou purificar todos os edifícios em que havia ídolos e, depois, entrou nela ao som de hinos e de cânticos de louvor. 48Purificada a cidade de toda a impureza, instalou nela os habitantes fiéis à lei, fortificou-a e construiu uma morada para si mesmo.
49Os ocupantes da cidadela de Jerusalém, não podendo entrar nem sair para comprar e vender, achavam-se numa grande miséria e muitos deles morreram de fome. 50Suplicaram a Simão que lhes concedesse a paz, e Simão outorgou-lha; mas expulsou-os da cidadela e purificou-a de todas as contaminações. 51E entrou nela, no dia vinte e três do segundo mês, no ano cento e setenta e um, com cânticos e palmas, harpas, címbalos, liras e hinos de louvor, porque um grande inimigo de Israel tinha sido aniquilado. 52Ordenou também que este dia fosse celebrado cada ano, com alegria. Fortificou a montanha do templo, do lado da cidadela, e habitou ali com os seus. 53Finalmente, vendo Simão que o seu filho João era valoroso guerreiro, confiou-lhe o comando de todas as tropas, com residência em Guézer.
Capítulo 14
Morte de Demétrio II – 1No ano cento e setenta e dois, o rei Demétrio reuniu as suas tropas e entrou na Média, para aí organizar um exército de socorro, a fim de fazer guerra a Trifon. 2Mas Arsaces, rei da Pérsia e da Média, informado de que Demétrio entrara no seu território, enviou um dos seus generais com o encargo de o apanhar vivo. 3Este partiu e derrotou o exército de Demétrio, fazendo-o prisioneiro. Enviou-o a Arsaces, que o encarcerou.
Elogio de Simão – 4Enquanto Simão viveu, reinou a paz na Judeia.
Procurou o bem-estar do seu povo,
o seu governo agradou a todos
e foi grande a sua fama.
5Acrescentou aos seus títulos de glória
a conquista de Jope para porto,
e assim abriu um caminho para as ilhas do mar.
6Alargou as fronteiras do seu país,
estendeu a sua autoridade sobre todo o povo
7e resgatou muitos prisioneiros.
Apoderou-se de Guézer, de Bet-Sur e da cidadela,
que purificou das suas impurezas,
e ninguém ousava opor-lhe resistência.
8Cada um trabalhava em paz a sua terra;
a terra dava as suas colheitas
e as árvores dos campos, os seus frutos.
9Os anciãos assentavam-se nas praças
e falavam da prosperidade do país;
os jovens vestiam-se de ricos vestidos e uniformes militares.
10Abasteceu as cidades de alimentos
e equipou-as com meios de defesa.
A sua fama chegou aos confins da terra.
11Estabeleceu a paz no seu país
e Israel exultou de alegria.
12Cada um descansava à sombra da sua parreira ou da sua figueira,
sem que ninguém o incomodasse.
13Desapareceram do país os seus inimigos
e os reis, naquele tempo,
foram derrotados.
14Protegeu todos os humildes do seu povo,
zelou sempre pela lei
e exterminou todos os ímpios e perversos.
15Deu esplendor ao templo
e enriqueceu o tesouro do santuário.
Renovação da aliança com Esparta e Roma – 16A morte de Jónatas foi bem depressa conhecida em Roma, e até em Esparta, provocando grande pesar. 17Mas, logo que os romanos e os espartanos souberam que o seu irmão se tinha tornado Sumo Sacerdote em seu lugar e governava o país em todas as suas cidades, 18escreveram-lhe em placas de bronze para lhe renovar a amizade e a aliança, outrora concluída com os seus irmãos Judas e Jónatas.
19Estas cartas foram lidas diante da assembleia, em Jerusalém. 20A cópia daquela que enviaram os espartanos é a seguinte:
«Os príncipes e a cidade de Esparta ao Sumo Sacerdote Simão, aos anciãos, aos sacerdotes e ao povo judeu, seu irmão, saúde! 21Os mensageiros que enviastes ao nosso povo contaram-nos a vossa honra e glória, e nós regozijámo-nos com a sua chegada. 22Registámos, como segue, a proposta que fizeram às deliberações do povo: Numénio, filho de Antíoco, e Antípatro, filho de Jasão, vieram ter connosco da parte dos judeus, para renovar a sua antiga amizade por nós. 23O povo resolveu receber honrosamente os mensageiros e depositar uma cópia das suas palavras nos arquivos públicos, para que ficasse na memória do povo de Esparta. E, sobre isto, enviamos uma cópia a Simão, Sumo Sacerdote.»
24Depois de tudo isto, Simão enviou Numénio a Roma, com um grande escudo de ouro, que pesava mil minas, com o fim de renovar a aliança com os romanos.
Simão reconhecido como príncipe do povo – 25Ao ter conhecimento destas coisas, o povo disse: «Que sinal de reconhecimento daremos a Simão e aos seus filhos? 26Tanto ele, como os seus irmãos e a casa de seu pai, mostraram-se valorosos, venceram os inimigos de Israel e asseguraram-lhe a liberdade.» Gravaram, pois, uma inscrição sobre placas de bronze, que colocaram entre as estelas conservadas no monte Sião. 27Eis a cópia dessa inscrição:
«No dia dezoito do mês de Elul, do ano cento e setenta e dois, o terceiro ano do pontificado de Simão, 28na grande assembleia dos sacerdotes, do povo, dos chefes da nação e dos anciãos, tomou-se esta deliberação:
29‘Tendo havido no nosso país guerras contínuas, Simão, filho de Matatias, descendente de Joiarib, e os seus irmãos, expuseram-se ao perigo e resistiram aos inimigos da sua raça para salvar o templo e a lei, elevando o seu povo a uma grande glória. 30Jónatas juntou todo o povo e tornou-se Sumo Sacerdote e, agora, foi reunir-se aos seus antepassados.
31Os inimigos quiseram invadir o país, para o devastar e profanar os lugares santos; 32mas, então, levantou-se Simão. Combateu pela sua nação, gastou uma grande parte dos seus bens para armar os homens do exército e pagar-lhes o soldo. 33Fortificou as cidades da Judeia e Bet-Sur, que se encontra na fronteira, a qual, antes, era arsenal do inimigo, e pôs ali uma guarnição judia. 34Da mesma forma, fortificou Jope, situada na costa, e Guézer, na fronteira de Asdod, outrora povoada de inimigos, na qual colocou uma guarnição de soldados judeus, provendo-os de tudo o que era necessário para a defesa.
35O povo, vendo a fidelidade de Simão e a glória que queria adquirir para a sua gente, escolheu-o para chefe e para Sumo Sacerdote, em virtude de tudo o que tinha feito, pela justiça e fidelidade que guardou à sua pátria e por ter procurado todos os meios para a enaltecer. 36Sob a sua autoridade, os gentios foram exterminados do seu território e expulsos os ocupantes da cidade de David, em Jerusalém, lugar em que tinham construído uma cidadela, da qual saíam para manchar os acessos do templo e profanar gravemente a sua santidade. 37Simão colocou ali uma guarnição judia, fortificou-a, para proteger o país e a cidade, e alteou os muros de Jerusalém. 38E o rei Demétrio confirmou Simão no cargo de Sumo Sacerdote, 39contou-o no número dos seus amigos e demonstrou-lhe uma grande consideração. 40Com efeito, soube que os romanos davam aos judeus o nome de irmãos, de amigos e de aliados e que tinham recebido honrosamente os enviados de Simão. 41Soube também, que os judeus e os seus sacerdotes tinham consentido que Simão se tornasse seu chefe e Sumo Sacerdote, perpetuamente, até à vinda de um profeta fiel, 42o qual tomasse o comando do exército, cuidasse do culto, designasse superintendentes para os trabalhos, as regiões do país, os armamentos, as fortificações, 43que se ocupasse do culto, que fosse obedecido por todos, que no país todos os actos públicos fossem escritos em seu nome e que andasse vestido de púrpura e insígnias de ouro. 44E, finalmente, que não fosse permitido a ninguém, do povo ou dos sacerdotes, rejeitar uma só das suas disposições, contradizer as suas ordens, convocar reuniões no país, sem o seu assentimento, vestir-se de púrpura ou usar fivela de ouro. 45Todo aquele que agisse ou violasse alguma das suas decisões, fosse considerado como réu. 46Aprouve ao povo dar a Simão este poder para que agisse conforme estas disposições. 47Simão aceitou, agradecido, exercer o sumo sacerdócio, chefiar o exército, governar os judeus e os sacerdotes e assumir a autoridade sobre todos’.»
48Convencionou-se que esta inscrição fosse gravada em placas de bronze e colocada em lugar visível, na galeria do templo, 49e que, além disso, uma cópia fosse depositada na dependência do tesouro, à disposição de Simão e dos seus filhos.
Capítulo 15
Carta de Antíoco VII a Simão – 1Antíoco, filho do rei Demétrio, escreveu, desde as ilhas do mar, uma carta a Simão, sacerdote e chefe dos judeus, e a todo o povo. 2O teor da carta era o seguinte:
«O rei Antíoco a Simão, Sumo Sacerdote e príncipe e ao povo judeu, saúde! 3Alguns traidores apoderaram-se do reino de nossos pais, mas quero reavê-lo e restabelecê-lo como foi outrora. Organizei, pois, um poderoso exército e mandei construir navios de guerra. 4Quero entrar no meu país, para me vingar daqueles que o devastaram e assolaram inúmeras cidades.
5Pela presente carta, confirmo-te todas as isenções, outorgadas pelos meus reais predecessores, e todas as dádivas que eles te fizeram. 6Dou-te permissão de cunhar moeda própria, para ser usada no teu país. 7Quero que Jerusalém e os lugares santos gozem de liberdade. Todos os armamentos que mandaste fazer e todas as fortalezas que construíste e que estão em teu poder podes guardá-los. 8Quero que te sejam perdoadas, desde agora e para sempre, as dívidas que deves ou deverás ao tesouro real. 9Quando tivermos entrado na posse do nosso reino, cumular-te-emos de grandes honras, a ti, ao teu povo e ao templo, de maneira que a vossa glória ficará célebre em toda a terra.»
Antíoco VII contra Trifon – 10No ano cento e setenta e quatro, Antíoco entrou no reino dos seus pais, e todas as tropas se lhe juntaram, de modo que foram poucos os que ficaram com Trifon. 11Este, perseguido por Antíoco, refugiou-se em Dor, perto da costa, 12porque sabia que a desgraça o ia atingindo e que o seu exército o abandonava. 13Antíoco cercou Dor com cento e vinte mil homens e oito mil cavaleiros. 14Cercaram a cidade, por mar e por terra, e apertaram o cerco, sem deixar sair ou entrar ninguém.
Embaixada judaica regressa de Roma – 15Nessa ocasião, Numénio e os seus companheiros voltaram de Roma com cartas dirigidas aos reis e aos povos, do seguinte teor:
16«Lúcio, cônsul romano, ao rei Ptolomeu, saúde! 17Os embaixadores enviados por Simão, Sumo Sacerdote, e pelo povo judeu, como amigos e aliados, vieram ter connosco para renovar a antiga amizade e a aliança. 18Trouxeram-nos, ao mesmo tempo, um escudo de ouro de mil minas. 19Pareceu-nos bem, então, escrever aos reis e aos povos, para que não lhes causem dano, nem lhes façam guerra, a eles, às suas cidades ou ao seu país, nem se aliem com os seus inimigos. 20Agradou-nos aceitar o escudo que nos trouxeram. 21Se alguns judeus desertores se refugiaram junto de vós, entregai-os ao Sumo Sacerdote Simão, para que ele os castigue, segundo a sua lei.»
22Idêntica carta foi enviada ao rei Demétrio, a Átalo, a Ariarates, a Arsaces 23e a todos os povos, a Sampsamo, aos espartanos, a Delos, a Mindos, a Sícion, à Cária, a Samos, à Panfília, à Lícia, a Halicarnasso, a Rodes, a Fasélida, a Cós, a Side, a Arado, a Gortina, a Cnido, a Chipre e a Cirene. 24E uma cópia destas foi enviada a Simão, Sumo Sacerdote.
Antíoco VII contra Simão – 25O rei Antíoco apertou o cerco a Dor, construiu máquinas de guerra e cercou Trifon, de modo que ele não podia sair nem entrar. 26Por sua vez, Simão enviou dois mil homens escolhidos, a fim de combaterem ao lado dele, com prata, ouro e muitos equipamentos. 27Porém, o rei não quis aceitar nada, antes revogou todos os tratados feitos, ao princípio, com Simão e tornou-se-lhe hostil. 28Enviou-lhe Atenóbio, um dos seus amigos, para lhe comunicar o seguinte:
«Ocupastes Jope e Guézer, cidades do meu reino, e também a cidadela de Jerusalém. 29Assolastes o território, devastastes o país e apoderastes-vos de numerosas localidades do meu reino. 30Portanto, ou me entregais as cidades que ocupastes e os tributos das regiões que conquistastes, fora das fronteiras da Judeia, 31ou então, em troca, pagareis quinhentos talentos de prata por aquelas cidades, e outros quinhentos talentos pelas perdas causadas e pelas rendas das cidades; de contrário, iremos combater contra vós.»
32Atenóbio, amigo do rei, chegou a Jerusalém, e vendo as honras prestadas a Simão, o serviço de mesa com taças de ouro e prata, a sua habitação faustosa, ficou maravilhado. Referiu a Simão as palavras do rei, 33e Simão respondeu: «Não foi uma terra estrangeira que conquistámos, nem uma propriedade que não fosse nossa, mas unicamente a herança dos nossos pais, injustamente usurpada durante algum tempo pelos nossos inimigos. 34Chegou a hora de reivindicarmos a herança dos nossos pais. 35Pelo que toca a Jope e a Guézer, que tu reclamas e que tanto mal fizeram ao nosso povo, devastando a nossa região, estamos dispostos a pagar cem talentos.» Atenóbio nada respondeu, 36mas voltou, furioso, para junto do rei, repetindo-lhe esta resposta e contando-lhe o fausto de Simão e tudo o que tinha visto, pelo que o rei se enfureceu sobremaneira.
O governador Cendebeu incomoda os judeus – 37Por esse tempo, Trifon fugiu num navio para Ortosia. 38O rei nomeou então Cendebeu governador da costa marítima e entregou-lhe tropas de infantaria e de cavalaria, 39ordenando-lhe que marchasse contra a Judeia, reconstruísse Quédron, fortificasse os acessos à cidade e atacasse o povo judeu. Entretanto, o rei foi em perseguição de Trifon.
40Chegado a Jâmnia, Cendebeu começou a importunar o povo judeu, a lançar ataques à Judeia, fazendo grande número de prisioneiros e mortos. 41Construiu Quédron e colocou nela uma guarnição de infantaria e cavalaria, para fazer incursões pela Judeia, como lhe ordenara o rei.
Capítulo 16
Vitória dos filhos de Simão sobre Cendebeu – 1Subindo João, de Guézer a Jerusalém, veio anunciar a seu pai o que fazia Cendebeu. 2Simão chamou, então, os seus dois filhos mais velhos, João e Judas, e disse-lhes: «Eu, os meus irmãos e a casa de meu pai, temos resistido aos inimigos de Israel desde a nossa juventude até ao dia de hoje e tivemos a dita de libertar muitas vezes a nação. 3Mas já estou velho, enquanto vós, graças a Deus, tendes a idade necessária. Tomai, pois, o meu lugar e o de meu irmão, ide combater pela nossa gente, e que o socorro do céu esteja convosco.» 4João recrutou, no país, vinte mil infantes e cavaleiros, os quais marcharam contra Cendebeu e acamparam junto de Modin. 5Levantando-se ao romper da aurora, avançaram pela planície e viram um exército numeroso de infantes e de cavaleiros, que vinha contra eles. Só uma torrente separava os dois exércitos. 6João dispôs os seus homens em frente do inimigo mas, verificando que eles temiam passar o rio, atravessou-o primeiro, e todos lhe seguiram o exemplo. 7Dividiu o exército em duas alas e colocou os cavaleiros no centro da infantaria, porque a cavalaria inimiga era muito numerosa. 8Fizeram soar as trombetas. Cendebeu e os seus homens foram derrotados; muitos deles pereceram ao fio da espada e os que escaparam com vida refugiaram-se na fortaleza. 9Judas, irmão de João, foi ferido, mas João perseguiu o inimigo até Quédron, que Cendebeu tinha reconstruído. 10Muitos fugiram para as torres construídas na campina de Asdod, mas ele incendiou-as e pereceram cerca de dois mil homens. Depois disto, João voltou em paz para a Judeia.
Fim trágico de Simão – 11Ptolomeu, filho de Abubo, fora nomeado comandante da planície de Jericó. Tinha muito ouro e prata, 12porque era genro do Sumo Sacerdote. 13O seu coração ensoberbeceu-se e resolveu tornar-se senhor do país: maquinou, pois, uma traição contra Simão e os seus filhos, para os fazer desaparecer. 14E no décimo primeiro mês, isto é, no mês de Chebat, do ano cento e setenta e sete, quando ele percorria as cidades no interior do país, para zelar os seus interesses, Simão desceu a Jericó com os seus filhos, Matatias e Judas. 15O filho de Abubo recebeu-os perfidamente, numa fortaleza, chamada Doc, que tinha construído. Ofereceu-lhes um grande banquete, mas ocultou nela os seus homens. 16E quando Simão e os seus filhos ficaram ébrios, Ptolomeu e os seus homens levantaram-se, tomaram as suas armas, lançaram-se sobre Simão e mataram-no na sala do banquete, juntamente com os seus dois filhos e alguns dos seus servidores. 17Isto foi uma grande traição que se cometeu em Israel, pagando o bem com o mal.
18Ptolomeu escreveu ao rei, para o informar, pedindo-lhe que lhe enviasse tropas em seu socorro, a fim de entregar nas suas mãos a região e as cidades. 19Enviou outros a Guézer, para que matassem João; e escreveu aos chefes do exército para que se juntassem a ele, pois dar-lhes-ia prata, ouro e presentes. 20Enviou outros emissários para que se apoderassem de Jerusalém e da montanha santa.
21Porém, um homem antecipou-se e foi a Guézer avisar João de que o seu pai e os seus irmãos tinham perecido e que Ptolomeu enviara também assassinos para lhe tirar a vida. 22Ao ouvir esta notícia, João ficou indignado, mandou prender aqueles que vinham para o assassinar e matou-os, pois sabia perfeitamente quais eram as suas intenções.
23As outras façanhas de João, as suas guerras, os feitos que realizou com singular valor e a reedificação das muralhas, 24tudo isso está escrito nos Anais do seu pontificado, desde o tempo em que se tornou Sumo Sacerdote, depois do seu pai Simão.