Capítulo 21

David em Nob1Da­vid levan­tou-se e partiu, e Jó­na­tas vol­tou para a cidade. 2Da­vid retirou-se, pois, para Nob, onde se encontra a casa do sacerdote Ai­mé­lec. Este fi­cou muito surpreendido com a visita de David e pergun­tou-lhe: «Por que vens só?» 3David res­pondeu-lhe: «O rei confiou-me uma missão, orde­nan­do-me: ‘Que nin­guém saiba do assunto que te en­comen­dei.’ Os meus homens estão em determi­nado lugar. 4Agora, pois, se tens à mão, mesmo que sejam uns cinco pães, entrega-mos, ou qual­quer coisa que tenhas disponí­vel.»

5O sacer­dote respon­deu: «Não te­nho à mão pão ordinário, mas só pão consagrado. Poderás tomá-lo, se é que os teus servos se abstive­ram de rela­ções com mulheres.» 6Res­pon­deu-lhe David: «Não tive rela­ções com mulher al­guma desde que parti, há três dias. Os meus servos estão igual­mente pu­ros; e, se a missão é pro­fana, pode ser santificada por aquele que a cumpre.»

7Então o sacerdote deu-lhe os pães santificados, porque não havia ali se­não os pães da oferenda, que tinham sido tirados da presença do Senhor e imediatamente substituídos por pães quentes. 8Achava-se ali, naquele dia, retido na presença do Senhor, um dos servos de Saul, chamado Doeg, o edo­mita, chefe dos pastores de Saul.

9Disse ainda David a Aimélec: «Tens aqui à mão uma lança ou uma espada? Nem sequer tive tem­po de tomar a minha lança e as mi­nhas ar­mas, porque era urgente a ordem do rei.» 10Disse-lhe o sacerdote: «Te­nho a espada do filisteu Golias, que tu mesmo mataste no vale do Tere­binto. Está embrulhada num pano por trás da insígnia vo­tiva. Se quiseres, podes tomá-la, pois aqui não há outra.» Re­plicou David: «Não há outra igual; dá-ma.»


David em Gat11Nesse dia, David partiu e fugiu com medo de Saul, re­fu­­giando-se junto de Aquis, rei de Gat. 12Os servos de Aquis disseram ao rei: «Não é este David, o rei da terra, acerca do qual se cantava em coro: ‘Saul matou mil, mas David matou dez mil?’» 13David, impressio­nado com estas palavras, teve medo de Aquis, rei de Gat. 14Simulou um ataque de loucura diante deles: fa­zia movimen­tos raros com as mãos, batia nas por­tas e deixava correr a saliva pela barba. 15Aquis disse aos servos: «Bem vedes que este homem está louco. Por­que mo trouxestes? 16Porventura, não tenho aqui bas­tan­­tes loucos, para me trazerdes ainda mais este, para me aborrecer com as suas excen­trici­da­des? Seme­lhante ho­­mem há-de ter entrada na minha casa?»

Capítulo 22

David entre os moabitas 1David saiu dali e refugiou-se na caverna de Adu­lam. Os seus irmãos e todos os seus ho­mens sou­beram-no e foram juntar-se a ele.

2Todos os que se viam an­gus­tia­dos, endividados e descon­ten­tes fo­ram ter com David e ele tor­nou-se o seu che­fe. E juntaram-se a ele cerca de qua­trocentos ho­mens.

3Daí, Da­vid partiu para Mis­pá, em Moab. E disse ao rei de Moab: «Permite que meu pai e minha mãe venham viver no meio de vós, até que eu saiba o que Deus quer de mim.» 4Apresen­tou-os, pois, ao rei de Moab, e fica­ram com ele durante todo o tempo que David permane­ceu na­quele refúgio. 5Mas o profeta Gad disse a David: «Não fiques na forta­leza. Parte, e vai para a ter­ra de Judá.» David par­tiu e veio para o bosque de Haret.


Morte dos sacerdotes de Nob6Saul foi informado de que David e os seus homens tinham sido des­co­bertos. Estava Saul em Guibeá, sen­tado debaixo de uma tamareira, na co­lina, com a sua lança na mão, ro­deado por todos os seus criados.

7Saul disse-lhes: «Escutai, filhos de Benjamim: Será que o filho de Jessé dará a todos vós campos e vinhas? Irá ele fazer de todos vós chefes de milhares e chefes de centenas? 8Por­que vos conjurastes contra mim? Ne­nhum de vós me veio dar conhe­ci­mento da aliança que meu filho fez com o filho de Jessé; ninguém se deu ao trabalho de me avisar de que meu filho instigava o meu servo con­tra mim, para me armar ciladas, como está a acontecer!»

9Doeg, o edomita, que era o pri­meiro entre os criados de Saul, res­pondeu: «Eu vi o filho de Jessé; foi a Nob, a casa de Aimélec, filho de Ai­tub. 10Este consultou o Senhor para ele, deu-lhe víveres e entregou-lhe a espada do filisteu Golias.»

11O rei mandou chamar o sacer­dote Aimélec, filho de Aitub, com toda a casa de seu pai, e os sacer­dotes que estavam em Nob. E estes vieram todos apresentar-se ao rei. 12Saul disse-lhes: «Escuta, filho de Ai­tub!» Ele res­pondeu: «Que me que­­res, senhor?» 13Disse-lhe Saul: «Por­que conspiraste contra mim, tu e o filho de Jessé? Deste-lhe pão e uma espada e consultaste Deus por ele, a fim de que ele continue a sublevar-se contra mim e me arme ciladas, como está a acontecer!»

14Aimélec res­pondeu ao rei: «Ha­verá entre todos os teus servos al­guém mais fiel do que David, genro do rei, fiel às tuas ordens e homem estimado por toda a tua casa? 15Foi porventura apenas hoje que con­sul­tei Deus por ele? Lon­ge de mim ou­tra ideia! Não atribua o rei crime algum ao seu servo, nem à sua família! O teu servo nada sabe desse assunto.» 16O rei disse: «Tu morrerás, Aimé­lec, tu e toda a casa de teu pai.»

17E dirigindo-se aos guardas que o rodeavam, disse-lhes: «Ide e matai os sacerdotes do Senhor, pois fize­ram-se cúmplices de David; sabiam da sua fuga e não mo denuncia­ram.» Mas os guardas do rei recusaram-se a levantar a mão contra os sacerdo­tes do Senhor. 18Então, o rei orde­nou a Doeg: «Investe tu contra os sacer­dotes.» E Doeg, o edomita, apro­xi­mou-se e matou os sacerdotes. Ma­tou, naquele dia, oitenta e cinco ho­mens que vestiam a insígnia votiva de li­nho. 19Ordenou também Saul que fosse passada ao fio da espada a cidade sacerdotal de Nob, matando homens e mulheres, meninos, crian­ças de peito, bois, jumentos e ove­lhas.

20Contudo, escapou um filho de Aimélec, filho de Aitub, chamado Abia­­­tar, que se refugiou junto de David. 21Abiatar contou-lhe que Saul tinha mandado matar os sacerdotes do Se­nhor. 22David disse-lhe: «Eu bem sus­peitava, naquele dia, que es­­tando ali Doeg, o edomita, iria contar tudo a Saul. Sou eu o culpado da morte de toda a casa de teu pai. 23Fica comigo, e não temas. Aquele que odiar a mi­nha vida, odiará igual­­mente a tua. Junto de mim estarás salvo.»

Capítulo 23

David liberta Queila1Avi­­­saram David, dizendo: «Os fi­lis­teus estão a atacar Queila e a pilhar as eiras.» 2David consultou o Senhor: «Poderei vencer os fi­lis­teus?» O Senhor respondeu: «Vai, pois tu derrotarás os filisteus e li­ber­tarás Queila.» 3Os homens de Da­­­vid, porém, disseram-lhe: «Mesmo aqui em Judá estamos cheios de me­do; quanto mais se formos a Queila con­tra as tropas dos filisteus!»

4Da­vid consultou novamente o Se­nhor, que lhe respondeu: «Vai, desce a Queila, porque entregarei os filis­teus nas tuas mãos.» 5David foi para Queila com os seus homens; atacou os filis­teus, tomou-lhes o gado e infli­giu-lhes pesada derrota; assim liber­tou os ha­bi­tantes de Queila. 6Ora quando Abiatar, filho de Ai­mé­­lec, se refu­giou junto de David em Queila, levava con­sigo a insígnia votiva.


Saul persegue David7Comuni­ca­­ram a Saul: «David refugiou-se em Queila.» Saul pensou: «Deus entre­gou-o nas minhas mãos, pois foi es­con­­­der-se numa cidade com portas e ferrolhos.» 8O rei convocou todo o povo às armas para descer a Queila e sitiar David com a sua tropa. 9Mas David, sabendo que era má a in­ten­ção de Saul, disse ao sa­cerdote Abia­­­­­tar: «Traz a insígnia vo­­tiva.» 10E acres­­centou: «Senhor, Deus de Israel, teu servo David soube que Saul quer entrar em Queila, para destruir a cidade por minha causa. 11Será que os habitantes de Queila, me entre­garão nas suas mãos? Saul virá, de facto, como o teu servo ou­viu dizer? Senhor, Deus de Israel, revela-o ao teu servo.» O Senhor respondeu: «Saul virá.» 12David acres­­centou: «Os habitantes de Queila vão entregar-me, a mim e aos meus homens, nas mãos de Saul?» O Senhor respon­deu: «Sim, vão entregar-te.»

13Então David partiu dali com a sua tropa, em número de uns seis­centos homens, e saíram de Queila, marchando ao acaso. Saul, infor­mado de que David abando­nara Queila, sus­pendeu a expedição. 14Da­vid perma­neceu no deserto, em lugares bem protegidos, e habitou no monte do deserto de Zif. Saul, entretanto, pro­curava-o sem cessar, mas Deus não o entregou nas suas mãos.


Visita de Jónatas15David, sa­bendo que Saul tinha saído para lhe tirar a vida, ficou em Horcha, no de­serto de Zif. 16Então, Jónatas, filho de Saul, levantou-se e foi ter com David a Horcha. E confortou-o em nome de Deus, dizendo-lhe: 17«Não temas, porque Saul, meu pai, não te poderá prender. Tu reinarás sobre Israel, e eu serei o segundo no teu rei­no; meu pai, Saul, bem o sabe.» 18Fi­zeram ambos uma aliança dian­­te do Senhor. David ficou em Hor­cha e Jónatas voltou para sua casa.

19Alguns de Zif foram ter com Saul a Guibeá e disseram-lhe: «Não está David escondido entre nós, na fortaleza de Horcha, sobre a colina de Haquilá, ao sul do deserto? 20Visto que o teu desejo é vir ao seu encon­tro, ó rei, vem e nós o entregaremos nas tuas mãos.» 21Respon­deu Saul: «Que o Senhor vos aben­çoe, porque vos compadecestes de mim. 22Ide, pois, informai-vos e vede por onde anda e quem o viu ali, pois disse­ram-me que é muito astuto. 23Explorai e descobri todos os seus esconderijos e trazei-me notícias segu­ras, a fim de eu ir convosco e, se ele está na re­gião, buscá-lo-ei por todas as famílias de Judá.» 24Eles despediram-se e parti­ram antes de Saul, para Zif.

Mas David e os seus ho­mens es­tavam já no deserto de Maon, na planície ao sul do deserto. 25Saul saiu com os seus homens à procura dele. David, infor­mado disso, dei­xou o ro­chedo e per­maneceu no deserto de Maon. Saul soube-o e perseguiu-o. 26Saul mar­chava por um flanco da montanha, e David, com os seus ho­mens, fugia a toda a pressa de Saul, pelo outro lado. No momento, porém, em que Saul e os seus homens iam lançar mão de David e dos seus, 27che­gou um mensageiro e disse ao rei: «Vem depressa, porque os filisteus invadi­ram o país.» 28Ao ouvir isto, Saul dei­xou de perseguir David e foi comba­ter os filisteus. Por isso, àquele lugar foi dado o nome de Rochedo da Sepa­­ração.

Capítulo 24

David na caverna de En-Guédi1David fugiu dali e foi viver para as cavernas de En-Guédi. 2Quando Saul voltou da guer­ra contra os filisteus, avisaram-no, dizendo: «David está no deserto de En-Guédi.» 3Tomando, pois, Saul três mil homens escolhidos em todo o Is­rael, foi em busca de David e dos seus homens pelos rochedos de Jelim, só acessíveis às cabras monteses. 4Che­gando perto dos apriscos de ovelhas que encontrou ao longo do caminho, Saul entrou numa gruta para satis­fa­zer as suas necessidades. No fundo desta gruta, encontrava-se David com os seus homens, 5os quais lhe disse­ram: «Eis o dia do qual o Senhor te disse: ‘Eu entregarei o teu inimigo nas tuas mãos, para que faças dele o que quiseres.’» David levantou-se e cortou sigilosamente a ponta do manto de Saul. 6E logo o seu cora­ção se encheu de remorsos por ter cortado a ponta do manto de Saul. 7E disse aos seus homens: «Deus me guarde de fazer tal coisa ao meu senhor, o ungido do Senhor, esten­der a minha mão contra ele, pois ele é o ungido do Senhor!» 8David con­teve os seus homens com estas pala­vras e impediu que agredissem Saul.

O rei levantou-se, afastou-se da gruta e prosseguiu o seu cami­nho. 9De­pois, levantou-se David e saiu da caverna atrás de Saul, clamando: «Ó rei, meu senhor!» Saul voltou-se, e Da­vid, in­cli­nando-se, fez-lhe uma pro­­funda reve­rência. 10E disse David a Saul: «Porque dás ouvidos ao que te dizem: ‘David procura fazer-te mal’? 11Viste hoje com os teus olhos que o Senhor te entregou nas minhas mãos, na gruta. O pensamento de te ma­tar assaltou-me, incitou-me contra ti, mas eu disse: ‘Não levantarei a mão contra o meu senhor, porque é o ungido do Senhor.’ 12Olha, meu pai, e vê se é a ponta do teu manto que tenho na minha mão. Se eu cortei a ponta do teu manto e não te matei, reconhece que não há maldade nem revolta contra ti. Não pequei contra ti e tu, ao contrário, procuras matar-me. 13Que o Senhor julgue entre mim e ti! Que o Senhor me vingue de ti, mas eu não levantarei a mi­nha mão contra ti. 14O mal vem dos per­ver­sos, como diz um provérbio an­tigo; por isso, não te tocará a minha mão. 15Mas a quem persegues, ó rei de Is­rael? A quem persegues? Um cão mor­to? Uma pulga? 16Pois bem! O Senhor jul­gará e sentenciará entre mim e ti. Que Ele julgue e defenda a minha causa, e me livre das tuas mãos.»

17Logo que David acabou de fa­lar, Saul disse-lhe: «É esta a tua voz, ó meu filho David?» E Saul ele­vou a voz, soluçando. 18E disse a Da­vid: «Tu portas-te bem comigo, e eu com­porto-me mal contigo. 19Pro­vaste hoje a tua bondade para comigo, pois o Senhor tinha-me entregue nas tuas mãos e não me ma­taste. 20Qual é o homem que, encontrando o seu ini­migo, o deixa ir embora tranqui­la­­mente? Que o Senhor te recom­pense pelo que fizeste comigo! 21Agora eu sei que serás rei e que nas tuas mãos estará firme o reino de Israel. 22Jura-me, pelo Senhor, que não elimina­rás a minha posteridade, nem apa­garás o meu nome da casa do meu pai.» 23E David jurou-lho. Depois dis­to, Saul voltou para a sua casa, e David e os seus homens subiram para o refúgio.

Capítulo 25

Morte de Samuel e episó­dio de Nabal1Tendo mor­rido Samuel, todo o Israel se juntou para o chorar; sepultaram-no na sua pro­priedade em Ramá. E David pôs-se a caminho até ao deserto de Paran.

2Havia em Maon um homem cu­jas propriedades estavam em Car­­mel. Era muito rico: tinha três mil ovelhas e mil cabras. Encontrava-se, então, em Carmel, para a tos­quia das suas ovelhas. 3Chamava-se Nabal, e sua mulher, Abigaíl, mu­lher de gran­de prudência e formosura. Ele, po­rém, era grosseiro e mau; descendia da linhagem de Caleb.

4David, ouvindo dizer, no deserto, que Nabal tosquiava o seu rebanho, 5enviou-lhe dez homens com esta ordem: «Subi a Carmel e dirigi-vos a Nabal; 6saudai-o em meu nome e dizei-lhe: ‘Meu irmão, a paz esteja contigo! Paz à tua casa e paz a todos os teus bens! 7Ouvi dizer que há uma tosquia em tua casa. Ora os teus pas­tores moraram connosco no deserto e nunca lhes fizemos mal algum. Nada lhes faltou durante todo o tempo em que ficaram em Carmel. 8Per­gunta-o aos teus servos e eles to dirão. Que os meus servos encontrem agora a tua bene­vo­lência, porque chegámos num dia de festa. Rogo-te que dês aos teus servos e ao teu filho David o que comodamente puderes.’»

9Os homens de David foram, repe­tiram a Nabal todas estas pala­vras, em nome de David, e ficaram à es­pera. 10Nabal respondeu-lhes: «Quem é David? E quem é o filho de Jessé? Há hoje em dia muitos escra­vos que fogem da casa dos seus amos! 11Irei eu tomar o meu pão, a minha água, a minha carne, que preparei para os meus tosquiadores, para os dar a ho­mens que vêm não se sabe de onde?»

12Os servos de David retomaram o caminho e regressaram. Ao che­ga­rem, contaram-lhe tudo o que Nabal tinha dito. 13Então David disse aos seus homens: «Tome cada um a sua espada!» E cada um cingiu a sua es­pada à cintura. David cingiu tam­bém a sua. Cerca de quatrocentos homens seguiram David, ficando duzentos com as bagagens.

14Mas Abigaíl, mulher de Nabal, fora avisada por um dos seus ser­vos, que lhe disse: «David mandou do de­serto mensageiros para saudar o nosso amo, mas ele recebeu-os mal. 15No en­tanto, esses homens trata­ram-nos sem­pre muito bem, e ja­mais nos fizeram mal algum, nem nos cau­sa­ram prejuízo, durante todo o tempo em que vivemos juntos no deserto. 16Pelo contrário, serviram-nos de de­fesa, dia e noite, enquanto estive­mos com eles apascentando os re­ba­nhos. 17Vê, pois, o que deves fazer, porque o nosso amo e toda a sua casa está ameaçada de ruína, por­que ele é um filho de Be­lial, com quem não se pode falar.»

18Apressou-se, então, Abigaíl e to­­mou duzentos pães, dois odres de vi­nho, cinco cordeiros cozidos, cinco medidas de grão torrado, cem tortas de passas de uvas, duzentos bolos de figos secos, e carregou tudo sobre os jumentos. 19E disse aos seus servos: «Ide diante de mim, e eu seguirei atrás de vós.» Mas nada disse a Na­bal, seu marido.

20Quando descia por um caminho secreto da montanha, sentada num jumento, encontrou David com os seus homens, que vinham em sen­tido inverso. 21David dissera: «Na ver­dade, foi em vão que guardei tudo o que esse homem possuía no deserto, sem que lhe fosse tirada coisa al­guma! E ele paga-me o bem com o mal. 22Deus trate com todo o seu rigor a David – ou melhor, aos seus inimigos – se, de hoje até ama­nhã, eu deixar com vida um só ho­mem dos que lhe pertencem.»

23Quando Abigaíl avistou David, desceu prontamente do jumento e, prostrando-se, fez-lhe uma profunda reverência. 24Assim prostrada a seus pés, disse-lhe:

«Recaia sobre mim, meu senhor, esta culpa! Deixa falar a tua serva e ouve as suas palavras. 25Que o meu senhor não faça caso desse mau ho­mem, Nabal, porque é um néscio e um insensato, como o seu nome indica. Mas eu, tua serva, não vi os homens que o meu senhor en­viou. 26Agora, meu senhor, por Deus e pela tua alma, foi o Senhor que te impe­diu de der­ramar sangue e fazer jus­tiça pelas tuas mãos! Sejam como Nabal os teus inimigos e os que ma­quinam o mal contra o meu senhor. 27Aceita este presente que tua serva trouxe ao meu senhor e reparte-o en­tre os homens que te seguem. 28Per­­doa a culpa da tua serva, porque o Se­nhor edifi­cará para ti uma casa estável, pois tu, meu senhor, com­ba­tes nas guer­ras do Se­nhor. Não acon­teça ne­nhum mal em toda a tua vida. 29Se alguém te per­seguir ou cons­pirar con­tra a tua vida, a vida do meu senhor será guar­dada entre os vivos, junto do Senhor, teu Deus, enquanto a vida dos teus ini­mi­gos será lançada como pedra de uma funda. 30E, quando o Senhor ti­ver feito ao meu senhor todo o bem que te prometeu e te tiver esta­be­le­cido chefe sobre Israel, 31não te­rás no co­ra­ção este pesar, nem este re­morso de teres der­ramado sangue sem mo­tivo, nem de te teres vin­gado por ti mesmo! Quando o Senhor te tiver feito bem, ó meu senhor, lem­bra-te da tua serva!»

32David respondeu-lhe: «Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que te mandou hoje ao meu encontro! 33Ben­dita seja a tua prudência! E ben­dita sejas tu própria, porque me impe­diste hoje de derramar sangue e de exercer vingança por minhas mãos! 34Mas, pelo Senhor Deus de Israel, que me impediu de te fazer mal, se não tivesses vindo tão de­pressa ao meu encontro, não res­ta­ria, ao ama­nhecer, nem um só homem de Nabal.» 35David aceitou o que lhe trazia Abi­gaíl e acrescentou: «Vai em paz para tua casa. Como vês, escutei-te e acedi ao teu pedido.»

36Quando Abigaíl chegou à casa de Nabal, havia em casa um grande banquete, como um festim real. Na­bal tinha o coração alegre e estava completamente ébrio. Por isso, nada lhe disse, nem pouco nem muito, até ao dia seguinte. 37Pela manhã, ten­do Nabal digerido o vinho, sua mu­lher contou-lhe tudo. Desfaleceu-lhe o co­ra­ção dentro do peito e ficou como pedra. 38Dez dias depois, fe­rido pelo Senhor, Nabal morreu.


David e Abigaíl39Tendo David recebido a notícia da morte de Nabal, ex­clamou: «Bendito seja o Senhor, que vingou o ultraje que me fez Na­bal, e impediu o seu servo de fazer o mal! O Senhor fez cair sobre a sua cabeça a sua própria maldade!»

Depois disto, David mandou pro­por a Abigaíl que se tornasse sua mulher. 40Os seus mensageiros che­garam a Carmel e disseram-lhe: «Da­­vid mandou-nos até junto de ti, pois deseja tomar-te por esposa.» 41Le­van­­tou-se, então, Abigaíl e prostrou-se com o rosto por terra, dizendo: «A tua serva já se daria por feliz em lavar os pés dos servos do meu se­nhor.» 42Le­van­tou-se, montou no seu jumento e, se­guida de cinco servas, partiu com os enviados de David, que a desposou.

43David desposara também Aí­noam de Jezrael, e ambas foram suas mulheres. 44Quanto a sua mu­lher Mical, filha de Saul, este havia-a dado como mulher a Palti, filho de Laís, que era de Galim.

Capítulo 26

David respeita a vida de Saul (23,19-28; 24) – 1Vie­ram novamente os de Zif a Guibeá ter com Saul e disseram-lhe: «David está escondido na colina de Ha­qui­lá, frente ao deserto.» 2Saul desceu ao deserto de Zif com três mil homens, esco­lhi­dos entre todo o Israel, para ir em busca de David, pelo deserto de Zif. 3Saul acampou na colina de Haquilá, a oriente do deserto, à bei­ra do cami­nho. David estava no de­serto. E, sa­bendo que Saul o havia se­guido até ali, 4enviou espiões e teve a cer­teza de que ele tinha chegado. 5Le­van­tou-se então e foi ao lugar onde Saul es­tava acampado. David fixou o lugar onde estavam deitados Saul e Abner, filho de Ner, chefe do seu exército. Saul encontrava-se no cen­tro do seu acampamento, rodeado por todos os homens.

6David disse a Aimélec, o hitita, e a Abisai, filho de Seruia e irmão de Joab: «Quem quer vir comigo ao acampamento de Saul?» Respondeu Abisai: «Eu vou contigo.» 7David e Abisai penetraram, pois, durante a noite, no meio das tropas. Saul dor­mia no acampamento, tendo a lança cravada no chão, à cabeceira. Abner e seus homens dormiam à volta dele.

8Abisai disse a David: «Deus en­tre­­gou hoje nas tuas mãos o teu ini­migo; agora, pois, deixa-me que o cra­ve na terra com a lança, de um só golpe. Não falharei à pri­meira.» 9Res­pon­deu David: «Não o mates. Quem po­deria, sem pecado, estender a mão contra o ungido do Senhor?» 10E acres­centou: «Pelo Deus vivo! Há-de ser Ele quem o há-de matar, ou quan­do chegar o seu dia, ou quando mor­rer em combate. 11Deus me livre de levantar a minha mão contra o un­gido do Senhor! Agora, toma a lança que ele tem à cabeceira e a bilha de água, e vamo-nos.» 12David apanhou a lança e a bilha de água que esta­vam à cabeceira de Saul, e retira­ram-se. Nin­guém viu ou sentiu nem se moveu, pois todos dormiam um sono profundo, que o Senhor lhes tinha en­viado.

13David passou para o outro lado e parou ao longe, no cimo da colina, a grande distância. 14Então, bradou aos soldados de Saul e a Abner, filho de Ner: «Não respondes, Abner?» Res­pondendo, este disse: «Quem és tu que gritas assim ao rei?» 15David disse a Abner: «Afinal, não és tu um ho­mem importante? Quem é igual a ti em Israel? Então, porque não guar­daste o rei, teu senhor? Pois entrou um indivíduo para matar o rei, teu senhor! 16Não está bem o que tu fizeste. Por Deus! Mereces a morte, porque não velaste pelo teu amo, o ungido do Senhor! Vê onde estão a lança do rei e a bilha de água que ele tinha à cabeceira!» 17Saul conhe­ceu a voz de David e disse: «É a tua voz, ó meu filho David?» David res­pondeu: «Sim, ó rei, meu senhor.»

18E acrescentou: «Porque persegue o meu senhor o seu servo? Que fiz eu? Que delito cometi? 19Que o rei, meu senhor, se digne ouvir as pala­vras do seu servo: ‘Se é o Senhor que te incita contra mim, receba Ele o perfume da minha oferenda! Mas se são ho­mens, malditos sejam diante do Senhor, pois me desterram para eu não poder habitar na herança do Senhor!’ E dizem-me: ‘Vai servir os deuses estrangeiros!’ 20Agora, pois, não se derrame o meu sangue sobre a terra, longe da face do Senhor! O rei de Israel saiu como se fosse em busca de uma pulga, persegue-me como se persegue a perdiz pelos mon­tes!»

21Saul disse: «Fiz mal! Vai, meu filho David, não voltarei a fazer-te mal, pois neste dia consideraste pre­ciosa a minha vida. Procedi insen­sata­mente, cometi um grandíssimo pecado.» 22David respondeu: «Aqui está a lança do rei: manda um dos teus homens buscá-la! 23O Senhor recompensará cada um, segundo a sua fidelidade e justiça. Ele entregou-te hoje em meu poder, mas eu não quis estender a minha mão contra o seu ungido. 24E assim como a tua vida foi preciosa diante de mim, assim seja a minha aos olhos do Senhor. Ele me salvará de qualquer tribu­la­ção.» 25Saul disse a Da­vid: «Aben­çoado sejas tu, meu filho David, por­que triunfarás, sem dú­vida, em todas as tuas empresas.» David retomou o seu caminho e Saul voltou para a sua casa.

Capítulo 27

David ao serviço dos filis­teus (21,11-16) – 1Mas David pensou: «Virá um dia em que cairei nas mãos de Saul! Não será melhor refugiar-me na terra dos fi­listeus, para que Saul renuncie a buscar-me por toda a terra de Is­rael? Vou fugir das mãos dele.» 2Partiu, pois, Da­vid com os seus seiscentos homens e foi para junto de Aquis, filho de Maoc, rei de Gat. 3Perma­neceu com Aquis em Gat, ele e os seus, cada um com a sua família, e David com duas mu­lheres, Aínoam de Jezrael, e Abi­gaíl, de Car­mel, viúva de Nabal. 4Saul, sabendo que David se refugiara em Gat, não o perseguiu mais.

5David disse a Aquis: «Se mereci a tua benevolência, dá-me um lugar nas cidades da província, onde eu possa viver. Porque haveria o teu servo de viver contigo na cidade real?» 6Aquis deu-lhe Ciclag. Por isso, Ci­clag ficou a pertencer até hoje aos reis de Judá. 7O tempo que David passou na terra dos filisteus foi de um ano e quatro meses.

8David e os seus homens saíam e atacavam os guechureus, os gui­re­zeus e os amalecitas, pois eram eles os que desde sempre habitavam aque­­la região, entre Sur e o Egipto. 9Da­vid assolava a região, sem dei­xar com vida homem ou mulher; toma­va as ovelhas, os bois, os jumen­tos, os came­los, as vestes, e regressava junto de Aquis. 10Aquis per­gun­tava-lhe: «Não fizeste hoje nenhum ataque?» David respondia: «Ataquei a parte meri­dio­­nal de Ju­dá», ou então: «O sul de Jera­­miel», ou ainda: «O sul dos queni­tas.» 11E não deixava com vida homem ou mulher, com medo que fosse alguém a Gat contar o que ele fazia. Foi esta a conduta de David, durante o tempo que passou entre os filisteus. 12Aquis confiava em David, pensando: «Ga­nhou ódio ao povo de Israel e, por isso, ficará para sempre meu servo.»

Capítulo 28

Saul consulta a vidente de En-Dor (14,41-43) – 1Aconte­ceu, naqueles dias, que os filisteus mobi­li­zaram as suas tropas para com­ba­ter contra Israel. Aquis disse a David: «Já sabes, tu e os teus ho­mens, que tereis que acompanhar-me na bata­lha.» 2David respondeu: «Agora irás ver do que é capaz o teu servo.» E disse-lhe Aquis: «Confiar-te-ei para sempre a guarda da mi­nha pessoa!»

3Samuel falecera e todo o Israel chorava a sua morte. Sepultaram-no em Ramá, sua cidade. Saul havia ex­­pulsado do país os que pratica­vam a adivinhação e a invocação dos mortos.

4Os filisteus mobilizados foram acampar em Chuném. Saul, reu­nindo as tropas de Israel, foi acampar em Guilboa. 5Ao ver o exército dos filis­teus, Saul afligiu-se e teve um medo enorme. 6E consultou o Se­nhor, que não lhe respondeu, nem pelos sonhos, nem pelas sortes, nem pelos profe­tas.

7Saul disse, então, aos seus servos: «Buscai-me uma mulher que invo­que os espíritos dos mortos, e eu irei consultá-la.» Res­ponderam-lhe eles: «Há uma em En-Dor.» 8Saul disfar­çou-se, mudou de roupa, e pôs-se a caminho com dois homens. Chega­ram de noite à casa da mulher. Saul disse-lhe: «Prediz-me o futuro, invo-cando um morto, e faz-me aparecer quem eu te designar.» 9Respondeu-lhe a mu­lher: «Bem sabes o que fez Saul, ao eliminar os que invocavam os espí­­ritos dos mortos e os adivi­nhos. Por­que me armas ciladas para me ma­tar?» 10Mas Saul jurou-lhe pelo Se­nhor, dizendo: «Por Deus, não te acon­tecerá mal algum.» 11Disse-lhe, então, a mulher: «A quem invocarei para esse assunto?» Respondeu-lhe Saul: «Faz com que me apareça Sa­muel.»

12E a mulher, tendo visto Samuel, soltou um grande grito, e disse a Saul: «Porque me enganaste? Tu és Saul!» 13Disse-lhe o rei: «Não te­mas! Que viste?» Respondeu a mu­lher: «Vi um espírito que subia da terra.» 14Saul replicou: «Qual é o seu aspecto?» Re­plicou: «O de um ancião envolto num manto.» Saul compreendeu que era Samuel e pros­trou-se com o rosto em terra. 15Samuel disse a Saul: «Por­que perturbaste o meu repouso, fa­zendo-me vir aqui?» Respondeu Saul: «Estou numa grande angústia, por­que os filisteus me atacam e Deus retirou-se de mim, não me respon­dendo, nem pelos profetas, nem pe­los so­nhos. Chamei-te para que me digas o que devo fazer.» 16Samuel disse-lhe: «Porque me consultas, uma vez que o Senhor se retirou de ti, tornando-se teu adversário? 17O Se­nhor fez como tinha anunciado pela minha boca. Ele tirará a realeza da tua mão para a dar a outro, a David. 18Não obe­deceste à voz do Senhor e não fizeste sentir aos amalecitas a indig­nação da sua cólera; eis por que o Senhor te tratou como fez hoje. 19Além disso, o Senhor entregará Is­­rael, juntamente contigo, nas mãos dos filisteus. Amanhã, tu e os teus filhos estareis comigo, pois o Senhor entregará aos filisteus o exército de Israel.» 20Saul, atemo­rizado com as palavras de Sa­muel, imediatamente caiu estendido por terra; além disso, estava sem forças, porque nada ti­nha comido em todo o dia.

21A mulher aproximou-se de Saul, e, vendo-o tão transtornado, disse-lhe: «A tua serva obedeceu-te. Expus a minha vida para obedecer à ordem que me deste. 22Ouve também tu a voz da tua serva. Vou dar-te um pouco de alimento, para que comas e reco­bres forças, a fim de retomares o teu cami­nho.» 23Saul, porém, recusou, di­­zendo: «Não co­me­rei.» No entanto, acedeu aos rogos dos seus servos e da mu­lher. Levantou-se do chão e sentou-se na cama. 24A mulher tinha em casa um be­zerro cevado. Apres­sou-se em matá-lo; e, tomando fari­nha, amassou-a, fez com ela pães sem fermento e cozeu-os. 25Serviu-os a Saul e aos seus ho­mens e eles come­ram; depois, levan­ta­ram-se e parti­ram nessa mesma noite.

Capítulo 29

David despedido pelos fi­lis­teus (27,1-12) – 1En­tre­tanto, os filisteus reuniram todas as tro­pas em Afec, e os israelitas acamparam, por sua vez, junto de Ain que está em Jezrael.

2Os prín­ci­pes dos filisteus mar­cha­vam à fren­te das suas tropas, divi­di­das em com­panhias de cem e de mil homens. Mas David e seus homens marcha­vam na retaguarda com Aquis. 3Os príncipes dos filisteus disseram: «Quem são esses hebreus?» Respon­deu-lhes Aquis: «É David, o servo de Saul, rei de Israel, que está na mi­nha companhia há muitos dias, e mes­mo há anos. Nada tenho a censurar-lhe, desde o dia em que se refugiou junto de mim.» 4Irritados contra ele, os che­fes dos filisteus disseram-lhe: «Re­­tire-se esse homem; que ele volte ao lugar que lhe marcaste, e não ve­nha connosco à bata­lha, pois pode acon­tecer que ele se converta em nosso adver­sário no meio do combate. Pois, de que modo poderá ele aplacar me­lhor as iras do seu amo, senão à custa das nossas cabeças? 5Não é ele, por­­ventura, aquele David, do qual, dan­çando, se cantava: ‘Saul matou mil, mas Da­vid matou dez mil?’»

6Aquis chamou David e disse-lhe: «Viva o Senhor! Tu és um homem recto e o teu proceder para comigo, no acam­pa­mento, muito me agrada. Até hoje, nada tive a censurar-te des­de que che­gaste à minha casa. Mas não és bem visto pelos prín­cipes. 7Retira-te, pois, e vai em paz para não des­con­­tentar os príncipes dos filisteus.» 8Da­vid disse a Aquis: «Que mal fiz eu? Que achaste de censurável no teu ser­vo, desde o dia em que che­guei à tua casa até hoje, para que não possa ir combater contra os ini­migos do rei, meu senhor?» 9Respon­deu Aquis: «Eu sei. Tu foste para mim como um anjo do Senhor. Mas os chefes dos filisteus é que não querem que vás com eles ao combate. 10Assim, pois, amanhã de ma­nhã cedo, levantai-vos, tu e os servos do teu senhor que te se­guiram, e partireis ao clarear do dia.» 11Da­vid e os seus homens levan­ta­ram-se de madrugada e re­gres­saram à terra dos filisteus. Estes, porém, su­bi­­ram a Jezrael.

Capítulo 30

Saque e incêndio de Ci­clag pelos amalecitas1David e os seus homens chegaram a Ciclag ao terceiro dia, quando já os ama­le­citas tinham feito uma incursão no Négueb e em Ciclag, atacando e in­cendiando a cidade. 2Levavam pri­sioneiras as mulheres e todos os que ali se encontravam, desde o menor até ao maior; não mataram nin­guém, mas levaram-nos todos, cati­vos, para a sua terra. 3David e seus homens en­contraram, pois, a cidade incen­diada, e as suas mulheres, fi­lhos e filhas levados cativos. 4Por isso, Da­vid e os seus companheiros chora­ram até não poderem mais. 5As duas mu­lheres de David, Ai­noam de Jezrael e Abigaíl de Car­mel, viúva de Na­bal, estavam também cativas.

6David afligiu-se em extremo, pois o seu povo queria apedrejá-lo, pela amargura de terem perdido os seus filhos e filhas. Mas David achou força no Senhor, seu Deus, 7e disse ao sacerdote Abiatar, filho de Ai­mé­lec: «Traz-me a insígnia de oráculo.» Abia­tar trouxe-lhe a insígnia de oráculo. 8David consultou o Senhor, dizendo: «Devo perseguir essa gente? Alcançá-los-ei?» O Senhor respondeu-lhe: «Persegue-os, porque os al­cançarás e libertarás os cativos.»

9David pôs-se em marcha com os seiscentos homens da sua tropa e chegaram à torrente de Besor. Ali ficaram os que já estavam esgota­dos. 10David continuou a perse­gui­ção com quatrocentos homens, pois duzentos tinham ficado para trás, demasiado extenuados para pode­rem atravessar a torrente de Besor.

11Encontraram nos campos um egí­pcio e levaram-no a David. De­ram-lhe pão para comer e água para be­ber 12e ainda um pedaço de pasta de figos secos e dois cachos de pas­sas de uvas. Ele comeu e recobrou as for­­ças, pois passara três dias e três noi­­tes sem nada comer ou beber. 13Da­­vid perguntou-lhe: «Quem és e de onde vens?» Ele respondeu: «Sou um egípcio, escravo de um amale­cita. O meu senhor abandonou-me há três dias, porque caí doente. 14Fizemos uma incursão no Négueb dos creten­ses, no território de Judá, no Négueb de Caleb e incendiámos Ciclag.» 15Da­vid disse-lhe: «Queres conduzir-me a essa gente?» Respon­deu-lhe o ho­mem: «Jura-me, pelo nome de Deus, que não me matarás, nem me entre­garás ao meu senhor, e eu te levarei ao lugar onde se en­contra aquele bando.»

16Guiados pelo egípcio, encontra­ram os amalecitas espalhados por todo o campo, comendo, bebendo e festejando a enorme presa que ti­nham trazido da terra dos filisteus e de Judá. 17David atacou-os, desde o romper do dia até à tarde do dia seguinte. Só escaparam quatro­cen­tos jovens, que fugiram montados em camelos.

18David recuperou tudo o que os amalecitas tinham tomado, liber­tando também as suas duas mulhe­res. 19E não faltou ninguém, nem pequeno nem grande, nem filho, nem filha, nem nada do espólio que os ama­lecitas tinham levado. David trou­xe tudo de volta. 20E tomou todos os rebanhos e manadas, à frente dos quais os homens iam gritando: «Eis a presa de David!»

21David foi, depois, juntar-se aos duzentos homens deixados na tor­rente de Besor e que, por cansaço, não o tinham podido seguir. Eles foram ao encontro de David e da sua tropa, e David saudou-os ao chegar junto deles.

22Mas todos os malvados e per­ver­sos que se encontravam na tropa de David começaram a dizer: «Visto que eles não nos acompanharam, nada lhes daremos do espólio recu­perado, salvo a mulher de cada um e os seus filhos. Que os recebam e se retirem!» 23David disse-lhes: «Não fa­çais assim, meus irmãos, com o que o Senhor nos deu, depois de nos ter protegido e ter entregue nas nossas mãos a tropa que se tinha le­vantado contra nós. 24Quem poderia aceitar a proposta que fazeis? A parte dos que ficaram junto às bagagens será igual à daqueles que foram ao com­bate. Faça-se a divisão com equi­dade.» 25A partir daquele dia, David estabeleceu em Israel este costume e este direito, que tem vigorado até hoje.

26Voltando a Ciclag, David en­viou uma parte do espólio aos anciãos de Judá, seus parentes, com esta men­sa­­­gem: «Recebei este presente, pro­ve­­­niente do espólio tomado aos ini­mi­gos do Senhor.» 27Enviou tam­bém presentes aos de Betel, de Ramot-Négueb, 28de Jatir, de Aroer, de Chi­famot, de Estemoa, 29de Racal, aos das cidades de Jeramiel, aos das ci­da­des dos quenitas, 30aos de Hor­ma, de Bor-Achan, de Atac, 31de Hebron e de todas as cidades por onde Da­vid tinha passado com os seus homens.

Capítulo 31

Derrota e morte de Saul (2 Sm 1,1-16; 1 Cr 10,1-14) – 1En­tre­­tanto, deu-se a batalha entre os filis­­teus e Israel, e os israelitas fu­giram diante deles, caindo feridos de morte no monte Guilboa. 2Os fi­listeus ati­raram-se contra Saul e seus filhos, matando Jónatas, Abi­nadab e Mal­quichua, filhos de Saul. 3Toda a vio­lência do combate desa­bou sobre Saul. Os arqueiros des­co­briram-no e feriram-no gravemente. 4Saul disse ao seu escudeiro: «Tira a tua espada e trespassa-me, para que não ve­nham esses incircun­ci­sos, me trespassem e escarneçam de mim.» Mas o escu­deiro não o quis fazer, pois se apo­derou dele um gran­de terror. Então, Saul tomou a sua espada e atirou-se sobre ela. 5O escu­deiro, vendo que Saul estava mor­to, arremessou-se ele próprio so­bre a sua espada e morreu junto dele.

6Assim, morreram naquele dia Saul e os seus três filhos, o seu es­cudeiro e todos os seus homens. 7Os israelitas que moravam do outro lado do vale e além-Jordão, vendo a der­rota dos homens de Israel e a morte de Saul e seus fi­lhos, abandonaram as suas cidades e fugiram. Os filis­teus vieram e estabeleceram-se nelas.

8No dia seguinte, os filisteus fo­ram recolher os despojos dos cadá­ve­res e encontraram Saul e os seus três filhos caídos sobre o monte Guil­boa. 9Cortaram-lhe a cabeça, des­po­­jaram-no das suas armas e es­pa­lharam a notícia por toda a terra dos filisteus, para que se publicasse esta vitória nos templos dos seus ídolos e entre o povo. 10Puseram as armas de Saul no templo de Astarté e suspenderam o seu cadáver nos muros de Bet-Chan.

11Quando os habitantes de Ja­bés de Guilead souberam o que os filisteus tinham feito a Saul, 12os mais valentes puseram-se a cami­nho e marcharam toda a noite. Tira­ram das muralhas de Bet-Chan os cadáveres de Saul e dos seus filhos e trouxeram-nos para Jabés, onde os queimaram. 13Recolheram os ossos e enterraram-nos debaixo da tamareira de Jabés. E jejuaram du­rante sete dias.

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