Capítulo 21
David em Nob – 1David levantou-se e partiu, e Jónatas voltou para a cidade. 2David retirou-se, pois, para Nob, onde se encontra a casa do sacerdote Aimélec. Este ficou muito surpreendido com a visita de David e perguntou-lhe: «Por que vens só?» 3David respondeu-lhe: «O rei confiou-me uma missão, ordenando-me: ‘Que ninguém saiba do assunto que te encomendei.’ Os meus homens estão em determinado lugar. 4Agora, pois, se tens à mão, mesmo que sejam uns cinco pães, entrega-mos, ou qualquer coisa que tenhas disponível.»
5O sacerdote respondeu: «Não tenho à mão pão ordinário, mas só pão consagrado. Poderás tomá-lo, se é que os teus servos se abstiveram de relações com mulheres.» 6Respondeu-lhe David: «Não tive relações com mulher alguma desde que parti, há três dias. Os meus servos estão igualmente puros; e, se a missão é profana, pode ser santificada por aquele que a cumpre.»
7Então o sacerdote deu-lhe os pães santificados, porque não havia ali senão os pães da oferenda, que tinham sido tirados da presença do Senhor e imediatamente substituídos por pães quentes. 8Achava-se ali, naquele dia, retido na presença do Senhor, um dos servos de Saul, chamado Doeg, o edomita, chefe dos pastores de Saul.
9Disse ainda David a Aimélec: «Tens aqui à mão uma lança ou uma espada? Nem sequer tive tempo de tomar a minha lança e as minhas armas, porque era urgente a ordem do rei.» 10Disse-lhe o sacerdote: «Tenho a espada do filisteu Golias, que tu mesmo mataste no vale do Terebinto. Está embrulhada num pano por trás da insígnia votiva. Se quiseres, podes tomá-la, pois aqui não há outra.» Replicou David: «Não há outra igual; dá-ma.»
David em Gat – 11Nesse dia, David partiu e fugiu com medo de Saul, refugiando-se junto de Aquis, rei de Gat. 12Os servos de Aquis disseram ao rei: «Não é este David, o rei da terra, acerca do qual se cantava em coro: ‘Saul matou mil, mas David matou dez mil?’» 13David, impressionado com estas palavras, teve medo de Aquis, rei de Gat. 14Simulou um ataque de loucura diante deles: fazia movimentos raros com as mãos, batia nas portas e deixava correr a saliva pela barba. 15Aquis disse aos servos: «Bem vedes que este homem está louco. Porque mo trouxestes? 16Porventura, não tenho aqui bastantes loucos, para me trazerdes ainda mais este, para me aborrecer com as suas excentricidades? Semelhante homem há-de ter entrada na minha casa?»
Capítulo 22
David entre os moabitas 1David saiu dali e refugiou-se na caverna de Adulam. Os seus irmãos e todos os seus homens souberam-no e foram juntar-se a ele.
2Todos os que se viam angustiados, endividados e descontentes foram ter com David e ele tornou-se o seu chefe. E juntaram-se a ele cerca de quatrocentos homens.
3Daí, David partiu para Mispá, em Moab. E disse ao rei de Moab: «Permite que meu pai e minha mãe venham viver no meio de vós, até que eu saiba o que Deus quer de mim.» 4Apresentou-os, pois, ao rei de Moab, e ficaram com ele durante todo o tempo que David permaneceu naquele refúgio. 5Mas o profeta Gad disse a David: «Não fiques na fortaleza. Parte, e vai para a terra de Judá.» David partiu e veio para o bosque de Haret.
Morte dos sacerdotes de Nob – 6Saul foi informado de que David e os seus homens tinham sido descobertos. Estava Saul em Guibeá, sentado debaixo de uma tamareira, na colina, com a sua lança na mão, rodeado por todos os seus criados.
7Saul disse-lhes: «Escutai, filhos de Benjamim: Será que o filho de Jessé dará a todos vós campos e vinhas? Irá ele fazer de todos vós chefes de milhares e chefes de centenas? 8Porque vos conjurastes contra mim? Nenhum de vós me veio dar conhecimento da aliança que meu filho fez com o filho de Jessé; ninguém se deu ao trabalho de me avisar de que meu filho instigava o meu servo contra mim, para me armar ciladas, como está a acontecer!»
9Doeg, o edomita, que era o primeiro entre os criados de Saul, respondeu: «Eu vi o filho de Jessé; foi a Nob, a casa de Aimélec, filho de Aitub. 10Este consultou o Senhor para ele, deu-lhe víveres e entregou-lhe a espada do filisteu Golias.»
11O rei mandou chamar o sacerdote Aimélec, filho de Aitub, com toda a casa de seu pai, e os sacerdotes que estavam em Nob. E estes vieram todos apresentar-se ao rei. 12Saul disse-lhes: «Escuta, filho de Aitub!» Ele respondeu: «Que me queres, senhor?» 13Disse-lhe Saul: «Porque conspiraste contra mim, tu e o filho de Jessé? Deste-lhe pão e uma espada e consultaste Deus por ele, a fim de que ele continue a sublevar-se contra mim e me arme ciladas, como está a acontecer!»
14Aimélec respondeu ao rei: «Haverá entre todos os teus servos alguém mais fiel do que David, genro do rei, fiel às tuas ordens e homem estimado por toda a tua casa? 15Foi porventura apenas hoje que consultei Deus por ele? Longe de mim outra ideia! Não atribua o rei crime algum ao seu servo, nem à sua família! O teu servo nada sabe desse assunto.» 16O rei disse: «Tu morrerás, Aimélec, tu e toda a casa de teu pai.»
17E dirigindo-se aos guardas que o rodeavam, disse-lhes: «Ide e matai os sacerdotes do Senhor, pois fizeram-se cúmplices de David; sabiam da sua fuga e não mo denunciaram.» Mas os guardas do rei recusaram-se a levantar a mão contra os sacerdotes do Senhor. 18Então, o rei ordenou a Doeg: «Investe tu contra os sacerdotes.» E Doeg, o edomita, aproximou-se e matou os sacerdotes. Matou, naquele dia, oitenta e cinco homens que vestiam a insígnia votiva de linho. 19Ordenou também Saul que fosse passada ao fio da espada a cidade sacerdotal de Nob, matando homens e mulheres, meninos, crianças de peito, bois, jumentos e ovelhas.
20Contudo, escapou um filho de Aimélec, filho de Aitub, chamado Abiatar, que se refugiou junto de David. 21Abiatar contou-lhe que Saul tinha mandado matar os sacerdotes do Senhor. 22David disse-lhe: «Eu bem suspeitava, naquele dia, que estando ali Doeg, o edomita, iria contar tudo a Saul. Sou eu o culpado da morte de toda a casa de teu pai. 23Fica comigo, e não temas. Aquele que odiar a minha vida, odiará igualmente a tua. Junto de mim estarás salvo.»
Capítulo 23
David liberta Queila – 1Avisaram David, dizendo: «Os filisteus estão a atacar Queila e a pilhar as eiras.» 2David consultou o Senhor: «Poderei vencer os filisteus?» O Senhor respondeu: «Vai, pois tu derrotarás os filisteus e libertarás Queila.» 3Os homens de David, porém, disseram-lhe: «Mesmo aqui em Judá estamos cheios de medo; quanto mais se formos a Queila contra as tropas dos filisteus!»
4David consultou novamente o Senhor, que lhe respondeu: «Vai, desce a Queila, porque entregarei os filisteus nas tuas mãos.» 5David foi para Queila com os seus homens; atacou os filisteus, tomou-lhes o gado e infligiu-lhes pesada derrota; assim libertou os habitantes de Queila. 6Ora quando Abiatar, filho de Aimélec, se refugiou junto de David em Queila, levava consigo a insígnia votiva.
Saul persegue David – 7Comunicaram a Saul: «David refugiou-se em Queila.» Saul pensou: «Deus entregou-o nas minhas mãos, pois foi esconder-se numa cidade com portas e ferrolhos.» 8O rei convocou todo o povo às armas para descer a Queila e sitiar David com a sua tropa. 9Mas David, sabendo que era má a intenção de Saul, disse ao sacerdote Abiatar: «Traz a insígnia votiva.» 10E acrescentou: «Senhor, Deus de Israel, teu servo David soube que Saul quer entrar em Queila, para destruir a cidade por minha causa. 11Será que os habitantes de Queila, me entregarão nas suas mãos? Saul virá, de facto, como o teu servo ouviu dizer? Senhor, Deus de Israel, revela-o ao teu servo.» O Senhor respondeu: «Saul virá.» 12David acrescentou: «Os habitantes de Queila vão entregar-me, a mim e aos meus homens, nas mãos de Saul?» O Senhor respondeu: «Sim, vão entregar-te.»
13Então David partiu dali com a sua tropa, em número de uns seiscentos homens, e saíram de Queila, marchando ao acaso. Saul, informado de que David abandonara Queila, suspendeu a expedição. 14David permaneceu no deserto, em lugares bem protegidos, e habitou no monte do deserto de Zif. Saul, entretanto, procurava-o sem cessar, mas Deus não o entregou nas suas mãos.
Visita de Jónatas – 15David, sabendo que Saul tinha saído para lhe tirar a vida, ficou em Horcha, no deserto de Zif. 16Então, Jónatas, filho de Saul, levantou-se e foi ter com David a Horcha. E confortou-o em nome de Deus, dizendo-lhe: 17«Não temas, porque Saul, meu pai, não te poderá prender. Tu reinarás sobre Israel, e eu serei o segundo no teu reino; meu pai, Saul, bem o sabe.» 18Fizeram ambos uma aliança diante do Senhor. David ficou em Horcha e Jónatas voltou para sua casa.
19Alguns de Zif foram ter com Saul a Guibeá e disseram-lhe: «Não está David escondido entre nós, na fortaleza de Horcha, sobre a colina de Haquilá, ao sul do deserto? 20Visto que o teu desejo é vir ao seu encontro, ó rei, vem e nós o entregaremos nas tuas mãos.» 21Respondeu Saul: «Que o Senhor vos abençoe, porque vos compadecestes de mim. 22Ide, pois, informai-vos e vede por onde anda e quem o viu ali, pois disseram-me que é muito astuto. 23Explorai e descobri todos os seus esconderijos e trazei-me notícias seguras, a fim de eu ir convosco e, se ele está na região, buscá-lo-ei por todas as famílias de Judá.» 24Eles despediram-se e partiram antes de Saul, para Zif.
Mas David e os seus homens estavam já no deserto de Maon, na planície ao sul do deserto. 25Saul saiu com os seus homens à procura dele. David, informado disso, deixou o rochedo e permaneceu no deserto de Maon. Saul soube-o e perseguiu-o. 26Saul marchava por um flanco da montanha, e David, com os seus homens, fugia a toda a pressa de Saul, pelo outro lado. No momento, porém, em que Saul e os seus homens iam lançar mão de David e dos seus, 27chegou um mensageiro e disse ao rei: «Vem depressa, porque os filisteus invadiram o país.» 28Ao ouvir isto, Saul deixou de perseguir David e foi combater os filisteus. Por isso, àquele lugar foi dado o nome de Rochedo da Separação.
Capítulo 24
David na caverna de En-Guédi – 1David fugiu dali e foi viver para as cavernas de En-Guédi. 2Quando Saul voltou da guerra contra os filisteus, avisaram-no, dizendo: «David está no deserto de En-Guédi.» 3Tomando, pois, Saul três mil homens escolhidos em todo o Israel, foi em busca de David e dos seus homens pelos rochedos de Jelim, só acessíveis às cabras monteses. 4Chegando perto dos apriscos de ovelhas que encontrou ao longo do caminho, Saul entrou numa gruta para satisfazer as suas necessidades. No fundo desta gruta, encontrava-se David com os seus homens, 5os quais lhe disseram: «Eis o dia do qual o Senhor te disse: ‘Eu entregarei o teu inimigo nas tuas mãos, para que faças dele o que quiseres.’» David levantou-se e cortou sigilosamente a ponta do manto de Saul. 6E logo o seu coração se encheu de remorsos por ter cortado a ponta do manto de Saul. 7E disse aos seus homens: «Deus me guarde de fazer tal coisa ao meu senhor, o ungido do Senhor, estender a minha mão contra ele, pois ele é o ungido do Senhor!» 8David conteve os seus homens com estas palavras e impediu que agredissem Saul.
O rei levantou-se, afastou-se da gruta e prosseguiu o seu caminho. 9Depois, levantou-se David e saiu da caverna atrás de Saul, clamando: «Ó rei, meu senhor!» Saul voltou-se, e David, inclinando-se, fez-lhe uma profunda reverência. 10E disse David a Saul: «Porque dás ouvidos ao que te dizem: ‘David procura fazer-te mal’? 11Viste hoje com os teus olhos que o Senhor te entregou nas minhas mãos, na gruta. O pensamento de te matar assaltou-me, incitou-me contra ti, mas eu disse: ‘Não levantarei a mão contra o meu senhor, porque é o ungido do Senhor.’ 12Olha, meu pai, e vê se é a ponta do teu manto que tenho na minha mão. Se eu cortei a ponta do teu manto e não te matei, reconhece que não há maldade nem revolta contra ti. Não pequei contra ti e tu, ao contrário, procuras matar-me. 13Que o Senhor julgue entre mim e ti! Que o Senhor me vingue de ti, mas eu não levantarei a minha mão contra ti. 14O mal vem dos perversos, como diz um provérbio antigo; por isso, não te tocará a minha mão. 15Mas a quem persegues, ó rei de Israel? A quem persegues? Um cão morto? Uma pulga? 16Pois bem! O Senhor julgará e sentenciará entre mim e ti. Que Ele julgue e defenda a minha causa, e me livre das tuas mãos.»
17Logo que David acabou de falar, Saul disse-lhe: «É esta a tua voz, ó meu filho David?» E Saul elevou a voz, soluçando. 18E disse a David: «Tu portas-te bem comigo, e eu comporto-me mal contigo. 19Provaste hoje a tua bondade para comigo, pois o Senhor tinha-me entregue nas tuas mãos e não me mataste. 20Qual é o homem que, encontrando o seu inimigo, o deixa ir embora tranquilamente? Que o Senhor te recompense pelo que fizeste comigo! 21Agora eu sei que serás rei e que nas tuas mãos estará firme o reino de Israel. 22Jura-me, pelo Senhor, que não eliminarás a minha posteridade, nem apagarás o meu nome da casa do meu pai.» 23E David jurou-lho. Depois disto, Saul voltou para a sua casa, e David e os seus homens subiram para o refúgio.
Capítulo 25
Morte de Samuel e episódio de Nabal – 1Tendo morrido Samuel, todo o Israel se juntou para o chorar; sepultaram-no na sua propriedade em Ramá. E David pôs-se a caminho até ao deserto de Paran.
2Havia em Maon um homem cujas propriedades estavam em Carmel. Era muito rico: tinha três mil ovelhas e mil cabras. Encontrava-se, então, em Carmel, para a tosquia das suas ovelhas. 3Chamava-se Nabal, e sua mulher, Abigaíl, mulher de grande prudência e formosura. Ele, porém, era grosseiro e mau; descendia da linhagem de Caleb.
4David, ouvindo dizer, no deserto, que Nabal tosquiava o seu rebanho, 5enviou-lhe dez homens com esta ordem: «Subi a Carmel e dirigi-vos a Nabal; 6saudai-o em meu nome e dizei-lhe: ‘Meu irmão, a paz esteja contigo! Paz à tua casa e paz a todos os teus bens! 7Ouvi dizer que há uma tosquia em tua casa. Ora os teus pastores moraram connosco no deserto e nunca lhes fizemos mal algum. Nada lhes faltou durante todo o tempo em que ficaram em Carmel. 8Pergunta-o aos teus servos e eles to dirão. Que os meus servos encontrem agora a tua benevolência, porque chegámos num dia de festa. Rogo-te que dês aos teus servos e ao teu filho David o que comodamente puderes.’»
9Os homens de David foram, repetiram a Nabal todas estas palavras, em nome de David, e ficaram à espera. 10Nabal respondeu-lhes: «Quem é David? E quem é o filho de Jessé? Há hoje em dia muitos escravos que fogem da casa dos seus amos! 11Irei eu tomar o meu pão, a minha água, a minha carne, que preparei para os meus tosquiadores, para os dar a homens que vêm não se sabe de onde?»
12Os servos de David retomaram o caminho e regressaram. Ao chegarem, contaram-lhe tudo o que Nabal tinha dito. 13Então David disse aos seus homens: «Tome cada um a sua espada!» E cada um cingiu a sua espada à cintura. David cingiu também a sua. Cerca de quatrocentos homens seguiram David, ficando duzentos com as bagagens.
14Mas Abigaíl, mulher de Nabal, fora avisada por um dos seus servos, que lhe disse: «David mandou do deserto mensageiros para saudar o nosso amo, mas ele recebeu-os mal. 15No entanto, esses homens trataram-nos sempre muito bem, e jamais nos fizeram mal algum, nem nos causaram prejuízo, durante todo o tempo em que vivemos juntos no deserto. 16Pelo contrário, serviram-nos de defesa, dia e noite, enquanto estivemos com eles apascentando os rebanhos. 17Vê, pois, o que deves fazer, porque o nosso amo e toda a sua casa está ameaçada de ruína, porque ele é um filho de Belial, com quem não se pode falar.»
18Apressou-se, então, Abigaíl e tomou duzentos pães, dois odres de vinho, cinco cordeiros cozidos, cinco medidas de grão torrado, cem tortas de passas de uvas, duzentos bolos de figos secos, e carregou tudo sobre os jumentos. 19E disse aos seus servos: «Ide diante de mim, e eu seguirei atrás de vós.» Mas nada disse a Nabal, seu marido.
20Quando descia por um caminho secreto da montanha, sentada num jumento, encontrou David com os seus homens, que vinham em sentido inverso. 21David dissera: «Na verdade, foi em vão que guardei tudo o que esse homem possuía no deserto, sem que lhe fosse tirada coisa alguma! E ele paga-me o bem com o mal. 22Deus trate com todo o seu rigor a David – ou melhor, aos seus inimigos – se, de hoje até amanhã, eu deixar com vida um só homem dos que lhe pertencem.»
23Quando Abigaíl avistou David, desceu prontamente do jumento e, prostrando-se, fez-lhe uma profunda reverência. 24Assim prostrada a seus pés, disse-lhe:
«Recaia sobre mim, meu senhor, esta culpa! Deixa falar a tua serva e ouve as suas palavras. 25Que o meu senhor não faça caso desse mau homem, Nabal, porque é um néscio e um insensato, como o seu nome indica. Mas eu, tua serva, não vi os homens que o meu senhor enviou. 26Agora, meu senhor, por Deus e pela tua alma, foi o Senhor que te impediu de derramar sangue e fazer justiça pelas tuas mãos! Sejam como Nabal os teus inimigos e os que maquinam o mal contra o meu senhor. 27Aceita este presente que tua serva trouxe ao meu senhor e reparte-o entre os homens que te seguem. 28Perdoa a culpa da tua serva, porque o Senhor edificará para ti uma casa estável, pois tu, meu senhor, combates nas guerras do Senhor. Não aconteça nenhum mal em toda a tua vida. 29Se alguém te perseguir ou conspirar contra a tua vida, a vida do meu senhor será guardada entre os vivos, junto do Senhor, teu Deus, enquanto a vida dos teus inimigos será lançada como pedra de uma funda. 30E, quando o Senhor tiver feito ao meu senhor todo o bem que te prometeu e te tiver estabelecido chefe sobre Israel, 31não terás no coração este pesar, nem este remorso de teres derramado sangue sem motivo, nem de te teres vingado por ti mesmo! Quando o Senhor te tiver feito bem, ó meu senhor, lembra-te da tua serva!»
32David respondeu-lhe: «Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que te mandou hoje ao meu encontro! 33Bendita seja a tua prudência! E bendita sejas tu própria, porque me impediste hoje de derramar sangue e de exercer vingança por minhas mãos! 34Mas, pelo Senhor Deus de Israel, que me impediu de te fazer mal, se não tivesses vindo tão depressa ao meu encontro, não restaria, ao amanhecer, nem um só homem de Nabal.» 35David aceitou o que lhe trazia Abigaíl e acrescentou: «Vai em paz para tua casa. Como vês, escutei-te e acedi ao teu pedido.»
36Quando Abigaíl chegou à casa de Nabal, havia em casa um grande banquete, como um festim real. Nabal tinha o coração alegre e estava completamente ébrio. Por isso, nada lhe disse, nem pouco nem muito, até ao dia seguinte. 37Pela manhã, tendo Nabal digerido o vinho, sua mulher contou-lhe tudo. Desfaleceu-lhe o coração dentro do peito e ficou como pedra. 38Dez dias depois, ferido pelo Senhor, Nabal morreu.
David e Abigaíl – 39Tendo David recebido a notícia da morte de Nabal, exclamou: «Bendito seja o Senhor, que vingou o ultraje que me fez Nabal, e impediu o seu servo de fazer o mal! O Senhor fez cair sobre a sua cabeça a sua própria maldade!»
Depois disto, David mandou propor a Abigaíl que se tornasse sua mulher. 40Os seus mensageiros chegaram a Carmel e disseram-lhe: «David mandou-nos até junto de ti, pois deseja tomar-te por esposa.» 41Levantou-se, então, Abigaíl e prostrou-se com o rosto por terra, dizendo: «A tua serva já se daria por feliz em lavar os pés dos servos do meu senhor.» 42Levantou-se, montou no seu jumento e, seguida de cinco servas, partiu com os enviados de David, que a desposou.
43David desposara também Aínoam de Jezrael, e ambas foram suas mulheres. 44Quanto a sua mulher Mical, filha de Saul, este havia-a dado como mulher a Palti, filho de Laís, que era de Galim.
Capítulo 26
David respeita a vida de Saul (23,19-28; 24) – 1Vieram novamente os de Zif a Guibeá ter com Saul e disseram-lhe: «David está escondido na colina de Haquilá, frente ao deserto.» 2Saul desceu ao deserto de Zif com três mil homens, escolhidos entre todo o Israel, para ir em busca de David, pelo deserto de Zif. 3Saul acampou na colina de Haquilá, a oriente do deserto, à beira do caminho. David estava no deserto. E, sabendo que Saul o havia seguido até ali, 4enviou espiões e teve a certeza de que ele tinha chegado. 5Levantou-se então e foi ao lugar onde Saul estava acampado. David fixou o lugar onde estavam deitados Saul e Abner, filho de Ner, chefe do seu exército. Saul encontrava-se no centro do seu acampamento, rodeado por todos os homens.
6David disse a Aimélec, o hitita, e a Abisai, filho de Seruia e irmão de Joab: «Quem quer vir comigo ao acampamento de Saul?» Respondeu Abisai: «Eu vou contigo.» 7David e Abisai penetraram, pois, durante a noite, no meio das tropas. Saul dormia no acampamento, tendo a lança cravada no chão, à cabeceira. Abner e seus homens dormiam à volta dele.
8Abisai disse a David: «Deus entregou hoje nas tuas mãos o teu inimigo; agora, pois, deixa-me que o crave na terra com a lança, de um só golpe. Não falharei à primeira.» 9Respondeu David: «Não o mates. Quem poderia, sem pecado, estender a mão contra o ungido do Senhor?» 10E acrescentou: «Pelo Deus vivo! Há-de ser Ele quem o há-de matar, ou quando chegar o seu dia, ou quando morrer em combate. 11Deus me livre de levantar a minha mão contra o ungido do Senhor! Agora, toma a lança que ele tem à cabeceira e a bilha de água, e vamo-nos.» 12David apanhou a lança e a bilha de água que estavam à cabeceira de Saul, e retiraram-se. Ninguém viu ou sentiu nem se moveu, pois todos dormiam um sono profundo, que o Senhor lhes tinha enviado.
13David passou para o outro lado e parou ao longe, no cimo da colina, a grande distância. 14Então, bradou aos soldados de Saul e a Abner, filho de Ner: «Não respondes, Abner?» Respondendo, este disse: «Quem és tu que gritas assim ao rei?» 15David disse a Abner: «Afinal, não és tu um homem importante? Quem é igual a ti em Israel? Então, porque não guardaste o rei, teu senhor? Pois entrou um indivíduo para matar o rei, teu senhor! 16Não está bem o que tu fizeste. Por Deus! Mereces a morte, porque não velaste pelo teu amo, o ungido do Senhor! Vê onde estão a lança do rei e a bilha de água que ele tinha à cabeceira!» 17Saul conheceu a voz de David e disse: «É a tua voz, ó meu filho David?» David respondeu: «Sim, ó rei, meu senhor.»
18E acrescentou: «Porque persegue o meu senhor o seu servo? Que fiz eu? Que delito cometi? 19Que o rei, meu senhor, se digne ouvir as palavras do seu servo: ‘Se é o Senhor que te incita contra mim, receba Ele o perfume da minha oferenda! Mas se são homens, malditos sejam diante do Senhor, pois me desterram para eu não poder habitar na herança do Senhor!’ E dizem-me: ‘Vai servir os deuses estrangeiros!’ 20Agora, pois, não se derrame o meu sangue sobre a terra, longe da face do Senhor! O rei de Israel saiu como se fosse em busca de uma pulga, persegue-me como se persegue a perdiz pelos montes!»
21Saul disse: «Fiz mal! Vai, meu filho David, não voltarei a fazer-te mal, pois neste dia consideraste preciosa a minha vida. Procedi insensatamente, cometi um grandíssimo pecado.» 22David respondeu: «Aqui está a lança do rei: manda um dos teus homens buscá-la! 23O Senhor recompensará cada um, segundo a sua fidelidade e justiça. Ele entregou-te hoje em meu poder, mas eu não quis estender a minha mão contra o seu ungido. 24E assim como a tua vida foi preciosa diante de mim, assim seja a minha aos olhos do Senhor. Ele me salvará de qualquer tribulação.» 25Saul disse a David: «Abençoado sejas tu, meu filho David, porque triunfarás, sem dúvida, em todas as tuas empresas.» David retomou o seu caminho e Saul voltou para a sua casa.
Capítulo 27
David ao serviço dos filisteus (21,11-16) – 1Mas David pensou: «Virá um dia em que cairei nas mãos de Saul! Não será melhor refugiar-me na terra dos filisteus, para que Saul renuncie a buscar-me por toda a terra de Israel? Vou fugir das mãos dele.» 2Partiu, pois, David com os seus seiscentos homens e foi para junto de Aquis, filho de Maoc, rei de Gat. 3Permaneceu com Aquis em Gat, ele e os seus, cada um com a sua família, e David com duas mulheres, Aínoam de Jezrael, e Abigaíl, de Carmel, viúva de Nabal. 4Saul, sabendo que David se refugiara em Gat, não o perseguiu mais.
5David disse a Aquis: «Se mereci a tua benevolência, dá-me um lugar nas cidades da província, onde eu possa viver. Porque haveria o teu servo de viver contigo na cidade real?» 6Aquis deu-lhe Ciclag. Por isso, Ciclag ficou a pertencer até hoje aos reis de Judá. 7O tempo que David passou na terra dos filisteus foi de um ano e quatro meses.
8David e os seus homens saíam e atacavam os guechureus, os guirezeus e os amalecitas, pois eram eles os que desde sempre habitavam aquela região, entre Sur e o Egipto. 9David assolava a região, sem deixar com vida homem ou mulher; tomava as ovelhas, os bois, os jumentos, os camelos, as vestes, e regressava junto de Aquis. 10Aquis perguntava-lhe: «Não fizeste hoje nenhum ataque?» David respondia: «Ataquei a parte meridional de Judá», ou então: «O sul de Jeramiel», ou ainda: «O sul dos quenitas.» 11E não deixava com vida homem ou mulher, com medo que fosse alguém a Gat contar o que ele fazia. Foi esta a conduta de David, durante o tempo que passou entre os filisteus. 12Aquis confiava em David, pensando: «Ganhou ódio ao povo de Israel e, por isso, ficará para sempre meu servo.»
Capítulo 28
Saul consulta a vidente de En-Dor (14,41-43) – 1Aconteceu, naqueles dias, que os filisteus mobilizaram as suas tropas para combater contra Israel. Aquis disse a David: «Já sabes, tu e os teus homens, que tereis que acompanhar-me na batalha.» 2David respondeu: «Agora irás ver do que é capaz o teu servo.» E disse-lhe Aquis: «Confiar-te-ei para sempre a guarda da minha pessoa!»
3Samuel falecera e todo o Israel chorava a sua morte. Sepultaram-no em Ramá, sua cidade. Saul havia expulsado do país os que praticavam a adivinhação e a invocação dos mortos.
4Os filisteus mobilizados foram acampar em Chuném. Saul, reunindo as tropas de Israel, foi acampar em Guilboa. 5Ao ver o exército dos filisteus, Saul afligiu-se e teve um medo enorme. 6E consultou o Senhor, que não lhe respondeu, nem pelos sonhos, nem pelas sortes, nem pelos profetas.
7Saul disse, então, aos seus servos: «Buscai-me uma mulher que invoque os espíritos dos mortos, e eu irei consultá-la.» Responderam-lhe eles: «Há uma em En-Dor.» 8Saul disfarçou-se, mudou de roupa, e pôs-se a caminho com dois homens. Chegaram de noite à casa da mulher. Saul disse-lhe: «Prediz-me o futuro, invo-cando um morto, e faz-me aparecer quem eu te designar.» 9Respondeu-lhe a mulher: «Bem sabes o que fez Saul, ao eliminar os que invocavam os espíritos dos mortos e os adivinhos. Porque me armas ciladas para me matar?» 10Mas Saul jurou-lhe pelo Senhor, dizendo: «Por Deus, não te acontecerá mal algum.» 11Disse-lhe, então, a mulher: «A quem invocarei para esse assunto?» Respondeu-lhe Saul: «Faz com que me apareça Samuel.»
12E a mulher, tendo visto Samuel, soltou um grande grito, e disse a Saul: «Porque me enganaste? Tu és Saul!» 13Disse-lhe o rei: «Não temas! Que viste?» Respondeu a mulher: «Vi um espírito que subia da terra.» 14Saul replicou: «Qual é o seu aspecto?» Replicou: «O de um ancião envolto num manto.» Saul compreendeu que era Samuel e prostrou-se com o rosto em terra. 15Samuel disse a Saul: «Porque perturbaste o meu repouso, fazendo-me vir aqui?» Respondeu Saul: «Estou numa grande angústia, porque os filisteus me atacam e Deus retirou-se de mim, não me respondendo, nem pelos profetas, nem pelos sonhos. Chamei-te para que me digas o que devo fazer.» 16Samuel disse-lhe: «Porque me consultas, uma vez que o Senhor se retirou de ti, tornando-se teu adversário? 17O Senhor fez como tinha anunciado pela minha boca. Ele tirará a realeza da tua mão para a dar a outro, a David. 18Não obedeceste à voz do Senhor e não fizeste sentir aos amalecitas a indignação da sua cólera; eis por que o Senhor te tratou como fez hoje. 19Além disso, o Senhor entregará Israel, juntamente contigo, nas mãos dos filisteus. Amanhã, tu e os teus filhos estareis comigo, pois o Senhor entregará aos filisteus o exército de Israel.» 20Saul, atemorizado com as palavras de Samuel, imediatamente caiu estendido por terra; além disso, estava sem forças, porque nada tinha comido em todo o dia.
21A mulher aproximou-se de Saul, e, vendo-o tão transtornado, disse-lhe: «A tua serva obedeceu-te. Expus a minha vida para obedecer à ordem que me deste. 22Ouve também tu a voz da tua serva. Vou dar-te um pouco de alimento, para que comas e recobres forças, a fim de retomares o teu caminho.» 23Saul, porém, recusou, dizendo: «Não comerei.» No entanto, acedeu aos rogos dos seus servos e da mulher. Levantou-se do chão e sentou-se na cama. 24A mulher tinha em casa um bezerro cevado. Apressou-se em matá-lo; e, tomando farinha, amassou-a, fez com ela pães sem fermento e cozeu-os. 25Serviu-os a Saul e aos seus homens e eles comeram; depois, levantaram-se e partiram nessa mesma noite.
Capítulo 29
David despedido pelos filisteus (27,1-12) – 1Entretanto, os filisteus reuniram todas as tropas em Afec, e os israelitas acamparam, por sua vez, junto de Ain que está em Jezrael.
2Os príncipes dos filisteus marchavam à frente das suas tropas, divididas em companhias de cem e de mil homens. Mas David e seus homens marchavam na retaguarda com Aquis. 3Os príncipes dos filisteus disseram: «Quem são esses hebreus?» Respondeu-lhes Aquis: «É David, o servo de Saul, rei de Israel, que está na minha companhia há muitos dias, e mesmo há anos. Nada tenho a censurar-lhe, desde o dia em que se refugiou junto de mim.» 4Irritados contra ele, os chefes dos filisteus disseram-lhe: «Retire-se esse homem; que ele volte ao lugar que lhe marcaste, e não venha connosco à batalha, pois pode acontecer que ele se converta em nosso adversário no meio do combate. Pois, de que modo poderá ele aplacar melhor as iras do seu amo, senão à custa das nossas cabeças? 5Não é ele, porventura, aquele David, do qual, dançando, se cantava: ‘Saul matou mil, mas David matou dez mil?’»
6Aquis chamou David e disse-lhe: «Viva o Senhor! Tu és um homem recto e o teu proceder para comigo, no acampamento, muito me agrada. Até hoje, nada tive a censurar-te desde que chegaste à minha casa. Mas não és bem visto pelos príncipes. 7Retira-te, pois, e vai em paz para não descontentar os príncipes dos filisteus.» 8David disse a Aquis: «Que mal fiz eu? Que achaste de censurável no teu servo, desde o dia em que cheguei à tua casa até hoje, para que não possa ir combater contra os inimigos do rei, meu senhor?» 9Respondeu Aquis: «Eu sei. Tu foste para mim como um anjo do Senhor. Mas os chefes dos filisteus é que não querem que vás com eles ao combate. 10Assim, pois, amanhã de manhã cedo, levantai-vos, tu e os servos do teu senhor que te seguiram, e partireis ao clarear do dia.» 11David e os seus homens levantaram-se de madrugada e regressaram à terra dos filisteus. Estes, porém, subiram a Jezrael.
Capítulo 30
Saque e incêndio de Ciclag pelos amalecitas – 1David e os seus homens chegaram a Ciclag ao terceiro dia, quando já os amalecitas tinham feito uma incursão no Négueb e em Ciclag, atacando e incendiando a cidade. 2Levavam prisioneiras as mulheres e todos os que ali se encontravam, desde o menor até ao maior; não mataram ninguém, mas levaram-nos todos, cativos, para a sua terra. 3David e seus homens encontraram, pois, a cidade incendiada, e as suas mulheres, filhos e filhas levados cativos. 4Por isso, David e os seus companheiros choraram até não poderem mais. 5As duas mulheres de David, Ainoam de Jezrael e Abigaíl de Carmel, viúva de Nabal, estavam também cativas.
6David afligiu-se em extremo, pois o seu povo queria apedrejá-lo, pela amargura de terem perdido os seus filhos e filhas. Mas David achou força no Senhor, seu Deus, 7e disse ao sacerdote Abiatar, filho de Aimélec: «Traz-me a insígnia de oráculo.» Abiatar trouxe-lhe a insígnia de oráculo. 8David consultou o Senhor, dizendo: «Devo perseguir essa gente? Alcançá-los-ei?» O Senhor respondeu-lhe: «Persegue-os, porque os alcançarás e libertarás os cativos.»
9David pôs-se em marcha com os seiscentos homens da sua tropa e chegaram à torrente de Besor. Ali ficaram os que já estavam esgotados. 10David continuou a perseguição com quatrocentos homens, pois duzentos tinham ficado para trás, demasiado extenuados para poderem atravessar a torrente de Besor.
11Encontraram nos campos um egípcio e levaram-no a David. Deram-lhe pão para comer e água para beber 12e ainda um pedaço de pasta de figos secos e dois cachos de passas de uvas. Ele comeu e recobrou as forças, pois passara três dias e três noites sem nada comer ou beber. 13David perguntou-lhe: «Quem és e de onde vens?» Ele respondeu: «Sou um egípcio, escravo de um amalecita. O meu senhor abandonou-me há três dias, porque caí doente. 14Fizemos uma incursão no Négueb dos cretenses, no território de Judá, no Négueb de Caleb e incendiámos Ciclag.» 15David disse-lhe: «Queres conduzir-me a essa gente?» Respondeu-lhe o homem: «Jura-me, pelo nome de Deus, que não me matarás, nem me entregarás ao meu senhor, e eu te levarei ao lugar onde se encontra aquele bando.»
16Guiados pelo egípcio, encontraram os amalecitas espalhados por todo o campo, comendo, bebendo e festejando a enorme presa que tinham trazido da terra dos filisteus e de Judá. 17David atacou-os, desde o romper do dia até à tarde do dia seguinte. Só escaparam quatrocentos jovens, que fugiram montados em camelos.
18David recuperou tudo o que os amalecitas tinham tomado, libertando também as suas duas mulheres. 19E não faltou ninguém, nem pequeno nem grande, nem filho, nem filha, nem nada do espólio que os amalecitas tinham levado. David trouxe tudo de volta. 20E tomou todos os rebanhos e manadas, à frente dos quais os homens iam gritando: «Eis a presa de David!»
21David foi, depois, juntar-se aos duzentos homens deixados na torrente de Besor e que, por cansaço, não o tinham podido seguir. Eles foram ao encontro de David e da sua tropa, e David saudou-os ao chegar junto deles.
22Mas todos os malvados e perversos que se encontravam na tropa de David começaram a dizer: «Visto que eles não nos acompanharam, nada lhes daremos do espólio recuperado, salvo a mulher de cada um e os seus filhos. Que os recebam e se retirem!» 23David disse-lhes: «Não façais assim, meus irmãos, com o que o Senhor nos deu, depois de nos ter protegido e ter entregue nas nossas mãos a tropa que se tinha levantado contra nós. 24Quem poderia aceitar a proposta que fazeis? A parte dos que ficaram junto às bagagens será igual à daqueles que foram ao combate. Faça-se a divisão com equidade.» 25A partir daquele dia, David estabeleceu em Israel este costume e este direito, que tem vigorado até hoje.
26Voltando a Ciclag, David enviou uma parte do espólio aos anciãos de Judá, seus parentes, com esta mensagem: «Recebei este presente, proveniente do espólio tomado aos inimigos do Senhor.» 27Enviou também presentes aos de Betel, de Ramot-Négueb, 28de Jatir, de Aroer, de Chifamot, de Estemoa, 29de Racal, aos das cidades de Jeramiel, aos das cidades dos quenitas, 30aos de Horma, de Bor-Achan, de Atac, 31de Hebron e de todas as cidades por onde David tinha passado com os seus homens.
Capítulo 31
Derrota e morte de Saul (2 Sm 1,1-16; 1 Cr 10,1-14) – 1Entretanto, deu-se a batalha entre os filisteus e Israel, e os israelitas fugiram diante deles, caindo feridos de morte no monte Guilboa. 2Os filisteus atiraram-se contra Saul e seus filhos, matando Jónatas, Abinadab e Malquichua, filhos de Saul. 3Toda a violência do combate desabou sobre Saul. Os arqueiros descobriram-no e feriram-no gravemente. 4Saul disse ao seu escudeiro: «Tira a tua espada e trespassa-me, para que não venham esses incircuncisos, me trespassem e escarneçam de mim.» Mas o escudeiro não o quis fazer, pois se apoderou dele um grande terror. Então, Saul tomou a sua espada e atirou-se sobre ela. 5O escudeiro, vendo que Saul estava morto, arremessou-se ele próprio sobre a sua espada e morreu junto dele.
6Assim, morreram naquele dia Saul e os seus três filhos, o seu escudeiro e todos os seus homens. 7Os israelitas que moravam do outro lado do vale e além-Jordão, vendo a derrota dos homens de Israel e a morte de Saul e seus filhos, abandonaram as suas cidades e fugiram. Os filisteus vieram e estabeleceram-se nelas.
8No dia seguinte, os filisteus foram recolher os despojos dos cadáveres e encontraram Saul e os seus três filhos caídos sobre o monte Guilboa. 9Cortaram-lhe a cabeça, despojaram-no das suas armas e espalharam a notícia por toda a terra dos filisteus, para que se publicasse esta vitória nos templos dos seus ídolos e entre o povo. 10Puseram as armas de Saul no templo de Astarté e suspenderam o seu cadáver nos muros de Bet-Chan.
11Quando os habitantes de Jabés de Guilead souberam o que os filisteus tinham feito a Saul, 12os mais valentes puseram-se a caminho e marcharam toda a noite. Tiraram das muralhas de Bet-Chan os cadáveres de Saul e dos seus filhos e trouxeram-nos para Jabés, onde os queimaram. 13Recolheram os ossos e enterraram-nos debaixo da tamareira de Jabés. E jejuaram durante sete dias.