Capítulo 11
Derrota dos amonitas e libertação de Jabés de Guilead (12,12) – 1Naás, o amonita, pôs-se em campanha e atacou Jabés, em Guilead. Todos os habitantes de Jabés lhe disseram: «Faz connosco uma aliança e seremos teus servos.» 2Naás, o amonita, respondeu-lhes: «Só farei aliança convosco com a condição de vos tirar a todos o olho direito. Infligirei esta vergonha a todo o Israel.» 3Disseram-lhe os anciãos de Jabés: «Concede-nos sete dias, a fim de enviarmos mensageiros por toda a terra de Israel; se não houver quem nos defenda, entregar-nos-emos a ti.»
4Chegaram, pois, mensageiros a Guibeá, cidade de Saul, e contaram isto ao povo, que se pôs a chorar em alta voz. 5Saul voltava do campo, atrás dos bois, e perguntou: «Que tem o povo para chorar desta forma?» E contaram-lhe o que tinham dito os habitantes de Jabés. 6Quando Saul ouviu isto, o espírito do Senhor apoderou-se dele. E Saul ficou enfurecido. 7Tomando uma junta de bois, fê-la em pedaços e mandou-os pelos mensageiros a todo o território de Israel, com este aviso: «Serão assim tratados os bois de todo aquele que não se puser em campanha, ao lado de Saul e Samuel.» O temor do Senhor apoderou-se do povo e este pôs-se em marcha como um só homem. 8Saul passou-lhes revista em Bezec, e havia trezentos mil homens de Israel, sendo trinta mil da tribo de Judá. 9E responderam aos mensageiros que tinham chegado: «Direis aos habitantes de Jabés, em Guilead: amanhã, quando o Sol estiver na força do calor, sereis socorridos.» Partiram os mensageiros e levaram esta notícia aos habitantes de Jabés, que se encheram de alegria. 10E disseram: «Amanhã sairemos até vós e fareis de nós o que vos aprouver.» 11No dia seguinte, Saul dividiu o seu exército em três corpos; penetraram ao raiar do dia no acampamento inimigo e feriram os amonitas até à hora da força do calor. Os que escaparam dispersaram-se, de tal modo que não ficaram dois deles juntos. 12O povo disse, então, a Samuel: «Onde estão os que diziam: ‘Saul não reinará sobre nós?’ Dai-nos esses homens para os matarmos.» 13Porém, Saul respondeu: «Ninguém morrerá hoje, porque é o dia em que o Senhor salvou Israel.»
14Samuel disse ao povo: «Vamos a Guilgal e renovaremos ali a realeza.» 15Partiu, pois, todo o povo para Guilgal e ali proclamaram rei a Saul, na presença do Senhor, e ofereceram naquele lugar sacrifícios de comunhão. E Saul, com todo o povo de Israel, alegrou-se grandemente.
Capítulo 12
Testamento de Samuel (Dt 28, 1-68; Js 23,1-16; 1 Rs 2,1-9) – 1Samuel disse a todo o povo de Israel: «Como vistes, escutei-vos em tudo o que me pedistes e dei-vos um rei. 2Aí tendes o rei que vos há-de guiar. Eu estou velho e de cabelos brancos, e os meus filhos estão no meio de vós; guiei-vos desde a minha juventude até este dia. 3Agora, aqui me tendes! Podeis acusar-me na presença do Senhor e do seu ungido; acaso tomei o boi ou o jumento de alguém? Oprimi ou prejudiquei alguém? Recebi dádivas de alguém para fechar os olhos à sua conduta? Tudo vos restituirei.» 4Eles disseram: «Não nos prejudicaste, nem nos oprimiste, nem recebeste nada da mão de ninguém.»
5Samuel replicou: «O Senhor é hoje testemunha contra vós, e o seu ungido é também testemunha de que vós não encontrastes em mim nada de censurável.» Responderam eles: «Ele é testemunha.» 6E Samuel continuou: «É, pois, testemunha o Senhor, que escolheu Moisés e a Aarão e tirou os nossos pais do Egipto! 7Apresentai-vos. Vou chamar-vos a juízo diante do Senhor, a respeito de todos os benefícios que Ele concedeu a vós e a vossos pais. 8Quando Jacob entrou no Egipto e os vossos pais invocaram o Senhor, Ele enviou Moisés e Aarão para os fazer sair do Egipto e instalá-los nesta terra. 9Mas eles esqueceram-se do Senhor, seu Deus, e Ele entregou-os ao poder de Sísera, chefe do exército de Haçor, ao poder dos filisteus e ao poder do rei de Moab, os quais combateram contra eles. 10Depois clamaram ao Senhor, dizendo: ‘Pecámos porque abandonámos o Senhor e servimos os ídolos de Baal e de Astarté; agora, livra-nos das mãos dos nossos inimigos e nós te serviremos.’ 11Com efeito, o Senhor enviou Jerubaal, Bedan, Jefté e Samuel para vos salvar do poder dos inimigos que vos cercavam, e vivestes em segurança. 12Mas quando vistes Naás, rei dos amonitas, marchar contra vós, dissestes-me: ‘Não! Um rei nos há-de governar!’ E, todavia, o Senhor, nosso Deus, é que é o vosso rei! 13Aqui tendes, pois, o rei que escolhestes e pedistes; o Senhor estabeleceu-o sobre vós. 14Se temerdes o Senhor, servindo-o, obedecendo à sua voz e não vos rebelando contra a sua vontade, tanto vós como o rei que vos governa vivereis na presença do Senhor, vosso Deus! 15Mas, se não ouvirdes a voz do Senhor e vos revoltardes contra as suas ordens, a mão do Senhor pesará sobre vós, como fez com os vossos pais. 16Agora ficai aqui um pouco e vereis o prodígio que o Senhor vai realizar diante dos vossos olhos. 17Não é agora o tempo da ceifa dos trigais? Vou invocar o Senhor e Ele enviará trovões e chuvas, a fim de que compreendais o mal que fizestes aos seus olhos, pedindo um rei.»
18Samuel clamou ao Senhor e o Senhor mandou, naquele mesmo dia, trovões e chuva. Todo o povo sentiu grande temor perante o Senhor e perante Samuel. 19Disseram todos a Samuel: «Roga pelos teus servos ao Senhor, teu Deus, para que não morramos, porque a todos os nossos pecados acrescentámos a maldade de pedir um rei.» 20Samuel respondeu ao povo: «Não temais. É certo que procedestes mal; mas não vos afasteis do Senhor, servi antes o Senhor de todo o vosso coração; 21nem vos lanceis atrás de ídolos vãos, que não vos salvam nem socorrem, pois não são nada. 22O Senhor, por amor do seu grande nome, não vos abandonará, pois quis fazer de vós o seu povo. 23Por minha parte, longe de mim pecar contra o Senhor, deixando de interceder por vós. Eu vos mostrarei sempre o caminho bom e recto. 24Só ao Senhor temereis e servireis com fidelidade e com todo o vosso coração, pois vistes as maravilhas que Ele fez convosco. 25Se, porém, vos obstinardes no mal, perecereis, vós e o vosso rei.»
Capítulo 13
Guerra contra os filisteus (14,1-16) – 1Saul era de meia-idade quando começou a reinar; e reinou cerca de vinte anos em Israel. 2Saul escolheu para si três mil homens de Israel: dois mil para ficarem com ele em Micmás e no monte Betel, e mil, com Jónatas, em Guibeá, no território de Benjamim. E despediu o resto do povo, cada um para sua casa.
3Jónatas derrotou a guarnição dos filisteus de Gueba. Souberam-no os filisteus. E Saul mandou tocar a trombeta por toda a terra de Israel, dizendo: «Que o saibam os hebreus!» 4Todo o Israel ouviu esta notícia: «Saul destroçou toda a guarnição dos filisteus e Israel atraiu sobre si o ódio deles.» E o povo congregou-se à volta de Saul em Guilgal.
5Juntaram-se os filisteus para combater Israel, com trinta mil carros, seis mil cavaleiros e uma multidão tão numerosa como as areias da praia do mar. Partiram e acamparam em Micmás, a oriente de Bet-Aven. 6Ao sentirem-se cercados, os israelitas, vendo o perigo em que se achavam, ocultaram-se nas cavernas, nos buracos, nos rochedos, nas grutas e nas cisternas. 7Vários deles atravessaram o Jordão e foram para a terra de Gad em Guilead.
Ruptura entre Samuel e Saul (15, 22-28; 28,16-20; Act 13,22) – Saul, entretanto, estava ainda em Guilgal com todo o seu povo, que tremia de medo. 8Esperou sete dias, segundo a ordem de Samuel. Mas este não chegava a Guilgal, e o povo, pouco a pouco, ia-se afastando. 9Disse, pois, Saul: «Trazei-me o holocausto e os sacrifícios de comunhão.» E ele mesmo ofereceu o holocausto.
10Tendo acabado de o oferecer, eis que chegou Samuel. Saul saiu-lhe ao encontro para o saudar. 11Disse-lhe Samuel: «Que fizeste?» Respondeu Saul: «Vendo que o povo se dispersava e que tu não chegavas no tempo fixado, e que os filisteus se tinham reunido em Micmás, 12disse para comigo: ‘Agora os filisteus vão cair sobre mim em Guilgal, antes de eu aplacar o Senhor. Por isso, eu próprio me decidi a oferecer o holocausto.’»
13Samuel replicou-lhe: «Procedeste insensatamente, não observando o mandamento que te deu o Senhor, teu Deus. Ele teria assegurado para sempre o teu reinado sobre Israel. 14Agora, o teu reinado não subsistirá. O Senhor escolheu para si um homem segundo o seu coração e fará dele chefe do seu povo, porque não observaste as suas ordens.» 15E Samuel retirou-se, subindo de Guilgal a Guibeá de Benjamim. E Saul, passando revista aos homens que estavam com ele, achou que havia cerca de seiscentos homens. 16Saul, Jónatas, seu filho, e a tropa que tinha ficado com eles acamparam em Guibeá de Benjamim, enquanto os filisteus acamparam em Micmás. 17Três destacamentos saíram do acampamento dos filisteus para a pilhagem: um tomou o caminho de Ofra, no território de Chual; 18outro avançou pelo caminho de Bet-Horon, e o terceiro dirigiu-se para a fronteira que domina o vale de Seboim, do lado do deserto.
19Ora, em toda a terra de Israel não se encontrava um ferreiro, porque os filisteus tinham dito: «Os hebreus não hão-de fabricar espadas nem lanças.» 20Por isso, todos os israelitas tinham que acudir aos filisteus para afiar a relha do arado, o enxadão, o machado ou a foice. 21O preço por afiar as relhas do arado e as enxadas era de dois terços de siclo, e um terço de siclo para afiar os machados e os aguilhões. 22E, chegando o dia do combate, não se encontrou nem espada, nem lança nas mãos dos homens que acompanhavam Saul e Jónatas. Apenas Saul e seu filho Jónatas estavam munidos dessas armas. 23Um grupo de filisteus avançou para além do desfiladeiro de Micmás.
Capítulo 14
Façanhas de Jónatas – 1Aconteceu que, um dia, Jónatas, filho de Saul, disse ao seu escudeiro: «Vem, vamos até ao acampamento dos filisteus que está do outro lado.» Mas nada disse a seu pai. 2Saul estava acampado na extremidade de Guibeá, debaixo da romãzeira de Migron, com uma tropa de uns seiscentos homens. 3Aías estava revestido com a insígnia votiva. Era filho de Aitub, irmão de Icabod, filho de Fineias, filho de Eli, o sacerdote do Senhor em Silo. O povo ignorava a saída de Jónatas. 4No desfiladeiro que Jónatas tentava atravessar para atingir a guarnição dos filisteus, havia altos rochedos denteados, de um e de outro lado, um dos quais se chamava Bocés e o outro Sene. 5Um destes elevava-se em frente de Micmás, pela parte norte, e o outro, ao sul, do lado de Guibeá. 6Disse, pois, Jónatas ao escudeiro: «Ataquemos a guarnição desses incircuncisos; talvez o Senhor combata por nós. Na verdade, Ele tanto pode dar a vitória com poucos como com muitos.» 7O escudeiro respondeu: «Faz o que te aprouver, que eu te seguirei por toda a parte.» 8Disse-lhe Jónatas: «Marchemos então contra esses homens, deixando-nos ver. 9Se nos disserem: ‘Esperai até que nos aproximemos de vós’, ficaremos no nosso posto e não avançaremos. 10Se, porém, nos disserem: ‘Subi até nós’, avançaremos, porque este será o sinal de que o Senhor os entregou nas nossas mãos. Isto nos servirá de sinal.» 11Logo que foram descobertos pela guarnição dos filisteus, estes disseram: «Eis os hebreus que saem das cavernas onde se tinham escondido.» 12E os homens da guarda gritaram a Jónatas e ao escudeiro: «Vinde até nós, pois queremos mostrar-vos uma coisa.» Jónatas disse ao escudeiro: «Vem comigo, porque o Senhor os entregará nas mãos de Israel.» 13Subiu, pois, Jónatas, trepando com as mãos e os pés, seguido do escudeiro. Os filisteus caíam diante de Jónatas, e o escudeiro acabava de os matar atrás dele. 14Este primeiro massacre que fez Jónatas e o escudeiro foi de uns vinte homens, no espaço de meia jeira de terra.
15Espalhou-se o pânico no acampamento, no campo e entre todo o povo. A guarnição e o corpo de choque ficaram aterrorizados; a terra tremeu e originou-se um temor imenso. 16Entretanto, as sentinelas de Saul que estavam em Guibeá de Benjamim viram a multidão de fugitivos que se dispersavam por todos os lados.
17Saul disse aos que estavam com ele: «Fazei a chamada e vede quem saiu do nosso acampamento.» Fez-se a chamada e verificou-se a falta de Jónatas e do escudeiro. 18Saul disse a Aías: «Traz a insígnia votiva e a Arca de Deus.» Com efeito, nesse dia a Arca de Deus estava entre os israelitas. 19Enquanto Saul falava ao sacerdote, o tumulto no acampamento dos filisteus aumentava cada vez mais. Saul disse ao sacerdote: «Retira a tua mão.» 20Saul e todo o povo que estava com ele foram até ao lugar do combate. Os filisteus, numa extrema confusão, voltavam a espada uns contra os outros. 2l Além disso, os hebreus que tinham servido os filisteus e tinham subido com eles ao acampamento, voltaram e puseram-se ao lado dos israelitas que estavam com Saul e Jónatas. 22Igualmente todos os israelitas que se tinham escondido na montanha de Efraim, sabendo que os filisteus tinham fugido, saíram a persegui-los. 23Naquele dia, o Senhor deu a vitória a Israel e o combate prosseguiu até Bet-Aven.
Juramento de Saul – 24Os israelitas estavam extenuados, porque Saul obrigara o povo com juramento, dizendo: «Maldito seja o homem que tomar alimento antes do anoitecer, antes que eu me tenha vingado dos meus inimigos.» Por isso, ninguém do povo comeu nada. 25Toda aquela multidão de gente tinha entrado na floresta; à superfície do solo, havia mel. 26O povo entrou, pois, na floresta e eis que o mel corria. Mas ninguém ousou levá-lo com a mão à boca, para não violar o juramento. 27Jónatas, porém, ignorava o juramento com que o pai obrigara o povo; estendeu a ponta do bastão que tinha na mão, molhou-a num favo de mel e levou-a à boca. Então recuperou o vigor dos olhos. 28Um homem do povo disse-lhe: «Teu pai fez jurar o povo, dizendo: ‘Maldito o homem que hoje provar alimento.’» 29Jónatas respondeu: «Meu pai fez mal à nossa terra. Vós mesmos vistes como se me iluminaram os olhos, porque comi um pouco deste mel. 30E se o povo tivesse hoje comido da presa tomada ao inimigo, não teria sido muito maior a derrota dos filisteus?»
31Naquele dia, foram derrotados os filisteus, desde Micmás até Aialon. O povo, exausto de fadiga, 32lançou-se ao saque e tomou as ovelhas, os bois e os bezerros, que degolaram sobre a terra, comendo a carne juntamente com o sangue. 33E avisaram Saul: «O povo está a pecar contra o Senhor, comendo carne com sangue.»
Disse-lhes Saul: «Isso é uma impiedade; trazei-me depressa uma grande pedra.» 34E acrescentou: «Ide por todo o povo e dizei-lhe que me traga cada um a sua ovelha ou o seu boi. Serão degolados e comidos aqui; mas não pequem contra o Senhor, comendo carne com sangue.» Cada um deles trouxe, pela sua mão, naquela noite, o gado, e ali o sacrificaram. 35Saul edificou naquele sítio um altar ao Senhor. Este foi o primeiro altar que erigiu ao Senhor.
36Saul disse: «Lancemo-nos esta noite sobre os filisteus e destruamo-los até aos primeiros alvores do dia e não deixemos vivo nem um só homem.» O povo disse: «Faz tudo o que melhor te parecer.» Mas o sacerdote disse: «Aproximemo-nos, aqui, de Deus.» 37E Saul consultou o Senhor, dizendo: «Perseguirei os filisteus? Irás entregá-los nas mãos de Israel?» Mas Deus não lhe respondeu desta vez.
38Saul disse: «Fazei vir aqui todos os principais de entre o povo; investigai e dizei-me qual é o pecado que hoje se cometeu. 39Pela vida do Senhor, que é o libertador de Israel, nem que seja meu filho Jónatas, ele morrerá!» Ninguém na multidão lhe respondeu. 40E disse a todo o Israel: «Ponde-vos de um lado, eu e o meu filho Jónatas estaremos do outro.» A multidão respondeu-lhe: «Faz o que te parecer melhor.» 41Saul disse ao Senhor, Deus de Israel: «Dá-nos a conhecer a verdade!» Jónatas e Saul foram designados pelas sortes, e o povo ficou livre. 42Então, Saul disse: «Lançai as sortes sobre mim e sobre meu filho Jónatas.» E caiu a sorte sobre Jónatas. 43Disse, pois, Saul a Jónatas: «Confessa-me o que fizeste.»
Jónatas contou-lhe: «Provei um pouco de mel com a ponta da vara que tinha na mão. E aqui me tens pronto a morrer!» 44Saul disse: «Castigue-me Deus com todo o rigor da sua justiça, se tu não morreres, Jónatas!» 45Mas o povo disse a Saul: «Como havia de perecer Jónatas, ele que acaba de dar a vitória a Israel? Isto não pode ser! Viva o Senhor! Nem um só cabelo da sua cabeça cairá por terra, pois foi por beneplácito de Deus que ele agiu hoje desta forma.» Assim o povo salvou Jónatas da morte. 46Saul retirou-se, deixando de perseguir os filisteus, que voltaram para as suas terras.
47Saul assegurou a monarquia em Israel e combateu contra todos os inimigos: moabitas, amonitas, edomitas, os reis de Soba e os filisteus. E, para onde quer que levasse as suas armas, voltava vencedor. 48Portou-se valorosamente, feriu os amalecitas e libertou Israel das mãos dos que o assaltavam. 49Os filhos de Saul foram Jónatas, Jisvi e Malquichua; a primogénita das suas filhas chamava-se Merab e a mais nova, Mical. 50A mulher de Saul chamava-se Aínoam, filha de Aimaás. O chefe do seu exército chamava-se Abner, filho de Ner, tio de Saul, 51porque Quis, pai de Saul, e Ner, pai de Abner, eram filhos de Abiel. 52Durante todo o tempo da vida de Saul, a guerra foi encarniçada contra os filisteus. Sempre que Saul descobria um homem valente e aguerrido, levava-o consigo.
Capítulo 15
Campanha contra os amalecitas (Ex 17,8-16; Dt 25,17-19) – 1Samuel disse a Saul: «O Senhor enviou-me para que te ungisse rei do seu povo de Israel. Ouve, pois, as palavras do Senhor. 2Isto diz o Senhor do universo: ‘Vou pedir contas a Amalec do que ele fez a Israel, opondo-se-lhe no caminho, quando subia do Egipto. 3Vai, pois, agora, ferir Amalec. Votarás ao extermínio tudo o que lhe pertence, sem nada poupar. Matarás tudo, homens e mulheres, crianças e meninos de peito, bois e ovelhas, camelos e asnos.’»
4Saul comunicou isto ao povo e passou-lhe revista em Telaim. Havia duzentos mil peões e dez mil homens de Judá. 5Saul avançou até à cidade de Amalec e pôs emboscadas na torrente. 6Disse aos quenitas: «Retirai-vos, separai-vos dos amalecitas, não suceda que eu vos destrua juntamente com eles, pois tratastes bem os filhos de Israel quando subiam do Egipto.» E os quenitas separaram-se dos amalecitas. 7E Saul foi destroçando os amalecitas desde Havilá até à entrada de Chur, que está na fronteira do Egipto. 8Tomou vivo Agag, rei dos amalecitas, e votou ao anátema todo o povo, passando-o ao fio da espada. 9Mas Saul e os seus homens pouparam Agag, assim como o melhor dos rebanhos de ovelhas e de vacas, os animais cevados, os cordeiros e tudo o que havia de melhor. Nada disto quiseram votar ao anátema. Só destruíram o que era de má qualidade e sem valor.
Saul reprovado por Deus – 10O Senhor disse a Samuel: 11«Arrependo-me de ter feito rei a Saul, porque me voltou as costas e não executou as minhas ordens.» Samuel entristeceu-se e clamou ao Senhor durante toda a noite. 12Na manhã seguinte, indo ao encontro de Saul, foi avisado de que este tinha ido a Carmel e erigido ali um monumento, retomando em seguida o seu caminho para Guilgal. 13Samuel foi ter com ele e Saul disse-lhe: «O Senhor te abençoe! Cumpri a sua ordem.» 14Samuel replicou-lhe: «Mas que balidos de ovelhas são esses que ressoam aos meus ouvidos e esses mugidos de gado que ouço?» 15Respondeu Saul: «É a presa tomada aos amalecitas, pois o povo poupou o melhor das ovelhas e dos bois, para os sacrificar ao Senhor, teu Deus; destruímos o resto.» 16Samuel disse-lhe: «Cala-te! Vou dizer-te o que o Senhor me disse esta noite.» Saul respondeu: «Fala.» 17Samuel disse: «Apesar de te considerares pequeno, acaso não te tornaste chefe das tribos de Israel, e não te ungiu o Senhor rei de Israel? 18O Senhor enviou-te a essa expedição, dizendo: ‘Passa ao fio de espada esses amalecitas pecadores e combate contra eles até ao completo extermínio.’ 19Porque não ouviste a sua voz e te lançaste sobre os despojos, fazendo o que desagrada ao Senhor?» 20Respondeu Saul a Samuel: «Eu obedeci à voz do Senhor, fui pelo caminho que Ele me traçou, trouxe Agag, rei dos amalecitas, e exterminei esse povo. 21O povo somente tomou dos despojos algumas ovelhas e bois, como primícias do que devia destruir, para os sacrificar ao Senhor, teu Deus, em Guilgal.»
22Samuel replicou-lhe, então:
- «Porventura, o Senhor se compraz tanto nos holocaustos e sacrifícios
- como na obediência à sua palavra?
- A obediência vale mais do que os sacrifícios,
- e a submissão, mais do que a gordura dos carneiros.
- 23 A desobediência é tão culpável como a superstição,
- e a insubmissão é como o pecado da idolatria.
- Visto, pois, que rejeitaste a palavra do Senhor,
- também Ele te rejeita e te tira a realeza!»
24Saul disse: «Pequei; transgredi a ordem do Senhor e as tuas instruções, pois tive medo do povo e condescendi. 25Agora, peço-te, perdoa o meu pecado e vem comigo, para que eu adore o Senhor.» 26Respondeu Samuel: «Não irei contigo, porque rejeitaste a palavra do Senhor; por isso, o Senhor te rejeita e não quer mais que sejas rei em Israel.»
27Samuel virou as costas para se retirar, mas Saul agarrou-o pela ponta do manto, o qual se rasgou. 28Samuel disse-lhe: «Deste modo, o Senhor arrancou hoje de ti o trono de Israel, a fim de o dar a outro melhor do que tu. 29O Esplendor de Israel não mente nem se arrepende, pois não é um homem para se arrepender.» 30Saul respondeu: «Pequei. Mas rogo-te que me honres agora na presença dos anciãos do meu povo e diante de Israel. Vem comigo adorar o Senhor, teu Deus!» 31Samuel foi, pois, com Saul, e este adorou o Senhor.
32Disse, então, Samuel: «Trazei-me Agag, rei dos amalecitas.» Agag aproximou-se acorrentado, pensando: «Já passou o perigo de morte!» 33Disse-lhe Samuel: «Assim como a tua espada privou tantas mães dos seus filhos, assim agora a tua mãe será uma mulher sem filhos.» E Samuel executou Agag diante do Senhor, em Guilgal.
34Depois disto, Samuel retirou-se para Ramá, e Saul foi para a sua casa, em Guibeá de Saul. 35O profeta não tornou a ver Saul até ao dia da sua morte. Samuel afligia-se por causa de Saul, porque o Senhor se arrependera de o ter feito rei de Israel.
Capítulo 16
III. Subida de David ao trono (1 Sm 16,1-2 Sm 5,25)
Unção de David (2 Sm 2,1-7) – 1O Senhor disse a Samuel: «Até quando chorarás Saul, tendo-o Eu rejeitado para que não reine em Israel? Enche o teu chifre de óleo e vai. Quero enviar-te a Jessé de Belém, pois escolhi um rei entre os seus filhos.» Samuel respondeu: «Como hei-de ir? Se Saul souber, irá tirar-me a vida.» 2O Senhor disse: «Levarás contigo um novilho e dirás que vais oferecer um sacrifício ao Senhor. 3Convidarás Jessé para o sacrifício e Eu te revelarei o que deverás fazer. Darás por mim a unção àquele que Eu te indicar.» 4Fez Samuel como o Senhor ordenara.
Ao chegar a Belém, os anciãos da cidade saíram-lhe ao encontro, inquietos, e disseram: «É de paz a tua vinda?» 5Ele respondeu: «Sim. Venho oferecer um sacrifício ao Senhor; purificai-vos e acompanhai-me para o sacrifício.» Ele mesmo purificou Jessé e os filhos e convidou-os para o sacrifício. 6Logo que entraram, Samuel viu Eliab e pensou consigo: «Certamente é este o ungido do Senhor.» 7Mas o Senhor disse a Samuel: «Que te não impressione o seu belo aspecto, nem a sua alta estatura, pois Eu rejeitei-o. O que o homem vê não importa; o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração.» 8Jessé chamou Abinadab e apresentou-o a Samuel, que disse: «Não é este o que o Senhor escolheu.» 9Jessé trouxe-lhe, também, Chamá. E Samuel disse: «Ainda não é este o que o Senhor escolheu.»
10Jessé apresentou-lhe, assim, os seus sete filhos, mas Samuel disse: «O Senhor não escolheu nenhum deles.» 11E acrescentou: «Estão aqui todos os teus filhos?» Jessé respondeu: «Resta ainda o mais novo, que anda a apascentar as ovelhas.» Samuel ordenou a Jessé: «Manda buscá-lo, pois não nos sentaremos à mesa antes de ele ter chegado.» 12Jessé mandou então buscá-lo. David era louro, de belos olhos e de aparência formosa. O Senhor disse: «Ei-lo, unge-o: é esse.» 13Samuel tomou o chifre de óleo e ungiu-o na presença dos seus irmãos. E, a partir daquele dia, o espírito do Senhor apoderou-se de David. E Samuel voltou para Ramá.
David ao serviço de Saul (18,6-16; 19,8-19) – 14O espírito do Senhor retirou-se de Saul, que era atormentado por um espírito maligno enviado pelo Senhor. 15Os criados de Saul disseram-lhe: «Eis que um espírito mau te atormenta. 16Se tu, nosso amo, deres ordens, os teus servos, aqui presentes, procurarão um homem que saiba tocar harpa, para que, quando o mau espírito dominar sobre ti, ele a toque, a fim de te acalmar.» 17Respondeu Saul: «Está bem, procurai-me um bom músico e trazei-mo.» 18Um dos servos disse-lhe: «Conheço um filho de Jessé de Belém que sabe tocar muito bem harpa; é valente e corajoso, fala bem, tem belo rosto e o Senhor está com ele.»
19Saul mandou mensageiros a Jessé, dizendo: «Manda-me o teu filho David, o pastor.» 20Jessé tomou um jumento carregado com pão, um odre de vinho e um cabrito e enviou esses presentes a Saul, por meio de seu filho. 21David chegou à casa do rei e fez a sua apresentação. Saul afeiçoou-se a ele e fê-lo seu escudeiro. 22E mandou dizer a Jessé: «Rogo-te que deixes David comigo, pois ganhou a minha estima.» 23E sempre que o mau espírito atormentava Saul, David tomava a harpa e tocava. Saul acalmava-se, sentia-se aliviado e o espírito mau deixava-o.
Capítulo 17
David e Golias (2 Sm 21,15-19) – 1Os filisteus mobilizaram as suas tropas para a guerra. Juntaram-se em Socó de Judá e acamparam entre Socó e Azeca, em Efés-Damim. 2Saul e os filhos de Israel mobilizaram as suas tropas e acamparam no vale do Terebinto, colocando-se em linha de combate contra os filisteus. 3Estes estavam num lado da montanha, e Israel, na colina que lhe ficava em frente, separados pelo vale.
4Saiu do acampamento dos filisteus um guerreiro chamado Golias, de Gat, cuja estatura era de seis côvados e um palmo. 5Cobria-lhe a cabeça um capacete de bronze, e o corpo, uma couraça de escamas, cujo peso era de cinco mil siclos de bronze. 6Tinha perneiras de bronze, e um escudo de bronze defendia os seus ombros. 7O cabo da lança era como um cilindro de tear, e a ponta pesava seiscentos siclos de ferro. Precedia-o um escudeiro. 8Apresentou-se diante dos filhos de Israel e gritou-lhes: «Porque é que vos colocastes em ordem de batalha? Não sou eu filisteu, e vós servos de Saul? Escolhei entre vós um homem que combata comigo, em duelo. 9Se me vencer e me matar, seremos vossos escravos; mas se eu o vencer e o matar, então vós sereis nossos escravos e servir-nos-eis.» 10E acrescentou: «Lanço hoje este desafio ao exército de Israel: dai-me um homem para lutarmos juntos.» 11Saul e todo o Israel ouviram estas palavras do filisteu e ficaram assombrados e cheios de medo.
David mata Golias – 12David era um dos oito filhos de um homem de Efraim, de Belém de Judá, chamado Jessé. Tinha oito filhos e era já idoso nos tempos de Saul, a quem tinha fornecido homens. 13Os três filhos mais velhos tinham seguido Saul na guerra. O primogénito chamava-se Eliab, o segundo Abinadab e o terceiro Chamá. 14David era o mais novo. Tendo os três mais velhos seguido Saul, 15David ia e vinha da corte de Saul, e voltava para apascentar o rebanho de seu pai, em Belém.
16O filisteu apresentava-se pela manhã e pela tarde, e isto durante quarenta dias. 17Um dia, Jessé disse ao seu filho David: «Toma para os teus irmãos um efá de grão torrado e estes dez pães e leva-os sem demora ao acampamento. 18Entrega estes dez queijos ao comandante e pergunta se os teus irmãos vão bem ou se têm necessidade de alguma coisa.» 19Eles estavam com Saul, juntamente com todos os homens de Israel, no vale do Terebinto, em guerra com os filisteus.
20Na manhã do dia seguinte, David, confiando o rebanho a um pastor, pôs ao ombro os alforges e partiu, como lhe ordenara Jessé. Chegou ao acampamento no momento em que o exército, saindo para a batalha, levantava o grito de guerra. 21Israel e os filisteus puseram-se em linha de combate, esquadrão contra esquadrão. 22David entregou a sua carga ao guarda das bagagens e correu às fileiras, para se informar dos seus irmãos.
23Enquanto lhes falava, eis que o guerreiro filisteu Golias, de Gat, avançou das fileiras do seu exército, proferindo os mesmos insultos que nos dias precedentes. E David ouviu-os. 24Todo o Israel, à vista de Golias, fugiu, tremendo de medo. 25E diziam: «Vedes esse homem que avança? Ele vem insultar Israel. O rei cumulará de grandes riquezas aquele que o matar, dar-lhe-á a sua filha e há-de isentar de impostos, em Israel, a casa de seu pai.» 26David perguntou aos que estavam junto dele: «Que darão àquele que matar esse filisteu e defender a honra de Israel? E quem é este filisteu incircunciso para insultar deste modo o exército do Deus vivo?» 27E deram-lhe a mesma resposta: «Dar-se-á isto e aquilo a quem o matar.» 28Eliab, seu irmão mais velho, ouvindo-o falar com os homens, indignou-se contra David e disse: «Porque vieste aqui? A quem deixaste o rebanho no deserto? Conheço as tuas pretensões e a maldade do teu coração, pois vieste para ver a batalha!» 29Respondeu-lhe David: «Que fiz eu de mal? Apenas fiz uma simples pergunta.» 30E afastou-se do irmão, indo fazer a mesma pergunta a outros, dos quais obteve sempre a mesma resposta.
31As palavras de David foram ouvidas e comunicadas a Saul, que o mandou chamar à sua presença. 32David disse-lhe: «Ninguém desanime por causa desse filisteu! O teu servo irá combatê-lo.» 33Disse-lhe Saul: «Não poderás ir lutar contra esse filisteu. Não passas de uma criança, e ele é um homem de guerra desde a sua mocidade.» 34David respondeu: «Quando o teu servo apascentava as ovelhas do seu pai e vinha um leão ou um urso roubar uma ovelha do rebanho, 35eu perseguia-o e matava-o, arrancando-lhe a ovelha da boca. E, se ele se levantava contra mim, agarrava-o pela goela e estrangulava-o. 36Assim como o teu servo matou o leão e o urso, assim fará também a este filisteu incircunciso, que insultou o exército do Deus vivo.» 37E acrescentou: «O Senhor, que me livrou das garras do leão e do urso, há-de salvar-me igualmente das mãos desse filisteu.» Disse-lhe o rei: «Vai, e que o Senhor esteja contigo.»
38O rei revestiu David com a sua armadura, pôs-lhe na cabeça um capacete de bronze e armou-o de uma couraça. 39Cingiu-o com a sua espada sobre a armadura. David tentou ver se podia andar com aquelas armas, às quais não estava habituado, e disse a Saul: «Não posso caminhar com esta armadura, pois não estou habituado!» 40E tirou a armadura. Tomou o seu cajado e escolheu no regato cinco pedras lisas, pondo-as no alforge de pastor que lhe servia de bolsa. Depois, com a funda na mão, avançou contra o filisteu. 41Este, precedido do escudeiro, aproximou-se de David, 42mediu-o com os olhos e, vendo que era jovem, louro e de aspecto delicado, desprezou-o. 43Disse-lhe: «Sou eu, porventura, um cão, para vires contra mim de pau na mão?» E amaldiçoou David em nome dos seus deuses. 44E acrescentou: «Vem, que eu darei a tua carne às aves do céu e aos animais da terra!»
45David respondeu: «Tu vens para mim de espada, lança e escudo; eu, porém, vou a ti em nome do Senhor do universo, do Deus dos esquadrões de Israel, a quem tu desafiaste. 46O Senhor vai entregar-te hoje nas minhas mãos e eu vou matar-te, cortar-te a cabeça e dar os cadáveres do campo dos filisteus às aves do céu e aos animais da terra, para que todo o mundo saiba que há um Deus em Israel. 47E toda essa multidão de gente saberá que não é com a espada nem com a lança que o Senhor triunfa, porque Ele é o árbitro da guerra e Ele vos entregará nas nossas mãos!»
48Levantou-se o filisteu e avançou contra David. Este também correu para as linhas inimigas ao encontro do filisteu. 49Meteu a mão no alforge, tomou uma pedra e arremessou-a com a funda, ferindo o filisteu na fronte. A pedra penetrou-lhe na cabeça, e o gigante tombou com o rosto por terra.
50Assim venceu David o filisteu, ferindo-o de morte com uma funda e uma pedra. E, como não tinha espada na mão, 51David correu para o filisteu e, quando já estava junto dele, arrancou-lhe a espada da bainha e acabou de o matar, cortando-lhe a cabeça. Vendo morto o seu guerreiro mais valente, os filisteus fugiram.
52Os homens de Israel e de Judá levantaram-se então, soltando gritos de guerra, e perseguiram os filisteus até à entrada do vale e às portas de Ecron. E caíram feridos muitos filisteus, cujos cadáveres juncavam o caminho desde Chaaraim até Gat e Ecron. 53Voltando da perseguição, os filhos de Israel saquearam o acampamento dos inimigos. 54David tomou a cabeça do filisteu e levou-a para Jerusalém. Mas as suas armas guardou-as na sua própria tenda.
55Quando Saul viu David partir ao encontro do filisteu, disse a Abner, seu general: «De quem é filho esse jovem, Abner?» Respondeu-lhe Abner: «Pela tua vida, ó rei, não sei.» 56O rei disse-lhe: «Informa-te, pois, de quem é filho.» 57E quando David voltou da vitória sobre o filisteu, tendo ainda na mão a cabeça de Golias, Abner levou-o à presença de Saul. 58Saul perguntou-lhe: «Quem é o teu pai?» Respondeu-lhe David: «Eu sou filho de Jessé de Belém, teu servo.»
Capítulo 18
Amizade entre David e Jónatas (19-20) – 1Quando David acabou de falar com Saul, o coração de Jónatas ficou estreitamente unido ao de David, e Jónatas começou a amá-lo como a si mesmo. 2Desde aquele dia, Saul recebeu-o em sua casa e não permitiu que voltasse para casa de seu pai.
3David e Jónatas estabeleceram um pacto, pois este amava David como a si mesmo. 4Por isso, Jónatas tirou o manto que levava vestido e deu-o a David, bem como a sua armadura, a sua espada, o seu arco e o seu cinturão. 5De todas as missões de que Saul o encarregava, David saía vitorioso. Colocou-o à frente dos seus guerreiros e ele ganhou a simpatia de todo o povo, particularmente dos servos de Saul.
Inimizade de Saul contra David – 6Ao regressar o exército, depois de David ter morto o filisteu, de todas as cidades de Israel as mulheres saíram ao encontro de Saul, cantando e dançando alegremente, ao som de tambores e címbalos. 7E, à medida que dançavam, cantavam em coro: «Saul matou mil, mas David matou dez mil.» 8Saul irritou-se em extremo e ficou sumamente desgostoso por isso. E disse: «Dão dez mil a David e a mim apenas mil! Só lhe falta a coroa!» 9A partir daquele dia, não voltou a olhar para David com bons olhos. 10No dia seguinte, apoderou-se de Saul um espírito maligno enviado por permissão de Deus, e teve um acesso de loucura em sua casa. Como noutras ocasiões, David pôs-se a tocar o seu instrumento. Saul, segurando uma lança na mão, 11arremessou-a contra David, pensando: «Vou cravar David à parede!» Mas David desviou-se por duas vezes.
12Saul temia David, porque o Senhor estava com David e se tinha afastado dele próprio. 13Saul afastou-o, então, de si, estabelecendo-o chefe de mil homens. À frente deles marchava David, 14sempre bem sucedido em tudo o que fazia, porque o Senhor estava com ele. 15Saul, vendo-o tão engenhoso, teve receio dele. 16Mas todos em Israel e Judá o amavam, porque David ia à frente deles em todas as expedições que se faziam.
Casamento de David (2 Sm 3,13-16) – 17Saul disse a David: «Eis Merab, a minha filha mais velha, que eu te darei por mulher, contanto que sejas valoroso e combatas nas guerras do Senhor.» Saul pensava: «Não é bom que por minha mão o mate, seja antes a mão dos filisteus a fazê-lo.» 18David respondeu a Saul: «Quem sou eu? E que é a minha linhagem, a família de meu pai em Israel, para que me torne genro do rei?» 19E tendo chegado o tempo em que Merab, filha de Saul, devia ser dada a David, deram-na a Adriel, que era de Meolá.
20Mas Mical, outra filha de Saul, amava David. E contaram-no a Saul, que se alegrou com isso. 21«Vou dar-lhe Mical – pensava Saul – para que seja para ele uma armadilha e ele caia nas mãos dos filisteus.» Saul disse, pois, a David pela segunda vez: «Agora vais tornar-te meu genro.» 22E ordenou aos seus servos: «Dizei em segredo a David: Vê, o rei estima-te, e todos os seus servidores também.» 23Os servos de Saul repetiram essas palavras aos ouvidos de David, mas ele respondeu: «Parece-vos fácil ser genro do rei? Eu sou pobre e de condição humilde.» 24Os servos de Saul referiram-lhe as palavras de David. 25Respondeu Saul: «Assim direis a David: ‘O rei só pede como dote os prepúcios de cem filisteus incircuncisos, para se vingar dos seus inimigos.’» O seu desígnio era entregar David nas mãos dos filisteus.
26Os servos transmitiram a David esta mensagem. E esta pareceu a David uma exigência razoável para tornar-se genro do rei. Antes que expirasse o prazo fixado, 27David partiu com os seus homens e matou duzentos filisteus, entregando ao rei aquele número de prepúcios, a fim de se tornar seu genro. Saul deu-lhe por mulher sua filha Mical.
28Saul compreendeu, então, que o Senhor estava com David. A sua filha Mical amava-o. 29O temor de Saul perante David aumentou. E detestou David durante todo o resto da sua vida. 30Cada vez que os príncipes dos filisteus saíam para a guerra, David era melhor sucedido do que todos os homens de Saul, o que tornou cada vez mais célebre o seu nome.
Capítulo 19
Intervenção de Jónatas a favor de David (18,1-4) – 1Saul falou ao seu filho Jónatas e a todos os seus servos da sua intenção de matar David. Mas Jónatas, filho de Saul, amava cordialmente David 2e preveniu-o, dizendo: «Saul, meu pai, quer matar-te. Procura fugir amanhã de manhã; foge para um lugar oculto e esconde-te. 3Sairei em companhia de meu pai, até ao lugar onde tu te encontrares; falarei com ele a teu respeito, para ver o que ele pensa, e depois avisar-te-ei.»
4Jónatas falou bem de David a seu pai e acrescentou: «Não faças mal algum ao teu servo David, pois ele nunca te fez mal; pelo contrário, prestou-te grandes serviços. 5Arriscou a vida, matando o filisteu, e o Senhor deu, assim, uma grande vitória a Israel. Foste testemunha e alegraste-te. Porque queres pecar contra o sangue inocente, matando David sem motivo?»
6Saul ouviu as palavras de Jónatas e fez este juramento: «Pela vida do Senhor, David não morrerá!» 7Então, Jónatas chamou David, contou-lhe tudo isto e apresentou-o novamente a Saul. David voltou a estar ao seu serviço como antes.
David foge de Saul – 8Tendo recomeçado a guerra, David marchou contra os filisteus, combatendo-os e infligindo-lhes pesada derrota. E eles fugiram diante dele. 9Um espírito maligno, por permissão do Senhor, veio novamente sobre Saul. Estava ele sentado em sua casa com a lança na mão e David tocava harpa. 10Saul intentou cravar David à parede com a lança, mas David desviou-se e a lança foi cravar-se na parede. David escapou e fugiu naquela mesma noite.
11Saul mandou os seus guardas a casa de David, a fim de o prenderem e assassinarem no outro dia pela manhã. Mas Mical, mulher de David, disse-lhe: «Se não fugires esta mesma noite, amanhã serás um homem morto.» 12Mical desceu-o pela janela e ele fugiu são e salvo. 13Mical tomou os ídolos familiares, meteu-os na cama, colocou-lhes ao redor da cabeça uma pele de cabra e cobriu-os com um manto. 14Saul enviou emissários a prender David, e ela disse-lhes: «Ele está doente.» 15Saul mandou novos emissários com esta ordem: «Trazei-mo na cama e eu mesmo o matarei.» 16Tendo chegado os emissários de Saul, só encontraram na cama os ídolos com uma cobertura de pele de cabra à cabeceira. 17Saul disse a Mical: «Porque me enganaste assim, deixando fugir o meu inimigo, que se pôs a salvo?» Mical respondeu: «Porque ele me disse: ‘Deixa-me partir, senão mato-te!’» 18David fugiu, pondo-se a salvo, e foi ocultar-se junto de Samuel em Ramá, contando-lhe tudo o que Saul lhe fizera. E ele e Samuel foram viver para Naiot. 19Disseram a Saul: «David está em Naiot, perto de Ramá.»
Saul entre os profetas – 20Saul mandou homens para prender David mas, quando viram o grupo dos profetas em êxtase com Samuel à frente, o espírito de Deus veio sobre os enviados de Saul e começaram, também eles, a profetizar. 21Contaram isto a Saul, que enviou outros mensageiros, mas também estes se puseram a profetizar. Saul mandou um terceiro grupo, aos quais sucedeu o mesmo.
22Então, foi ele próprio a Ramá. Chegando à grande cisterna que está em Socó, perguntou: «Onde estão Samuel e David?» Responderam-lhe: «Estão em Naiot, perto de Ramá.» 23Mas, no caminho para Naiot, apoderou-se também dele o espírito de Deus, e foi cantando e profetizando pelo caminho, até chegar a Naiot. 24Despiu também as suas vestes e pôs-se a cantar com os outros diante de Samuel, ficando assim despido e prostrado por terra, durante todo o dia e toda a noite. Daí o ditado: «Também Saul está entre os profetas?»
Capítulo 20
Aliança entre David e Jónatas (18,1-4; 19; 23,16-18) – 1Entretanto, David fugiu de Naiot, perto de Ramá, e foi ter com Jónatas, dizendo-lhe: «Que fiz eu? Que crime cometi e que mal fiz a teu pai, para que ele queira matar-me?» 2Respondeu-lhe Jónatas: «Não temas, porque não morrerás! Meu pai não faz coisa alguma, grande ou pequena, sem me dizer. Porque me ocultaria isso? Não é possível!» 3Mas David fez novo juramento: «Teu pai bem sabe que tens simpatia por mim e, por isso, deve ter pensado: ‘Que Jónatas não o saiba, para que não se entristeça.’ Por Deus e pela tua vida, há apenas um passo entre mim e a morte!»
4Jónatas respondeu-lhe: «Que queres que eu faça? Farei por ti tudo o que me disseres.» 5Disse David: «Amanhã é a festa da Lua-nova e eu deveria jantar, conforme o costume, à mesa do rei. Deixa-me partir para me esconder no campo até à tarde do terceiro dia. 6Se o teu pai notar a minha ausência, dir-lhe-ás: ‘David pediu-me que o deixasse ir a Belém, sua cidade, pois se celebra ali o sacrifício anual da sua família.’ 7Se ele disser que está bem, nada terei a temer; mas, se ele, pelo contrário, se irritar, fica sabendo que está resolvido a ir até ao fim. 8Faz, pois, esta mercê ao teu servo, já que fizeste um pacto comigo em nome do Senhor. Se tenho alguma culpa, mata-me tu mesmo e não me faças comparecer diante de teu pai.» 9Jónatas disse-lhe: «Longe de ti tal coisa! Se eu souber que, de facto, meu pai resolveu matar-te, juro que te avisarei.» 10Disse-lhe David: «Quem me informará se teu pai te der uma resposta áspera?» 11Respondeu Jónatas: «Vamos para o campo.» E foram ambos para o campo.
12Então, Jónatas disse: «Pelo Senhor, Deus de Israel! Amanhã, pela terceira vez, vou consultar meu pai. Se tudo for favorável a David e eu não to comunicar, 13então, que o Senhor me trate com todo o seu rigor! Mas se persistir a má vontade de meu pai contra ti, avisar-te-ei da mesma forma; poderás, então, partir, e ficarás tranquilo. Que o Senhor esteja contigo como esteve com o meu pai! 14Mais tarde, se eu for ainda vivo, manifestarás em mim a misericórdia do Senhor. Mas, se eu morrer, 15não recusarás jamais o favor à minha casa, quando o Senhor exterminar da face da terra todos os inimigos de David!»
16Foi assim que Jónatas estabeleceu aliança com a casa de David, dizendo: «O Senhor peça contas aos inimigos de David!» 17Jónatas repetiu, mais uma vez, o seu juramento a David em nome da amizade que lhe consagrava, pois o amava de todo o coração.
18E Jónatas acrescentou: «Amanhã é a festa da Lua-nova, e não serás encontrado, pois ficará vazio o teu assento. 19Descerás, então, depois de amanhã sem falta, ao lugar onde te escondeste no dia do sucedido, e sentar-te-ás junto da pedra de Ézel. 20Atirarei três flechas para o lado da pedra, como se atirasse a um alvo. 21Depois mandarei o meu servo buscar as flechas. Se eu lhe disser: ‘Olha! As flechas estão atrás de ti; apanha-as!’ Então poderás vir, porque tudo te é favorável, e nada há a temer, pelo Deus vivo! 22Se, porém, eu disser ao criado: ‘Olha! As flechas estão diante de ti, um pouco mais longe!’ Então foge, porque é o Senhor quem te manda fugir. 23Quanto ao que prometemos, o Senhor seja para sempre testemunha entre nós.» 24David escondeu-se no campo.
No dia da Lua-nova, o rei pôs-se à mesa para comer, 25sentando-se, como de costume, numa cadeira, perto da parede. Jónatas levantou-se para que Abner pudesse sentar-se ao lado de Saul, ficando desocupado o lugar de David. 26Naquele dia, Saul não disse nada. Pensou que talvez David tivesse contraído alguma impureza e não tivesse podido ainda purificar-se. 27No dia seguinte ao da Lua-nova, o lugar de David continuava vazio. Saul disse ao seu filho Jónatas: «Porque não veio comer o filho de Jessé nem ontem nem hoje?» 28E respondeu Jónatas: «David pediu-me licença para ir a Belém. 29Disse-me: ‘Deixa-me ir, porque temos na cidade um sacrifício de família, para o qual meu irmão me convidou. Se mereci a tua estima, permite-me que vá visitar os meus irmãos.’ Eis por que não se apresentou à mesa do rei.»
30Saul encolerizou-se contra Jónatas e disse: «Filho de uma prostituta, pensas que não sei que és amigo do filho de Jessé, e que isso é uma vergonha para ti e para tua mãe? 31Enquanto viver sobre a terra o filho de Jessé, nem tu estarás seguro, nem o teu trono. Vamos! Vai buscá-lo, traz-mo, porque ele merece a morte.» 32Jónatas respondeu ao pai, dizendo: «Porque há-de morrer? Que mal fez ele?» 33Saul brandiu a lança para o atravessar, e Jónatas viu que a morte de David era coisa resolvida pelo pai. 34Furioso, deixou a mesa sem comer, naquele segundo dia de Lua-nova. As injúrias que seu pai havia feito a David tinham-no afligido profundamente.
35No dia seguinte, ao raiar da aurora, Jónatas saiu para o campo e foi ao lugar combinado com David, acompanhado de um jovem servo. 36E disse-lhe: «Vai e traz-me as setas que vou atirar.» Mas enquanto o rapaz corria, Jónatas atirou outra seta mais longe. 37Quando chegou ao lugar da seta, Jónatas gritou-lhe: «Não está a flecha mais para além de ti?» 38E acrescentou: «Vamos, apressa-te, não te demores.» O servo apanhou as setas e voltou ao seu senhor. 39O servo não sabia de nada, porque só Jónatas e David conheciam o assunto.
40Depois disto, entregou Jónatas as armas ao servo, dizendo-lhe: «Vai e leva-as para a cidade.» 41Logo que ele partiu, deixou David o seu esconderijo e, fazendo uma reverência a Jónatas, prostrou-se três vezes por terra; beijaram-se mutuamente, chorando juntos, mas David estava ainda mais comovido que o amigo. 42Jónatas disse-lhe: «Vai em paz; e, quanto ao juramento que fizemos, que o Senhor esteja sempre como testemunha entre ti e mim, entre a tua posteridade e a minha!»