Capítulo 11

Derrota dos amonitas e li­bertação de Jabés de Gui­lead (12,12) – 1Naás, o amonita, pôs-se em campanha e atacou Jabés, em Guilead. Todos os habitantes de Jabés lhe disseram: «Faz connosco uma aliança e seremos teus servos.» 2Naás, o amonita, respondeu-lhes: «Só farei aliança convosco com a con­di­ção de vos tirar a todos o olho direito. Infligirei esta vergonha a todo o Is­rael.» 3Disseram-lhe os anciãos de Jabés: «Concede-nos sete dias, a fim de enviarmos mensagei­ros por toda a terra de Israel; se não houver quem nos defenda, entregar-nos-emos a ti.»

4Chegaram, pois, mensageiros a Gui­beá, cidade de Saul, e contaram isto ao povo, que se pôs a chorar em alta voz. 5Saul voltava do campo, atrás dos bois, e perguntou: «Que tem o povo para chorar desta forma?» E contaram-lhe o que tinham dito os habitantes de Jabés. 6Quando Saul ouviu isto, o espírito do Senhor apoderou-se dele. E Saul ficou enfu­re­cido. 7To­mando uma junta de bois, fê-la em pedaços e mandou-os pelos mensa­geiros a todo o território de Israel, com este aviso: «Serão assim tratados os bois de todo aquele que não se puser em campanha, ao lado de Saul e Samuel.» O temor do Se­nhor apoderou-se do povo e este pôs-se em marcha como um só homem. 8Saul passou-lhes revista em Bezec, e havia trezentos mil homens de Is­rael, sendo trinta mil da tribo de Judá. 9E responderam aos mensa­gei­ros que tinham chegado: «Di­reis aos habi­tan­­tes de Jabés, em Guilead: amanhã, quando o Sol es­tiver na força do calor, sereis socor­ridos.» Partiram os men­sageiros e levaram esta notícia aos habitantes de Jabés, que se enche­ram de alegria. 10E disseram: «Amanhã sairemos até vós e fareis de nós o que vos aprouver.» 11No dia seguinte, Saul dividiu o seu exército em três corpos; penetraram ao raiar do dia no acampamento inimigo e feriram os amonitas até à hora da força do ca­lor. Os que escaparam dispersa­ram-se, de tal modo que não ficaram dois deles juntos. 12O povo disse, então, a Samuel: «Onde estão os que diziam: ‘Saul não reinará sobre nós?’ Dai-nos esses homens para os matar­mos.» 13Porém, Saul respondeu: «Nin­guém morrerá hoje, por­que é o dia em que o Senhor salvou Israel.»

14Sa­muel disse ao povo: «Va­mos a Guil­gal e renovaremos ali a rea­leza.» 15Par­tiu, pois, todo o povo para Guil­gal e ali proclamaram rei a Saul, na pre­sença do Senhor, e ofereceram na­quele lu­gar sacrifícios de comunhão. E Saul, com todo o povo de Israel, alegrou-se grandemente.

Capítulo 12

Testamento de Samuel (Dt 28, 1-68; Js 23,1-16; 1 Rs 2,1-9) – 1Sa­muel disse a todo o povo de Israel: «Como vistes, escutei-vos em tudo o que me pedistes e dei-vos um rei. 2Aí tendes o rei que vos há-de guiar. Eu estou velho e de cabelos brancos, e os meus filhos estão no meio de vós; guiei-vos desde a minha juventude até este dia. 3Ago­­­ra, aqui me ten­des! Podeis acusar-me na presença do Senhor e do seu ungido; acaso tomei o boi ou o jumento de alguém? Oprimi ou prejudiquei alguém? Re­cebi dádivas de alguém para fechar os olhos à sua conduta? Tudo vos res­tituirei.» 4Eles disseram: «Não nos prejudicaste, nem nos oprimiste, nem rece­beste nada da mão de nin­guém.»

5Samuel replicou: «O Senhor é hoje testemunha contra vós, e o seu un­gido é também testemunha de que vós não encontrastes em mim nada de censurável.» Responderam eles: «Ele é testemunha.» 6E Samuel con­ti­nuou: «É, pois, testemunha o Se­nhor, que escolheu Moisés e a Aarão e ti­rou os nossos pais do Egip­to! 7Apre­sentai-vos. Vou chamar-vos a juízo diante do Senhor, a respeito de todos os benefícios que Ele concedeu a vós e a vossos pais. 8Quan­do Jacob en­trou no Egipto e os vossos pais invo­ca­ram o Senhor, Ele enviou Moisés e Aarão para os fazer sair do Egipto e instalá-los nesta terra. 9Mas eles esqueceram-se do Senhor, seu Deus, e Ele entregou-os ao poder de Sí­sera, chefe do exér­cito de Haçor, ao poder dos filisteus e ao poder do rei de Moab, os quais combateram con­tra eles. 10Depois cla­maram ao Se­nhor, dizendo: ‘Pecá­mos porque aban­donámos o Senhor e servimos os ídolos de Baal e de Astarté; agora, livra-nos das mãos dos nossos ini­mi­gos e nós te serviremos.’ 11Com efeito, o Senhor enviou Jerubaal, Be­dan, Jefté e Samuel para vos salvar do poder dos inimigos que vos cerca­vam, e vivestes em segurança. 12Mas quando vistes Naás, rei dos amoni­tas, marchar con­tra vós, dissestes-me: ‘Não! Um rei nos há-de governar!’ E, todavia, o Senhor, nosso Deus, é que é o vosso rei! 13Aqui tendes, pois, o rei que escolhestes e pedistes; o Se­nhor estabeleceu-o sobre vós. 14Se temer­des o Senhor, servindo-o, obe­de­cendo à sua voz e não vos rebe­lando contra a sua vontade, tanto vós como o rei que vos governa vivereis na pre­sença do Senhor, vosso Deus! 15Mas, se não ouvirdes a voz do Senhor e vos revoltardes contra as suas ordens, a mão do Senhor pesará sobre vós, como fez com os vossos pais. 16Agora ficai aqui um pouco e vereis o pro­dí­gio que o Senhor vai realizar diante dos vossos olhos. 17Não é agora o tem­po da ceifa dos trigais? Vou invo­car o Senhor e Ele enviará trovões e chuvas, a fim de que compreen­dais o mal que fizestes aos seus olhos, pe­dindo um rei.»

18Samuel clamou ao Senhor e o Senhor mandou, na­quele mesmo dia, trovões e chuva. Todo o povo sentiu grande temor perante o Senhor e pe­rante Samuel. 19Disse­ram todos a Samuel: «Roga pelos teus servos ao Senhor, teu Deus, para que não mor­ramos, por­que a todos os nossos peca­dos acres­centámos a maldade de pe­dir um rei.» 20Samuel respondeu ao povo: «Não temais. É certo que pro­cedes­tes mal; mas não vos afasteis do Senhor, servi antes o Senhor de todo o vosso coração; 21nem vos lanceis atrás de ídolos vãos, que não vos sal­vam nem socorrem, pois não são nada. 22O Se­nhor, por amor do seu grande nome, não vos abandonará, pois quis fazer de vós o seu povo. 23Por minha parte, longe de mim pecar contra o Se­nhor, deixando de interceder por vós. Eu vos mostrarei sempre o caminho bom e recto. 24Só ao Senhor teme­reis e servireis com fidelidade e com todo o vosso cora­ção, pois vistes as mara­vilhas que Ele fez convosco. 25Se, porém, vos obstinardes no mal, pere­cereis, vós e o vosso rei.»

Capítulo 13

Guerra contra os filisteus (14,1-16) – 1Saul era de meia-idade quando começou a reinar; e reinou cerca de vinte anos em Is­rael. 2Saul escolheu para si três mil ho­mens de Israel: dois mil para fica­rem com ele em Micmás e no monte Betel, e mil, com Jónatas, em Gui­beá, no ter­ritório de Benjamim. E despediu o resto do povo, cada um para sua casa.

3Jónatas derrotou a guarnição dos filisteus de Gueba. Souberam-no os filisteus. E Saul mandou tocar a trom­beta por toda a terra de Is­rael, dizendo: «Que o saibam os hebreus!» 4Todo o Israel ouviu esta notícia: «Saul destroçou toda a guar­nição dos filisteus e Israel atraiu sobre si o ódio deles.» E o povo congregou-se à volta de Saul em Guilgal.

5Juntaram-se os filisteus para com­­bater Israel, com trinta mil car­ros, seis mil cavaleiros e uma multi­dão tão numerosa como as areias da praia do mar. Partiram e acampa­ram em Micmás, a oriente de Bet-Aven. 6Ao sentirem-se cercados, os israelitas, vendo o perigo em que se achavam, ocultaram-se nas cavernas, nos buracos, nos rochedos, nas gru­tas e nas cisternas. 7Vários de­les atravessaram o Jordão e foram para a terra de Gad em Guilead.


Ruptura entre Samuel e Saul (15, 22-28; 28,16-20; Act 13,22) – Saul, entre­tanto, estava ainda em Guilgal com todo o seu povo, que tremia de medo. 8Es­perou sete dias, segundo a or­dem de Samuel. Mas este não che­gava a Guil­gal, e o povo, pouco a pouco, ia-se afas­tando. 9Disse, pois, Saul: «Trazei-me o holocausto e os sacrifícios de comunhão.» E ele mes­mo ofereceu o holocausto.

10Tendo acabado de o oferecer, eis que chegou Samuel. Saul saiu-lhe ao encontro para o saudar. 11Disse-lhe Samuel: «Que fizeste?» Respon­deu Saul: «Vendo que o povo se disper­sava e que tu não chegavas no tempo fixado, e que os filisteus se tinham reunido em Micmás, 12disse para comigo: ‘Agora os filisteus vão cair sobre mim em Guilgal, antes de eu aplacar o Senhor. Por isso, eu pró­prio me decidi a oferecer o holo­causto.’»

13Samuel replicou-lhe: «Procedeste insensatamente, não observando o mandamento que te deu o Senhor, teu Deus. Ele teria assegurado para sempre o teu rei­nado sobre Israel. 14Agora, o teu reinado não subsis­tirá. O Senhor escolheu para si um homem segundo o seu coração e fará dele chefe do seu povo, porque não observaste as suas ordens.» 15E Sa­muel retirou-se, subindo de Guil­gal a Guibeá de Benjamim. E Saul, pas­sando revista aos homens que esta­vam com ele, achou que havia cerca de seiscentos homens. 16Saul, Jónatas, seu filho, e a tropa que tinha ficado com eles acamparam em Guibeá de Benja­mim, enquanto os filisteus acam­param em Micmás. 17Três des­ta­camentos saíram do acampa­mento dos filisteus para a pilhagem: um to­mou o caminho de Ofra, no ter­ri­tório de Chual; 18outro avançou pelo caminho de Bet-Horon, e o terceiro dirigiu-se para a fronteira que do­mina o vale de Seboim, do lado do deserto.

19Ora, em toda a terra de Is­rael não se encontrava um fer­reiro, porque os filisteus tinham dito: «Os hebreus não hão-de fa­bri­car espadas nem lan­ças.» 20Por isso, todos os israelitas tinham que acu­dir aos filisteus para afiar a relha do arado, o enxadão, o machado ou a foice. 21O preço por afiar as relhas do arado e as enxa­das era de dois terços de siclo, e um terço de siclo para afiar os macha­dos e os agui­lhões. 22E, chegando o dia do com­bate, não se encontrou nem es­pada, nem lança nas mãos dos ho­mens que acompanhavam Saul e Jónatas. Ape­nas Saul e seu filho Jó­na­­tas esta­vam munidos dessas ar­mas. 23Um grupo de filisteus avançou para além do desfiladeiro de Micmás.

Capítulo 14

Façanhas de Jónatas1Acon­­­­teceu que, um dia, Jóna­­tas, filho de Saul, disse ao seu escu­deiro: «Vem, vamos até ao acam­pa­mento dos filisteus que está do outro lado.» Mas nada disse a seu pai. 2Saul estava acampado na extre­midade de Guibeá, debaixo da romãzeira de Mi­gron, com uma tro­pa de uns seis­cen­tos homens. 3Aías estava revestido com a insígnia votiva. Era filho de Ai­tub, irmão de Icabod, filho de Fineias, filho de Eli, o sacerdote do Senhor em Silo. O povo ignorava a saída de Jónatas. 4No desfiladeiro que Jóna­tas ten­tava atravessar para atingir a guar­nição dos filisteus, havia altos ro­chedos denteados, de um e de outro lado, um dos quais se chamava Bo­cés e o outro Sene. 5Um destes elevava-se em frente de Micmás, pela parte norte, e o outro, ao sul, do lado de Guibeá. 6Disse, pois, Jónatas ao escu­deiro: «Ataquemos a guarnição desses incircuncisos; talvez o Senhor com­bata por nós. Na verdade, Ele tanto pode dar a vitória com poucos como com muitos.» 7O escudeiro respon­deu: «Faz o que te aprouver, que eu te seguirei por toda a parte.» 8Disse-lhe Jónatas: «Marchemos en­tão con­tra esses homens, deixando-nos ver. 9Se nos disserem: ‘Esperai até que nos aproximemos de vós’, ficaremos no nosso posto e não avançaremos. 10Se, porém, nos disserem: ‘Subi até nós’, avançaremos, porque este será o sinal de que o Senhor os entregou nas nossas mãos. Isto nos servirá de sinal.» 11Logo que foram descober­tos pela guarnição dos filisteus, estes dis­se­ram: «Eis os hebreus que saem das cavernas onde se tinham escon­dido.» 12E os homens da guarda gritaram a Jónatas e ao escudeiro: «Vinde até nós, pois queremos mos­trar-vos uma coisa.» Jónatas disse ao escudeiro: «Vem comigo, porque o Senhor os entregará nas mãos de Israel.» 13Su­biu, pois, Jónatas, tre­pando com as mãos e os pés, seguido do escudeiro. Os filisteus caíam diante de Jóna­tas, e o escudeiro aca­bava de os matar atrás dele. 14Este primeiro massacre que fez Jónatas e o escudeiro foi de uns vinte ho­mens, no espaço de meia jeira de terra.

15Espalhou-se o pânico no acam­pamento, no campo e entre todo o povo. A guarnição e o corpo de cho­que ficaram aterrorizados; a terra tre­meu e originou-se um temor imenso. 16En­tretanto, as sentinelas de Saul que estavam em Guibeá de Benjamim viram a multidão de fugitivos que se dispersavam por todos os lados.

17Saul disse aos que estavam com ele: «Fazei a chamada e vede quem saiu do nosso acampamento.» Fez-se a chamada e verificou-se a falta de Jónatas e do escu­deiro. 18Saul disse a Aías: «Traz a insígnia votiva e a Arca de Deus.» Com efeito, nesse dia a Arca de Deus es­tava entre os israelitas. 19Enquanto Saul falava ao sacerdote, o tumulto no acampa­mento dos filisteus au­men­­tava cada vez mais. Saul disse ao sacerdote: «Retira a tua mão.» 20Saul e todo o povo que estava com ele foram até ao lugar do combate. Os filisteus, numa extrema confu­são, voltavam a espada uns contra os outros. 2l Além disso, os hebreus que tinham ser­vido os filisteus e tinham subido com eles ao acampamento, voltaram e puse­ram-se ao lado dos israelitas que esta­vam com Saul e Jónatas. 22Igual­mente todos os israelitas que se tinham escondido na montanha de Efraim, sabendo que os filisteus tinham fu­gido, saí­ram a persegui-los. 23Na­quele dia, o Senhor deu a vitória a Israel e o combate prosseguiu até Bet-Aven.


Juramento de Saul24Os israe­litas estavam extenuados, porque Saul obrigara o povo com jura­mento, dizendo: «Maldito seja o homem que tomar alimento antes do anoitecer, antes que eu me tenha vingado dos meus inimigos.» Por isso, nin­guém do povo comeu nada. 25Toda aquela multidão de gente tinha entrado na floresta; à superfície do solo, havia mel. 26O povo entrou, pois, na flo­resta e eis que o mel corria. Mas ninguém ousou levá-lo com a mão à boca, para não violar o juramento. 27Jónatas, po­rém, ignorava o juramento com que o pai obrigara o povo; estendeu a ponta do bastão que tinha na mão, molhou-a num favo de mel e levou-a à boca. Então recuperou o vigor dos olhos. 28Um homem do povo disse-lhe: «Teu pai fez jurar o povo, di­zendo: ‘Maldito o homem que hoje provar alimento.’» 29Jónatas respon­deu: «Meu pai fez mal à nossa terra. Vós mesmos vis­tes como se me ilu­minaram os olhos, porque comi um pouco deste mel. 30E se o povo ti­vesse hoje comido da presa tomada ao inimigo, não teria sido muito maior a derrota dos filisteus?»

31Naquele dia, foram derrotados os filisteus, desde Micmás até Aia­lon. O povo, exausto de fadiga, 32lançou-se ao saque e tomou as ovelhas, os bois e os bezerros, que degolaram sobre a terra, comendo a carne jun­tamente com o sangue. 33E avisa­ram Saul: «O povo está a pecar contra o Senhor, comendo carne com sangue.»

Disse-lhes Saul: «Isso é uma impie­­dade; trazei-me depressa uma grande pedra.» 34E acrescentou: «Ide por todo o povo e dizei-lhe que me traga cada um a sua ovelha ou o seu boi. Serão degolados e comidos aqui; mas não pequem contra o Senhor, co­mendo carne com sangue.» Cada um deles trouxe, pela sua mão, naquela noite, o gado, e ali o sacrificaram. 35Saul edificou naquele sítio um altar ao Senhor. Este foi o primeiro altar que erigiu ao Senhor.

36Saul disse: «Lancemo-nos esta noite sobre os filisteus e destruamo-los até aos primeiros alvores do dia e não deixemos vivo nem um só ho­mem.» O povo disse: «Faz tudo o que melhor te parecer.» Mas o sa­cer­dote disse: «Aproximemo-nos, aqui, de Deus.» 37E Saul consultou o Senhor, dizendo: «Perseguirei os filisteus? Irás entregá-los nas mãos de Israel?» Mas Deus não lhe res­pon­deu desta vez.

38Saul disse: «Fazei vir aqui todos os principais de entre o povo; investi­gai e dizei-me qual é o pecado que hoje se cometeu. 39Pela vida do Se­nhor, que é o libertador de Israel, nem que seja meu filho Jónatas, ele morrerá!» Ninguém na multidão lhe respondeu. 40E disse a todo o Israel: «Ponde-vos de um lado, eu e o meu filho Jónatas estaremos do outro.» A multidão respondeu-lhe: «Faz o que te parecer melhor.» 41Saul disse ao Senhor, Deus de Is­rael: «Dá-nos a conhecer a verdade!» Jónatas e Saul foram designados pe­las sortes, e o povo ficou livre. 42En­tão, Saul disse: «Lançai as sor­tes sobre mim e sobre meu filho Jóna­tas.» E caiu a sorte sobre Jónatas. 43Disse, pois, Saul a Jónatas: «Con­fessa-me o que fi­zeste.»

Jónatas con­tou-lhe: «Provei um pouco de mel com a pon­ta da vara que tinha na mão. E aqui me tens pronto a morrer!» 44Saul disse: «Castigue-me Deus com todo o rigor da sua jus­tiça, se tu não morreres, Jónatas!» 45Mas o povo disse a Saul: «Como havia de perecer Jóna­tas, ele que acaba de dar a vitória a Israel? Isto não pode ser! Viva o Senhor! Nem um só ca­belo da sua cabeça cairá por terra, pois foi por beneplácito de Deus que ele agiu hoje desta forma.» Assim o povo sal­vou Jónatas da morte. 46Saul retirou-se, deixando de perseguir os filisteus, que voltaram para as suas terras.

47Saul assegurou a monarquia em Israel e combateu contra todos os ini­­migos: moabitas, amonitas, edo­mi­­tas, os reis de Soba e os filisteus. E, para onde quer que levasse as suas armas, voltava vencedor. 48Por­tou-se valo­ro­­sa­mente, feriu os ama­lecitas e liber­tou Israel das mãos dos que o assal­tavam. 49Os filhos de Saul foram Jónatas, Jisvi e Mal­quichua; a pri­mo­génita das suas fi­lhas chamava-se Merab e a mais nova, Mical. 50A mulher de Saul cha­­mava-se Aínoam, filha de Aimaás. O chefe do seu exér­cito chamava-se Abner, filho de Ner, tio de Saul, 51porque Quis, pai de Saul, e Ner, pai de Abner, eram fi­lhos de Abiel. 52Durante todo o tempo da vida de Saul, a guerra foi encarni­çada contra os filisteus. Sem­pre que Saul descobria um homem valente e aguer­­rido, levava-o consigo.

Capítulo 15

Campanha contra os ama­le­citas (Ex 17,8-16; Dt 25,17-19) – 1Samuel disse a Saul: «O Se­nhor enviou-me para que te ungisse rei do seu povo de Israel. Ouve, pois, as palavras do Senhor. 2Isto diz o Se­nhor do universo: ‘Vou pedir contas a Amalec do que ele fez a Israel, opondo-se-lhe no caminho, quando subia do Egipto. 3Vai, pois, agora, ferir Amalec. Votarás ao extermínio tudo o que lhe pertence, sem nada poupar. Matarás tudo, homens e mu­lheres, crianças e meninos de peito, bois e ovelhas, camelos e asnos.’»

4Saul comunicou isto ao povo e passou-lhe revista em Telaim. Ha­via duzentos mil peões e dez mil homens de Judá. 5Saul avançou até à cidade de Amalec e pôs embos­cadas na torrente. 6Disse aos que­nitas: «Retirai-vos, separai-vos dos amalecitas, não suceda que eu vos destrua juntamente com eles, pois tratastes bem os filhos de Israel quan­do subiam do Egipto.» E os quenitas separaram-se dos amale­ci­tas. 7E Saul foi destroçando os ama­­lecitas desde Havilá até à entrada de Chur, que está na fronteira do Egipto. 8To­mou vivo Agag, rei dos amalecitas, e votou ao anátema todo o povo, pas­sando-o ao fio da espada. 9Mas Saul e os seus homens poupa­ram Agag, assim como o melhor dos rebanhos de ovelhas e de vacas, os animais ceva­dos, os cordeiros e tudo o que havia de melhor. Nada disto quise­ram votar ao anátema. Só des­truí­ram o que era de má qualidade e sem valor.


Saul reprovado por Deus10O Se­­nhor disse a Samuel: 11«Arrependo-me de ter feito rei a Saul, porque me voltou as costas e não executou as minhas ordens.» Samuel entriste­ceu-se e clamou ao Senhor du­rante toda a noite. 12Na manhã seguinte, indo ao encontro de Saul, foi avi­sado de que este tinha ido a Carmel e eri­gido ali um monumento, reto­mando em seguida o seu caminho para Guil­­gal. 13Samuel foi ter com ele e Saul disse-lhe: «O Senhor te abençoe! Cum­­­­pri a sua ordem.» 14Sa­muel re­pli­cou-lhe: «Mas que balidos de ove­lhas são esses que ressoam aos meus ou­vidos e esses mugidos de gado que ouço?» 15Res­pondeu Saul: «É a presa tomada aos amale­citas, pois o povo poupou o melhor das ovelhas e dos bois, para os sacri­fi­car ao Se­nhor, teu Deus; destruímos o resto.» 16Samuel disse-lhe: «Cala-te! Vou di­zer-te o que o Senhor me disse esta noite.» Saul respondeu: «Fala.» 17Samuel disse: «Apesar de te considerares pequeno, acaso não te tornaste chefe das tri­bos de Israel, e não te ungiu o Se­nhor rei de Israel? 18O Senhor en­viou-te a essa expedição, dizendo: ‘Passa ao fio de espada esses ama­lecitas peca­do­res e combate contra eles até ao completo extermínio.’ 19Porque não ouviste a sua voz e te lançaste sobre os despojos, fazendo o que desa­grada ao Se­nhor?» 20Res­pondeu Saul a Sa­muel: «Eu obedeci à voz do Senhor, fui pelo caminho que Ele me traçou, trou­xe Agag, rei dos amalecitas, e exterminei esse povo. 21O povo so­mente tomou dos despojos algumas ovelhas e bois, como primícias do que devia des­truir, para os sacrifi­car ao Senhor, teu Deus, em Guilgal.»

22Samuel replicou-lhe, então:

«Porventura, o Senhor se com­praz tanto nos holocaustos e sacri­fícios
como na obediência à sua pala­vra?
A obediência vale mais do que os sacrifícios,
e a submissão, mais do que a gor­dura dos carneiros.
23 A desobediência é tão culpável como a superstição,
e a insubmissão é como o pecado da idolatria.
Visto, pois, que rejeitaste a pala­vra do Senhor,
também Ele te rejeita e te tira a rea­leza!»

24Saul disse: «Pequei; trans­gredi a ordem do Senhor e as tuas ins­truções, pois tive medo do povo e con­­descendi. 25Agora, peço-te, perdoa o meu pecado e vem comigo, para que eu adore o Senhor.» 26Respon­deu Sa­­muel: «Não irei contigo, por­que rejei­­taste a palavra do Senhor; por isso, o Senhor te rejeita e não quer mais que sejas rei em Israel.»

27Samuel virou as costas para se reti­rar, mas Saul agarrou-o pela ponta do manto, o qual se rasgou. 28Sa­muel disse-lhe: «Deste modo, o Se­nhor arrancou hoje de ti o trono de Israel, a fim de o dar a outro me­lhor do que tu. 29O Es­plendor de Israel não mente nem se arrepende, pois não é um homem para se arre­pender.» 30Saul respon­deu: «Pequei. Mas rogo-te que me hon­­res agora na presença dos an­ciãos do meu povo e diante de Israel. Vem comigo adorar o Senhor, teu Deus!» 31Samuel foi, pois, com Saul, e este adorou o Senhor.

32Disse, então, Samuel: «Trazei-me Agag, rei dos amalecitas.» Agag aproximou-se acorrentado, pensando: «Já passou o perigo de morte!» 33Disse-lhe Samuel: «Assim como a tua es­pa­da privou tantas mães dos seus fi­lhos, assim agora a tua mãe será uma mu­lher sem filhos.» E Samuel executou Agag diante do Senhor, em Guilgal.

34Depois disto, Samuel retirou-se para Ramá, e Saul foi para a sua casa, em Guibeá de Saul. 35O profeta não tornou a ver Saul até ao dia da sua morte. Samuel afligia-se por causa de Saul, porque o Senhor se arre­pen­dera de o ter feito rei de Israel.

Capítulo 16

III. Subida de David ao trono (1 Sm 16,1-2 Sm 5,25)
Unção de David (2 Sm 2,1-7) – 1O Senhor disse a Samuel: «Até quando chorarás Saul, tendo-o Eu rejeitado para que não reine em Israel? Enche o teu chifre de óleo e vai. Quero enviar-te a Jessé de Be­lém, pois escolhi um rei entre os seus fi­lhos.» Samuel respondeu: «Como hei-de ir? Se Saul souber, irá tirar-me a vida.» 2O Senhor disse: «Levarás contigo um novilho e dirás que vais oferecer um sacrifício ao Senhor. 3Convi­da­rás Jessé para o sacrifício e Eu te reve­la­rei o que deverás fa­zer. Darás por mim a un­ção àquele que Eu te indi­car.» 4Fez Samuel como o Senhor ordenara.

Ao chegar a Belém, os anciãos da cidade saíram-lhe ao encontro, in­quie­­­tos, e disseram: «É de paz a tua vinda?» 5Ele respondeu: «Sim. Venho oferecer um sacrifício ao Senhor; purificai-vos e acompanhai-me para o sacrifício.» Ele mesmo purificou Jessé e os filhos e convidou-os para o sacrifício. 6Logo que entraram, Samuel viu Eliab e pensou consigo: «Certamente é este o ungido do Se­nhor.» 7Mas o Senhor disse a Sa­muel: «Que te não impressione o seu belo aspecto, nem a sua alta esta­tura, pois Eu rejeitei-o. O que o homem vê não importa; o homem vê as apa­rên­cias, mas o Senhor olha o cora­ção.» 8Jessé chamou Abinadab e apresen­tou-o a Samuel, que disse: «Não é este o que o Senhor esco­lheu.» 9Jessé trouxe-lhe, também, Cha­má. E Sa­muel disse: «Ainda não é este o que o Senhor escolheu.»

10Jessé apre­sentou-lhe, assim, os seus sete filhos, mas Samuel disse: «O Senhor não escolheu nenhum deles.» 11E acres­centou: «Estão aqui todos os teus fi­lhos?» Jessé respondeu: «Resta ainda o mais novo, que anda a apas­centar as ovelhas.» Sa­muel ordenou a Jessé: «Manda bus­cá-lo, pois não nos sen­taremos à mesa antes de ele ter che­gado.» 12Jessé mandou então buscá-lo. David era louro, de belos olhos e de aparência formosa. O Se­nhor disse: «Ei-lo, unge-o: é esse.» 13Sa­muel to­mou o chifre de óleo e ungiu-o na pre­sença dos seus irmãos. E, a par­tir daquele dia, o espírito do Senhor apoderou-se de David. E Sa­muel vol­tou para Ramá.


David ao serviço de Saul (18,6-16; 19,8-19) – 14O espírito do Senhor retirou-se de Saul, que era atormen­tado por um espírito maligno enviado pelo Senhor. 15Os criados de Saul disseram-lhe: «Eis que um espírito mau te atormenta. 16Se tu, nosso amo, deres ordens, os teus servos, aqui presentes, procurarão um ho­mem que saiba tocar harpa, para que, quando o mau espírito dominar sobre ti, ele a toque, a fim de te acal­mar.» 17Respondeu Saul: «Está bem, procurai-me um bom músico e trazei-mo.» 18Um dos servos disse-lhe: «Co­nheço um filho de Jessé de Belém que sabe tocar muito bem harpa; é valente e corajoso, fala bem, tem belo rosto e o Senhor está com ele.»

19Saul mandou mensageiros a Jessé, dizendo: «Manda-me o teu fi­lho Da­vid, o pastor.» 20Jessé tomou um ju­mento carregado com pão, um odre de vi­nho e um cabrito e enviou esses presentes a Saul, por meio de seu filho. 21David chegou à casa do rei e fez a sua apresentação. Saul afei­çoou-se a ele e fê-lo seu escudeiro. 22E mandou dizer a Jessé: «Rogo-te que dei­xes David comigo, pois ga­nhou a mi­nha estima.» 23E sempre que o mau espírito atormentava Saul, Da­vid tomava a harpa e tocava. Saul acalmava-se, sentia-se aliviado e o espí­rito mau deixava-o.

Capítulo 17

David e Golias (2 Sm 21,15-19) – 1Os filisteus mobiliza­ram as suas tropas para a guerra. Junta­ram-se em Socó de Judá e acamparam entre Socó e Azeca, em Efés-Damim. 2Saul e os filhos de Israel mobiliza­ram as suas tropas e acamparam no vale do Terebinto, colocando-se em linha de combate contra os filisteus. 3Estes estavam num lado da mon­ta­nha, e Israel, na colina que lhe ficava em frente, se­parados pelo vale.

4Saiu do acampamento dos filis­teus um guerreiro chamado Golias, de Gat, cuja esta­tura era de seis côva­dos e um palmo. 5Cobria-lhe a ca­beça um capacete de bronze, e o corpo, uma couraça de escamas, cujo peso era de cinco mil siclos de bronze. 6Tinha perneiras de bronze, e um escudo de bronze defendia os seus ombros. 7O cabo da lança era como um cilindro de tear, e a ponta pesava seiscentos siclos de ferro. Precedia-o um escu­deiro. 8Apre­sentou-se diante dos fi­lhos de Israel e gritou-lhes: «Porque é que vos colocastes em ordem de bata­lha? Não sou eu filisteu, e vós servos de Saul? Escolhei entre vós um homem que combata comigo, em duelo. 9Se me vencer e me matar, seremos vossos escravos; mas se eu o vencer e o matar, então vós sereis nossos escravos e servir-nos-eis.» 10E acrescentou: «Lanço hoje este desa­fio ao exército de Israel: dai-me um homem para lutarmos juntos.» 11Saul e todo o Israel ouviram estas pala­vras do filisteu e ficaram assom­bra­dos e cheios de medo.


David mata Golias12David era um dos oito filhos de um homem de Efraim, de Belém de Judá, chamado Jessé. Tinha oito filhos e era já ido­so nos tempos de Saul, a quem tinha fornecido homens. 13Os três filhos mais velhos tinham seguido Saul na guerra. O primogénito chamava-se Eliab, o segundo Abinadab e o ter­ceiro Chamá. 14David era o mais novo. Tendo os três mais velhos seguido Saul, 15David ia e vinha da corte de Saul, e voltava para apascentar o rebanho de seu pai, em Belém.

16O filisteu apresentava-se pela manhã e pela tarde, e isto durante quarenta dias. 17Um dia, Jessé disse ao seu filho David: «Toma para os teus irmãos um efá de grão torrado e estes dez pães e leva-os sem de­mora ao acampamento. 18Entrega estes dez queijos ao comandante e pergunta se os teus irmãos vão bem ou se têm necessidade de alguma coi­sa.» 19Eles estavam com Saul, jun­tamente com todos os homens de Is­rael, no vale do Terebinto, em guerra com os filisteus.

20Na manhã do dia seguinte, Da­vid, confiando o rebanho a um pas­tor, pôs ao ombro os alforges e partiu, como lhe ordenara Jessé. Chegou ao acampamento no momento em que o exército, saindo para a batalha, le­vantava o grito de guerra. 21Israel e os filisteus puseram-se em linha de combate, esquadrão contra esqua­drão. 22David entregou a sua carga ao guarda das bagagens e correu às fileiras, para se informar dos seus irmãos.

23Enquanto lhes falava, eis que o guerreiro filisteu Golias, de Gat, avan­çou das fileiras do seu exército, pro­ferindo os mesmos insultos que nos dias precedentes. E David ouviu-os. 24Todo o Israel, à vista de Golias, fu­giu, tremendo de medo. 25E diziam: «Vedes esse homem que avan­ça? Ele vem insultar Israel. O rei cumulará de grandes riquezas aque­le que o matar, dar-lhe-á a sua filha e há-de isentar de impostos, em Israel, a casa de seu pai.» 26David perguntou aos que esta­vam junto dele: «Que darão àquele que matar esse filisteu e de­fender a honra de Israel? E quem é este filisteu incircunciso para insul­tar deste modo o exército do Deus vivo?» 27E deram-lhe a mesma res­posta: «Dar-se-á isto e aquilo a quem o matar.» 28Eliab, seu irmão mais velho, ou­vindo-o falar com os ho­mens, indignou-se contra David e disse: «Por­que vieste aqui? A quem deixaste o rebanho no deserto? Conheço as tuas pretensões e a maldade do teu cora­ção, pois vieste para ver a ba­ta­lha!» 29Respondeu-lhe David: «Que fiz eu de mal? Apenas fiz uma simples per­gunta.» 30E afastou-se do ir­mão, indo fazer a mesma pergunta a outros, dos quais obteve sempre a mesma res­posta.

31As palavras de David foram ou­vi­das e comunicadas a Saul, que o mandou chamar à sua presença. 32Da­­vid disse-lhe: «Ninguém desa­nime por causa desse filisteu! O teu servo irá combatê-lo.» 33Disse-lhe Saul: «Não poderás ir lutar contra esse fi­listeu. Não passas de uma crian­ça, e ele é um homem de guerra desde a sua mocidade.» 34David respondeu: «Quando o teu servo apascentava as ovelhas do seu pai e vinha um leão ou um urso roubar uma ovelha do rebanho, 35eu perse­guia-o e matava-o, arrancando-lhe a ovelha da boca. E, se ele se levan­tava contra mim, agarrava-o pela goela e estrangulava-o. 36Assim como o teu servo matou o leão e o urso, assim fará também a este filisteu incircunciso, que insul­tou o exército do Deus vivo.» 37E acres­centou: «O Senhor, que me livrou das garras do leão e do urso, há-de salvar-me igualmente das mãos desse filisteu.» Disse-lhe o rei: «Vai, e que o Senhor esteja contigo.»

38O rei revestiu David com a sua arma­dura, pôs-lhe na cabeça um capa­­cete de bronze e armou-o de uma cou­raça. 39Cingiu-o com a sua espada sobre a armadura. David tentou ver se podia andar com aquelas armas, às quais não es­tava habituado, e disse a Saul: «Não posso caminhar com esta armadura, pois não estou habi­tuado!» 40E tirou a armadura. Tomou o seu cajado e escolheu no regato cinco pedras lisas, pondo-as no al­forge de pastor que lhe servia de bolsa. Depois, com a funda na mão, avançou contra o fi­listeu. 41Este, pre­cedido do escudeiro, aproximou-se de David, 42mediu-o com os olhos e, vendo que era jovem, louro e de as­pecto delicado, desprezou-o. 43Disse-lhe: «Sou eu, porventura, um cão, para vires contra mim de pau na mão?» E amaldiçoou Da­vid em nome dos seus deuses. 44E acrescentou: «Vem, que eu darei a tua carne às aves do céu e aos animais da terra!»

45David respondeu: «Tu vens para mim de espada, lança e escudo; eu, porém, vou a ti em no­me do Senhor do universo, do Deus dos esqua­drões de Israel, a quem tu desafiaste. 46O Senhor vai entregar-te hoje nas mi­nhas mãos e eu vou matar-te, cortar-te a cabeça e dar os cadáveres do campo dos filisteus às aves do céu e aos animais da terra, para que todo o mundo saiba que há um Deus em Is­rael. 47E toda essa multidão de gente saberá que não é com a es­pada nem com a lança que o Senhor triun­fa, porque Ele é o árbitro da guerra e Ele vos entregará nas nos­sas mãos!»

48Levantou-se o filisteu e avan­çou contra David. Este também correu para as linhas inimigas ao en­contro do filisteu. 49Meteu a mão no al­for­ge, tomou uma pedra e arre­messou-a com a funda, ferindo o fi­listeu na fronte. A pedra pene­trou-lhe na ca­beça, e o gigante tombou com o rosto por terra.

50Assim venceu David o filisteu, fe­rindo-o de morte com uma funda e uma pedra. E, como não ti­nha es­pada na mão, 51David correu para o filis­teu e, quando já estava junto dele, arrancou-lhe a espada da bainha e acabou de o matar, cor­tando-lhe a ca­beça. Vendo morto o seu guerreiro mais valente, os filisteus fugiram.

52Os homens de Israel e de Judá levantaram-se então, soltando gri­tos de guerra, e perseguiram os fi­lis­teus até à entrada do vale e às portas de Ecron. E caíram feridos mui­tos filis­teus, cujos cadáveres jun­cavam o ca­minho desde Chaaraim até Gat e Ecron. 53Voltando da per­seguição, os filhos de Israel saquearam o acam­pamento dos inimigos. 54David to­mou a cabeça do filisteu e levou-a para Jerusalém. Mas as suas armas guardou-as na sua pró­pria tenda.

55Quando Saul viu David partir ao encontro do filisteu, disse a Abner, seu general: «De quem é filho esse jovem, Abner?» Respondeu-lhe Abner: «Pela tua vida, ó rei, não sei.» 56O rei disse-lhe: «Informa-te, pois, de quem é filho.» 57E quando David voltou da vitória sobre o filisteu, tendo ainda na mão a cabeça de Golias, Abner levou-o à presença de Saul. 58Saul perguntou-lhe: «Quem é o teu pai?» Respondeu-lhe David: «Eu sou filho de Jessé de Belém, teu servo.»

Capítulo 18

Amizade entre David e Jó­na­tas (19-20) – 1Quando David acabou de falar com Saul, o coração de Jónatas ficou estreitamente unido ao de David, e Jónatas começou a amá-lo como a si mesmo. 2Desde aque­le dia, Saul recebeu-o em sua casa e não permitiu que vol­tasse para casa de seu pai.

3David e Jónatas estabeleceram um pacto, pois este amava David como a si mesmo. 4Por isso, Jónatas tirou o manto que levava vestido e deu-o a David, bem como a sua ar­ma­dura, a sua espada, o seu arco e o seu cinturão. 5De todas as mis­sões de que Saul o encarregava, David saía vitorioso. Colocou-o à frente dos seus guerreiros e ele ganhou a simpatia de todo o povo, particularmente dos servos de Saul.


Inimizade de Saul contra David6Ao regressar o exército, depois de David ter morto o filisteu, de todas as cidades de Israel as mu­lheres saí­ram ao encontro de Saul, cantando e dançando alegremente, ao som de tambores e címbalos. 7E, à medida que dançavam, cantavam em coro: «Saul matou mil, mas Da­vid matou dez mil.» 8Saul irritou-se em extremo e ficou sumamente desgostoso por isso. E disse: «Dão dez mil a David e a mim apenas mil! Só lhe falta a coroa!» 9A partir daquele dia, não voltou a olhar para David com bons olhos. 10No dia seguinte, apo­de­rou-se de Saul um espírito maligno en­viado por permissão de Deus, e teve um acesso de loucura em sua casa. Como noutras oca­siões, David pôs-se a tocar o seu instrumento. Saul, segurando uma lança na mão, 11ar­re­messou-a contra David, pen­sando: «Vou cravar David à parede!» Mas David desviou-se por duas vezes.

12Saul temia David, porque o Se­nhor estava com David e se tinha afas­tado dele pró­prio. 13Saul afas­tou-o, então, de si, estabelecendo-o chefe de mil homens. À frente de­les mar­chava David, 14sempre bem suce­dido em tudo o que fazia, por­que o Se­nhor estava com ele. 15Saul, vendo-o tão engenhoso, teve receio dele. 16Mas todos em Israel e Judá o ama­vam, porque David ia à frente deles em todas as expedições que se fa­ziam.


Casamento de David (2 Sm 3,13-16) – 17Saul disse a David: «Eis Merab, a minha filha mais velha, que eu te da­rei por mulher, contanto que se­jas valoroso e combatas nas guerras do Senhor.» Saul pensava: «Não é bom que por minha mão o mate, seja an­tes a mão dos filisteus a fazê-lo.» 18Da­vid respondeu a Saul: «Quem sou eu? E que é a minha li­nhagem, a família de meu pai em Israel, para que me torne genro do rei?» 19E tendo chegado o tempo em que Merab, fi­lha de Saul, devia ser dada a David, deram-na a Adriel, que era de Meolá.

20Mas Mical, outra filha de Saul, amava David. E contaram-no a Saul, que se alegrou com isso. 21«Vou dar-lhe Mical – pensava Saul – para que seja para ele uma armadilha e ele caia nas mãos dos filisteus.» Saul disse, pois, a David pela segunda vez: «Agora vais tornar-te meu genro.» 22E ordenou aos seus servos: «Dizei em se­gredo a David: Vê, o rei estima-te, e todos os seus servidores tam­bém.» 23Os servos de Saul repetiram essas palavras aos ouvidos de Da­vid, mas ele respondeu: «Parece-vos fácil ser genro do rei? Eu sou pobre e de condição humilde.» 24Os servos de Saul referiram-lhe as palavras de David. 25Respondeu Saul: «Assim direis a David: ‘O rei só pede como dote os prepúcios de cem filisteus incircuncisos, para se vingar dos seus inimigos.’» O seu desígnio era entre­gar David nas mãos dos filisteus.

26Os servos transmitiram a David esta mensagem. E esta pareceu a David uma exigência razoável para tornar-se genro do rei. Antes que expirasse o prazo fixado, 27Da­vid partiu com os seus homens e ma­tou duzentos filisteus, entre­gando ao rei aquele número de prepúcios, a fim de se tornar seu genro. Saul deu-lhe por mulher sua filha Mical.

28Saul compreendeu, então, que o Senhor estava com David. A sua fi­lha Mical amava-o. 29O temor de Saul perante David aumentou. E de­­tes­tou David durante todo o resto da sua vida. 30Cada vez que os prín­ci­pes dos filisteus saíam para a guer­ra, David era melhor sucedido do que to­dos os homens de Saul, o que tor­nou cada vez mais célebre o seu nome.

Capítulo 19

Intervenção de Jónatas a fa­vor de David (18,1-4) – 1Saul falou ao seu filho Jónatas e a todos os seus servos da sua intenção de matar David. Mas Jónatas, filho de Saul, amava cordialmente David 2e preveniu-o, dizendo: «Saul, meu pai, quer matar-te. Procura fugir ama­nhã de manhã; foge para um lugar oculto e esconde-te. 3Sairei em com­pa­nhia de meu pai, até ao lugar onde tu te encontrares; falarei com ele a teu respeito, para ver o que ele pensa, e depois avisar-te-ei.»

4Jónatas falou bem de David a seu pai e acrescen­tou: «Não faças mal al­gum ao teu servo David, pois ele nunca te fez mal; pelo contrário, pres­tou-te grandes servi­ços. 5Arris­­cou a vida, matando o filisteu, e o Senhor deu, assim, uma grande vitória a Is­rael. Foste testemunha e alegraste-te. Por­que queres pecar con­­­tra o san­gue ino­cente, matando David sem mo­tivo?»

6Saul ouviu as palavras de Jóna­tas e fez este jura­mento: «Pela vida do Senhor, David não morrerá!» 7En­tão, Jónatas cha­mou David, contou-lhe tudo isto e apresentou-o nova­mente a Saul. Da­­vid voltou a estar ao seu serviço como antes.


David foge de Saul8Tendo reco­meçado a guerra, David marchou contra os filisteus, combatendo-os e infligindo-lhes pesada derrota. E eles fugiram diante dele. 9Um espírito maligno, por permissão do Senhor, veio novamente sobre Saul. Estava ele sentado em sua casa com a lança na mão e David tocava har­pa. 10Saul intentou cravar David à parede com a lança, mas David des­viou-se e a lança foi cravar-se na pa­rede. David escapou e fugiu naquela mesma noite.

11Saul mandou os seus guardas a casa de David, a fim de o prenderem e as­sassinarem no outro dia pela ma­nhã. Mas Mical, mulher de David, disse-lhe: «Se não fugires esta mesma noite, amanhã serás um homem mor­to.» 12Mical desceu-o pela janela e ele fugiu são e salvo. 13Mical tomou os ídolos fa­mi­liares, meteu-os na cama, colocou-lhes ao redor da cabeça uma pele de cabra e cobriu-os com um manto. 14Saul enviou emissários a prender David, e ela disse-lhes: «Ele está doente.» 15Saul mandou novos emissários com esta ordem: «Trazei-mo na cama e eu mesmo o matarei.» 16Tendo chegado os emissários de Saul, só encontraram na cama os ídolos com uma cobertura de pele de cabra à cabeceira. 17Saul disse a Mi­­cal: «Porque me enganaste assim, deixando fugir o meu inimigo, que se pôs a salvo?» Mical respondeu: «Por­que ele me disse: ‘Deixa-me par­­tir, senão mato-te!’» 18David fugiu, pondo-se a salvo, e foi ocultar-se jun­to de Samuel em Ramá, contando-lhe tudo o que Saul lhe fizera. E ele e Samuel foram viver para Naiot. 19Disseram a Saul: «David está em Naiot, perto de Ramá.»


Saul entre os profetas20Saul mandou homens para prender Da­vid mas, quando viram o grupo dos profetas em êxtase com Samuel à frente, o espírito de Deus veio sobre os enviados de Saul e começaram, também eles, a profetizar. 21Conta­ram isto a Saul, que enviou outros mensageiros, mas também estes se puseram a profetizar. Saul mandou um terceiro grupo, aos quais suce­deu o mesmo.

22Então, foi ele pró­prio a Ramá. Che­gando à grande cisterna que está em Socó, perguntou: «Onde estão Sa­muel e David?» Responde­ram-lhe: «Es­­tão em Naiot, perto de Ramá.» 23Mas, no caminho para Naiot, apoderou-se também dele o espírito de Deus, e foi cantando e pro­fe­ti­zando pelo cami­nho, até chegar a Naiot. 24Despiu tam­bém as suas ves­tes e pôs-se a can­tar com os outros diante de Sa­muel, ficando assim des­pido e prostrado por terra, durante todo o dia e toda a noite. Daí o di­tado: «Também Saul está entre os profetas?»

Capítulo 20

Aliança entre David e Jó­natas (18,1-4; 19; 23,16-18) – 1En­tretanto, David fugiu de Naiot, perto de Ramá, e foi ter com Jónatas, di­zendo-lhe: «Que fiz eu? Que crime cometi e que mal fiz a teu pai, para que ele queira matar-me?» 2Respon­deu-lhe Jónatas: «Não temas, por­que não morrerás! Meu pai não faz coisa alguma, grande ou pequena, sem me dizer. Porque me ocultaria isso? Não é possível!» 3Mas David fez novo juramento: «Teu pai bem sabe que tens simpatia por mim e, por isso, deve ter pensado: ‘Que Jó­natas não o saiba, para que não se entristeça.’ Por Deus e pela tua vida, há apenas um passo entre mim e a morte!»

4Jó­natas respondeu-lhe: «Que que­res que eu faça? Farei por ti tudo o que me disseres.» 5Disse David: «Ama­­nhã é a festa da Lua-nova e eu de­veria jantar, conforme o costume, à mesa do rei. Deixa-me partir para me esconder no campo até à tarde do terceiro dia. 6Se o teu pai notar a minha ausência, dir-lhe-ás: ‘David pediu-me que o deixasse ir a Belém, sua cidade, pois se celebra ali o sa­crifício anual da sua família.’ 7Se ele disser que está bem, nada terei a temer; mas, se ele, pelo contrário, se irritar, fica sabendo que está resol­vido a ir até ao fim. 8Faz, pois, esta mercê ao teu servo, já que fizeste um pacto comigo em nome do Senhor. Se tenho alguma culpa, mata-me tu mesmo e não me faças comparecer diante de teu pai.» 9Jónatas disse-lhe: «Longe de ti tal coisa! Se eu sou­ber que, de facto, meu pai resol­veu matar-te, juro que te avisarei.» 10Disse-lhe David: «Quem me infor­mará se teu pai te der uma resposta áspera?» 11Res­pon­deu Jónatas: «Va­mos para o cam­po.» E foram ambos para o campo.

12Então, Jónatas disse: «Pelo Se­nhor, Deus de Israel! Amanhã, pela terceira vez, vou consultar meu pai. Se tudo for favorável a David e eu não to comunicar, 13então, que o Se­nhor me trate com todo o seu rigor! Mas se persistir a má vontade de meu pai contra ti, avisar-te-ei da mesma forma; poderás, então, partir, e fica­rás tranquilo. Que o Se­nhor esteja contigo como esteve com o meu pai! 14Mais tarde, se eu for ainda vivo, ma­nifestarás em mim a miseri­cór­dia do Senhor. Mas, se eu morrer, 15não re­cu­sarás jamais o favor à minha casa, quando o Senhor exter­minar da face da terra todos os inimigos de David!»

16Foi assim que Jónatas estabele­ceu aliança com a casa de David, di­zendo: «O Senhor peça contas aos ini­migos de David!» 17Jónatas repe­tiu, mais uma vez, o seu juramento a Da­vid em nome da amizade que lhe con­sa­grava, pois o amava de todo o coração.

18E Jónatas acrescentou: «Ama­nhã é a festa da Lua-nova, e não serás encontrado, pois ficará vazio o teu assento. 19Descerás, então, de­pois de amanhã sem falta, ao lugar onde te escondeste no dia do suce­dido, e sentar-te-ás junto da pedra de Ézel. 20Atirarei três flechas para o lado da pedra, como se atirasse a um alvo. 21Depois mandarei o meu servo bus­car as flechas. Se eu lhe disser: ‘Olha! As flechas estão atrás de ti; apanha-as!’ Então poderás vir, porque tudo te é favorável, e nada há a temer, pelo Deus vivo! 22Se, po­rém, eu disser ao criado: ‘Olha! As flechas estão diante de ti, um pouco mais longe!’ Então foge, porque é o Senhor quem te manda fugir. 23Quan­­to ao que pro­me­temos, o Senhor seja para sem­pre testemunha entre nós.» 24David escondeu-se no campo.

No dia da Lua-nova, o rei pôs-se à mesa para comer, 25sentando-se, como de costume, numa cadeira, perto da parede. Jónatas levantou-se para que Abner pudesse sentar-se ao lado de Saul, ficando desocupado o lugar de David. 26Naquele dia, Saul não disse nada. Pensou que talvez Da­vid tivesse contraído alguma impureza e não ti­­vesse podido ainda purificar-se. 27No dia seguinte ao da Lua-nova, o lugar de David conti­nuava vazio. Saul disse ao seu filho Jónatas: «Porque não veio comer o fi­lho de Jessé nem on­tem nem hoje?» 28E respondeu Jóna­tas: «David pediu-me licença para ir a Belém. 29Disse-me: ‘Deixa-me ir, por­que temos na cidade um sacri­fí­cio de família, para o qual meu irmão me convidou. Se mereci a tua esti­ma, permite-me que vá visitar os meus irmãos.’ Eis por que não se apresen­tou à mesa do rei.»

30Saul encolerizou-se contra Jóna­tas e disse: «Filho de uma prostituta, pen­­­sas que não sei que és amigo do filho de Jessé, e que isso é uma ver­gonha para ti e para tua mãe? 31En­quanto viver sobre a terra o filho de Jessé, nem tu estarás seguro, nem o teu trono. Vamos! Vai buscá-lo, traz-mo, porque ele merece a morte.» 32Jó­­na­tas respondeu ao pai, dizendo: «Porque há-de morrer? Que mal fez ele?» 33Saul brandiu a lança para o atra­ves­sar, e Jónatas viu que a mor­te de Da­vid era coisa resolvida pelo pai. 34Furioso, deixou a mesa sem co­mer, naquele segundo dia de Lua-nova. As injúrias que seu pai havia feito a Da­vid tinham-no afli­gido pro­funda­mente.

35No dia seguinte, ao raiar da au­rora, Jónatas saiu para o campo e foi ao lugar combinado com David, acompanhado de um jovem servo. 36E disse-lhe: «Vai e traz-me as setas que vou atirar.» Mas enquanto o ra­paz corria, Jónatas atirou outra seta mais longe. 37Quando chegou ao lu­gar da seta, Jónatas gritou-lhe: «Não está a flecha mais para além de ti?» 38E acrescentou: «Vamos, apressa-te, não te demores.» O servo apa­nhou as setas e voltou ao seu senhor. 39O servo não sabia de nada, porque só Jónatas e David conheciam o as­sunto.

40Depois disto, entregou Jó­na­tas as armas ao servo, dizendo-lhe: «Vai e leva-as para a cidade.» 41Logo que ele partiu, deixou David o seu es­con­­de­rijo e, fazendo uma reverência a Jó­na­tas, prostrou-se três vezes por terra; beijaram-se mutuamente, cho­rando juntos, mas David estava ainda mais comovido que o amigo. 42Jó­na­tas disse-lhe: «Vai em paz; e, quanto ao juramento que fi­zemos, que o Se­nhor esteja sempre como testemu­nha en­tre ti e mim, entre a tua pos­teridade e a minha!»

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