Capítulo 1

I. Samuel, a arca e os filisteus (1,1-7,17)
Ana1Havia em Ramataim um homem de Suf, nas monta­nhas de Efraim, chamado Elcana, filho de Je­roam e neto de Eliú, da família de Toú e do clã de Suf, de Efraim. 2Tinha duas mulheres, uma chamada Ana e outra Penina. Esta tinha filhos; Ana, porém, não ti­nha nenhum. 3Todos os anos, este homem subia da sua cidade a Silo, para adorar o Senhor do universo e oferecer-lhe um sacri­fício. Aí se en­con­travam os dois filhos de Eli, Hofni e Fineias, sacerdotes do Se­nhor. 4Cada vez que Elcana ofe­re­cia um sacrifício, dava a porção cor­res­pondente à sua mulher Penina, bem como aos seus filhos e filhas. 5Mas dava uma porção dupla a Ana, por­que a amava mais, embora o Se­nhor a tivesse tornado estéril. 6Além disso, a sua rival afligia-a duramente, hu­milhando-a, por o Senhor a ter feito estéril. 7Isto repetia-se todos os anos, quando Ana subia ao templo do Senhor; Penina zombava dela. Ana chorava e não comia. 8Seu ma­rido dizia-lhe: «Ana, porque choras? Por­que não comes? Porque estás tris­te? Não valho para ti tanto como dez filhos?» 9Ana levantou-se, depois de ter comido e bebido em Silo. O sacer­dote Eli estava instalado no seu as­sento, à entrada do templo do Senhor.

10Ana, profundamente amar­gu­ra­­da, orou ao Senhor e chorou copiosas lágrimas. 11E fez um voto, dizendo: «Senhor do universo, se te dignares olhar para a aflição da tua serva e te lembrares de mim, se não te esque­ceres da tua serva e lhe de­res um filho varão, eu o consagrarei ao Se­nhor, por todos os dias da sua vida, e a nava­lha não passará sobre a sua cabeça.» 12Ela repetiu muitas vezes a sua oração diante do Se­nhor; Eli observava o movimento dos seus lá­bios. 13Ana, porém, orava no seu co­ra­ção e apenas movia os lábios, sem se lhe ouvir palavra al­guma. 14Eli, jul­gando-a ébria, disse-lhe: «Até quando du­rará a tua embriaguez? Vai-te em­bora e deixa passar o efeito do vinho de que estás cheia.»

15Ana respon­deu: «Não é assim, meu senhor; a ver­dade é que sou uma mulher de espírito atribulado; não bebi vinho nem ál­cool; ape­nas estava a desaba­far as mi­nhas má­goas na presença do Se­nhor. 16Não tomes a tua serva por alguma das filhas de Belial, por­que só a gran­deza da minha dor e da minha afli­ção é que me fez falar até agora.»

17Eli respondeu: «Vai em paz e o Deus de Israel te conceda o que lhe pedes.» 18Ana respondeu: «Que a tua serva mereça o teu favor.» A mu­lher foi-se embora, comeu e nun­ca mais houve tristeza em seu rosto.

19No dia seguinte pela manhã, pros­­traram-se diante do Senhor e voltaram para sua casa, em Ramá.


Nascimento de Samuel (Lc 1,5-7.15) – Elcana conheceu Ana, sua mulher, e o Senhor lembrou-se dela. 20Ana con­cebeu e, pas­sado o seu tem­po, deu à luz um filho, ao qual pôs o nome de Samuel, porque dizia: «eu o pedi ao Senhor.»

21Elcana, seu marido, foi, com toda a sua casa, oferecer ao Senhor o sa­crifício anual e cumprir o seu voto. 22Ana, porém, não foi e disse ao ma­rido: «Só irei quando o menino esti­ver desmamado; então o levarei para o apresentar ao Senhor e lá ficará para sempre.» 23Disse-lhe El­cana, seu marido: «Faz como acha­res me­lhor; fica em casa até que o tenhas desmamado e que o Senhor se digne cumprir a sua palavra.» Ela ficou, pois, em casa e aleitou o filho até que o desmamou. 24Após tê-lo desma­mado, tomou-o consigo e, levando tam­bém três novilhos, uma medida de farinha e um odre de vinho, con­duziu-o ao templo do Senhor em Silo. O menino era ain­da muito pe­queno. 25Imolaram um novilho e apre­senta­ram o me­nino a Eli. 26Ana disse-lhe: «Ouve, meu se­nhor, por tua vida: eu sou aquela mulher que esteve aqui a orar ao Senhor, na tua presença. 27Eis o menino por quem orei. O Se­nhor ouviu a minha súplica. 28Por isso, o ofereço ao Senhor, a fim de que só a Ele sirva todos os dias da sua vida.» E ele prostrou-se ali diante do Se­nhor.

Capítulo 2

Cântico de Ana (Lc 1,46-55) 1Ana orou, entoando este cân­tico:

«O meu coração exulta de jú­bilo no Senhor.

Nele se ergue a minha fronte,

a minha boca desafia os meus adver­­sários,

porque me alegro na tua salva­ção.

2Ninguém é santo como o Se­nhor.

Não há outro Deus fora de ti,

ninguém é tão forte como o nosso Deus.

3Não multipliqueis as vossas pa­lavras orgulhosas.

Não saia da vossa boca a arro­gân­cia,

porque o Senhor é um Deus de sabedoria.

Só Ele sabe descobrir as vossas acções.

4O arco dos fortes foi quebrado

e os fracos foram revestidos de vi­gor.

5Os saciados tiveram que ganhar o pão

e os famintos foram saciados.

Até a estéril foi mãe de sete fi­lhos

e a mulher que os tinha nume­rosos, ficou estéril.

6O Senhor é que dá a morte e a vida,

leva à habitação dos mortos e tira de lá.

7O Senhor despoja e enriquece, humilha e exalta.

8Levanta do pó o mendigo e tira da imundície o pobre,

para os sentar com os prín­ci­pes e ocupar um trono de glória;

porque são do Senhor as colunas da terra

e sobre elas assentou o mundo.

9Ele dirige os passos dos seus san­tos,

mas os ímpios perecerão nas tre­vas;

porque homem algum vencerá pela sua própria força.

10Tremerão diante do Senhor os seus inimigos,

trovejará do céu sobre eles.

O Senhor julga os confins da terra!

Ele dará o império ao seu rei,

e exaltará o poder do seu ungido.»


Filhos de Eli11Depois disto, El­cana voltou para a sua casa em Ramá; o menino servia na presença do Se­nhor, sob a direcção do sacerdote Eli. 12Os filhos de Eli eram filhos de Belial; não conheciam o Senhor, 13nem a obrigação dos sacerdotes para com o povo. Quando alguém oferecia um sacrifício, vinha o servo do sacer­dote, no momento em que se cozia a car­ne, com um garfo de três dentes, 14e metia-o na caldeira, na marmita, na pa­nela ou no tacho; e tudo o que agarrava com ele, tirava-o para o sacerdote.

Assim faziam a todos os de Israel que vi­nham a Silo. 15Antes de quei­ma­­rem a gordura, vinha o servo do sa­cer­dote dizer ao que a sacrificava: «Dá-me para o sacerdote a carne pa­ra assar; ele não aceitará carne co­zi­da, mas unicamente a carne crua.» 16O homem respondia-lhe: «É pre­ciso que se queime primeiro a gordura; de­pois, tomarás o que quiseres.» O ser­vo res­pondia: «Não, é agora que ma hás-de dar, senão tomá-la-ei à for­ça.» 17Era muito grande o pecado des­tes jovens diante do Senhor, pois eles menos­prezavam as ofertas fei­tas ao Senhor.


Samuel em Silo18Entretanto, o pequeno Samuel, cingido de uma faixa votiva de linho, exercia o seu ministério diante do Senhor. 19Sua mãe tecia-lhe uma túnica que lhe le­vava todos os anos, quando ia com seu marido oferecer o sacrifício anual. 20Eli abençoava Elcana e sua mulher, dizendo: «O Senhor te conceda fi­lhos desta mulher, em recompensa do dom que ela lhe fez!» E voltavam para a sua casa.

21O Senhor visitou Ana, e ela con­cebeu, dando à luz três filhos e duas filhas. Entretanto, o menino Samuel crescia na presença do Se­nhor.

22Eli, sendo já velho, tomou co­nhe­cimento do modo como se comporta­vam os seus filhos com todos os de Israel e de que dormiam com as mu­lheres que prestavam serviço à en­trada da tenda da reunião. 23E per­guntou-lhes: «Porque procedeis dessa forma? Porque praticais esses crimes detestáveis de que fala o povo? 24Não façais assim, meus fi­lhos; não são nada boas as informações que me che­gam a vosso res­peito. Estais a es­can­dali­zar o povo do Senhor. 25Se um homem pecar contra outro, Deus o defende; mas, se ele pecar contra o Senhor, quem intercederá por ele?» Eles, po­rém, não ouviram a voz do pai, por­que o Senhor determinara a sua morte.

26Entretanto, o menino Samuel desenvolvia-se em altura e beleza, diante do Senhor e dos homens.


Predição da ruína da casa de Eli (3,11-14) – 27Certo dia, um ho­mem de Deus veio ter com Eli e disse-lhe: «Isto diz o Senhor: ‘Não me revelei Eu claramente à família de teu pai, quando estavam no Egip­to, sob o poder da casa de Faraó? 28Escolhi-os entre todas as tribos de Israel para serem meus sacerdotes, subirem ao meu altar, queimarem incenso e re­ves­tirem-se da insígnia votiva diante de mim. Dei à casa de teu pai uma parte em todos os sa­crifícios ofereci­dos pelos filhos de Israel. 29Porque despre­zas os meus sacrifícios e as mi­nhas oblações, que ordenei se ofe­re­ces­sem na minha morada? Fazes mais caso dos teus filhos que de mim, engordando-os com o melhor de todas as ofertas do meu povo de Israel.’

30Por isso, eis o que diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Eu tinha dito que a tua família e a família de teu pai ser­viriam para sempre diante de mim.’ Mas agora o Senhor diz: ‘Não será mais assim: Eu honro aqueles que me honram e desprezo aqueles que me despre­zam.’ 31Virão dias em que abaterei o teu braço e o braço da casa do teu pai, de modo a não ficar ancião al­gum em tua casa. 32Verás com inveja o bem que Eu farei a Israel, enquanto na tua casa jamais haverá um an­cião. 33Entretanto, nem todos os teus des­cendentes afastarei do meu altar, para que os teus olhos chorem de inveja e a tua alma des­faleça; todos os outros morrerão na flor da idade. 34O que vai acontecer aos teus filhos Ofni e Fineias será para ti um sinal; ambos morrerão no mesmo dia. 35Suscitarei para mim um sacerdote fiel, que proce­derá segundo o meu coração e a minha vontade. Hei-de edificar-lhe uma casa sólida e duradoira, e ele viverá sempre na presença do meu ungido. 36Os que so­breviverem da tua família irão pros­trar-se diante dele, por uma moeda de prata ou um pedaço de pão, di­zendo-lhe: ‘Peço-te que me admitas em algum ministério sacerdotal, a fim de que eu tenha um bocado de pão para comer.’»

Capítulo 3

Vocação de Samuel (Jz 6,11-24; 13,1-25; Is 6,1-13; Jr 1,4-19) – 1O jo­vem Samuel servia o Se­nhor sob a direcção de Eli. O Senhor, naquele tempo, falava raras vezes e as visões não eram frequentes. 2Ora certo dia aconteceu que Eli estava deitado, pois os seus olhos tinham enfraquecido e mal podia ver. 3A lâm­pada de Deus ainda não se ti­nha apagado e Samuel repousava no templo do Senhor, onde se en­contrava a Arca de Deus. 4O Senhor chamou Samuel. Ele respon­deu: «Eis-me aqui.» 5Samuel correu para junto de Eli e disse-lhe: «Aqui estou, pois me chamaste.» Disse-lhe Eli: «Não te chamei, meu filho; volta a deitar-te.» 6O Senhor chamou de novo Samuel. Este levantou-se e veio dizer a Eli: «Aqui estou, pois me cha­­maste.» Eli respondeu: «Não te cha­mei, meu filho; volta a deitar-te.»

7Samuel ainda não conhecia o Se­nhor, pois até então nunca se lhe tinha manifestado a palavra do Se­nhor. 8Pela terceira vez, o Se­nhor chamou Samuel, que se levantou e foi ter com Eli: «Aqui estou, pois me chamaste.» Compreendeu Eli que era o Senhor quem chamava o menino e disse a Samuel: 9«Vai e volta a deitar-te. Se fores chamado outra vez, res­ponde: «Fala, Senhor; o teu servo escuta!» Voltou Samuel e deitou-se. 10Veio o Senhor, pôs-se junto dele e chamou-o, como das outras vezes: «Sa­muel! Samuel!» E Samuel respon­deu: «Fala, Senhor; o teu servo escuta!»

11O Senhor disse a Samuel: «Eis que vou fazer uma coisa em Israel que fará retinir os ouvidos a todo aquele que a ouvir. 12Nesse dia cum­prirei contra Eli todas as ameaças que anun­ciei contra a sua casa. Começarei e irei até ao fim. 13Anun­ciei-lhe que condenaria para sempre a sua famí­lia por causa da sua iniquidade, pois sabia que os seus filhos se portavam indignamente e não os corrigiu. 14Por isso, juro à casa de Eli que a sua culpa jamais será expiada, nem com sacrifícios nem com oblações.»

15Sa­muel ficou deitado até de ma­nhã e abriu as por­tas da casa do Senhor, mas te­mia contar a visão a Eli. 16Eli, po­rém, cha­mou-o e disse: «Sa­muel, meu filho!» E ele respon-deu: «Eis-me aqui.» 17Per­guntou-lhe Eli: «Que te disse o Se­nhor? Não me ocultes nada. O Senhor te castigue se­veramente, se me en­cobrires alguma coisa de quanto Ele te disse.»

18Então Samuel contou-lhe tudo sem nada ocul­tar. Eli ex­clamou: «O Senhor fará o que bem lhe parecer.» 19Samuel ia crescendo, o Senhor es­tava com ele e cumpria à letra todas as suas pre­dições.

20Todo o Israel, desde Dan até Ber­­­­cheba, reconheceu que Samuel era um profeta do Senhor. 21O Se­nhor continuou a manifestar-se em Silo. Era ali que o Senhor apa­recia a Sa­muel, revelando-lhe a sua pala­vra.

Capítulo 4

A Arca, morte de Eli e seus fi­lhos1A palavra de Samuel foi dirigida a todo o Is­rael. Israel saiu ao encontro dos fi­listeus para lhes dar combate. Acamparam junto de Ében--Ézer e os filisteus acam­param em Afec. 2Os filisteus puse­ram-se em linha de combate frente a Israel, e começou a batalha. Israel foi ven­cido pelos fi­listeus, que mata­ram em com­bate cerca de quatro mil homens. 3O povo voltou ao acam­pa­mento e os an­ciãos de Israel disse­ram: «Porque é que o Senhor nos derrotou hoje diante dos filisteus? Vamos a Silo e tome­mos a Arca da aliança do Senhor, para que Ele es­teja no meio de nós e nos livre da mão dos nossos inimi­gos.» 4O povo mandou, pois, buscar a Silo a Arca da aliança do Senhor do uni­verso, que se senta sobre querubins. Os dois filhos de Eli, Ofni e Fineias, acom­pa­nhavam a arca. 5Quando a Arca da aliança do Senhor chegou ao acam­pamento, todo o Israel lançou um gran­de clamor, que fez a terra tre­mer. 6Os filisteus, ouvindo-o, disse­ram: «Que significa este grande cla­mor no acampamento dos hebreus?» Sou­­be­ram que a Arca do Senhor ti­nha che­gado ao acampamento. 7Tive­­ram medo e disseram: «O Deus deles che­gou ao acampamento. Ai de nós! Até agora nunca se ouviu coisa seme­­lhante. 8Ai de nós! Quem nos sal­vará da mão desse Deus excelso? É aquele Deus que feriu os egípcios com toda a espécie de pragas no deserto. 9Coragem, ó filisteus! Por­tai-vos va­­­ro­­­­­nilmente, não suceda que sejais escravos dos hebreus como eles o são de vós. Esforçai-vos e combatei.»

10Começaram a luta; Israel foi der­­rotado e todos fugiram para as suas casas. O massacre foi tão gran­de que ficaram mortos trinta mil ho­mens de Israel. 11A Arca de Deus foi tomada, e os dois filhos de Eli, Hofni e Fi­neias, pereceram.

12Um homem da tribo de Ben­ja­mim escapou da batalha e fugiu nesse mesmo dia para Silo, com a roupa rasgada e a cabeça coberta de pó. 13Chegou quando Eli estava insta­lado no seu assento, à beira do caminho, com o coração em contínuo sobres­salto pela Arca de Deus. En­trando na cidade, o homem espa­lhou a notícia por toda a parte, e toda a gente se lan­­çou em grandes lamentações.

14Eli, ouvindo-o, perguntou: «Que la­men­tos são esses?» Nesse momento, o homem chegou junto de Eli e deu-lhe a notícia. 15Eli tinha noventa e oito anos; os seus olhos estavam ce­gos, de modo que não podia ver. 16O ho­mem disse-lhe: «Venho do campo de bata­lha, de onde escapei hoje mes­mo.» Eli disse-lhe: «Que aconteceu, meu filho?» 17Respondeu o mensa­geiro: «Is­rael fu­giu diante dos filis­teus e o exér­cito foi duramente dizi­mado. Teus dois filhos, Hofni e Fineias, mor­re­­ram, e a Arca de Deus caiu nas mãos do inimigo.» 18Quando o ho­mem men­­cio­nou a Arca de Deus, Eli caiu da ca­deira para trás, junto à porta, frac­tu­rou o crâ­nio e morreu, pois era um homem velho e pesado. Tinha sido juiz em Israel durante quarenta anos.

19Sua nora, mulher de Fineias, es­­tava grávida e prestes a dar à luz. Ao ouvir a notícia de que a Arca de Deus fora capturada e de que o sogro e o marido tinham morrido, foi subi­ta­mente acometida pelas dores de parto e deu à luz. 20E, estando a morrer, as mulheres que a cercavam disse­ram-lhe: «Anima-te, porque nasceu um menino.» Mas ela não respon­deu nem prestou aten­ção. 21Chamou ao menino Icabod, dizendo: «Acabou-se a glória de Is­rael.» Aludia, com isto, à captura da Arca de Deus, ao seu sogro e ao seu marido. 22«Sim, disse ela, acabou-se a glória de Israel, pois foi captu­rada a Arca de Deus.»

Capítulo 5

A Arca na terra dos filisteus1Os filisteus apoderaram-se, pois, da Arca de Deus e levaram-na de Ében-Ézer para Asdod. 2Toma­ram a Arca de Deus, levaram-na para o tem­plo de Dagon e colocaram-na junto do ídolo. 3No dia seguinte, levan­tando-se de manhã cedo, os habitantes de Asdod viram a estátua de Dagon caí­da por terra, diante da Arca do Se­nhor. Levantaram Dagon e repuse­ram-no no seu lugar. 4No outro dia, le­vantando-se também de manhã cedo, encontraram Dagon caído de rosto por terra, diante da Arca do Senhor. A cabeça do ídolo e as mãos estavam cortadas, sobre o limiar da porta. Só o tronco de Dagon tinha ficado no seu lugar. 5Por isso é que os sacerdotes de Dagon e todos os que entram no seu templo, em As­dod, evitam ainda hoje colocar o pé sobre o limiar da porta. 6Depois disto, a mão do Senhor pesou sobre os habi­tantes de Asdod, enchendo-os de ter­ror, ferindo-os com tumores pestífe­ros em Asdod e seu território. 7Vendo isto, os habitantes de Asdod exclama­ram: «A Arca do Deus de Israel não ficará connosco, porque a sua mão pesa so­bre nós e sobre Dagon, nosso deus.»

8Convocaram, pois, todos os prín­ci­­pes dos filisteus e pergunta­ram-lhes: «Que faremos nós da Arca do Deus de Is­rael?» Eles responderam: «Que a Arca do Deus de Israel seja trans­portada para Gat.» E a Arca do Deus de Is­rael foi levada para lá. 9Mas, uma vez trans­portada para lá, a mão do Se­nhor pesou sobre a cidade, produ­­zindo grande terror e ferindo os ha­bi­tantes da cidade, dos mais novos aos mais velhos, com o aparecimento de tumores.

10Mandaram então a Arca de Deus para Ecron mas, quando ela ali che­gou, os ecronitas clamaram, dizendo: «Trouxeram-nos a Arca do Deus de Is­rael para nos matar, a nós e ao nosso povo!» 11Convoca­ram todos os prín­cipes dos filisteus e disseram-lhes: «Devolvei a Arca do Deus de Israel; que ela volte para o seu lugar, a fim de não perecermos, nós e todo o nosso povo.» Reinava na cidade o terror da morte, e a mão do Senhor fazia-se sentir rudemente, 12porque até os que não morriam eram feridos de tumo­res, e da ci­dade subia até ao céu um clamor de angústia.

Capítulo 6

Devolução da Arca a Israel1Esteve, pois, a Arca do Senhor sete meses na terra dos filisteus. 2Os filisteus convocaram os seus sacer­do­tes e adivinhos e perguntaram-lhes: «Que faremos da Arca do Se­nhor? Dizei-nos como havemos de a devol­ver ao seu lugar.» 3Eles res­ponde­ram: «Se devolveis a Arca do Deus de Is­rael, não a deveis mandar sem nada, mas juntai-lhe uma oferta de repa­ra­­ção. Então sereis curados; sabe­reis por que não se apartava de vós a sua mão.» 4Dis­seram eles: «Que oferta de repa­ra­ção devemos juntar-lhe?»

Responde­ram: «Cinco tumores de ouro e cinco ratos de ouro, conforme o número dos príncipes dos filisteus, porque foi este o castigo que vos fe­riu a vós e aos vossos príncipes. 5Fa­zei, pois, imagens dos vossos tumo­res e imagens dos ratos que devastam o país e, assim, dareis glória ao Deus de Israel; talvez assim Ele retire a sua mão de cima de vós, do vosso deus e do vosso país. 6Porque endu­receis os vossos corações como os egí­pcios e o Faraó? Não tiveram eles que deixá-los partir, quando o Senhor os fla­gelou com seus castigos? 7Fazei, pois, um carro novo, tomai duas va­cas que estejam a aleitar e que ainda não tenham suportado o jugo, e atrelai-as ao carro, depois de terdes pren­dido os seus bezerros no curral. 8To­mareis em seguida a Arca do Senhor e colocá-la-eis, juntamente com um cofre no qual poreis as imagens de ouro que oferecereis como repara­ção; depois, deixai-a ir. 9Segui-a com os olhos; se virdes que ela segue pelo caminho que conduz ao país dela, para os lados de Bet-Chémes, então o Deus de Israel foi quem nos en­viou esta praga; de contrário, conhecere­mos que não foi a sua mão que nos feriu, mas que foi um simples acaso.»

10Assim o fizeram. Tomaram duas vacas que estavam a aleitar e atre­la­ram-nas ao carro, pondo os bezer­ros no curral. 11Puseram sobre o carro a Arca do Senhor com o cofre que con­tinha os ratos de ouro e as imagens dos tumores. 12Ora, as va­cas toma­ram directamente o cami­nho que vai para Bet-Chémes e se­gui­ram, mugindo, sempre o mesmo caminho, sem se desviar nem para a direita nem para a esquerda. Os príncipes dos filis­teus seguiram-na até à entrada do terri­tório de Bet-Chémes. 13Os habitan­tes de Bet-Ché­mes ceifavam o trigo no vale. Levantando os olhos, viram a Arca e alegraram-se. 14O carro che­gou ao campo de Josué, de Bet-Ché­mes, onde se deteve. Havia ali uma gran­de pedra. Cortaram em peda­ços a madeira do carro, puseram em cima as vacas e ofereceram-nas em holocausto ao Senhor. 15Os levitas desceram a Arca do Senhor, junta­mente com o cofre que estava ao seu lado, contendo os objectos de ouro, e colocaram-na sobre a grande pedra. Então, os habitantes de Bet-Ché­mes ofereceram, naquele dia, holocaus­tos e sacrifícios ao Senhor. 16E os cinco príncipes dos filisteus que ti­nham presenciado tudo, voltaram naquele mesmo dia para Ecron.

17As figuras dos tumores de ouro que os filisteus ofereceram ao Se­nhor, como oferta de reparação, eram: uma por Asdod, outra por Gaza, outra por Ascalon, outra por Gat e outra por Ecron. 18E os ratos de ouro que ofe­re­ceram foram tantos quantas as ci­da­des dos filisteus nas cinco provín­cias, desde as cida­des fortificadas até às aldeias sem muros. Disto é testemunha a grande pedra, sobre a qual colocaram a Arca do Senhor, no campo de Josué, de Bet-Chémes, onde pode ser vista ainda hoje.

19O Senhor castigou os habitan­tes de Bet-Chémes porque tinham olhado para a Arca; e feriu setenta ho­­mens. O povo chorou por causa de tão grande castigo com que o Se­nhor o tinha fe­rido. 20Os habitan­tes de Bet-Chémes disseram: «Quem poderá estar na pre­sença do Se­nhor, deste Deus santo? E para quem po­derá Ele ir, longe de nós?» 21Man­da­ram, pois, mensagei­ros aos habitan­tes de Quiriat-Iarim, dizendo: «Os filisteus devolveram a Arca do Se­nhor; vinde e levai-a outra vez para junto de vós.»

Capítulo 7

Samuel, juiz e mediador (Sir 46, 13-20) – 1Vieram, pois, os habi­tan­tes de Quiriat-Iarim, transpor­ta­­ram a Arca do Senhor e colocaram-na em casa de Abinadab, que vivia em Gui­beá, e consagraram seu filho Eleá­zar para que a guardasse. 2E su­ce­deu que, desde o dia em que a Arca do Senhor chegou a Quiriat-Iarim, passou muito tempo, vinte anos, e toda a casa de Israel se vol­tou para o Senhor. 3E Samuel fa­lou a toda a casa de Is­rael, dizendo: «Se de todo o vosso coração vos converterdes ao Senhor, tirando do meio de vós os deuses estran­gei­ros e as estátuas de Astarté, se vos apegar­des de todo o vosso coração ao Se­nhor e só a Ele servirdes, Ele há-de livrar-vos das mãos dos filis­teus.» 4Então os filhos de Israel afas­ta­ram os ídolos e as es­tátuas de Baal e de Astarté e ser­viram só ao Se­nhor. 5Disse também Samuel: «Con­vocai todo o Israel em Mispá, e eu rogarei por vós ao Se­nhor.» 6Reu­ni­ram-se, pois, em Mispá, tiraram água, derra­maram-na diante do Se­nhor e jejuaram naquele dia, di­zendo: «Pecá­mos contra o Senhor.»

Samuel era juiz de Israel em Mis­pá. 7Os filisteus foram informados de que os israelitas se tinham reu­nido em Mispá, e os seus prín­cipes mar­cha­ram contra Israel. Os israe­li­­tas sou­be­ram-no e tiveram medo dos filis­teus. 8Disseram a Samuel: «Não cesses de clamar por nós ao Se­nhor nosso Deus, para que nos livre das mãos dos filisteus.» 9Samuel to­mou um cor­deiro ainda de leite, ofe­receu-o inteiro em holocausto ao Senhor, clamou ao Se­­nhor por Israel, e o Se­nhor ouviu-o.

10De facto, enquanto Samuel ofe­recia o holocausto, os filisteus come­çaram o combate contra Israel. Mas o Senhor, naquele dia, trovejou com a sua voz estrondosa sobre os filis­teus, encheu-os de terror, e foram derro­ta­dos pelos israelitas. 11Estes, saindo de Mispá, perse­gui­ram os filis­teus e der­rotaram-nos no lugar que está abaixo de Bet-Car.

12Tomou Sa­muel uma pe­dra e pô-la entre Mispá e Chen; deu àquele lu­gar o nome de Ében-Ézer, dizendo: «Até aqui nos auxiliou o Senhor.»

13Humilhados dessa forma, os fi­­listeus não voltaram mais às terras de Israel. A mão do Senhor fez-se sen­­tir sobre os filisteus durante toda a vida de Samuel. 14E foram resti­tuí­das a Israel as cidades que os filisteus lhes tinham tomado, desde Ecron até Gat. Israel livrou a sua terra das mãos dos filisteus, e também houve paz en­tre Israel e os amorreus.

15Samuel foi juiz em Israel du­rante toda a sua vida. 16Todos os anos se dirigia a Betel, Guilgal e Mispá, onde fazia justiça a todo o Israel. 17Vol­tava depois para Ramá, onde ti­nha a sua casa. Também ali julgava Israel, e edificou naquele lugar um altar ao Senhor.

Capítulo 8

II. A realeza: Samuel e Saul (8,1-15,35)
Instituição da monarquia (Dt 17,14-20; Jz 8,22-25) – 1Sendo já velho, Samuel estabeleceu os seus filhos como juízes de Israel. 2O seu filho primogénito chamava-se Joel, e o segundo, Abias, e eram juízes em Bercheba. 3Os filhos de Samuel, po­rém, não seguiram as pisadas de seu pai, antes se deixaram levar pela ava­reza, recebendo presentes e vio­lando a justiça. 4Reuniram-se todos os an­ciãos de Israel e vieram ter com Sa­muel a Ramá. 5Disse­ram-lhe: «Estás velho e os teus fi­lhos não seguem as tuas pisadas. Dá-nos um rei que nos governe, como têm todas as nações.»

6Esta linguagem – ‘dá-nos um rei que nos governe’ – desagradou a Sa­muel, que se pôs em oração diante do Se­nhor. 7O Senhor disse-lhe: «Ouve a voz do povo em tudo o que te dis­ser, pois não é a ti que eles rejeitam, mas a mim, para que Eu não reine mais sobre eles. 8Fazem o que sem­pre têm feito, desde o dia em que os fiz subir do Egipto até ao presente, aban­­donando-me para servir deu­ses es­tran­geiros. E também assim estão a fazer contigo. 9Atende-os, agora, mas expõe-lhes solenemente os direitos do rei que reinará sobre eles.» 10Re­feriu Samuel todas as palavras do Senhor ao povo que lhe pedia um rei. 11E disse: «Eis como será o poder do rei que vos há-de governar: tomará os vossos filhos para guiar os seus car­ros e a sua cavalaria e para cor­­rer diante do seu carro. 12Fará deles che­fes de mil e chefes de cinquenta, em­pregá-los-á nas suas lavouras e nas suas co­lheitas, na fabricação das suas ar­mas e dos seus carros. 13To­mará as vossas filhas como suas per­fumistas, cozinheiras e padeiras. 14Há-de tirar-vos também o melhor dos vossos cam­pos, das vossas vinhas e dos vossos olivais, e dá-los-á aos seus servido­res. 15Cobrará ainda o dízimo das vos­sas searas e das vossas vinhas, para o dar aos seus cor­te­sãos e ministros. 16Tomará também os vossos servos, as vossas servas, os melhores entre os vossos mancebos e os vossos ju­men­tos, para os colocar ao seu ser­viço. 17Co­brará igual­mente o dízimo dos vos­sos rebanhos. E vós próprios se­reis seus servos. 18Então, clama­reis por causa do rei que vós mesmos esco­lhestes, mas o Senhor não vos ouvirá.»

19Porém, o povo não quis ouvir a voz de Samuel. Disse: «Não! Preci­sa­­mos de ter o nosso rei! 20Que­remos ser como todas as ou­tras nações; o nosso rei administrará a justiça, mar­chará à nossa frente e combaterá por nós em todas as guerras.»

21Samuel ouviu todas as palavras do povo e referiu-as ao Senhor. 22En­tão, o Se­nhor disse: «Faz o que te pe­dem e dá-lhes um rei.» Samuel disse aos is­raelitas: «Volte cada um para a sua cidade.»

Capítulo 9

Saul encontra Samuel1Ha­via um homem da tribo de Ben­jamim chamado Quis, filho de Abiel, filho de Seror, filho de Be­corat, filho de Afia, filho de um benjaminita, que era um guerreiro forte e va­lente. 2Ti­nha um filho chamado Saul, man­cebo de bela presença. Não havia em Is­rael outro mais belo do que ele; so­bres­saía entre todos dos ombros para cima. 3Tendo-se perdido as jumen­tas de Quis, pai de Saul, disse ele ao filho: «Toma um criado contigo e vai procurar as ju­mentas.»

4Atravessa­ram a monta­nha de Efraim e entra­ram na terra de Sa­lisa, sem nada en­contrar; percorre­ram a terra de Chaalim, mas em vão; na terra de Benjamim, tão-pouco as encontra­ram. 5Tendo che­gado à terra de Suf, Saul disse ao criado: «Vem, regres­se­­mos. Meu pai pode não pen­sar mais nas jumentas e estar em cui­dados por nossa causa.» 6Res­pon­deu-lhe o criado: «Nesta cidade há um ho­mem de Deus, homem de res­peito: tudo o que ele prediz se cum­pre. Va­mos lá, pois talvez ele nos diga o cami­nho que devemos seguir.» 7Saul res­pondeu: «Está bem, vamos; mas que presente levaremos ao homem de Deus? Os nossos alforges estão va­­zios e não temos dinheiro para lhe dar. Que nos resta?» 8Respondeu no­va­­­mente o criado: «Tenho aqui um quarto de siclo de prata; dá-lo-ei ao homem de Deus para que nos mos­tre o caminho.»

9Antigamente, em Israel, todo aque­­le que ia consultar a Deus, cos­tu­mava dizer assim: «Vinde, vamos ao vidente.» Chamava-se, então, «vi­dente» ao que hoje se chama «pro­feta.» 10Saul disse ao criado: «Tens razão. Vamos até lá.» E foram à ci­dade onde estava o homem de Deus. 11Subindo a encosta da cidade, en­con­­traram umas donzelas que iam bus­car água. Perguntaram-lhes: «Há aqui um vidente?» 12Responderam elas: «Sim, há. Sempre em frente! Apressa-te, pois veio hoje à cidade por ser dia em que o povo vai oferecer um sacrifício no lugar alto. 13Ao entrar na cidade logo o encontra­reis, antes que ele suba ao lugar alto para o banquete. O povo não comerá antes que ele chegue, pois ele deverá aben­çoar o sacrifício; só depois comerão os convidados. Subi depressa e logo o encontra­reis.»

14Eles dirigiram-se à cidade. E eis que ao entrarem, Sa­muel vinha ao seu encontro, pois ia su­bir ao lugar alto. 15Ora no dia ante­rior à chegada de Saul, o Se­nhor tinha feito esta revelação a Sa­muel: 16«Amanhã, a esta mesma hora, enviar-te-ei um homem da terra de Benjamim, e tu o ungirás como chefe do meu povo de Israel. Ele sal­vará o povo das mãos dos filisteus. Porque voltei os meus olhos para o meu povo e o seu clamor chegou até mim.»

17Quando Samuel viu Saul, o Se­nhor disse-lhe: «Este é o homem de quem te falei. Ele reinará sobre o meu povo.» 18Saul aproximou-se de Sa­muel à porta da cidade e disse-lhe: «Rogo-te que me informes onde está a casa do vidente.» 19Respon­deu Sa­muel: «Sou eu mesmo o vidente; sobe na minha frente ao lugar alto, por­que hoje comerás comigo, e ama­nhã te deixarei partir, depois de respon­der às tuas preocupações. 20Quanto às jumentas perdidas há dois ou três dias, não te inquietes, pois já apare­ceram. E de quem será tudo quanto há de melhor em Israel? Não será porventura teu e de toda a casa de teu pai?» 21Saul replicou: «Não sou eu um filho de Benjamim, da tribo mais pequena de Israel, e não é a minha família a menor de todas as famílias de Ben­jamim? Porque me falas, pois, assim?» 22Samuel, to­mando Saul e o seu criado, levou-os para a sala do banquete e deu-lhes o primeiro lugar entre os convidados, que eram aproximadamente trinta pessoas. 23E Samuel disse ao cozi­nheiro: «Serve a porção que te dei e te mandei guardar à parte.» 24To­mou, pois, o cozinheiro a perna com tudo o que nela havia e serviu-a a Saul. Sa­muel disse: «Eis diante de ti a por­ção que te ficou reservada. Come-a; reservei-a para este mo­men­to, quan­do convidei o povo.» Saul e Samuel comeram juntos naquele dia. 25Ten­do descido do lugar alto para a ci­dade, tiveram os dois uma con­versa no terraço. 26Ao romper da aurora levantaram-se e Samuel chamou Saul ao terraço; e disse-lhe: «Levanta-te e deixar-te-ei partir.» Saul levantou-se e saíram ele e Samuel para fora da cidade. 27Ao descerem para a parte mais baixa da cidade, Samuel disse a Saul: «Diz ao criado que vá adiante de nós.» Ele passou. «Mas tu, detém-te aqui, pois quero comu­nicar-te hoje o que disse o Senhor.»

Capítulo 10

Unção de Saul (9,16-17; 13, 8-15) 1Samuel tomou então um frasco de óleo, derramou-o sobre a cabeça de Saul e beijou-o, dizendo: «O Senhor ungiu-te príncipe sobre a sua herança. 2Quando hoje te afastares de mim, encontrarás dois homens junto do túmulo de Raquel, na fronteira de Benjamim, em Sel­ça, que te dirão: ‘As jumentas que foste procurar foram encontradas; o teu pai já se não inquieta por elas, mas está em cuidados por vossa causa e aflige-se, perguntando o que vos po­derá ter acontecido.’ 3Segui­rás o teu caminho até ao Carvalho do Ta­bor; aí encontrarás três ho­mens que sobem para adorar a Deus em Betel, levando um, três cabritos, outro, três pães e o terceiro, um odre de vinho. 4Depois de te saudarem, dar-te-ão dois pães, que tu recebe­rás das mãos de­les.

5Che­­garás de­pois a Guibeá-Eloim, onde se encon­tra a guarda dos filis­teus; à entrada da cidade encontra­rás um grupo de profetas que des­cem do lugar alto, precedidos de saltério, de tambor, de flauta e de cítara, em transe pro­fético. 6O espírito do Se­nhor virá então sobre ti, profeti­za­rás com eles e tornar-te-ás outro homem. 7Quando vires cumpridos todos estes sinais, faz o que te ocorrer, porque Deus está contigo. 8Descerás antes de mim a Guilgal, onde irei ter con­tigo para oferecer holocaustos e sacri­fícios de comunhão. Esperarás sete dias até que eu chegue; então te direi o que deves fazer.»

9Logo que Saul voltou as costas e se separou de Samuel, Deus trans­formou-lhe o coração. Todos estes sinais se cumpriram no mesmo dia. 10Chegando a Guibeá, veio ao seu en­con­tro um coro de profetas; o espí­rito do Senhor apoderou-se de Saul e ele pôs-se a profetizar no meio deles. 11Todos os que antes o tinham conhe­cido, vendo-o profetizar com os pro­fetas, perguntavam uns aos outros: «Que aconteceu ao filho de Quis? Porventura também Saul está entre os profetas?» 12Entre a multidão, alguém perguntou: «E quem é o pai dos outros profetas?» Daí o provér­bio: «Também Saul está entre os profe­tas?» 13Saul acabou de profetizar e foi para o lugar alto.

14Seu tio disse-lhe, a ele e ao criado: «Onde fostes?» Saul respon­deu: «À procura das ju­mentas, mas não as en­contrámos e, por isso, fomos ter com Samuel.» 15Disse-lhe o tio: «Conta-me o que te disse Samuel.» 16Saul respondeu-lhe: «Declarou-nos que as jumentas já tinham aparecido»; mas nada lhe reve­lou do que tinha dito Samuel acerca do reino.


Saul eleito rei (8,11-21; Dt 17,14-20) – 17Samuel convocou o povo diante do Senhor, em Mispá. 18E disse aos filhos de Israel: «Assim fala o Se­nhor, Deus de Israel: ‘Eu vos fiz subir do Egipto, livrei-vos das mãos dos egípcios e das mãos de todos os reis que vos oprimiam. 19Vós, porém, re­jei­tastes o vosso Deus, que vos sal­vou de todos os males e tribulações, e dissestes: ‘Estabelecei sobre nós um rei.’ Pois bem, colocai-vos diante do Senhor, por ordem de tribos e de clãs.» 20Samuel mandou que se apro­ximassem todas as tribos de Israel e a sorte coube à tribo de Benjamim. 21Mandou vir a tribo de Benjamim por famílias e coube a sorte à família de Matri. E, finalmente, a escolha caiu sobre Saul, filho de Quis. Procura­ram-no, mas não o encontraram.

22Con­sultaram, pois, o Senhor: «O homem veio para cá?» O Senhor res­pondeu: «Ele escondeu-se no meio das baga­gens.» 23Foram buscá-lo e puseram-no no meio da multidão; dos ombros para cima, ele era mais alto que todos os outros. 24Samuel disse ao povo: «Ve­des aquele a quem o Se­nhor esco­­lheu? Não há em todo o povo quem se lhe assemelhe.» E to­dos o acla­ma­ram, dizendo: «Viva o rei!» 25A se­guir, Samuel expôs ao povo a lei da monarquia e escreveu-a num livro que depositou diante do Se­nhor; de­pois, despediu todo o povo, cada um para sua casa. 26Saul voltou tam­bém para sua casa, em Guibeá, acom­pa­nhado de homens do exército, cujos corações tinham sido tocados por Deus. 27Mas os fi­lhos de Belial disse­­ram: «Porven­tura po­derá este salvar-nos?» Por isso despreza­ram-no e não lhe levaram presentes. Mas ele ficou indiferente.

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