Capítulo 1
1Provérbios de Salomão, filho de David, rei de Israel,
2para aprender a sabedoria e a instrução;
para compreender as palavras sensatas,
3para adquirir as lições do bom senso:
justiça, equidade e rectidão;
4para dar aos simples o discernimento
e ao jovem, conhecimento e reflexão.
5Que o sábio escute e aumentará o seu saber;
e o homem prudente adquirirá perspicácia,
6para compreender provérbios e alegorias,
máximas dos sábios e seus enigmas.
7O temor do Senhor é o princípio da sabedoria.
Os insensatos desprezam o saber e a instrução.
As más companhias
8Ouve, meu filho, as instruções de teu pai
e não desprezes os ensinamentos de tua mãe,
9pois serão uma coroa de adorno para a tua cabeça
e um colar para o teu pescoço.
10Meu filho, se os malfeitores te quiserem seduzir,
não condescendas com eles!
11Se te disserem: «Vem connosco,
façamos emboscadas, para derramar sangue,
armemos ciladas ao inocente, mesmo sem motivo,
12devoremo-lo vivo, como a morada dos mortos,
e inteiro, como aquele que desce à cova.
13Juntaremos toda a espécie de coisas preciosas
e encheremos as nossas casas de despojos;
14tu terás a tua parte como nós,
e teremos uma bolsa comum para todos!»
15Não andes com eles, meu filho,
afasta os teus pés das suas veredas,
16porque os seus passos correm para o mal,
e apressam-se a derramar sangue.
17Debalde se lança a rede
diante dos olhos das aves.
18Eles armam emboscadas, que são contra si mesmos,
e atentam contra as suas próprias vidas.
19Tal é a sorte do homem, dominado pela ganância,
pois ela tira a vida àquele que se lhe entrega.
Discurso da sabedoria
20A sabedoria clama nas ruas,
eleva a sua voz nas praças,
21grita sobre os muros,
faz ouvir sua voz à entrada das portas da cidade:
22«Até quando, ó simples, amareis a ingenuidade?
Até quando os néscios se deleitarão em zombar
e os insensatos odiarão o saber?
23Convertei-vos às minhas admoestações;
espalharei sobre vós o meu espírito,
ensinar-vos-ei as minhas palavras.
24Mas já que vos chamei e vós não respondestes,
estendi a mão e ninguém prestou atenção;
25já que desprezastes todos os meus conselhos
e não destes ouvidos às minhas repreensões,
26também eu me rirei da vossa ruína,
e zombarei, quando vos sobrevier o que temíeis,
27quando cair sobre vós o terror, como um temporal,
quando vos surpreender a desgraça, como um furacão
e quando vierem sobre vós a tribulação e a angústia.
28Então chamar-me-ão, mas não responderei,
procurar-me-ão, mas não me encontrarão.
29Porque aborreceram o saber
e não escolheram o temor do Senhor;
30repeliram os meus conselhos
e desprezaram todas as minhas repreensões;
31comerão, pois, do fruto das suas obras,
e ficarão fartos dos seus conselhos.
32A negligência dos ingénuos causar-lhes-á a morte
e o descuido dos insensatos perdê-los-á.
33Mas aquele que me ouvir, viverá tranquilo,
seguro, sem receio de mal algum.»
Capítulo 2
Excelência da sabedoria
1Meu filho, se receberes as minhas palavras
e guardares cuidadosamente os meus mandamentos,
2prestando o teu ouvido à sabedoria,
e inclinando o teu coração ao entendimento;
3se invocares a inteligência
e fizeres apelo ao entendimento,
4se a buscares como se procura a prata
e a pesquisares como um tesouro escondido,
5então, compreenderás o temor do Senhor
e chegarás ao conhecimento de Deus.
6Porque o Senhor é quem dá a sabedoria
e da sua boca procedem o saber e o entendimento.
7Ele reserva a salvação para os rectos
e é um escudo para os que procedem honestamente.
8Protege os caminhos dos justos
e dirige os passos dos seus fiéis.
9Então, compreenderás a justiça e a equidade,
a rectidão e todos os caminhos que conduzem ao bem;
10pois a sabedoria entrará no teu coração
e o conhecimento será para ti uma delícia.
11A reflexão te guardará
e o entendimento amparar-te-á,
12para te livrar do mau caminho
e do homem que diz coisas perversas,
13dos que abandonam o caminho recto
e andam por caminhos tenebrosos,
14dos que se alegram em fazer o mal
e se regozijam em perversidades,
15daqueles cujos caminhos são tortuosos
e se extraviam por veredas sinuosas;
16para te preservar da mulher alheia,
da estranha que usa palavras sedutoras,
17que abandona o companheiro da sua juventude
e esqueceu a aliança do seu Deus.
18A sua casa resvala para a morte,
e os seus caminhos, para a região das sombras.
19Todos os que têm trato com ela não voltarão atrás
nem encontrarão as veredas da vida.
20Portanto, tu caminharás pela senda dos bons
e seguirás o caminho dos justos,
21porque os homens rectos habitarão a terra
e os homens íntegros nela permanecerão.
22Os ímpios, porém, serão arrancados da terra
e dela os traidores serão exterminados.
Capítulo 3
Procura da sabedoria
1Meu filho, não te esqueças dos meus ensinamentos
e guarda no teu coração os meus preceitos,
2porque eles te acrescentarão longos dias,
anos de vida e prosperidade;
3não se afastem de ti o amor e a fidelidade!
Prende-os como adorno ao teu peito,
regista-os no livro do teu coração.
4Assim, obterás graça e consideração
diante de Deus e dos homens.
5Confia no Senhor, de todo o teu coração,
e não te fies na tua própria inteligência!
6Reconhece-o em todos os teus caminhos,
e Ele endireitará as tuas veredas.
7Não sejas sábio aos teus próprios olhos,
teme o Senhor e evita o mal.
8Isto será saúde para o teu corpo
e refrigério para os teus ossos.
9Honra o Senhor com os teus haveres
e com as primícias de todos os teus rendimentos.
10Então, os teus celeiros encher-se-ão de trigo,
e os teus lagares transbordarão de vinho.
11Meu filho, não rejeites a correcção do Senhor,
nem te irrites quando Ele te repreender,
12pois o Senhor castiga aquele a quem ama,
como um pai a um filho querido.
As alegrias do sábio
13Feliz o homem que encontrou a sabedoria
e adquiriu a inteligência,
14porque a sua conquista vale mais que a prata,
e o seu lucro é melhor que o ouro fino.
15Ela é mais preciosa do que as pérolas
e nada do que possas desejar lhe será igual.
16Na mão direita sustenta uma longa vida,
e na esquerda, riquezas e glória.
17Os seus caminhos são deliciosos
e são tranquilas todas as suas veredas.
18É árvore da Vida para aqueles que a alcançam;
felizes daqueles que a possuírem.
19O Senhor fundou a terra com sabedoria
e ordenou os céus com inteligência.
20Pelo seu saber foram abertos os abismos,
e as nuvens destilam o orvalho.
21Meu filho, guarda a ponderação e a prudência,
não as percas de vista.
22Elas serão a vida da tua alma
e um adorno para o teu peito.
23Então, percorrerás com segurança o teu caminho,
e os teus pés não tropeçarão.
24Quando te deitares, não terás medo;
repousarás e o teu sono será agradável.
25Não recearás o terror imprevisto,
nem a ruína reservada aos ímpios.
26Pois o Senhor estará ao teu lado
e defenderá o teu pé da armadilha.
Deveres para com o próximo
27Não negues um benefício a quem dele precisa,
se estiver nas tuas mãos poder concedê-lo.
28Não digas ao teu próximo:
«Vai, e volta depois, amanhã te darei»,
quando o puderes logo atender.
29Não maquines o mal contra teu próximo,
quando ele deposita confiança em ti.
30Não litigues contra ninguém, sem motivo,
quando não te fez mal algum.
31Não invejes o homem violento,
nem adoptes o seu procedimento,
32porque o Senhor abomina o homem perverso,
mas reserva para os rectos a sua intimidade.
33A maldição do Senhor cai sobre a casa do ímpio,
mas Ele abençoa a morada dos justos.
34Ele escarnece dos escarnecedores,
mas concede a sua graça aos humildes.
35A glória será a herança dos sábios,
mas os insensatos suportarão a ignomínia.
Capítulo 4
Vantagens da sabedoria
1Escutai, meus filhos, a instrução paterna,
estai atentos para adquirirdes a inteligência.
2Porque é boa a doutrina que vos ensino,
não abandoneis os meus ensinamentos.
3Também eu fui um filho querido de meu pai,
amado e estremecido por minha mãe.
4Ele deu-me este conselho:
«Que o teu coração conserve as minhas palavras;
guarda os meus preceitos e viverás.
5Adquire sabedoria, adquire inteligência,
não te esqueças nem te desvies dos meus conselhos.
6Não abandones a sabedoria e ela te guardará;
ama-a e ela te protegerá.
7Eis o princípio da sabedoria: adquire a sabedoria!
Mesmo à custa dos teus bens, adquire a inteligência!
8Tem-na em grande estima, e ela te exaltará,
glorificar-te-á, se a abraçares.
9Colocará sobre a tua cabeça uma coroa formosa,
e cingir-te-á com um magnífico diadema.»
Os dois caminhos (Sl 1)
10Escuta, meu filho, recebe as minhas palavras
e multiplicar-se-ão os anos da tua vida.
11Eu te instruo no caminho da sabedoria
e te encaminho pelas sendas da justiça.
12Ao caminhares, não serão inseguros os teus passos;
se correres, não tropeçarás.
13Agarra-te bem à disciplina, não a deixes;
guarda-a, porque ela é a tua vida.
14Não te metas pelas veredas dos ímpios,
não vás pelo caminho dos maus.
15Evita-o, não passes por ele,
desvia-te e abandona-o.
16Eles não dormem, sem terem praticado o mal;
não podem conciliar o sono, sem fazerem cair alguém.
17Comem o pão da maldade
e bebem o vinho da violência.
18Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora,
que cresce até ao romper do dia.
19O caminho dos ímpios é tenebroso,
eles não vêem onde vão tropeçar.
20Meu filho, escuta as minhas palavras,
inclina o teu ouvido aos meus conselhos.
21Que eles não se afastem dos teus olhos;
conserva-os no íntimo do teu coração,
22porque são vida para aqueles que os encontram,
saúde para todo o corpo.
23Vela com todo o cuidado sobre o teu coração,
porque dele jorram as fontes da vida.
24Preserva-te da linguagem enganosa,
afasta de ti a maledicência.
25Os teus olhos olhem sempre em frente
e a tua vista preceda os teus passos.
26Aplana o trilho onde pões os pés,
e sejam firmes todos os teus caminhos!
27Não te desvies nem para a direita, nem para a esquerda
e afasta os teus pés do mal.
Capítulo 5
Fugir da mulher leviana
1Meu filho, atende à minha sabedoria,
presta atenção aos meus ensinamentos,
2a fim de guardares a prudência,
e conservares a ciência nos teus lábios.
3Os lábios da mulher estranha destilam mel
e a sua boca é mais suave que o azeite.
4Mas o seu fim é mais amargo que o absinto,
cortante como a espada de dois gumes.
5Os seus pés escorregam para a morte,
e os seus passos levam à região dos mortos.
6Ela não presta atenção ao caminho da vida,
os seus passos extraviam-se, sem saber para onde.
7E agora escuta-me, pois, meu filho,
e não te afastes das palavras da minha boca.
8Desvia dela o teu caminho
e não te aproximes da porta da sua casa,
9para não entregares a estranhos a tua honra,
e os teus anos a gente implacável;
10para que os estranhos não enriqueçam com os teus haveres
e o fruto dos teus trabalhos não vá para casa alheia.
11Por fim, uma vez consumida a tua carne e o teu corpo
ficarias a gemer.
12Então, dirias:
«Porque odiei a disciplina
e o meu coração desdenhou a admoestação?
13Porque não dei atenção aos que me ensinavam,
nem dei ouvidos aos meus educadores?
14Quase cheguei ao cúmulo da desgraça
no meio da assembleia da comunidade.»
Casto amor conjugal
15Bebe da água da tua cisterna
e da água que jorra do teu poço.
16Deverão derramar-se por fora as tuas fontes
e perder-se pelas praças as águas dos teus arroios?
17Sejam somente para ti
e não tenham parte nelas os estranhos.
18Bendita seja a tua fonte!
Regozija-te com a companheira da tua juventude,
19corça amorosa, gazela encantadora.
Inebriem-te sempre os seus encantos
e as suas carícias sejam sempre o teu enlevo.
20Meu filho, porque te deixas enganar pela mulher estranha
e repousas no seio de uma desconhecida?
21O Senhor olha atentamente para os caminhos do homem
e observa todos os seus passos.
22O ímpio é presa das suas próprias iniquidades,
é ligado com as cadeias dos seus pecados.
23Morrerá por falta de disciplina
e perder-se-á pelo excesso da sua loucura.
Capítulo 6
O dinheiro
1Meu filho, se ficaste fiador do teu próximo,
se estendeste a mão a um estranho,
2se te ligaste com as palavras dos teus lábios
e ficaste preso pelo teu próprio compromisso,
3procede assim, meu filho, para te livrares,
pois caíste nas mãos do teu próximo:
vai, insiste e incomoda o teu próximo.
4Não concedas sono aos teus olhos,
nem repouso às tuas pálpebras.
5Salva-te como a gazela das mãos do caçador
e como o pássaro do laço que o prende.
O preguiçoso e a formiga
6Vai, ó preguiçoso, ter com a formiga,
observa o seu proceder e torna-te sábio.
7Ela não tem guia, nem capataz, nem mestre;
8no Verão, faz as suas provisões;
no tempo da ceifa, junta o seu alimento.
9Até quando dormirás tu, ó preguiçoso?
Quando te levantarás do teu sono?
10Dormes um pouco, outro pouco dormitas,
outro pouco cruzas as mãos para dormires;
11a indigência cai sobre ti como um salteador,
e a pobreza, como um homem armado.
O homem perverso
12É um homem depravado e um iníquo
aquele que caminha com a perversidade na boca.
13Pisca os olhos, bate com os pés,
faz sinais com os dedos;
14tem o coração cheio de maldade,
está sempre a maquinar o mal
e não cessa de semear a discórdia.
15Por isso, a ruína virá sobre ele, de improviso
e, num momento, ficará arruinado, sem remédio.
As sete abominações
16Seis são as coisas que o Senhor aborrece,
e sete as que a sua alma abomina:
17olhos altivos, língua mentirosa,
mãos que derramam sangue inocente,
18coração que maquina projectos iníquos,
pés apressados para o mal,
19testemunha falsa que profere mentiras
e o que semeia discórdias entre irmãos.
Fugir do adultério
20Meu filho, guarda os preceitos do teu pai
e não desprezes os ensinamentos da tua mãe.
21Trá-los constantemente sobre o coração
e ligados em volta do pescoço.
22Servir-te-ão de guia no teu caminho,
velarão por ti, quando dormires,
e falar-te-ão, quando despertares.
23Na verdade, o preceito é uma lâmpada,
o ensinamento é uma luz
e a correcção é o caminho da vida.
24Eles te preservarão da mulher perversa
e da língua aliciante da mulher estranha.
25Não cobices em teu coração a sua formosura
nem te deixes prender dos seus olhares.
26Porque à meretriz basta um pedaço de pão,
mas a mulher adúltera quer uma vida preciosa.
27Porventura pode um homem esconder fogo no seu seio,
sem que as suas vestes se inflamem?
28Ou pode alguém caminhar sobre brasas,
sem que os seus pés se queimem?
29Assim é quem se aproxima da mulher do seu próximo;
se lhe tocar, não ficará impune.
30Não é grande a culpa do ladrão,
se rouba quando tem fome;
31mas, se for apanhado, restituirá sete vezes mais
e entregará todos os bens da sua casa.
32Quem comete adultério é um insensato;
causa a sua ruína quem assim procede.
33Só encontrará infâmia e ignomínia
e o seu opróbrio jamais se apagará.
34Porque o marido, furioso e ultrajado,
não lhe perdoará no dia da vingança;
35não aceitará compensação alguma,
nem receberá presentes, como reparação,
por grandes que eles sejam.
Capítulo 7
As seduções da adúltera
1Meu filho, guarda as minhas palavras,
conserva dentro de ti os meus preceitos.
2Observa os meus mandamentos e viverás;
guarda-os como a menina dos teus olhos.
3Prende-os aos teus dedos,
regista-os no livro do teu coração.
4Diz à sabedoria: «Tu és minha irmã»,
e chama à inteligência tua parente,
5para que te guardem da mulher estranha,
da desconhecida que tem palavras sedutoras.
6Estava, um dia, à janela da minha casa
a olhar por entre as frestas.
7Vi alguns rapazes ingénuos
e, no meio deles, um jovem insensato.
8Passando pela rua,
junto da esquina onde ela se encontrava,
dirigiu-se para casa dela.
9Era ao anoitecer, quando já escurecia
e se adensavam as trevas da noite.
10Eis que essa mulher lhe sai ao encontro,
vestida como uma prostituta,
com a maldade no coração,
11provocadora e insolente;
seus pés não podem parar dentro de casa.
12Umas vezes na rua, outras na praça,
ou nas esquinas, está sempre à espreita.
13Apanha o jovem e beija-o
e, sem vergonha, diz-lhe:
14«Prometi sacrifícios de comunhão,
e hoje cumpri o meu voto.
15Por isso saí ao teu encontro,
à tua procura e eis que te achei.
16Adornei a minha cama de colchas, de tecidos bordados,
e estendi lençóis de linho do Egipto.
17Perfumei o meu leito com mirra,
aloés e cinamomo.
18Vem! Embriaguemo-nos de amor até ao amanhecer,
gozemos as delícias do prazer,
19porque o meu marido não está em casa;
partiu para uma longa viagem,
20levou consigo a bolsa cheia de dinheiro
e só voltará, lá para a Lua-cheia.»
21À força de palavras foi-o seduzindo
e arrastou-o com as lisonjas dos seus lábios.
22Ele seguiu-a imediatamente,
como um boi que é levado para o matadouro,
como um veado apanhado na armadilha,
23até que uma flecha lhe trespassa o fígado;
é como a ave que se precipita para o laço,
sem saber que se trata dum perigo para a sua vida.
24E agora, meus filhos, escutai-me,
prestai atenção às minhas palavras.
25Que o teu coração não se desvie para os caminhos dela;
não te extravies nas suas veredas,
26porque a muitos fez cair trespassados,
muitas foram as suas vítimas.
27A sua casa é caminho para a sepultura,
que conduz à mansão da morte.
Capítulo 8
Elogio da sabedoria
1Eis que a sabedoria clama repetidas vezes
e a inteligência faz ouvir a sua voz.
2De pé, sobre as colinas que dominam o caminho,
e nas encruzilhadas das veredas;
3junto às portas da cidade e nas vias de acesso,
ela levanta a sua voz, dizendo:
4«A vós, homens, eu apelo,
a minha voz dirige-se aos filhos dos homens.
5Ó ingénuos, aprendei a prudência,
e vós, ó insensatos, adquiri a inteligência.
6Prestai atenção! Vou anunciar-vos coisas importantes
e os meus lábios abrir-se-ão para proclamar o que é recto.
7Sim, a minha boca proclama a verdade
e os meus lábios aborrecem a iniquidade.
8Todas as palavras da minha boca são justas,
nelas não há falsidade nem perversidade.
9São claras para os que têm inteligência
e rectas para quem adquiriu o saber.
10Acolhei a minha instrução e não o dinheiro;
o conhecimento é mais precioso do que o ouro fino;
11porque a sabedoria vale mais que as pérolas,
e tudo quanto há de apetecível não se lhe pode comparar.
12Eu, a sabedoria, habito com a prudência,
possuo o conhecimento e a reflexão.
13O temor do Senhor detesta o mal.
E eu detesto o orgulho, a arrogância,
a má conduta e a boca mentirosa.
14A mim pertencem o conselho e a equidade,
a inteligência e a fortaleza.
15Por mim reinam os reis,
e os legisladores decretam a justiça;
16por mim governam os príncipes
e os nobres dão sentenças justas.
17Amo aqueles que me amam;
quem me procura, encontrar-me-á.
18Estão comigo a riqueza e a glória,
os bens duradouros e a justiça.
19O meu fruto é mais precioso que o ouro mais fino;
o meu lucro vale mais que a prata mais pura.
20Eu caminho pelas sendas da justiça
e ando pelas vias do direito,
21para enriquecer os que me amam
e encher de riqueza os seus tesouros.
Origem da sabedoria
22O Senhor criou-me, como primícias das suas obras,
desde o princípio, antes que criasse coisa alguma.
23Desde a eternidade fui formada,
desde as origens, antes dos primórdios da terra.
24Ainda não havia os abismos e eu já tinha sido concebida;
ainda as fontes das águas não tinham brotado;
25antes que as montanhas fossem implantadas,
antes de haver outeiros, eu já tinha nascido.
26Ainda Ele não tinha criado a terra nem os campos,
nem os primeiros elementos do mundo.
27Quando Ele formava os céus, ali estava eu;
quando colocava a abóbada por cima do abismo,
28quando condensava as nuvens, nas alturas,
quando continha as fontes do abismo,
29quando fixava ao mar os seus limites,
para que as águas não ultrapassassem a sua orla;
quando assentou os fundamentos da terra,
30eu estava com Ele como arquitecto,
e era o seu encanto, todos os dias,
brincando continuamente em sua presença;
31brincava sobre a superfície da Terra,
e as minhas delícias é estar junto dos seres humanos.
32Agora, meus filhos, ouvi-me:
Felizes os que seguem os meus caminhos.
33Ouvi as minhas instruções para serdes sábios;
não queirais rejeitá-las.
34Feliz o homem que me ouve
e que vela todos os dias à minha porta
e é assíduo no limiar da minha casa!
35Aquele que me encontrar, encontrará a vida
e alcançará o favor do Senhor.
36Mas quem me ofender, prejudica-se a si mesmo
e os que me odeiam amam a morte.
Capítulo 9
Banquete da sabedoria
1A sabedoria edificou a sua casa, e levantou as suas sete colunas.
2Abateu os seus animais, misturou o seu vinho
e dispôs a sua mesa.
3Enviou as suas servas para que anunciassem
nos pontos mais elevados da cidade:
4«Quem for simples venha a mim!»
Aos insensatos mandou dizer:
5«Vinde, comei do meu pão
e bebei do vinho que preparei;
6deixai a insensatez e vivereis;
andai pelos caminhos da inteligência.»
O sábio e o cínico
7Aquele que corrige o zombador,
atrai sobre si o escárnio;
aquele que repreende o ímpio,
atrai sobre si a desonra.
8Não repreendas o zombador,
porque ele te odiará.
Repreende o sábio e ele te amará.
9Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio,
ensina o justo e ele aumentará o seu saber.
10O temor do Senhor é o princípio da sabedoria
e a inteligência é a ciência dos santos.
11Por mim se multiplicarão os teus dias
e ser-te-ão acrescentados anos de vida.
12Se fores sábio, para teu proveito o serás,
mas, se fores cínico, só tu sofrerás as consequências.
A Senhora Insensatez imita a Sabedoria
13A Senhora Insensatez é irrequieta,
uma estulta que não sabe nada.
14Ela senta-se à porta da sua casa,
sobre uma cadeira, no lugar mais alto da cidade,
15para convidar os viandantes
que seguem rectamente o seu caminho:
16«Quem é simples venha cá!»
E aos insensatos diz:
17«As águas roubadas são mais doces
e o pão, comido às escondidas, é mais saboroso.»
18Esses ignoram que ali está a morte
e que os seus convidados jazem
nas profundezas da mansão dos mortos.
Capítulo 10
Provérbios de Salomão
1O filho sábio é a alegria do pai,
e o insensato é a tristeza da mãe.
2Os tesouros mal adquiridos de nada servem,
mas a justiça livra da morte.
3O Senhor não deixa o justo passar fome,
mas repele a cobiça do ímpio.
4A mão preguiçosa empobrece,
a mão diligente enriquece.
5Aquele que recolhe no Verão é um homem prudente;
o que dorme no tempo da ceifa cobre-se de vergonha.
6A bênção desce sobre a cabeça do justo,
mas a boca dos maus encobre a violência.
7A memória do justo será abençoada,
o nome dos ímpios, porém, desaparecerá.
8O sábio de coração acata os preceitos,
mas o insensato de língua cai em ruína.
9Aquele que anda na integridade, caminha com segurança,
mas aquele que segue caminhos tortuosos cai em ruína.
10Aquele que pisca os olhos, provoca a dor;
mas o que olha com franqueza, cura.
11A boca do justo é uma fonte de vida,
porém, a do ímpio esconde a violência.
12O ódio provoca rixas,
mas o amor encobre todas as faltas.
13A sabedoria encontra-se nos lábios do sábio;
mas a vara é para as costas do insensato.
14Os sábios escondem o seu saber,
mas a boca do insensato é um perigo iminente.
15A fortuna do rico é o seu baluarte,
a miséria dos pobres é a sua ruína.
16O salário do justo conduz à vida
e o ganho do ímpio conduz ao pecado.
17O que guarda a disciplina está no caminho da vida,
mas o que despreza a repreensão, anda errado.
18Os lábios mentirosos escondem o ódio;
aquele que espalha a calúnia é um insensato.
19O falador não evita o pecado;
o que modera os seus lábios é um homem prudente.
20A língua do justo é prata finíssima,
porém, nada vale o coração dos maus.
21Os lábios do justo alimentam a muitos,
mas os néscios perecem por falta de entendimento.
22A bênção do Senhor é que enriquece,
o nosso esforço nada lhe acrescenta.
23É um divertimento para o ímpio praticar o mal
e, para o inteligente, cultivar a sabedoria.
24O que o ímpio teme, cairá sobre ele.
Ao justo ser-lhe-á concedido o que deseja.
25Assim como passa a tormenta, assim desaparecerá o ímpio;
mas o justo está firme para sempre.
26Como o vinagre nos dentes e o fumo nos olhos,
assim é o preguiçoso para quem nele manda.
27O temor do Senhor prolonga os dias,
mas os anos dos ímpios serão abreviados.
28A expectativa dos justos dá alegria,
porém, a esperança dos ímpios desaparecerá.
29O caminho do Senhor é refúgio para o homem íntegro,
mas é ruína para os que praticam a iniquidade.
30O justo jamais será abalado,
mas os ímpios não habitarão a terra.
31A boca do justo exprime a sabedoria,
mas a língua perversa será cortada.
32Os lábios do justo destilam benevolência,
mas a boca dos ímpios, perversidade.