Capítulo 1

Introdução

1Palavra do Senhor, dirigida a Miqueias de Moréchet, nos dias de Jotam, de Acaz e de Ezequias, reis de Judá. Visões que teve relativas à Samaria e a Jerusalém.


Juízo de Deus sobre Israel e Judá (Sl 76; Na 1; Hab 3)

2Povos, ouvi todos!

Esteja atenta a Terra e tudo o que ela contém!

O Senhor Deus vai testemunhar contra vós,

Ele próprio, desde o seu santo templo.

3O Senhor vai sair da sua morada,

vai descer e pisar as alturas da terra.

4À sua passagem, fundem-se os montes,

e os vales derretem-se como a cera diante do fogo,

como as águas que escorrem por uma encosta.

5E tudo isto por causa da infidelidade de Jacob,

e dos pecados da casa de Israel.

Qual é a infidelidade de Jacob?

Não é a Samaria?

E quais os lugares altos de Judá?

Não é Jerusalém?

6Farei da Samaria

como um montão de pedras no campo,

um terreno para plantar vinhas.

Farei rolar as suas pedras no fundo do vale

e descobrirei os seus fundamentos.

7Todas as suas estátuas serão quebradas,

todos os seus ganhos de prostituição

serão queimados pelo fogo;

destruirei todos os seus ídolos,

pois ela juntou tudo isso como preço de prostituição,

e em preço de prostituição será convertido.


Lamentação do profeta (Is 10,28-34; Sf 2,4-9)

8Por causa disto, chorarei e soltarei gritos,

andarei descalço e nu;

soltarei gemidos como os chacais,

e lamentos como as avestruzes.

9Com efeito, a chaga da Samaria é incurável,

pois chegou até Judá;

entrou até à porta do meu povo,

até Jerusalém.

10Não o anuncieis em Gat,

não choreis em Boco!

Revolvei-vos no pó em Bet-Leafra!

11Fazei ressoar a trombeta, habitantes de Chafir!

Nus e envergonhados, não saem os habitantes de Saanan!

Há luto em Bet-Écel, privada do seu fausto.

12Como pode o habitante de Marot

esperar a salvação,

se a desgraça é enviada pelo Senhor

e atinge as portas de Jerusalém?

13Atrela o cavalo ao carro, habitante de Láquis!

Ali começou o pecado para a filha de Sião,

porque em ti se acharam as maldades de Israel.

14Dai oferta de repúdio a Moréchet-Gat.

As casas de Aczib serão apoio enganador

para os reis de Israel.

15De novo mandarei contra ti o conquistador,

ó habitante de Marecha;

a glória de Israel fugirá até Adulam.

16Corta os cabelos, rapa a cabeça,

por causa dos teus filhos queridos;

torna-te calva como o abutre,

pois foram exilados para longe de ti.

Capítulo 2

Contra os usurpadores (Is 5,8-25; Ez 34,1-10; Am 5)

1Ai dos que planeiam a iniquidade,

dos que maquinam o mal em seus leitos

e o executam logo ao amanhecer do dia,

porque têm o poder na sua mão!

2Cobiçam as terras e apoderam-se delas,

cobiçam as casas e roubam-nas;

fazem violência ao homem e à sua família,

ao dono e à sua herança.

3Por isso, assim fala o Senhor:

«Tenho planeado um mal contra esta raça,

do qual não livrareis o pescoço.

Não andareis mais com a cabeça erguida,

porque será tempo calamitoso.

4Naquele dia será composta sobre vós uma sátira,

e cantar-se-á uma elegia:

‘Estamos perdidos completamente,

a parte do meu povo passa a outros.

Ninguém a restituirá.

Roubam e distribuem os nossos campos.’

5Por isso, não terás ninguém

que meça com cordel as porções,

na assembleia do Senhor.»


Contra os falsos profetas (Jr 23,9-24)

6«Não profetizeis – dizem eles –

não se profetize mais assim, dizendo:

‘A desonra não se afastará.’

7A casa de Jacob está amaldiçoada?

O Senhor perdeu a paciência?

É esta a sua forma de agir?

Não são as suas palavras cheias de bondade

para com quem procede rectamente?

8Outrora, o meu povo

levantava-se contra o inimigo.

Agora, retirais a capa e a túnica

aos que passam em segurança,

ao regressarem da guerra.

9Expulsais as mulheres do meu povo

dos seus lares queridos,

e dos seus filhos retirais

o meu esplendor para sempre.

10Levantai-vos e parti!

Pois não é lugar de repouso.

Por causa da impureza será destruído

e a destruição será terrível.

11Se alguém lançasse palavras ao vento

e dissesse mentindo:

‘Vou profetizar-te vinho e outras bebidas’,

esse seria um profeta para este povo.

12Eu te reunirei, ó Jacob, todo inteiro;

congregarei o resto de Israel.

Porei tudo junto, como ovelhas no aprisco,

como um rebanho no meio da pastagem,

ruidosa multidão de homens.

13Aquele que lhes abre o caminho

subiu diante deles;

eles abriram uma saída,

passaram uma porta e saíram por ela;

o seu rei passou diante deles,

o Senhor, à sua frente.»

Capítulo 3

Contra os chefes e os falsos profetas (Is 1,17-23; Jr 22,13-17)

1Então, eu disse: «Ouvi, dirigentes de Jacob,

e vós, chefes da casa de Israel:

porventura, não devíeis saber o que é justo?»

2Aborrecem o bem e amam o mal,

arrancam-lhes a pele e a carne dos ossos.

3Devoraram a carne do meu povo,

arrancaram-lhe a pele e roeram-

-lhe os ossos,

fizeram-no em pedaços como na marmita,

como carne dentro da caçarola.

4Então clamarão ao Senhor,

mas Ele não lhes responderá.

Esconder-lhes-á a sua face nesse dia,

por causa da malícia que puseram nas suas obras.


As falsas profecias (Ez 13,1-16)

5Assim fala o Senhor contra os profetas

que desencaminham o seu povo:

‘Quando têm alguma coisa para mastigar,

anunciam a paz.

Mas declaram guerra santa

àquele que não lhes põe nada na boca.’

6Por isso, em lugar de visões, tereis a noite,

e trevas, em vez de adivinhações.

Pôr-se-á o Sol sobre os profetas,

para eles se obscurecerá o dia.

7Serão confundidos os videntes,

envergonhados os adivinhos.

Todos esconderão a boca,

porque Deus deixará de lhes falar.

8Eu, porém, estou cheio de força,

do espírito do Senhor,

da justiça e da fortaleza,

para anunciar a Jacob a sua maldade,

e a Israel o seu pecado.


Castigo de Jerusalém

9Ouvi isto, dirigentes da casa de Jacob,

e chefes da casa de Israel,

que aborreceis a justiça,

e entortais tudo o que é recto,

10 que edificais Sião com o sangue,

e Jerusalém com o crime.

11Os seus chefes dão sentenças por suborno,

os seus sacerdotes só ensinam mediante salário,

os seus profetas vaticinam por dinheiro.

Apoiam-se no Senhor, dizendo:

«Não está o Senhor no meio de nós?

A desgraça não nos atingirá!»

12Por isso, por vossa causa,

Sião será lavrada como um campo,

Jerusalém será reduzida a um monte de pedras,

e o monte do templo será um outeiro na floresta.

Capítulo 4

Promessas de restauração (Is 2,2-5)

1Acontecerá no fim dos tempos: o monte da casa do Senhor

será estabelecido no cimo dos montes,

e se elevará sobre as colinas.

Os povos acorrerão a ele.

2E numerosas nações ali afluirão, dizendo:

«Vinde, subamos ao monte do Senhor,

à casa do Deus de Jacob.

Ele nos ensinará os seus caminhos,

e andaremos pelas suas veredas.»

Pois de Sião sairá a lei,

e de Jerusalém a palavra do Senhor.

3Ele será juiz de numerosas nações

e árbitro de povos longínquos e poderosos.

Eles converterão as suas espadas em relhas de arados,

e as suas lanças em foices;

um povo não levantará mais a espada contra outro,

e não aprenderão mais a fazer guerra.

Cada um repousará

debaixo da sua parreira e da sua figueira,

sem que ninguém o amedronte.

Pois foi o Senhor do universo que falou.

5Com efeito, todos os povos caminham

em nome do seu deus;

nós, porém, caminharemos,

em nome do Senhor, nosso Deus,

para sempre.


Reunião dos povos

6Naquele dia, recolherei os coxos,

reunirei os dispersos,

e os que Eu tinha afligido

–oráculo do Senhor.

7Dos estropiados farei um resto,

e dos fatigados, um povo poderoso.

O Senhor reinará sobre eles no monte Sião,

desde agora e para sempre.

8Mas tu, Torre do Rebanho,

Fortaleza da filha de Sião,

para ti há-de voltar a soberania de outrora,

a realeza da filha de Jerusalém.

9E agora, porque gritas?

Porventura não tens rei,

ou pereceu o teu conselheiro,

para que se tenham apoderado de ti dores

como as de uma parturiente?

10Contorce-te de dores e geme, filha de Sião,

como uma mulher que dá à luz,

porque agora sairás da cidade

e habitarás nos campos;

irás até Babilónia,

lá encontrarás a salvação.

Lá te resgatará o Senhor

da mão dos teus inimigos.

11Agora, juntaram-se contra ti numerosas nações.

Elas dizem: «Seja profanada,

e os nossos olhos vejam a ruína de Sião!»

12Mas elas não conhecem os desígnios do Senhor,

não entendem o seu plano

de os juntar como feixes na eira.

13Levanta-te, filha de Sião, e trilha o grão,

porque Eu farei de ferro os teus chifres,

e de bronze os teus cascos,

para esmagares numerosos povos,

e consagrares ao Senhor os seus despojos

e as suas riquezas, ao Senhor de toda a terra.

14E agora faz em ti própria incisões,

filha da incisão.

Fizeram um cerco contra nós;

com a vara bateram na face do juiz de Israel.

Capítulo 5

O rei pacífico

1Mas tu, Belém-Efrata, tão pequena entre as famílias de Judá,

é de ti que me há-de sair

aquele que governará em Israel.

As suas origens remontam aos tempos antigos,

aos dias de um passado longínquo.

2Por isso, Deus abandonará o seu povo

até ao tempo em que der à luz

aquela que há-de dar à luz,

e em que o resto dos seus irmãos

há-de voltar para junto dos filhos de Israel.

3Ele permanecerá firme

e apascentará o seu rebanho

com a força do Senhor

e com a majestade do nome do Senhor, seu Deus.

Estarão tranquilos, porque ele será grande

até aos confins da terra.

4Ele próprio será a paz.

Se a Assíria vier ao nosso país

e calcar aos pés os nossos palácios,

opor-lhe-emos sete pastores

e oito governadores de homens.

5Apascentarão com a espada a Assíria,

e com as suas lanças a terra de Nimerod.

Ele nos livrará da Assíria,

quando esta invadir o nosso país

e calcar aos pés o nosso território.


O resto de Israel

6Então o resto de Jacob, no meio de muitos povos,

será como um orvalho que vem do Senhor,

como a água da chuva que cai sobre a erva.

Nada tem a esperar do homem,

nem conta para nada com os filhos dos homens.

7O resto de Jacob entre as nações,

no meio de numerosos povos,

será como um leão entre os animais da floresta,

como um leãozinho entre os rebanhos de ovelhas,

o qual, quando passa, esmaga e despedaça a presa,

sem ter quem lha retire.

8Que a tua mão se levante contra os teus adversários

e que todos os teus inimigos sejam eliminados.

9«Naquele dia, eliminarei os teus cavalos do meio de ti,

destroçarei os teus carros de combate – oráculo do Senhor;

10 eliminarei as cidades do teu país

e destruirei todas as tuas fortalezas.

11Eliminarei das tuas mãos os sortilégios,

não haverá mais adivinhos em ti.

12Eliminarei do meio de ti os teus ídolos e estelas,

e deixarás de adorar a obra das tuas mãos.

13Arrancarei da tua terra os troncos sagrados

e destruirei as tuas cidades.

14 Com furor e indignação me vingarei

das nações que não obedeceram».

Capítulo 6

Processo contra Israel e Jerusalém (Sl 50)

1Ouvi o que diz o Senhor:

«Levanta-te! Advoga a tua causa diante das montanhas,

e ouçam as colinas a tua voz!

2Ouvi, ó montanhas, o processo do Senhor,

prestai atenção, fundamentos da terra!

Porque o Senhor entrou em litígio com o seu povo,

e vai litigar com Israel:

3‘Povo meu, que te fiz Eu, em que te contristei?

Responde-me.

4Fiz-te subir da terra do Egipto,

livrei-te da casa da escravidão

e enviei, diante de ti, Moisés, Aarão e Míriam.

5Povo meu, lembra-te dos planos de Balac, rei de Moab,

e a resposta que lhe deu Balaão, filho de Beor,

aquando da expedição desde Chitim a Guilgal,

para que reconheças os prodígios do Senhor.’»


O verdadeiro culto

6Com que me apresentarei ao Senhor,

e me prostrarei diante do Deus excelso?

Irei à sua presença com holocaustos,

com novilhos de um ano?

7Porventura o Senhor receberá com agrado

milhares de carneiros ou miríades de torrentes de azeite?

Hei-de sacrificar-lhe o meu primogénito pelo meu crime,

o fruto das minhas entranhas pelo meu próprio pecado?

8Já te foi revelado, ó homem, o que é bom,

o que o Senhor requer de ti:

nada mais do que praticares a justiça,

amares a lealdade

e andares humildemente diante do teu Deus.


Castigo de Jerusalém

9A voz do Senhor interpela a cidade:

«É sabedoria reconhecer o seu nome.

Ouve, tribo, ouve, assembleia da cidade.

10Acaso vou Eu suportar a casa do ímpio,

os tesouros da iniquidade e o maldito efá diminuído?

11Pode ser-se inocente com balanças falsas

e com um saco de pesos enganosos?

12Os seus ricos são homens violentos,

e os habitantes proferem mentiras.

A sua língua é impostura na sua boca.

13Por isso, vou começar a ferir-te

e a devastar-te por causa dos teus pecados.

14Comerás e não te saciarás;

a fome reinará na tua casa;

porás os teus bens em lugar seguro,

mas não os salvarás,

e os que salvares, Eu os entregarei à espada.

15Semearás e não colherás,

pisarás a azeitona,

mas não terás azeite com que te ungir;

pisarás os cachos, mas não beberás o vinho.

16Observaste os preceitos de Omeri

e todas as práticas da casa de Acab;

seguiste os seus conselhos,

de modo que Eu farei de ti uma devastação,

e dos teus moradores, objecto de escárnio,

e suportareis a desonra do meu povo.»

Capítulo 7

Lamentação do profeta (Sl 14)

1Ai de mim! Porque me tornei como resto dos frutos da colheita do Outono,

como o que resta depois de feita a vindima!

Não há mais uvas para comer,

nenhum desses figos temporãos de que tanto gosto.

2Desapareceram da terra os justos,

não há ninguém íntegro.

Todos andam à espreita, para derramarem sangue,

cada um arma laços ao seu irmão.

3O mal é o que as suas mãos fazem bem:

o príncipe exige,

o juiz julga por interesse,

o grande manifesta abertamente a sua cobiça,

e tecem intrigas.

4O melhor de entre eles é como um tojo,

o mais justo, como uma sebe de espinhos.

Chega o dia do teu castigo

anunciado pelos teus vigias;

agora será a sua confusão.

5Não confieis no próximo,

não ponhais a vossa confiança num amigo;

mesmo àquela que dorme nos teus braços

não abras a tua boca,

6porque o filho trata o seu pai como louco,

a filha levanta-se contra sua mãe,

a nora contra a sogra,

e os inimigos são os da própria casa.

7Eu, porém, tenho confiança no Senhor,

ponho a minha esperança no Deus da minha salvação.

O meu Deus me ouvirá.


Esperança da restauração

8Não te alegres, inimiga minha, a meu respeito:

se caí, levanto-me;

se estou sentado nas trevas, o Senhor é minha luz.

9Suportarei a ira do Senhor,

porque tenho pecado contra Ele,

até que Ele tome nas suas mãos a minha causa

e me faça justiça;

Ele me conduz para a luz

e eu contemplarei a sua justiça.

10A minha inimiga verá isto

e ficará coberta de confusão, ela que me dizia:

«Onde está o Senhor teu Deus?»

Os meus olhos hão-de contemplá-la

quando ela for pisada aos pés,

como a lama das ruas.

11Aproxima-se o dia

em que os teus muros serão reconstruídos;

nesse dia, as tuas fronteiras serão alargadas.

12Nesse dia, virão a ti desde a Assíria até ao Egipto,

desde o Egipto até ao rio,

de um mar ao outro,

de uma montanha à outra.

13A terra será devastada,

por causa dos seus habitantes

e do fruto das suas obras.


Oração

14Apascenta com o cajado o teu povo,

o rebanho da tua herança,

os que habitam isolados nas florestas

no meio dos prados.

Sejam eles apascentados em Basan e Guilead,

como nos dias antigos.

15Mostra-nos os teus prodígios,

como nos dias em que nos fizeste sair do Egipto.

16As nações os verão e serão confundidas,

apesar de todo o seu poder.

Hão-de pôr a mão na sua boca,

e seus ouvidos ficarão surdos.

17Hão-de lamber o pó, como as serpentes,

como os vermes da terra;

sairão das suas cidadelas a tremer,

amedrontadas e temerosas,

diante de ti, Senhor, nosso Deus.

18Qual é o Deus que, como Tu,

apaga a iniquidade

e perdoa o pecado do resto da sua herança?

Não se obstina na sua cólera,

porque prefere a bondade.

19Uma vez mais, terá compaixão de nós,

apagará as nossas iniquidades

e lançará os nossos pecados ao fundo do mar.

20Mostrarás a tua fidelidade a Jacob,

e a tua bondade a Abraão,

como juraste a nossos pais,

desde os tempos antigos.

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